terça-feira, maio 11, 2010

ARNALDO JABOR

São muitas as saúvas do Brasil
ARNALDO JABOR
O GLOBO - 11/05/10


O país não pode ser dividido em esquerda e direita


Neste ano eleitoral, vivemos um Fla X Flu maluco: "Eu sou de esquerda, você é de direita! Eu sou socialista, você é neoliberal".
Acontece que nossa vida social é movida por outras categorias, muito além dessa dualidade. Temos de tudo. Há paranoicos, esquizofrênicos, psicopatas, narcisistas (vejam o Lula em lua de mel consigo mesmo...) e, descendo mais de nível, temos os imbecis em geral e um vasto catálogo de vícios. Vamos começar pelos caretas.
A caretice é uma visão de mundo que passa despercebida, mas é raiz de terríveis males. O careta é antes de tudo um forte. Está sempre atrás de certezas, ou melhor, já chega com elas. Olha o mundo com um olho só e só vê o que já sabia. A diversidade da vida é recusada como um desvio; a dúvida, como fraqueza. O careta tem sempre um sorriso pronto ou uma cara fechada, dependendo se é do tipo "careta legal" ou "careta severo". Sua cara é uma careta - daí o nome -, uma máscara fixa que denota uma ideia só na mente. A caretice não é uma posição política; é um sistema operacional. Ele finge aceitar as diferenças, mas não vê o "outro". O chamado "outro" é um mal inevitável que ele tem de suportar para controlá-lo, para que ele não o inquiete com surpresas. Careta odeia novidades. O careta é linear - tem princípio, meio e fim.
O careta tende mais para o que se chamava de "direita": só ele existe, com suas ideias indiscutíveis. Há muitos caretas de "esquerda" que só querem uma sociedade sob controle, pois só eles sabem o que é bom para nós, os alienados. Existe até o careta drogado, o bicho grilo chamado "muito louco". Como disse um amigo meu: "Pior que careta só o `muito louco´...
Temos também a categoria da burrice que, como dizia Nelson Rodrigues, é uma "força da natureza". Antigamente, os cretinos se escondiam pelos cantos, roídos de vergonha; hoje, eles andam de fronte alta e peito estufado.
Nunca a burrice fez tanto sucesso. Há no mundo da política e da vida social a restauração alegre da estupidez. Lá fora, "Forrest Gump", o herói idiota foi o precursor; Bush foi seu efeito, como outros hoje em dia: há o Chávez, há aquele ratinho do Irã que o Lula vai visitar... tantos. Bush se orgulhava de sua burrice. Uma vez, em Yale, ele disse: "Eu sou a prova de que os maus estudantes podem ser presidentes dos Estados Unidos da América".
E nosso Lula não se gaba de não ter lido nada? Inteligência é chato; traz angústia, com seus labirintos. Inteligência nos desampara; burrice consola.
A burrice está na raiz do populismo. Para muitos, a burrice é a moradia da verdade, como se houvesse algo de "sagrado" na ignorância dos pobres, uma sabedoria que pode desmascarar a mentira "de elite". Só os pobres de espírito verão a Deus - reza a tradição. A burrice dá mais ibope, é mais fácil de entender. A burrice é a ignorância com fome de sentido. O problema é que a burrice no poder chama-se "fascismo".
Outra saúva que nos ataca é a incompetência. Existe muito mais na chamada "esquerda" que entre os velhos "neoliberais". Os "ideológicos" vivem de ideias "puras". Nada mais chato para eles do que a realidade, apesar de falarem nela o tempo todo.
A realidade brasileira para eles é um delírio, com meia dúzia de "contradições" óbvias. Antigamente, eram latifúndio, burguesia nacional e imperialismo. Agora é a tentativa de tomar o Estado por dentro da democracia. Eles dizem que a competência é um tecnicismo que pode ser usado para mascarar "táticas demoníacas" do capitalismo.
Outro vício que nos rói é a liberdade. Sim... não a "boa", mas a liberdade como fetiche, vulgar produto de mercado. É a democracia vivida como zona: êxtases volúveis de "clubbers", celebridades saltitantes de "liberdade" dentro de um chiqueirinho de irrelevâncias, a vida vivida como um "reality show" esquemático, buscando ideais como bundas querendo subir na vida, próteses de silicone na alma, o sucesso sem trabalho, o marketing sexual, a troca do mérito pela fama.
A arrogância individualista das celebridades é uma das saúvas do país.
Outro vício nacional, além da esquerda e direita, é a política do espetáculo. Guy Debord ("A Sociedade do Espetáculo") cita Feurbach: "Nosso tempo prefere a imagem à coisa, a cópia ao original, a representação à realidade, a aparência ao ser". Debord: "O espetáculo não quer chegar a outra coisa senão a si mesmo (...), onde o mentiroso mente a si próprio. O espetáculo é inseparável do Estado moderno". (Estão reconhecendo alguém?) No Brasil, a política do espetáculo foi descoberta por Jânio Quadros. Lula é um bom aluno.
Outro vício é o "passadismo rancoroso"; mais praticado pela "esquerda" burra, a República é tratada no passado. Vivem a nostalgia de torturas, heranças malditas, ossadas do Araguaia e nenhum projeto claro para nosso futuro. Há um passadismo regressista, regado pela vingança de fracassos coletivos e individuais, como se a vida social de hoje fosse a decadência de um passado que estaria no rumo certo. Há uma fome de marcha à ré nacionalista, terceiro-mundista, de voltar para a "taba" ou para o casebre com farinha, paçoca e violinha.
Também adoram condenar injustiças que já houve... Esse vício emprenha "coisas muito nossas", como a falta de imaginação política para o futuro, a retórica das impossibilidades, a vida pública em câmera lenta, onde a única coisa que acontece é que não acontece nada.
Mas, há mais... há mais... Temos os egoístas, os psicopatas (muito em moda...), os ladrões compulsivos, os "fracassomaníacos", temos as imensas multidões dos "babacas" (oh... serei um deles?...), comandados pelos boçais, cafajestes, oportunistas, ladrões de todas as cores.
De modo que não podemos nos contentar com a velha dualidade direita/esquerda; o mundo é muito mais vasto, oh "raimundos" e vagabundos!...
E mais: principalmente no Brasil, não podemos esquecer os batalhões que crescem a cada dia, os exércitos invencíveis: a brilhante plêiade dos FDPs.

BRASIL S/A

Gorilas na sala
Antonio Machado

CORREIO BRAZILIENSE - 11/05/10

Europa multiplica o socorro aos países do euro, mas há duvidas se a crise será enjaulada


A Europa está com um gorila na sala vestido para combinar com as cortinas noutra tentativa de torná-lo invisível para quem quiser ser enganado, mas ele está lá, e poderá tornar-se mais ameaçador.

A bancarrota da Grécia foi um de seus urros. Depois de meses sem solução para sua agonia, explicitada quando o novo governo grego anunciou em outubro do ano passado que o deficit público, em vez de 5% do PIB, como até então divulgava, era de quase 13%, a Alemanha, a França e outros condutores da União Europeia (UE) juntaram-se ao Fundo Monetário Internacional para garantir os pagamentos das dívidas da Grécia até 2012.

O pacote começou com 20 bilhões de euros. Passou para 45 bilhões de euros e, na semana passada, foi fechado em 110 bilhões de euros, com o FMI assumindo 30 bilhões de euros do total. Os detalhes foram ultimados na sexta-feira.

Mas o tamanho da necessidade de funding fiscal e externo da Grécia continua incerto, razão pela qual os líderes da UE que se opunham à entrada do Fundo em problemas da Europa engoliram o orgulho. Duvidoso é que estejam de olhos abertos.

No fim de semana, a UE reconheceu que desdenhava a gravidade da situação e contrariou também a negativa do Banco Central Europeu (BCE) em recomprar papéis de dívida privada tornados ilíquidos em razão da virtual insolvência seriada dos países sócios do euro. É uma lista que começa pela Grécia e continua com Portugal, Espanha, Irlanda e até a Itália, uma das locomotivas da comunidade.

A crise da Grécia transbordou para outros países da Zona do Euro, e a rede de defesa da moeda, condição para os mercados financiarem os deficits e dívidas soberanas da região, teria de ser bem maior.

Os mercados financeiros abriram a semana com a notícia de que vão dispor de mais 750 bilhões de euros, equivalentes a quase US$ 1 trilhão, adicionais aos 110 bilhões de euros anunciados para a Grécia. É muito, e sem garantia de que, dessa vez, o gorila sai da sala direto para uma jaula no jardim zoológico onde já se exibiam os animais do mercado desregrado. Falta enjaular os espécimes do Estado irresponsável.

Se, a cada urro dos mercados com o tamanho do deficit fiscal e da dívida soberana dos países, os governos respondem com mais dívida, contratada até pelos rotos, como Portugal, forçados pela UE a dar sua contribuição à operação de resgate da esfarrapada Grécia, não há solução à vista, conforme análise precisa do blog Sudden Debt.

O euro copia o dólar
De onde virá o dinheiro do novo pacote europeu? Do mesmo lugar de onde vieram os 110 bilhões de euros para a Grécia: da emissão de papelote de dívida pelos 16 países associados ao euro e do sofisma lançado pelo Federal Reserve após a debacle de Wall Street e copiado pelo BCE. Trata-se da tal “flexibilização quantitativa”, o neologismo técnico para a emissão de dinheiro sem lastro. Isto é, inflação.

Mas quem hoje se importa? As bolsas mundo afora dispararam com a “boa nova” dos europeus. Até o preço da dívida da Grécia melhorou.

Mais dívida resolve?
A banca e os fundos que investem em moeda e em papéis de dívida soberana tiveram o que queriam: a garantia de que os ativos podres dos países-problemas não vão virar pó. Foi o que já haviam obtido na primeira rodada da crise aberta pela quebra do Lehman Brothers, em setembro de 2008: a encampação dos ativos podres que carregavam em carteira. Os Estados nacionais, boa parte com orçamento fiscal em frangalhos, se endividaram ainda mais para salvar o seu sistema financeiro — o fizeram emitindo dívida, essa mesma que a Europa vai ampliar para tentar impedir a bancarrota da região. O problema é a overdose de dívida. E eles a tratam com mais dívida. Vai dar caca.

O problema vai piorar
O economista David Rosenberg, da Gluskin Sheff, do Canadá, faz um comentário pertinente em sua análise diária, ao questionar como as agências de risco reagirão ao novo pacote europeu. As três grandes do ramo, Standard & Poor’s, Moodys e Fitch, rebaixaram as notas de crédito de Grécia, Portugal e Espanha ao nível de “junk bonds”, de alto risco. “Se a UE empresta dinheiro para a Grécia ou a qualquer outro país-problema da região, as relações de dívida, incluindo os passivos contingentes, só vão aumentar”, diz ele. Ou seja, piorar. O gorila pode até parecer inofensivo, mas continuará na sala.

As forças indomáveis
Nos momentos de pânico, ninguém ousa as perguntas inconvenientes. A mais ostensiva é a que trata da viabilidade dos cortes de gastos e do aumento de impostos exigidos pela UE e FMI aos países da Zona do Euro como condição para serem socorridos. Como a Espanha, com taxa de desemprego de 20%, atenderá tais condições? E a Grécia, onde mais da metade da renda é paga pelo Estado? Tais planos atendem a falta de liquidez e omitem o problema fiscal e as sequelas sociais.

Não há outra solução nos termos do socorro ensaiado pela UE tanto quanto é certo que, sem crescimento econômico, os países mais fracos da Europa tendem à estagnação perene. É difícil, em tal cenário, que a recessão possa resolver os problemas fiscais. E é mais difícil supor que a opulência da Alemanha ou da França possa conviver com tal panorama sem implicar instabilidade política e abalos ao euro.

A conclusão é que só se ganhou tempo para o desfecho inevitável: uma ampla renegociação de dívidas soberanas, com perda partilhada com os credores. O gorila parece domado, mas continua na sala. E é sabido que gorilas, tal qual o mercado, não se deixam domesticar.

LUIZ GARCIA

Cavalo no temporal
LUIZ GARCIA
O GLOBO - 11/05/10

No regime militar, também chamado de ditadura, o delegado Romeu Tuma foi eficiente colaborador da repressão a atos de adversários do governo central, o que incluía tanto membros da oposição política como guerrilheiros e terroristas. A bem da verdade, seu nome nunca foi associado à prática de tortura.

Ele também pode ser definido como mestre da sobrevivência. A ditadura acabou, e Tuma partiu para uma carreira política que o levou ao Senado. Com sucesso: outro dia, o presidente Lula saiu de seus cuidados para defini-lo como “homem de muito respeito”.

Não por acaso, seu filho, Tuma Júnior, fez carreira política e é hoje secretário nacional de Justiça. O que não impediu a Polícia Federal de gravar telefonemas seus tentando resolver um pequeno problema da deputada estadual Haifa Madi, do PTB: ela tentara embarcar para os Emirados Árabes com US$ 160 mil escondidos na bagagem. A PF não pegou leve: segundo seu relatório, Tuma Júnior sabia que o dinheiro era produto de “prática ilícita, envolvendo crimes financeiros”.

Portanto, uma mancha preta na reputação de qualquer cidadão. E especialmente feia no caso de quem é secretário nacional de Justiça e presidente do Conselho Nacional de Combate à Pirataria. Mas Tuma Júnior parece acreditar que tem as costas quentes, o que lhe permitiu reagir com ironia às acusações contra ele: “Tirem o cavalo da chuva. Não vou sair.” Acusações não são condenações. Mas é inegável que o cavalo de Tuma Júnior está debaixo de um temporal. O presidente Lula poderia — ou deveria — levar isso em conta quando falou sobre as acusações contra Tuma. Outro dia, já se referira a ele como dono de “uma folha de serviços prestados a este país”. E, depois das denúncias mais recentes, embora dissesse o óbvio — que se Tuma for culpado tem de ser punido — fez a ressalva de que ele “faz parte de uma família de tradição”. O Código Penal, lamentamos informar, não registra atenuantes associadas a árvores genealógicas.

JANIO DE FREITAS

O tempo resolve
JANIO DE FREITAS
FOLHA DE SÃO PAULO - 11/05/10


O componente pessoal que assegurou a permanência de Romeu Tuma Jr. coincide com a conduta de Lula em escândalos



OS CINCO DIAS que a Comissão de Ética do governo deu ao delegado Romeu Tuma Jr., para defender-se das suspeitas que o atingem como secretário nacional de Justiça, não se justificam por ao menos três motivos.
Dada a gravidade dos envolvimentos atribuídos ao secretário, cinco dias não prometem mais do que argumentação desacompanhada de provas e outros elementos de convicção. E não tem cabimento o prazo cumprido no cargo se a atividade de urgência, nos cinco dias, será a de montar uma defesa. Por fim, com a entrada direta na confrontação de suspeitas e defesa, a comissão pulou uma etapa básica.
Romeu Tuma Jr. não é o único servidor público envolvido no que compete ao exame e providências da Comissão de Ética do Serviço Público. Tão logo ficou demonstrada a gravidade das informações sobre o principal incumbido de problemas como produtos falsificados e contrabando, a defesa ética do Estado exigia seu afastamento até provada a inocência ou, se não provada, afinal em definitivo. A cobrança de tal medida era o primeiro e não cumprido dever ético e funcional da comissão.
A nomeação de Romeu Tuma Jr. para o alto cargo do Ministério da Justiça não foi por escolha do então ministro Tarso Genro, nas alterações motivadas pelo segundo mandato. Foi decidida por Lula. Uma retribuição ao diretor do Deops, o hoje senador Romeu Tuma, que lá atrás liberou Lula da prisão provisória para o adeus final à mãe. Muito bem como prova de gratidão, deplorável como comprovação a mais do modo de preencher altos cargos públicos, vistos como objetos de transações diversas.
Não está, portanto, na competência do atual ministro da Justiça, Luiz Barreto, o afastamento preventivo de Romeu Tuma Jr. Está nas do mais elevado servidor público, que não o praticou.
O componente pessoal que assegurou a permanência de Romeu Tuma Jr. coincide com a conduta de Lula nos escândalos que se sobrepõem uns aos outros no seu governo.
Lula invoca o risco de punição à inocência para jogar o tempo a favor da possível salvação de seus aliados ou amigos. A ética do serviço público, a ética da política e a ética pessoal, não faz diferença qual delas esteja em questão, são deixadas em plano inferior -se entram em algum plano.
A campanha eleitoral oferece um exemplo completo do jogo com o tempo. Como se não houvesse saído do governo por um conjunto de torpezas, aí está Antonio Palocci encarregado por Lula de nada menos do que coordenar o programa governamental de uma candidata à Presidência da República. A protelação para mantê-lo no governo mostrou-se insustentável, mas o segundo tempo está dando resultado.
O mesmo se passa com muitos dos notabilizados no caso do mensalão, ou em escândalos ministeriais como o do ex-ministro Silas Rondeau, ou de eminências da "base aliada" como Renan Calheiros, poupados dos afastamentos com o jogo entre o tempo e a memória complacente. Mas Comissão de Ética não deve ser parte de jogo algum.
Correção
A ombudsman Suzana Singer notou que, no artigo do dia 7, dei Dilma Rousseff e José Serra como engenheiros, o que não é certo. Dilma começou economia em Minas e terminou-a no Rio Grande do Sul. Serra estudou economia no Chile e, depois, nos Estados Unidos, embora sem chegar a diplomar-se.

MÔNICA BERGAMO

Sobrevoo 
Mônica Bergamo 

Folha de S.Paulo - 11/05/2010

Depois da escolha do modelo de caças que serão adquiridos pelo Brasil, a Aeronáutica deve lançar outra licitação no mercado. Ela prevê a compra de aviões para reabastecer, no ar, as próprias aeronaves de guerra que virão para o Brasil. Os aviões que hoje cumprem a missão são da década de 50 e estão entre os mais velhos do mundo na modalidade.
Velhos Amigos
Foram intensas as conversas entre o senador pernambucano Sérgio Guerra, presidente do PSDB e coordenador da campanha de José Serra (PSDB-SP) à Presidência, e líderes do PP neste fim de semana em SP. Um dos interlocutores dele foi o deputado Ciro Nogueira (PP-PI), que também se encontrou com Paulo Maluf (PP-SP).
À Parte
Depois de resolvida a questão da aliança do PSDB com o PP no Rio Grande do Sul, o partido de Maluf quer de Guerra também a garantia de que o deputado Ricardo Barros (PP-PR) será lançado ao Senado no Paraná, na chapa do tucano Beto Richa, pré-candidato ao governo. Osmar Dias (PDT-PR) pode ser o outro nome na aliança. Guerra viaja amanhã para Curitiba para os acertos finais.
Braço Armado
E o deputado Eduardo da Fonte (PP-PE), afilhado político de Severino Cavalcanti (PP-PE) e pernambucano como Sérgio Guerra, tem sido o braço direito dele na tentativa de composição entre tucanos e pepistas. Ontem, eles almoçaram juntos em SP.
Honorário Plástico
A OAB-SP vai decidir, no próximo dia 25, se os advogados paulistas poderão aceitar cartão de crédito para o pagamento de honorários. O tema será discutido em reunião da Turma de Ética Profissional da entidade. A questão divide os profissionais entre os que acreditam que isso "mercantilizaria" a advocacia e os que acham que isso a modernizaria.
Questão de Divisa
A prática varia Brasil afora. Nos Estados de Alagoas, Ceará, Maranhão, Rio Grande do Norte, Paraíba, Piauí, Roraima, Rio Grande do Sul, Goiás e no Distrito Federal, não é possível pagar advogado com cartão. No Pará, alguns profissionais aceitam, mas a medida é considerada "incomum". No Amapá e na Bahia, o tema está em discussão na OAB.
Overdose
Os produtores do filme "Vips", sobre o impostor que se passava por herdeiro da Gol e estrelado por Wagner Moura, decidiram adiar o lançamento do longa. Quiseram evitar que o filme chegasse às telas no mesmo período de "Tropa de Elite 2" -também protagonizado pelo ator. "Vips" deve ser lançado só em 2011.
Madrinha Bruni
A primeira-dama da França, Carla Bruni, confirmou presença na inauguração do instituto francês de robótica Ircad, que será inaugurado no fim do ano no Hospital de Câncer de Barretos, no interior de São Paulo.

A cantora havia sido convidada para ser madrinha do centro de pesquisa há alguns meses. E agora enviou carta a Henrique Prata, diretor de gestão do hospital, aceitando o convite. No texto, a mulher do francês Nicolas Sarkozy coloca seu secretário pessoal à disposição para acertar os detalhes de sua vinda ao Brasil, em dezembro.
Pelota
Ronaldo pode tuitar também para a América Latina nos jogos da Copa. A Claro já pensa em patrocinar comentários dele em espanhol sobre as partidas do Mundial.
Avatar
Responsável pelo Twitter da dupla Zezé Di Camargo & Luciano -ele posta textos e vídeos que faz com o próprio celular-, o cantor Luciano também criou um perfil "fake" no microblog. "Assim, posso entrar na página do Serra, da Dilma, ver aquelas babaquices que eles escrevem, e posso ficar brigando e xingando todo mundo", diz ele.
Caco Ricci
"Já sou de casa no palácio" 
O modelo Caco Ricci, ex-participante do reality show "A Fazenda", da Record, brilhou no evento de lançamento da pré-candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) ao governo de SP, no sábado. Ficou no palco, em uma bancada de 46 pessoas "comuns" que representavam "a população de SP" -havia, por exemplo, um padre vestindo batina e um judeu usando quipá no grupo. Ricci apareceu no telão durante toda festa.

FOLHA - Como foi parar no palco?
CACO RICCI - Fui escolhido pela cúpula do partido para representar a classe artística. Sou simpatizante desde a época do [Mário] Covas, sempre acompanhei o PSDB. Fiquei meio relutante, por estar negociando com emissoras de TV. Achei que isso pudesse, sei lá, influenciar, mas depois decidi que não. Como cidadão, tenho que acompanhar o candidato, né? Não posso me alienar.

FOLHA - Foi chamado de papagaio de pirata dos políticos?
RICCI - Fui completamente papagaio de pirata, mas não tem o que fazer [risos]! Pelo menos não é qualquer pirata. Fui várias vezes ao palácio [dos Bandeirantes, sede do governo de SP], já sou meio que de casa ali. A dona Lizete, minha mãe, trabalhou no cerimonial e eu com ela. Ó, se vocês prestarem atenção, em vários eventos do governo eu estou ali por perto, há muito tempo.

FOLHA - Recebeu cachê?
RICCI - Não, imagina! Eu jamais aceitaria. Fui para prestigiar. E eu tava com um "3" na manga [da camiseta]. Depois que me toquei que não é bem o número do partido. Se pelo menos fosse um 5, um 25, sei lá, um 45 ou algo assim! Aí dei uma dobrada, para não confundir com o 13 [do PT]. Vieram me avisar que estava ficando feio no telão e eu tive que desdobrar.
Curto-circuito

SERÁ ABERTA hoje, às 20h, a mostra "Visionaire - Para Todos os Sentidos", no Instituto Tomie Ohtake.

O CICLO DE LEITURAS do Teatro da Vertigem tem início hoje, às 21h, na sede do grupo teatral, na Bela Vista, com o texto "Edite, Pescoço de Cisne", de Bernardo Carvalho. 12 anos.

O LIVRO "Separar Depois dos 40", de Marcia Camargos, tem lançamento hoje, às 19h, na Livraria da Vila da al. Lorena.

ADILSON XAVIER autografa hoje, às 18h30, o romance "E. O Atirador de Ideias", na Livraria Cultura da av. Paulista.

A REDETV realiza hoje, às 19h, coquetel de lançamento da Fórmula 3 Sul-Americana, na sede da emissora.

A EMPRESÁRIA Ana Paula Carneiro realiza brunch em torno da gemologista Virginia Salem, hoje, na al. Franca, nos Jardins.

ACONTECE HOJE, às 11h30, o ciclo de palestras "Na Sala Certa", com Michael Kronenberg, no Cinemark do Villa-Lobos.

OS TITÃS apresentam o show "Sacos Plásticos" no dia 28, no Citibank Hall, no Rio de Janeiro. Classificação: 15 anos.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Demanda por veículos irá ficar abaixo do esperado, diz consultoria 
Maria Cristina Frias
Folha de S.Paulo - 11/05/2010

O aperto monetário e o reajuste dos preços do aço devem reduzir a demanda por veículos nos próximos meses no país.

Como consequência, a produção nacional irá ficar abaixo das estimativas iniciais. De acordo com a Tendências Consultoria, por conta das incertezas para os próximos meses, a produção de veículos deve fechar o ano em 3,42 milhões de unidades, abaixo dos 3,49 milhões previstos anteriormente.

"Além do crédito mais caro por conta do ciclo de alta dos juros, as montadoras deverão repassar boa parte do aumento de preços do aço para o preço final dos automóveis", diz o economista Alexandre Andrade, da Tendências Consultoria.

Apesar da revisão para baixo, o resultado deste ano deverá ficar 7,5% acima da produção de 2009. No ano passado, a indústria automobilística produziu 3,18 milhões de veículos, que inclui automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus, segundo dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores).

O destaque positivo deste ano deve ficar para os caminhões e ônibus, com expansões de 39,4% e de 30%, respectivamente, segundo a consultoria
.
"Esses segmentos estão associados a outros setores da economia, como agronegócio, mineração e construção. A recuperação da atividade econômica como um todo influencia no desempenho desses veículos."

Até o final deste ano, a produção de automóveis e comerciais leves deve crescer 5,7%.
"Pula-ciclo" Para Cliente Fiel
De olho nos clientes de pequenos e médios supermercados paulistas, a Losango, do grupo HSBC, lança o cartão "Carrinho Cheio". O novo plástico oferece o "pula-ciclo", que permite o pagamento em até 70 dias. O cliente paga uma tarifa de R$ 4,99, por fatura, não importa quantas compras faça. Se não usar o cartão, não paga. Não cobra anuidade. O cartão, de bandeira Visa, também oferece seguros, a possibilidade de uso em outros ramos do varejo, e 13 opções de datas de vencimento. A ideia, por trás do cartão e de seu "pula-ciclo", é fidelizar clientes, pois no plástico pode constar o nome do estabelecimento. A meta é emitir 30 mil cartões até o final deste ano e 500 mil, em cinco anos, o que somará à carteira atual de 2,5 milhões de cartões emitidos, da Losango. "As classes A e B já têm cartão dos bancos. A C e a D também precisam de benefícios que facilitem a vida deles", diz Hilgo Gonçalves, executivo-chefe da Losango.
Cata-vento
Ricardo Simões, diretor da Brennand Energia, assume hoje a presidência da Abeeólica (Associação Brasileira de Energia Eólica), em substituição a Lauro Fiuza Jr., que passa a ocupar a vice-presidência da entidade. Para responder às mudanças decorrentes do crescimento do setor no Brasil, a Abeeólica criou 12 novas diretorias, segundo Simões. Entre as novas áreas estão a de regulação, a de indústria e a de estudos econômicos, além de diretorias regionais. "É enorme a demanda por energia eólica, que se consolidou no último leilão e deve alcançar no mínimo 1.500 MW no próximo, em junho", diz.
Metálico
A indústria do cobre abriu 565 novos postos de trabalho nos primeiros três meses deste ano no país, segundo o Sindicel (Sindicato dos Condutores Elétricos, Trefilação e Laminação de Metais Não Ferrosos de SP). As indústrias do setor registraram 18.506 empregos diretos. Dentre os subsetores, o de fios e cabos teve alta com 14.613 vagas, aumento de 3,4% ante os três primeiros meses de 2009. O de semimanufaturados (cobre e ligas) caiu 2,3% em 2010, totalizando 3.893 postos.
Debate
A participação da iniciativa privada no setor de infraestrutura no país será tema de debate no seminário "Projetos de Infraestrutura - Modelagens e Riscos", promovido por Azevedo Sette Advogados e Abdib, no dia 13. Serão debatidos modelagens jurídicas, financeiras, aspectos fiscais, ambientais e mitigação de riscos, a partir da discussão de casos concretos.
Istambul
Em três anos, a Turquia quer aumentar o fluxo de comércio com o Brasil dos atuais US$ 1,7 bilhão para US$ 5 bilhões. Entre as ações para atrair investidores brasileiros, o país promoverá a exposição de produtos turcos Expo Turquia, de 26 a 29 de maio, em São Paulo. Organizada pela Câmara de Comércio de Istambul e promovida pela Reed Exhibitions Alcantara Machado, a feira reunirá 130 expositores de segmentos como presentes e decoração, construção, alimentos, têxtil, máquinas e ferramentas, cosméticos, entre outros.
Desembarque
Joe McCool, presidente e fundador da consultoria The McCool Group LLC, vem ao Brasil em junho, a convite da Fesa, para participar de palestras e debates sobre o mercado mundial de contratação de executivos. McCool, especialista em recrutamento, lançará seu livro "Escolhendo Líderes" (Editora Saraiva).
Crédito
Levantamento do departamento da micro, pequena e média indústria da Fiesp aponta que 70% da demanda de crédito para o setor é usada para investimentos.
Bolso Cheio 1
O mês de março deste ano apontou resultado recorde na série histórica da pesquisa mensal do comércio da Fecomércio-RJ, com alta de 4,7% na comparação com o mesmo mês do ano passado. O faturamento do grupo de bens não duráveis cresceu 6,8% na mesma base de comparação. Os destaques foram supermercados, com aumento de 7,3%, e farmácias e perfumarias (4,5%).
Bolso Cheio 2
O comércio automotivo teve desempenho positivo (3,5%), segundo a Fecomércio-RJ. O subgrupo de concessionárias de veículos cresceu 7,5%. O faturamento do grupo de bens duráveis subiu 2%, favorecido pela proximidade do fim da desoneração do IPI sobre móveis. Bens semiduráveis tiveram alta de 1,8% e combustíveis e lubrificantes, de 2,9%.

ELIANE CANTANHÊDE

O castigo vem a camelo
ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SÃO PAULO - 11/05/10

BRASÍLIA - Lula vai ter uma surpresa em Doha, no Catar, na próxima sexta, ao se encontrar com o xeque Hamad Bin Kalifa Al Thani e sua mulher, Mozah: ao lado deles estará um brasileiro que é prestigiado assessor de cultura no país.
Sabe quem é? O engenheiro Márcio Barbosa, ex-presidente do Inpe (Pesquisas Especiais), ex-vice da Unesco e candidato à direção-geral da entidade com apoio do então diretor, o japonês Koichiro Matsuura, e de vários países. Mas Lula e o Itamaraty lhe puxaram o tapete, e a candidatura se esborrachou.
O pior é que o governo trocou Márcio Barbosa (além do senador e ex-ministro Cristovam Buarque) para apoiar um egípcio acusado de racista, o ex-ministro Farouk Hosny, que, em sendo da área de cultura, era capaz de queimar livros contrários às suas crenças.
Como o chanceler Celso Amorim explicou? O apoio ao egípcio convinha justamente "à forte política de aproximação com o mundo árabe".
Equivalente a jogar fora a vaga na Unesco por uns votinhos a mais para a cadeira permanente do Conselho de Segurança da ONU.
O desfecho? Barbosa desistiu, o egípcio esquisitão perdeu e a direção-geral da Unesco, que cuida de educação, ciência, cultura e tem um baita de um charme, ficou com uma diplomata búlgara, Irina Bokova.
Que seja feliz.
Sacou qual a grande ironia? O governo passou duplo vexame (contra um brasileiro e a favor de um racista) em nome da aproximação com o mundo árabe, mas não é que Barbosa era tão simpático à região, ou a parte dela, que acabou virando assessor do xeque do Catar?
Lula vai ter de engoli-lo duas vezes neste seu último ano de governo. Uma na ida a Doha, coincidindo com a provavelmente apoteótica visita a Mahmoud Ahmadinejad em Teerã. Outra em maio, quando o mesmo Barbosa virá ao Brasil com Mozah para o Fórum da Aliança das Civilizações. O castigo vem a cavalo.
Ou a camelo.

JOSÉ SIMÃO

Socuerro! Dunga afoga o Ganso!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 11/05/10

Deputados argentinos aprovam o casamento gay. Ou casa com gay ou com argentino. Rarará!


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta!
E sabe por que o Dunga não toma Viagra? Porque já tem a cabeça dura! Rarará! E em Clevelândia, no Pará, tem uma farmácia que vende Vick Vaporub por dedada. Cada dedada custa R$ 0,50!
E deputados argentinos aprovam o casamento gay. Agora pode escolher: ou casa com gay ou com argentino. Rarará! E o Dunga tá ferrado! Povo quer Ganso na Copa. Pra fazer dupla com o Pato! Seleção Animal do Dunga: Pato e Ganso. MULA, Pato e Ganso! Vamos enriquecer a vida selvagem africana. DUNGA WILDLIFE! Avecídio na Copa: come o pato e afoga o ganso!
E o álbum da Copa? Eu já falei que os argentinos têm que colar tudo de cabeça pra baixo! E eu não consigo completar o Paraguai. Vou completar com figurinha pirata. Acho que vou pedir algumas pro Tuma Jr. Rarará! E sabe qual é a figurinha 171? Um jogador grego! E um leitor me disse que o Serra tá parecendo um joelho de gravata!
E o ônibus da seleção na Copa? Agora os torcedores podem sugerir frases pra pintar no ônibus. Oba! O Eramos6 já sugeriu varias: 1) Neymar e Ganso estão aqui dentro; 2) De pensar morreu um dunga; 3) Pelé, não torça pela gente, ok?; 4) Dunga não poderá vir, mandou o Felipão no lugar!; e finalmente: "Ei, Messi, vá tomar no C#". Rarará!
E sabe aquele novo aparelho que os americanos botaram nos aeroportos? SCANNER! Pois é: "Scanner mostra tamanho de pênis e americano vira motivo de piada". Pra combater o terrorismo, eles fazem terrorismo com os colegas! Rarará! Sessão do Tribunal de Justiça de Pernambuco presidida pelo desembargador Augusto Duque. Processo de estupro. Entre as testemunhas, uma irmã da vítima. E o desembargador: "Que entre a arrolada". "Doutor, a arrolada não foi eu não. A arrolada é a minha irmã." Rarará!. É mole? É mole, mas sobe! Ou, como disse aquele outro: é mole, mas trisca pra ver o que acontece!
Antitucanês Reloaded, a Missão. Continuo com a minha heroica e mesopotâmica campanha Morte ao Tucanês. É que em Prata, Minas, tem um motel chamado TÔ Q TÔ! Ueba! Mais direto impossível. Viva o antitucanês! Viva o Brasil!
E atenção! Cartilha do Lula. O Orélio do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. "Zorba, o grego": Deus da Cueca! Que vai salvar a Grécia. Rarará! O lulês é mais fácil que o ingrêis. Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

MERVAL PEREIRA

Intervencionista ou regulador? 
Merval Pereira

O Globo - 11/05/2010

Depois de um período em que navegou em mar de almirante, quase sem cometer erros e claramente ditando o rumo da pré-campanha, o candidato tucano, José Serra, ressuscitou o político ranzinza que estava adormecido dentro dele e saiu ontem com três pedras na mão para responder a uma pergunta da jornalista Míriam Leitão na entrevista que concedeu à rádio CBN.

A pergunta, sobre se manteria a autonomia do Banco Central, nada tinha de ofensiva, e mesmo a referência ao fato de que muita gente acha que Serra quererá ser também o presidente do Banco Central, se for eleito presidente, referia-se a um comentário frequente, que o candidato tem que esclarecer porque se trata de uma característica que lhe atribuem, a centralização das decisões, que pode ser crucial para a definição do eleitorado.

As críticas de Serra à política de juros já são conhecidas, assim como sua visão de que o Banco Central é um órgão assessor da política econômica como qualquer outro, e não é intocável, também.

É previsível que num eventual governo Serra a autonomia do Banco Central não será formalizada. Aliás, nem Lula tornou essa autonomia lei, e mesmo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em cujo governo chegou-se a cogitar essa formalização, hoje dá graças a Deus de não ter levado adiante o projeto de sua equipe econômica.

Ele relembra a crise da desvalorização do Real em 1999 e diz que, se o Banco Central fosse independente, com a diretoria com mandato, não teria sido possível mudar a política do economista Francisco Lopes, nem tirá-lo da presidência do BC em tão pouco tempo para colocar em seu lugar Armínio Fraga.

A tendência num governo Serra é que as diretorias dos bancos estatais sejam compostas na maior parte por funcionários de carreira, valorizando as corporações, fortalecendo Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, por exemplo, sem aparelhar politicamente suas gestões.

Assim também o Banco Central provavelmente não terá status ministerial e perderá a importância que tem hoje, reduzindo a margem para conflitos internos.

A ideia é dar consistência à equipe econômica, harmonizando a atuação do BC com o Ministério da Fazenda, o que evitaria divergências de políticas que existem hoje, com uma parte do governo aumentando os gastos públicos e incentivando a demanda, e o Banco Central tendo que atuar aumentando os juros para conter a inflação.

Embora não tenha entrado em detalhes na entrevista à CBN, pelo que tem revelado em conversas, Serra não vai baixar a taxa de juros na base do voluntarismo, mas vai usar diversos métodos para reduzir a necessidade de manter os juros mais altos do mundo, como ressaltou ontem na entrevista.

O papel da Bolsa de Valores será fundamental, e nesse contexto o pré-sal é um bom exemplo: um eventual governo Serra incentivaria que a Petrobras se capitalizasse na Bolsa.

Segundo seus assessores, Serra tem claro que hoje, quando o que precisamos é crescer e financiar novos investimentos, a Bolsa ganha dimensão especial. Ressaltou na entrevista que os investimentos têm sido pequenos nos últimos anos, especialmente em infraestrutura.

Uma das ideias que estão sendo estudadas é cobrar menos impostos de quem aplica na Bolsa do que em papéis do Tesouro. A visão é a de que temos muita liquidez interna, e está tudo aplicado em títulos do governo, em vez de em investimentos.

Boa parte das empresas que o BNDES e o Banco do Brasil estão financiando ganharia taxa de juros Selic nas suas aplicações e pagaria pelo empréstimo TJLP, bem mais baixa.

O tom da política econômica de Serra seria uma regulação forte, e isso ele destacou na entrevista da CBN, criticando o aparelhamento das agências reguladoras.

Serra é favorável ao que chama de “Estado ativo”, mas não nos mesmos moldes dos anos 50, quando o Estado desempenhou papel fundamental na economia brasileira, coordenando investimentos e intervindo na economia.

Esse modelo de desenvolvimento centrado no Estado perdeu força nos anos 1980, mas está sendo reavivado hoje pelo governo Lula.

Serra ontem se disse favorável a um “Estado musculoso e não inchado”. Em outras ocasiões, nos últimos anos, ele tem explicitado suas ideias sobre o sucessor do Estado intervencionista, que segundo ele não pode ser o Estado inerte, mas o “Estado regulador”, com a criação das necessárias agências e a aprovação de legislação que defina precisamente parâmetros para o funcionamento dessas entidades.

Em lugar de uma estatal, um governo Serra estimularia que as grandes empresas privadas produzam aqui, como foi feito com os celulares e a indústria automobilística.

Uma das maneiras de controlar o câmbio seria incentivar as empresas a segurarem o dólar no exterior, para comprar equipamentos e importar.

A diferença entre os candidatos seria basicamente que Dilma é mais interventora, e Serra, mais regulador, embora na entrevista de ontem ele tenha deixado uma sensação de intervenção no trabalho do Banco Central que deu margem a críticas da candidata oficial.

A estratégia de Lula, de tentar colocar o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, como vice de Dilma, visava justamente a isso: dar um recado ao mercado de que haveria continuidade na autonomia do Banco Central.

Ontem, embora tenha garantido que não haverá “virada de mesa” com ele no governo, Serra saiu-se mal na primeira polêmica da campanha, mostrando-se irritadiço com as desconfianças do mercado.

Está apenas dando margem ao governo de explorar os receios de que ele seja na verdade mais intervencionista do que Dilma. O que é improvável, mas como mote de campanha eleitoral produz seus efeitos.

PAINEL DA FOLHA

Sem paz nem amor 
Renata Lo Prete 

Folha de S.Paulo - 11/05/2010

Para além das discussões de mérito sobre o grau de autonomia do BC, a refrega entre José Serra e a colunista de economia Míriam Leitão, durante entrevista na rádio CBN, foi discretamente festejada pelo campo adversário por ter sido a primeira vez, desde o lançamento da candidatura, em que o tucano respondeu com agressividade explícita a uma pergunta que o irritou. Aliados se dividem em atribuir o fato a mau humor, dor de garganta, privação de sono e/ou sensibilidade do tema, mas todos concordam: trata-se de infração ao "código de conduta" de qualquer candidato.

De 10 de março até ontem, episódios de "má sorte" pareciam exclusividade de Dilma Rousseff. Não mais.
ViradaÚltima mensagem postada na madrugada de ontem por Serra no Twitter: "Dormir é questão de decidir. E decidi dormir mais "cedo" hoje. Às 8h, tenho debate na CBN". Eram mais de 3h.
Indicativo 1O presidente do PMDB, Michel Temer, negocia com colegas a possibilidade de levar à reunião da Executiva do partido, no dia 18, proposta de resolução deixando claro que a palavra final sobre as alianças estaduais caberá à direção nacional.
Indicativo 2A ação é interpretada pela ala pró-Serra como uma tentativa de Temer de fazer um gesto de boa vontade ao PT no momento em que este lhe pede que enquadre os dissidentes, sobretudo no Sul. Se aprovado, o texto daria a Temer, cotado para ser vice de Dilma, controle formal sobre as alianças.
O último...Defensor quase solitário da aliança formal do PP com Dilma, o ministro das Cidades, Márcio Fortes, prestigiou ontem o almoço da candidata com prefeitos da Baixada Fluminense. Apesar de crescer no partido a onda pró-Serra, Fortes afirma que a união com os petistas ainda não pode ser descartada. "É um jogo de pôquer. Uns blefam, e alguém paga pra ver."
...dos moicanosSobre a possibilidade de o presidente do PP, Francisco Dornelles, ser vice de Serra, o ministro diz que, enquanto não chega um "convite formal", o partido recebe afagos dos dois lados. "Este é o momento de sonhos, ilusões e negociações."
Coisa poucaEm conversa com Sérgio Cabral (PMDB-RJ) no sábado, Lula perguntou como o governador avaliava as chances de Marcelo Crivella (PRB) se reeleger ao Senado. Cabral, que apesar do desejo do presidente não dará lugar em sua chapa a Crivella, disse achar que, devido ao isolamento, ele terá pouca chance. Em tempo: hoje, Crivella lidera as pesquisas.
EscoltaNa reunião com prefeitos, Dilma chegou acompanhada de Cabral e do presidente da Assembleia do Rio, Jorge Picciani (PMDB), postulante ao Senado com vaga prometida no palanque do governador. O outro candidato é o petista Lindberg Farias.
ExplosivoDe Romeu Tuma Jr., ontem, sobre a pressão do governo para que deixe "espontaneamente" o cargo de secretário nacional de Justiça: "Estão mexendo com a válvula do botijão de gás".
Cartão amareloA nova edição da revista "Por Sinal", do sindicato dos funcionários do BC, traz reportagem sobre instituições financeiras, empresas e clubes de futebol que devem ao banco milhões relativos a negociações em dólar feitas no exterior. O Santos, campeão paulista, é um dos que respondem a ações de recuperação de crédito.
Por etapasPara tentar vencer a resistência ao projeto que legaliza os bingos no Brasil, deputados favoráveis ao texto propuseram ao presidente da Câmara, Michel Temer, um desmembramento que permita votação, ainda neste ano, ao menos da liberação do bingo em máquinas. Outros tipos de jogos, como os caça-níqueis, por enquanto continuariam proibidos.
Tiroteio 
Isso mostra que o autoritarismo que eles tentam carimbar na nossa candidata na verdade se aplica ao candidato deles.
Contraponto 
Segue o jogo 
Integrantes da Executiva Nacional do DEM avaliavam a votação do projeto da "ficha limpa" quando José Carlos Aleluia (BA) tomou a palavra para elogiar seus colegas:

-ACM Neto teve atuação brilhante presidindo a Mesa. Caiado, sempre excitado, mas muito competente... Já o Índio da Costa foi bem, mas perdeu o pênalti!

Diante do riso dos colegas, o deputado continuou:

-Por isso dizem sempre que pênalti deve ser cobrado pelo presidente do clube....

Para entender: relator do projeto, Costa votou por engano a favor de requerimento para adiar a discussão. O lapso não teve consequência, pois o pedido foi derrotado.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Primeira fila 
Sonia Racy 
O Estado de S.Paulo - 11/05/2010

Dilma dá demonstração explícita de apreço ao presidente do BC. Ela faz parte do grupo de brasileiros que vai a NY participar da homenagem a Henrique Meirelles, vencedor do prêmio Homem do Ano da Câmara Brasil-Estados Unidos.
Bem como Antonio Palocci e Marta Suplicy.


Plano B

Aloizio Mercadante está cada dia mais distante do PSB. O partido deve mesmo lançar Paulo Skaf para disputar o governo.
E mais próximo do PDT, que lhe indicou duas opções de candidato a vice.

Cá entre nós

Entre amigos, Paulo Maluf tem explicado porque evita polemizar publicamente a demolição do Minhocão. Não quer se indispor com Gilberto Kassab.

Fachada

Alberto Goldman inaugurou na sexta, em São Luiz do Paraitinga - a cidade arrasada por chuvas -, um Centro de Reconstrução.
Ana Lúcia Bilard, a prefeita, em seu discurso, avisou que o Estado colocou, até agora, R$ 100 milhões na cidade. E que o governo federal, somente um tapume coberto com a inscrição "Brasil, um País de Todos".

Acelerador

Os motoboys da capital se organizam para entrar na Justiça, segundo o Sindicato dos Trabalhadores Motociclistas, contra a proibição de circular na av. 23 de Maio.
Reclamam que sequer foram recebidos por Kassab.

Outros tempos

Com 20 anos de atraso, Leonardo Boff recebeu ontem, de Chico Alencar, a Medalha Pedro Ernesto.
A homenagem anterior foi cancelada a pedido do religioso, que nos anos 90 foi punido pelo Vaticano com o "silêncio obsequioso".

Lula lá...

O vulcão da Islândia deixou o Planalto de sobreaviso. Dependendo de onde o vento soprar, Lula terá que adiar seu giro internacional. Mar cado para começar, amanhã, por Moscou.

... e cá

Aliás, o presidente topou. Lula grava hoje, no Planalto, depoimento para documentário sobre a orquestra Criança Cidadã, do juiz João Targino. E depois do "corta", assiste a uma apresentação exclusiva dos garotos.


Vida reality

Quem viu, reparou. A única celebridade não-política no lançamento de Geraldo Alckmin, sábado, foi... Caco Ricci. Que esteve em A Fazenda 2, da Record.

Vida reality 2

Teve gente que preferiu nem chegar perto do palanque para abraçar o candidato. Por medo de um cachorro enorme, que acompanhava um militante cego.

Vida reality 3

Essa vai deixar Marina Silva verde de raiva. No meio dos tucanos, vários colegas do PV foram vistos celebrando a indicação de Alckmin, na Assembleia.

Vida reality 4

Assim que o evento terminou, Alckmin recusou convites para esticar os festejos. Preferiu ir diretor para sua Pindamonhangaba.

Agora vai

Caminha o projeto para transformar em filme o conto O Alienista, de Machado de Assis.Os produtores conseguiram R$ 1,2 milhão via Lei Rouanet.

Cofrinho de diamante

Sienna Miller será o rosto da grife suíça de joias e relógios Piaget.

De princesa

Mesmo com quase 1,8 mil pessoas convidadas, o casamento de Patrícia e Gustavo conseguiu quase o impossível: ser impecável. Na casa da avó da noiva, Dolly Abdalla, nos Jardins, fluíram livremente pela noite, garrafas de Dom Pérignon, Blue Label, vinhos linha Grand Cru e muita dança. O cenário, de Felippe Crescenti, deu ao imenso espaço, um tom algo aconchegante. Única reclamação ouvida: muitos carros levaram uma hora e meia para conseguir chegar a porta de entrada. Falhou, a CET.

MÍRIAM LEITÃO

O superpacote 
Miriam Leitão 

O Globo - 11/05/2010

O superpacote europeu tem vários significados.

A Europa assumiu que não era uma crise grega, mas europeia; criou um mecanismo novo, o fundo de estabilização monetária, que será decisivo na solução do problema; admitiu que vários países como Espanha, Portugal, Irlanda e até Itália poderiam sofrer as mesmas turbulências. Pela primeira vez, a Europa viu o tamanho da crise.

O valor que chega a quase US$ 1 trilhão pode acabar tendo que ser ampliado. E mais: outros desdobramentos podem ser inevitáveis, como, por exemplo uma reestruturação da dívida grega.

Os gregos precisam se comprometer publicamente com o ajuste nas contas, mas agora terão reforços.

Como nos piores momentos da crise que começou no final de 2008, a agenda econômica da semana começou no domingo. Líderes europeus passaram 14 horas reunidos para dar uma resposta rápida e forte antes da abertura das bolsas asiáticas. A entrevista de explicação oficial do pacote acabou acontecendo de madrugada, em Bruxelas. Diante de respostas meio vagas, um jornalista se aborreceu e lembrou aos representantes europeus que já eram quase três da manhã.

Esse volume todo de dinheiro não será transferido para os governos. O fundo de estabilização será uma espécie de fiador. Os países continuarão indo a mercado para rolar suas dívidas, mas o fundo de estabilização vai garantir que eles tenham uma segunda opção de captação.

A ideia é que isso reduza a taxa de risco e eles possam captar a juros menores.

Essa pode ser uma fórmula também para contornar limitações de se financiar países que estão com déficits acima do limite do Tratado de Maastricht. A Alemanha, por exemplo, tem essa limitação.

Pôr dinheiro num fundo de estabilização é bem mais palatável politicamente do que emprestar para um país com risco de default. Da mesma forma, receber de um fundo é bem mais palatável politicamente do que de um país, ou um conjunto de países. Mesmo assim, os parlamentos dos países terão que ser ouvidos.

Se o prometido no fim de semana demorar a se tornar realidade, certamente os mercados passarão por outros momentos de volatilidade.

Ontem foi dia de festa, mas a tendência pode se inverter.

Há um longo caminho até que se encontre soluções definitivas para a grave crise fiscal da Europa. Depois que o cabo da tormenta for contornado, ainda será necessário um longo tempo para os países digerirem os déficits.

Isso significa que a Europa pode passar anos crescendo pouco ou não crescendo.

O economista Armando Castelar, do Gávea investimentos, acha que o pacote está bem dimensionado, mas que a solução não será trivial: — Existe espaço para ruído por conta dos detalhes e da aprovação do crédito nos 16 parlamentos. Não será trivial. A própria concessão dos créditos virá ligada a condicionalidades impostas pelo FMI.

Há vários dilemas no caminho.

O Banco Central Europeu antes estava se recusando a comprar títulos de países com problemas, mas isso acabava sendo o mesmo que condená-los, o que afetaria todo o sistema.

Agora, decidiu-se que ele vai comprar esses títulos, mas aí cai em outra contradição, como diz o economista Carlos Thadeu de Freitas, da Confederação Nacional do Comércio (CNC): — O BCE será obrigado a cobrar a mesma taxa de juros de todos os países da Zona do Euro, o que vai significar subsidiar os países que hoje estão mal. Vai usar a via monetária para resolver um problema essencialmente fiscal.

O professor José Márcio Camargo, da Opus Gestão de Recursos, e da PUC-Rio, acha que a dúvida é de novo se o excesso de ajuda não acabará retardando os ajustes necessários nas economias encrencadas: — O mercado já não comprava os títulos de alguns países, e o que a Europa fez foi dizer que está disposta a financiá-los por dois a três anos. Mas no médio prazo a dúvida que fica é se eles terão vontade política para fazer os ajustes. Prometer é uma coisa, fazer é outra. E isso será colocado em prática num momento de crescimento baixo.

De qualquer maneira, vários economistas acham que não está afastado o risco de reestruturação da dívida grega. Eles preferem falar essa palavra do que a outra, temida: “calote”. A escolha não é apenas semântica.

Acham que há uma chance de uma negociação com os credores, processo mais bem representado pela palavra “reestruturação” do que por “calote”. De qualquer maneira, só há a chance dessa solução menos traumática depois do último fim de semana.

— Caiu a ficha de que existe uma falha fenomenal na Zona do Euro. A criação desse fundo de estabilização pode ser o embrião de um fundo monetário europeu, que funcionará nos moldes do FMI. A reestruturação da dívida grega continua inevitável, mas ela poderá ser feita agora ao longo do tempo e não de forma abrupta — diz Monica de Bolle, da consultoria Galanto.

O pacote afasta o maior medo do mercado que é o de começar tudo de novo, com mais uma rodada da mesma crise. Mesmo assim, as dúvidas continuam. Os países que já estão com déficit terão que aumentar seus gastos para socorrer os outros governos. A conta dos países mais encrencados pode não ser paga à vista, mas será paga a prazo, através do baixo crescimento.