terça-feira, outubro 19, 2010

DORA KRAMER

Conversa de surdos 
Dora Kramer 

O Estado de S.Paulo - 19/10/2010

Muita gente pergunta quem foi melhor no debate de domingo na Rede TV! Independentemente de ter visto ou não o programa. Isso acontece sempre, as pessoas querem saber a opinião do outro, mas, sobretudo, querem conferir se a sua própria "está certa".

Há dois tipos de avaliação: o conjunto do debate e o desempenho de cada um dos candidatos. Em ambos as respostas são tão óbvias que chega a ser um tanto constrangedor externá-las como fruto de análise especializada.

Se comparado com os de "antigamente", até a década dos 90, o debate foi ruim, como todos os outros, à exceção do anterior, na Band. Naquele, Dilma Rousseff deu um choque de animação ao ser mais incisiva nas cobranças ao adversário.

No domingo a candidata amenizou o tom e a falta de novidade levou o debate para o terreno já bastante conhecido do público: aquela coisa aborrecida, arrastada e com discussões muitas vezes absolutamente ininteligíveis para a maioria das "pessoas humanas".

Serra quer explicar as coisas da forma "correta", raramente faz a tradução política do assunto, o que prejudica o entendimento de quem acompanha as cenas como um campeonato de sacadas e tiradas. É assim que a gente vê esse tipo de programa, avaliando quem desferiu o melhor golpe, instante a instante.

Nenhum dos dois é bom nisso. Mas se o defeito do candidato do PSDB é excesso de apego ao "concreto" daquilo que está sendo abordado, o de Dilma é sua total incapacidade de se fazer acompanhar no desenrolar do raciocínio.

E olhe que melhorou muito desde que fazia plateias inteiras cochilarem durante suas apresentações de projetos do governo.

Dilma Rousseff simplesmente não fecha os raciocínios. Tampouco inicia um pensamento de maneira a se conectar em linha reta com a questão posta.

No domingo, nem ela nem Serra responderam ao mediador Kennedy Alencar quais eram os defeitos e qualidades de cada um e do adversário. Foi uma tentativa de sair da ladainha sobre saúde, educação, infraestrutura, assuntos cujas abordagens são completamente previsíveis.

Ambos correram para a segurança da saída pela tangente. Tradução possível: nenhum dos dois acha que tem defeitos ou qualidades nem sabe avaliar sob esses critérios o oponente.

Daí em diante foi a obviedade de sempre: o tucano infinitas vezes superior em todos os quesitos, o que de resto seria diferente apenas se a petista fosse um fenômeno de talento natural para a política e conseguisse com isso superar as diferenças de vida, experiência e perfil existentes entre dos dois.

Trata-se de um artificialismo retórico destinado exclusivamente a alimentar o mito da neutralidade, apontar equilíbrio de desempenho entre os candidatos.

Nesse último debate, para a petista ainda pesou a desvantagem do efeito do resultado do primeiro turno e aí Serra, reanimado, joga com vontade de acertar; Dilma, abatida, joga com pânico de errar.

Roupa nova. José Serra gostaria muito de ter o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga no ministério caso seja eleito presidente.

Mas não para cargo na área econômica: Serra daria a Armínio a pasta da Educação.

A origem. Os rapazes e moças do PSOL vão desculpar, mas "voto crítico" não quer dizer nada. Apoiam Dilma e ponto final. O adjetivo visa a justificar o partido por causa da posição crítica em relação do governo Lula.

Mas a urna não aceita meio termo: voto é voto e o PSOL não precisa de justificativa para escolher em quem recomendar apoio. Ponto fora da curva seria o alinhamento ao PSDB com quem não guarda qualquer identidade.

Na gangorra. Sergio Cabral está para Dilma no segundo turno como Aécio Neves esteve para Serra no primeiro: jura que apoia, mas não prova.

JOSÉ SIMÃO

Ueba! Sou a favor do ARROTO!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 19/10/10

E chega de religião. Antigamente que era bom: o FHC se declarava ateu e o Lula corintiano. E só


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Manchetes americanas: "Madonna abandona Jesus". Pra não interferir nas eleições brasileiras? Rarará. Isso! Madonna abandona Jesus para não interferir nas eleições brasileiras.
Outra: "Papa canoniza australiana". E Serra entra com reclamação no TSE! Rarará! Denúncia gravíssima: "Dilma aprende dicção com o Lula". E leva bomba! Rarará!
E as minhas duas ídalas: Geisy e dona Weslian. A Geisy falou que posou nua pra "Sexy" em Punta del Este, no PARAGUAI! Rarará! E a dona Weslian: "Desconheço os MEUS planos de governo". E "meu secretariado será de técnicos". Técnico de televisão e técnico de máquina de lavar. Rarará!
E a Marina? A Marina amarelou! Lavou as mãos com Natura Ekos Pitanga! A Tartaruga sem Casco demorou 15 dias para ficar neutra. Nem o Rubinho conseguiu essa façanha: 15 dias pra ficar onde estava!
E eu quero saber que tecla eu aperto pra votar neutro! E muito boba essa Marina: se tivesse apoiado alguém, ficaria mais 15 dias na mídia. Perdeu a chance! E o PV gosta mais de cargos que de árvores. E eu já falei pra Marina cimentar a Amazônia e fazer estacionamento. A gente não quer respirar, quer estacionar. Ou então faz 18 buracos e faz campo de golfe. O maior do mundo!
E o debatédio? Debate versão bocejo! O momento mais emocionante foi quando a plateia bocejou! E sabe o que eu faria se me convidassem prum debate? Tomava uma Coca e dava um ARROTO! Rarará! Pelo menos animava! Como disse o Marcelo Adnet: "Nada de aborto, eu quero saber quem é a favor ou contra o arroto". Rarará!
E aí perguntaram pro Pastor Serra sobre o Paulo Preto: "Não conheço, eu só sou amigo do Homem de Nazaré". Rarará! E aí perguntaram pra Dilma Rouchefe sobre a Erenice: "Nunca vi mais feia!". Rarará!
E chega de religião. Antigamente que era bom: o FHC se declarava ateu e o Lula corintiano. E só. Ninguém queria saber mais nada! E, se a Dilma ganhar, ela vai lançar o Ministério da Capela Civil. E, se o Serra ganhar, vai ter sessão de desencapetamento no Planalto. Rarará! Ele e o Pastor Malafaia!
E os jogadores do Timão vão ter estomaTITE de tanto engolir sapo. Rarará! A situação tá ficando psicodélica. Ainda bem que nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

MÔNICA BERGAMO

CORAÇÃO EM FOCO
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 19/10/10

Um estudo inédito do InCor com centros de pesquisa de nove países revelou que é temerário para os médicos confiarem apenas no exame que mede o nível de concentração de cálcio nas artérias do coração, conhecido como "escore de cálcio", como único indicador para afastar a hipótese de infarto quando o paciente apresentar dor torácica no pronto-socorro. A pesquisa conduzida pelo cardiologista Carlos Rochitte mostra que, em 20% dos casos de emergência, a baixa quantidade de cálcio apresentada no exame não significa que não haja obstrução nas coronárias.

CORAÇÃO EM FOCO 2
"Os dados do trabalho surpreenderam a comunidade médica pelo número apontado de pessoas com alto risco para evento cardíaco quando apresentam dor torácica, mesmo com escore de cálcio nulo ou baixo", diz Rochitte.
Nesses casos, segundo o cardiologista, o melhor é o médico decidir sua conduta baseado na avaliação clínica ou em exames mais específicos como angiotomografia de coronárias ou cateterismo.

SÓ SE FOR AGORA
O prefeito Gilberto Kassab (DEM-SP) se reuniu na sexta-feira com o deputado Walter Feldman (PSDB-SP) e pediu que ele reassuma a Secretaria Municipal de Esportes antes do final do segundo turno. Avaliou que, como o parlamentar já terminou sua campanha -ele não conseguiu se reeleger-, nada o impede de voltar já ao cargo.

OITO BRAÇOS
E a bancada de seis deputados federais eleitos com o apoio de Kassab deve aumentar. Como alguns dos futuros parlamentares tucanos são cotados para serem secretários no governo de Geraldo Alckmin (PSDB-SP) em SP, mais dois kassabistas podem herdar cadeiras no Congresso: o segundo suplente, Eleuses Paiva, e o sexto, Walter Ihoshi, ambos do DEM.

CANTADA
Na Assembleia Legislativa de SP, a mesma dinâmica pode garantir uma cadeira de deputado estadual ao cantor Leandro, do KLB, primeiro suplente do DEM.

TERCEIRA IDADE
O russo Mikhail Baryshnikov teve uma grata surpresa ao visitar o Masp: adorou saber que não pagaria ingresso por ter mais de 60 anos.

CÃO BIÔNICO
A Secretaria Estadual da Saúde de SP vai implantar microchips em 20 mil cães para identificar aqueles infectados com leishmaniose visceral. Os animais são de dez municípios da região de Marília, onde, em 2008 e 2009, houve 96 casos e oito mortes de seres humanos pela doença. Eles serão monitorados por dois anos, com informações sobre os exames que farão no período.

PASSA FORA!
Em Adamantina, um dos municípios participantes, 4.000 cães receberão também uma coleira com repelente contra os flebotomínios, insetos transmissores da leishmaniose. O acessório liberará um inseticida se o animal for picado.

NUCA À VISTA
Por conta de sua personagem na microssérie inspirada em músicas de Chico Buarque, Carolina Ferraz adotou um corte de cabelo chanel na altura do queixo.
O cabeleireiro Evandro Angelo, do salão CKamura, viajou na sexta-feira para o Guarujá, no litoral paulista, onde ela grava a atração que irá ao ar em janeiro na Globo, para mudar o visual da atriz.

APRENDIZ DE CANTOR
O apresentador Roberto Justus soltou a voz em show de jazz, na sexta-feira à noite, no Club A. Sua banda interpretou músicas como "My Way" e "Epitáfio". O ex-Dominó Afonso Nigro, hoje da banda V5, ficou na guitarra. Pedidos da plateia seguraram o cantor por mais de uma hora no palco.

MINEIRICES NO PALCO
Os atores Débora Falabella, Rodolfo Vaz Maurício de Barros e Priscila Jorge estrearam, no sábado, no TUCA, peça adaptada de três contos de Murilo Rubião. "O Amor e Outros Estranhos Eumores", dirigida por Yara de Novaes, reúne histórias do realismo fantástico do escritor mineiro. A adaptação ao teatro dos contos "O Contabilista Pedro Inácio", "(Três Nomes Para) Godofredo" e "Bárbara" foi feita por Silvia Gomez.

CURTO-CIRCUITO

Silvio de Abreu, autor da novela "Passione", receberá do governador Alberto Goldman a Ordem do Ipiranga, na próxima segunda-feira. Será homenageado por ambientar suas tramas na cidade de SP.
O site do escritor Milton Hatoum já está no ar (www.miltonhatoum.com.br).
O designer de joias Ara Vartanian inaugura loja com peças da turmalina Paraíba, hoje, das 17h às 22h, na rua Campo Verde, nº 61.
com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

RODRIGO CONSTANTINO

Em defesa da privatização
Rodrigo Constantino
O Globo - 19/10/2010

“Não é função do governo fazer um pouco pior ou um pouco melhor o que os outros podem fazer, e sim fazer o que ninguém pode fazer” (Lord Keynes)
O PT resolveu apelar para a mesma tática de 2006: “acusar” os tucanos de privatistas.

Alckmin cedeu na época.

Serra não caiu na mesma armadilha.

Como disse o candidato, o PT defende a era do “orelhão”, e quem é contra as privatizações deveria jogar no lixo seu moderno aparelho de celular.

A ideia de um Estado-empresário vem de longe, mas não é difícil entender por que as estatais acabam mais ineficientes que as empresas privadas: faltam-lhes os mecanismos adequados de incentivo. As empresas privadas precisam oferecer bons produtos para sobreviver, e isso coloca o consumidor no topo das prioridades.

O escrutínio dos sócios em busca de bons retornos garante a eterna busca por eficiência.

O mesmo não ocorre nas estatais.

Seus recursos vêm da “viúva”, e as empresas acabam atendendo aos interesses dos políticos e seus aliados.

Costumam virar palco de infindáveis casos de corrupção. Enquanto os acionistas privados focam no longo prazo, pois seu patrimônio depende da capacidade futura de lucro, os políticos pilham as estatais de olho nas próximas eleições. Como Erenice Guerra sabe, o loteamento das estatais é prática recorrente no país.

Quem lava um carro alugado? Cuidamos melhor daquilo que é nosso. É natural que as empresas privadas, portanto, sejam mais bem administradas que as estatais. O histórico delas oferece farta evidência disso: empresas paquidérmicas, ineficientes, deficitárias, verdadeiros cabides de emprego. As raras exceções comprovam a regra.

Os maiores gargalos da economia estão justamente nos setores dominados pelo Estado: portos, aeroportos, estradas. Coincidência? Claro que não. Para quem ainda não está convencido, o livro “A guerra das privatizações”, de Ney Carvalho, é leitura bastante recomendável. Mostra as origens do estatismo e como as privatizações a partir de 1990 foram essenciais para o avanço do país. Geraram mais empregos, riquezas e impostos.

Só a Vale pagou quase R$ 5 bilhões de imposto de renda em 2009, o suficiente para meio Bolsa Família.

Apesar disso, muitos ainda defendem o Estado-empresário. Confundem a propriedade estatal com o interesse nacional. Quase sempre ambos andam em direções opostas. O que interessa ao povo são empresas eficientes. Isso ocorre quando empresas privadas precisam sobreviver num ambiente competitivo, o contrário dos monopólios estatais protegidos da concorrência. Estes são adorados pelos políticos oportunistas, pelas máfias sindicais, pelos funcionários acomodados. Quem paga a conta são os consumidores. Vide a ineficiência dos Correios.

O que explica, então, esta aversão à privatização? Usiminas, CSN, Embraer, Banespa, Telebrás, Vale, a lista de casos de sucesso é extensa, e ainda assim não são poucos os que sentem asco ao escutar a palavra. Ideologias demoram a morrer, e conquistam seguidores mais pelas emoções que pela razão. O tema assumiu um tom dogmático, alimentado por uma intensa propaganda enganosa digna de Goebbels. O PT explora isso.

O casamento entre o nacionalismo e o socialismo pariu esta idolatria ao atraso. O uso do termo “estratégico” alimenta a retórica dos que lutam contra o progresso. Todo setor passa a ser estratégico, só não se sabe para quem. Além disso, controle estratégico não é sinônimo de gerência governamental.

Costuma ser o contrário.

Governantes tão diferentes (ou não) como Vargas, Geisel e Lula defenderam essencialmente a mesma receita: a concentração de poder econômico no governo. Trata-se de uma receita fracassada, como comprova a Venezuela de Chávez. Mas, apesar do discurso eleitoreiro, o fato é que até parte do PT já entendeu isso, o que explica as várias concessões ao setor privado feitas no governo Lula.

A recém-nascida OGX, de Eike Batista, já vale a quinta parte da Petrobras, que perdeu mais de 30% de seu valor este ano. É o custo político afetando milhares de investidores que apostaram na estatal por meio do FGTS, por exemplo. Enquanto isso, o presidente da empresa parece mais preocupado em fazer campanha eleitoral, deixando transparecer a apropriação partidária da estatal. Os petistas levaram a sério o slogan “o petróleo é nosso”. O povo, entrementes, paga um dos preços mais altos do mundo pelo combustível.

Privatizar não é pecado; ao contrário, é crucial para uma economia dinâmica e moderna, liberando o Estado para focar em suas funções precípuas.

O mal do PSDB não é ser privatista, mas ser pouco privatista!

ARNALDO JABOR

A difícil missão de Dilma Rousseff
Arnaldo Jabor 
O Estado de S.Paulo - 19/10/10



"Dilma faz isso, Dilma faz aquilo... Dilma, corta o cabelo! Dilma se maquia mais rosadinha! Dilma você está sem emoção, tem de passar mais verdade... Dilma, seu sorriso não está sincero... Dilma isso, Dilma aquilo..."

(Coitada da pobre senhora que, canhestramente, segue as ordens do patrão e dos petistas que a usam para ficar eternamente em seus buraquinhos ou para realizar o que seria a torta caricatura de um vago socialismo, que não passa de uma reles aliança com a banda podre do PMDB.)

"Dilma, não fale nada de novo sobre aborto que você já deu uma entrevista na TV e agora não adianta desmentir. Dilma, ajoelha, isso, sei que está cansada, mas ajoelha e faz cara de religiosa devota de Nossa Senhora Aparecida; Dilma, eu sei que você é ateia, que para você a religião é o ópio do povo, mas, dane-se, ajoelha e reza, mas não fica com a cara muito em êxtase feito uma madre Teresa de Calcutá, não, que eles desconfiam. Dilma, levanta e vai confessar e comungar, mas não conte tudo ao padre, não, porque esses padres de hoje não são confiáveis e podem fazer panfletos. Dilma isso, Dilma aquilo!... Sei que foi duro para você, bichinha, ser preterida pela Marina, tão magrinha, uma top model do seringal , sabemos de tudo que você tem sofrido, mas você é uma revolucionária e tem de aguentar as intempéries para garantir os empregos de tantos militantes que invadiram esse Estado burguês para "revolucionar" por dentro. Viu, Dilma? Feito ensinou aquele cara italiano, que os comunas vivem falando, o tal de Gramsci... só que nosso Gramsci é o Dirceu.... ah ah... Você tem de esquentar minha cadeira ate 2014, pois você acha que vou ficar de pijama em São Bernardo?"

Aí, chegam os marqueteiros, escondendo sua depressão, pois o segundo turno não estava em seus planos de tomada do poder:

"Dilma, companheira, esculacha bem o FHC e o Serra , pois você pode inventar os números que quiser, porque ninguém confere. Diz aí que nós tiramos 28 milhões de brasileiros da miséria! Claro que é mentira, pô, mas diz e esconde que foi o governo do FHC que inventou o Bolsa Família e negue com todas as forças se disserem que o Plano Real tirou 30 milhões da faixa de pobreza, quando acabou com a inflação. Esqueça no fundo de tua mente que a inflação só ameaçou o Plano Real quando Lula barbudo ia vencer... Mas, quando o Duda escreveu a cartinha do Lulinha "paz e amor", a inflação voltou ao normal.

Dilma, você tem de negar em todos os debates que o PT tentou impedir o Plano Real no STF, assim como não assinou a Constituição de 88 para não compactuar com o "Estado burguês"; todos têm de esquecer que fomos contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, que demos força a todos os ladrões que pudemos para manter as alianças para nosso poder eterno, pois as ordens do companheiro Dirceu ("sim, doutor Dirceu, como está? Estamos ensinando aqui à dona Dilma suas recomendações...") eram: atacar tudo do governo FHC, mesmo as coisas inegavelmente boas. Dilma, afirme com fé e indignação que as "privatizações roubaram o patrimônio do povo", mesmo sabendo que a Vale, por exemplo, quando foi privatizada em 97 valia 8 bilhões de reais e que hoje vale 273 bilhões, que seu lucro era de 756 milhões e que agora é de 10 bilhões, que seus empregados eram 11 mil e que agora emprega 40.000. Mesmo sabendo que a Embraer entregava 4 jatos em 97 e que agora entrega 227, que a telefonia não existia na Telebrás e que agora quase todos os brasileiros têm celular. Não podemos divulgar, mas a telefonia privatizada aumentou o número de telefones em 2.500 por cento... Isso. Mas, não diga nada... Pode citar número quanto quiser que ninguém confere... diga que os municípios têm saneamento básico, quando metade deles não tem esgoto nem água tratada, depois de nossos oito anos no poder... Pode dizer o que quiser. Viu o belo exemplo do Gabrielli, que ousou dizer que o FHC queria que a Petrobras morresse de inanição e que o Zylberstajn era a favor da privatização do pré-sal"? Ninguém contesta, mesmo sendo publicado o que FHC escreveu na época, dizendo que "nunca privatizaria a Petrobras". Diga sempre que a culpa é das "elite", que o povão do Bolsa acredita... Dilma, faz isso, faz aquilo... Dilma, sobe no palanque, desce do palanque..."

(Eu acho que Dilma é uma vítima. Uma "tarefeira" do narcisismo de Lula. Agora que Dilma não tem mais certeza de que vai vencer, seu semblante é repassado por uma vaga inquietude. Gente autoritária odeia dúvidas, porque a dúvida não é "de esquerda"; a dúvida é coisa de pequenos burgueses - como dizia Marx: "Pequeno burguês é a contradição encarnada." Lula também odeia dúvidas...Ele fica retumbante quando vitorioso, mas sua cara muda com fracassos. Lembram do seu pior momento, quando explodiu o mensalão?

Agora Lula está deprimido de novo, o PMDB está angustiado, querendo trair, como mostra a cara do candidato a vice-presidente, o mordomo inglês de filme de terror... Lula teme a derrota, como se caísse de volta na linha de pobreza que ele diz que interrompeu. Talvez no fundo, Dilma tema a própria vitória, porque terá de aguentar o PMDB exigindo coisas, Força Sindical, CUT, ladrões absolvidos, renunciados, cassados, novos corruptos no poder, novas Erenices, terá de receber ordens do comissário do povo Dirceu, terá de beijar e gostar do Sarney, Renan, Collor, seus aliados. Vai ter de beijar com delícia o Armadinejad, o beiçudo leão de chácara Chávez, o cocaleiro Evo, com o MST enfiando bonés em sua cabeça, vai ter de aturar as roubalheiras revolucionárias dos fundos de pensão que já mandaram para o Exterior bilhões em contas secretas.

Coitada da Dilma - sendo empurrada com a resignação militante, para cumprir ordens, tarefas, como os militantes rasos que pichavam muros ou distribuíam panfletos. Dilma às vezes dá a impressão de que não quer governar... Ela quer sossego, mas não deixam...

Como é que fazem isso com uma senhora?

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Vale a pena... 
Renata Lo Prete 
Folha de S.Paulo - 19/10/2010

Em privado, alguns expoentes do PT questionam a orientação da campanha de Dilma Rousseff de se concentrar no ataque ao governo de José Serra em São Paulo. Argumentam que isso tende a reverberar numa faixa do eleitorado restrita aos 35% obtidos por Aloizio Mercadante, que perdeu a disputa estadual no primeiro turno para o tucano Geraldo Alckmin.
Defendida pelo QG dilmista como instrumento para desconstruir o legado de Serra, a crítica sistemática a setores como educação e segurança embute o risco de afastar Dilma definitivamente da parcela do eleitorado local que optou pelos "verdes" e até por Alckmin.

...ver de novo? A cada rodada de críticas de Dilma às gestões tucanas no Estado, Serra insistirá na tecla de que a petista "não gosta de São Paulo". Trata-se de reedição da tática usada por Alckmin contra Mercadante.

Tro-lo-ló Serra, que no debate Folha/Rede TV! tentou mais uma vez se desviar do assunto Paulo Vieira de Souza discorrendo a respeito do suposto caráter "racista" do apelido do ex-diretor da Dersa, trazia, entre os papeis acomodados sobre seu púlpito, uma folha onde se lia, em letras grandes, "Paulo Preto", e abaixo uma série de curtos tópicos de texto.

Em família Filha de Paulo Preto, a jornalista Tatiana Cremonini, que se tornou funcionária do cerimonial do Palácio dos Bandeirantes no primeiro mês do governo Serra, estava antes na prefeitura paulistana. Em 2005, quando o tucano administrava a capital, ela foi contratada para a diretoria de eventos da SPTuris.

Como um ímã Frase de Aloysio Nunes, então secretário da Casa Civil, na solenidade de entrega do prêmio "Engenheiro do Ano" a Paulo Preto, em 2009: "Não é apenas o seu preparo técnico, mas a paixão que dedica ao seu trabalho que consegue magnetizar aqueles que colaboram com você".

Oremos 1 Distribuído no final de semana passado para instrução da liturgia das missas em igrejas católicas de todo o país, o folheto "O Domingo" traz um texto que atribui a agentes do governo federal atuando na Amazônia práticas como suborno e enriquecimento ilícito.

Oremos 2 O artigo, assinado pelo teólogo João Batista Libânio, primo de Frei Betto, registra que o Brasil vive uma "fase crítica", de tomada de "decisões importantes", e que "ainda há tempo de revertê-las". A editora responsável não informa a tiragem da publicação e alega que o tema foi selecionado em razão da Campanha da Fraternidade de 2011, sobre a conservação do planeta.

Às falas "Vocês proibiram a Dilma de falar no Lula?", perguntou, em tom reprovador, o presidente de honra do PSB, Roberto Amaral, a José Eduardo Cardozo no último intervalo do debate de domingo. "Não! De jeito nenhum!", reagiu o petista.

Sem tela Até hoje fora da propaganda de televisão de Dilma, o candidato a vice, Michel Temer, encontrou João Santana no estúdio do debate Folha/Rede TV!. "E aí"?, perguntou o peemedebista, que gravou seu depoimento há mais de uma semana. "É terça, é terça", explicou o marqueteiro.

Pra quê? Entre os tucanos, há quem veja com temor a decisão de fazer Aécio Neves circular pelo país em prol da candidatura Serra. Essa ala argumenta que, se Minas pode decidir a eleição e Aécio comanda boa parte do eleitorado local, não faz sentido retirá-lo do Estado.

tiroteio
"É um sinal dos tempos. O Nelson Rodrigues falava em 'padres de passeata'. Agora assistimos aos "bispos da panfletagem".
DO DEPUTADO FERNANDO FERRO (PT-PE), sobre os panfletos, apreendidos pela Polícia Federal em São Paulo, que pregam voto contra o PT devido à posição favorável à descriminalização do aborto assumida pelo partido.

contraponto

Minuto de reflexão


Em recente evento de campanha, o deputado estadual Campos Machado, presidente do PTB-SP, exortou o correligionário Frank Aguiar a rezar um Pai Nosso pela recuperação da saúde do senador Romeu Tuma.
Surpreso e meio sem jeito, o cantor e vice-prefeito de São Bernardo do Campo declinou do pedido. Argumentou que preferia não se arriscar, pois conhece pelo menos "três versões" da oração.
Campos Machado não se deu por vencido:
-Então vamos fazer uma oração silenciosa...

MERVAL PEREIRA

Minas decide 
Merval Pereira 
O Globo - 19/10/2010

Tanto o governo quanto a oposição estão convencidos de que a eleição no segundo turno será decidida em São Paulo e Minas, os dois maiores colégios eleitorais do país. Desde a redemocratização, nenhum presidente foi eleito sem vencer em Minas. Mais uma vez o resultado do primeiro turno da eleição para presidente em Minas Gerais coincidiu com o resultado oficial geral.

A candidata Dilma Rousseff teve em Minas 46,9% dos votos, o mesmo percentual que obteve no Brasil, e o tucano José Serra teve 30,7%, contra 32,6% no país. Também a candidata verde Marina Silva recebeu em Minas 21,2% dos votos, contra 19,6% no plano nacional.

Não se trata de mera coincidência, mas de uma representação das diversas regiões do país que já havia sido detectada por um mineiro ilustre, Afonso Arinos de Mello Franco, e foi confirmada pelo presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, que constatou em muitos anos de pesquisa eleitoral que os resultados em Minas refletem cada vez mais a média nacional.

Isso porque Minas tem sua parte Nordeste na região do Vale do Jequitinhonha, e por isso faz parte da Sudene; ao mesmo tempo, é a segunda economia do país (disputando com o Rio) com uma região fortemente industrializada, grande influência paulista na divisa com São Paulo; Juiz de Fora é muito ligada ao Rio de Janeiro; e o estado tem no agronegócio uma parte influente de sua economia.

Em alguns casos, o resultado local foi praticamente igual ao nacional. E quando isso não acontece, é certo que a tendência fica definida nas urnas mineiras: Lula teve 50,80% (48,6% no país), contra 40,6% (41,6% no país) de Alckmin.

Em 1989, Collor teve 36,1% em Minas (30,5% no país) contra 23,1% (17,2%) de Lula; em 1994, Fernando Henrique teve 64,8% em Minas (54,3% nacional) contra 21,9% de Lula (27%); em 1998, FH teve 55,7% em Minas (53,1% nacional) contra 28,1% de Lula (31,7% nacional).

Em 2002, Lula venceu com 53% (46,4% nacional) e Serra teve 22,9% (23,2%).

O ex-governador Aécio Neves, a grande liderança política mineira em cujo empenho o PSDB deposita a esperança de reverter o quadro do primeiro turno, gosta de citar Afonso Arinos para explicar a centralidade de Minas no processo político nacional: “Minas é o centro, e o centro não quer dizer imobilidade, porém peso, densidade, nucleação, vigilância atenta, ação refletida, mas fatal e decisiva”.

Afonso Arinos explica em linguagem poética o que os números frios das urnas definem: “As suas terras tocam os climas do norte. Participa dos climas úmidos e florescentes da orla litorânea. A oeste, da civilização do couro. Ao sul, confina com a riqueza paulista. Daí a sua posição histórica, que é um imperativo geográfico, econômico, étnico”.

No primeiro turno, repetindo o que aconteceu com Lula em 2002 e 2006, a candidata do PT Dilma Rousseff teve 5.067.399 votos e venceu Serra por uma diferença de 1.750 mil votos.

O fato é que a situação em Minas já está mudando em favor de Serra. Na capital Belo Horizonte, onde Marina teve a maior votação no primeiro turno (39,8% dos votos), Dilma teve 30,9% e Serra, 27,7%, segundo o Instituto Vox Populi, que faz pesquisas para o governo do PSDB no estado, a eleição já virou: Serra estaria com 45%, contra 35% de Dilma.

Pelas contas do PSDB, o candidato tucano tem um potencial de agregar cerca de 3 milhões de votos, que foi a diferença da votação de Serra para a de Anastasia para governador.

Além do voto Dilmasia, provavelmente grande parte dos votos de Marina nesse primeiro turno foram também para o candidato oficial ao governo do Estado, já que o candidato do PV ao governo, José Fernando, teve apenas 234.125 votos.

Em São Paulo, Serra teve cerca de 2 milhões de votos a menos do que Geraldo Alckmin recebeu para governador, eleitorado que pretende recuperar neste segundo turno.

Além do mais, Marina Silva teve nada menos que 4.865.828 votos para presidente.

A diferença a favor de Serra em São Paulo foi de meros 700 mil votos, longe da vantagem histórica que os tucanos sempre tiram na eleição presidencial, mesmo quando perdem em nível nacional.

Geraldo Alckmin, em 2006, venceu Lula em São Paulo por 3,8 milhões de votos, e Fernando Henrique chegou a colocar 5 milhões de votos na frente na eleição de 1998.

Quando Serra estava na frente das pesquisas, os estrategistas do PSDB consideravam que seria possível garantir a eleição com uma vitória em Minas, o que representaria uma virada no voto de quase dois milhões de pessoas em relação às votações petistas dos últimos anos.

E que poderiam chegar à marca de 5 milhões de votos de diferença em São Paulo, pois o PSDB estava mantendo sua hegemonia paulista com o favoritismo de Geraldo Alckmin.

Os tucanos estão otimistas, achando que pode acontecer no segundo turno o cenário idealizado por eles para vencer no primeiro turno.

É por isso que o presidente Lula ficará dedicado nos últimos 10 dias de campanha a comícios em São Paulo e Minas, para garantir a vantagem de Dilma Rousseff.

Ao contrário do que escrevi, em 2006 a Record realizou debate presidencial, no segundo turno, no dia 23 de outubro.

MÍRIAM LEITÃO

Questão de tempo 
Miriam Leitão 

O Globo - 19/10/2010

Os franceses quando vão para as ruas costumam promover grandes ondas, então é melhor ficar atento. Desta vez, a fúria é menos contra a reforma da previdência e mais pelo momento econômico da Europa de baixo crescimento provocado pela crise financeira que estourou em 2008. A briga contra o adiamento da aposentadoria é uma luta perdida. É uma questão de tempo.

O mundo inteiro tem que fazer mudanças na previdência, cada um ajustando à sua realidade. A França tem uma expectativa de vida de 80 anos; a das mulheres é de 84 anos. É inevitável fazer ajustes. Alemanha e Inglaterra já fizeram mudanças na idade de aposentadoria para 67 e 66 anos. Com a população mundial vivendo mais, principalmente em países mais desenvolvidos, é inevitável haver ajuste para reduzir o custo previdenciário. A reforma que está tramitando no Senado francês parece inevitável num país que tem quase um quarto de sua população acima de 60 anos. Nesse sentido, o movimento é uma luta por uma causa perdida. Mas o que toda essa adesão demonstra é o grau de insatisfação hoje na Europa com a falta de emprego e crescimento, insatisfação que explode em xenofobia, manifestações contra o governo, e queda de popularidade dos governantes.

A França tem a fama de ser revolucionária, mas é sempre a mais refratária a mudanças.

O Brasil sabe desse conservadorismo na luta contra os subsídios à agricultura europeia. É a França que mais resiste. O país tem um mercado de trabalho mais inflexível, uma previdência cara, que tem sido mais lenta em mudar.

Neste momento, é mais difícil fazer qualquer mudança, porque o país está em crise. O déficit público é de 7,8% do PIB e a dívida pública, de 80% do PIB. O programa é cortar o déficit público e retomar o crescimento, este ano em 1,5%, mas mesmo assim a dívida deve continuar crescendo até 87% do PIB em 2012.

Tudo isso torna urgente o ajuste fiscal. Mas o aumento do desemprego torna tudo mais difícil. O economista Fábio Giambiagi disse ontem que a França perdeu o melhor momento.

— A inação acaba pagando seu preço, cedo ou tarde.

A França poderia ter feito essa mudança com tempo, com tranquilidade, e sem tanta tensão, quando os ventos sopravam a favor, mas os governos anteriores se curvaram à pressão dos sindicatos e renunciaram à reforma. Agora o país está tendo que encarar uma reforma relativamente rigorosa, que gera uma grande insatisfação, por não ter se preparado com antecedência para isso: O que a maioria dos países está discutindo é elevação da idade mínima de aposentadoria.

Segundo um estudo feito por Marcelo Abi-Ramia e Rogério Boueri, do Ipea, em 2006, poucos países não tinham até aquela data estabelecido idade mínima: Brasil, Argélia, Egito, Eslováquia, Nigéria e Turquia.

Esse assunto aguarda a pessoa que vai presidir o Brasil a partir de 2011, independentemente da abstração da atual campanha eleitoral, mais preocupada com problemas inventados, como a insistência de Dilma Rousseff em tratar como urgente a privatização dos anos 90, ou a compra de empresa de gás italiana em São Paulo. O candidato da oposição, José Serra, não ajuda nada. Na verdade, piora a qualidade do debate quando faz propostas eleitoreiras na área da previdência.

As promessas do candidato tucano de aumento do saláriomínimo para R$ 600 significam aumento de 11,5% em relação à proposta que está no orçamento de 2011, que é de R$ 538. E 40% dos benefícios previdenciários são ligados ao mínimo. Ele propõe também aumento de 10% para os aposentados em geral.

Isso também é mais do que está previsto no orçamento.

Essa promessa deve custar em torno de 0,5% do PIB, ou R$ 20 bilhões. Para sustentar essa proposta, Serra terá que dizer de onde vai tirar. O déficit da Previdência este ano até agora, só dos aposentados do setor privado, foi de R$ 41 bilhões.

O IBGE está nas ruas buscando os dados da nossa demografia. Os primeiros sinais indicam que estamos mudando mais rapidamente do que o imaginado. O mais sensato é começar a mudar as regras para evitar o impasse adiante. A pessoa que vencer as eleições encontrará a seguinte situação, na definição de Giambiagi: — Um país que está envelhecendo, mas onde os idosos se julgam injustiçados; um país que deveria poupar mais, mas onde a população quer consumir cada vez mais; um país com regras de aposentadoria generosas em relação aos padrões mundiais, mas onde as pessoas não querem contribuir mais tempo.

O governo teria que ser “pedagógico”, expor os números, diz o economista.

Tarefa ingrata. Aqui e em qualquer lugar.

A França enfrenta um problema a mais. O presidente Nicolas Sarkozy transformou o regime semipresidencial da França em presidencialismo puro. O primeiro-ministro, François Fillon, virou basicamente um assessor do presidente.

Sarkozy tem que enfrentar de frente todas as crises. E como tem tido crise para enfrentar: de escândalos, a briga com minorias étnicas, um déficit público explosivo e, agora, os cidadãos na rua. E quando os gauleses, ou seja, os franceses, vão para as ruas... tudo pode acontecer.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Mercado de imóvel residencial cai em São Paulo 
Maria Cristina Frias 

Folha de S.Paulo - 19/10/2010

As vendas do mercado de imóveis novos residenciais na cidade de São Paulo tiveram forte queda em agosto.
Foram comercializadas 1.638 unidades no mês, volume quase 50% inferior ao negociado em julho, segundo pesquisa do Secovi-SP (sindicato da habitação).
O movimento se explica por uma recente fuga dos empreendedores do setor para outros municípios da região metropolitana.
A cidade apresenta dificuldades para a viabilização de empreendimentos, devido à legislação urbanística, segundo o economista-chefe do Secovi, Celso Petrucci.
Os altos preços das unidades e dos terrenos registrados em algumas regiões específicas da cidade contribuem para a migração.
"Não consideramos que há uma bolha, apenas que o mercado está pontualmente com alta em áreas escassas. Aí o mercado se espalha para Osasco, ABC, Cotia e entorno", afirma Petrucci.
Das 4.786 unidades lançadas em agosto, só 34% estão na capital paulista. Nas vendas, a cidade de São Paulo participou com 43% no total de 3.825 habitações negociadas na região metropolitana.
No volume lançado na Grande São Paulo entre agosto e julho, houve incremento de 17%. A redução na capital foi de 37% em igual período.
A participação de imóveis de dois dormitórios foi destaque no mês de baixa nas vendas. O segmento representou 72% do total movimentado na fase de lançamento e quase 50% do comercializado.

BLINDAGEM
Foram blindados mais de 3.400 veículos no país no primeiro semestre, segundo levantamento da Abrablin (Associação Brasileira de Blindagem). O crescimento foi de 9% em relação ao mesmo período de 2009. São Paulo lidera o ranking por Estados, com 66% da frota, mas o levantamento aponta que aumenta a demanda por esse tipo de proteção fora do eixo Rio-SP. Até o final do ano, a Abrablin prevê a blindagem de 7.000 veículos.

Resistência
A demanda por aços de alta resistência dobrou nos últimos cinco anos, segundo a ArcelorMittal Tubarão. A empresa já destina 11% de sua produção para atender a demanda dos mercados interno e externo das indústrias automobilística, de construção civil, de petróleo, da linha branca e naval.

Genética
A EoCyte, empresa de venda de produtos médicos, vai investir R$ 5 milhões no Brasil até o final de 2011 para trazer testes genéticos aplicados em consultório. Os exames servirão para identificar, por exemplo, intolerância à lactose e ao glúten.

DE OLHO NO TEMPO
Philippe Alluard, CEO da Tag Heuer para Caribe e América Latina, do grupo LVMH, diz que as grifes de luxo recuperam o terreno perdido com a crise e voltam a crescer.
"Nos primeiros nove meses deste ano, houve alta de 30% sobre igual período de 2009", diz Alluard, especialista nesse mercado.
Alluard, que mora em Miami, veio ao Brasil tratar do lançamento do novo modelo da grife, o Calibre 1887, com o qual a companhia comemora os 150 anos da Tag Heuer, um dos grandes nomes da relojoaria sofisticada e dos cronógrafos esportivos.
O modelo chegará ao Brasil em março de 2011 e ainda não tem valor definido. Nos EUA deverá custar em torno de US$ 4.500.
A grife tem inspiração no esporte e ficou conhecida pela cronometragem de eventos como a Fórmula 1. A companhia investiu para ter o modelo totalmente criado pela empresa, o que não costuma ocorrer nas marcas de relógio.
"O 1887 tem um sistema mais eficaz e foi totalmente criado "in house'", diz.

Farmacêuticas disputam na Justiça por licitação em PE
As farmacêuticas AstraZeneca e Cristália estão em disputa na Justiça de Pernambuco devido a uma licitação realizada pelo Lafepe (laboratório do Estado) para transferência de tecnologia e fornecimento de três medicamentos para saúde mental.
O processo licitatório realizado no primeiro semestre, vencido pela Cristália, é questionado pela AstraZeneca. A empresa diz que houve irregularidades na elaboração do edital para que a Cristália fosse a única capaz de atingir os requisitos.
"Nenhuma empresa isoladamente produzia, comercializava ou possuía registro sanitário das três moléculas (clozapina, olanzapina e quetiapina). Porém, para superar a exigência, a Cristália, pouco antes, se tornou a única capaz de atender ao edital, solicitando à Anvisa os registros", diz a AstraZeneca. A farmacêutica diz que só após o pregão soube da existência do procedimento licitatório.
A AstraZeneca conseguiu liminar para suspender os atos da licitação em maio.
Em resposta, o Lafepe conseguiu suspensão da liminar em setembro pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco.
A AstraZeneca recorreu e aguarda a decisão.
O presidente do Cristália, Ogari Pacheco, e o Lafepe negam as acusações e dizem que os atuais entraves na Justiça não atrasarão o fornecimento dos produtos.
"Temos um parque instalado no Brasil e todas as condições de participar de licitação. Agora só estamos aguardando a grade para a distribuição", diz Pacheco.

Tempo perdido
O empresário brasileiro gasta 2.600 horas por ano para cumprir suas obrigações tributárias, o dobro da média mundial, segundo José Chapina Alcazar, presidente do Sescon-SP (sindicato das empresas de contabilidade).

Tingido
A Golden Tecnologia, de soluções para a indústria têxtil, desenvolveu, em parceria com a Universidade Politécnica da Catalunha, o Dye Clean, processo de tingimento que reaproveita a água usada no banho, sem a necessidade de tratar ou filtrar.

CELSO MING

Adiar a aposentadoria 
Celso Ming 

O Estado de S.Paulo - 19/10/2010

Paris está paralisada pelas manifestações contra o projeto do presidente Nicolas Sarkozy que prevê o adiamento por apenas dois anos do início da aposentadoria como medida necessária para reequilibrar as contas da previdência social da França.
A expectativa de vida está aumentando em todo o mundo. As finanças do sistema previdenciário estão quebradas porque os governos (e não só o da França) têm de garantir o pagamento da aposentadoria por mais tempo.
Trata-se de fator relativamente novo que não foi levado em conta quando do estabelecimento das bases atuariais com que se criaram os sistemas de aposentadoria e pensão após a 2.ª Grande Guerra.

Mas, desta vez, não são apenas os trabalhadores que estão se manifestando contra esse projeto que obriga as pessoas comuns a trabalhar por um período mais longo do que trabalharam seus pais.

Fato inesperado são os estudantes, universitários e secundaristas, que vêm agora engrossando os protestos, por outra razão. Porque, argumentam, se for aprovado, o adiamento da aposentadoria manterá por mais tempo fechados os postos de trabalho hoje já escassos. Enfim, dizem os jovens, os coroas têm de desocupar a moita para dar lugar a quem vem vindo aí e esse projeto do presidente Sarkozy não olha para isso. É a questão previdenciária agravando o desemprego.

O problema está longe de se limitar à obtenção de cobertura para o rombo do sistema previdenciário. Todo o regime do Estado do bem-estar social (welfare state) adotado na Europa está sendo duramente questionado. Bem antes da atual crise, as despesas públicas vinham aumentando muito acima da capacidade de arrecadação dos governos e ajustes drásticos já eram recomendados.

Na área do euro, a recessão e a falta de moeda própria para desvalorizar tornaram as coisas ainda mais difíceis. Os déficits orçamentários estão se agravando e as dívidas públicas se multiplicando, como mostram os casos da Grécia, Irlanda, Espanha e Portugal.


Um dos três economistas laureados este ano com o Prêmio Nobel por seus estudos sobre o emprego, o cipriota-britânico Christopher Pissarides, tem advertido que o seguro-desemprego, tal como praticado nos países ricos, deixou os trabalhadores acomodados demais e excessivamente dependentes dos benefícios proporcionados pelo Estado. E esse já é fator de perda de competitividade, que a crise só está agravando.


Mas essa é uma questão mais complexa. Se o objetivo for limitar-se a resolver tão somente a questão previdenciária, e se não for possível adiar a aposentadoria, tal como sugere o presidente da França, porque sabota o emprego dos jovens, então a solução que sobra talvez seja o aumento da contribuição. No entanto, essa medida por si só implicaria redução da renda real que pode ficar abalada pela estagnação econômica e pelo desemprego.


Este é um momento delicado em que os problemas da casa se multiplicam: o conserto da rede hidráulica agrava o da instalação elétrica que mexe com o piso, com as paredes, com o teto. Passa a impressão de que ficaria mais barato demolir tudo e construir uma casa nova, com novo projeto. Mas qual seria? Esta é a maior crise do capitalismo desde os anos 30 e, no entanto, nenhum partido, nenhum movimento político, nem à esquerda nem à direita, aparece com proposta para a saída da encalacrada.


CONFIRA

Mais do mesmo
O aumento do IOF de 4% para 6% na entrada de capitais para aplicações em renda fixa, 15 dias depois de tê-lo subido de 2% para 4%, desestimula as operações de arbitragem com juros (carry trade) de fora para dentro. (São empréstimos em moeda estrangeira a juros baixos para serem trazidos para cá e tirarem proveito, no mole, de juros bem mais altos.)

Hedge mais caro
O aumento de margem de garantia de 0,38% para 6,0% nas operações com derivativos também reduz as operações no segmento do dólar futuro. O efeito colateral é o encarecimento das operações de hedge feitas por quem precisa se defender contra oscilações no câmbio futuro.

Vai funcionar?
São decisões fortes. Falta saber se terão eficácia. Provavelmente ajudarão a segurar o tombo do dólar. Não se sabe até quando. São resoluções que atingem os efeitos e não as causas do problema.

ANCELMO GÓIS

Grato pelo convite 
Ancelmo Góis 

O Globo - 19/10/2010

Convidados para o ato a favor de Dilma, ontem, no Teatro Casa Grande, no Rio, políticos do PSOL que defendem “apoio crítico” à petista, entre eles Chico Alencar, acharam melhor não ir.

Foi uma maneira de respeitar a opinião de outros integrantes do partido — inclusive, o ex-candidato Plínio de Arruda Sampaio — que defendem o voto nulo.

Coisa do passado

Bete Mendes, a atriz e ex-deputada expulsa pelo PT em 1985, quando desobedeceu o partido e votou em Tancredo Neves para presidente no Colégio Eleitoral, não gostou de ver imagens do episódio de 25 anos atrás no programa de Serra na TV.

Beth vai votar em Dilma.

No meu governo

Veja como Serra e Dilma, antes mesmo da eleição, já estão criando empregos.

Nesta reta final da campanha, a diária de um cabo eleitoral do PT e do PSDB em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, está variando de R$ 30 a R$ 60.

Primeira fornada

Parte hoje do Rio para Hamburgo, de navio, a primeira carga de aço exportado pela CSA, a nova usina da alemã Thyssen, em Santa Cruz, no Rio.

São 40 mil toneladas de aço.

No mais

Se, como foi noticiado, o preço do apoio de Jader Barbalho à candidata do PT ao governo do Pará, Ana Júlia, é a nomeação para a última vaga de ministro do STF de alguém que seja contra a Lei da Ficha Limpa, não há outra saída.

É melhor fechar o Brasil.

Põe na CPU

canal a cabo infantil Cartoon Network exibiu a seguinte cena, sábado à tarde, no “Planet Sketch”, programa que a garotada miúda adora.

Na nave, o astronauta ordena ao computador, que tem voz de mulher, para ligar o aquecimento.

“Ela” diz: “É meu aniversário, só ligo se ganhar presente.”

Segue...

Um outro piloto da nave, então, reage, safadinho: “Certo, já vou pôr uma chave de fenda na sua CPU.” Aí, a “computadora” ri e responde, assanhada: “Ok, aquecimento ligado.” Lá em Frei Paulo, chave de fenda na CPU é... deixa pra lá.

Bacalhau graúdo

Veja como empresas brasileiras prosperam lá fora. A Zagope, braço da Andrade Gutierrez na Europa, já é a sexta maior exportadora de Portugal.

Apesar da crise por lá, suas exportações cresceram 21%.

Grana alta

A Batavo enviou uma carta ao Flamengo, informando que não pretende renovar o patrocínio com o clube, assinado em 2010 com validade de um ano.

São R$ 25 milhões a menos no cofre do clube rubro-negro.

Caso médico

Thiago de Mello, 83 anos, o grande poeta brasileiro, submeteuse a uma cirurgia de próstata no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

Passa bem e já vai para casa.

Quatro rodas

O Tribunal de Justiça do Rio recebeu ontem a primeira remessa de 30 carros modelo Passat.

Semana que vem, chegam mais 30. E por aí vai.

‘Vestibulinho’

Acredite. Já há 2.000 crianças inscritas para as 156 vagas de primeiro ano do ensino fundamental do Colégio Santo Agostinho da Barra, no Rio, em 2011.

São 12,8 candidatos por vaga.

No último “vestibulinho” na escola, foram 650 inscritos.

Serão dois dias de provas, 20 e 21 de novembro.

Calma, gente

Domingo, por volta de 14h30m, três madames caminhavam pela orla do Leblon, na altura do Jardim Alah, quando uma distinta senhora, que vinha no sentido oposto, agarrou uma delas pelo braço e — pááá! — lhe deu uma sonora bofetada no rosto: — Isso é para você aprender a não mexer com o marido das outras! Há testemunhas.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

O direito de não nascer
SONIA RACY
O ESTADO DE SÃO PAULO - 19/10/10
A confusão da novela estabelecida pela Operação Satiagraha continua com mais um capítulo. Eduardo Antônio Dantas, subprocurador-geral da República, no Ministério Público Federal, deu parecer favorável para se trancar a investigação contra Daniel Dantas. Ele questiona a legalidade do uso da Abin, que teria iniciado os grampos telefônicos e o monitoramento de computadores dos investigados antes mesmo da instauração de inquérito na PF.
Sua opinião contraria parecer dado anteriormente pelo próprio MPF, que se posicionou a favor dos métodos usados pelo TRF.
Hedge literário?
Depois de um hedge político - eleito deputado, favorecido pelos votos dados a Tiririca, tem agora imunidade parlamentar -, Protógenes Queiroz prepara livro sobre os bastidores da Satiagraha. Debruçado sobre duas propostas - ser entrevistado por um jornalista ou relato em primeira pessoa -, avisa: "Vou contar tudo com riqueza de detalhes". Quer lançar o calhamaço em 20 de maio, data de seu aniversário.
Pesquisa falha
Um dia antes das eleições do primeiro turno, Jutahy Magalhães se encontrou com João Santana em restaurante de Salvador. "Se prepare para trabalhar mais 30 dias", disse o tucano ao marqueteiro de Dilma. "Já estou de férias, tenho certeza que as eleições acabam amanhã", rebateu Santana. Foi obrigado a rever seus planos.
 
Buena educación
Bastante movimentada a noite de sábado no restaurante Piselli, em SP. De um lado, mesa de quatro comandada por Marta Suplicy. De outro, FHC conversava com o embaixador Sérgio Amaral. Ao saber que Marta também estava ali, o ex-presidente não resistiu: "Ela está aí? Vou então abraçar minha colega de colégio...".
Esquenta
Já tem endereço o gabinete de transição do próximo presidente. Será no CCBB, em Brasília, mesmo espaço ocupado por Lula durante a reforma do Palácio do Planalto.
Dou-lhe uma...
Foi anunciado, sexta, que o livro de George W. Bush, Decision Point, terá uma tiragem inicial de 1,5 milhões de exemplares nos EUA. O número deixou as editoras brasileiras ouriçadas. E a pergunta ontem era: quem será que vai conseguir arrematar o título no Brasil?
Debate
Mais um debate focado no uso do conteúdo para programas eleitorais de televisão. Foi essa a conclusão de boa parte dos que estavam presentes, domingo à noite, no auditório da Rede TV!. Dilma e Serra aderiram, disciplinados, à ditadura do termômetro do marketing político da vez e foram estudadamente menos agressivos na comparação com o primeiro debate na Bandeirantes. Já a plateia extrapolou, com direito a vaias e uivos. Destaque para comentários em voz alta de Marta Suplicy e Zulaiê Cobra.
Os tucanos e democratas compareceram em massa e foram os primeiros a chegar e a sentar. Os aliados de Dilma, ao entrarem, ignoraram os que já se encontravam no espaço reservado aos convidados de Serra. Exceção feita a Antonio Palocci, que parou para cumprimentar os opositores da escolhida por Lula. Chamaram a atenção, entre tucanos e petistas, os abraços apertados e conversas ao pé do ouvido de Kassab para Michel Temer.
Ao fim do programa, ambos os lados juravam haver vencido.
Debate 2
Com o anúncio de neutralidade Marina, Geraldo Alckmin deixou de lado a gravata verde usada no último debate e optou pelo tradicional azul. Rui Falcão surgiu de jaqueta de couro marrom, ainda no clima da vigília que fez na gráfica onde foram encontrados panfletos contra Dilma na madrugada de sábado para domingo. Exibia a quem passava o famigerado folheto. 
E essa Zé Aníbal teve que levar para casa. Foi confundido duas vezes com Aloysio Nunes Ferreira.

Na frente
Ritmo pra lá de lento. Entre 8 horas e meio dia de ontem, quem esperou na fila do show de Paul McCartney, no Pacaembu, contabilizou: venderam algo como 290 ingressos.
Tony Blair fala em seminário do Lide. Dia 26, no Unique.
Roberto Setubal, Rubens Barbosa e Stephen Bosworth são convidados do simpósio Brasil Potência Emergente. Quinta, na Fecomércio.
Acontece, hoje, concerto da Camerata Aberta sob regência de Felix Krieger. No Masp.
O Cardeal e o Repórter, de Ricardo Carvalho, recebe dia 25, o Prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos, no Tuca.
Abre mostra de Marcelo Brodsky, sábado, na Pinacoteca.
A exposição Joaquim Nabuco: O Valor da Palavra Empenhada inaugura, amanhã, no Congresso Nacional.
Tutu Cardoso de Almeida lança a coleção Foto Aplicada no Jardim Paulista. Sexta.
É hoje o concerto da Orquestra Filarmônica da Rádio France para crianças carentes, na Sala São Paulo. Com apoio da Secretaria da Cultura do Estado.
Ara Vartanian abre, hoje, novo espaço de joias no Jardim Europa.
Circulou nos bastidores do debate, o Baralho do Mensalão com José Dirceu e Eduardo Azeredo, entre as cartas. 

RUY MARTINS ALTENFELDER SILVA

Reforma política já!
Ruy Martins Altenfelder Silva 
O Estado de S.Paulo - 19/10/10


O tradicional e respeitado Instituto dos Advogados de São Paulo promoveu oportuna e proveitosa mesa de debates focando o tema Ética, Política e Democracia. Convidado por sua presidente, professora Ivette Senise Ferreira, participei da mesa, debatendo o tema com os juristas Antonio José da Costa, Elias Farah e Paulo Henrique dos Santos Lucon.

Com base nas pesquisas de opinião procurei desenvolver as causas do descrédito em que caíram as autoridades e as instituições dos três Poderes, consequência dos péssimos serviços oferecidos aos contribuintes e dos escândalos que pipocam com assustadora regularidade e acabam, como a voz das ruas batizou, em pizza. A perniciosa corrente de tolerância com a corrupção, o empreguismo desenfreado, o compadrio, a irresponsabilidade com as verbas públicas, o conjunto de abusos que configuram flagrante desrespeito ao cidadão, a impunidade exigem providências urgentes. A grande esperança está nos eleitos em 3 de outubro, que terão a grave responsabilidade de restaurar a confiança dos cidadãos. Vem a propósito lembrar o diálogo entre dois personagens do dramaturgo alemão Bertolt Brecht na peça Vida de Galileu. Um deles afirma enfaticamente: "Infeliz do país que não tem heróis." E o outro rebate: "Não, amigo, infeliz do país que precisa de heróis." Os intermitentes casos de corrupção nos 500 anos de História e os problemas que ainda ocorrem no cotidiano nacional demonstram que o Brasil - apesar de todos os esforços e avanços verificados na ética e na valorização da cidadania -, lamentavelmente, ainda se enquadram no segundo caso.

Seria muita ingenuidade supor que alguma nação consiga ter pleno êxito em suas metas de desenvolvimento, numa era cujo principal ícone é a consciência ética, sem que o princípio fundamental da ética esteja fortemente arraigado em todas as instituições. À humanidade do século 21 não interessam só as promessas de facilidades, progresso econômico, tecnologia de ponta e conforto contidas no ideário comunitário. Ser ético, correto e honesto é essencial.

O arcebispo de Lyon, monsenhor Phillipe Barbarin, em recente trabalho, respondendo a pergunta sobre quais as condições de um exercício ético de poder, afirmou que em primeiro lugar está a retidão interior, depois o respeito às regras da sociedade e, sobretudo, o bem comum daqueles pelos quais somos responsáveis (in Denis Lafay, A Sociedade, a Economia, a Política, a Empresa, pág. 35).

A propaganda eleitoral no rádio e na televisão a que assistimos foi simplesmente lamentável. Os levantamentos indicam que foram muitos, a grande maioria, os aparelhos desligados no horário eleitoral. O recado é claro e lógico: reforma política já! Ela é a mãe de todas as reformas, a que pode transformar nosso futuro como nação.

De quem é a culpa pelo atual sistema político? Concordo com a opinião de Frei Betto: para mim, os principais culpados são os partidos que aceitam filiações irresponsáveis, funcionam como legendas de aluguel, abrem as portas aos arrecadadores de votos, meros candidatos iscas para robustecer a bancada partidária no Poder Legislativo (Correio Braziliense, 24/9, pág. 17). A verdade é que os partidos políticos são cada vez menos representativos da comunidade. Representam a si mesmos. Vivem descolados da base social. O Brasil precisa com urgência passar a limpo o atual sistema político e reformá-lo. Os políticos precisam se conscientizar de que a "cidadania virou gente", na feliz expressão do professor José Murilo de Carvalho (Cidadania no Brasil).

A legislação posterior à de 1985 foi liberal. Enquanto o regime militar colocava obstáculos à organização e ao funcionamento dos partidos políticos, a atual é pouco restritiva. O número de partidos cresceu desordenadamente. Em 1979 existiam dois partidos em funcionamento; em 1986, 29; e hoje, mais de 30! É preciso, sob o aspecto da estrutura institucional, corrigir a distorção regional da representação popular. Temas relevantes permanecem na pauta da reforma do sistema político: alteração do sistema eleitoral, redução do número de partidos, reforço da fidelidade partidária e da fidelidade ao voto, eleição direta de todos os vices, redução do mandato de senador para quatro anos e modificação do atual sistema de substituição pelo candidato ao Senado mais votado, proibição de reeleição dos parlamentares após dois mandatos, a introdução de um sistema eleitoral que combine o critério proporcional em vigor com o majoritário, aproximando mais os representantes dos seus eleitores e reforçando a disciplina partidária. Outro tema relevante é o relativo ao financiamento das campanhas eleitorais: não é possível que a cada eleição tenhamos de assistir a mazelas em razão de problemas relacionados com esse financiamento.

A introdução do voto distrital nisto, acoplado ao financiamento público das campanhas, parece-me uma solução mais condizente com o regime democrático de governo. Outro ponto que merece reflexão é o relacionado às coligações partidárias nas eleições proporcionais. Veja-se o que aconteceu nesta eleição, em que um único candidato - o palhaço Tiririca, com quase 1,5 milhão de votos - elegeu mais três da sua coligação com votação inferior à de muitos outros que não conseguiram eleger-se.

A cidadania virou gente. A discussão urgente de uma agenda de reforma política é inadiável.

A verdadeira força de governantes e impérios, no dizer de H. G. Wells, não reside nos exércitos e nas armadas, mas no fato de os homens acreditarem que eles são inflexivelmente abertos, verdadeiros e legais. No momento em que se afastam desse padrão, os governos passam a ser apenas a "gangue no poder" e seus dias estão contados.

PRESIDENTE DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS JURÍDICAS.

MARCO MACIEL

Joaquim Nabuco e Balmaceda
Marco Maciel 
O Estado de S.Paulo - 19/10/10

Ao encerrarmos as celebrações do Ano Nacional Joaquim Nabuco, podemos dizer com toda a convicção que Nabuco continua com uma agenda extremamente atual. Embora seja uma de suas obras menos celebradas, Balmaceda, muito mais que um simples ensaio ou uma arguta análise política, é uma síntese extraordinária das preocupações do autor - quase uma antevisão sobre o destino e os riscos que poderia correr o Brasil sob a República, então recém-proclamada.

Produto dos artigos por ele publicados no Jornal do Comércio, o livro encontra motivação na obra do chileno Júlio Bañados Espinosa intitulada Balmaceda, seu governo e a Revolução de 1891, que foi elaborada em defesa do presidente José Manuel Balmaceda.

Balmaceda, que foi um liberal na maior parte de sua vida política, viu-se na crista de uma crise, em que, apelando para o conflito com o Parlamento, terminou solapando o alicerce de popularidade que tinha alimentado a sua carreira política e parlamentar. O resultado foi a guerra civil de 1891, depois que o Parlamento deixou de aprovar a lei de orçamento para aquele ano e o presidente, ignorando o poder do Congresso, validou o do ano anterior. Quando o Congresso votou e aprovou a sua destituição, o presidente respondeu dissolvendo-o. Da solução pacífica dos votos passou-se ao prélio terrível das armas. Decorridos oito meses de combates, o triunfo do Congresso torno-se inevitável e a Balmaceda não restou alternativa senão entregar-se e asilar-se na Embaixada Argentina, onde, no dia em que deveria findar-se o seu mandato, recorreu ao gesto extremo do suicídio.

As observações de Joaquim Nabuco, no curso de sua análise sobre os infortúnios de Balmaceda, não se cingem aos aspectos circunstanciais da vida do ex-presidente. Como em tantas outras oportunidades no livro, seus olhos veem o Chile e ele pensa no Brasil quando afirma: "Em nossos países, onde a nação se mantém em menoridade permanente, as liberdades, o direito de cada um, o patrimônio de todos vivem resguardados apenas por alguns princípios, por algumas tradições ou costumes que não passam de barreiras morais sem resistência, e que o menor abalo deita por terra."

A crise política provocada por Balmaceda tem pontos em comum com os eventos que, no Brasil, marcaram o trágico 24 de agosto de 1954 e, no ano seguinte, os episódios de 11 de novembro, com a destituição e a consequente renúncia do vice-presidente da República e de seu substituto legal, o presidente da Câmara dos Deputados. Mas caracteriza-se, também, por diferenças marcantes.

No Brasil, o suicídio do ex-presidente Getúlio Vargas e a inquietação decorrente do movimento militar de 11 de novembro marcam a mais significativa diferença com o caso chileno. A saída pacífica fez-se pela eleição de Juscelino Kubitschek, no pleito de 1955, significando a restauração da normalidade democrática e o desestímulo às tentativas de intervenção militar.

No Chile, o drama e a tragédia consumavam-se na medida em que a proclamação da ditadura pelo presidente fechara as portas a qualquer entendimento e, consequentemente, à solução pacífica do confronto que dividira o país, obtendo como resposta o caminho para a violência de ambos os lados.

"Uma vez assentada a solução da morte, é preciso justificá-la, depois utilizá-la politicamente, por último escolher o momento", escreveu Joaquim Nabuco. Assim é que, como também o fez Vargas mais de meio século depois, sua última mensagem Balmaceda a deixou numa carta, chamada hoje de o Testamento de Balmaceda. Nela Nabuco identifica três partes: uma é a revista do procedimento da Junta Revolucionária, para mostrar que não lhe era permitido esperar justiça de seus inimigos e que, por isso, não realizava a sua primeira ideia de entregar-se a eles; outra é a sua defesa dos pontos de acusação que lhe ficaram mais sensíveis; a última é um brado de esperança na vitória ulterior de sua carta.

Nesta última parte está o fulcro das contradições dos sistemas políticos que sempre cercaram o exercício do poder pessoal em nosso continente. "O regime parlamentar triunfou nos campos de batalha, mas esta vitória não prevalecerá. Ou o estudo, a convicção e o patriotismo abrem caminho razoável e tranquilo à reforma e à organização do governo representativo, ou novos distúrbios e dolorosas perturbações terão que reproduzir-se entre os mesmos que fizeram a Revolução unidos e que mantêm a união para garantia do triunfo, mas que por fim acabarão por se dividirem e se chocarem", alerta Nabuco.

A grandeza dos textos, sua perenidade e o alcance moral de seus ensinamentos fazem de Nabuco, mais que um autor, um mestre vocacionado não para ensinar, mas para educar.

O texto seguinte, mais que ilustrativo, é esclarecedor de sua maneira de pensar e da precisão em exprimir o que pensava: "O direito das Câmaras de negar os méis a um Gabinete que ela supunha fatal às instituições é um direito perfeito. As Câmaras são a Representação Nacional; a ficção é que elas são o país, ao passo que o Presidente não é senão um magistrado. Entre a Representação Nacional, de um lado, e o Presidente, de outro, presume-se, havendo conflito, que a nação está com os seus representantes e não com o seu delegado, tanto assim que à Representação Nacional, em certos casos, é deixado exclusivamente a seu critério o direito até de suspender e o de depor. É o Poder mais alto de todos."

A busca da onipotência do poder sempre ameaçou o futuro da democracia na América Latina (AL). Logo, a lição que Balmaceda escreveu com seu próprio sangue, e a assinou com sua própria vida, precisa ser aprendida por todos os que exercem ou venham a exercer o poder em nosso continente.

SENADOR, É MEMBRO DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS 

CLÁUDIO HUMBERTO

“São injúrias, infâmias, mentiras” 
EX-PRESIDENTE FHC SOBRE A ACUSAÇÃO DE QUE SEU GOVERNO TENTOU VENDER A PETROBRAS

ENROLADOS EM ESCÂNDALOS SÃO DA NORTE ENERGIA 
Valter Cardeal, diretor da Eletrobras enrolado em fraude de € 157 milhões num banco alemão, e Vladimir Muskatirovic, chefe de gabinete da ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra, acusado de extorsão, têm algo em comum. Cardeal preside o conselho de administração da Norte Energia, empresa bilionária que vai implantar a Usina Hidrelétrica de Belo Monte, e Muskatirovic é um dos seus mais influentes membros.

ELES SÃO DE CASA 
Valter Cardeal e Vladimir Muskatirovic foram indicados pela Casa Civil para integrar o conselho de administração da Norte Energia.

LIGAÇÃO ESTREITA 
Valter Cardeal é tão ligado a Dilma Rousseff que até já se especulou que os dois viviam um romance, o que jamais confirmado.

PROJETO BILIONÁRIO 
A Usina Hidrelétrica Belo Monte, que será implantada porque Lula considera isso “questão de honra”, vai produzir mais de 11.200 MW.

ESPELHO MEU 
Foi revelado nesta coluna, em 6 de agosto, o caso do aliado de Serra suspeito de sumir com R$ 4 milhões em doações “não contabilizadas”.

NO DF, VITÓRIA DE AGNELO PODE SER ATÉ POR ‘W-O’ 
Após desistir de participar de mais um debate, ontem, desta vez na TV Record, Weslian Roriz (PSC) pode desistir da candidatura ao governo do DF, segundo revelam políticos da coligação. No DF, onde absurdos acontecem, Agnelo Queiroz (PT) “corre o risco” de vencer por W-O. O governador rorizista Rogério Rosso “sondou” o deputado Alberto Fraga (DEM) para substituí-la, mas depois disse ter sido uma “brincadeira”. 

MINIGOVERNADOR 
O governador do DF, Rogério Rosso, que parece brincar de governar, nem mesmo aprendeu que não se brinca também de fazer política.

‘ANIMUS VOTANTE’ 
No início da noite de ontem, Serra tinha 206.120 votos (82,9% do total) na enquete no site inquiete.com.br. Dilma tem 27.885 (11,2%).

URNA VIRTUAL 
Na enquete do site claudiohumberto.com.br, Serra acumulava ontem à noite 88,4% dos votos dos internautas. Dilma tinha 8,8%.

GOVERNADOR TORCEDOR 
Os jogadores do Salgueiro mal acreditaram: esperava-os no aeroporto do Recife, ontem, o governador Eduardo Campos, vestindo a camisa 7 do time, que desbancou o Payssandu, em Belém, e subiu à Série B. E ainda há quem não entenda como ele foi reeleito com 83% dos votos...

BEM NA FOTO 
O agente Guilherme Rousseff, da Polícia Federal, foi removido do Acre para Brasília. Passou a atuar na importante Diretoria de Inteligência da PF, responsável por investigações sensíveis.

QUESTÃO PESSOAL 
Dilma e seus coordenadores desconfiam que Lula quer radicalizar ainda mais nos ataques a José Serra para se vingar das críticas dos tucanos ao seu governo, e não para melhorar o ibope da candidatura.

NEM AÍ 
No comitê do PT, tem gente achando que o governador do Rio, Sérgio Cabral, tucanou. Em pleno desespero petista para eleger Dilma, ele viajou de férias à Europa com uma entourage de nove pessoas.

FURTO NA CÂMARA 
Furtaram do estacionamento do Anexo IV da Câmara dos Deputados, ontem, uma camionete Mitsubishi L200 do assessor do deputado Lael Varella (DEM-MG). Ninguém sabe, ninguém viu.

MANDOU, GRAMPEOU 
Quando um desavisado entra no site de Dilma para, de lá, enviar uma “mensagem do bem” à remetente de e-mail com críticas a ela, colabora com uma jogada: a partir do e-mail do “difamador”, é possível identificar seu endereço IP e mapear para quem ele enviou a crítica.

DILMA E AS CRIANÇAS 
É pura maldade essa história de dizer que Dilma Rousseff não gosta de criancinhas. Ela adora, por exemplo, crianças japonesas. É mero detalhe o fato de elas estarem no outro lado do mundo. E dormindo.

‘CIENTISTAS’ EM AÇÃO 
A direção e professores ligados ao PT no Instituto de Ciência Política da UnB têm utilizado a lista endereços virtuais do órgão pedindo votos para Dilma. Não há ciência que resista a “cientistas” isentos assim.

A GRANDE FAMÍLIA 
Na Coreia do Norte, o pai escolheu de sucessor o filho. Aqui, a “mãe”. 

PODER SEM PUDOR 
OPOSITORES TÊM RAZÃO 
Apesar da reeleição consagradora, o prefeito do Rio, César Maia, sempre manteve a autocrítica em dia. Em visita a Brasília, certa vez, ele contou o que os adversários acham dele: “frio, antipático, sem carisma, só um síndico”. 
– E o senhor acha que é isso tudo? – perguntou um interlocutor.
– Sinceramente? Acho que sim. Sou um grande síndico.