quarta-feira, julho 21, 2010

MÔNICA BERGAMO

TROPA QUERIDA
 MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 21/07/10

"Tropa de Elite 2", de José Padilha, só estreia em outubro -mas tanto a TV Record quanto a TV Globo já manifestam intenção de exibir o longa na televisão. "Temos todo o interesse", diz o diretor comercial da Record, Walter Zagari. A Globo também diz que já conversa com os produtores do filme sobre a possibilidade de adquirir os direitos de exibição.

SUCESSO 
Quando exibiu o primeiro "Tropa de Elite", em dezembro, a Record empatou com a Globo e bateu a audiência de todas as outras emissoras.

O DONO DA BOLA 
Ricardo Teixeira, presidente da CBF, disse a interlocutores em Brasília que vetou Caio Luiz de Carvalho, coordenador do Comitê Paulista para a Copa de 2014, na reunião em que discutirá com o governador Alberto Goldman (PSDB-SP), de SP, hoje, o estádio que abrigará jogos do Mundial. Carvalho foi quem mais bateu na decisão da Fifa de vetar o Morumbi como sede das partidas. A assessoria da CBF não foi localizada para comentar. 

NEM AQUI 
O veto, para todos os efeitos, foi inútil: Carvalho não estará em SP. Coordenador da campanha presidencial de José Serra (PSDB), ele foi escalado pelo tucano para acompanhá-lo numa reunião no Rio com o COB (Comitê Olímpico Brasileiro). 

PARA ÍNTIMOS 
A cantora Elza Soares, 73, marcou para o dia 20 de setembro o casamento, em cerimônia espírita, com o seu empresário, Bruno Lucide, 27. Será um jantar para cem convidados num sítio na região de Itaipava, no Rio. O dois estão juntos há dois anos e se casaram no civil no ano passado.

PASSAPORTE 
De férias, a atriz Fernanda Torres embarcou anteontem para Nova York. Foi com o marido, Andrucha Waddington, e os filhos. 

ESTRANHOS NO NINHO 
Moradores do Guarujá armaram um salseiro na cidade por causa da presença de trabalhadores de uma subsidiária da Usiminas em hotéis e pousadas de áreas nobres do balneário. Há 40 dias, a prefeitura começou a receber denúncias de que "a cidade estava infestada por pessoas estranhas e começou a investigar", diz Karina Praça, assessora da administração. Mais de 20 estabelecimentos foram vistoriados. Ontem, os hotéis Guarujá Inn e Marville foram interditados pela Vigilância Sanitária.

INSUPORTÁVEL 
"Homens vindos do Piauí, do Pará, do Maranhão dormiam em condições sub-humanas. Num hotel, para 250 pessoas, foram encontradas 450. O cheiro era insuportável", diz a assessora. A Usiminas diz que já acionou as empresas responsáveis pela hospedagem de seus trabalhadores na cidade, "cobrando providências imediatas para resolver os eventuais problemas e garantir o bem-estar dos trabalhadores, conforme estabelecem os contratos firmados com elas".

TESOURA 
Depois de Dilma Rousseff (PT-RS), a senadora Ideli Salvatti (PT-SC) contratou os serviços do cabeleireiro Celso Kamura para mudar o visual. Para dar um ar "classudo e prático", segundo sua assessoria, Kamura cortou as madeixas na nuca, escureceu os fios e fez luzes na parte da frente do penteado.

FEIRA 
O quadro "Peixes, Limão e Cebola sobre uma Mesa", de Di Cavalcanti, e o "Ar da Terra", de Cícero Dias, avaliados em R$ 173 mil e R$ 170 mil, serão leiloados na semana que vem, no Atlântica Business Center, no Rio.

MIMO 
Wanessa Camargo presenteará os convidados de seu próximo show com um cartão, que terá uma senha que possibilita baixar três músicas inéditas pela internet. O evento será no dia 11 de setembro, no Citibank Hall. 

ODORICO NA TELONA 
O diretor Guel Arraes recebeu convidados anteontem para a pré-estreia do filme "O Bem Amado", no shopping Vila Olímpia, em SP. O evento contou com a presença de parte do elenco, como Marco Nanini, José Wilker, Andréa Beltrão, Matheus Nachtergaele e Maria Flor.

CURTO-CIRCUITO
Vik Muniz participa hoje da exibição do filme "Lixo Extraordinário", no Festival de Paulínia (SP).

A mostra "Verde e Vermelho", de Eduardo Sancinetti, está em exibição na galeria Mezanino até 14 de agosto.

A exposição "Imagem & Cor", do pintor mineiro Turturro, será inaugurada hoje, às 20h, no restaurante Consulado Mineiro.

A festa Jabá, com o DJ Bezzi, estreia hoje, a partir das 22h, no clube CB. 18 anos.

O DJ mexicano J Zuart é o convidado especial da edição de aniversário da festa Chic, hoje, à meia-noite, na Bubu Lounge. 18 anos.

A marca AMP inicia liquidação de inverno com descontos de 20% em suas duas lojas.

TUTTY VASQUES

Abra sua janela de transferência!


TUTTY VASQUES 
O ESTADO DE SÃO PAULO - 21/07/10
Faça o teste com a primeira loura que passar: a tal "janela de transferência" no futebol é quase tão difícil de explicar a uma delas quanto o impedimento. Trata-se, a grosso modo, de um mecanismo de defesa do mercado internacional de compra e venda de jogadores, mediante a pré-fixação de datas consentidas para o troca-troca.
Com a anunciada redução do prazo de quarentena de dezenas de craques repatriados para o Brasileirão, o assunto domina o noticiário esportivo da semana, sem levar muito em conta a má compreensão da turma que ainda não entendeu direito sequer pra que serve o bandeirinha. 
Resultado: corre nas noites de Belô boato de que o jogador Roger Flores vai aproveitar a antecipação da abertura da tão falada "janela de transferência" para trocar de namorada de novo! Da última vez, dizem as entendidas dos barzinhos da Savassi, ele se separou da Deborah Secco.
A concepção da ideia, se empregada com maior abrangência, não é de todo má! Todo ser humano deveria abrir sua janela de transferência uma vez por ano. Se não em casa, como o Roger, no trabalho, no armário, entre amigos, em família, na leitura dos jornais, no bar da esquina, nas próximas férias... Experimente mudar!

Duro na queda!
Morto podre de rico em Passione, o ator Mauro Mendonça ressuscitou semanas depois milionário em Ti-ti-ti. O personagem é, salvo engano, aquele mesmo endinheirado que a Patrícia Pillar matou em A Favorita.
Fenômeno inverso
Após as férias deliciosas que passou no Brasil, Ronaldinho Gaúcho se reapresentou ao Milan com quatro centímetros a mais de quadril. 
A barriga dele é na garupa. 
Repara só!
Brega & quente
O sucesso da nona edição da Paris-Plage, como os franceses chamam aquele piscinão do Rio Sena, é a prova definitiva de que todo mundo é meio suburbano no verão!
É big!
O fim do mundo está em festa. Também, pudera! O vazamento de óleo no Golfo do México completa amanhã três meses de atividade. Um marco em matéria de destruição do planeta.
Mal comparando
Vendo o advogado do Bruno todos os dias nos telejornais, a gente acaba sentindo saudades do advogado do Daniel Dantas, né não?
Uma coisa ou outra
Não se pode querer tudo na vida. Mais cedo ou mais tarde, o paulistano terá que escolher: ou bem constrói o Piritubão ou derruba o Minhocão.
Festival de Paulinha
Tem gente de cinema no Rio achando que Paulínia é corruptela em homenagem a Paula Lavigne.
O insaciável
Como se não bastassem todas aquelas ex-mulheres e ex-amantes, o goleiro Bruno tem agora duas ex-delegadas no prontuário de seu caso. 

JOSÉ NÊUMANNE

Para os amigos, sigilo; para os inimigos, devassa
José Nêumanne 
O Estado de S.Paulo - 21/07/10

Nem a chuva nem o fenômeno do encolhimento da multidão (o PT esperava 100 mil, mas só mil pessoas foram a seu comício no Rio, sexta-feira) arrefeceram a disposição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de desrespeitar o "império da lei", definição de qualquer democracia que se preze. Diante dos mil gatos molhados pelos pingos da chuva que o aplaudiram, mas ignoraram a presença de sua candidata à sucessão, Dilma Rousseff (PT), Sua Excelência vociferou contra "uma procuradora qualquer aí" que, segundo ele, tenta inibir sua presença na campanha.

Só que essa violação do juramento que ele fez em 1.º de janeiro de 2003 e repetiu quatro anos depois ? o de obedecer e fazer cumprir o sistema legal sob a égide da Constituição da República ? não se manifesta apenas nas palavras do chefe supremo do petismo no poder, mas mais ainda nas ações de seus correligionários. Para ficarem no poder eles têm feito tudo e mais um pouco. E não serão o pudor nem as normais legais que os inibirão. Comprova-o o caso Eduardo Jorge Caldas Pereira. Esse cidadão era secretário-geral da Presidência nas gestões de Fernando Henrique Cardoso e hoje é vice-presidente do PSDB, legenda pela qual o ex-governador de São Paulo José Serra disputa a chefia do governo que Lula ocupa e quer, de qualquer maneira, entregar à sua ex-ministra Dilma.

Em 2001, na vigilante e competente oposição que fazia, e que o PSDB e o DEM não sabem repetir depois que Lula assumiu o governo, o PT escolheu esse tucano de pouco poder e menos visibilidade como alvo de investigações a respeito de malversação do dinheiro público. Os petistas acusavam-no de chefiar uma rede de influências para beneficiar empresas. A denúncia foi encampada pelos procuradores da República Luiz Francisco de Souza, que passou a ser chamado de Torquemada, sobrenome do frade dominicano, caçador de bruxas, perseguidor de judeus, inquisidor-geral nos reinos de Castela e Aragão e confessor da rainha católica Isabel, e Guilherme Schelb ? ambos muito conhecidos à época pela pertinácia com que perseguiam "malfeitores" na gestão pública. As denúncias foram publicadas pela Folha de S.Paulo, processada pelo acusado. Em 2006, o jornal foi condenado pelo juiz Fabrício Fontoura Bezerra a pagar-lhe R$ 200 mil, porque ele nunca sequer chegou a ser acionado na Justiça por tais acusações. Ao longo de cinco anos, segundo relatou o juiz na sentença, as investigações abertas contra ele pelo Ministério PúblicoFederal, pela Receita Federal, pelo Banco Central do Brasil, pela Comissão de Fiscalização e Controle do Senado Federal e pela Corregedoria-Geral da União nunca encontraram algum crime que pudesse haver cometido.

Eduardo Jorge representou ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) contra os procuradores cujas suspeitas se tornaram matéria-prima das publicações que o juiz considerou caluniosas. Em 2007, esse conselho os suspendeu por 45 dias e, dois anos depois, a pedido do persistente Eduardo Jorge, reconheceu ter sido este vítima de perseguição pessoal por ambos. Desde então, ninguém mais ouviu denúncias de nenhum deles.

E não têm faltado, em sete anos e sete meses de República petista, assuntos que eles pudessem investigar, se seu objetivo fosse de fato o interesse público. Souza e Schelb, por exemplo, nunca se propuseram a apurar se é verdadeira a delação do presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson (RJ), de compra de apoio parlamentar pelo governo no episódio ? sub judice no Supremo Tribunal Federal (STF) ? conhecido como "mensalão". Da mesma forma, a isenção missionária de ambos não os levou a denunciar os responsáveis pela quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Pereira, cujo único delito conhecido é o de ter testemunhado que vira o então ministro da Fazenda Antônio Palocci, do PT, frequentar assiduamente uma mansão suspeita em Brasília.

O doce ostracismo em que vive hoje essa dupla que já foi malvada só perde para a completa impunidade gozada por Waldomiro Diniz, cujo crime confesso de tentar achacar um empresário da jogatina nunca foi investigado pela solerte Polícia Federal (PF) nem pelo ex-implacável MP do Distrito Federal. Mas isso não quer dizer que as sentenças favoráveis ao vice-presidente nacional do PSDB tenham arrefecido o ânimo dos contumazes quebradores do sigilo de adversários dos arapongas militantes a serviço do PT no poder. Desta vez, cópias das declarações do Imposto de Renda (IR) de 2005 a 2009 de Eduardo Jorge integravam um dos quatro dossiês preparados pelo "grupo de inteligência" da campanha de Dilma.

O secretário da Receita, Otacílio Cartaxo, foi convocado a depor na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado Federal, à qual disse que já foram identificados os servidores responsáveis pelos "cinco ou seis" vazamentos ocorridos. A imprecisão dessa "informação" já denota por si só o pouco-caso com que ele lidou com as explicações que tinha de dar aos senadores. E também se negou a dar seus nomes antes do fim das investigações, prometido para 120 dias. Ou seja, para depois do segundo turno da eleição presidencial, disputada por um candidato do partido do qual a vítima da quebra de sigilo é dirigente e pela candidata para quem trabalhavam os suspeitos de terem violado esse direito pétreo do cidadão. Neste ínterim, o corregedor-geral da Receita, Antônio Carlos Costa d"Ávila Carvalho, reduziu pela metade (e, mais relevante, para antes do pleito de outubro e novembro) o prazo dado pelo secretário: 60 dias.

Até o terrível comissário Laurenti Beria, que a serviço de Stalin se comprazia em atirar na nuca de "inimigos do povo", morreria de inveja dos colegas petistas que violam o sigilo alheio em terminais de computadores e usufruem o inviolável direito de serem mantidos em segredo pelo espírito de corpo do chefe direto e pelo desprezo a tudo o que não lhe convier do chefão geral.

MÍRIAM LEITÃO

Risco BNDES 
Miriam Leitão 

O Globo - 21/07/2010

O BNDES hoje representa um orçamento paralelo. Ele financia empreendimentos que, na prática, são estatizados, escolhe que empresas devem crescer e as subsidia através do endividamento público. O que precisa ficar claro é que o banco sempre subsidiou empresários, mas a natureza do banco mudou. A escala é maior, a origem do seu dinheiro é outra, e o destino é cada vez mais discutível.

Tudo se passa assim: o governo transfere dinheiro para o BNDES através de supostos “empréstimos”.

Como teoricamente são empréstimos, não entram na dívida líquida. Na prática isso passou a ser uma das principais fontes de financiamento do BNDES.

Antes, o funding do banco era principalmente recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e do retorno dos empréstimos que haviam sido concedidos. Nos últimos anos, o Tesouro passou a encher os cofres do banco como uma capitalização travestida de empréstimo.

Só que o Tesouro se endivida a juros crescentes e em dívida de curto prazo. E o banco empresta a juros baixos e prazos longos.

Alguns dos grandes beneficiários dos empréstimos do banco são empreendimentos que o governo está apressando, na parte final do mandato, para servirem de vitrine eleitoral, como a hidrelétrica de Belo Monte, e, futuramente, o trem-bala. A maioria do empreendimento fica nas mãos do governo ou de fundos de pensão das estatais. É do governo o risco, portanto.

As empresas privadas, sócias nesses projetos, terão a vantagem de estarem em obras sem risco. E elas ainda conseguem empréstimos do BNDES para esses e outros negócios que têm interesse. O BNDES com capital que veio de endividamento público — só nos últimos dois anos foram R$ 180 bilhões — empresta para o próprio setor público ou para seus sócios diletos.

Há outra forma de atuação do banco que levanta legítimas preocupações: a reinvenção da ideia de criar “campeões nacionais”.

Dar empréstimos gigantes para empresas para que elas se tornem grandes no mundo em seus setores. Em entrevista ao “Estado de S. Paulo” no domingo, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, disse que tinha “até vergonha de o país não ter grandes empresas em setores que é competitivo.” Um desses setores a que ele se refere certamente é o de frigoríficos para o qual o banco tem aprovado empréstimos extravagantes. O JBS Friboi recebeu empréstimos de R$ 7,5 bilhões. Só de uma vez, o JBS fez um lançamento de R$ 3,47 bilhões em ações e o BNDES subscreveu 99,9% das ações vendidas. A família dona da empresa subscreveu os restantes 0,05%. E tanto dinheiro era para comprar a Pilgrim’s Pride Corporation, com a justificativa de ajudar o processo de “internacionalização da empresa”. Ou seja, financiar o frigorífico para ele comprar uma empresa no exterior. Em vários desses casos, o banco entrou também como sócio, subscrevendo ações das empresas. Fez isso também com a Marfrig: comprou debêntures da empresa para que ela tivesse capital e comprasse empresas nos Estados Unidos e na Irlanda. No pior caso no setor de carne, o BNDES comprou ações num total de R$ 250 milhões da empresa que logo depois entrou com um processo de falência, o Independência.

A vergonha não é não ter um grande frigorífico nacional comprando empresas no exterior, mas sim o fato de que eles precisem tanto de anabolizante estatal para crescer.

Pior, os frigoríficos brasileiros não conseguiram demonstrar que não compram carne de área desmatada. Ao final de seis meses do pacto feito com ONGs e empresas importadoras de produtos brasileiros, esses grandes frigoríficos pediram mais seis meses para comprovar se seus fornecedores são ou não de área desmatado.

Isso sim é vergonhoso.

Essa forma de atuação do BNDES recria dois vícios do passado. O Estado decidindo que empresa deve ser grande, e um banco público liderando um processo que na prática é expansionismo fiscal.

Isso acaba impactando também a política monetária porque entrará no cenário do Banco Central em sua análise para decidir sobre a elevação da taxa básica de juros.

Quando a diretoria tomar a decisão hoje na reunião do Copom, ela vai considerar, de um lado, os sinais benignos da economia brasileira, de redução da inflação e de diminuição da pressão de demanda, mas também terá que olhar os riscos futuros que esse expansionismo fiscal pode causar.

O que complica a situação do Banco Central é de novo a dualidade da política econômica. Enquanto o BC tenta conter a demanda para evitar a alta da inflação, o governo continua aumentando gastos através da atuação do BNDES ou de gambiarra para contornar limites ao endividamento público.

Foi o que acabou de acontecer esta semana com a decisão de permitir que alguns municípios se endividem acima do limite estabelecido pela Lei de Responsabilidade Fiscal.

Nada disso, como dolorosamente aprendemos, é inofensivo. Tudo cobra a sua conta mais cedo ou mais tarde. Na obsessão de fazer o sucessor, o governo Lula está criando — ou recriando — monstrengos na área fiscal.

A mais assustadora herança para o próximo governo será essa forma de atuação do BNDES, que traz de volta velhos vícios que nos causaram tantos problemas no passado.

DORA KRAMER

Ilegalidade que satisfaz 
Dora Kramer 

O Estado de S.Paulo - 21/07/2010

O PT quer que a vice-procuradora eleitoral, Sandra Cureau, se atenha a "falar nos autos" e cogita representar contra ela no Conselho Nacional do Ministério Público devido ao que o partido considera exorbitância de prerrogativas cometida pela procuradora.

Por esse entendimento, Sandra Cureau teria extrapolado de sua função ? de zelar pela observância da lei ? ao advertir que o presidente Luiz Inácio da Silva poderia vir a ser processado por abuso de poder por causa do uso da máquina pública em favor da candidata do PT (seis multas) à Presidência da República, Dilma Rousseff (seis multas).

De acordo com dirigentes do PT, Sandra Cureau transgrediu regras ao aconselhar o presidente Lula a "fechar a boca" antes que seja tarde demais e que ponha em risco a sobrevivência legal da candidatura oficial.

O PT alega preocupação com a legalidade do processo. De verdade não é nada disso. Se fosse, seu militante mais destacado, o presidente da República, não estaria exorbitando há tanto tempo e de tal maneira que deixará a marca da ilegalidade impressa na sua gestão.

O que o PT faz é exatamente o que diz o procurador-geral da República, Roberto Gurgel: intimida.

Ou melhor, tenta intimidar. A tática de arreganhar os dentes e em seguida se fazer de vítima já deu muito certo. Segundo explicou o marqueteiro João Santana em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo logo após a eleição de 2006, trata-se da aplicação da teoria do "fortão" e do "fraquinho".

"Os que se identificam com Lula o enxergam como o fortão, aquele que venceu todas as barreiras e se tornou poderoso. Quando ele é atacado o povão pensa que é um ato das elites para derrubar o homem do povo. Nesse caso, Lula vira o bom e frágil "fraquinho" que precisa ser protegido."

Santana, à época responsável pela campanha da reeleição e hoje mentor do programa de televisão de Dilma Rousseff, explicava sua tese a propósito da bem-sucedida estratégia no segundo turno daquela campanha quando, para se livrar dos efeitos da ação dos petistas pegos em flagrante comprando um dossiê contra os adversários, Lula se fez de vítima nacionalista dos tucanos entreguistas.

Já se havia feito de vítima de uma conspiração que inventou o mensalão, bem como se faz de vítima do preconceito disso ou daquilo sempre que lhe é conveniente ou que ouve algo que não gostaria de ouvir.

Como, por exemplo, a bem aplicadíssima reprimenda da vice-procuradora eleitoral. Sandra Cureau apenas repetiu o que vem sendo dito por magistrados.

Em maio, durante o julgamento de mais uma transgressão presidencial ? o uso do programa partidário como horário eleitoral ? o ministro Marco Aurélio Mello já havia advertido que a multa "não é a consequência mais séria" e que a repetição de infrações poderia ensejar abertura de processo por abuso de poder mais adiante.

De lá para cá essa vem sendo a tônica de repetidas manifestações da Justiça e de outros setores da sociedade, mais sensíveis para esse tipo de questão desde a aprovação da Lei da Ficha Limpa.

Por isso mesmo é que as atitudes do presidente Lula ficam cada vez mais desconectadas do contexto em que o clamor passou a ser pela correção e pela legalidade.

Brutalidades tais como referir-se a "uma procuradora qualquer aí" já não são mais vistas como simples acidentes dos improvisos presidenciais. Tantas Luiz Inácio da Silva fez que a tolerância das pessoas esgotou-se.

Agora o ambiente já não é mais de indiferença. Tanto que houve a reação forte da Procuradoria-Geral, da OAB e entidades afins, que não parecem mais dispostas a compactuar com a escalada de desrespeito à lei e à Constituição comandada pelo presidente da República.

Lula por duas vezes já disse que não transgrediria mais, o que o põe na condição de réu confesso. O PT, portanto, dissimula quando invoca o cumprimento da lei para justificar a ideia de representar contra a vice-procuradora.

Trata-se só de uma cena de ofendido. Para ver se o público se esquece do mais contumaz dos ofensores, cujo plano assumido é fazer dessa eleição uma guerra sob o lema "nós contra eles".

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Venha a nós o vosso reino 
Sonia Racy 

O Estado de S.Paulo - 21/07/2010

A Prefeitura de São Paulo concedeu alvará para a construção de uma réplica do Templo de Salomão pela Igreja Universal do Reino de Deus. Só não será de ouro e prata, como teria sido o original. Edir Macedo garante em seu blog que não usará metais preciosos para levantar o projeto de R$ 200 milhões. Serão 12 andares, 70 mil m² de área construída, ocupando um quarteirão inteiro. A altura, de 55 m, equivale a um prédio de 18 andares. Na Av. Celso Garcia, Brás, o templo poderá abrigar 10 mil fiéis com estacionamento para mil carros. Fica pronto em 4 anos.

No ar
Dois aviões Gulfstream - cujo preço pode chegar a US$ 50 milhões cada e que serviam antes ao narcotráfico - voarão agora para combater justamente o mesmo crime. Apreendidos na operação Aquário - com sentença do juiz Fausto De Sanctis no ano passado -, as aeronaves passam a pertencer à Coordenadoria Geral de Policiamento Aéreo.
A habilitação de pilotos para tanto está em curso.

Em terra
Na mesma operação apreendeu-se um C4 Palace que foi destinado à Polícia Federal. Já um Rolex e uma TV de plasma devem ir a leilão.

Lombada
Dos 211 executivos ouvidos pela pesquisa Amcham/Ibope, 86% consideram que investir em obra de infraestrutura no País é sinônimo de...problema.

Dentro deste quadro, ganha disparado o quesito falta de clareza na regulamentação dos projetos (37%). Em segundo lugar, com 13%, vem a instabilidade das agência reguladoras.

Cadê a bonança?
Não bastassem as chuvas que arrasaram São Luiz do Paraitinga, outro problema a assola: o estigma de cidade submersa, segundo conclusão de reunião na comunidade. Mesmo depois de o mercado municipal ter sido restaurado e as pousadas, reabertas.
A catedral, antes xodó dos turistas, tem agora visita guiada no canteiro de obras.

Leleô
Lula disse sim. Abriu o coração corintiano em depoimento que estará no longa Todo Poderoso Timão.
Estreia dia 30.

De olhos abertos
A brasileira Agrifirma, que tem como sócio Jacob Rothschild, o 4º barão de Rothschild, monta oferta pública de ações na Bolsa de Hong Kong.
Ideia concretizada, a empresa será a primeira brasileira de capital aberto na bolsa chinesa.
A Agrifirma compra áreas de vegetação rasteira, depois dá um upgrade às terras e as transforma em agrícolas. É sabido que a China tem grande interesse em comprar espaço fértil por aqui.

Xodó do Brasil
Kaká e Caroline Celico foram jantar, sábado, no Rodeio.
Apesar dos "apesares", o jogador foi aplaudidíssimo ao entrar.

Bola dentro
O antidoping será aplicado pela primeira vez em um torneio da Confederação Brasileira de Golfe - o Gillette Golf Cup, a partir de amanhã, no Rio. Tudo para adequar o esporte aos Jogos Olímpicos de 2016.
A modalidade não participa de uma olimpíada há... 112 anos.

Noves fora
Enquanto examina com quem e que tipo de associação fará, Eliana Tranchesi, da Daslu, atua na frente nacional. "Estamos nos concentrando no desenvolvimento da marca", disse ontem.

Acredite, sim
Enquanto o caso Bruno/Eliza não vira filme, Sonia Abrão mergulha no roteiro de outra história polêmica, a de Rafael Ilha.

A cinebiografia Um Anjo no Inferno será dirigida pelo irmão da apresentadora, Elias Abrão, e o ex-polegar será interpretado por... ele mesmo. O cantor está gravando depoimentos sobre seu envolvimento com as drogas e as tentativa de suicídio para serem inseridos nos diálogos.


Na frente
Washington Olivetto, Sergio Valente e Fábio Fernandes são os novos integrantes do Projeto Acredite, livro com depoimentos sobre o mercado publicitário.

O livro O Último Cafezal, de Domício Pacheco e Silva, é lançado hoje, na Livraria da Vila da Lorena.

A Casa8 promove leilão de arte. Amanhã, nos Jardins.

Theodoro Cochrane e Alicinha Cavalcanti atacam de DJ no Bar Secreto. Amanhã.

Seu Jorge desembarca nos EUA com a banda Almaz para turnê em 17 cidades. Sexta.

Frase na internet, ante a avaliação do Enem: "No futebol, o Brasil ficou em 6º entre os melhores do mundo e todos choraram. Na educação, é 85º na lista e ninguém reclama".

EDITORIAL - O GLOBO

A Copa não pode se tornar um grande Pan
EDITORIAL
O GLOBO - 21/07/10
Ao assinar a medida provisória com benefícios financeiros para as cidades que sediarão jogos da Copa de 2014, o presidente Lula alertou para o risco de a organização do Mundial repetir os erros registrados nos Jogos PanAmericanos de 2007, no Rio. Na época, os atrasos nas obras (de construção ou de reformas das praças esportivas, no sistema viário e na rede de transportes), o planejamento tíbio e a falta de articulação entre os governos federal, estadual e municipal levaram a União a aumentar para R$ 2 bilhões sua participação nos gastos com a competição, inicialmente orçada entre R$ 400 milhões e R$ 600 milhões.

A advertência é justificada, mas está com o prazo de validade vencido. O Brasil ganhou o direito de promover a Copa há três anos, e até agora os passos dados — ou que deixaram de ser dados — indicam que, se o roteiro do Mundial não for radicalmente alterado, o país promoverá um novo e mais encorpado Pan, naquilo de mais condenável que se registrou em todo o processo de organização dos Jogos do Rio.

A começar pelo tamanho do aporte financeiro, sob quaisquer rubricas, do governo federal. Se no Pan a participação da União aumentou de quatro a cinco vezes entre o resgate do caderno de compromissos e o fim da competição, desta vez Brasília deixará espetada no bolso do contribuinte uma fatura dez vezes maior do que a dos Jogos cariocas.

Pior: isto, depois de a CBF ter garantido que o Mundial seria feito com recursos privados.

Assim como a promessa do hexa na África não passou de uma bravata, o ideal de uma Copa que convocasse o empreendedor privado não está passando de um devaneio, devido a uma equação bem conhecida no Brasil, cuja fórmula foi aperfeiçoada no Pan: quanto mais os prazos para as obras encolhem, maior é a distância do capital privado e, na mesma medida, maior a necessidade de recurso ao socorro oficial.

Não se questiona a participação do poder público num evento que há de trazer divisas para o país. Mas é deplorável que, depois de três anos, as verbas sejam preferencialmente de fontes oficiais. Neste jogo em que se desenha, outra vez, uma corrida aos cofres públicos para saldar compromissos, é preocupante o desconhecimento de critérios de um socorro financeiro que libera créditos para construção/reforma de estádios sem que se saiba sequer qual a dimensão das obras. A mesma falta de transparência encobre a retirada do Morumbi da Copa — e corre-se o risco de legar ao maior estado da Federação apenas jogos de médio porte.

Mais grave ainda do que a questão dos estádios é a dos aeroportos. Anunciam-se créditos de R$ 5,6 bilhões para o setor, mas sem que se fale em mudar o sistema de administração dos terminais, controlados pela Infraero, uma estatal cobiçada pelo clientelismo, e hoje o maior entrave ao sucesso da Copa.

Injetar mais dinheiro na incompetência estatal, apenas por interesses políticos da máquina companheira do Planalto, é dar combustível para um desastre administrativo.

Diante das críticas aos atrasos, Lula argumenta que era preciso tempo para escolher as cidades-sede e discutir reformas e construção de estádios. Mas a questão dos aeroportos já poderia ter sido resolvida desde o anúncio da Copa no Brasil.

É um erro que o Mundial seja feito preferencialmente com dinheiro público

PAINEL DA FOLHA

Dobradinha
RANIER BRAGON (interino)
FOLHA DE SÃO PAULO - 21/07/10

Tema prioritário da campanha de Dilma Rousseff (PT), com menções em discursos e no programa de governo, a inovação tecnológica vai receber um “gás” do governo na semana que vem. Entre segunda e terça, estão previstas na agenda de Lula ao menos duas grandes reuniões internas, uma com foco na tecnologia para o pré-sal, outra no setor automobilístico. 

A expectativa é que dali saia o rabisco de novas iniciativas governamentais na área para o curto prazo. Dilma e o Planalto têm promovido “ações casadas” na atual campanha, sendo uma das mais vistosas o plano governamental de combate ao crack, ideia que veio a público, primeiro, na voz da candidata. 
Cabo... - A cúpula petista já recebeu sinais de que Lula não tem intenção de aparecer na propaganda de TV ao lado de ao menos dois candidatos do partido ao Senado: Paulo Paim (RS), autor de benesses a aposentados que azucrinaram o Planalto, e Delcídio Amaral (MS), que presidiu uma das CPIs do escândalo do mensalão. 
...eleitoral - O presidente também enviou emissários ao Rio para tentar evitar que a disputa pelas duas vagas ao Senado atrapalhe a vida de Sérgio Cabral (PMDB) ou de Dilma. Lula tem dito que ficará longe da campanha de Jorge Picciani (PMDB), mas que ajudará Lindberg Farias (PT) e Marcelo Crivella (PRB). 
Ciclo - O Tribunal de Contas de São Paulo rejeitou ontem as contas de 2008 da Prefeitura de Diadema, fechando um pacote de desaprovação de todos os oito anos da gestão José de Filippi Júnior (2001-2008), tesoureiro da campanha de Dilma. O argumento principal é que Filippi não investiu o mínimo exigido no ensino. Com maioria do PT, a Câmara de Diadema tem, porém, derrubado os pareceres do tribunal. 
Outro lado - Filippi diz que vai recorrer e que as rejeições anteriores foram motivadas pela prioridade às creches, o que retirou recursos do ensino fundamental. “Fizemos um pacto para não fechar creches. Até a oposição na Câmara votou pela aprovação das contas.” 
Nacional - Também tesoureiro da campanha petista de 2006, Filippi lembra que as contas da reeleição de Lula já foram aprovadas, diferentemente das dos tucanos, ainda em análise. 
Bateria - Após a repercussão das declarações de Indio da Costa (DEM-RJ), parte da campanha de José Serra (PSDB) já discute a abordagem de novos temas: a relação dos petistas com Hugo Chávez, a comparação de presos políticos cubanos a presos comuns, feita por Lula, e a defesa do terrorista Cesare Battisti. O mensalão ficou de fora, porém. Tucanos avaliam que isso reavivaria o panetonegate do DEM. 
Borracha - A biografia de Geraldo Alckmin (PSDB) em seu site oficial ignora a derrota do tucano na disputa à Prefeitura de São Paulo em 2008, quando não chegou nem ao segundo turno. 
Poça - Da deputada Manuela D’Ávila (PC do B) anteontem, no Twitter: “Cenas da campanha com chuva: parar na loja mais barata e comprar meias para trocar.” 
Veja bem - O governo do Acre afirma que a estrela vermelha no helicóptero comprado da Helibras em 2008 faz parte da bandeira do Estado. E que a negociação ocorreu via licitação. 
Tiroteio
Depois do José Alencar, o brasileiro ficou exigente. Serra tinha 15 nomes para vice. Escolheu o mais desqualificado e imaturo. 
DE NILMÁRIO MIRANDA (PT-MG), ex-ministro da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, sobre as declarações de Indio da Costa (DEM), segundo quem o PT é ligado às Farc e ao narcotráfico. 
Contraponto
Quebrando o gelo 
Paulo Skaf (PSB), candidato ao governo paulista, e Benjamin Steinbruch, seu substituto no comando da Fiesp, se conhecem de longa data. Há 31 anos, quando Skaf se casou, ficou combinado que ele ganharia do amigo uma geladeira. “Um desses modelos modernos”, como pediu à época. 
-Tinha visto uma da liquidação... - respondeu, encabulado, o “padrinho”. 
Recentemente, quando Skaf completou aniversário de casamento, já candidato ao Palácio dos Bandeirantes, Steinbruch lhe enviou um frigobar.

RUY CASTRO

Denunciando


RUY CASTRO
FOLHA DE SÃO PAULO - 21Q07/10


Não importa a notícia. Tanto pode ser o candidato a vice de Serra, Indio da Costa, acusando o PT de flertar com o narcotráfico quanto o assalto a um banco, outro dia, em Santa Bárbara do Oeste (SP), hilário porque, ao chegar ao caixa com a arma, o assaltante gago não conseguiu desembuchar – ambos perderam uma boa oportunidade de afinar melhor o discurso. Mas, ao pé destas ou de qualquer matéria on-line, vêm as opções: 'Comente. Imprima. Compartilhe. Envie. Etc.'. E a mais intrigante: 'Denuncie'. 
Ao ouvir o verbo denunciar, a imagem que nos vem à mente é a de alguém dando conhecimento a outro do malfeito de um terceiro. E isso pode ser feito legalmente, na forma de uma acusação formal, ou pela infâmia da delação, o crime sem perdão. Nos dicionários de português, do Moraes ao Houaiss, não há outro sentido para denunciar.
Mas, em inglês, língua de onde se origina o internetês porcamente traduzido que usamos, há vários outros. 'Denounce' [dináunnss], diz o Vallandro, além de 'denunciar, delatar, acusar publicamente', é também 'protestar contra, atacar, verberar, estigmatizar, ameaçar, anunciar, profetizar' etc.
Donde, o que eles estão nos propondo quando nos convidam a 'interagir', 'denunciando' tal ou qual matéria, é que manifestemos nosso desagrado quanto à notícia em si ou quanto à maneira parcial, tendenciosa, mal apurada ou cheia de erros com que ela foi tratada no veículo. Não quer dizer que você deva ir correndo denunciá-la à Associação Brasileira de Imprensa, à Academia Brasileira de Letras ou à delegacia mais próxima.
Da mesma forma, ainda estou tentando entender por que 'initialize', em português, tornou-se 'inicializar', e não 'iniciar'. Ou por que você deve 'inicializar' o computador quando pretende, ao contrário, desligá-lo. Mas aprenderei, aprenderei.

ANDRÉ MELONI NASSAR

Gêmeas siamesas
André Meloni Nassar 
O Estado de S.Paulo 21/07/10

Quando o debate internacional sobre o programa de enriquecimento de urânio do Irã estava bombando, o ministro Celso Amorim escreveu artigo em jornal estrangeiro no qual, ao defender a crescente importância dos países emergentes no cenário internacional, exaltou, entre outros fatos, as conquistas obtidas por esse grupo de países na Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC). Colocar na mesma cesta uma negociação com objetivos comerciais e questões de segurança e governança global revela - sem nenhum julgamento de valor da magnitude da importância de cada uma delas - um grande problema da política externa brasileira: o desinteresse em reconhecer que diplomacia política e política comercial são uma via de mão dupla que não se estabelece se a primeira subjuga a segunda. Viabilizar o desenvolvimento destas gêmeas siamesas, portanto, é a saída disponível para que a comercial volte a florescer no Brasil.

Não se põe em dúvida o objetivo definido pela política externa brasileira de tornar o Brasil protagonista mundial em temas como segurança e paz, ajuda humanitária e, com um pouco de otimismo, governança global e integração regional. Mas será possível atingir esse protagonismo com uma política comercial nanica? A meu ver, não.

Embora essa busca por protagonismo possa ser exercida de muitas outras formas que não as escolhidas pelo governo Lula, muitas razões podem ser evocadas para justificar a opção feita pela diplomacia no poder. Além disso, o Itamaraty é uma burocracia reconhecida como competente e capacitada para dialogar com outras nações e, principalmente, com o devido grau hierárquico e estabilidade necessários para que os diplomatas sigam à risca as opções tomadas pelos cabeças do Ministério.

Até pouco tempo atrás a diplomacia brasileira, em suas declarações públicas, ainda se preocupava em explicar as decisões tomadas em política comercial, sobretudo no contexto da Rodada Doha, com argumentos de comércio exterior. Após o episódio das negociações com o Irã e encorajada por diversas reações positivas no exterior quanto ao papel do Brasil no assunto, a diplomacia esqueceu suscetibilidades e deixou aflorar a real razão das ações de política externa do País: a busca de protagonismo internacional na área de segurança e governança global. E as recentes afirmações enaltecendo a criação do G-20 da OMC como estratégia de mudança na relação de poder nas negociações comerciais multilaterais jogaram uma pá de cal na esperança de quem, como eu, ainda acreditava que havia alguma motivação comercial nas ações da diplomacia na Rodada Doha.

A culpa pelo esquecimento da política comercial, ao longo do tempo e no governo atual, não é só do Itamaraty. Num país que ainda utiliza tarifas de importação como um mecanismo démodé de política industrial não se poderia esperar nada diferente. Sem pressão alguma das demais áreas do governo, do Congresso Nacional e dos setores industriais para dar resultados na área comercial, a diplomacia encontrou um meio de cultura ideal para privilegiar o componente político e negligenciar o componente comercial da política externa.

Com as coisas às claras na política externa, fica mais fácil explicar os insucessos do Brasil em liderar o Mercosul para fazer um acordo de comércio com a União Europeia e o enterro da negociação da Área de Livre Comércio das Américas. O governo brasileiro simplesmente não tinha interesse em finalizar os dois acordos porque nenhum deles contribuía para a estratégia de protagonismo mundial. Agora que o Brasil já se tornou um protagonista mundial e finalmente, na perspectiva da diplomacia, colocou o "pé na porta" no jogo da segurança global, é hora de o Itamaraty colaborar para que a política comercial caminhe por suas próprias pernas.

O tema de política comercial está a um passo de ser sepultado no Brasil. Como se as razões de sempre não fossem suficientes - alta carga tributária, elevado custo de logística, baixo nível de investimento em inovação e câmbio valorizado -, o argumento de que a economia se está desindustrializando pela concorrência dos produtos importados e pela crescente concentração da pauta exportadora em commodities pode levar o País a esquecer por mais quatro anos os acordos comerciais. Vê-se que a política comercial precisa urgentemente de um patrocinador no governo, e esse patrocinador, ironicamente, tem o mesmo nome do seu algoz: Itamaraty.

Na busca por protagonismo mundial nos últimos oito anos, o Brasil abriu mão de quatro grandes benefícios que resultam de acordos comerciais: promoção de investimentos, transferência de tecnologia e inovação; apoio a mecanismos de agregação de valor às exportações, estimulando o crescimento de ambos os setores de valor adicionado e de commodities; suporte à estratégia de busca pelo protagonismo internacional; fonte de pressão para a execução das reformas estruturais de que o setor industrial necessita.

Para não excluirmos a política comercial de vez da agenda, duas mudanças são necessárias. A primeira é governo e setores industriais reconhecerem que acordos comerciais promovem o ganho relativo, e não o absoluto. Mesmo que um acordo comercial não promova ganhos absolutos evidentes para a economia brasileira (por exemplo, no saldo entre setores ganhadores e perdedores, que é um raciocínio simplista de avaliação de acordos muitas vezes utilizado no País), os ganhos relativos associados a se ter acesso privilegiado em comparação a outros países precisam ser avaliados. A segunda é dar independência para a formulação da política comercial, tirando de hibernação forçada a área econômica do Itamaraty e coordenando suas ações com as políticas de promoção comercial e as ações de promoção de investimento. Assim, o País pode perseguir os seus objetivos de diplomacia política sem canibalizar os de política comercial.

DIRETOR-GERAL DO INSTITUTO DE ESTUDOS DO COMÉRCIO E NEGOCIAÇÕES INTERNACIONAIS (ICONE)

ANCELMO GÓIS

Superuniversidade 
Ancelmo Góis 

O Globo - 21/07/2010

Está em estudo a criação de uma superuniversidade federal.

A iniciativa, pioneira no Brasil, virá do consórcio de sete federais do Sudeste de Minas (Alfenas, Itajubá, Juiz de Fora, Lavras, São João Del Rei, Ouro Preto e Viçosa), que passariam a trabalhar em conjunto, otimizando recursos financeiros e humanos.

Segue

A superuniversidade já nasceria entre as três maiores do país com 3,5 mil professores, quatro mil técnicos administrativos, 41 mil alunos na graduação e 5,3 mil na pós-graduação.

Prédio Dr. Brito

O prédio onde funcionou durante muito tempo o “Jornal do Brasil”, na Av. Brasil 500, no Rio, e que vai sediar o novo hospital do Into, passará a se chamar Nascimento Brito, em homenagem ao empresário que comandou o jornal durante 51 anos.

Poço seco

Um investidor que aplicou R$ 1 mil na Petrobras PN no início do ano, agora tem R$ 755.

Moulin Rouge

Zsa Zsa Gabor, a atriz húngara de 93 anos, que foi hospitalizada em Los Angeles segunda após cair da cama, tem um sobrinho neto famoso no Brasil.

É o cantor, compositor e ator Eduardo Dussek, que fez recentemente grande sucesso no espetáculo “Sassaricando”, de Sérgio Cabral e Rosa Maria Araújo

Parque infantil

Ontem, Kaká brincava na montanha-russa na Disney.

O aprendiz

A OGX Petróleo e Gás precisava contratar quatro engenheiros de perfuração com salário de R$ 4,5 mil (mais pagamento de bônus).

Apareceram 1.200. Durante o processo de seleção, ficaram 600, 300... 100 e, finalmente, 12 candidatos.

Segue...

Eike Batista, no melhor estilo Donald Trump, resolveu entrevistar, pessoalmente, os 12 moicanos.

No final, contratou todos.

Que sejam felizes!

Teta amiga

Pesquisa do Pew Research Center mostrou que 56% dos americanos gostariam que seus filhos “quando terminassem a escola” procurassem “uma carreira no governo”.

Deve ser terrível viver num lugar onde a maioria das pessoas quer mamar nas tetas públicas.

Aécio é neutro

Veja que fofo. A campanha de Aécio Neves ao Senado por Minas será “neutra em carbono”.

A Fundação SOS Mata Atlântica vai determinar o número de árvores a serem plantadas para compensar a quantidade de carbono emitido durante a sua campanha. A moda de carbon neutral ganhou o mundo e já é adotada por empresas, artistas e até mesmo pela Fifa, como mostrou na Copa da África do Sul.

Roubo de cargas

A Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas do Rio faz hoje uma megaoperação para prender uma quadrilha que fez 35 roubos nos últimos oitos meses, desviando mais de R$ 3 milhões.

Agia com fuzil, colete à prova de balas e touca ninja.

Rosas amarelas

Veja a força do nome Carmen Miranda.

No 55° aniversário de morte da artista, dia 5 de agosto, fãs combinam encontro no Cemitério São João Batista para lhe prestar homenagem com rosas amarelas, as suas preferidas.

Porto Maravilha

O Laboratório Bronstein é uma das empresas que vão se mudar para a região do Porto do Rio, estimulado pelos incentivos fiscais da prefeitura.

Aliás...

Lula marcou um golaço ao liberar as áreas federais do Porto do Rio para a prefeitura, acerto que se arrastava há vários governos.

Agora vai.

ELIO GASPARI

História não é maconha, para ser queimada
ELIO GASPARI
O GLOBO 21/07/10

A professora Silvia Hunold Lara, da Unicamp, pede que o Congresso socorra a História do Brasil. Há cerca de um mês uma comissão de sábios entregou ao Senado um anteprojeto de reforma doCódigo de Processo Civil que prevê a incineração, depois de cinco anos, de todos os processos mandados ao arquivo.

Querem reeditar uma piromania de 1973, revogada dois anos depois pelo presidente Ernesto Geisel.

Se a História do Brasil for tratada com o mesmo critério que a Polícia Federal dispensa à maconha, irão para o fogo dezenas de milhões de processos que retratam a vida dos brasileiros, sobretudo daqueles que vivem no andar de baixo, a gente miúda do cotidiano de uma sociedade. Graças à preservação dos processos cíveis dos negros do século XIX conseguiuse reduzir o estrago do Momento Nero de Rui Barbosa, que determinou a queima dos registros de escravos guardados na Tesouraria da Fazenda.

Queimando-se os processos cíveis, virarão cinzas os documentos que contam partilhas de bens, disputas por terras, créditos e litígios familiares. É nessa papelada que estão as batalhas das mulheres pelos seus direitos, dos posseiros pelas suas roças, as queixas dos esbulhados.

Ela vale mais que a lista de convidados da Ilha de “Caras” ou dos churrascos da Granja do Torto.

A teoria do congestionamento dos arquivos é inepta. Eles podem ser microfilmados ou preservados digitalmente. Também podem ser remetidos à guarda de instituições universitárias. O que está em questão não é falta de espaço, é excesso de descaso pela História do povo.

Pode-se argumentar que os processos com valor histórico não iriam ao fogo, mas falta definir “valor histórico”.

Num critério estritamente pecuniário, quanto valeria o contrato de trabalho assinado nos anos 50 por uma costureira negra de Montgomery, no Alabama? Certamente menos que um manuscrito de Roger Taney, o presidente da Corte Suprema dos Estados Unidos que deu o pontapé inicial para a Guerra Civil. Engano.

Uma simples fotografia autografada de Rosa Parks, a mulher que desencadeou o boicote às empresas de ônibus de Montgomery e lançou à fama um pastor de 29 anos chamado Martin Luther King, vale hoje US$ 2.500. O manuscrito encalhado de Taney sai por US$ 1.000.

O trabalho dos sábios incineradores está com o presidente do Senado, José Sarney, cuidadoso curador de sua própria memória e membro da Academia Brasileira de Letras. Como presidente da República, autorizou a queima dos arquivos da Justiça do Trabalho. Com isso mutilou a memória das reclamações de trabalhadores, de acordos, greves e negociações coletivas.

A piromania é fruto do desinteresse, não da fatalidade. O STF, os Tribunais de Justiça de São Paulo, do Rio de Janeiro e de Rondônia, bem como o TRT de Rio Grande do Sul, acertaram-se com arquivos públicos e universidades para prevenir o incêndio.

Há mais de uma década a desembargadora Magda Biavaschi batalha na defesa dos arquivos trabalhistas, mas pouco conseguiu. Lula ainda tem mandato suficiente para agir em relação à fogueira trabalhista e para alertar sua bancada na defesa dos arquivos cíveis. Milhares de processos estimulados pelas lideranças sindicais dos anos 70, quando ele morava no andar de baixo, já viraram cinzas.

Os sábios querem tocar fogo na memória dos processos cíveis dos brasileiros