sábado, agosto 14, 2010

AUGUSTO NUNES


Os restos mortais do Fome Zero se espalham pela cidade onde nasceuAUGUSTO NUNES
VEJA ON-LINE

Memorial do Fome Zero (foto: André Pessoa)
Concebido pelo presidente Lula, o Programa Fome Zero nasceu em 3 de fevereiro de 2003 num palanque armado na única praça de Guaribas, interior do Piauí. Morreu dois anos depois sem ter saído do berço, mas nunca teve sepultamento cristão. Ninguém providenciou o velório, o atestado de óbito não foi expedido. Só existe a certidão de batismo, assinada pelo governador Wellington Dias e por quatro ministros que, na grande festa promovida há sete anos e meio, enxergaram no recém-nascido a cara do Brasil-Maravilha inventado pelo maior goverrnante de todos os tempos.
Depois da discurseira do governador, depois do falatório dos ministros Ciro Gomes (Integração Nacional), Benedita da Silva (Assistência e Promoção Social), José Graziano (Segurança Alimentar) e Olívio Dutra (Cidades), os quase 5 mil habitantes souberam como seria, no máximo até dezembro de 2006, a vida de quem tivera a sorte de vir ao mundo no lugarejo promovido por Lula a Capital do Fome Zero. Um vidaço de Primeiro Mundo.
A cidade seria premiada com médicos, um hospital, postos de saúde, uma farmácia, escolas, esgoto, água, luz, telefone, calçamento, um hotel, uma estrada asfaltada de 53 quilômetros, um programa de fortalecimento da agricultura familiar, outro de capacitação profissional. Quem não ganhasse dinheiro no campo prosperaria na cidade como artesão ou costureira. Uma empresa do governo, Emgerpi, cuidaria exclusivamente do mundaréu de canteiros de obras. E administraria com especial carinho p Memorial do Fome Zero, colosso arquitetônico destinado a eternizar a lembrança do dia em que tudo mudou.
As coisas se arrastaram até 2005, quando o governo federal descobriu que o Bolsa-Família rendia muito mais votos, matou o Fome Zero de inanição e tentou sumir com o corpo. Não conseguiu, constatou em julho a repórter Sandra Martins, do jornal Tribuna do Piauí. A jornalista descobriu que os restos mortais da fantasia eleitoreira se espalham pela cidade iludida. E transformaram Guaribas numa prova contundente de que a visão do Brasil real é obscurecida por um país do faz-de-conta que só existe na propaganda oficial.
Passados sete anos e meio, há em Guaribas as três escolas que já existiam, um posto de saúde, um médico, nenhum hospital, três enfermeiros, nenhuma farmácia, cinco telefones públicos, uma lanchonete, uma mercearia, uma agência do Bradesco. As calçadas são contadas em metros, as ruas continuam sem pavimentação, só existe água em poucas casas, falta energia elétrica, e centenas de fossas denunciam a inexistência de tratamento de esgoto no aglomerado de 942 residências, incluídos os casebres miseráveis que o governador e os ministros prometeram erradicar.
O programa de capacitação profissional parou nas máquinas de costura que enferrujam perto da praça. A agricultura familiar nunca desceu do palanque: neste ano, a safra se resumiu a um punhado de sacos de milho. A estrada não foi pavimentada. A construção do memorial ficou no esqueleto. Esquecido pelo PAC, que entre o que não vai construir incluiu até um trem-bala, o monumento virou ruína sem ter sido inaugurado.
Como as 805 bolsas-família são insuficientes, muitos moradores engrossaram a diáspora dos nordestinos. “A população diminuiu, as pessoas estão indo embora em busca de trabalho”, lamenta o secretário de Administração da prefeitura, Edmilson Pereira Maia, que atribui o fiasco do Fome Zero ao descaso do governo federal. “Eles montaram aqui uma administração paralela e depois abandonaram tudo”, informa. O escritório ocupado pela Emgerpi está com as portas lacradas há mais de ano. O dono do imóvel, Manoel Gomes, avisa que só vai devolver a mobília e os objetos que reteve quando receber o aluguel atrasado.
Lula prometeu visitar Guaribas duas vezes. Nunca deu as caras por lá, mas importou alguns moradores para uma audiência em Brasília. Carmelita Rocha, 70 anos, uma das integrantes da comitiva, jamais soube exatamente o que foi fazer na capital, mas garante que ali viveu os melhores momentos da vida. Comeu bem, dormiu num quarto de hotel, passeou em carros de luxo. As coisas hoje ficaram muito piores.
Viúva há três meses, sustenta a própria família e a da irmã, que também enviuvou recentemente, com os R$ 400 da aposentadoria que herdou do marido, enterrado na cova rasa com o corpo envolvo numa rede. “Compro um saco de arroz, café, açúcar, massa de milho, sabão e só”, diz Carmelita. “Não estamos passando fome rachada, mas são vários dias que não temos o que comer”. Ela recorda nitidamente do comício que lhe prometeu três refeições por dia. Se conseguisse uma, Carmelita ficaria muito feliz.
Carmelita Rocha (foto: André Pessoa)
Foto: André Pessoa

JOSÉ (MACACO) SIMÃO

Socuerro! Vanusa ataca!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 14/08/10


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O Esculhambador-Geral da República! Direto do País da Piada Pronta! Direto de Teresina: "Van do Programa Transporte Eficiente derruba muro e invade casa". Eficiente em demolição! 
E a ficha de inscrição da Mulher Pera no Tribunal Eleitoral. Não sei como os peitos dela cabem numa foto 3X4! E nível de instrução: lê e escreve. Só isso? Não dá nem uma variada? Eu achei que ela sabia fazer um monte de coisa. Rarará! 
E a Vanusa? Adoro a Vanusa! Vanusa ataca de novo. Foi cantar em Manaus e ESQUECEU a letra. De novo? Da única música que ela canta há 45 anos. Diz que trocou o remédio pra labirintite. Ou será La Biritite? Rarará! 
E o povo do Twitter zoando: a Vanusa ia fazer plástica mas esqueceu. A Vanusa ganhou o Grammy Latino, mas esqueceu. A Vanusa ia encerrar a carreira, mas esqueceu! A Vanusa mandou um recado pra vocês, mas eu esqueci. Rarará! 
E sabe aquele avião que caiu no mar no Rio? Da Ocean Air. Eu sei que a companhia se chama OCEAN Air, mas o piloto não precisava ter jogado o avião no mar. Rarará! E sabe quem tava pilotando? A Vanusa! Ela esqueceu de pousar! Rarará! 
E a nova versão Vanusa para "Manhãs de Setembro": "Eu quero sair, eu quero cantar, eu quero Rivotril até o mundo acabar". Rarará! 
E o YouTube é uma desgraça, viu. A pessoa erra a letra em Manaus e meia hora depois tá estourando no YouTube pro Brasil inteiro! 
PGN na Austrália! O meu Partido da Genitália Nacional já tem representante na Austrália: a stripper e campeã de pole dancing Zahra Stardust causa frisson como candidata ao Senado pelo Partido do Sexo. 
E olha a campanha: "Tenho dançado nos postes de rua". Sensacional. Debate já era. Agora é pole dancing em poste de rua. 
Já imaginou a Dilma fazendo pole dancing em poste de rua? O cachorro apertado vai pro poste e dá de cara com a Dilma fazendo pole dancing! E o Plínio Arruda é o Idoso Traquinas. Tá fazendo o gênero Menino Danado! O sensacionalista disse que o Plínio Arruda foi ao Jornal Nacional pedir a abolição da escravatura. Rarará! 
E o Serra é tão feio que, quando ele nasceu, botaram vidro fumê no berçário. Insulfilme no berço. Rarará! 
Programa de governo da Marina: xampu de cupuaçu e camisinha de polpa de buriti! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO

Mobilização geral por Dilma
EDITORIAL
O Estado de S.Paulo - 14/08/10



O País seria outro em muitos aspectos se o presidente Lula tivesse convocado a administração federal a fazer o que dela a sociedade cobra com a mesma determinação empregada para fazê-la trabalhar cada vez mais pela candidatura Dilma Rousseff. E a máquina pública faria jus aos volumosos impostos recolhidos da população se os devolvesse sob a forma de serviços de boa qualidade no ritmo requerido, com o mesmo empenho e assiduidade com que se engajou na campanha sucessória, a fim de suprir as notórias deficiências da ex-ministra no embate eleitoral.
Fiel à sua proclamada prioridade "como presidente" este ano, não bastou a Lula carregar a sua afilhada pelo Brasil afora em eventos ditos administrativos, pelo que já recebeu uma penca de multas aplicadas pela Justiça Eleitoral. Tampouco deve ter considerado suficiente sincronizar o anúncio de medidas na área de políticas públicas com as promessas da candidata na montagem de uma assim chamada "agenda positiva". Foi só ela defender a intensificação do combate ao crack, por exemplo, e eis que, num primário jogo de cartas marcadas, o Planalto apresentou o que seria um programa nacional nesse sentido.
Com igual despudor, apostando na falta de informação e senso crítico da parcela do eleitorado com que conta para eleger a ex-ministra, Lula resolveu colocar o Ministério em regime de prontidão para fazer por Dilma o que ela não conseguiria por conta própria. Na terça-feira, ele reuniu o Gabinete para exigir de seus integrantes dedicação plena à campanha eleitoral. "O povo brasileiro", avisou na véspera, "merece que nós possamos concluir o trabalho que começamos." Naturalmente, nenhum dos mobilizados há de ter tido dúvidas sobre a natureza desse trabalho.

Coincidência ou não, no mesmo dia do comando de ordem unida dado por Lula, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, divulgou pessoalmente um boletim estatístico eivado de falsidades. A julgar pelos números manipulados, o governo Lula é ainda melhor do que o seu titular diz ser e o governo Fernando Henrique ainda pior do que o lulismo apregoa. Dados referentes ao primeiro ano da gestão FHC, por exemplo, foram omitidos para aumentar a diferença da variação da renda nacional per capita nos dois governos.

As verdades distorcidas foram parar sem demora no site da candidatura Dilma e ela mesma se valeu de uma delas (sobre a evolução do salário mínimo) na sua vez de ser sabatinada pelo Jornal Nacional. A operação casada prosseguiu nos dias seguintes, quando os Ministérios da Saúde e dos Transportes contestaram fatos e números apresentados pelo candidato oposicionista José Serra no mesmo programa. Menos de 2 horas depois, com incomum agilidade, a Saúde divulgou nota oficial respondendo à crítica do tucano à extinção dos mutirões criados quando chefiou a Pasta. "Os mutirões foram incluídos na Política Nacional de Cirurgias Eletivas, criada em 2004", diz a nota.

Com isso, segundo o governo, o número desses procedimentos programados subiu de 1,5 milhão para 2 milhões. O texto parece ignorar relatório oficial de março passado atestando o contrário. Em 2002, último ano da gestão Serra, foram 484 mil cirurgias de 17 modalidades. Em 2009, esse total caiu para 457 mil. O governo se vangloria das 319 mil operações de catarata no ano passado, ante 309 mil há 8 anos. Mas finge desconhecer a fila de mais de 170 mil candidatos a cirurgias nas 7 maiores cidades do País, conforme revelou O Globo. Nada disso, evidentemente, impediu o PT de anunciar no seu site que a Saúde rebatera as "mentiras de Serra".

Já o Ministério dos Transportes negou a informação do candidato de que, a contar de 2003, foram aplicados em estradas apenas R$ 25 bilhões dos R$ 65 bilhões arrecadados com o imposto para obras de infraestrutura (Cide), entre outras. A Pasta desmentiu também que a Rodovia Fernão Dias, que liga São Paulo a Belo Horizonte, estivesse "fechada", como afirmou Serra. O ponto não é o direito (ou o dever) dos governos de contestar com fatos objetivos as acusações que lhe são dirigidas. Mas o governo Lula, a pretexto de se defender, se mobiliza para fazer propaganda enganosa com fins eleitorais.

MERVAL PEREIRA

Fiel da balança
MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 14/08/10


A candidata do Partido Verde, Marina Silva, continua sendo o obstáculo a que a eleição presidencial se resolva no primeiro turno, confirmando o temor do governo de que o seu lançamento poderia atrapalhar os planos de polarização da eleição.
Com a confirmação, pela pesquisa do Datafolha divulgada ontem, de que Dilma Rousseff abriu oito pontos de vantagem sobre José Serra antes do programa eleitoral do rádio e televisão que começa na terça, dia 17, a manutenção de sua popularidade em torno dos 10% torna-se crucial tanto para o governo quanto para a oposição.

Ela está, sozinha, fazendo o papel que foi, na eleição de 2006, dos candidatos Heloisa Helena, do PSOL, e Cristovam Buarque, do PDT, que terminaram o primeiro turno com 9% dos votos somados, levando a eleição entre Lula e Alckmin para o segundo turno.

Dilma está a três pontos de vencer no primeiro turno, enquanto Serra mantém a esperança de virar o jogo contando com a realização do segundo turno.

Mantendo essa tendência de estabilidade, a candidata do PV consegue iniciar a campanha no horário eleitoral gratuito em situação favorável, para compensar o pouco tempo de exposição que terá.

E exorciza, pelo menos por enquanto, o perigo de ser atropelada ou pela polarização entre os candidatos do PT e do PSDB ou pelo radicalismo alternativo do candidato do PSOL, Plínio de Arruda Sampaio.

Mesmo depois de ter se tornado a estrela do primeiro debate na televisão, ele não conseguiu ainda pontuar nas pesquisas, o que coloca o PSOL em situação de não ter influência política na eleição até o momento.

Ao que tudo indica, a estratégia de campanha da candidata do Partido Verde continuará sendo a de se apresentar como uma terceira via para governar o país, recusando o clima de confrontação que domina a disputa entre PT e PSDB.

Ela está se preparando para superar com criatividade o pouco tempo de rádio e televisão que tem, e tentará convencer o eleitorado de que é a que tem condições de unir os melhores momentos dos governos de Fernando Henrique e Lula, sem a clivagem que predomina nas ações políticas de PT e PSDB.

O ponto central da estratégia política de Marina Silva é o que seus coordenadores denominam “realinhamento histórico da social-democracia brasileira”, que não se limitaria ao PSDB, mas se estenderia ao PT, que sempre reagiu a essa classificação, mas já atua dentro desse espírito, mesmo que conserve atuante e influente um grupo político que ainda defende a implantação do socialismo, a exemplo dos dissidentes que fundaram o PSOL.

O próprio ex-presidente Fernando Henrique formulou a melhor síntese do “desalinhamento” entre os dois partidos que polarizam a política brasileira desde 1993, quando ele assumiu o Ministério da Fazenda e comandou a implantação do Plano Real: “PSDB e o PT disputam para ver quem vai liderar o atraso.” A governabilidade de ambos é dada pelas respectivas alianças com o ex-PFL, hoje DEM, e com o PMDB ou anteriormente com um conjunto de partidos fisiológicos via mensalão.

A intenção é dar a Marina uma “governabilidade” mais coerente, analisa Alfredo Sirkis, um dos coordenadores da campanha.

Ele vê diferenças de estilo nos dois partidos, mas dentro do espectro da social-democracia europeia: “O PT, mais do estilo do grande partido de origem sindicalista (SPD alemão, Labour, SD sueco), e o PSDB, mais classe média (PS francês e português).” A campanha de Marina Silva acredita que há mais elementos programáticos em comum entre eles do que dissonantes.

Mas uma feroz disputa de poder, e subjacente animosidade com epicentro na política paulista, impediria uma aproximação.

Acreditam os do Partido Verde que, embora ambos estejam contaminados pelo fisiologismo, praga que também afeta o PV, admitem, esses dois partidos ainda são diferentes de um PMDB ou um DEM, cujo objetivo primordial, na visão de Sirkis, seria sempre “participar de algum naco de poder, de alguma forma, como sócios menores, seja qual for o governo, mas sempre mamando nas tetas do estado”.

Nessa visão, compartilhada pela candidata Marina Silva, PT e PSDB são partidos que, como o PV, ainda têm objetivos programáticos e um componente importante de quadros que se movem por si.

Como não é possível governar sem garantir uma maioria no Congresso, especialmente em um governo que se pretende reformista, a melhor dentre as possíveis bases parlamentares seria uma que os una ao PV num eventual governo Marina, somando a esse bloco adesões individuais complementares e alguns pequenos partidos de esquerda.

Pela disputa de poder que existe há quase 20 anos, tucanos e petistas jamais se juntariam num governo presidido por um adversário, mas seria Marina, que tem boas relações com ambos, quem poderia operar esse difícil, porém indispensável, “realinhamento” na política brasileira, analisa Sirkis.

“Penso que, na hipótese da vitória de Marina, topariam, sim, e isso lhes faria um imenso bem, permitindo em ambos partidos a emergência do que têm de melhor”.

Quanto à declaração de Marina na entrevista à TV Globo de que existem “pessoas de bem” em todos os partidos, inclusive PMDB e o DEM, diz Sirkis que elas poderiam complementar essa eventual maioria parlamentar, embora não a lastrearprimordialmente.

Ele menciona alguns com os quais “pelo menos discutiríamos”: senadores Pedro Simon e Jarbas Vasconcelos e, do DEM, o candidato a vicepresidente de Serra, deputado federal Indio da Costa.

A base seria social-democrata, diz Alfredo Sirkis, para imprimir uma direção que vai além das limitações da social-democracia, brasileira ou não: o caminho da economia verde, dos programas sociais de terceira geração, da sustentabilidade, da revolução na educação e da reforma política baseada nas boas práticas republicanas com o fim do aparelhamento fisiológicoassistencialista do Estado brasileiro.

ILIMAR FRANCO

Encontro marcado
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 14/08/10


Preterido na sucessão presidencial, o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) vai pedir votos publicamente para Dilma Rousseff (PT). A petista e o governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), candidato à reeleição, estão organizando um comício, em 22 de setembro, para que Ciro abra seu voto. O apoio de Ciro integra a estratégia petista para ampliar os votos de Dilma no Nordeste, que estão abaixo dos obtidos pelo presidente Lula em 2006.
Jornada e ponto eletrônico
Na briga com empresários para a adoção do novo ponto eletrônico, o ministro Carlos Lupi (Trabalho) diz que fiscais do ministério monitoraram, durante um mês, uma empresa com mais de mil funcionários e constataram sonegação de R$ 1,5 bilhão, entre descontos salariais e não recolhimento de contribuições ao INSS e FGTS. Segundo a fiscalização, a empresa se apropriava de 15 minutos de trabalho diário de cada um de seus trabalhadores.
O novo ponto prevê a emissão de comprovante impresso para o trabalhador.
Diante da resistência das empresas, o ministério deu mais 90 dias de prazo para a adoção do sistema.
“Está tudo na lei. É bom que o TCU tenha acesso. A Comissão de Anistia tem que ter transparência” — Luiz Barreto, ministro da Justiça, sobre a auditoria do TCU nas indenizações aprovadas pela Comissão de Anistia
CABO DE GUERRA PELO SENADO. Os petistas reclamam que o PMDB não está pedindo votos para Lindberg Farias (PT). Mas aliados de Jorge Picciani (PMDB) reclamam que o presidente Lula não vai aparecer em sua propaganda na TV. Já Lindberg contará com o apoio de Lula e do governador Sérgio Cabral. Com a presença do vice-governador Luiz Fernando Pezão, o prefeito Eduardo Paes (PMDB), na foto, reuniu anteontem 78 prefeitos em uma churrascaria e pediu votos para Picciani.
Chororô
Além da escassez de doações para suas campanhas, deputados federais da base aliada lamentam que Dilma Rousseff já deslanchou. Ou seja, a ajuda deles não tem sido tão necessária. Eles ficaram sem condições de barganhar com o governo.
Cachorros loucos
Polícia Federal identificou nova modalidade de tráfico de drogas nas fronteiras.
Motoqueiros, chamados de “cachorros loucos”, estão sendo mobilizados pelo crime para atravessar pequenas quantidades de cocaína e maconha.
Nada como um dia depois do outro
O deputado Chico D’Angelo (PT-RJ) foi reclamar com o presidente do PT-RJ, deputado Luiz Sérgio, de falta de dinheiro para sua campanha à reeleição. Defensor do financiamento público das campanhas, Luiz Sérgio reagiu à queima-roupa dizendo: — Se você tivesse apoiado a proposta de reforma política com financiamento público de campanha, quando eu era líder do PT, isso não estaria acontecendo.
Alckmin não gostou
O candidato tucano ao governo de São Paulo, Geraldo Alckmin, embora tenha virado alvo de seus adversários, ficou satisfeito com o resultado final do debate da TV Bandeirantes.
Mas estava irritado com os mediadores do programa, por não terem lhe dado direito de resposta após o candidato do PSOL, Paulo Bufalo, ter dito que as obras do metrô paulistano eram superfaturadas e havia pagamento de propina.
Alega que uma acusação de crime ficou sem resposta.
O PRESIDENTE Lula vai tentar turbinar a candidatura de Aloizio Mercadante (PT) ao governo. Na próxima sexta-feira, ele participa de comício em São Paulo.
SOBRE a promessa de instalar uma biblioteca pública em cada município brasileiro, o Ministério da Cultura explica que o grande desafio é convencer as prefeituras a manter as bibliotecas funcionando.
O ASSESSOR de imprensa da campanha do PSDB, Márcio Aith, contesta avaliação do PMDB sobre a fala de José Serra, no “JN”, dizendo que tem saúde para concluir o mandato: “Ele (Serra) falou da saúde dele”.

MÍRIAM LEITÃO

Uma por todas
Miriam Leitão

O GLOBO - 14/08/10


O mundo tem vivido uma lenta espera do fim trágico de uma mulher. Ela é uma apenas, Sakineh Ashtiani, mas parece todas. Sua confissão forjada na TV é a macabra tentativa do governo do Irã de pôr a culpa na vítima, antes do ato final. Sakineh ajuda a entender o Irã, ilumina outros casos que estavam nas sombras, e lembra a questão sempre aberta da violência contra a mulher.

A globalização é sua única chance. Condenada inicialmente por adultério, que confessou após 99 chibatadas, ela teve a acusação trocada por envolvimento na morte do marido.

Seria mais uma mulher apedrejada no Irã ou em algum país onde os extremistas de uma religião controlam o Estado, se não fosse a divulgação do seu caso pelo mundo através de todas as mídias. No Brasil, surgiu o #ligalula no Twitter; pela internet, pessoas anônimas e famosas assinaram o abaixoassinado pedindo suspensão da pena e libertação.

Por todos os meios, seus filhos lutam para salvar a mãe. Seu filho de 22 anos, Sajjad, escreveu à ONU dizendo que vive em pesadelos com a possibilidade de a mãe ser apedrejada e diz que está convicto da sua inocência.

Quando Sakineh, com seu calvário, levanta o véu, o que se vê são outros casos brutais.

Mariam Ghorbanzadeh, 25 anos, acusada de adultério, abortou após torturas na mesma prisão e também foi condenada à morte. A afegã capa da “Time”, Bibi Aisha, mutilada sem o nariz e a orelha. Os casos vão sendo revelados e trazem a marca da mesma perversidade.

Seria injusto acusar só o Irã de violência contra as mulheres. Infelizmente, essa é uma ferida aberta na área dos direitos humanos.

A advogada Leila Linhares, feminista e integrante da comissão da OEA que monitora o assunto, explica que há dois tipos de países: — Há países que têm na sua Constituição leis igualitárias e garantias de respeito aos direitos das mulheres.

Mesmo nestes países, há violência contra a mulher. Mas há países que têm leis discriminatórias e que desrespeitam os direitos humanos. O Irã faz parte desse segundo grupo — me disse ela no programa que fiz na Globonews.

Em 1993, numa conferência internacional, a ONU passou a considerar a violência contra a mulher um crime contra os direitos humanos, contou Leila, que estava lá.

Um espanto que isso tenha sido considerado só em 1993. Mesmo assim, as notícias não são boas a partir daí. Os países que assinaram a convenção têm que enviar regularmente relatórios sobre seus problemas: — Nem em países considerados desenvolvidos, como Suécia e Noruega, se deixa de ver crimes cometidos contra os direitos das mulheres. A pressão internacional pela segurança das mulheres é tímida, e vem basicamente de grupos feministas. Nas organizações internacionais esse é um problema considerado de segunda ordem.

O embaixador Roberto Abdenur acha que não se pode aceitar, em nome do multiculturalismo, atos que ofendem a dignidade da pessoa humana: — Foi por isso que em 1948 se escreveu a Carta dos Direitos Humanos e depois se criou o conselho. No mundo da globalização se tem mais visão do que está acontecendo. O episódio como esse terrível da senhora Sakineh ocorre num país fechado, isolado, em retrocesso, mas o fato põe o Irã na berlinda.

Leila Linhares também rejeita o que ela define como “naturalidade com que se aceitam tratamentos desiguais e discriminatórios em nome do relativismo cultural.” — Em 1993, em Viena, foi feito um tribunal de crimes contra mulheres e analisados inúmeros casos, inclusive de uma brasileira.

Havia casos de mulheres de países católicos, protestantes, judeu e muçulmanos.

Vítimas brancas, negras, ricas e pobres. Os crimes contra mulheres acontecem em todas as partes do mundo.

O Brasil ficou no meio da polêmica de Sakineh pela guerra de versões sobre se o país ofereceu mesmo ou não asilo a ela. Todo o assunto foi tratado da forma errada desde o começo, quando o presidente Lula disse que cada país tem suas leis, até o momento em que improvisou uma oferta de asilo no meio de um evento de campanha. O assunto é sério demais para ser tratado assim.

O que enchia de esperança os defensores de Sakineh era que os erros da operação diplomática do apoio brasileiro ao Irã pudessem dar algum capital político a Lula. A torcida continua existindo, mas a reação do governo de Teerã, de chamar Lula de mal informado, mostra mais uma vez quais eram os propósitos de Mahmoud Ahmadinejad: usar o Brasil.

O embaixador Abdenur era o representante brasileiro na AIEA em 2003, quando pela primeira vez surgiram provas de que o governo iraniano por 18 anos havia escondido informações sobre seu programa nuclear. Recentemente, a Agência elevou o tom da avaliação do programa iraniano.

Por tudo isso, ele conclui que o Brasil cometeu um erro diplomático grosseiro quando aceitou fechar aquele acordo com Teerã, votar contra a decisão do Conselho de Segurança e agora se dizer “contrariado” de ter que aderir às sanções: — O Brasil entrou numa fria com seu apoio, confraternização e solidariedade em relação ao governo iraniano.

Por seus óbvios objetivos bélicos, o programa nuclear iraniano não é defensável.

Pela força do seu simbolismo, quem tem que ser defendida com paixão é Sakineh, a mulher iraniana que está entre as pedras e a forca. Podem dizer que ela é uma só. Quem é Sakineh diante de tanta perversidade que existe contra as mulheres? Ela é símbolo. Lutar para salvá-la é dar um passo a mais para proteger todas as mulheres do mundo.

MAURO CHAVES

De conteúdos e performances 
Mauro Chaves 
O Estado de S.Paulo - 14/08/10


O BRASIL é, acima de tudo, o país da emoção, do espetáculo e da torcida. Em depoimento prestado no excelente documentário Uma Noite em 67 (dirigido por Renato Terra e Ricardo Calil), sobre a final do 3.º Festival de Música Popular Brasileira da antiga TV Record, o organizador daqueles festivais, Solano Ribeiro, demonstrou uma franqueza madura e despretensiosa que não se vê muito em nossos meios de comunicação.

Em lugar de falar da revolução que aqueles festivais produziram em nossa música, cujas estrelas então surgidas ou confirmadas ainda hoje, depois de 43 anos, são nossas melhores referências na área - como Edu Lobo, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e outros -, Solano confessou que apenas "queria fazer um bom PROGRAMA de televisão". É claro que fez muito mais do que isso.

A emoção que despertava a disputa entre as torcidas suplantava a que resultava da qualidade real e inovadora das principais canções. As vaias e os aplausos ensurdecedores da plateia, com grupos de "torcedores" levando faixas de apoio a compositores, suas canções e intérpretes, transformava o festival de música num acirrado confronto estético-ideológico, em clima de pesada competição. Edu Lobo - o grande vencedor final, com Ponteio - disse que ali "os artistas se sentiam como cavalos de corrida", nos quais se faziam apostas.

O ponto "alto" daquele espetáculo foi a inesperada "baixaria" de Sérgio Ricardo. Reapresentando, com novo arranjo, sua composição Beto Bom de Bola, que já havia sido massacrada pelas vaias em dia anterior, a canção recebeu vaia ainda maior, que impediu o cantor de ouvir o tom dos músicos que o acompanhavam. Então, num gesto furioso e bradando "vocês venceram!", quebrou o violão e o jogou na plateia. (Pena que o documentário não mostre a manchete do dia seguinte do jornal mais sensacionalista da época, que estampava em letras garrafais: Violada no auditório)

Em nossas campanhas eleitorais, todo mundo cobra dos candidatos a apresentação de programas, projetos e planos de governo. Mas o que se quer ver, mesmo, é a emoção, é o espetáculo da disputa entre os concorrentes. Na atual campanha presidencial fala-se muito, com razão, que os debates entre os candidatos, na televisão, são os melhores momentos de aferição comparativa de suas qualidades. Propõem-se confrontos de programas em "alto nível" e abordagens de temas de real interesse da população, sem animosidades ou agressões pessoais. Muito bem. O primeiro debate, realizado na Rede Bandeirantes de Televisão, preencheu muito bem esses requisitos. Os principais temas tratados, como saúde, educação, segurança pública, infraestrutura e geração de empregos são, de fato, os assuntos principais da administração pública, por se referirem a problemas concretos que afetam, diretamente, a vida da população brasileira.

Os candidatos não trocaram frases agressivas, não desqualificaram os adversários nem tentaram lançar-lhes pegadinhas. Houve troca de críticas, sim, mas com civilidade. Apesar do nervosismo, da imprecisão de dados, dos escorregões de uns e outros(as) e do engessamento causado pelas regras do debate, houve a apresentação de bom conteúdo de interesse público.

Acontece que a generalizada avaliação, que surgiu na mídia, sobre esse primeiro debate foi no sentido de qualificá-lo de entediante, monótono, insosso, frustrante, soporífero e coisas do gênero. Os que costumam falar tanto contra o "baixo nível" parecem disfarçar o desejo real de ver candidatos desferindo bordoadas verbais, golpes "mortais" que levem adversários à lona, em situação de fulminante knock-out.

Embora já possa ter havido, no passado, um ou outro lance de derrubada de adversário num confronto direto, é o desenvolvimento cumulativo da imagem pública, pelo efeito conjunto dos debates, das entrevistas e da propaganda eleitoral na televisão e no rádio, que tem decidido a sorte das candidaturas.

Talvez os marqueteiros políticos estejam superestimando a importância da performance e subestimando a do conteúdo, no confronto dos candidatos. Vejam-se, por exemplo, os elogios à atuação do candidato do PSOL, marcada por um folclórico radicalismo anticapitalista. Certamente suas propostas seriam consideradas exageradas até na Coreia do Norte ou em Cuba - já que seriam impensáveis na China. Mas ele expressa suas utopias radicais com um misto de convicção profunda e charmosa provocação, numa eficiência de performance que suplanta quaisquer bobagens de conteúdo.

É claro que o ideal, para cada candidato, será conseguir um tipo de performance que transmita seu melhor conteúdo - especialmente nos debates e entrevistas, já que nestes não dispõe do benefício da edição, com que pode contar na produção de seu PROGRAMA eleitoral gratuito. Mas entenda-se por conteúdo a qualidade de suas ideias, a organização de seu próprio raciocínio na captação do problema que está sendo tratado (ou lhe está sendo indagado), a formulação clara e inteligível das soluções sobre as quais já refletiu e se mostra preparado para executar, se vencer a eleição. Se conseguir passar isso para o público, e ainda mais com um toque (mesmo discreto) de emoção, boas serão as perspectivas nas urnas para ele.

No país da emoção, do espetáculo e da torcida, nem sempre a qualidade da performance compromete o valor do conteúdo. Naquela noite tumultuada de 1967, cheia de gritos, vaias, torcidas enlouquecidas, reações desequilibradas, misturadas com performances gloriosas, jorraram valores definitivos da arte musical brasileira. Quem sabe isso também possa ocorrer em nossa vida política, fazendo prevalecer o conteúdo real, a qualidade, o preparo próprio (não o forjado por talentosos marqueteiros) das pessoas públicas que pretendem comandar o BRASIL na direção de seu melhor destino.

JORNALISTA, ADVOGADO, ESCRITOR, ADMINISTRADOR DE EMPRESAS E PINTOR. E-MAIL: MAURO.