quarta-feira, setembro 15, 2010

ELIANE CANTANHÊDE

O PT de Dirceu que Dilma esconde

ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SÃO PAULO - 15?09/10

A declaração de que o PT terá mais poder com Dilma do que com Lula, feita pelo ex-ministro José Dirceu, eterno presidente de fato do partido, é motivo para reflexões, avaliações e projeções muito sérias. Até porque - ou principalmente porque - o PT tem sido um ausente do discurso de Dilma na campanha.
A equação não fecha: Dilma disfarça o partido, mas o partido vai ter ainda mais poder no governo dela?
No debate Rede TV!/Folha, no domingo à noite, Dilma relegou mais uma vez o PT ao segundo plano, referindo-se ao "presidente Lula" e ao "nosso governo" como os seus verdadeiros partidos. Mas Dirceu entregou o jogo: o PT é que vai dar as cartas no governo Dilma - que, não custa lembrar, era do PDT até outro dia.
A julgar pelas pesquisas, o PT vem numericamente forte por aí. Vai fazer uma bancada gra nde e experiente no Senado (calcanhar-de-Aquiles de Lula) e tende a ultrapassar o PMDB como maior bancada na Câmara. (Aliás, desbancando a candidatura do peemedebista Henrique Eduardo Alves para a presidência da Casa.)
O PT, então, será o líder no Congresso de uma imensa tropa formada desde o PCdo B ao PP de Maluf, depois de já ter transformado a CUT, o MST e a UNE em agências do governo, financiadas com recursos públicos; já ter aparelhado o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, a Petrobras, o BNDES; e estar em vias de "extirpar" a oposição, como disse Lula sobre o DEM, enquanto ataca pessoalmente os tucanos Tasso Jereissatti no Ceará e Arthur Virgílio no Amazonas.
E aí entra a fala de Dirceu: "A eleição de Dilma é mais importante do que a do Lula, porque é a eleição do projeto político". Leia-se: Lula foi um meio para se chegar a um fim, ao tal "projeto político". Agora, falta explicar exatamento do que se trata, antes que o governo e o projeto se instalem. Dilma entregou um programa "hard" de manhã ao TSE e, de tarde, retirou e entregou outro "light". Até agora, não se sabe ao certo qual é para valer.
Um dos laboratórios do "projeto político" de Dirceu foi a liderança do PT na Câmara antes da eleição de Lula, que atuava e respirava conforme Dirceu mandava. Era ali o foco dos dossiês, das CPIs, das denúncias de todo tipo contra Collor, contra Itamar, contra Fernando Henrique, contra tudo e contra todos os demais.
E não é que foi dali que saíram Erenice Guerra, José Dias Toffoli, Márcio Silva? Saíram direto da central de dossiês contra adversários para o comando do país.
Erenice surgiu meio do nada e virou ministra da Casa Civil, principal cargo do governo. Toffoli é um ótimo sujeito, mas tinha todas as desvantagens e nenhum dos atributos para ser ministro, nada mais nada menos, do Supremo Tribunal Federal. E o tal do Márci o Silva é advogado da campanha de Dilma e dono de um escritório meteórico que, como diz o Painel da Folha de hoje (15/09/10), "é assunto de advogados há muito estabelecidos em Brasília".
Dilma teve a consideração de indicar a amiga e braço-direito Erenice Guerra como sua sucessora na Casa Civil. Mas, agora que a Casa Civil caiu (de novo) sob o peso da parentada toda dele, teve a desconsideração de rebaixá-la à condição de "mera assessora".
Deve estar aí a chave da questão: tem hora de esconder e tem hora de mostrar. É o PT das Erenices dos dossiês, do aparelhamento e do patrimonialismo que vai tocar o "projeto político" em curso no país?
E com o inestimável apoio do PMDB, evidentemente. 

ROBERTO DaMATTA

Entre fraldas e fraudes

Roberto da Matta 
O Estado de S.Paulo - 15/09/10

Quando virei avô, um papel social para o qual eu contribui apenas indiretamente, pois como sabe o óbvio mais ululante quem faz os netos são os nossos filhos, entendi a força daquilo que chamamos de "graça". A graça de ter uma filhinha e dois filhos que repetiam o lado mais humildemente humano do meu trajeto, correndo o risco de gerar filhos e, mais que isso, de honrá-los neste mundo; a graça de viver o papel de "pai com açúcar" ou de ser "pai duas vezes" porque os elos entre os avós e os netos têm aquela mesma obliquidade ou distância da dos tios: eles passam por uma outra pessoal, são sempre indiretos. Por isso, permitem o resgate de uma igualdade insuspeita, marcada por uma liberdade graciosa e, às vezes, repleta de humor, que permite falar com os netos sobre coisas impossíveis de serem tocadas com os filhos. Outro dia, perguntei ao meu neto mais velho, Samuel, se ele estava amando muito. Ouvi um bom e sonoro sim como resposta e, em seguida, a pergunta inesperada que só ocorre entre iguais: e você vovô, como vai de vida amorosa?


Bill Cosby, um genial comediante americano negro, contava como, aos 10 anos, foi visitar o avô que, engravatado, lhe ofereceu uma cerveja, deu-lhe um charuto, sentou-o numa confortável cadeira de balanço e, em seguida, perguntou-lhe sobre o que ele achava da política do Partido Democrata. Cosby discutia política nacional dando gostosas baforadas com o pai do seu pai, quando o genitor chegou e liquidou a farra de uma igualdade que só pode existir entre as gerações alternadas, como sabiam os antropólogos da minha tribo. Os laços entre pais e filhos contêm uma rígida autoridade que se alterna e compensa pelo tratamento chistoso e livre entre avós (ou tios) e netos (e sobrinhos), esses papéis que eram semelhantes em Roma e em muitos outros sistemas de família e parentesco.
Podemos ser fraudes como genitores, mas é impossível fraudar o papel de avô. Num caso, exige-se muito; noutro, a fraude é substituída pelas fraldas. Ora, fraudar é mais do que mentir: é criar ilusões, é inventar competências, é encobrir malfeitos com imagens e propaganda enganosa. Fraldar, porém, diz respeito a fazer exatamente o oposto. Trata-se de vestir o infante, dando-lhe aquela primeira tintura de um traço que temos como básico na nossa sociedade: a diferença essencial entre o sujo e o limpo. Se as regras forem realmente honradas, as fraudes devem ser punidas; fraldas, entretanto, são jogadas fora. Mas tanto a fralda quanto a fraude implicam alguma "sujeira", no sentido popular do termo. Fraudes remetem a falcatruas e hipocrisias (por exemplo: eu falo que vou fazer isso ou aquilo só para ter votos); fraldas têm tudo a ver com mamadas e banhos que fazem crescer. Ademais, elas limpam e separam o sujo do limpo. Entende-se, portanto, o ato falho auditivo da candidata Dilma quando, ao ser indagada sobre "fraldas", entendeu que era questionada sobre "fraudes". Estas mal traçadas sobre o que significa ser avó ou avô, esses papéis nos quais - dizem - o sexo e a sexualidade não têm mais importância, talvez ajudem a compreender a falha da audição de uma candidata tão preocupada em pretender ser o que obviamente não é; que a fralda da avó se confunde com a fraude tão comum na política do partido que ela representa.
Um dia eu escrevi um texto teorizando sobre o "voto amigo", no qual justificava por que não ia votar motivado ideologicamente, mas por simpatia pessoal. A nota, que foi recebida furiosamente por uma esquerda que sempre espuma de ódio com os outros, mas vive debaixo de uma ética de condescendência consigo mesma, foi escrita com o intuito de politizar os elos pessoais. Os laços de amizade e reciprocidade que até hoje nos obrigam a escolher mais pessoas amigas do que representantes de posicionamentos políticos ou movimentos sociais como motivos para o voto. Se tudo - inclusive e, sobretudo, o sexo - é política, como me ensinava um professor ativista nos idos de 1960, então por que os amigos não são também "politizáveis" e, assim assumidos, transformados em figuras capazes de trazer à nossa consciência, que se quer transformadora, as eventuais desarmonias entre partidos e ideologias; entre as incoerências dos hábitos praticados sem pensar e das instituições desenhadas para transformar o mundo? Afinal de contas, eis o que eu dizia: se exigimos uma politização do mundo, como deixar de fora os amigos, a casa, os parentes e os compadres? Se a coerência é impossível, não seria o caso de discuti-la e, assim, politizá-la no sentido mais produtivo dessa palavra?
Fiquei muito feliz descobrindo que muitos brasileiros geniais, ilustres e sábios, como Caetano Veloso e Oscar Niemeyer, vão votar em amigos. O arquiteto vai votar em Marco Maciel, um neoliberal que, para muitos, deveria queimar no inferno, porque, diz Niemeyer, "eu o conheço há muito tempo e ele é inteligente, discreto, honesto, honestíssimo".
Haveria algum problema entre o desejo de mudar, permanecendo leal àqueles que "eu conheço"? A amizade suspende todos os juízos, leis e normas? Afinal, pelos amigos podemos fazer tudo. E se Judas, Stalin, Fidel, Chávez ou Hitler fossem meus amigos?
Eu acho que é preciso distinguir fraudes e fraldas. E essa distinção é o projeto mais básico no nosso momento político-eleitoral. 

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO


A encenação de sempre

EDITORIAL
O ESTADO DE SÃO PAULO - 15/09/10


Um assessor de segundo escalão da Casa Civil, Vinícius de Oliveira Castro, foi o bode expiatório encontrado pelo governo para encenar uma resposta à revelação de que o filho da ministra Erenice Guerra, Israel, foi pago para ajudar uma empresa de transporte aéreo a regularizar a sua situação na agência federal do setor e, em seguida, conseguir um contrato de R$ 84 milhões, sem licitação, junto aos Correios. O assessor demitido, chamado por Erenice no ano passado para um cargo de confiança, foi apontado como parceiro de Israel na operação.

O afastamento de Castro - cuja mãe figura como titular de uma firma de lobby, juntamente com outro filho da ministra - é menos do que um paliativo diante do escândalo dentro do escândalo: a decisão do presidente Lula de manter Erenice Guerra na Pasta que ela transformou numa espécie de puxadinho da família e onde, ainda sob a guarida da então ministra Dilma Rousseff, se notabilizou pela crise do dossiê com gastos sigilosos da Presidência Fernando Henrique. Dilma, por sinal, já lançou a amiga ao mar, chamando-a de "uma ex-assessora".

A grande farsa - procedimento-padrão de Lula quando confrontado com grossas irregularidades no seu entorno - incluiu, por enquanto, o anúncio de que ele teria cobrado de Erenice uma "reação rápida". Ela rapidamente disparou uma série de notas para protestar inocência. Numa delas, anunciou a intenção de processar a revista Veja, que expôs o caso.

Mas a encenação mais característica do Planalto, quando finge que quer apurar os malfeitos da casa, foi o pedido de abertura de investigação pela Comissão de Ética Pública sobre a participação da ministra nos desenvoltos negócios do filho.

Para os menos avisados, uma providência contundente. Depois da reunião das segundas-feiras do colegiado, o seu presidente, José Sepúlveda Pertence, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, anunciou a abertura do procedimento. O relator designado, Fabio Coutinho, que tem o prazo prorrogável de 10 dias para apresentar o seu parecer, prometeu fazê-lo antes das eleições. A partir daí, a comissão ou arquiva o assunto ou instaura inquérito. Na realidade, sem prejuízo da retidão dos seus membros, o órgão não tem nenhum poder para punir as autoridades que tenham transgredido o Código de Conduta da Alta Administração Federal.

A comissão pode fazer recomendações ou advertências, e os advertidos podem ignorá-las. Basta lembrar o caso do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, que acumulava a função pública com a de presidente de seu partido, o PDT. Embora, como não poderia deixar de ser, isso tenha sido considerado eticamente inaceitável pela comissão - que em 2007 fixou prazo para o ministro renunciar ao comando partidário -, só em março do ano seguinte ele o fez, depois de se entender com Lula. Com o seu escárnio, o político demonstrou que a comissão, além de não ter poderes de sanção, tampouco exerce alguma forma de coação moral sobre os figurões do Planalto.

Tudo indica, portanto, que o único efeito prático do escândalo do dia nas hostes do lulismo será o fim das chances de Erenice de continuar ministra no eventual governo de sua ex-madrinha Dilma. Salvo fatos novos ainda mais comprometedores sobre o tráfico de influência e outros crimes continuados no núcleo central da Presidência, Lula tratará de empurrar com a barriga mais essa lambança. O essencial, para ele, é reforçar a couraça em volta da sua escolhida. E a mesma candidata cuja propaganda apregoa os feitos do governo "de Lula e Dilma" diz que o affair Erenice é "um problema de governo".

Em resumo, até a eleição, pelo menos, Erenice fica. Depois, se verá...

Nada disso sairia de graça para o lulismo se a maioria do eleitorado brasileiro não tivesse trocado as demandas éticas pelo proverbial prato de lentilhas. A efetiva melhora na condição de vida dos segmentos mais pobres da população como que os anestesiou para o exercício da cidadania. Parecem achar que, sendo os governos inevitavelmente corruptos ou coniventes com a corrupção, por que indignar-se logo com este que tanto bem lhes faz?

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Falou demais
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 15/09/10


Causou apreensão no comando da campanha petista a nota divulgada ontem por Erenice Guerra, na qual a sucessora de Dilma Rousseff na Casa Civil atribui as acusações que envolvem sua família a um movimento "em favor de um candidato já derrotado".
Os preocupados argumentam que, não bastasse a imprevidência de declarar a eleição encerrada, por mais folgada que seja a liderança nas pesquisas, a nota peca por aproximar Erenice da candidatura de Dilma -quando a petista deixou claro, em resposta dada domingo no debate Folha/Rede TV!, que a estratégia da campanha vai toda na direção contrária.

Mais ruído Logo no início da nota, Erenice diz ter encaminhado à CGU e ao Ministério da Justiça ofícios em que solicita investigações dos fatos relatados em reportagem da revista "Veja" e que envolvem "tanto minha conduta administrativa quanto a de familiares meus". Logo depois, em entrevista, o ministro Luiz Barreto anunciou que o alvo do inquérito da PF é o filho de Erenice, Israel Guerra, e não a própria.
Autoral O teor da nota foi decidido por Erenice. Subordinados cuidaram apenas de dar forma e divulgar.
Rumos Contemporâneos na faculdade de Direito da USP, o ministro José Dias Toffoli (STF) e Márcio Silva, advogado do PT e da campanha da Dilma em cujo escritório o filho de Erenice fez reuniões, começaram a se distanciar ainda na época em que trabalhavam na liderança do PT na Câmara.
Vistoso O aumento no volume de clientes do escritório que tem Márcio Silva como um dos sócios é assunto de advogados há muito estabelecidos em Brasília.
Termômetro De um auxiliar direto de Lula, acerca do futuro de Erenice no governo: "Diante da convicção e da firmeza dela, nada se altera. A menos que novos fatos se imponham".
Prezado sr. Na reunião da coordenação de governo, ontem, alguém sugeriu que a Receita Federal envie uma carta a todas pessoas que tiveram seus dados violados. Seria uma espécie de pedido de desculpas, acrescido de informações a respeito dos procedimentos adotados. Lula gostou da ideia.

#prontofalei No post inaugural de seu blog, o governador Alberto Goldman (PSDB-SP) reclama da figuração a que foi relegado na entrega de casas populares em Paraisópolis, estrelada por Lula: "Não foi para termos de nos submeter a alguém sem escrúpulos que dediquei toda a minha vida política".
Memória Aloizio Mercadante tinha, em 15 de setembro de 2006, os mesmos 23% obtidos pelo petista no mais recente Datafolha para o governo de SP. José Serra, então seu oponente, alcançava 47%. O atual adversário, Geraldo Alckmin, tem 49%.
Tudo pra mim Arnaldo Jardim e outros candidatos a deputado federal pelo PPS-SP estão em pé de guerra com o colega Roberto Freire. Depois de usar sozinho o horário partidário de junho, o presidente da sigla, que mudou o domicílio eleitoral de Pernambuco para São Paulo na tentativa de voltar à Câmara, quer para si todo o tempo disponível em inserções no horário gratuito.
É nosso As centrais sindicais fazem na sexta, em Porto Alegre, ato pró-Paulo Paim (PT-RS). Em apuros com a escalada de Ana Amélia (PP), o senador do salário mínimo e dos aposentados trava disputa parelha com Germano Rigotto (PMDB) pela segunda vaga gaúcha.
com LETÍCIA SANDER e FABIO ZAMBELI
tiroteio

"Não bastasse o tom agressivo dos discursos, Lula agora exacerba o autoritarismo, defendendo o extermínio dos opositores. Típico dos regimes aos quais ele associa."
DO DEPUTADO JOSÉ ANÍBAL (PSDB-SP), sobre declaração do presidente a respeito da necessidade de "extirpar o DEM da política nacional".
contraponto

Não tá pra peixe
Em recente manhã de sábado, Lula pescava no Paranoá, um de seus passatempos favoritos, em companhia de Marisa. A sorte, porém, não estava ao lado do presidente: decorrido algum tempo, a primeira-dama havia retirado do lago sete tucunarés; ele, nada.
Depois de muito reclamar, Lula concluiu que o problema era a vara. Solícita, Marisa ofereceu a dela ao marido e ficou com a "ruim". Resultado: ela pegou mais quatro tucunarés, e ele continuou zerado.
Lula achou que era hora de desistir. Em casa, Marisa fez questão de contar a todos que ganhara de 11 x 0.

JOSÉ NÊUMANNE

Comparado com isso aí, Watergate foi bolinho
José Nêumanne 
O Estado de S.Paulo


Em junho de 1972, um bando de cinco aloprados invadiu um escritório da campanha do candidato democrata à presidência dos Estados Unidos, George McGovern, para fotografar documentos e instalar microfones de escuta, a mando de uma gentalha instalada em gabinetes próximos do Salão Oval, no qual despachava o presidente Richard Nixon. O evento, aparentemente um incidente corriqueiro a ser noticiado nas páginas policiais, terminou levando a dupla de repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein, do jornal The Washington Post, a uma das maiores reportagens da História: a descoberta de que o chefe do Executivo mais poderoso do mundo tomara conhecimento do episódio e participara da conspiração para esconder provas da Justiça, o que o levou à renúncia dois anos e dois meses depois do fato. O episódio ilustrou dois aspectos da política. O primeiro deles, mesquinho, é a cegueira produzida pelo poder, capaz de levar quem o disputa a excessos desnecessários do gênero: no fim do processo eleitoral, Nixon aplicou uma das maiores sovas em eleições presidenciais americanas no adversário, vencendo-o em 48 dos 50 Estados da Federação. O outro, nobre, foi a demonstração do triunfo das instituições sobre as ambições quando funciona de verdade o tal do Estado Democrático de Direito.

Comparado com o que tem acontecido na atual sucessão presidencial em nossos trágicos trópicos, Watergate foi pinto, foi bolinho de bacalhau. Dificilmente o homem mais poderoso do mundo se teria mantido tanto tempo no poder, e talvez não houvesse tido sequer a possibilidade de renunciar, se tivesse devassado a contabilidade sigilosa de filha, genro e aliados do democrata derrotado. Ou se algum parente do secretário de Estado (apesar do crédito histórico de haver tirado a maior potência militar do mundo do atoleiro da guerra no Vietnã) Henry Kissinger fosse acusado de haver recebido "taxa de sucesso" de empresários envolvidos em negócios com a Casa Branca. Agentes da Receita Federal devassaram a contabilidade sigilosa da filha do candidato oposicionista à Presidência, Verônica Serra, de seu marido, Alexandre Bourgeois, e de quatro tucanos de alta plumagem, um dos quais, Eduardo Jorge Caldas Pereira, é vice-presidente do PSDB, o maior partido da oposição. Até agora todas as cabeças coroadas da Receita continuam sobre seu pescoço. E mais: a revista Veja reproduziu depoimento do empresário paulistano Fábio Baracat, revelando as circunstâncias do envolvimento de Israel Guerra, filho da chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, na cobrança de comissão por contratos que ajudou a firmar com a Empresa de Correios e Telégrafos (EBCT), antes dada como estatal exemplar em eficiência de funcionamento e agora, lembrada pela corrupção desde a denúncia de recebimento de propina por um funcionário dela, o que detonou o escândalo batizado de "mensalão".

De fato, nem os Estados Unidos são o Brasil nem Nixon, mesmo tendo trazido dos pântanos da Indochina os jovens americanos de volta ao lar, jamais gozou de popularidade que pudesse ser comparada com a usufruída hoje pelo chefe do governo brasileiro. Tudo isso é verdadeiro. Mas, então, podemos cruzar o Rio Grande ao sul e encontrar outro exemplo bem mais próximo: o caso Collor. Eleito presidente da República, em 1989, na primeira disputa direta depois da que fora vencida por Jânio Quadros, em 1960, o carioca das Alagoas teve de renunciar ao mandato porque uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instalada no Congresso para investigar o "caixa 2" administrado por seu tesoureiro informal, Paulo César (PC) Farias, descobriu que a reforma de sua residência particular (a "Casa da Dinda") e um Fiat Elba (que qualquer "mensaleiro" que se preze se recusaria a usar por ser um carro modesto demais) haviam sido pagos pela contabilidade heterodoxa administrada por um empresário que, por sinal, não tinha cargo algum no governo. Então, qualquer brasileiro despido de preconceito ideológico e munido da mais elementar imparcialidade verá que o "carcará sanguinolento" pagou uma pena (fim do mandato legítimo conferido por 49,94% do eleitorado, 5,71 pontos porcentuais a mais que seu adversário, o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva) por um dolo que nem pode ser enquadrado na ordem de grandeza de um escândalo como este que acaba de ser divulgado.

O protagonista do impedimento frustrado pela renúncia do presidente hoje faz parte do sesquipedal esquema de poder montado pelo adversário que derrotou há 21 anos. Isso basta para explicar por que ele caiu à época, defenestrado pelo Congresso, que desprezou. Collor, senador da base de apoio do governo petista, tem chance de voltar ao governo de Alagoas, mercê do apoio que dá a Luiz Inácio Lula da Silva e à sua candidata à sucessão, Dilma Rousseff. A popularidade de um - de 79%, segundo pesquisas de opinião confiáveis - e o favoritismo da outra - 50% a 23% sobre o adversário, conforme o levantamento mais recente de intenções de voto que pode ser levado a sério - dão uma boa mão ao sucesso delle, apesar do apoio de Lula ao oponente Ronaldo Lessa (PDT). Da mesma forma, levam a crer que absolutamente nada acontecerá com o clã Guerra, por cuja eventual culpa já respondeu o bagrinho Vinicius de Oliveira Castro, assessor de Erenice, que ocupou na Casa Civil o lugar que foi da candidata Dilma, a quem os filhos dela chamam de "tia".

Vinicius é o Gordon Liddy de Lula. A diferença é que o chefe dele teve de sair do governo por ter tentado protegê-lo. Aqui, o superior de Erenice jurou que, em seu governo, "bandido só não é preso quando não é bandido". Será mesmo, hein? No começo de 2008, em plena divulgação da farra dos cartões corporativos dos palacianos, Erenice Guerra foi acusada de ter preparado dossiê falso contra Ruth Cardoso, mulher do ex-presidente Fernando Henrique. A acusação não foi apurada e Erenice não foi demitida: foi promovida.

JORNALISTA E ESCRITOR, É EDITORIALISTA DO "JORNAL DA TARDE"

MÔNICA BERGAMO

ACELERA EMINEM
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 15/09/10


O rapper americano Eminem fará show no Brasil no dia 5 de novembro. Ele será a atração do festival F-1 Rocks, organizado pela GEO Eventos. O local da apresentação ainda não está definido.

PARA A PRÓXIMA
O racha no STF (Supremo Tribunal Federal) em relação à Lei da Ficha Limpa indica que ela não será válida para as eleições deste ano. E que não alcançará políticos que "sujaram a ficha" antes da existência da lei. Caso o placar fique empatado em 5 a 5, como previsto, prevalece o lado em que estará alinhado o presidente do órgão. Cezar Peluso é tido como voto certo entre os que acham que a lei não pode valer para este ano nem pode retroagir.

MEIO A MEIO
Entre os que querem a aplicação imediata da lei, segundo ministros e interlocutores do STF, estão Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia, Carlos Ayres Britto e Joaquim Barbosa. Do outro, além de Peluso, figuram Marco Aurélio Mello, Celso de Mello, Gilmar Mendes e José Antonio Dias Toffoli. O voto de Ellen Gracie é considerado imprevisível.

OUTRO LADO
O mea-culpa de Carlos Augusto Montenegro, dono do Ibope, que há um ano previu que Lula não elegeria "um poste" e agora pediu desculpas afirmando que o Brasil já tem "uma presidente" (Dilma Rousseff) e que o PSDB "está perdido", foi mal digerido pelos tucanos. "Ele tentou corrigir a primeira declaração e se borrou inteiramente", diz José Gregori, tesoureiro da campanha de José Serra (PSDB-SP).

MAGISTRADO
Para Gregori, donos de instituto de pesquisas "deveriam se comportar como se fizessem parte da Justiça Eleitoral, pela importância que as pesquisas assumiram nas eleições".

FLORENTINA DE JESUS
Paulo Skaf, candidato do PSB ao governo de São Paulo, engrossará a campanha anti-Tiririca do partido. No programa eleitoral de hoje à noite, ele vai pedir "que o voto seja levado a sério" enquanto pendura na parede o retrato de um palhaço.

LEGENDA
"Lula, o Filho do Brasil", de Fábio Barreto, finalmente será exibido nos EUA. Os produtores do filme fecharam acordo com a New Yorker Films, que colocará o longa em exibição em duas salas de Nova York e também no Canadá. A estreia está prevista para fevereiro. "Isso prova que essa história de que os americanos não queriam o filme porque o Lula apoia o Irã era balela", diz o produtor Luiz Carlos Barreto.

VOLTA DA DAMA
Com o final da novela "Passione", em janeiro de 2011, Fernanda Montenegro voltará a encenar a peça "Viver sem Tempos Mortos". Fará temporada no Rio e em SP.

VERSOS
O advogado Ives Gandra da Silva Martins lançou o segundo volume da coletânea "Meu Diário em Sonetos". Até dezembro, ele pretende publicar mais duas edições. "Fiz uma aposta com meus amigos Marluce [Dias da Silva], que era da TV Globo, e Eurico [Carvalho da Cunha, marido da executiva] de que escreveria um soneto por dia neste ano. Faço sonetos do tipo inglês, com 14 versos, em cinco minutos", diz Martins. Seus versos preferidos do livro estão em "Daniela", homenagem à neta que nasceu em junho e é portadora de síndrome de Down.

GEISY NA ESTANTE
A biografia de Geisy Arruda, que será publicada pela editora Matrix, já tem nome: "Vestida para Causar". O lançamento da obra está previsto para o dia 22 de outubro, quando se completa um ano do episódio em que a então estudante de turismo foi expulsa da Uniban por usar um microvestido rosa.

BANQUETE REAL
Os príncipes da Dinamarca Joachim Holger Waldemar Christian e Marie Cavallier foram recebidos com coquetel e jantar no hotel Renaissance, em SP.

COMÍCIO NA BALADA
Parte da classe cultural paulistana se reuniu anteontem na balada Studio SP para apoiar a candidatura de Marina Silva, do PV, à Presidência da República.

MUSEU CINQUENTINHA
Celita Procópio de Carvalho, presidente do conselho curador da Faap, comemorou os 50 anos do Museu de Arte Brasileira com a abertura de duas exposições: "Memórias Reveladas" e "Tékhne".

CURTO-CIRCUITO

João Castanho Dias lança hoje o livro "Uma Longa e Deliciosa Viagem - A História do Queijo no Brasil", às 19h, na Livraria Cultura do shopping Villa-Lobos.

Fernanda Young inaugura a mostra de autorretratos "Minha Estupidez", hoje, às 19h, na loja Uma da rua Barão de Capanema.

Artur Lescher apresenta sua instalação "Rio Máquina", hoje, às 20h, na galeria Nara Roesler, na av. Europa.

O livro "USP e a Invenção da Propaganda 40 Anos Depois", organizado pelo Prof. Dr. Victor Aquino, com apoio da Fundac e Aberje, será lançado hoje, às 18h30, na sede da Aberje, em Higienópolis.

A ONG Associação Nosso Sonho, que cuida de pessoas com paralisia cerebral, realiza hoje bazar beneficente no Buffet Menorah, na rua Maranhão, das 10h às 19h.com DIÓGENES CAMPANHA, LEANDRO NOMURA e LÍGIA MESQUITA

ELIO GASPARI

A parentela de Erenice

ELIO GASPARI
FOLHA DE SÃO PAULO - 15/09/10
Poderia ter sido a saga de um nordestino valente, mas virou um mingau de clientelismo explícito

ERENICE GUERRA chorou quando Lula levou-a para conhecer o Palácio da Alvorada. Seu pai fora um dos candangos que deixaram o sertão nordestino na segunda metade dos anos 50 para construir Brasília. Pedreiro, ajudara a montar aquela caixa de vidro e mármore.
Em 1958, os peões da empreiteira da obra do palácio quebraram barracões do acampamento onde viviam porque encontraram vermes na carne que lhes era servida. As revoltas dos candangos não fazem parte da crônica épica da construção de Brasília.
A filha do candango do Alvorada diplomou-se em direito, criou quatro filhos na cidade-satélite do Guará, tornou-se servidora pública, militou nas ações sociais da Igreja Católica e ajudou a organizar o PT. Passou pela Secretaria de Segurança do Distrito Federal e pela Eletronorte. Como consultora jurídica do Ministério de Minas e Energia, conheceu Dilma Rousseff.
Uma história comovente, variante dos "Dois Filhos de Francisco", eco do estucador Pedro Nieddu, o avô de Fernanda Montenegro que trabalhou na construção do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
A história de Erenice, de um Brasil capaz de tudo, no qual uma jovem mãe que percorria as ruas do Guará numa bicicleta se tornou chefe da Casa Civil da Presidência, desembocou na rotina das vorazes parentelas de Brasília.
Erenice voltou ao palácio no último domingo, para explicar a Nosso Guia as circunstâncias em que o neto do pedreiro do Alvorada virou despachante de pleitos milionários na sua área de influência.
Aos 19 anos, seu filho Israel entrou no mundo dos negócios como sócio de uma empresa montada pela mãe e registrada em nome de uma professora casada com um auxiliar de bombeiro hidráulico. Seu nome: Asa Imperial. O propósito: "atividades de investigação particular", "segurança e vigilância privada". (O PT conquistara o governo de Brasília havia dois anos, em 1995, e Erenice chefiava o gabinete do secretário de Segurança da cidade.)
Em 2006, Israel tornou-se gerente técnico da maternal Agência Nacional de Aviação Civil. Dois anos depois pousou no gabinete do senador Leomar Quintanilha (PMDB-TO).
Saulo, irmão de Israel, é dono da Capital Assessoria e Consultoria Empresarial, contratada por uma linha aérea para azeitar a venda de serviços aos Correios. Tem como sócia Sonia Castro, mãe de Vinicius Castro (ex-Anac), sobrinho do ex-diretor de operações dos Correios. Até segunda-feira, ele foi assessor da secretaria-executiva da Casa Civil.
Antonio Eudacy Alves Carvalho, irmão de Erenice, esteve na Controladoria-Geral da União e na Infraero, mãe de tantos bons companheiros. Maria Euriza de Carvalho, outra irmã da doutora, trabalhou no Ministério do Planejamento e é consultora da Empresa de Pesquisa Energética, de onde contratou, sem licitação, o serviço da banca de advocacia onde trabalhava Eudacy. José Euricélio, outro irmão de Erenice, foi funcionário do Ministério das Cidades.
Ao longo de 15 anos, a partir da instalação de um governo petista no Distrito Federal, quatro filhos e dois netos do pedreiro do Alvorada passaram por pelo menos 14 cargos nas áreas de transportes, saúde, planejamento, segurança, energia e burocracia legislativa. Pelo visto, pode ter sido pouco.

JOSÉ SIMÃO

Ueba! Dilma bota botox no pé!

JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 15/09/10
Dilma não sabe nem descer da esteira? Presidanta! Ainda bem que usa botox. O botox amorteceu a queda

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O Esculhambador-Geral da República! Ereções 2010! Socuerro! A Dilma torceu o pé direito! COMEÇOU COM O PÉ DIREITO! Rarará!
E aquela Casa Civil do Lula foi construída pelo Naya? Vive caindo. A Casa Civil da Mãe Joana! E essa amiga da Dilma, a Erenice? Elas saíram do mesmo canhão? Rarará.
E a charge do Mayrink com o Serra: "Será que vai ter repescagem?". O Serra quer repescagem! Rarará! E a Dilma caiu do salto. ALTO! E apareceu de botinha ortopédica! Diz que caiu da esteira. Ela não sabe nem descer da esteira? Presidanta! Rarará! E ainda bem que usa botox. O botox amorteceu a queda. Rarará. Já imaginou a manchete: Dilma fratura o botox. Dilma botou botox no pé! E sabe porque a Dilma tá ganhando? Olha essa noticia: "Nova classe B deve consumir UM TRILHÃO neste ano". E você acha que eles vão se revoltar com lobby em Casa Civil e quebra de sigilo?!
E a Galera Medonha! Tem galera medonha até no Peru! Olha a foto que eu recebi: "Coligação Somos Peru! PINTO Y FEDIA!". Pior, no Paraná tem o Stica que vai se coligar com o amigo Mario Pinto: Stica Pinto!
E tem um que botou um cartaz aqui na esquina de casa: Crespo. Eu não voto nem em liso quanto mais em Crespo! E aquele candidato baiano, o Porqueres: "Luto pela Limpeza! Vote em Porqueres". E tem um chamado: Pelé Problema! O único problema do Pelé é o Maradona! E o santinho: "Eu, Alexandre Pires apoio o meu amigo Pelé Problema". Ah, então o problema desse Pelé é o Alexandre Pires! Rarará!
E eu vi uma foto do Netinho, da Marta Martox e do Mercadante orando numa igreja evangélica. O Netinho orando, o Mercadante enganando e a Marta no meio com cara de desesperada. Ops, desbotocada!
E esse candidato a senador por São Paulo, Aloysio Nunes: "Olá, vocês não me conhecem, eu sou o Aloysio. E sabe por que vocês não me conhecem? Porque eu tava trabalhando". Rarará! Vai ganhar o troféu pretensão!
E sabe por que o Lula sancionou a lei proibindo mãe de dar palmada nos filhos? Porque a Dilma é a mãe dos brasileiros. Rarará. Devia ser a Lei da Porrada!
E o Serra tá parecendo A Morte Comendo Pastel. Rarará! A situação tá ficando psicodélica. Ainda bem que nóis sofre, mas nóis goza! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

DORA KRAMER

Solução final 
Dora Kramer 

O Estado de S.Paulo - 15/09/2010

A alternância está fora dos planos de poder do cidadão Luiz Inácio da Silva, atual e em breve ex-presidente da República Federativa do Brasil.
Há muito isso é uma suspeita, mas a partir desta campanha eleitoral tornou-se mera constatação. Inebriado pelo sucesso, Lula deixa à mostra sua grande fera: a obsessão pela unanimidade que se traduz em vocação para o totalitarismo.
Quem diz isso é o próprio Lula. Quando prega a destruição de um partido de oposição, como fez em relação ao DEM em cima de um palanque em Santa Catarina, e quando manda sua tropa investir forças na eleição de um Senado "mais amigo" para a possível sucessora, Dilma Rousseff.


Lula pretende que o eleitorado "extirpe" o DEM da política brasileira porque o partido fez oposição cerrada a ele. Note-se que não fala em derrota eleitoral nem política, mas em extinção, destruição, aniquilamento.

Quer dizer, assim como imprensa boa é imprensa inerte, na visão dele oposição boa é oposição morta.

Quanto ao Senado, note-se que o presidente não deseja para o País um Parlamento de melhor qualidade, mas um Poder Legislativo mais dócil ao Poder Executivo. A falta de preocupação com a qualificação de cada um ficou patente quando da prisão do candidato ao Senado pelo Amapá, Waldez de Góes, no dia seguinte ao presidente ter aparecido no horário eleitoral pedindo votos para ele.

Para que Lula necessita de um Senado "amigo", qual o projeto inovador, de fundamental importância que seu grupo político está pensando em apresentar ao Congresso que é repudiado pela oposição, que esteja acima de qualquer possibilidade de negociação política e, portanto, que precise de um batalhão de obedientes?

Especula-se que sem entraves na Casa revisora teria caminho livre para aprovar plebiscitos e alterações na Constituição que de outro modo não passariam, mas de concreto ninguém sabe de coisa alguma e de objetivo nada que seja benéfico para o conjunto da sociedade está fora do alcance da articulação política entre a base do governo e a oposição.

Sobram duas hipóteses: ou está sendo engendrado algo inegociável e que teria o repúdio da opinião pública, ou Lula quer construir uma maioria política acachapante para o deleite de exercitar a hegemonia de maneira absoluta, sem nunca mais precisar disputar coisa alguma de verdade, podendo entrar nas contendas com a parada ganha por antecipação.

De certo modo isso já mais ou menos acontece porque, se o detentor do poder não respeita a regra do jogo, tem dupla vantagem: os instrumentos e a falta de escrúpulos. E é exatamente assim que Lula se conduz na Presidência, usando a máquina e passando por cima da lei.

Nesse patamar de autoencantamento o risco é a pessoa perder de vez o senso de que o mundo não obedece a ordens dos homens e comece a atuar na lógica da insensatez, construindo um processo de dilapidação do próprio patrimônio.

Lula está no ápice e ficará no ápice e meio se conseguir eleger no primeiro turno uma pessoa sobre a qual pouquíssimo se sabe e sobre quem há mais referências negativas que positivas.

Significará que nem o céu é o limite.

Ocorre, porém, conforme a História nos conta, que ninguém pode tudo acima de tudo o tempo todo e o excesso dá expediente na antessala dos erros fatais.

Por um fio. Basta uma vírgula a mais no caso da ministra da Casa Civil que abria o governo aos negócios da família, para Erenice Guerra ser demitida ou pedir demissão do cargo.

Mineiro. Correligionários de Aécio Neves mostram pesquisas para argumentar que não teria efeito prático a exibição de José Serra na propaganda do ex-governador.

Da mesma forma, as pesquisas provavam que Aécio ajudaria muito mais sendo candidato ao Senado do que integrando a chapa presidencial.

Pesquisas do Instituto Vox Populi, que trabalha para os dois palácios: do Planalto e da Liberdade.

ROLF KUNTZ

As elites e a antidemocracia
Rolf Kuntz 
O Estado de S.Paulo - 15/09/10


O presidente Lula tem razão: as elites são perigosas, mas não tanto por negarem aos pobres o acesso à escola. Esse tipo de elite já não existe nos Estados mais desenvolvidos. Sobrevive, ainda vigorosa, nos fundões do País, nas áreas controladas pelos velhos condôminos do poder. É quase toda vinculada ao governo petista, sócio das oligarquias mais atrasadas e corruptas. Vejam, por exemplo, quem é governo e quem é oposição no Congresso e como se negociam e se distribuem cargos na administração, direta e indireta. Essa gente é sem dúvida perigosa. Mas a mais temível é provavelmente a outra elite, a do Brasil industrializado, emergente e candidato a potência econômica internacional.

Essa classe não se opõe à educação para todos, até porque depende, cada vez mais, de mão de obra qualificada ou pelo menos em condições de receber treinamento. Diplomados, pós-graduados, poliglotas e cada vez mais integrados no mercado internacional, líderes desse grupo têm exibido uma assustadora semelhança com os novos integrantes da classe média e com os beneficiários da Bolsa Família e de programas afins: mostram-se encantados com a prosperidade presente, otimistas em relação ao curto prazo e nem um pouco preocupados com a centralização do poder e com o risco, cada vez mais evidente, de um mergulho num autoritarismo de recorte populista.
Alguns dos melhores comentaristas políticos do Brasil têm exibido um espantoso otimismo. Segundo sua análise, lambanças no governo, como a violação de sigilo fiscal, pouco significam para a maioria dos eleitores, por causa do peso de suas preocupações imediatas. A explicação parece bem fundada. Os mais pobres continuam batalhando pela sobrevivência. Outros procuram consolidar a condição de recém-egressos da pobreza. Outros, ainda, estão satisfeitos porque a economia cresce, há mais empregos e a combinação de salários e crédito facilita o acesso a um padrão mais alto de consumo.
Essa interpretação pode ser sustentável, mas conta apenas uma parte da história. A indiferença mais notável não é a desses grupos pobres, egressos da pobreza ou mesmo de uma classe média pouco atenta a questões institucionais e pouco preocupada com as liberdades democráticas. A indiferença escandalosa é a da elite econômica das áreas mais industrializadas do País.

Porta-vozes desse grupo se mexeram recentemente. Mas não para protestar contra o uso partidário de órgãos do Estado, não para denunciar o voluntarismo da política econômica, nem para criticar o presidente Lula, cada vez mais enrolado na confusão de seu cargo com a condição de líder petista.
Mexeram-se para apoiar as operações parafiscais do BNDES e seus padrões muito discutíveis de seleção dos beneficiários. Alguns o defenderam como se alguém houvesse proposto sua extinção. Mas ninguém havia apresentado essa tolice. Da mesma forma, nenhuma pessoa razoavelmente informada negaria a necessidade de mais financiamentos de longo prazo. Os alvos da crítica eram outros: a promiscuidade entre o Tesouro e o banco, a concentração das aplicações, a obscuridade dos critérios e o uso de meios públicos para objetivos definidos de forma nada transparente.

Essa é uma elite estranha. Sustenta bandeiras com ar de modernidade, pregando a reforma tributária, a segurança jurídica, a redução dos entraves burocráticos e a expansão dos investimentos em educação e pesquisa. Propõe a adoção de uma política de competitividade. Mas defende, ao mesmo tempo, um câmbio administrado para sua conveniência, uma política monetária feita sob medida e, de vez em quando, intervenções protecionistas, sem o cuidado, sequer, de examinar as várias ações permitidas pelas normas internacionais.

A maior parte dessa elite permaneceu silenciosa quando o governo apresentou o famigerado Decreto dos Direitos Humanos. Quando interveio, limitou-se a discutir um ou dois tópicos, sem dar sinais de haver notado a extensão das barbaridades propostas naquele documento de 92 páginas - quase um esboço de uma constituição autoritária, com propostas de "democracia direta", sujeição da pesquisa e do investimento a sindicatos e ONGs e controle dos meios de comunicação.

As ameaças contidas nesse documento não estão superadas. Serão retomadas, porque são essenciais para o projeto de poder de seus autores. Mas quem se interessa por isso? Não, certamente, os beneficiários atuais e potenciais de todas as bolsas - não só aquelas destinadas aos pobres, mas também as oferecidas à elite, como a Bolsa Subsídio, a Bolsa Conteúdo Nacional e tantas outras.


JORNALISTA

MÍRIAM LEITÃO

Crise, eles e nós 
Miriam Leitão 

O Globo - 15/09/2010

Dois anos depois do dia em que o Lehman Brothers quebrou, o balanço mostra que a economia americana cresce pouco, a Europa teve que fazer um esforço para salvar o euro, o Japão voltou à estagnação, o mundo fez um acordo por nova regulação bancária. A China e a Índia crescem forte. A América Latina toda cresce, exceto Venezuela, Cuba e Haiti
Não deixa de ser animador que na semana em que o mundo completa dois anos daquela assustadora segunda, 15 de setembro, a capa da revista “The Economist” fale sobre o “renascimento” latinoamericano, justo a região que sempre foi mais atingida pelas crises mundiais.

Um mapa do mundo ao contrário, com a América do Sul acima e a do Norte abaixo, decora há décadas a parede do gabinete do ministro no Itamaraty. Essa mesma ideia está na última capa da “Economist”, com o título: “Não é quintal de ninguém”.

Claro que há ainda muitas mazelas por aqui. Quem tiver em mente o massacre no México, de 72 imigrantes, alguns brasileiros, que tentavam chegar ilegalmente aos Estados Unidos, atrás do sonho americano, pode achar que ainda é cedo para comemorações.

A região tem muitos sinais do passado: o caudilhismo do Chávez lembra velhos tipos da região.

Há sinais assustadores de neo-caudilhismo no Brasil também. O casal Kirchner conspira contra a modernização da Argentina. A guerra contra as drogas no México exibe falhas de outras instituições, como as Forças Armadas.

No Brasil, a corrupção parece incansável.

Mas na área macroeconômica, a região enfrentou muito bem a crise. No Brasil, a agilidade do BC e as altas reservas impediram que se repetisse o cenário de crise cambial. A região teve rapidez na recuperação pós-crise na maioria dos países e, este ano, está com forte crescimento, não apenas no Brasil.

Uma das razões desse bom momento é o crescimento forte da China e da Índia e a demanda por matérias-primas da região, diz a “Economist”, que, no entanto, registra como principal fator do progresso o sucesso na luta contra a inflação crônica, a maior responsabilidade fiscal e a regulação bancária mais prudente que nasceram das crises dos anos 80 e 90.

Essa é a lição da América Latina para o sul da Europa: a crise das dívidas soberanas foi enfrentada com reformas estruturais que agora estão mostrando seu valor.

A crise derivada da quebra do Lehman Brothers remodelou a conjuntura econômica.

Hoje, a Europa ainda vive engasgada com enormes déficits e dívidas, cresce pouco e houve um momento em que o próprio euro correu riscos.

Nos Estados Unidos, a popularidade do presidente Obama se esvaiu nos primeiros dois anos de mandato, em decorrência direta do ambiente econômico. Ele herdou a crise, não a fez, mas a cabeça da sua equipe econômica está sendo pedida no debate pré-eleitoral, sob a acusação de não ter sido capaz de superar a crise e recuperar o emprego.

Já no mundo emergente, houve gradações diferentes de impacto da crise. O Brasil teve uma queda abrupta do ritmo de crescimento. O país crescia a 6% e caiu a -0,2%. A Pnad de 2009 mostrou que a taxa de desocupação aumentou 18,5%. O país teve dois trimestres de recessão. A Índia e a China tiveram apenas uma redução do ritmo de crescimento. Rússia e México tiveram recessões de 7%.

Em 2010, todos voltaram a crescer, inclusive o México.

A América Latina tem vários países com crescimento forte: Brasil, Peru, Colômbia, Chile, Argentina. Mas a “Economist” mostra também que os velhos problemas permanecem.

A produtividade tem crescido a níveis mais baixos do que em outras partes do mundo. A região tem baixos níveis de poupança e de investimento. Aceita padrões medíocres na educação e inovação. Tem uma regulação trabalhista que induz a um grau enorme de informalidade na economia.

Para resolver esses problemas, a região precisaria, diz o texto, de líderes que renovassem seu apetite por reformas. Outro risco atual é o fortalecimento da ideologia do Estado forte.

A América Latina precisa também evitar o antiamericanismo de Hugo Chávez e, de acordo com a “Economist”, o país com mais chance de neutralizar esse “nonsense” é o Brasil. Por outro lado, os Estados Unidos também precisam mudar a atitude com que sempre trataram os países do sul do continente. O muro separando os Estados Unidos do México é o exemplo desse erro de ver os riscos e não as oportunidades na relação com os vizinhos. O país deveria construir pontes, diz a revista, até pelo dinamismo econômico da região.

A reportagem foi feita a propósito dos 200 anos de independência de vários países hispânicos que se comemora em 2010. A nossa independência, como se sabe, veio depois, teve outro caminho.

Mas este momento que o Brasil vive não é muito diferente do que é vivido pela maioria dos outros países latinoamericanos. Nas suas vantagens, acertos, riscos e erros. A fórmula é não errar velhos erros e fortalecer os acertos das últimas duas décadas.

Porque crises como a de 2008/2009 sempre acontecem.

É preciso se preparar para os sustos como o daquele 15 de setembro que ainda não foi digerido por inúmeras economias.

MERVAL PEREIRA

Inversão de valores 
Merval Pereira 

O Globo - 15/09/2010

O mais grave que está acontecendo no país não é nem mesmo o inacreditável vale-tudo em que se transformou a campanha presidencial, mas a banalização das atitudes mais perniciosas do governo nesses últimos anos, especialmente após o episódio do mensalão em 2005, e de maneira mais acentuada no segundo mandato do presidente Lula.

São praticamente oito anos solapando as instituições do país, provocando ao final um anestesiamento na sociedade brasileira, que tudo justifica porque parte de um governo popular, aprovado por mais de 80% da população.

Como se a popularidade desse a qualquer governo o direito de ignorar leis, ou mesmo que as consequências benéficas desta ou daquela política social justificassem abusos de poder, ou os atenuassem.

O governo Lula está conseguindo transformar críticas em atitudes mesquinhas e antipatrióticas, e, assim como mistura o público com o privado, confunde o líder partidário com o poder do cargo de presidente da República, sem que a sociedade se indigne.

E quem critica esse abuso de poder político nunca antes visto neste país corre o risco de ser considerado um sujeito “do contra”, que não reconhece os avanços havidos.

Cada vez fica mais restrito o campo para as divergências, ao mesmo tempo em que se alargam os caminhos para o autoritarismo e a truculência do Estado.

Não foi por acaso que ontem mesmo o ex-ministro e deputado cassado José Dirceu, novamente no papel de eminência parda, desta vez do eventual governo Dilma, criticou o “abuso do poder de informar” da imprensa.

O presidente Lula começou essa escalada autoritária depois que conseguiu escapar da crise do mensalão.

Entre o momento em que ele próprio disse que havia sido traído dentro do governo, até quando os petistas foram à tribuna do Congresso chorar literalmente de vergonha pelo que estava sendo exposto, houve no país uma indignação que poderia fazer a política andar para a frente, com reformas estruturantes e punição dos responsáveis pelo maior prejuízo institucional que o país já sofreu na História democrática recente.

Mas o presidente Lula, impossibilitado de enfrentar a crise que estava arraigada no seu partido e no seu governo, assumiu em entrevista dada em Paris a versão de que o mensalão não passava de caixa dois, prática normal na política brasileira.

A partir daí, a prometida apuração rigorosa passou a ser uma proteção desabrida de todos os envolvidos, e a promessa implícita de que ninguém sofreria prejuízos se todos se unissem num pacto de silêncio.

O presidente sistematicamente passou a mão sobre a cabeça dos aliados, fossem eles quem fossem, tivessem cometido qualquer tipo de crime.

Essa se tornou a regra do governo, como nas máfias, e acelerou-se no segundo governo Lula a montagem da máquina governamental a serviço dos “companheiros”.

A defesa intransigente de qualquer malfeito de aliados é a contrapartida do apoio cego, acrítico.

Lula não teme nenhum limite legal, desmoraliza o Judiciário como fez agora nesta campanha com o TSE, e se jacta de que pode ir para as ruas quando quiser para combater seus adversários.

Foi à televisão na condição de presidente da República para exercer o papel de cabo eleitoral de sua candidata, colocando o principal adversário como um antipatriota que não pensa no bem do país.

Repetiu na segunda à noite em Santa Catarina, quando, misturando mais uma vez o cargo que ocupa com seus interesses partidários, alegou que “em nome da minha honra e da honra do meu país” não perderá as eleições.

E acrescentou que estava fazendo hoje o que fez em 2005: “Vou às ruas para derrotá-los”.

Na verdade, essa ameaça de levar os movimentos sociais para as ruas para reagir ao possível pedido de impeachment nunca se concretizou, e Lula chegou mesmo a autorizar uma negociação para não se candidatar à reeleição em troca de poder terminar seu mandato.

Com a recuperação de seu prestígio graças aos bons ventos da economia mundial, Lula voltou a ser aquele líder dado a “bravatas”, como ele mesmo confessou que fazia quando esteve na oposição.

Inebriado com seu próprio sucesso, Lula foi adiante e, ao lado da sua candidata Dilma Rousseff, afirmou que o “DEM precisa ser extirpado” da política brasileira.

Seu rancor data ainda de 2005, quando, segundo acusou, a família Bornhausen tentou derrubá-lo do poder.

A gravidade desse episódio, além do fato de um presidente da República defender em público o extermínio de um adversário político, é que, anos antes, o então senador Jorge Bornhausen havia provocado em Lula e nos petistas um aparente sentimento de estupor quando disse que na eleição de 2006 o país precisava “se ver livre dessa raça por 30 anos”.

Foi chamado de tudo: “fascista”, “direitista”, “adepto das ditaduras militares”, “explorador e assassino de trabalhadores”.

Assim como na segundafeira, foi acusado de representar a “direita raivosa”. Bornhausen alegou na ocasião que usou “esta raça” com o sentido de grupo de indivíduos da mesma categoria, uma das definições de raça dos dicionários. Processou e ganhou quem o acusou.

Vem agora o próprio presidente Lula repetir o que condenara enfaticamente, com o agravante da posição que ocupa, e passa a se utilizar de palavreado e ameaças fascistas contra adversários políticos.

A truculência política do governo é tamanha que transforma as vítimas do aparelhamento do Estado, com a quebra de sigilos fiscais em série da família do candidato oposicionista, em exploradores com fins eleitorais.

E, montando uma farsesca investigação, permite que uma ministra acusada de tráfico de influência continue no cargo, utilizandose dele para atacar a oposição e proteger sua família.

Uma inversão total de valores republicanos que sinaliza para um futuro democrático incerto.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Brecha aberta? 
Sonia Racy 

O Estado de S.Paulo - 15/09/2010 

Com esta nova confusão em torno dos Correios, os defensores da criação de empresa estatal voltam com força total. Foi ressuscitada dentro do governo Lula, a ideia da montagem de uma companhia aérea de transporte de correio concentrando as atividades hoje exercidas por terceiros.

Mas para que ela pertença à ECT, formalmente, segundo fonte do setor, o Executivo teria que editar uma Medida Provisória mudando o objeto social dos Correios, que não inclui o serviço. E nada melhor que um escândalo atrás do outro para justificar a edição de uma ação desta em tempos de eleição.

Vale lembrar que países como a França, EUA, Inglaterra e até a China tentaram fazer prosperar empresas estatais aéreas sem sucesso. Descobriram que as margens de lucro são apertadas e não suportam o peso do Estado.

Ressaca
A passos lentos, Ilhota, cidade destruída pelas enchentes em Santa Catarina, vai se recuperando. O governo federal liberou ontem R$ 3 milhões para ajudar na reconstrução da comunidade.

Nos is
Foi o BB e não a Mendes Júnior que venceu ação judicial em primeira instância nos Estados Unidos, de US$ 2 bilhões. A empresa recorreu e a apelação será julgada em segunda instância em data próxima.

Ideia Fix
Mesmo ante existência de poço novo gigante no pré-sal, conforme adiantou o Estado, o preço das ações da Petrobrás caíram ontem. É que o mercado só pensa naquilo: com qual força os investidores estrangeiros entrarão na capitalização prevista?
Os nacionais estão a toda. Mas lá fora, confirmados mesmo, só os asiáticos que enxergam o lançamento como porta de entrada no setor petroleiro do País.

Épico
A editora LeYa comprou os direitos de publicação de A Guerra dos Tronos, primeira parte da saga As Crônicas de Gelo e Fogo, de George R. R. Martin - conhecido como o novo Tolkien. Detalhe: a história será transformada em série pelo HBO.

Bola dentro
Luiz Gonzaga Belluzzo negocia com Miguel Nicolelis montar um centro de educação para novos jogadores do Palmeiras, em São Roque. Algo parecido com que o neurocientista e palmeirense fanático tem em Natal.

Depende de nós
Há quem não ache a menor graça na campanha eleitoral de Tiririca. Maurício Ribeiro Lopes, da Promotoria Eleitoral, encaminhou na tarde de ontem pedido de impugnação da campanha do palhaço a deputado federal.
O documento cobra atitudes da Procuradoria Regional Eleitoral.

Família & família
Aloizio Mercadante e sua mulher Regina decidiram: seus filhos estão fora das gravações para a propaganda eleitoral.

Já os cinco filhos de Paulo Skaf, todos homens, caem na estrada. Fazem campanha firme para o pai em todo Estado paulista.

Tour da fé
Aparecida, Juazeiro do Norte, Belém e Nova Trento - destinos religiosos brasileiros - devem entrar na pauta da Opera Romana.
É o que tenta Luiz Barretto, do Turismo, em suas conversas em Roma esta semana, com Caesar Atuire - dirigente da operadora de turismo do Vaticano.

Do casseta
Pedro Bial atacará de ator. Em filme escrito a quatro mão pelos cassetas Marcelo Madureira e Hubert Aranha, sobre a vida de um jornalista fictício.

Dois é bom
Marilia Razuk inaugura novo espaço. Mais precisamente, amanhã, com a abertura da coletiva Kierkegaards Walk. Sua atual galeria -na mesma rua- passa a abrigar exposições menores.

Na frente

Descoberto: Shakira é um dos nomes cotados para estrelar campanha do Itaú.
Eleonora e Ivo Rosset abrem sua casa para happy hour em torno de Marta Suplicy. Amanhã.

Carolina Ferraz autografa Na Cozinha com Carolina. Amanhã, na Livraria da Vila da Lorena.

Abre, hoje, na Chocolat des Arts, a mostra Europa da fotógrafa Chris Day.
Dan Stulbach e Pedro Herz comemoram hoje, os três anos do Teatro Eva Herz. Na Livraria Cultura do Conjunto Nacional.

Até o fim de novembro, a Fundação Conrado Wessel anunciará os vencedores do Prêmio FCW Ciência e Cultura. Cada vencedor leva para casa R$ 300 mil.
Fernanda Young expõe fotos na loja Uma dos Jardins. A partir de hoje.
Artur Lescher abre individual na Nara Roesler hoje.
O Instituto Tomie Ohtake recebe a coletiva Ponto de Equilíbrio. A partir de segunda.

Marcos Duprat lança mostra Genesis das Cores e livro na Monica Filgueiras. Amanhã.

Pelé espera a chegada de seu nono neto. Será o quarto filho de Kelly Cristina. Já Edinho, seu outro filho, promete. Pretende dar ao pai, camisa 10, o seu... décimo neto.

RUY CASTRO

Estátuas gregas


RUY CASTRO
FOLHA DE SÃO PAULO - 15/09/10


Pelo vidro do carro, leio o texto no adesivo de um táxi à frente: “Maricota é minha mulher. Maricotinha é minha filha. Maricoteca é minha mãe. Maricão é meu amigo. [Não são os nomes verdadeiros.] Amo minha família. Amo meus amigos. Eles me amam. Amo Deus. Deus me ama”. Meio mareado diante de tanto amor, pergunto: Ótimo, mas, e eu com isso? Salões de beleza abundam hoje em todas as cidades, banhados por uma iluminação que atravessa as vitrines e serve um show ao vivo para a calçada. Lá dentro, expostas à apreciação pública, senhoras de roupão felpudo ostentam papelotes no cabelo e chumaços de algodão entre os dedos dos pés, enquanto outras depilam as canelas ou descolorem os bigodes. Pergunto: Lindo, mas, e eu com isso? Da mesma forma, me contaram que a emergente Fulaninha contratou uma equipe profissional para filmar seu primeiro parto. Apesar de certa dificuldade inicial – a bacia de Fulaninha era muito estreita para a passagem do feto –, Sicraninho nasceu com 4 kg e 50 cm. O filme mostrando tudo isso saiu ótimo. Beltrano, o pai orgulhoso, ficou ao lado da esposa durante o parto. O resultado pode ser conferido no Facebook de Fulaninha, onde o filme foi “postado” no mesmo dia.
Ouço dizer também que as pessoas entregam as maiores intimidades sobre si mesmas nas “redes sociais”. Expõem seus sentimentos mais profundos, publicam suas fotos, revelam seus hobbies ou onde passam as férias, e tudo isso com nome, sobrenome, endereço, saldo bancário. É uma necessidade compulsiva de dividir suas vidas com estranhos. Enfim, o brasileiro adora uma indiscrição. Exceto quando se trata dos candidatos à Presidência. Qualquer denúncia de maracutaia ou ligação espúria é logo tachada de calúnia, exploração eleitoral ou lavagem de roupa suja. De repente, somos todos estátuas gregas.

CELSO MING

Até onde vão as reservas? 
Celso Ming 

O Estado de S.Paulo - 15/09/2010

O Banco Central não consegue apresentar uma justificativa consistente para a atual política de compra de dólares e formação de reservas.
Argumenta, com razão, que o alto volume de reservas foi um dos principais motivos pelos quais o Brasil passou com sobras pela maior crise do capitalismo global desde os anos 30. Foi a exibição dessa musculatura que desencorajou eventuais evasões de moeda estrangeira.

No entanto, se reservas de US$ 200 bilhões foram mais do que suficientes para que a crise não passasse de simples marolinha, boa pergunta consiste em saber por que, então, é preciso mais. Por que continuar amontoando reservas se uma eventual recaída na crise não vai exigir blindagem maior do que a que foi necessária para enfrentar o tsunami de 2008-09? As reservas estão hoje a US$ 263 bilhões (veja gráfico) e poderão saltar para perto dos US$ 300 bilhões até o final do ano, apenas levando em conta a entrada programada de moeda estrangeira nas próximas semanas.

Se a formação de reservas não tivesse um alto custo para o País, não haveria contraindicação. A maior parte das reservas do Brasil é aplicada em títulos de dívida de países ricos, especialmente dos Estados Unidos, e rendem alguma coisa em torno dos 2% ao ano. Mas essas compras de moeda estrangeira exigem uma operação de esterilização dos reais usados pelo Banco Central para pagamento dessas compras. Ou seja, exigem retirada desses reais do mercado por meio da venda de títulos do Tesouro do Brasil. E, no entanto, esses títulos pagam juros equivalentes aos da Selic, hoje de 10,75% ao ano. Isso significa que, numa conta rápida, reservas de US$ 263 bilhões custam em torno de US$ 18 bilhões ao ano para os cofres públicos.

Mais do que isso, quanto maior a pilha de reservas em exibição, mais o Brasil tende a atrair dólares. Por isso, se o objetivo do momento é evitar essa inundação verde, melhor seria parar por aqui.

Os dirigentes do Banco Central seriam mais sinceros se admitissem que não compram moeda estrangeira apenas para evitar grande volatilidade no câmbio interno ou, então, para formar reservas que hoje não são mais necessárias para defender a economia contra as crises. O Banco Central continua comprando dólares porque pretende evitar uma excessiva valorização do real (queda do dólar no câmbio interno).

Não há nada de errado em que se aprofunde a intervenção do Banco Central no câmbio para essa finalidade. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, por exemplo, não esconde que pretende uma boa desvalorização do real diante do dólar. Para isso, não só avisa que apoiaria a atuação do Banco Central no mercado de derivativos com esse objetivo, como também anuncia que está preparando pacote destinado a criar condições para uma recuperação das cotações do câmbio.

Ainda assim, quando avisa que está estudando intervenção no mercado de derivativos (mercado futuro), o Banco Central acena com outro objetivo: o de evitar a derrubada das cotações no mercado à vista provocada pela forte venda no câmbio futuro.

Mas, nessas condições, estaria admitindo que tem em mente um piso para a cotação da moeda estrangeira.

Confira
O dia do pânico
Dois anos após a quebra do Lehman Brothers e do terror avassalador que a ele se seguiu, ainda se pergunta por aí se não teria saído mais barato para as autoridades americanas resgatar de uma vez o banco e, assim, ter evitado que o Fed despejasse US$ 2 trilhões, para segurar o mercado, e o Tesouro americano outros US$ 700 bilhões.

Prejuízo incalculávelO Lehman era apenas o quarto banco de investimentos dos Estados Unidos e, no entanto, quando afundou produziu o estrago conhecido.

A chantagem dos bancos
Se o Lehman não tivesse quebrado, talvez não tivesse sido recuperada a noção de risco nem a de que os bancos estão, sim, sujeitos a desaparecer, tanto eles como o dinheiro dos aplicadores. Em compensação, foi tamanho o pânico produzido que os grandes bancos passaram a chantagear as autoridades, na base de ou vocês nos socorrem ou vamos todos para o buraco. A resposta à pergunta continua difícil e controversa.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Tribunal atrasa pagamento de precatórios em São Paulo 
Maria Cristina Frias

Folha de S.Paulo - 15/09/2010

O governo do Estado de São Paulo e alguns municípios depositaram mais de R$ 1 bilhão na conta do Tribunal de Justiça, entre janeiro e agosto deste ano, para a quitação de precatórios.
Os credores, porém, ainda não receberam o dinheiro.
O atraso no pagamento se deve a uma demora na instalação do sistema de informática responsável por estabelecer a ordem de prioridade dos credores, segundo o Tribunal de Justiça.
Até o fim de 2009, os pagamentos eram efetuados diretamente pelo órgão devedor. Após a edição da Emenda Constitucional 62, em dezembro, o tribunal ficou responsável pelo trabalho.
Devido à transição, foi contratada, por meio de licitação, uma empresa de informática para elaborar o programa, que estabelece as prioridades e está em fase final de instalação.
A estimativa do Tribunal de Justiça é que os primeiros pagamentos sejam liberados a partir de novembro.
"A primeira data anunciada era maio. O atraso se estende. O Estado deve R$ 20 bilhões em precatórios alimentares e não alimentares. E só de alimentares são 600 mil credores", diz Flávio Brando, presidente da Comissão de Precatórios da OAB nacional.

Empresas de logística recuperam índices pré-crise

Levantamento revela que 58% das transportadoras de carga do país alcançaram faturamento superior ao registrado no período pré-crise e que 67% delas já estão dispostas a investir.
A pesquisa foi realizada pelo Ilos (Instituto de Logística e Supply Chain), com 61 grandes companhias.
"O caminho é retomar investimentos. A tendência é forte nas grandes empresas, e deve ser replicada nas pequenas e médias", afirma João Guilherme Araújo, pesquisador do Ilos.
O aquecimento se reflete nas vendas de caminhões: 96.621 unidades nos primeiros sete meses do ano, 65% mais ante igual período de 2009, segundo a Anfavea (associação de fabricantes).
A ociosidade da frota também diminuiu, de acordo com 84% dos entrevistados, e o aumento da demanda elevou a exigência do consumidor, segundo a pesquisa.
O cumprimento do prazo é a principal requisição dos clientes (95%), seguida pelo rastreamento de veículos (85%). A disponibilidade da frota e a segurança ficam em terceiro lugar (79%).
A pesquisa será divulgada hoje no 16º Fórum Internacional de Logística, no Rio.

ULTRASSOM NO SUBSOLO

A mineira Georadar, de serviços ambientais e sísmicos, acaba de criar uma subsidiária "offshore". A empresa vai atuar no mercado de exploração de petróleo em alto-mar.
Foram investidos R$ 34 milhões em equipamentos e na aquisição de um navio oceanográfico. A embarcação, importada da Polônia, deve chegar em novembro.
"Vamos prestar serviços ambientais e de engenharia para quem procura e produz petróleo em alto-mar", diz Celso Magalhães, presidente da empresa, que tem como sócio o fundo de "private equity" AG Angra -gerido por Andrade Gutierrez e Angra Partners.
A companhia já planeja a importação de mais duas embarcações, uma em 2011 e outra em 2012.
Neste ano, o faturamento da empresa deve alcançar R$ 250 milhões, segundo Magalhães. "Para o ano que vem, já com a nova subsidiária em operação, a estimativa é atingir R$ 450 milhões", afirma.
A companhia iniciou estudos para começar a atuar no exterior. Angola, Colômbia e Venezuela estão entre os potenciais mercados.

SUPERMERCADO DE EMPRESAS

A Sunbelt Business Brokers, consultoria de fusão e aquisição de empresas, lança a marca no país amanhã.
A previsão é encerrar o ano com seis franquias e abrir outras 20 em 2011. A empresa já fechou contrato para duas unidades: São Paulo e Rio Grande do Sul.
"Até 2012, seremos maior no Brasil que no Canadá", diz Greg Kells, representante oficial da marca no mundo.
No Brasil, além de SP, um dos focos da empresa é o Rio de Janeiro. Com a Copa e a Olimpíada, a região será fundamental, segundo Batista Gigliotti, da Fran Systems, que representa a norte-americana no país.
"A rede hoteleira da cidade deve passar por processo grande de compra", diz.
A empresa trabalha com valores de venda entre R$ 100 mil e R$ 30 milhões.

Protestado Em agosto foram protestados 59.724 títulos, queda de 10,3% ante julho, segundo levantamento do Instituto de Estudos de Protesto de Títulos de SP com os dez tabeliães da capital.

Telefone As Américas do Norte, Central e do Sul registraram o maior crescimento de tecnologias 3G no mundo no segundo trimestre, com 11,9 milhões de novas conexões. No mundo o número de novas assinaturas cresceu 16,3 milhões. Os dados são da 3G Americas, associação que representa a tecnologia GSM.

Novo cargo 1 A Dimension Data, multinacional de TI, criou uma vice-presidência para a América Latina, ocupada por Sylvio Modé, que ficará em SP. Um novo escritório será aberto no México ou no Brasil.

Novo cargo 2 A Publicis Dialog, agência de serviços de marketing da Publicis no Brasil, tem novo diretor-geral, Wagner Gomes.

Rota A Copa Airlines terá em dezembro um voo de São Paulo para a ilha caribenha St. Maarten, com conexão imediata na Cidade do Panamá.