quarta-feira, junho 23, 2010

ROLF KUNTZ

A mãe das prioridades
ROLF KUNTZ
O Estado de S. Paulo - 23/06/2010
A mãe de todas as prioridades do próximo governo terá de ser o poder de competição, se o sucessor ou a sucessora do presidente Lula quiser garantir um crescimento econômico seguro e sem sustos. A deterioração das contas externas continuou em maio, com mais um déficit nas transações correntes ? desta vez de US$ 2,02 bilhões. O buraco já chegou a US$ 18,75 bilhões no ano, quase o triplo do verificado nos primeiros cinco meses de 2009, US$ 6,60 bilhões. Até dezembro deverá totalizar US$ 49 bilhões, ou 2,49% do Produto Interno Bruto (PIB), se estiver certa a projeção do Banco Central (BC).

Há más notícias tanto para quem olha mais o lado financeiro quanto para quem se preocupa com o chamado lado real da economia ? detalhes como a cadeia de produção, o investimento e o emprego.

Segundo a turma da visão financeira, o Brasil poderá manter e provavelmente manterá contas correntes deficitárias por alguns anos e conseguirá sem muita dificuldade financiar a diferença. Com isso, captará poupança externa e poderá acelerar seu crescimento econômico. Mas é preciso acrescentar pelo menos um senão a esse raciocínio. A qualidade do financiamento tem caído. Neste ano, o investimento direto estrangeiro tem sido e será até dezembro insuficiente para cobrir o déficit em transações correntes. O BC reduziu de US$ 45 bilhões para US$ 38 bilhões a projeção de ingresso líquido desse recurso.

Mas o financiamento é só a menor parte do problema. Para começar, o déficit em conta corrente está longe de ser saudável. Seria, provavelmente, se resultasse de um enorme esforço nacional de investimento. Não é o caso. Há vários anos o Brasil tem conseguido investir, nos melhores momentos, cerca de 18% do PIB. É uma taxa insuficiente, segundo a maioria dos analistas, para manter um crescimento acima de 5% ao ano.

O excesso de demanda resulta não de um surto incontrolável de formação de capital, mas de uma rápida expansão do consumo, alimentada, em boa parte, pelo gasto corrente do setor público. Outro fator de grande peso tem sido o aumento do crédito aos consumidores, confirmado em cada relatório de política monetária. Nos anos 90, o Brasil já caiu na armadilha de aceitar o crescente buraco na conta corrente como se isso contribuísse para apressar o crescimento. Não poderia contribuir, exceto por um prazo muito curto, porque o financiamento externo sustentava muito mais o consumo que o investimento.

O perigo mais importante está na conta de mercadorias. Neste ano, até a terceira semana de junho, o País acumulou um superávit comercial de US$ 7,39 bilhões, 40,3% menor que o de um ano antes. Nesse período, o valor exportado foi 27,98% maior que o de igual período de 2009, mas o gasto com a importação ficou 44% acima do contabilizado no ano anterior. Esse descompasso se explica em parte pela diferença entre o crescimento econômico brasileiro e o da maior parte dos demais países. É também atribuível em parte ao câmbio, porque o real valorizado encarece o produto nacional e barateia o estrangeiro.

Mas o problema tem sido compensado, em boa medida, pelo aumento do preço internacional das matérias-primas. O crescimento das economias emergentes, especialmente da China, tem ajudado a sustentar os preços dos produtos básicos. Sem isso, as exportações teriam rendido menos. Mas a indústria chinesa continua deslocando a brasileira na Europa, nos Estados Unidos e na América Latina. Os dois últimos têm sido tradicionalmente os principais destinos dos manufaturados brasileiros e também nesse campo o Brasil está perdendo.

O câmbio resulta de um conjunto de desajustes. Juros altos são parte desse complexo e o principal componente é a demanda excessiva do governo. Mas poder de competição não depende só do câmbio. Essa dependência, no Brasil, é uma velha distorção. Outros fatores de competitividade, como os integrantes do famigerado custo Brasil, permanecem quase intocados. Política de competitividade, nos últimos sete anos e meio, foi só uma figura de linguagem.

A campanha eleitoral só terá alguma seriedade quando os candidatos começarem a discutir esse conjunto de problemas ? sem prometer mágicas cambiais ou de qualquer outro tipo. Sem o tema da competitividade no topo da agenda, ninguém poderá falar com um mínimo de credibilidade sobre crescimento econômico, modernização produtiva e criação de empregos. Todos os tópicos importantes de um programa de governo, incluídos os chamados itens sociais, como educação e saúde, são itens dessa pauta, porque só articulados dessa forma se tornam sustentáveis.

CELSO MING

Trapalhadas na Petrobrás

Celso Ming
O Estado de S. Paulo - 23/06/2010
 
O governo e a diretoria da Petrobrás fizeram enormes trapalhadas no processo de capitalização da empresa, operação que seria destinada a ser uma das maiores ofertas públicas de ações do mundo. Ontem à noite, a estatal divulgou comunicado informando que adiou de julho para setembro a oferta pública de ações. Depois de passar meses garantindo que não haveria plano B para o aumento de capital, segunda-feira o presidente do Conselho de Administração da estatal, ministro Guido Mantega, admitiu em Brasília que o governo está, sim, estudando um plano alternativo de capitalização.
Para dispersar quaisquer rumores sobre a existência de um plano B, a diretoria da Petrobrás afirmara, reiteradas vezes, que contava com a aprovação do Senado do projeto de lei que autoriza a cessão onerosa, instrumento pelo qual a União subscreverá a sua parte no aumento de capital com transferência de 5 bilhões de barris de petróleo de suas jazidas no pré-sal. Assim, ficamos sabendo que, para a diretoria da Petrobrás, o único fator que estaria atrasando o início do processo e a definição das regras do jogo era a demora do Senado em cumprir sua parte. Pois o Senado afinal aprovou o projeto de lei no último dia 10 e agora vem esse aviso aí de que passou a ser necessário um plano B, porque a Agência Nacional do Petróleo (ANP) só ontem contratou a consultoria que fará a avaliação do petróleo in situ que entrará como parcela de subscrição do Tesouro.
A contratação dessa avaliadora já é, por si só, uma história esquisita. Em abril, a ANP convocou licitação para a escolha da consultoria que tinha até outubro para apresentar sua avaliação. Na semana passada, a ANP anunciou que anulara a licitação porque apenas um interessado se apresentara e, ainda assim, com falhas de documentação. Por isso, faria a contratação direta do serviço de avaliação.
Independentemente disso, e já sabendo que não poderia contar com um laudo definitivo de certificação até o início de julho, o Conselho de Administração da Petrobrás autorizara em abril a diretoria a usar provisoriamente a avaliação a ser fornecida pela DeGolyer & MacNaughton, empresa independente contratada pela estatal. Como afirmara então o diretor de Finanças da Petrobrás, Almir Barbassa, para todos os efeitos prevaleceria a avaliação da contratada pela ANP. Eventual diferença entre os laudos seria compensada mais adiante.
Surpreendentemente, só agora a diretoria da Petrobrás se deu conta de que a cessão onerosa não pode acontecer sem a certificação contratada e chancelada pela ANP, como está na lei (artigo 3.º, parágrafo único), texto que aparentemente não vinha sendo lido com atenção pela empresa.
Até mesmo o plano B, como avançado por Mantega, se basearia numa manobra a ser providenciada por meio de um contrato de partilha arranjado entre a União e a Petrobrás. O problema é que o sistema de partilha tem de voltar a ser examinado pela Câmara, que não tem prazo para isso.
O presidente da empresa, José Sergio Gabrielli, que desde o dia 2 se declara em silêncio, ontem abriu a boca para afinal admitir que "uma alternativa teórica" está sendo considerada. A diretoria da empresa parece confusa, tentando improvisar saídas para a embrulhada.

FERNANDO DE BARROS E SILVA

Subdunguismo na Rede
FERNANDO DE BARROS E SILVA
FOLHA DE SÃO PAULO - 23/06/10


"Entre a velha promiscuidade da CBF com a Globo e a truculência de Dunga no trato com os jornalistas, a escolha é muito simples: criticar as duas.

"O monopólio do acesso à seleção, derivado da audiência e obtido durante várias Copas pela Globo, fez fermentar uma cultura bocó e nociva, na qual as fronteiras entre jornalismo verde-amarelo e negócios nem sempre foram claras. Isso, é bom destacar, a despeito da seriedade e da qualidade de muitos profissionais que atuam na emissora.

"Até mesmo num assunto tão sério como o futebol, a sociedade ganha quando há pluralismo, opções de escolha, debate, divergências - enfim, imprensa independente.

"Quando se volta contra profissionais da Globo, Dunga não está preocupado com o direito à informação desimpedida. Isso não existe no seu horizonte. Ele não aceita, não tolera e não perdoa a crítica. E exibe isso com um grau de franqueza que deve incomodar o espírito de compadrio & cia. que rege a CBF.

"Dunga é uma figura tosca e autoritária. Naquela instrutiva entrevista que concedeu ao convocar a seleção, disse que não poderia avaliar se a ditadura brasileira foi boa ou ruim: 'Só quem viveu é que pode nos dar a resposta'. Não satisfeito, foi mais longe: 'É a mesma coisa sobre a época da escravidão. Eu não vivi, como é que vou dizer - ah, era ruim, era bom, não sei'.

"Depois da história, a moral e cívica; depois da teoria, a aula prática: na sua recente coletiva, o 'professor' primeiro interpelou de forma intimidatória o repórter da SporTV que havia balançado negativamente a cabeça - 'algum problema?'. A seguir, o insultou com palavrões em voz baixa, repetidas vezes.

"Foi o que bastou para que o assunto invadisse a seara política. Na blogosfera, militantes do PT e da candidatura Dilma Rousseff transformaram o técnico em herói da resistência antiglobal.

"Espalhou-se na rede um subdunguismo eleitoral. Soa como um sintoma - como dizer? - de fascismo democrático".

JOSÉ (MACACO) SIMÃO

Dunga fez Plim Plim
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 23/06/10


O Dunga tá emBURRADO! "Dunga em Um Dia de Fúria" destrói até o McDonalds!



BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! Direto da Cópula do Mundo.
O Dunga fez PLIM PLIM nas calças! O Dunga xingou o jornalista da Grobo de cagão! É propaganda de Activia?!
E o "Eramos6": o Dunga deu seu PALAVRÃO DE HONRA de que não xinga mais jornalista!
E a Globo tá recrutando voluntários para a África do Sul. Missão: entrevistar o Dunga sem levar chute no saco. Rarará!
E o Dunga emBURRADO não quer oba-oba da mídia. Tá certo! Concordo com o Dunga. Senão vai ser isso o dia inteiro: as câmeras invadem a concentração e "Robinho, dança um pagode aí pra gente", "Luis Fabiano, manda aquele beijo pra vó Creusa", "Vamos Elano, aquela embaixadinha exclusiva para a Rede Globo".
A Fátima Bernardes virou Branca de Neve. E tô adorando o desfile de cachecóis da Fátima!
E a ARGH....entina? Los Hermanos despacharam Los Gregos! Guenta o Maradona. O Nelson Ned da Argentina! Sabe o que ele tava gritando no campo? A COCA DO MUNDO É NOSSA! Rarará!
Acho que o Maradona tá de caso com esse Messi. Que tanto agarra! "Messeu com o Messi, messeu comigo!". Rarará!
E a frase que está escrita no busão da seleção da Grécia: "Me empresta 10 real pra pagar o pedágio". Rarará!
E a França? Ops, a FRANGA! O novo slogan da França: Liberté, Egalité e Vancifudé! A França tá voltando pra casa. Mas tá voltando pra Paris. Essa é a diferença!
Bafafá francês! Lavaram a roupa suja na Copa! Haja sabão. O jogador xingou o técnico de sujo. Francês já não toma banho, e ainda é xingado de sujo? Pleonasmo! Rarará!
O vilão é o técnico. Também pudera, o técnico tem nome de conhaque: Domeneq!
Castigo pro técnico da França: só pode tomar vinho Sangue do Boi pro resto da vida! As baguetes viraram brochetes!
E a Dungamania: se alguém me encher o saco, eu chamo de cagão numa boa! O "Dunga em Um Dia de Fúria" destrói até o McDonald's! E, se o Dunga me provocar, eu dou uma voadora nele. Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno.
E força na vuvuzela!

TUTTY VASQUES

Maradona, o bom exemplo


TUTTY VASQUES
O ESTADO DE SÃO PAULO - 23/06/10
O gesto grosseiro do francês Raymond Domenech, que ontem recusou o cumprimento de Carlos Alberto Parreira ao final de África do Sul 2 x 1 França, tirou Dunga do isolamento. A falta de educação pode ser uma tendência geral entre os técnicos de seleção nesta Copa do Mundo. O da Eslováquia, Vladimir Weiss, deixou a imprensa falando sozinha aos 40 segundos de entrevista rolando após derrota de seu time. Saiu irritado pela segunda vez nesta semana de uma coletiva.
A elegância está tão fora de moda no exercício da profissão nesta Copa que Maradona é sério candidato ao prêmio Fair Play da categoria ao final do Mundial. Sério! Se, com Pelé, o técnico da Argentina não chega a ser um gentleman, pelo menos ainda não xingou jornalistas e até teve a gentileza de pedir desculpas a Platini quando entrou mais duro, desnecessariamente, no ex-craque francês.
De todos os técnicos em atividade na África do Sul, foi o único que vi sorrindo, brincando, provocando, fazendo pose, explodindo de felicidade, tudo como manda o figurino do futebol. Ok, ok, de terno e terço entre os dedos à beira do campo ele fica ridículo, mas, em se tratando de Maradona, convenhamos, está bom demais. Melhor só se um tropeço diante do Brasil poupá-lo da promessa de ficar nu no obelisco.
A mulher da vez
O que faz a Mulher Melancia que não aproveita o gancho da Copa para se relançar como Mulher Jabulani. Vai acabar a Mulher Melão tomando-lhe a frente.
Neomalabarismo
Já tem menor abandonado nos sinais de trânsito das grandes cidades brasileiras repetindo com a ajuda dos braços e uma bolinha de tênis a coreografia do gol de Luís Fabiano contra a Costa do Marfim.
Vai encarar?
A Fifa teve bons motivos para não abrir processo disciplinar contra Dunga por ofensas ao árbitro, ao adversário e a jornalista no domingo passado. É o seguinte: não tem homem na entidade para tomar essa decisão olhando nos olhos do técnico brasileiro.
A regra é clara
Galvão Bueno já tinha se engasgado três vezes com a pronúncia de Papastathopoulos, o número 9 da Grécia, quando Arnaldo César Coelho chamou-lhe atenção: "Na camisa dele está escrito Sócrates, não é mais fácil?" O locutor não teve, dessa vez, como contestar o comentarista.
Adieu les bleus
De um torcedor brasileiro, comemorando a eliminação dos franceses na África do Sul: "Em época de Copa do Mundo, a França é uma Argentina como outra qualquer!"
Off-Copa
O Brasil tem 69 chances de classificação para a grande final, no sábado, do Festival de Publicidade de Cannes, uma espécie de Grammy da propaganda: tem prêmio pra todo mundo.
Horóscopa do mundo
O Sol entrou em quadratura com Urano e Júpiter. Isso quer dizer o seguinte: Júlio Baptista vai comer a bola na sexta-feira!

JOSÉ NÊUMANNE

Do alto do pódio da paz ao baixo calão na guerra

JOSÉ NÊUMANNE
O ESTADO DE SÃO PAULO - 23/06/10


É difícil encontrar expressão mais calhorda que a tal da "pátria em chuteiras". Mesmo nas primícias do profissionalismo do futebol (até os últimos anos do reinado de Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, nos anos 1970), os Campeonatos Mundiais nunca refletiram mais que habilidades específicas para uma prática esportiva em cujo resultado a sorte tem influência similar ou até superior ao desempenho. E este em nada depende da qualidade média de vida dos países cujos selecionados vencem amiúde.
No século 18, o escritor Samuel Johnson escreveu que "o patriotismo é o último refúgio de um canalha". Na aparência, a afirmação refletia o despojamento de um povo que nunca se levou a sério, apesar de seu país, ou seja, a "pérfida Albion" (denominação da Inglaterra quando era colônia romana), ter conquistado o mundo e a glória na guerra e na literatura . Mas uma leitura fria dos fatos mostra que ? em guerra, gestão pública, política e diplomacia ? há mais cinismo na exploração cínica do amor do homem comum por sua terra que na crítica do amigo do historiador da decadência do Império Romano, Edward Gibbon. No esporte em geral e, em particular, no futebol, que, em seu moldes atuais, começou a ser jogado pelos ingleses um século depois de Johnson ter cunhado suas frases, ela é até mais válida que nas outras atividades humanas acima citadas.
Não passa de hipocrisia a adoção da lição do barão de Coubertin tentando dar às competições esportivas um falso condão de nobreza, que não condiz com a acirrada disputa em arenas, campos e tatames. O triunfo do velocista negro americano Jesse Owens, presenciado pelo ditador nazista Adolf Hitler na Olimpíada de Berlim em 1936, mesmo tendo negado na prática a teoria absurda da superioridade da raça ariana sobre as outras, em nada aliviou as agruras dos descendentes de escravos nos Estados Unidos. As disputas pela liderança nos quadros de medalhas dos Jogos Olímpicos na segunda metade do século 20 não refletiram a igualdade de condições entre o imperialismo ianque, de um lado, e o império soviético, do outro. O ouro distribuído nos pódios a ginastas e atletas russos ou das Repúblicas ocupadas pelos comunistas não bastou para impedir a derrocada do regime de Lenin, Stalin e seguidores. As vitórias de pugilistas, atletas e atacantes de ponta de rede de vôlei de Cuba não refletiam as condições de vida da população da ilha caribenha sob a tirania dos irmãos Castro.
No mundo contemporâneo, modalidades olímpicas são mais um comércio que mobiliza fortunas do que nobres manifestações de saúde do corpo e da mente. No caso do futebol, a exploração da paixão popular por negociantes inescrupulosos é ainda mais gritante. Numa competição cujo apreço pela ética negocial pode ser medido pela proibição de acesso ao estádio de torcedoras holandesas porque a organizadora da Copa, a Fifa, suspeitou que faziam propaganda de uma empresa que não participou de seu rateio milionário de marketing, cobrar da excessiva cobertura dos meios de comunicação cumplicidade patriótica é de uma desfaçatez de assustar o próprio Johnson.
Mas já que o jogo é esse, meus amigos, vamos jogá-lo dentro da regra que nos foi imposta pelos donos do espetáculo, a Fifa e sua afiliada brasileira, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Tendo a Pátria vestido uma camiseta amarela para sair por aí, é de todo conveniente exigir de quem cobra patriotismo dos críticos um mínimo de compostura. O futebol, hoje menos uma atividade profissional que uma fonte de renda ainda mais fabulosa que os gols marcados pelo artilheiro da seleção Luis Fabiano, paga fortunas mirabolantes aos astros do espetáculo exibido a um público de bilhões de pagantes. Chegou, então, o momento de lembrar que privilégios pressupõem obrigações. Por exemplo: na Pátria que eles imaginam representar se fala uma língua, no caso do Brasil, a portuguesa, enobrecida pelo estro fundador do poeta e soldado caolho luso Luís de Camões e por cultores como o amanuense mulato epiléptico carioca Joaquim Maria Machado de Assis. Vencer o jogo, como fez a equipe brasileira domingo em Johannesburgo, principal sede da Copa africana, anima a torcida brasileira. Mas honrar a Pátria é mais que isso: é, por exemplo, não esmurrar o vernáculo como se este fosse um inimigo figadal.
Com o salário que recebe da "pátria em chuteiras" e tendo a obrigação de falar em público pelo menos duas vezes por semana, o gaúcho de Ijuí Carlos Caetano Bledorn Verri devia ter recebido de seus empregadores a missão de não agredir os pronomes oblíquos, substituindo-os por retos em suas frases anômalas. Da mesma forma, além de selecionar seus pupilos e dirigi-los nos treinos, o treinador deveria ter aprendido na infância o hábito de não insultar adversários e críticos com palavras de calão rasteiro, incompatível com seu sucesso profissional.
Ao disputar uma luta livre particular contra a língua e profissionais encarregados de transmitir e avaliar o desempenho de sua seleção, o técnico brasileiro tem um comportamento à altura do anão da Branca de Neve do qual seu tio Cláudio tirou o apelido que passou a usar como nome de guerra. E não do capitão que do alto do pódio da paz nos EUA ergueu a Copa Fifa, hoje disputada na África, e reafirmou a superioridade técnica do jogador de futebol brasileiro nos gramados. Ao deixar de puni-lo, a Fifa tornou-se cúmplice dele. Esse caso execrável deveria ter alertado os maiorais do futebol para a necessidade de adotarem um código de conduta em respeito aos bilhões de torcedores que enchem sua bolsa de ouro e sua alma de glória. A truculência impune de Dunga, como a brusca retirada do eslovaco Vladimir Weiss da entrevista coletiva e a recusa do francês Raymond Domenech de cumprimentar o colega Carlos Alberto Parreira após derrotas, expõe quão hipócrita é o tal "fairplay" alardeado pela Fifa.

MÔNICA BERGAMO

A Casa Caiu 
Mônica Bergamo 

Folha de S.Paulo - 23/06/2010

O Estado de SP terá que indenizar 250 famílias que tiveram suas casas demolidas durante uma reintegração de posse na zona leste da cidade. A decisão abre um precedente: havia ordem judicial para a desocupação das residências, mas não para a sua destruição. A indenização será de duas vezes o valor de cada casa, para cobrir os danos morais e materiais. O Estado não se manifestou.
Trem da Alegria
A Coca-Cola está levando 140 pessoas, com transporte, hospedagem e alimentação bancadas pela empresa, para assistir à Copa do Mundo na África do Sul. A caravana inclui engarrafadores, fornecedores da companhia -e também jornalistas e o que a empresa chama de "formadores de opinião". Cada convidado tem direito a um acompanhante -estão embarcando maridos, mulheres e filhos.
Faça O Que Eu Digo
Frustrada com a decisão de Dunga de não permitir que jogadores deem entrevistas exclusivas para a emissora, a Globo adotou receita idêntica com Galvão Bueno. Vários veículos tentaram falar com ele depois da campanha "Cala Boca Galvão". Nada feito. A TV argumenta que o locutor "está concentrado nas transmissões e no trabalho" e é por isso que está na Copa. Entrevista, Galvão só deu à própria Globo.
Poço de Dúvidas
Fernando Henrique Cardoso confidenciou a interlocutor de sua mais absoluta confiança recentemente que tem sérias dúvidas sobre a possibilidade de José Serra (PSDB-SP) vencer a eleição presidencial. "E olha que estou tentando ajudar", disse o ex-presidente, atualmente em tour pelo exterior -com retorno previsto para o dia 2.
No Ataque
Depois do vereador Carlos Apolinário (DEM-SP), o PT de São Paulo intensificou as investidas na seara do DEM para estimular novas defecções para a campanha de Aloizio Mercadante ao governo. Até com Alexandre de Moraes, ex-secretário dos Transportes da Prefeitura de SP, o partido pensa em conversar.
Prato Cheio
A chef Andrea Kaufmann, do AK Delicatessen, vai abrir um restaurante na Vila Madalena até o final do ano. "Não será só de comida judaica. Penso em pratos que sejam a minha leitura do bairro, alegre e boêmio", diz.
Pote Cheio
A empresária Miriam Abicair, dona do Spa Sete Voltas, vai lançar um livro com receitas de comidas para cães. Um dos pratos será um picadinho com farofa, feito com carne sem gordura, um dos preferidos de Jorge, o golden retriever de Adriane Galisteu.
Sem Senso
O secretário da Cultura, Andrea Matarazzo, desautoriza o Museu do Futebol, que diz cobrar entrada inteira de menores, mesmo quando eles têm documentos que mostram que estão em idade escolar, por orientação da Secretaria da Fazenda. A instituição só aceita carteira de estudante para a meia-entrada. "É preciso bom senso. Cobrar inteira de crianças é demonstração de micropoder de algum funcionário petulante e de cabeça oca, e não do secretário da Fazenda [Mauro Ricardo]."
Brincando Na Geleira
As irmãs Laura, Tamara (gêmeas de 13 anos) e Marina, 10, filhas do navegador Amyr Klink, vão lançar em agosto o livro "Férias na Antártica". A obra, da Grão Editora, mostra as experiências das meninas acompanhando o pai ao continente gelado, como o dia em que correram de leões-marinhos que queriam defender seu território. Elas vão participar da Flip e da Bienal do Livro de SP.
Curto-circuito
Com a reeleição de Maurício Azedo na presidência da Associação Brasileira de Imprensa, foram confirmados no conselho do órgão em SP os jornalistas Rodolfo Konder, Fausto Camunha, Lutero Mainardi, Reginaldo Dutra, Duque Estrada e James Akel.

A dramaturga Leilah Assumpção lança o livro "Onze Peças de Leilah Assumpção", hoje, às 19h, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional.

O artista plástico Rodrigo de Castro inaugura exposição hoje, às 20h, na galeria Millan.

Ruth Barros lança o livro "Ioga além da Prática", hoje, às 19h, na Livraria da Vila da Fradique Coutinho.

A mostra de decoração "Ilustre" será aberta hoje, às 19h30, na loja Sierra do D&D.

A festa Top 5 acontece hoje, às 23h30, no clube Heaven. Classificação: 18 anos.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Intenção de consumo de bens duráveis volta a subir 
Maria Cristina Frias

Folha de S.Paulo - 23/06/2010

Após o fim das desonerações de IPI, que arrefeceu a intenção de consumo do brasileiro, os índices voltam a subir e apontar alta em 2010.

Em maio, o percentual de brasileiros com intenção de adquirir algum bem durável nos três meses seguintes atingiu 17%, patamar superior ao pico de fevereiro, segundo a Fecomércio-RJ.

"O índice vinha em ascensão desde o começo do ano, mas tivemos um ajuste em razão do fim do IPI reduzido", diz Christian Travassos, economista da entidade.

Mesmo os produtos que contaram com desonerações do IPI, já retiradas, registram intenção de compra em patamar elevado, como geladeira, fogão e veículos. O destaque da TV deve-se à Copa.

É possível que ocorra aceleração, mas não tão forte, segundo Francisco Pessoa, da LCA Consultores, que alerta para a reação do BC em caso de crescimento elevado.

A pesquisa aponta que cresceu a parcela dos consumidores com algum financiamento e diminuiu a dos que estão em atraso. O percentual de brasileiros que respondeu que vai sobrar dinheiro depois de todas as despesas pagas ficou em 37%, contra 30% em abril.

"O ambiente geral favorável torna o consumidor propenso a buscar compras de bens que envolvem crediário", diz Marcel Solimeo, da Associação Comercial de SP.

O levantamento abordou mil domicílios em nove regiões metropolitanas.
Borracha Verde
A Pirelli vai iniciar a produção em escala de pneus verdes para carros e caminhões no ano que vem. "A meta da empresa é que 40% da produção mundial de 2011 seja de pneus verdes", diz Guillermo Kelly, presidente da Pirelli para a América Latina.

No Brasil, o produto está sendo desenvolvido no centro tecnológico de pesquisas de Santo André (SP), em parceria com a Itália, e será produzido nas principais fábricas do país.

O pneu verde é feito com menos material não renovável, como petróleo, e oferece menor resistência na rodagem, o que diminui o consumo de gasolina e a emissão de gás carbônico.

A empresa mudou o foco das exportações neste ano. Com a melhora da qualidade e da performance dos produtos, a filial brasileira mira os Estados Unidos e a Europa. "Vamos duplicar as exportações para o mercado norte-americano neste ano", diz Kelly.
Brasil cai em lista de ricos
O crescimento no número de milionários no Brasil não acompanhou a média mundial no ano passado e o país perdeu uma posição no ranking dos que têm mais ricos.

O total de milionários no país aumentou 12% sobre 2008. São 147 mil pessoas com ativos de ao menos US$ 1 milhão, segundo estudo de Capgemini e Merrill Lynch.

O país foi ultrapassado pela Austrália, que tinha 174 mil milionários em 2009, 45 mil a mais que em 2008.

Entre os 12 países com mais milionários, o crescimento brasileiro só foi maior que os de Alemanha e Itália. Na média, o número de milionários no mundo avançou 17% no ano passado.

Ainda de acordo com o estudo, 87% da riqueza dos milionários no Brasil está concentrada nas mãos dos ultramilionários (aqueles que têm ao menos US$ 30 milhões).

Na média global, os ultramilionários concentram 35,5% da riqueza.
ZeladorO número de ações de cobrança por falta de pagamento da taxa de condomínios cresceu mais de 25%, segundo levantamento do sindicato de habitação Secovi-SP, realizado em São Paulo em maio. Foram registrados 1.199 casos, contra 891 ações ajuizadas no mês anterior.
Torcida 1Empresas de bebidas projetam aumento de vendas durante os jogos da Copa do Mundo. A Cereser, que produz vinhos, filtrados e destilados, prevê crescimento de 6% em junho e julho sobre igual período do ano passado.
Torcida 2A Vinícola Perini estima alta de 10% na venda de vinhos finos durante o Mundial. "A Copa cria novas situações de consumo, em casa e bares. Aliada à chegada do frio, acaba gerando mais vendas", diz Franco Perini.
Torcida 3O ritmo de compras de lojas e supermercados se acelerou no início deste mês, segundo Oscar Ló, presidente da Vinícola Garibaldi. "Com a Copa, as pessoas bebem vinho em dias e horários que normalmente não haveria consumo", diz Ló, que prevê aumento de 20% nas vendas.
Cachê alto 1A Vallua Consultoria e Gestão abre uma nova unidade independente de negócios -a Naxentia- para projetos de reestruturação com foco em empresas com faturamento anual entre R$ 50 milhões e R$ 500 milhões.
Cachê alto 2Hoje, a companhia fatura R$ 7 milhões ao ano e espera arrecadar R$ 3 milhões com o novo setor. A empresa nasce com quatro clientes do segmento de serviços na carteira.
Móveis no exteriorO setor moveleiro gaúcho e de outros cinco Estados brasileiros quer ganhar mercado na América Latina, Central e África do Sul. O objetivo é crescer as exportações em 5% neste ano e em 15% até o fim de 2011, segundo o Sindmóveis (Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves).

ELIO GASPARI

Serra e o “certo arranjo que não funciona”
ELIO GASPARI

FOLHA DE SÃO PAULO - 23/06/10 

Durante sua sabatina na Folha de S.Paulo, José Serra voltou a enunciar sua crítica à política econômica do governo Lula (inclusive naquilo que ela tem de continuação do mandarinato tucano, no qual foi ministro): “O Brasil tem três ou quatro recordes de que eu me envergonho. As altas taxas de juros e impostos, a ‘lanterninha’ nos investimentos governamentais e a maior hipervalorização da moeda no mundo. Tem um certo arranjo aí que não funciona, e que eu me proponho a consertar”.

Enunciado desse jeito, move poucos votos, mas significa o seguinte: com a taxa de juros a 10,25% ao ano, o Brasil continua a ser o país do mundo onde mais se ganha dinheiro sem precisar trabalhar, emprestando-o ao governo. Esse mesmo país tem uma das cargas tributárias mais altas do mundo (35% do PIB, pouco abaixo do patamar de 36,45% deixado pelo tucanato em 2003). 

Em português de campanha: o Brasil é um dos países onde mais se trabalha para sustentar o governo que, por sua vez, melhor remunera seus gordos credores. 
De uma lista de 135 países, o Estado brasileiro, que tanto arrecada, disputa com o Turcomenistão a menor taxa de investimento do mundo. Finalmente, o real sobrevalorizado barateia as compras em Miami, mas dificulta as exportações. 

Serra repetiu que o Brasil exporta celulose e importa papel. A taxa de investimento global da economia tem melhorado, mas ainda está abaixo da russa, indiana ou chinesa. “Tem um certo arranjo aí que não funciona.” 

O candidato do PSDB já disse que essa não é uma divergência entre governo e oposição, mas questão de Estado. Nem na Suíça a linha divisória de uma campanha pode passar por temas tão arcanos, mas, de fato, o arranjo não funciona. Os conselheiros do ex-ministro Antonio Palocci sabem disso, Lula acha que esse problema pode ficar para depois, até porque o curto-circuito só ocorrerá se alguém encostar os fios desencapados e nem na crise de 2008, a da “marolinha”, isso aconteceu. 

Um dia esse arranjo para de funcionar, por conta de fatores externos ou mesmo internos. Nos anos 70, quando o Brasil festejava o milagre econômico que acarpetou o asfalto natalino da Rua Augusta e deu a Lula o seu primeiro carro, pouca gente prestava atenção em números estranhos. Entre 1970 e 1973, a produção de bens de consumo duráveis, como geladeiras e aparelhos de TV a cores, praticamente triplicara. Já a produção de bens intermediários, como parafusos, lingotes e mercadorias capazes de atrair novas levas de trabalhadores, crescera apenas 45%. E daí, se dá para empurrar com a barriga? Era o prenúncio de uma pressão inflacionária que, associada a duas crises do petróleo, destruiriam a ditadura e infelicitariam a primeira década da redemocratização. 

Nosso Guia já avacalhou um Congresso que recebeu avacalhado, entronizou as centrais sindicais como um poder paralelo e, finalmente, vem dando um toque carnavalesco à sua sucessão. Num clima de festa, preocupações como as de Serra merecem pouca atenção. Afinal, pode-se empurrar o arranjo com a barriga. Uma coisa é deixar o debate para depois, sinal de astúcia política ou oportunismo eleitoral. Outra é achar que esse “certo arranjo” funciona. 

MERVAL PEREIRA

Fogueira das vaidades 
Merval Pereira 

O Globo - 23/06/2010

O portal do Ministério do Planejamento que foi retirado do ar um dia após o seu lançamento, na semana passada, porque ministros reclamaram das críticas sobre suas respectivas áreas, não é, como o ministro Paulo Bernardo tentou classificar, apenas um portal “de debates”, com opiniões de técnicos que não podem ser atribuídas ao pensamento oficial do governo ou do próprio Ministério do Planejamento.

Vários ministros foram consultados sobre seu conteúdo, e ele foi revisado por membros do primeiro escalão do Ministério do Planejamento.

A divulgação de parte de seu conteúdo crítico pelo jornal “Valor Econômico” desencadeou uma crise interna no governo.

O portal fazia diversas críticas a políticas do governo, desde a reforma agrária, que, segundo a avaliação, não alterou a estrutura fundiária do país nem assegurou a assistência aos assentados, sendo que agricultores de menor renda estariam dependentes do Bolsa Família, até o biodiesel, cuja política de produção não seria economicamente sustentável.

O portal fez também uma avaliação da educação, que teria tido poucos avanços no que se refere a acesso à escola e qualidade do ensino, que continua baixa, entre outros pontos negativos.

Até mesmo os planos do Ministério da Defesa, como a indústria bélica, são considerados inviáveis, embora importantes, por falta de planejamento e recursos.

Eu mesmo, em um comentário para a CBN com o Carlos Alberto Sardenberg, aventei a possibilidade de o portal ser obra de “um burocrata bem intencionado que havia esquecido de conversar com os políticos” do ministério.

Foi quase assim, mas há detalhes que tornam o episódio mais interessante politicamente.

Acontece que o trabalho de criação do Portal do Planejamento foi coordenado pelo secretário de Planejamento e Investimentos Estratégicos (SPI), Afonso Oliveira de Almeida, que não é apenas um simples burocrata, mas um dos mais destacados homens de confiança de Dilma Rousseff, colocado no Ministério do Planejamento para acompanhar as obras do PAC.

Segundo informações de dentro do ministério, ainda que o dirigente seja um funcionário de carreira, é um antigo militante petista que já foi dirigente do partido no Distrito Federal, e ocupou uma diretoria no Banco BRB, o banco regional.

Como representante destacado do que se acusa ser um aparelhamento da máquina do Estado pelo esquema petista, ele costuma defender veementemente a tese de que “o Governo não deve prescindir de uma burocracia partidária”.

O trabalho foi integralmente revisado (ou censurado, como alguns comentaram) pela Diretoria do SPI e pelo secretário pessoalmente.

Houve relatos em reuniões internas de inúmeros fins de semana gastos “lendo, relendo e corrigindo” os documentos.

Muitos técnicos que participaram da versão original ficaram indignados com os cortes.

O próprio secretário Afonso Oliveira de Almeida se gabava de ter submetido alguns textos a ministros, tendo citado nominalmente em uma reunião o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE).

A Direção do SPI assumiu internamente toda a responsabilidade pela retirada do portal do ar, provavelmente para sustentar a tese de que o ministro Paulo Bernardo não sabia de nada.

Diversos técnicos se manifestaram frustrados pela retirada do portal do ar e pediram seu imediato restabelecimento, pois o Ministério do Planejamento estaria apto a defender seu conteúdo.

A decisão de lançar o portal neste momento delicado da vida política é atribuída a um arroubo de vaidade do secretário Afonso Oliveira de Almeida, que gostaria de se promover e assim se habilitar a uma posição de maior destaque num eventual governo Dilma, inclusive com as críticas a certos setores do governo.

Apesar de ter havido diversos debates quanto ao risco político da medida, ele insistiu na divulgação e convenceu o ministro Paulo Bernardo da sua importância.

Segundo relatos, Afonso Oliveira de Almeida tem feito vários desafetos no governo, protegido por sua proximidade com a candidata oficial Dilma Rousseff.

Recusa-se a trabalhar em parceria com os demais ministérios, buscando sempre a autossuficiência. É também acusado de perseguições internas contra pessoas e de iniciativas identificadas como herança do governo anterior.

Havia uma confiança do secretário de que as revisões houvessem tornado o documento informativo, mas não tão crítico a ponto de comprometer o governo.

E muitos dos problemas apontados vêm ainda de governos anteriores, o que na sua visão diluiria a responsabilidade do atual governo.

O secretário mostrava-se também “indignado”, e apressado para lançar o produto, pois o Ipea, outro órgão do Ministério do Planejamento, “pode falar besteiras em suas publicações recentes e a SPI ainda não pôde publicar seu produto, com visões corretas sobre questões importantes”.

Essa disputa de egos, uma verdadeira “fogueira das vaidades”, parece estar disseminada pela Esplanada dos Ministérios, uma tendência de ano eleitoral em que os integrantes do segundo escalão ambicionam uma posição de destaque maior num futuro governo Dilma Rousseff

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Do not disturb 
Sonia Racy 

O Estado de S.Paulo - 23/06/2010

Vem briga boa por aí. Emanuele Garosci desembarca no Brasil com investimento de cerca de US$ 200 milhões. Vai abrir dois hotéis de alto luxo: um em São Paulo e outro no Rio. De olho na Copa 2014.

O empresário italiano chega amanhã à capital paulista para mais uma rodada de negociações. Será ciceroneado por Carlos Emiliano e Renato Sedlacek.

Quer repetir aqui a fórmula do seu Palazzina Grassi, de Veneza. Padrão que dispensa recepção e oferece atendimento individualizado para hóspedes cinco estrelas, como Angelina Jolie e Johnny Depp.
Céu é o limite
Nova empresa de transporte aéreo ocupará o céu brasileiro. A Mais Linhas Aéreas, com sede em Salvador, recebeu anteontem autorização de funcionamento jurídico da ANAC.

A companhia planeja voar com Boeing 737-300 para as regiões Norte, Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste do País.
Sutiã cônico
Figurinos feitos para o teatro e cinema por Jean Paul Gautier estão sendo garimpados. Vão virar exposição.
Lá menor
Julio Medaglia vai criar uma orquestra para chamar de sua. Será regente e diretor artístico da Cariocamerata, só com jovens músicos, no Rio.
Esquenta
A Casa Brasil, QG montado na África do Sul para propagandear a Copa de 2014, anda cheia. Passam por lá cerca de 700 pessoas por dia.

Segundo o Ministério do Turismo, o local recebeu visitantes de 47 nacionalidades.
Baión de dos
Carla Pernambuco vai virar apresentadora de TV na FOX.

A chef acaba de voltar de Buenos Aires, onde fechou contrato de um ano com o canal. A primeira temporada de Carlota- Brasil no Prato, sobre receitas e ingredientes brasileiros, será gravada por lá e exibida em terras nacionais.
Dedo verde
Frans Krajcberg topou. É o convidado de Eduardo Fischer para participar do SWU, encontro de sustentabilidade previsto para acontecer em outubro, na cidade de Itu.

O artista plástico fará exposição de seus trabalhos focados na defesa do meio ambiente.
Chame o síndico
Vai ter climão na reunião de condomínio do edifício Joelma. O PSDB, que tem dois andares ocupados por Alckmin e outros dois por Serra, identificou estranho no ninho: Carlos Apolinário.
Chame o síndico2
O vereador, que acaba de romper com os tucanos e declarar apoio a Mercadante, trabalha em sala no 18º andar há um ano. "Eu cheguei antes, mas nem eles nem eu temos lepra. Então não pega, né?", disse Apolinário.
RSVP
Dilma confirmou presença na Convenção Estadual do PT. Já Lula ainda não decidiu se vai. Mas não há chance de festa vazia. Só da capital, cem ônibus de militantes vão desembarcar no ExpoCenter Norte, sábado.
Espelho meu
Gabriela Leite ficou "satisfeitíssima" com a escolha de Vanessa Giácomo parar viver seu papel no cinema. A fundadora da Daspu acha que "a atriz vai render muito na interpretação".

E o par da protagonista será vivido por Daniel Oliveira, marido da atriz, segundo Caco Souza - o diretor do longa baseado no livro da ex-prostituta.
Na frente
Em clima de inverno, o Shopping Cidade Jardim disponibiliza duzentas mantas de tricô da Trousseau para quem quiser se aquecer ao comer nos cafés e restaurantes. A partir de hoje.

Edson Natale e Cristiane Olivieri lançam o Guia Brasileiro de Produção Cultural - 2010-2011. Hoje, no Sesc Pinheiros.

Leonardo Prado autografa hoje no seu bar São Cristóvão a obra No Campo da Memória.

Paulo Olmos lança Quando a Cegonha Não Vem. Hoje, na Livraria da Vila do Cidade Jardim.

Interinos: D. Bergamasco, G.de Almeida, M. Neustein e P. Bonelli.
Modelo, atriz e...engajada
O tabu da circuncisão feminina na África é tema do filme Flor do Deserto, que estreia sexta-feira, baseado no best seller homônimo da somali Waris Dirie. Para interpretar a autora do livro, que também foi modelo e embaixadora da ONU, a produção selecionou a etíope Lyia Kebede. Coincidência ou não, a atriz também é top model internacional e possui uma fundação que luta contra a mortalidade de mães e crianças após o parto.

Lyia esteve em São Paulo para a pré-estreia do longa e recebeu a coluna para conversa antes de partir para uma sessão de compras na Rua Oscar Freire, nos Jardins.
Como surgiu o interesse pelo papel de Waris Dirie?
Eu li o livro, adorei a história e falei para o meu agente: "Quero fazer esse papel, por favor, encontre as pessoas". Então fiz o teste. O diretor e o produtor gostaram e ficaram mais interessados ainda quando souberam das semelhanças que eu tinha com a Waris Dirie (o trabalho como modelo, as atividades da minha fundação, etc).
O que sentiu quando leu o livro pela primeira vez?
Fiquei muito tocada com o projeto. O livro é lindo, pessoal ao extremo. Achei totalmente inspirador. Ao mesmo tempo, foi a primeira vez em que percebi a dívida que eu tinha com questão da mutilação feminina.
Como foi a sua preparação?
Usei o livro, reli os parágrafos diariamente. Eu não trabalhei junto com a Waris. Só a conheci no último dia de filmagem porque ela preferiu ficar longe do set. Em compensação, tive a oportunidade de começar as filmagens pela Somália e, portanto, fiquei imersa na "África dela". Conversei muito com as mulheres do vilarejo e compreendi os conflitos daquele lugar.
Como vê o cenário atual da circuncisão feminina?
A prática tem sido cada vez mais contida. Está mudando um pouco, mas não o suficiente. Há organizações que fazem um trabalho maravilhoso. Eu visitei algumas comunidades onde esse trabalho é desenvolvido e mostra que 8% das mulheres não são mais circuncisadas. Mas ainda é necessário continuar a luta.
Nesse contexto, qual é, na sua opinião, o alcance do filme? 
O filme, definitivamente, desperta algo. O produtor levou há dois meses o longa para ser projetado no vilarejo onde filmamos. Foi muito interessante e difícil porque a maioria das mulheres de lá é circuncisada. Muitas são contra e outras a favor. E muitos homens assistiram pela primeira vez. Isso porque eles não acompanham a cirurgia, só o depois. Então, suscita inevitável discussão.

BRASIL S/A

Inflação enxuta
Antonio Machado

CORREIO BRAZILIENSE - 23/06/10

Como previsto e talvez também pela mão dura do BC, inflação entra em dieta e parece comportada


A trajetória da inflação está mais previsível que o desempenho de boa parte das seleções coroadas na Copa da África. Na passagem de 2009 para este ano, previa-se que sairia obesa do réveillon, como gente normal, depois de já ter ganhado peso com o fim da recessão — e voltaria a desinchar, mas sem voltar a pesar 4,5%, a variação anual estabelecida como saudável pelo regime de metas do governo.

Até agora, esse roteiro tem sido cumprido. Se, em agosto de 2009 o IPCA, o índice de preços ao consumidor monitorado pelo IBGE como medida oficial da inflação, aumentou no mês “só” 0,15% — uma das menores variações desde o tombo da economia global em setembro de 2008 —, depois de janeiro o indicador mostrou a gula da economia.

O IPCA engordou 0,75% sobre dezembro e mais 0,78% em fevereiro, ambos os maiores aumentos num mês desde a eclosão da crise — sinal para o Banco Central de que a recessão ficara para trás e começava o tempo de refrear o consumo levado para casa pelo brasileiro, já que não tem jurisdição sobre a comilança fiscal do governo.

O BC aumentou a dose da Selic de 8,75% para 9,50% no fim de abril, depois de recolher quase R$ 100 bilhões dos depósitos da banca que havia liberado em 2008, no auge da crise. Voltou a puxar os juros interbancários duas semanas atrás, para 10,25%, e a expectativa é que continue apertando o torniquete sobre a demanda.

E a inflação? Como previsto, encolheu depois do repique sazonal. Na medida de meio do mês, o chamado IPCA-15 de junho cresceu 0,19% sobre a mesma base de maio, quando exibira acréscimo de 0,63%.

Em 12 meses, a variação do IPCA-15 caiu de 5,26% até maio para 5,06%. De seus nove componentes, só dois tiveram em junho aumento superior ao de maio (artigos de residência e despesas pessoais) e três exibiram deflação (alimentação, transportes e comunicações).

Pressão só na cabeça
Ainda não foi dessa vez que aconteceu a temida pressão de demanda sobre os preços. Já há economista que a põe em dúvida. Menos clara é a influência do aumento dos juros, já que o seu efeito sobre a inflação não é imediato. Talvez pela expectativa. A credibilidade do BC deveria bastar para dissuadir movimentos inflacionistas nas empresas, normalmente preventivos ou por puro oportunismo.

O Departamento Econômico do Bradesco acha cedo para descartar os riscos de demanda febril. A avaliação é que a distensão do IPCA já estava prevista, devido a fatores pontuais, e as medidas de núcleo da inflação, que exclui as variações de preços mais voláteis, não desinflaram tanto assim. Por tal conceito, os preços dos serviços aumentaram no IPCA-15 de junho 6,87% em 12 meses. A ver.

Parto do crescimento
A verdade é que, no Brasil, a inflação, tratada com a vitamina da indexação, que se mantém para um terço do IPCA, é sempre cheinha.

Depois das festas dos reajustes de ônibus, de escolas e de alimentação, pressionada pelos temporais de verão, eventos típicos de início de ano, a cintura do IPCA sempre diminui. A dúvida é quanto diminui, quando a demanda está em alta, puxada pela renda, o emprego e mais os gastos públicos em ano eleitoral e o ciclo de investimentos.

Tal ambiente é novo e justifica a cautela do BC, mas não o excesso, se o pior não chega. As contas externas, cujos deficits expressam o consumo transbordando a capacidade da oferta interna, também não explodiram. Em 12 meses até maio o deficit chegou a 1,9% do PIB, financiado com folga pelas entradas de capitais. Enfim: o parto do crescimento pode não ser indolor, mas não tem de ser algo ruim.

Análises viciadas
Os receios sobre a evolução da economia são procedentes, mas boa parte nada tem a ver com a trajetória dos indicadores e, sim, com suspeitas políticas e com a percepção de que a qualidade do gasto público, mais até que o seu excesso, não deixa espaço para elogios rasgados. Quem o faz é o investidor externo. Ele não está nem aí para a produtividade do gasto com saúde ou educação, por exemplo.

Só lhes importa o resultado. Não por acaso, estão mais otimistas que os analistas brasileiros. E o empresariado? Pragmático, não toma nota da discussão: aproveita o momento, filtra o pessimismo da influência eleitoral e reclama do que julga errado, sobretudo na microeconomia, tipo burocracia, preconceitos etc. Melhor assim.

Infraero informa
A Infraero informa, a respeito das duas colunas sobre o caos dos aeroportos, que não é bem assim. Os 67 aeroportos que administra, diz carta da superintende de Marketing e Comunicação da empresa, Léa Cavallero, “têm recebido constantes investimentos”.

Entre 2003 e 2009, afirma, a Infraero aplicou R$ 1,91 bilhão na “reforma e ampliação de novos terminais de passageiros”, como os de Santos Dumont, Congonhas, Boa Vista e Cruzeiro do Sul. Diz que, de 2011 a 2014, serão aplicados R$ 6,48 bilhões em 23 aeroportos, inclusive os “estratégicos” para as cidades-sede da Copa de 2014.

Pois é. Vá dizer isso aos passageiros. Se estivesse tudo legal, a Anac não teria cortado voos. Estudo do Ipea, órgão do governo, não advertiria que há demanda reprimida e que os problemas deverão se acentuar. O BNDES, enfim, não teria chamado a consultoria McKinsey para avaliar a situação dos aeroportos. Os estudos são públicos. Nenhum manifesta tranquilidade com o cenário. Nele, a Infraero é parte do problema, não a solução, que só depende do governo.