sábado, agosto 07, 2010

MÔNICA BERGAMO

A BOLA E A CATRACA
MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SÃO PAULO - 07/08/10

O Ministério Público quer padronizar os sistemas de venda de ingressos e uniformizar as catracas eletrônicas dos estádios de todos os clubes do Campeonato Brasileiro. Se os equipamentos forem os mesmos em todo o país, diz o promotor Paulo Castilho, será mais fácil coibir a ação de cambistas e a falsificação de bilhetes.

VISITA ILUSTRE 
O ator argentino Ricardo Darin ("O Segredo dos Seus Olhos", "O Filho da Noiva") virá ao Brasil para a abertura, no dia 8 de novembro, da 5ª Mostra de Cinema e Direitos Humanos na América do Sul. O evento terá início em São Paulo e se estenderá a 20 capitais, até 15 de dezembro.

VISITA ILUSTRE 2 
E Pilar del Río, viuva do escritor José Saramago, morto em junho, vem ao Brasil no dia 9 de setembro, para receber uma homenagem da Companhia das Letras, que edita a obra do Prêmio Nobel.
O documentário "José & Pilar", da O2 Filmes, sobre o casal, terá trechos exibidos para a imprensa hoje, na Flip, em Paraty.

DIPLOMACIA DA BOLA 
Apesar da proximidade entre Lula e Mahmoud Ahmadinejad, do Irã, o presidente da companhia aérea israelense El Al, Elyezer Shkedy, diz que "os israelenses amam o Brasil. Sobre futebol, eles são brasileiros. Há uma separação entre assuntos políticos, civis e militares." Ele veio a SP para celebrar o primeiro ano de voos diretos daqui para Tel Aviv.

INGÊNUO 
Já Ricardo Berkiensztat, da Federação Israelita do Estado de São Paulo, acha "terrível" a proximidade entre os dois presidentes: "O Lula está sendo ingênuo. Se aproximar de um país terrorista pode ser ruim para a segurança do Brasil".

À LUZ DO CABARÉ 
O barítono brasileiro Paulo Szot se apresentará, em setembro, no Café Carlyle, cabaré do hotel Carlyle, em Nova York, nos Estados Unidos. No repertório, jazz, bossa nova e canções do musical "South Pacific", estrelado por ele, em cartaz até o dia 22 na Broadway -e que terá uma apresentação transmitida ao vivo, quatro dias antes, para todos os EUA pela TV pública PBS.

PARATY 
NA CASA DO PRÍNCIPE, É PROIBIDO SENTAR 

"Fiquei impressionado. Além de inteligente, ele é muito engraçado", disse o escritor indiano Salman Rushdie sobre o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Os dois almoçaram na casa do editor Luiz Schwarcz após a palestra que deram no lounge da Penguin-Companhia das Letras na Flip, a festa literária de Paraty. 
"Eu não vi. Eu dormi", dizia FHC ontem sobre o debate dos presidenciáveis na TV Bandeirantes, depois de assistir a uma outra palestra ao lado de Roberto Irineu Marinho, das Organizações Globo, que o hospeda em sua casa em Paraty. 
Também na cidade, o cartunista Robert Crumb foi abordado por um fã que pediu autógrafo em uma de suas obras. A mulher de Crumb, Aline, ao ver o exemplar, uma edição estrangeira, ficou nervosa. "Esse livro está mal editado, com erros", disse. Ontem, Crumb e o também cartunista Gilbert Shelton pretendiam almoçar em um restaurante de praia, próximo a cachoeiras. 
Os escritores americanos Benjamin Moser e William Kennedy estão escrevendo suas impressões sobre a Flip em postais que serão endereçados a amigos e familiares. Os cartões poderão ser vistos no blog da editora Cosac Naify. 
No almoço de boas-vindas da Flip, na casa de dom João de Orleans e Bragança, a caipirinha de maracujá fez sucesso entre os convidados. "Já fiz umas cem", contabilizava o barman. 
As garrafas de cachaça exibiam os rótulos "maré cheia" e "maré alta", mas a bebida que estava dentro era da marca Maria Izabel.
"Muitos estrangeiros que vêm pra cá ficam surpresos ao saber que o Brasil já teve monarquia", contava o príncipe para uma jornalista americana.
Em uma das salas da casa, chamava a atenção o fato de quatro cadeiras de madeira, encostadas na parede, terem um vaso de flor em cima de cada uma. "É pra ninguém sentar. Essas cadeiras têm uns 150 anos", explicava o anfitrião. (LÍGIA MESQUITA, de Paraty)
RETAGUARDA PRESIDENCIAL 

Os candidatos a presidente da República levaram familiares, amigos e assessores ao debate promovido anteontem pela TV Bandeirantes. Verônica, filha de José Serra, e Mayara, que acompanhou a mãe, a presidenciável Marina Silva, disputaram as atenções no estúdio da emissora, no Morumbi. Cacá, filha do cineasta Fernando Meirelles, também estava lá. Ela está fazendo o ensaio fotográfico da candidata do PV, que é apoiada por seu pai.

CURTO-CIRCUITO

O diretor Walter Carvalho filmou durante três horas uma conversa entre Antonio Nóbrega, o maestro Júlio Medaglia e a crítica de dança Helena Katz para o DVD do espetáculo "Naturalmente", de Nóbrega. 

A exposição "Mônica: A Criação do Personagem Brasileiro", sobre a obra de Mauricio de Sousa, será inaugurada na segunda-feira, às 9h, no Espaço Cultural Citi (avenida Paulista, nº 1.111). 

com DIÓGENES CAMPANHA, LEANDRO NOMURA e LÍGIA MESQUITA

MIGUEL REALE JÚNIOR

A amizade e seus desafios


Miguel Reale Júnior 
O Estado de S.Paulo - 07/08/10
Dizia Cícero que a amizade é antes de tudo confiança. Para que a relação entre duas pessoas se aprofunde o pressuposto é ver com simpatia o outro no seu modo de ser. Do contrário, há uma distância impeditiva de vir a prosperar o afeto. Essa distância não existe numa relação de igualdade, na qual cada um se torna solícito em face do outro, que se transforma não apenas na pessoa a ser conhecida, mas compreendida.
Essa solicitude, que consiste na disponibilidade de compreender e de se fazer compreendido, abre espaço para confidências. Cada qual deve sentir-se não apenas livre para se confidenciar, mas disposto a ouvir confidências do outro, numa relação dialogal. E ao fazerem confidências, com o desprendimento para compreender, acabam por compreender a si mesmos. Consagra-se, então, a confiança em clima de cumplicidade, presidido por um sentimento mútuo de lealdade.
Todos nós temos alguma satisfação no que se realiza, uma ponta de orgulho do que se é. Mas, recorrendo novamente a Cícero, cabe lembrar o seu alerta: "Os resultados da lisonja são maiores frente àquele que se lisonjeia a si próprio" - pois quanto mais alguém se ufana de si próprio, mais distante resta da realidade, por vezes negativa, e se faz suscetível ao elogio fácil.
Assim, um amigo deve enaltecer o outro, mas apenas quando este efetivamente o merece, pois o elogio gratuito só engana e é pura hipocrisia. Como consequência da confiança, da lealdade, surge como ingrediente da amizade a obrigação de aconselhar. Mas este dever de dar conselho compreende até mesmo dizer algo que venha a desagradar? Se não cabe cativar amigo lisonjeando, deve-se, no entanto, camuflar a verdade, por exemplo, deixando de denunciar ao amigo a situação ridícula que esteja a viver? Cumpre sonegar a verdade e não arriscar a quebrar a amizade em vista do potencial desgosto da revelação? Em suma, é melhor dourar a pílula, omitindo-se, para não perder o amigo?
A meu ver, a amizade exige que se abra mão até mesmo dela para dizer a verdade àquele que muitas vezes não a pretende ouvir ou não compreenderá, na situação em que se encontra, o ato de desprendimento e de sinceridade do amigo conselheiro.
Na mesma linha de ponderação, vale lembrar a expressão latina "sou amigo de Platão, mas mais amigo da verdade", critério a ser ponderado na hipótese de caber ou não a crítica pública a amigo que claudica no exercício de cargo público, em conduta nociva ao interesse geral. O que fazer: omitir-se ou agir em favor do interesse do país? Deve-se manipular a verdade para proteger o amigo das críticas justas ou cumpre ser mais amigo da verdade? Na realidade, é-se amigo da verdade e também de Platão ao se falar a verdade, pois talvez o amigo reconheça o erro e, ao mesmo tempo, não se deixa de atender ao interesse público.
Um desafio, que põe à prova a confiança e a fidelidade que caracterizam a amizade, surge no momento em que o amigo cai em desgraça, por uma infelicidade financeira ou moral. Nesse instante, faz-se um teste da amizade, pois o falso amigo se afasta para não se contaminar ou para não se revelar próximo de quem é, por exemplo, acusado da prática de fato socialmente reprovável. A amizade impõe sacrifícios. Assim, desde que a ação não atinja o amigo diretamente ou o seu mínimo ético, deve ele ser solidário, sem que tal signifique aprovação do desvio praticado.
Cumpre, também, indagar: a amizade como solidariedade justifica que se pratiquem atos ilegais para favorecer o amigo? Até onde se pode sair da linha correta para não prejudicar ou para auxiliar um amigo? A amizade deve compreender a cumplicidade para ajuda indevida? Há o dever de ser condescendente a ponto de dar proteção a um amigo para que consiga restar impune diante dos atos ilegais praticados?
Em juízo o amigo não pode silenciar sobre o que sabe, mas fora dele não está obrigado a denunciar. A omissão é uma forma da mentira, mas é justificável guardar silêncio sobre o que se sabe, não dando notícia de fato ilícito à polícia, tocado pelo sentimento de afeição.
Se dois amigos desejam a mesma mulher ou buscam as mesmas honras, e só um pode ser contentado pelo destino, como preservar a amizade? Por vezes, a vida coloca frente a frente amigos na concorrência pelo poder econômico ou político, em confronto apenas desfeito com a renúncia de um ao objetivo pretendido.
Na disputa pela mesma mulher, os gêmeos Esaú e Jacó, no romance de Machado de Assis, apaixonam-se por Flora. Não havia lugar para os dois e só a desistência de um apaziguaria a guerra a que o destino pôs fim pela morte de Flora.
Mas, além da renúncia, há outro caminho possível: a disputa deve ser franca, para impedir o surgimento do ódio. Esta solução não é fácil. Mais fácil, infelizmente, é a transformação da amizade em ódio, em ressentimento. Por isso, é rara a amizade entre homens públicos, pois a conquista e o próprio exercício do poder levam à simulação, ao disfarce. Quando se está para conquistar ou a exercer o poder, existe o medo de perdê-lo em face, especialmente, dos amigos. E não pode haver medo na amizade, pois medo é o inverso da confiança.
A amizade tem, portanto, diversas forças contrapostas: medo, desconfiança e, a mais frontal, a inveja, pois inveja não é querer ter o que o outro tem, mas querer que o outro não tenha o que tem, na lição de Melanie Klein.
São vários os desafios da amizade. Quem tem amigos sabe o quanto vale superar desafios para solidificar a amizade. Recordo Camus: "Só quem ama a si próprio pode amar ao próximo" - desde que se acautele contra a lisonja. Em suma, só ao amar a si mesmo se é capaz da coragem de ser amigo e de respeitar os limites éticos que a experiência da amizade carrega, para em nome dela não poupar críticas e em face da honestidade não dar indevida proteção a um amigo.
ADVOGADO, PROFESSOR TITULAR DA FACULDADE DE DIREITO DA USP, MEMBRO DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS, FOI MINISTRO DA JUSTIÇA

BRASIL S/A

O IPCA traíra
Antonio Machado
CORREIO BRAZILIENSE - 07/08/10

Mais outra rodada do índice oficial de inflação, dada pelo IPCA, dos preços ao consumidor, apurado pelo IBGE, veio corroborar que o repique no início do ano era mais sazonal do que os economistas do mercado financeiro alertavam — e o Banco Central encaçapou.

A evolução do IPCA em julho ficou praticamente estável, repetindo o desempenho de junho em relação ao mês anterior (respectivamente, 0% e 0,01%), sem influência do ciclo de engorda dos juros básicos.

O Banco Central descongelou em abril a Selic, que vinha de 8,75% desde 2009, estando agora em 10,75% ao ano depois de três aumentos seguidos. A desinflação em curso ainda não reflete esse ciclo.

Arrocho de juros repercute sobre a demanda com um atraso estimado pelo BC de seis a nove meses. Ao elevar a Selic, o BC enxergava a dinâmica da economia de 2011, portanto — e entendia que devia agir sem demora para desaquecer o consumo antes que, pela negociação dos juros no mercado futuro, se consolidasse a expectativa de inflação, se afastando da meta anual: 4,5% este ano e no próximo.

Precipitou-se, o que hoje, olhando-se para trás, parece sequela, à época, da indefinição do presidente do BC, Henrique Meirelles, sobre se seguia no cargo ou saía para se candidatar. Desde que se filiara ao PMDB no ano passado, essa possibilidade estava posta.

Muita gente do mercado financeiro receava o BC ocupado por alguém desafinado com os usos e costumes do regime de metas de inflação. A projeção do IPCA medida semanalmente pelo BC para o ano, os doze meses à frente e os dois anos seguintes, por coincidência ou não, começaram a descolar da meta anual de 4,5% naquele momento.

É certo que o consumo vinha forte também, mas, conforme hipóteses que então já circulavam, poderia expressar em parte a antecipação de compra de bens como carros e eletrodomésticos beneficiados com a redução do IPI para minorar a recessão em 2009. Era o que dizia o ministro Guido Mantega, sem encontrar eco, até por agir noutras ocasiões mais como RP dos resultados da economia que para alinhar as expectativas correntes. Mantega desta vez estava certo.

Mas mesmo o entorno de Lula estava contaminado pelos receios do pessimismo dos mercados, tanto que os plantonistas colocados de sobreaviso para a eventual sucessão de Meirelles haviam advertido ao governo que, para manter as rédeas, teriam de assumir dando um tranco na Selic para afastar suspeitas de heterodoxia.
Selic largou no susto
Meirelles ficou, uma vez afastada pelo PMDB a ideia de substituir o deputado Michel Temer como candidato a vice-presidente na chapa de Dilma Rousseff, como Lula queria, mas já estava consolidada, na praça, a expectativa de inflação puxada pela pressão de consumo.

E não pela combinação de aumentos sazonais de preços e serviços, como tarifas de ônibus e matrículas e mensalidades escolares, com os efeitos dos temporais sobre a oferta de alimentos perecíveis. É discutível que a Selic pudesse continuar estacionada em 8,75%, mas se pode, e deve, questionar se a saída à base de dois aumentos sucessivos de 0,75 ponto de percentagem não tenha sido temerária.
Mas só impactará 2011
E o resultado? A variação do IPCA, sem que o aumento dos juros já esteja produzindo efeito para amainar a demanda, desacelerou em 12 meses de 4,84% em junho para 4,60%, roçando a meta para o ano.

Ao se abrir o índice entre preços livres (baseados no mercado) e os administrados (indexados a contrato ou definidos pelo governo, como eletricidade e gasolina), a reversão é mais visível. Em 12 meses, os primeiros recuaram para 3,95%. Os outros, para 4,9%.

Para a frente, espera-se fim da deflação dos alimentos, mas dentro do intervalo de variação normal ao longo do semestre. Na projeção agora corrente no mercado, a variação do IPCA no ano estará entre 5% e 5,5% — e mais próxima de 4,5% que de 5% até o fim de 2011. Se o novo governo começar pondo ordem e teto ao gasto público, o que é provável, a inflação murchará, e a Selic mais adiante.
Deficit é o novo foco
No quadro mais benigno para a inflação, as atenções se voltarão a outros dados críticos da economia: o câmbio e as contas externas. Se elas continuarem deficitárias, mesmo que abaixo de 3% do PIB no cenário do BC, o país acumulará desde 2008 perdas da ordem de US$ 217 bilhões em cinco anos. Ainda que o risco para financiar tais deficits seja baixo, é muita coisa, o que faz supor a continuidade da Selic em nível elevado por mais tempo, para balancear melhor a dinâmica do crescimento entre exportações e mercado interno.
Manipulação do modelo 
Os três momentos distintos da inflação em 2010 — que começou com aumentos de preços devolvidos em boa parte no meio do ano e agora voltando a uma trajetória de alta normal para o período, “mas nada surpreendente”, como avalia a consultoria LCA — deixam lições para o aprimoramento da política monetária. Uma delas é que não se deve fiar tanto em cenários baseados no comportamento de juros futuros.

Na teoria, trabalha-se com as melhores projeções derivadas do que se sabe da atividade econômica corrente. Na prática, as informações são influenciadas pelo mercado futuro de títulos. O grau de acerto tem superado as frustrações, mas não é isento de risco. Sem que o modelo incorpore o sentimento da economia real, será, sempre, mais subjetivo do que toda previsão já o é por princípio.

DORA KRAMER


Debate ainda é o melhor remédio

Dora Kramer 
O Estado de S.Paulo - 07/08/10



Quem se saiu melhor no debate - eis a questão, cuja resposta depende do critério usado para o julgamento.

No quesito figura mais vistosa em cena Dilma Roussef venceu, bem como Plínio de Arruda Sampaio arrebatou primeiro lugar em matéria de desenvoltura, Marina Silva confirmou-se imbatível em elegância de expressão verbal, mas José Serra foi de longe o mais "presidente", com domínio absoluto sobre o conteúdo dos assuntos debatidos e a forma de apresentá-los.

Não há sequer termos de comparação, é a constatação do óbvio até pelas diferenças de carreira, trajetória e experiência entre os quatro concorrentes à Presidência da República.

Ocorre que para ganhar eleição não basta ser o melhor, é preciso conquistar o racional e tocar no emocional das pessoas para convencê-las de que será capaz de ser o melhor para elas. Isso nem sempre guarda relação com atributos de qualificação.

No último debate de 2002, por exemplo, era evidente a superioridade qualitativa de José Serra sobre Luiz Inácio da Silva. Mas o eleitor queria votar em Lula e dali a dois dias assim o fez de acordo com a percepção de que encarnava seus desejos naquele momento.

E agora, qual é essa demanda, continuidade? Serra não desmontou o atual governo, mas apontou falhas de procedimentos importantes, enquanto Dilma puxou para si as realizações entendidas como positivas. O problema é que para explicar isso usava termos como "oligopolizados" e "spread" sem explicar do que se tratava.

O importante no debate da Band foi que houve o encontro face a face entre os candidatos e isso se deu de maneira civilizada e até proveitosa não obstante as regras que buscam evitar a possibilidade de imprevistos.

O debate entre candidatos ainda é o que melhor há na campanha para o cotejo do eleitorado e a exclusão de nanicos sem representação no Congresso, indispensável ao andamento dos trabalhos.

Dilma sobreviveu e saiu com uma vantagem: nos próximos três até a eleição só pode melhorar, tantos foram os erros de desempenho.

Nervosa, insegura, começou olhando durante sete segundos para a câmera sem perceber que deveria começar a falar, ficou quase de costas para o telespectador, não conseguiu dizer o que precisava no tempo regulamentar, foi prolixa, "numérica" em excesso e o sorriso confiante que a abandonou no segundo bloco não voltou a aparecer. Bem vestida, penteada e maquiada, mas antipática, sobressaltada e fora d"água.

Plínio foi o tempero que dá gosto e Marina não tem bossa suficiente para fazer o papel de coqueluche. O candidato do PSOL pode tomar o lugar dela na preferência dos alternativos e, infelizmente para Lula, é mais duro com o governo que todos os caciques e índios da oposição juntos porque fala com autoridade _ "quem fez o programa de reforma agrária do Lula fui eu" _ de petista de raiz.

PAINEL DA FOLHA

Fila de espera
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 07/08/10

Convencido de que conseguirá eleger Dilma Rousseff (PT), Lula tem dito a auxiliares que pretende discutir com sua candidata as indicações mais importantes em aberto no plano federal, pois elas terão mais impacto no futuro governo do que no atual. Além do substituto de Eros Grau no STF, está em "stand by" a definição de nomes para agências como Anvisa (saúde), ANP (petróleo) e Anatel (telecomunicações).
O presidente quer evitar novas disputas entre aliados em plena campanha eleitoral. Por isso, tentará esticar a corda: tudo o que puder esperar será resolvido apenas depois do fechamento das urnas.

Gasolina 1 Em entrevista a uma rádio de Pernambuco, Alexandre Padilha (Relações Institucionais) ouviu do apresentador a recomendação de não levar os governadores de Estados que abrigarão jogos da Copa a conhecer Joanesburgo, porque "aquilo é uma m.". O ministro respondeu: "Quem for para São Paulo [assistir a jogos em 2014] vai falar a mesma coisa. Aquilo lá é feio". 

Gasolina 2 Padilha, que é paulista, acrescentou: "Até hoje não definiram nem onde vai ser o estádio. Se bobear, Pernambuco ganha a oportunidade que São Paulo está perdendo de sediar coisas importantes de Copa". 

Com que roupa? Até o início da noite de quinta, estava combinado que Dilma iria ao debate da Band com o tradicional vermelho petista. Foi ela que sugeriu trocar pelo bolero branco. O marqueteiro João Santana aprovou. 

Linha vermelha Dilma estava de saída quando recebeu o telefonema de Lula elogiando seu desempenho. "Aprendi com o senhor", retribuiu ela, que após desligar avisou à primeira-dama, Marisa Letícia: "O chefe ligou"!. 

Protesto! De José Eduardo Dutra (PT), sobre a menção de Serra ao ex-ministro da Fazenda de Lula: "No próximo debate, o Palocci pedirá direito de resposta".

SOS 1 A ida de Serra ontem à noite a Recife foi um afago ao aliado Jarbas Vasconcelos (PMDB), que a seu pedido aceitou ser candidato ao governo e hoje enfrenta dificuldades na campanha. 

SOS 2 Depois da debandada de prefeitos do PSDB para o barco de Eduardo Campos (PSB) em Pernambuco, causou rebuliço a notícia de que o prefeito de Toritama, Flávio Lima (DEM), também anunciará apoio ao adversário de Jarbas. 

Engessada Aliados de Marina Silva (PV) rejeitam a avaliação de que ela se intimidou no debate. Argumentam que as regras a isolaram dos líderes Dilma e Serra, e pretendem lutar por mudanças nos próximos encontros. 

Duas palavras De Heloisa Helena, rompida com Plínio de Arruda Sampaio, que se tornou candidato presidencial do PSOL à sua revelia, sobre o debate da Band: "Não assisti". 

Na corrente Geraldo Alckmin (PSDB-SP) enviou carta ao embaixador do Irã no Brasil para apelar por Sakineh Ashtiani, condenada à morte por apedrejamento. Líder nas pesquisas para o governo, levará o tema ao blog da campanha e ao Twitter. 

Tô de olho Da Argentina, onde esteve na terça-feira, Lula avisou que entraria em campo no dia seguinte caso o PMDB insistisse em mudar a pauta pré-combinada com o governo para as votações na Câmara. O presidente chegou a dizer que, se necessário, ligaria para Michel Temer. O telefonema revelou-se desnecessário, pois o PT conseguiu reverter o movimento peemedebista. 
com LETÍCIA SANDER e ANDREZA MATAIS

tiroteio

Até dá para entender a preocupação do ministro Eros Grau. Mas não agora que o Congresso se sujou tanto. 
DO DEPUTADO PAULO DELGADO (PT-MG), comentando declaração do ministro que se despede do Supremo Tribunal Federal; segundo ele, a lei da Ficha Limpa coloca em risco o Estado democrático de direito.

contraponto

Cada um no seu quadrado Ao chegar ao debate na Band, Aécio Neves cumprimentou dirigentes do PMDB já acomodados na ala da plateia reservada aos aliados de Dilma Rousseff.
Bem relacionado com todos eles, o tucano brincou:
-Tem um lugarzinho pra mim ai?
Sentado ao lado do vice de Dilma, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Alves, logo ofereceu:
-Aqui ao lado do Michel, eu alugo a minha cadeira!
Aécio olhou para o outro lado, onde estavam seus correligionários, e optou por sair de fininho:
-Acho que tem um lugarzinho vago ali...

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO

Superávit imaginário
EDITORIAL
O ESTADO DE SÃO PAULO  07/08/10


Tudo indica que o governo está escondendo o jogo com relação às contas públicas. O secretário do Tesouro, Arno Augustin, afirma categoricamente que o setor público (União, Estados, municípios e empresas estatais) cumprirá a meta de superávit primário de 3,3% do PIB. O ministro Guido Mantega, porém, já deixou entrever que podemos não chegar à "meta cheia". Isso pode significar que, nos últimos meses de 2010, ou seja, decorrido o período eleitoral, o governo fará o arranjo que lhe parecer mais conveniente para disfarçar o descumprimento da meta. Para muitos analistas, a dúvida está em saber que tipo de casuísmo contábil o governo vai colocar em prática este ano.

Se a economia estivesse crescendo no mesmo ritmo do primeiro trimestre, a arrecadação poderia amenizar o problema, mas essa saída é cada vez mais improvável. Embora os últimos números não tenham sido divulgados, o Tesouro já admite que, com o relativo desaquecimento da economia, a arrecadação federal deixará de bater recordes a cada mês, como vinha ocorrendo. Pela mesma razão, as receitas dos Estados e municípios tenderão a ser menores, o que se refletirá em sua contribuição para o superávit.

Se desse lado a situação não é tão confortável como o governo desejaria, as despesas correntes tomaram o espaço das disponibilidades para investimento, especialmente no tocante às empresas estatais. Previa-se que as empresas sob o controle do governo apresentassem, em termos primários, um saldo positivo de 0,20% do PIB (R$ 7,04 bilhões) em 2010, mas o que se verifica é que, no primeiro semestre, elas apresentaram um déficit de R$ 1,96 bilhão, correspondente a 0,12% do PIB, que dificilmente será revertido, se obedecidos seus cronogramas de investimentos.

Segundo dados do Ministério do Planejamento, as estatais investiram R$ 37,9 bilhões no primeiro semestre, uma expansão de 27% com relação aos primeiros seis meses de 2009. Mas o grosso deve ser gasto na segunda metade do ano, uma vez que os investimentos das estatais, apesar desse grande aumento, só alcançaram 40% da dotação orçamentária de R$ 94,4 bilhões. O Grupo Eletrobrás, por exemplo, investiu R$ 1,7 bilhão nos últimos seis meses, mas a intenção é acelerar os seus investimentos, que poderão somar R$ 9 bilhões até o fim do ano, não se sabendo se isso inclui as aventuras internacionais que a estatal planeja.

Uma forma de driblar esse obstáculo seria excluir a Eletrobrás das contas do setor público, a exemplo do que já foi feito com a Petrobrás. Assim, não se teria de cortar fundo nos investimentos para cumprir a meta ou chegar próximo dela. O governo tem ainda outros truques na cartola. Um deles seria abater da meta de superávit 0,9 ponto porcentual do PIB, taxa que, alegadamente, corresponderia a um excesso de investimentos no PAC. Outra opção seria usar os recursos do Fundo Soberano do Brasil (FSB). Um dos sustentáculos do FSB, como anunciou o governo, seria um superávit nominal das contas públicas (receitas menos todas as despesas, inclusive juros). Acontece que, em termos nominais, o setor público apresenta um déficit de 3,02% do PIB nos últimos 12 meses terminados em junho. Esses expedientes, portanto, pertencem ao reino da imaginação.

O economista Raul Velloso, especialista em contas públicas, tem razão para ser cético. Sua estimativa é de que o superávit primário ficará em 2% do PIB este ano, taxa muito próxima da que se verificou nos últimos 12 meses (2,07% do PIB), se não houver um fator extraordinário - como foi no ano passado a apropriação contábil, para efeito do cálculo do resultado das contas públicas, dos depósitos judiciais, e este ano pode ser o FSB. Velloso considera que o governo, se achar que essa taxa é muito baixa, poderia reduzir os investimentos, elevando o superávit primário para 3% do PIB.

Isso, porém, é altamente improvável em um ano eleitoral. O governo, por certo, vai dar um jeito de maquiar as contas públicas. Retornar à estabilidade fiscal, de modo a garantir o crescimento sustentável, permanecerá como desafio para o seu sucessor.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Curriculum vitae
Sonia Racy 
O Estado de S.Paulo - 07/08/10

A quem critica a nomeação de Eduardo Artur Rodrigues Silva, novo diretor de operações dos Correios empossado por Lula segunda-feira, vai aqui sua experiência.
Sob a bênção incondicional de Roberto Teixeira, compadre do presidente da República, ele foi, durante seis meses de 2008, conselheiro e presidente da VarigLog. Saiu da empresa em outubro do mesmo ano, não sem antes viabilizar a constituição, em São Paulo, da cargueira Master Top Linhas Aéreas (MTA).
Companhia aérea esta que tem como acionistas Jorge Augusto Dale Craddock e Anna Rosa Pepe Blanco Craddock, sogros de Tatiana, filha de Silva, conhecido como Coronel Artur.
Curriculum vitae 2
E não é que a empresa está dando certo?
A MTA hoje tem direito a operar cobiçadas frequências de voos para EUA, Colômbia e Equador e foi vencedora, em julho, de licitações para transporte de carga dos Correios de São Paulo a Salvador e Recife no valor de mais de R$ 36 milhões. Mesmo ela tendo protestos e com sua certificação suspensa pela Anac por falta de segurança.
A certificação foi restabelecida dia 26 de julho.
Cetro e coroa
Lula vai dar de cara quinta-feira, em Divinópolis, MG, com Débora Lyra, a nossa Miss Brasil 2010. A moça pedirá a bênção do presidente antes de viajar para Las Vegas, onde disputará, dia 23, o concurso Miss Universo.
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Após longa espera, o governo de São Paulo conseguiu esta semana mais US$ 507,7 milhões aprovados pelo Senado. São operações de crédito externo para infraestrutura, meio ambiente e gestão.
Em contrapartida, o governo aplicará US$ 229,3 milhões. O total de investimento na área somará US$ 737 milhões.
Do coração
Tom Zé, fiel torcedor do Timão, compôs um hino só para celebrar o centenário do Corinthians. Estará no livro o Corinthians - 100 Anos de Paixão.
Xodó de mago
Gilberto Gil cantava em Saint Julien, na França, esta semana, quando chamou ao palco um convidado ilustre da plateia: Paulo Coelho, que deu canja com Eu Só Quero um Xodó, de Dominguinhos.
Ela merece
A cidade agradece. O Conpresp deu o OK e a Biblioteca Mário de Andrade terá o paisagismo externo completamente reformado.

Ecos do debate
Indio da Costa, o vice de José Serra, saiu de hospital do Rio, onde estava internado, para assistir in loco ao debate da Band, anteontem. E para lá voltou de helicóptero assim que o evento acabou.
Sentado na plateia na área reservada aos tucanos, do lado esquerdo, Indio não desgrudou do BlackBerry. Abasteceu seu Twitter com provocações a Dilma Rousseff: "Dilma gagueja em suas respostas", postou. Também gripadíssimo, José Eduardo Dutra, presidente do PT, segurou a tosse enquanto pode até que saiu do estúdio para se recuperar. A produção chegou a oferecer-lhe ajuda médica, que foi prontamente recusada.
Se os dois fizeram um esforço para estarem lá, o mesmo não aconteceu com Quércia e Aloysio Nunes Ferreira. Antes do debate começar, foram flagrados pela coluna combinando de sair antes do fim. "Em casa vejo melhor", disse Nunes Ferreira. O que de fato aconteceu. Entre os convidados, despercebida, Mayara, filha de Marina Silva. Quem prestou atenção, no entanto, fez logo a relação: bela e maquiada, ela é uma versão jovem da mãe. Ao lado de Guilherme Leal, no espaço reservado aos verdes, acompanhou cada fala de sua candidata com entusiasmo. Os petistas, aliás, ocuparam o lado direito da plateia. Incluindo aí o aliado Paulo Skaf, cujos assessores faziam questão de frisar que ele havia sido convidado por Dilma.
Assim que chegou no estúdio, ao lado de sua mulher, Monica, Serra foi recebido por Aécio Neves. O ex-governador mineiro encostou as mãos nos braços do correligionário e cochichou em seu ouvido: "Relaxa, seja quem você é".
Ao fim do segundo bloco, Guilherme Afif só tinha uma preocupação. "Quanto está o jogo do São Paulo?" Questionado pela coluna onde ele preferia estar se no estúdio da Band ou no estádio do Morumbi, o vice de Alckmin apontou para a arena: "Eu preferia estar nesse jogo".
Marisa Letícia e sua inseparável nora Marlene representaram Lula. Passaram o debate na plateia, sentadas ao lado de Marta Suplicy.
Entre os ilustres que apareceram por lá, Fernando Meirelles assistiu, pela primeira vez, a um debate ao vivo. E foi também prestigiar a filha Cacá Meirelles, que é fotógrafa da campanha de Marina. Depois do debate Carlos Eduardo, 18, neto de Plínio de Arruda Sampaio estava exultante. "Meu vô é o assunto mais comentado do Twitter". Ele tinha razão. PAULA BONELLI
Direto da Flip
Wendy Guerra, escritora cubana, está impaciente. Quando perguntada sobre a política da ilha, desconversa agressivamente. E faz questão de esclarecer que não tem nada em comum com Yoani Sanchéz: "Ela é uma blogueira, eu sou uma autora". E acrescenta: "Ela não seria nada fora de Cuba. O lugar dela é lá".
Figura esperadíssima da 8ª edição da festa, Azar Nafisi se acabou em fazer compras... na farmácia. É que autora iraniana está gripada.
William Kennedy já tem programação para depois da Flip. Foi convidado para jantar, na próxima terça, na casa de Hector Babenco. O cineasta venceu a disputa dos direitos autorais de Ironweed, do autor, com ninguém menos que David Lynch, em 1987. Na ocasião, Kennedy disse ao brasileiro que não cedeu a Lynch porque o cineasta queria colocar uma televisão nos olhos dos personagens - ideia que o irritou profundamente.
Collum McCann andava por Paraty indagando as pessoas sobre "nomes próprios de brasileiros de classe média". Pesquisa para um futuro romance. Ao contrário da mulher, Isabel Allende, William Gordon teve seu ataque de estrela. Pediu que seu crachá de acompanhante fosse trocado por um "de escritor".
William Boyd é um autor independente. Além de alugar a própria casa para se hospedar com a família em Paraty, o escritor africano já programou viagem para Petrópolis onde conhecerá a casa que foi de Elizabeth Bishop para escrever um artigo para o The Guardian.
A direção da Flip pediu para Ciro Lilla, da Mistral, vinhos sul americanos de alta qualidade para servir aos convidados. Entre os escolhidos, Viña Montes (Chile) Catena (Argentina) e Vallontano (Brasil).
Um desafortunado parou o carro em lugar proibido em Paraty. Além de multa, ganhou um bilhete especial escrito: "Parado na porta da casa do prefeito".
MARILIA NEUSTEIN