sábado, fevereiro 27, 2010

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Santander reconhece erro em estudo sobre Serra

FOLHA DE SÃO PAULO - 27/02/10


O Banco Santander reconheceu que errou ao sustentar em um estudo que o desempenho fiscal de São Paulo e da União são equivalentes.
Em novo relatório, o banco espanhol afirma, diferentemente do que asseverava antes, que os gastos correntes (como pessoal e custeio da máquina) no governo José Serra foram mantidos sob controle.
"Meu estudo anterior sobre contas fiscais em São Paulo, alegando que seu desempenho era similar ao do governo federal, estava errado", escreveu Alexandre Schwartsman.
Na ocasião, o Santander havia concluído que "a realidade fria dos números" não mostrava um regime fiscal diferenciado em São Paulo e não confirmava a avaliação de que o governador Serra (PSDB) seria mais duro no controle fiscal do que a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT).
Uma nota técnica preparada pela Fazenda paulista revelou erros importantes do relatório, segundo o economista.
O estudo falhou em apreender corretamente o impacto das mudanças em pensões de 2007 em diante, afirmou.
Além disso, em vez de usar o PIB em preços de mercado para calcular a proporção de gastos, como havia sido feito para o governo federal, o economista usou valor adicionado, um procedimento que elevou as estimativas das despesas.
"Ofereço minhas sinceras desculpas aos leitores que possam ter sido levados a acreditar em crenças errôneas sobre o desempenho fiscal de São Paulo, e a todos os envolvidos na administração fiscal do Estado", afirmou ele.

AZUL DE TANTO ESPERAR

Para conseguir um ingresso para assistir ao filme "Avatar", é preciso uma semana de antecedência, se a ideia for ver os efeitos especiais em tela gigante. A tecnologia canadense Imax já existe há mais de 40 anos, mas no Brasil só há duas salas que contam com película de 70mm, o dobro do convencional, para projetar com mais brilho em uma tela côncava do tamanho de um prédio de seis andares. O som tem potência digna dos "na'vi": 12 mil watts (as demais salas têm de 4.000 a 6.000 watts). "A explicação do sucesso está no grau de imersão no filme", diz o empresário Adhemar Oliveira, sócio do Espaço Unibanco Pompeia, no Shopping Bourbon, em São Paulo. Oliveira estuda a abertura de novas salas Imax. "O retorno do investimento demora de três a cinco anos com uma ocupação como a do "Avatar"." Segundo Oliveira, o custo de uma sala Imax é de cerca de R$ 4 milhões, de quatro a cinco vezes o de uma sala comum. O empresário Anibal Tacla, sócio do Grupo Tacla, dono da sala Imax e do Shopping Palladium, em Curitiba, diz que a procura também foi grande na cidade. "Por 60 dias, os ingressos tinham de ser comprados antecipadamente", afirma.

OFERTA RECORDE

A brasileira Lily Safra teria sido a autora da oferta recorde de 65 milhões de libras (cerca de R$ 182 milhões) feita pela obra "O Homem Caminhando I", de acordo com a Bloomberg -a maior já feita por uma obra de arte. A escultura do artista suíço Alberto Giacometti foi leiloada no início do mês pela Sotheby's, em Londres. Segundo a "Forbes", Lily Safra, viúva do ex-banqueiro Edmond Safra, tinha patrimônio de US$ 1 bilhão.

Diminui o ritmo de crescimento da carteira de leasing em 2009

O ritmo de crescimento das operações de leasing diminuiu em 2009. Com a redução do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) de veículos, a vantagem competitiva que o leasing tinha sobre o CDC (Crédito Direto ao Consumidor) deixou de existir.
O saldo da carteira de leasing era de R$ 110,3 bilhões em dezembro de 2009, crescimento de 3,4% na comparação com igual mês do ano anterior, segundo a Abel (Associação Brasileira das Empresas de Leasing).
Essa expansão ficou bem abaixo dos 67,2% de 2008, o melhor ano para o leasing.
"No ano passado, as operações de leasing e de CDC ficaram muito próximas. O leasing perdeu espaço e teve migração para o CDC", diz Osmar Roncolato Pinho, presidente da Abel.
Os novos negócios, que também vinham se expandindo a taxas altas, ficaram abaixo dos volumes históricos alcançados no pré-crise. No ano passado, foram R$ 46,1 bilhões, queda de 42,1%.
Apesar da retração, as perspectivas da Abel são positivas para este ano. A estimativa é de avanço de 25%, diz Pinho.
Automóveis ainda são o grande produto de leasing. Os carros representaram 87% das operações em dezembro. Para 2010, a Abel vê grande potencial de diversificação da carteira no setor de máquinas e equipamentos.

INGRESSO SEGURO

O IRB-Brasil Re assumiu os riscos da turnê da banda inglesa Coldplay no Brasil, que faz apresentações amanhã no Rio e na terça em São Paulo. O valor segurado é de R$ 24 milhões e cobre desde danos civis durante a instalação e montagem dos equipamentos até o cancelamento do show. A empresa também fará o resseguro da turnê do Guns N" Roses, que virá ao Brasil em março, com limite máximo de indenização de cerca de R$ 22 milhões.


com JOANA CUNHA, ALESSANDRA KIANEK e ÁLVARO FAGUNDES

MÍRIAM LEITÃO

Gregos e nós


O GLOBO - 27/02/2010



A Grécia vai afetar o Brasil. Não diretamente, não criando uma crise, mas haverá menos fluxo de capital, mais dificuldade de financiar o déficit externo de 3% do PIB. O dólar ficará mais valorizado, elevando um pouco a inflação. Essa é a visão dos economistas José Márcio Camargo e José Roberto Mendonça de Barros. José Roberto define como “loucura” a criação de uma estatal de fertilizantes.

A complicação grega é maior do que parece. A Grécia tem 50 bilhões de euros vencendo em maio, e até lá o Parlamento grego tem que aprovar medidas de austeridade, do contrário, não haverá ajuda.

— A Europa tem uma moeda única, mas não tem uma base fiscal única.

Maastricht (o acordo que estabeleceu metas fiscais para todos os países do bloco) vem sendo desrespeitado há tempos — afirma José Márcio Camargo, da Opus Gestão de Recursos e da PUC do Rio.

José Roberto lembrou um fato ainda mais complicado.

— O Banco Central europeu terá que renovar as facilidades de refinanciamento aprovadas no ano passado porque a exposição do sistema bancário europeu nos países do mediterrâneo chega a US$ 3 trilhões. A gente tem que lembrar que esses bancos europeus carregam dívidas da Europa oriental, algo esquecido nesse tumulto grego, mas que está lá presente — diz o economista da MB Associados.

Entrevistei os dois na Globonews sobre a situação grega, europeia, e reflexos no Brasil. O que eles disseram de tranquilizador é que nada do que ocorrerá este ano será igual ao ano passado.

— Eu não acho nada parecido com 2008, quando o Lehman Brothers faliu. Primeiro, porque os bancos estão muito menos alavancados; e porque em 2008 ninguém sabia com quem estava os papéis podres. Agora, há muito mais informação sobre a situação de cada um — diz José Márcio.

José Roberto concorda que nada é como 2008, mas haverá efeitos negativos na economia: — Vamos ter algum efeito.

Os bancos estão bem, mas não querem emprestar na Europa. A base monetária cresce a 12%, e o crédito não sobe. O mundo está assimétrico: Ásia crescendo, Estados Unidos recuperando, e Europa em crise. Isso aumenta a volatilidade do capital, que será muito maior do que a gente imaginava.

Neste contexto, vão se reduzir os fluxos de capital no mundo inteiro, afetando até os investimentos diretos. De novo, nada parecido com a crise de 2008, mas uma situação um pouco pior do que se projetava para 2010.

— Até porque nós temos que financiar um déficit de 3% do PIB, o que é US$ 60 bilhões, e isso é muito dinheiro — diz José Márcio.

— Mais importante até do que o déficit de 2010, de US$ 60 bilhões, é o de US$ 100 bilhões, que terá que ser financiado em 2011 — completa José Roberto.

No caso da ajuda à Grécia, José Roberto acha que a Europa terá de ficar entre dois limites: — Não pode salvar facilmente a Grécia porque a mensagem que passa é horrível e terá que ajudar todos os outros países em dificuldade; não pode deixar o default porque o projeto político da Europa e o projeto do euro naufragam.

José Márcio tem a tese de que os países que passaram bem pela crise foram os que, por causa da crise dos anos 90, foram ao FMI (Fundo Monetário Internacional) e tiveram que fazer o ajuste de suas economias, aumentando a solidez fiscal, como a Coreia, Tailândia, Indonésia, México, Brasil.

A Argentina, não, porque ela não fez o ajuste.

— O FMI forçou esses países a fazerem o ajuste e quando chegou a crise eles estavam mais bem preparados.

O que a crise fez mal ao Brasil, na visão de José Márcio, foi que ela justificou escolhas ideológicas de aumento do tamanho do Estado, que tinham sido arquivadas.

— A crise está justificando decisões absolutamente políticas e ideológicas de aumentar o Estado. A lição que o governo está tirando é exatamente a oposta da que deveria tirar, achando que agora pode aumentar o Estado para debelar a crise.

A lição certa é que se saiu melhor quem reduziu o tamanho do Estado. A Grécia aumentou o tamanho e está em crise.

José Roberto acha que há uma leitura errada do economista inglês John Maynard Keynes, no governo: — Lamentavelmente, neste fim de governo, uma visão de que tudo se resolve através do Estado prevaleceu. Começaram todos keynesianos e terminaram estatistas. Aproveitaram o embalo político para embrulhar em cima do coitado do Keynes o antigo programa do PT.

Quando perguntei a José Roberto o que ele achou da ideia de criar uma estatal de fertilizantes, já que ele tem conhecimentos do setor agrícola, ele respondeu: — É uma loucura. Isso aí é uma bobagem sem tamanho, que nasceu de um trabalho de três anos atrás, feito por um assessor do ministro Reinhold Stephanes, e que é uma das coisas mais fracas que já li na minha vida. O problema do setor de fertilizantes é de outra natureza.

A Petrobras, que é dona do gás, quer fazer nitrogenado (matéria-prima de fertilizante) barato? Entrega o gás a preço decente.

Isso ela não faz. A Telebrás é outra parte dessa onda maluca que está surgindo.

Os dois acham que este ano a inflação sobe um pouco, para 5%, o dólar fica entre R$ 1,90 e R$ 2,00, e os juros vão subir, talvez a partir de abril. Acham que a situação econômica fica um pouco pior com a crise da Grécia, mas nada que comprometa o crescimento.

Mas alertam: 2011 será o ano da ressaca se a compulsão estatizante e gastadora não for contida.
Com Alvaro Gribel

MERVAL PEREIRA

Temores


O GLOBO - 27/02/2010


O governo brasileiro teme que eventuais sanções contra o Irã possam se voltar contra nós, pois os dois são países que estão no mesmo estágio de desenvolvimento da tecnologia nuclear e com a mesma intenção de controlar todos as etapas do enriquecimento do urânio.

A explicação é do ministrochefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Jorge Félix, ao negar informação publicada ontem aqui na coluna de que o órgão por comandado esteja fazendo consultas para um possível acordo nuclear com o Irã a ser assinado na visita que o presidente Lula fará àquele país, em maio.

O general Félix chegou a aventar a hipótese de que outro órgão qualquer do governo esteja fazendo essas consultas, embora esclarecesse que desconhecia qualquer movimento no sentido de um acordo com o Irã.

Pode ter havido também um mal-entendido qualquer, admite o general, devido a uma reunião que ele teve quinta-feira, no Rio, com órgãos ligados ao programa nuclear brasileiro, como a Nuclepe, a Eletronuclear, a INB (Indústrias Nucleares do Brasil) e a Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen).

Ele, no entanto, assegura que o assunto da reunião foi o esquema de segurança de locais onde existem as usinas e outros equipamentos, função que passou para o GSI no ano passado.

De fato, dois dos três órgãos que, segundo apurei, receberam consultas sobre eventuais trocas de informações de interesse de Brasil e Irã no campo nuclear estavam na reunião do general Félix: a Eletronuclear e a Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnem). A terceira é o Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo, onde está a usina de Aramar.

O Brasil incluiu recentemente no Plano Nacional de Defesa a decisão de dominar o conhecimento e a tecnologia nucleares, como parte de seu programa de desenvolvimento estratégico, e considera que se o Irã for impedido de enriquecer o urânio a 20% como anunciou, de alguma forma a posição do Brasil pode ficar enfraquecida, pois nós já temos permissão da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) para enriquecer urânio nesse nível em Aramar.

A única fase do processo de enriquecimento do urânio que o Brasil ainda não está capacitado a realizar é a transformação do “yellow cake” — uma pasta de concentrado de urânio — , em gás ( hexafloreto de urânio), que é f e i t a n o C a n a d á o u n a U re n c o , u m c o n s ó rc i o formado pela Holanda, Alemanha e Reino Unido.

Mas em meados deste ano esse processo, que já dominamos laboratorialmente, já estará sendo feito no país, fechando o ciclo.

A Marinha investe em uma usina que permita a produção do hexafloreto de urânio suficiente para nossas necessidades, para o caso de alguma razão estratégica impedir que outros países façam essa transformação para nós. O custo desta etapa do processo de enriquecimento do urânio é de apenas 5% do total, embora ela seja fundamental para as operação das centrífugas que enriquecem o urânio.

Os que defendem uma aproximação com o Irã nesse setor de energia nuclear acreditam que estar ã o p r o m o v e n d o u m a reinserção daquele país na legislação de salvaguardas internacionais fora das pressões americanas, defendendo a soberania dos respectivos programas nucleares.

À diferença do Irã, porém, além de ter assinado todos os tratados, o B r a s i l a c e i t a a s i n s p eções da AIEA. Além do mais, nós não estamos em uma região conflitada como o Oriente Médio e nem temos inimigos nas nossas fronteiras.

Aliás, a origem da assinatura do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), em 1997 no primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso, está na necessidade de uma boa relação com a Argentina.

O ex-chanceler Celso Lafer considera que, para a América do Sul, o término da corrida nuclear significou a possibilidade de uma cooperação com a Argentina, que antes obedecia à lógica da corrida armamentista.

Antes da assinatura do TNP, foi criada a Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares (ABACC), que permitia que os dois maiores países da América do Sul se fiscalizassem mutuamente.

O Brasil também aceitou, juntamente com Argentina e Chile, as emendas ao Tratado de Tlatelolco, e outro acordo estabeleceu normas de salvaguardas claras.

O entendimento generalizado no atual governo é que o Brasil não precisaria ter assinado o TNP, e o Ministro do Planejamento Estratégico, Samuel Pinheiro Guimarães, considera que o país cedeu a pressões dos Estados Unidos.

Por essa razão, o governo não está disposto a assinar um Protocolo Adicional ao TNP, como é desejo da AIEA, que considera que a usina de enriquecimento de urânio de Rezende não está coberta por salvaguardas suficientes.

Prevê-se que a negociação para a renovação da autorização de funcionamento da usina de Rezende, nos próximos meses, será tensa.

O Brasil assinou o TNP em 1997 e de lá para cá não negociou qualquer Protocolo Adicional, fazendo o mesmo que grande parte dos cerca de 200 países que o assinaram. Mas o momento político está mais tensionado devido justamente ao programa nuclear do Irã.

De acordo com especialistas, se o governo brasileiro pretende auxiliar o Irã a resistir às pressões vindas da maioria do Conselho de Segurança das Nações Unidas, com forte liderança americana, um acordo nuclear atrairia maiores pressões contra o nosso próprio programa de desenvolvimento na área nuclear.

CLÓVIS ROSSI

Cuba, sonho que virou pesadelo


FOLHA DE SÃO PAULO - 27/02/2010


A Cúpula ibero-americana de 1998, na cidade do Porto, coincidiu com o aniversário do então chanceler Luiz Felipe Lampreia. A comitiva brasileira, sob a chefia de Fernando Henrique Cardoso, foi, à noite, a um restaurante para comemorar. Mas o que mais se festejou mesmo foi o elogio que um certo Fidel Castro havia feito a FHC, horas antes, na sessão plenária.
"Audaz e inteligente", disse o ditador cubano do presidente brasileiro, que, vaidoso, comemorou: "Mostra que Fidel está acompanhando a evolução do mundo e percebendo o fato de o Brasil estar tendo uma participação ativa no mundo" (sim, você já ouviu algo parecido muito recentemente, de outra boca).
Conto esse miniepisódio, do qual fui testemunha, por dois motivos: primeiro, para deixar claro que é seletiva a indignação de personalidades do governo anterior, como a manifestada por Lampreia à Folha com o silêncio do governo Lula sobre as violações aos direitos humanos na ilha caribenha.
Segundo, para dar algumas pistas sobre esse silêncio, antes como agora. No fundo, é simples: a revolução cubana faz parte da memória sentimental da esquerda brasileira. E a esquerda brasileira, em seus mais variados matizes, está no poder desde a queda de Fernando Collor de Mello, no já remoto ano de 1992.
Afinal, Castro e seus companheiros de certa forma fizeram a Revolução Francesa que a América Latina jamais fez nem antes nem depois. E não há nada mais sedutor do que o brado de "liberdade/igualdade/fraternidade".
De mais a mais, a América Latina e o Brasil foram, a partir de 1959, o ano do triunfo da revolução, uma sequência de ditaduras militares fincadas a pretexto de evitar a expansão da ditadura de signo oposto.
Quem não gosta de ditaduras -e as pesquisas do Latinobarómetro revelam um suporte majoritário, embora oscilante, à democracia- ficou emparedado entre criticar a cubana, o exercício favorito da maioria das ditaduras latino-americanas, ou apoiá-la, por ser contra as demais. Ou calar.
Ademais, é evidente que Fidel Castro sempre foi, visualmente, mais simpático que, por exemplo, Augusto Pinochet, além de ter uma aura romântica, já remota, é verdade, mas presente na memória sentimental do subcontinente.
Conto a propósito um episódio que mostra como o presidente cubano é capaz de seduzir as plateias mais heterogêneas: na comemoração dos 50 anos do Gatt (Acordo Geral de Tarifas e Comércio, antecessor da Organização Mundial do Comércio), Fidel foi a Genebra, junto com muitos outros chefes de governo/Estado. Foi aquele festival de oratória típico de cerimônias do gênero, o que levou uma grande parte dos delegados (e quase todos os jornalistas) a descerem para a cafeteria, no subsolo. Ninguém prestava atenção ao telão em que apareciam os oradores. Até que se anunciou a fala de Fidel.
Fez-se súbito silêncio na cafeteria, todos se voltaram para o telão e Fidel atacou de Calderón de la Barca e seu "la vida es sueño, y los sueños sueños son".
O auditório lá em cima e a cafeteria, lá embaixo, vibraram, alguns em silêncio, outros nem tanto.
Pena que a Revolução Cubana tenha jogado no lixo a sua parte, digamos, francesa: a liberdade inexiste, a igualdade (que era um nivelamento por baixo) está sendo devastada e a morte de Orlando Zapata mostra que fraternidade não é bem o espírito da coisa.
Pode ser difícil para a maioria dos mortais jogar ao mar os sonhos que a memória guardou, mas não dá para negar o fato: a revolução virou um pesadelo. Silenciar sobre ele não traz de volta o sonho.

VILAS-BÔAS CORRÊA - COISAS DA POLÍTICA

Lula pisou em algum despacho

JORNAL DO BRASIL - 27/02/10

A BOA ESTRELAdo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ilumina os seus caminhos desde a mudança num pau de arara, com a heroica dona Lindu, sua mãe, e os irmãos dos cafundós de Garanhuns, uma cidade de meia dúzia de vielas no interior de Pernambuco, para São Paulo, quando começa a viver no maior centro urbano do país em marcha para a industrialização, consegue uma vaga no curso de torneiro mecânico como que vacinara o menino pobre, que nas ruas de Santos vende amendoim, laranja, tapioca, tangerina para ajudar a alimentação da família. Ao mesmo tempo cursa a escola primária do Grupo Escolar Marcílio Dias, onde se alfabetiza. Quatro anos depois, dona Lindu muda-se para a capital, onde o garoto Luiz Inácio em três anos tira o certificado que o credencia a trabalhar na Fábrica de Parafusos Marte e, profissional competente, consegue trabalhar na empresa metalúrgica Vilares, em São Bernardo do Campo.

Em 1969, Lula casado com dona Marisa Letícia de Silva, também viúva e com quatro filhos, é convidado a participar da diretoria do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Metalúrgicas e de Material Elétrico de São Bernardo do Campo. E daí em diante o seu destino dispara em velocidade de carro de morro abaixo. Eleito presidente em 1975, Lula cria o “novo sindicalismo”, com a liderança de antigas reivindicações, como remuneração salarial justa, garantia de emprego e melhores condições de trabalho. Reeleito presidente com 98% dos votos, em 1978, em plena greve nacional liderada por Lula, em desafio à legislação da ditadura militar.

Os últimos capítulos da novela são conhecidos. Lula funda o Partido dos Trabalhadores (PT), elege-se deputado federal com medíocre atuação na Constituinte de 1988. A sua vocação era para o Executivo. Lula tenta em obstinada determinação. Perde três eleições: uma para Collor de Mello, duas para Fernando Henrique Cardoso e se elege em 2002 para reeleger-se em 2008 para o mandato que termina em 2011. Todo este longo e repetitivo rodeio é a modesta tentativa de estabelecer o contraste entre o ontem e hoje, na reviravolta de um longo período de bonança, onde tudo dava certo para o presidente Lula, desde o ousado lançamento na marra da ministrachefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, como a candidata do PT e dos que quisessem pegar uma carona na favorita, amparada pelos 82% de aprovação nas pesquisas, enquanto as oposições batem a testa na indecisão infinita da montagem da chapa.

Em que o presidente errou? O seu anjo da guarda, exausto de tanto carregar o saco dos sucessos, tirou um cochilo calamitoso na viagem sem quê nem para quê do presidente a Cuba. É indesculpável que não tenha sido alertado pelo Itamaraty para a tensão nos porões da ditadura cubana com a agonia nos seus últimos estertores do preso político cubano Orlando Zapata Tamayo, que morreu após 82 dias de greve de fome em protesto contra as más condições da prisão e pelos direitos humanos. A foto de Lula, em cores, na primeira página de O Globo de anteontem, seria proibida nos tempos do DIP. Entre o presidente Raúl Castro e o envelhecido Fidel Castro, Lula acaricia a barba no grupo sorridente.

A série de vexames não parou aí. A morte de Zapata provocou uma onda de violência e repressão em Cuba, com a prisão domiciliar e a detenção de dezenas de opositores que tentavam chegar a Holguín para o velório do operário detido desde 2003 e considerado preso pela anistia internacional. A oposição no Congresso engoliu o constrangimento com a roubalheira no governo de Brasília, um feudo dos Democratas, recuperou a voz e subiu à tribuna parlamentar para protestar para um plenário às moscas, mas que sustentou um debate veemente. O deputado José Carlos Aleluia (BA), vice-líder do DEM, foi ao acerto de contas com o governo: “Quem poderia imaginar um presidente operário, o nosso presidente metalúrgico, ir a Cuba para comemorar a morte de um dissidente do regime de Fidel Castro? Isso é inaceitável. Tirar foto dando risada ao lado de assassinos, ao lado de bandidos, em Cuba”. A deputada Vanessa Grazziotin (PCdoBAM) pediu que fosse retirada do discurso a expressão “assassinos”.

Com o resto, pelo visto, está de acordo

EDITORIAL - O GLOBO

Tática de ocasião


O Globo - 27/02/2010

Na montagem do governo Lula, coube a grupos de esquerda o controle do Ministério do Desenvolvimento Agrário e do Incra, para atender ao MST com generosos repasses de dinheiro público; e, ainda, um canal de influência na política externa, com a criação de uma espécie de Itamaraty do B, cujo controle está nas mãos do assessor especial da presidência Marco Aurélio Garcia, próximo de Hugo Chávez. Com isso, Lula pôde seguir uma política econômica minimamente sensata, sem maiores problemas a não ser algum fogo amigo de tempos em tempos.

A aproximação com o Irã atende ao antiamericanismo, traço marcante desse bloco existente no governo.

A passividade diante da morte de mais um dissidente cubano nos cárceres dos irmãos Castro, quando Lula e comitiva desembarcavam em Havana, ilustra este posicionamento da política externa do Itamaraty do B. Quer dizer, em tese, a defesa dos direitos humanos é importante, menos quando se trata dos compañeros ideológicos, como os Castro e Hugo Chávez.

É constrangedor ver Lula ao lado de Raúl Castro quando o presidente cubano afirmou que, “em meio século, não assassinamos ninguém. Aqui ninguém foi torturado.

Aqui não houve execução extrajudicial”.

Com a aproximação das eleições, entende-se que Lula procure fazer acenos a este lado da geografia ideológica, a fim de manter a tropa unida em torno da candidatura Dilma Rousseff, também a ser apoiada pelo PMDB fisiológico e sublegendas.

Mas a possibilidade de o Brasil assinar um acordo nuclear com o Irã vai além de qualquer limite. A hipótese, negada pelo governo, se dá num momento crucial em que países de peso, como Estados Unidos, França, Inglaterra e até a Rússia, juntam forças para pressionar o regime ditatorial e teocrático de Ahmadinejad a abandonar o projeto de desenvolvimento de armas atômicas. E o Brasil, em nome de uma suposta afirmação na política internacional, se descredencia aos olhos do mundo ao se tornar um dos legitimadores do programa nuclear iraniano. Pois, mesmo se a hipótese do acordo não se confirmar, é veloz a aproximação entre Brasília e Teerã, coerente com a política externa ideológica do Itamaraty do B. O presidente Lula visitará o Irã em maio.

Dos 15 países que atualmente compõem o Conselho de Segurança da ONU, cinco são tidos como relutantes à adoção de novas sanções contra o Irã: China (membro permanente), Brasil, Turquia, Líbano e Bósnia (membros rotativos).

São necessários nove votos — e, claro, nenhum veto — para que uma resolução com novas sanções seja aprovada. Não por acaso, a secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, estará em Brasília na semana que vem e deverá pressionar o governo brasileiro a apoiar a comunidade internacional contra o Irã.

Não pode passar despercebido, também, que há no governo autoridades, como o atual ministro de Assuntos Estratégicos, o ex-embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, que defendem abertamente o descumprimento do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), do qual o Brasil é signatário, e que estará em rediscussão em maio.

Aliar-se ao que existe de pior na comunidade internacional, em decorrência do antiamericanismo militante existente no governo e por tática eleitoreira, é grave desserviço ao Estado brasileiro, que é perene, ao contrário dos governos

RUY CASTRO

Sabá

FOLHA DE SÃO PAULO - 27/02/10


RIO DE JANEIRO - Os olhos ampliados pelas lentes absurdas pareciam crescer mais ainda quando se falava de certos nomes. Conversar sobre música com Sabá era assistir a um espetáculo de admiração. Sua paixão pelos grandes pianistas ou cantores com quem trabalhara refletia-se na sua expressão, na gesticulação, no tom de voz. Deixava de ser um colega de palco, era um fã.
Mas o próprio Sabá merecia todo o respeito. Paraense de 1927, era um senhor contrabaixista. Em 1955, foi o primeiro a acompanhar Johnny Alf quando este chegou a São Paulo vindo do Rio -e tocar com Alf tornou-o o baixista favorito dos músicos modernos paulistanos. Dez anos depois, com Cido ao piano e Toninho na bateria, formou o Jongo Trio, um grupo instrumental/vocal que estourou com "Menino das Laranjas". Chamados a acompanhar os jovens Elis Regina e Jair Rodrigues no show "O Fino da Bossa", no Teatro Paramount, co-estrelaram um LP que vendeu milhares e não lhes rendeu tostão.
Em 1967, sem Cido e com Cesar Camargo Mariano, o Jongo se tornou o Som 3, que acompanhou Wilson Simonal nos dias de glória do cantor. Eram 365 shows por ano, em cidades, Estados ou países diferentes, com escalas quinzenais em Congonhas para beijar a família e trocar as malas de roupa. Em 1972, sem Cesar, ele se juntou a outro pianista: Dick Farney.
Sabá foi uma fonte inestimável sobre a bossa nova em São Paulo para meu livro "Chega de Saudade", de 1990. Lembrava-se de cada boate e de quem tocara nelas, onde, quando e com quem. Anos depois, fiz palestras sobre bossa nova ilustradas musicalmente por um conjunto que ele armou para a ocasião. Ali conheci melhor o ser humano. E conquistei o privilégio de poder dizer que trabalhei com Sabá.
Sabá morreu em São Paulo, na terça passada, aos 83 anos.

ROBERTO POMPEU DE TOLEDO

REVISTA VEJA
Roberto Pompeu

O ano eleitoral - uma prévia

"Nas apresentações dos candidatos perante as câmeras,
um jeito infalível de distinguir uma campanha pobre de uma
rica será acompanhar o movimento dos olhos do candidato"

Braços ao alto, mãos enlaçadas, eles e elas encenam uma coreografia de unidade que, não fossem a proeminente barriga de um, a careca de outro e uma geral dificuldade nos quesitos presteza e agilidade, poderia ser tomada como um ensaio a seco de balé aquático. Assistiremos a muitas cenas dessas. Elas constituem o momento de apoteose das convenções partidárias. O ritual é copiado das convenções americanas, mas com uma importante diferença. Nos Estados Unidos, só duas pessoas, os escolhidos para presidente e vice, compõem a cena. No sistema macropartidário e hipercoligativo vigente no Brasil, é uma multidão que se apresenta no palco – o candidato titular, o vice, seus padrinhos, os chefes partidários, os candidatos a outros cargos, os infiltrados. Em um ou outro dos protagonistas, o desempenho será enriquecido pela exibição de manchas de suor nas axilas, na hora de levantar os braços. Releve-se. É o preço que se paga pelo calor, real e simbólico, reinante no ambiente. Indiferentes aos percalços, eles e elas se exibem à plateia amiga com a mesma certeza do aplauso com que terminam seu ato as bailarinas de cancã.

Na verdade, já tivemos uma primeira encenação desse número na convenção do PT que recentemente sagrou sua candidata, ou melhor, "pré-candidata". Mas, para mostrar que a futurologia do colunista está afiada, sigamos em frente com atos, cenas e rituais que, mesmo com a campanha oficial ainda não iniciada, já marcam presença em sua bola de cristal. Para continuar no capítulo do gestual, quando os candidatos falarem na TV será constante o recurso ao "martelinho". O martelinho é aquele gesto de, punho cerrado, golpear o ar, para reforçar o discurso. A intenção é transmitir firmeza e determinação. Nessas apresentações dos candidatos perante as câmeras, um jeito infalível de distinguir uma campanha pobre de uma rica, quando falharem os outros, será acompanhar o movimento dos olhos do candidato. Candidato de campanha pobre move os olhos, e o detalhe denuncia que está lendo. No candidato de partido rico, os olhos permanecem tão fixos que até parece que fala de improviso. É a qualidade do teleprompter que se impõe.

Depois virão os filmes – ah, os filmes! Eles sugerem o beatífico mundo que nos aguarda caso aquele partido, ou aquele candidato, saia vitorioso. Campos floridos, extasiantes horizontes, gente sorridente. A música de fundo é idílica, e pode terminar triunfante como a estocada final de uma ária de Puccini. Pessoas são entrevistadas na rua, e não poupam louvações ao candidato. Como esse candidato é querido! É só sair à rua, uma câmera na mão e um microfone na outra, e chovem os testemunhos de suas boas qualidades. Os filmes também exibirão crianças correndo alegres e soltas, jovens casais enlaçando-se sorridentes, mulheres grávidas contemplando confiantes a própria barriga. Se o leitor não sabe, fique sabendo que tanto as crianças como os jovens casais e as mulheres grávidas representam o futuro. No caso, o futuro de paz e felicidade que nos garantirá a eleição daquele candidato.

O quê? Que diz o leitor amigo? Ah, sim, até agora só abordamos o lado cosmético da campanha eleitoral. Falta falar no conteúdo. Vejamos o que diz a respeito a bola de cristal. Os programas oficiais de governo será bom esquecer. Conterão só palavrório para cumprir uma formalidade. Entrevistas na TV com jornalistas independentes não haverá, e debate de verdade só no segundo turno, entre dois candidatos. Antes disso, tanto as entrevistas como os debates serão inviabilizados pela impossível exigência de igualdade entre todos os candidatos prevista em lei. Pronto. Estará composto o cenário para que, quanto ao conteúdo, a campanha transcorra rigorosamente dentro dos cânones de uma moderna campanha política, qual seja: sem conteúdo.

Todo o esforço será antes para esconder o candidato do que para exibi-lo. A ideia será fantasiá-lo de modo a deixar exposto o mínimo possível de sua própria pele e osso. Se ocorrer um momento em que ele seja atalhado com uma pergunta direta sobre assunto polêmico, o bom candidato estará treinado para contornar o assunto. Não sejamos tão rigorosos. Descontemos que sempre será possível intuir como será o governo de alguém por seu perfil, sua biografia e suas ações. Mas, quem pretender uma resposta específica e direta sobre algum assunto controverso, desista. A própria bola de cristal do colunista confessa sua impotência, nesses casos. Cada um que consulte a sua.

PAINEL DA FOLHA

Ataque especulativo

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 27/02/10


Embora não exista denúncia do Ministério Público contra Fernando Pimentel (PT), a reportagem da revista "IstoÉ" ligando-o ao empresário Glauco Diniz, por sua vez suspeito de remeter dinheiro a Duda Mendonça no exterior dentro do esquema do mensalão, enfraquece a posição do ex-prefeito de Belo Horizonte no jogo da pré-campanha em Minas Gerais.
Aliados de Pimentel enxergam na denúncia a digital de adversários externos (o peemedebista Hélio Costa) e/ou internos (o ministro Patrus Ananias). A história colhe o ex-prefeito num momento em que Lula já trabalhava para retirar os petistas de cena e fazer de Costa o candidato único do governo no Estado.




Árvore. Glauco Diniz Duarte, que segundo denúncia do Ministério Público Federal usou sua empresa para enviar dinheiro a Duda Mendonça na época do mensalão, é filho de Haroldo Duarte, dirigente do PDT de Anápolis (GO). Haroldo vem a ser primo do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles (PMDB).

Lentes. O convênio da empresa de Glauco Diniz com a Prefeitura e BH se referia à instalação de câmeras de monitoramento pela capital mineira. Segundo o Ministério Público, o material foi superfaturado, e as notas fiscais saíram de empresas fantasmas.

Spam. Começou a circular ontem na internet um manifesto encabeçado pelo poeta Ferreira Gullar e patrocinado pelo PPS em defesa da chapa tucana Serra-Aécio.

Faísca. Tanto Serra quanto seu algoz Ciro Gomes (PSB) confirmaram presença na inauguração da Cidade Administrativa de Minas Gerais, na próxima quinta-feira.

Tela quente. Representantes dos principais partidos tiveram nesta semana reuniões com a Band e com Globo sobre a cobertura eleitoral. A Band pediu dois debates no primeiro turno, mas as partes sabem que se contentará com um, desde que seja o primeiro. Propôs 22 ou 29 de julho.

Tela quente 2. A Globo, como de hábito, quer fazer o último debate nos dois turnos. Sugeriu as datas de 30 de setembro e 29 de outubro.

Fermento. Em reunião de líderes anteontem, deputados projetaram as bancadas que seus partidos almejam eleger. Na conta de Hugo Leal (PSC-RJ), se todas as metas forem atingidas o número de cadeiras saltaria de 513 para 800.

Em família. Os dois filhos e o irmão do novo governador interino do Distrito Federal ocupam cargos comissionados na máquina. Wilson Lima (PR) mandou exonerá-los. A demissão deverá ser publicada na segunda-feira.

Imagem. Os gastos com publicidade da Brasiliatur, empresa de eventos do governo do DF, saltaram de R$ 9 mil em 2007 para R$ 12,7 milhões no ano passado. Até renunciar ao cargo, quem controlava a empresa era o vice-governador Paulo Octávio.

Gaveta. O Ministério Público Federal em Pernambuco recomendou a "absolvição" por falta de provas do ex-ministro da Saúde Humberto Costa (PT) no chamado escândalo dos vampiros. Costa disputa com o ex-prefeito de Recife João Paulo a candidatura petista ao Senado.

Já pra diretoria! No governo, há quem considere não ser mais possível chamar os ministros Reinhold Stephanes (Agricultura) e Carlos Minc (Meio Ambiente) para a mesma reunião. Segundo testemunhas, as hostilidades chegam a ser infantis.

Cartão. Os líderes do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), e no Congresso, Ideli Salvatti (PT-SC), também dispensaram servidores de seus gabinetes de assinar o ponto diariamente na Casa. A lista já soma 19 senadores.

com SILVIO NAVARRO e ANDREZA MATAIS

Tiroteio

O que está em curso não é apenas campanha antecipada, mas uma tentativa de lavagem cerebral em benefício da candidata do governo. E a Justiça Eleitoral não quer se intrometer.

Do deputado PAULO ABI-ACKEL, presidente do PSDB de Minas, sobre a visibilidade dada a Dilma Rousseff nos eventos do governo e do PT.

Contraponto

Lost in translation Ao chegar ontem pela manhã a um encontro com empresários em San Salvador, Lula passou pelos jornalistas que acompanham seu giro caribenho. Sem tempo nem disposição para dar entrevistas, o presidente brasileiro se limitou a um cumprimento rápido:
-Buenos dias, buenos dias- disse, bem-humorado.
Um repórter tentou aproveitar a deixa:
-Bom dia, presidente. O senhor pode parar um minutinho para falar com a gente?
-Después, después- prometeu Lula.
O repórter brincou:
-Pode falar em português. A gente entende.

LYA LUFT

REVISTA VEJA
Lya Luft

Alegres e ignorantes

"Estar informado e atento é o melhor jeito de ajudar a construir
a sociedade que queremos, ainda que sem ações espetaculares"

Ilustração Atômica Studio

Há fases em que, inquieta, eu talvez aponte mais o lado preocupante da vida. Mas jamais esqueço a importância do bom humor, que na verdade me caracteriza no cotidiano, mais do que a melancolia. Meu amado amigo Erico Verissimo certa vez me disse: "Há momentos em que o humor é até mais importante do que o amor". Eu era muito jovem, na hora não entendi direito, mas a vida me ensinou: nem o amor resiste à eterna insatisfação, à tromba assumida, às reclamações constantes, à insatisfação sem tréguas. Bom humor zero. Desperdício de vida: acredito que, junto com dinheiro, sexo e amor, é a alegria que move o mundo para o lado positivo. Ódio, indignação fácil, rancores e inveja – e nossa natureza predadora – promovem mediocridade e atos cruéis.

Quando, seja na vida pessoal, seja como cidadãos ou habitantes deste planeta, a descrença e o desalento rosnam como animais no escuro no meio do mato, uma faísca de bom humor clareia a paisagem. Mas há coisas que nem todo o bom humor do mundo resolveria num riso forçado. Como senti ao ler, numa dessas pesquisas entre esclarecedoras e assustadoras (quando vêm de fonte confiável), que mais de 30% da nossa chamada elite é de uma desinformação avassaladora. Aqui o termo "elite" não tem a ver com aristocracia, roupa de grife, apartamento em Paris ou décima recostura do rosto, mas com a gente pensante. A que usa a cabeça para algo além de separar orelhas. Pois, segundo a pesquisa, entre nós a imensa maioria dos ditos pensantes não consegue dizer o nome de um só ministro desta nossa República. Senadores, nem falar.

A turma que completa o 2º grau, que faz faculdade, que tem salário razoável, conta no banco, deveria ser a informada. Essa que não precisa comprar carro em noventa meses e deixar de pagar depois de quatro. A elite que consegue viajar conhece até algo do mundo, e poderia ter uma pequena biblioteca em casa. Em geral, não tem. Com sorte, lê jornal, assiste a boas entrevistas e noticiosos daqui e de fora, enfim, é gente do seu tempo. Para isso não se precisa de muita grana, acreditem. Mesmo assim, essa elite é pouco interessada numa realidade que afinal é dela.

Resolvi testar a mim mesma: nomes de ministros atuais desta nossa República. Cheguei a meia dúzia. São quase quarenta. Então começo a bater no peito, em público, aliás. Num país onde mais da metade dos habitantes são analfabetos, pois os que assinam o nome não conseguem ler o que estão assinando, ou vivem como analfabetos, pois não leem nem o jornal largado na praça, os que sabem ler deveriam ser duplamente ativos, informados e participantes. Não somos. Nossos meninos raramente sabem o título de seus livros escolares ou o nome dos professores (sabem o dos jogadores de futebol, dos cantores de bandas, das atrizezinhas semieróticas). Agimos como se nada fora do nosso pequeno círculo pessoal nos atingisse.

Além das desgraças longe e perto, vindas da natureza ou do homem, estamos num ano eleitoral. Inaugurado o circo de manobras, mentiras e traições escrachadas ou subliminares que conhecemos. Precisamos de claridade nas ideias, coragem nos desafios, informação e vontade, e do alimento dos afetos bons. Num livro interessante (não importa o assunto) alguém verbaliza velhas coisas que a gente só adivinhava; um filme pode nos lembrar a generosidade humana; uma conversa pode nos tirar escamas dos olhos. Estar informado e atento é o melhor jeito de ajudar a construir a sociedade que queremos, ainda que sem ações espetaculares. Mas, se somos desinformados, somos vulneráveis; se continuarmos alienados, bancaremos os tolos; sendo fúteis, cavamos a própria cova; alegremente ignorantes, podemos estar assinando nossa sentença de atraso, vestindo a mordaça, assumindo a camisa de força que, informados, não aceitaríamos.

Alegria, espírito aberto, curiosidade, coisas boas desta vida, todos as merecemos. Mas me poupem do risinho tolo da burrice ou da desinformação: o vazio por trás dele não promete nada de bom.

ARI CUNHA

Tramoias e apuros


CORREIO BRAZILIENSE - 27/02/10


O novo governador de Brasília, Wilson Lima, está em apuros. Determinou que todos os contratos de empresas que estejam sendo investigadas por suposta elevação ilegal de preços terão pagamentos suspensos. Entre os empresários do DF, a decisão despertou certa revolta. E os construtores de Brasília dizem às claras que não há empresa que não tenha colaborado na tramoia de aumentar os preços e as medições. Disso não há recibos. Se não dessem participação financeira ao governo do Distrito Federal as obras não estariam em andamento. Tudo já foi investigado. A solução deverá ser encontrada pela Justiça, a quem cabe punir ou prender os que se oponham ao cumprimento da ordem legal. E quanto à intervenção, chega de tanto abuso.


A frase que não foi pronunciada

“Se só sobrar o mal, experimente o que nunca tiver provado.”
» Maquiavel, pensando como é difícil perdoar a mentira mais de uma vez




Cultura

»
Uma verba será destinada para facilitar o acesso da população ao teatro, cinema, leitura, museus, circo e artes plásticas. O deputado Mauricio Rands tenta votação em plenário da PEC dobre o Sistema Nacional de Cultura. A ideia se estende ao controle do repasse financeiro e estímulo de políticas públicas para o setor. Quem tiver interesse no assunto deve ficar atento às audiências públicas em março, na Câmara dos Deputados.

Futebol

»
Torcida organizada é o mal que o esporte possui. Nos estádios, principalmente, do Rio e São Paulo, as torcidas têm lugar reservado. Quando se encontram, morte na certa. Com a aproximação da Copa do Mundo, o Brasil passa a representar essa tragédia. Mesmo fora do jogo, quando dois ônibus de torcidas inimigas se encontram, há brigas e morte.

Trânsito

»
São Paulo, maior capital do Brasil, vive o caos. Não há infraestrutura nas áreas habitadas ou invadidas. O governo perde o controle. Barreiras despencam sobre residências, asfalto de estrada é danificado. São enormes os prejuízos. E quem paga é a mesma população que não aprende a descartar o lixo no lugar certo.

Juízes

»
Todo homem que apita jogos é sujeito a ouvir desaforos, impropérios. A exceção fica por conta dos representantes da Fifa. Advertem. Quando ouvem respostas ou indagações estranhas, apresentam cartão amarelo. Em persistindo, o vermelho expulsa de campo.

Dinheiro e sofrimento

»
Não para o movimento financeiro do erário. Cada governo indica novos candidatos. Recebem o dinheiro do valor de seus patriotismos. Esta é a vez do ministro Carlos Minc, do Meio Ambiente. Requereu indenização sobre o tempo em que esteve fora do Brasil. Alega perseguição. Pior é que há centenas de milhares de cidadãos que se entristecem ao ver autoridades furando fila.

Vivencial

»
O começo do lado par da Península Norte está tomado pelo que se chama de Parque Vivencial. Consta como sociedade sem fim lucrativos e teve o privilégio de ocupar área pública e construir vivendas de luxo. Entrou na mata não se sabe com autorização de quem. Fechou a passagem para moradores. Falta conhecer detalhes do assunto.

Malvinas

»
Volta a discussão entre Grã-Bretanha e Argentina. O assunto são as ilhas Malvinas, que, na verdade, são inglesas. E se chamam Falklands. Já houve guerra no local, com prisões e mortes. Generais sentiram prejuízos enormes. Alguns foram presos. A intenção inglesa é fazer prospecção de petróleo nas ilhas. Novas disputas a 10 mil quilômetros de distância.

Galo de Barcelos

»
Pelo menos duas centenas de religiosos do Mosteiro de Barcelos, em Portugal, guardam o segredo da fórmula criada por monges. Quando um desaparece, entra substituto que conhece a química da tinta. Até hoje ninguém conseguiu a fórmula que projeta o mosteiro no mundo como segredo indecifrável.

TV

»
Vale o registro pela disputa de audiência nas televisões brasileiras. Record muda a programação e apresenta seriados bíblicos. SBT agradece a audiência. Jogos de inverno nunca foram acompanhados com tanto entusiasmo. A audiência começa a sentir mudanças na qualidade da programação.



História de Brasília

Hoje é sábado, dia de o presidente receber ministro, conforme sua promessa antes da posse. (Publicado em 25/2/1961)

RUTH DE AQUINO

ÉPOCA
A proteção irracional a homicidas de 16 anos
RUTH DE AQUINO
Revista Época
RUTH DE AQUINO
é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro
raquino@edglobo.com.br

Não há justificativa para o circo de privilégios montado em torno de um dos assassinos do menino João Hélio, de 6 anos. Ele tinha 16 anos na época. Ficou detido três anos numa instituição para menores – o máximo previsto por lei. Ameaçou matar um funcionário numa rebelião. Hoje, tem 19 anos. A Justiça adotou o assassino e o incluiu em um programa de proteção a adolescentes ameaçados de morte. Mas voltou atrás. Ele está agora em regime de semiliberdade. É suficiente?

Do crime monstruoso o país todo se lembra, não só a família de João Hélio. Mas é importante refrescar a memória. Rendidas por assaltantes armados num cruzamento na Zona Norte do Rio ao voltar para casa após o culto semanal, a mãe e a irmã de João Hélio viram o carro sair em alta velocidade com o menino do lado de fora, batendo no asfalto, preso apenas pelo cinto de segurança abdominal. A mãe havia tentado soltá-lo, sem êxito. Se tivessem algum apreço pela vida humana, os assaltantes teriam deixado João Hélio com sua família. Ou teriam colocado o garoto de volta no assento do carro. Por 7 quilômetros, ignoraram gritos apavorados de pedestres. Abandonaram o carro e o corpo do menino numa rua sem saída, voltaram para casa, tomaram banho, jantaram e foram a uma festinha da igreja local.

O menor que matou João Hélio é, para a sociedade, simplesmente um nome que começa com E. Seu rosto é disfarçado por efeitos nas fotos – antes, por ser menor, e, hoje, para não ser reconhecido na rua. E. foi beneficiado, no primeiro momento, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que prevê detenção máxima de três anos para menores. Não importa o grau de atrocidade do crime cometido. Nem o mau comportamento durante a detenção.

Solto, a Justiça o incluiu no Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte, com o apoio da ONG Projeto Legal, coordenado por Carlos Nicodemos. Um programa público e oficial com uma sigla imensa: PPCAAM. Ele seria acolhido em imóvel do projeto, junto com sua família, com acompanhamento e avaliações periódicas. Uma inversão medonha de valores. Que recado é esse à juventude?

O menor que matou o menino João Hélio está em semiliberdade.
Que recado é esse para a juventude?

Como a sociedade reagiu fortemente ao disparate, a Justiça recuou. E. ficará em regime de semiliberdade – o que significa ter de voltar todas as noites a uma instituição para dormir. Assim manda a lei. Seu destino parece ser a cidade de Friburgo, na serra do Rio. A população está em polvorosa. Anunciou-se que E. terá de dormir todas as noites numa instituição para adolescentes localizada em frente a um jardim de infância. Como reagiria você, se seu filho estudasse ali?

A semiliberdade para o assassino de João Hélio continua sendo um privilégio, a meus olhos. E aos olhos de muitos países que sabem distinguir um crime comum de um homicídio bárbaro. Para quem não se lembra, a Inglaterra condenou à prisão perpétua em 1993 dois garotos de 10 anos, por terem mutilado e matado um menino de 2. Eles ficaram presos por oito anos.

“O juiz Carlos Borges, um sujeito jovem e preparado, sugeriu uma mudança interessante na legislação penal”, disse o governador do Rio, Sérgio Cabral, em entrevista a ÉPOCA após a morte de João Hélio. “Se um garoto cometer um crime, o Ministério Público avalia a gravidade. O menor responderá por esse crime ainda como menor. Mas, a partir dali, se o crime for grave, sua maioridade penal será antecipada pelo juiz. Para qualquer outro crime posterior, ele será tratado como maior.” Quando crimes monstruosos acontecem, é natural que muitos saiam clamando pela pena de morte. Sou contra a pena de morte. Sou contra por princípio, meio e fim. Tampouco acredito em prisão perpétua. Mas defendo que sejam responsabilizados criminalmente, sem privilégios, os jovens com idade para votar e ter filhos.

Adiantaria? Reduziria o total absurdo de homicídios no Brasil, 45 mil por ano? Não sei qual seria o efeito concreto sobre os números. Mas estamos falando de certo e errado. De punições que correspondam à gravidade de um crime e sirvam de exemplo. Basicamente, estamos falando de justiça.

ANCELMO GÓIS

JK na Light

O GLOBO - 27/02/10


O novo presidente da Light será o engenheiro carioca Jerson Kelman, 61 anos, dois filhos e quatro netos.
É técnico respeitado. Nomeado por FH, presidiu a Agência Nacional de Águas, entre 2000 e 2005. Nomeado por Lula, dirigiu a Agência Nacional de Energia Elétrica, de 2005 a 2009.

JÁ ALQUERES...
Kelman foi convidado para o cargo por Aécio Neves, já que a estatal mineira Cemig passou a controlar a Light.
O presidente atual, José Luís Alqueres, comandante da grande virada da Light, que antes gerava mais preju do que luz, deve presidir o Conselho.
O FILME DE FH
Em seu ex-blog, Cesar Maia diz que FH faz um gol contra ao participar de um documentário sobre a questão das drogas:
– Se este documentário estrear antes das eleições, terá o efeito que o filme de Lula não conseguiu: abalar a população, e especialmente os mais pobres.
SUCESSÃO E INTERNET
Pesquisa do Posicione Brasil com 1.929 jovens de 21 Estados mostra que 59% acham possível fazer no Brasil, em 2010, uma mobilização pela internet como a que elegeu Obama nos EUA.
Mais: 84% topariam participar – 24% “de forma incondicional” e 54% “dependendo do candidato”. Só 16% não aceitariam participar de forma alguma.
DIVA GAY
A cantora americana Lady Gaga, a mais nova diva gay, deve vir ao Brasil em junho para a Parada Gay de São Paulo.
SPRAY EMERGENTE
Madames da Barra, no Rio, estão andando com spray de pimenta na bolsa.
Estes dias, uma senhorinha fez um estrago no rosto de um pivete que tentou roubá-la na saída do hipermercado Extra 24 horas, na Avenida das Américas.
FALA SÉRIO
O deputado Flávio Bolsonaro propôs ontem na Assembleia do Rio uma Medalha Tiradentes post mortem para Orlando Zapata Tamayo, o preso político da ditadura cubana que morreu em greve de fome.
Até aí tudo bem. Palmas.
MAS...
Em nome da coerência, Flávio, cujo pai, deputado Jair Bolsonaro, defende a ditadura brasileira, deveria homenagear também os presos políticos mortos nos porões do golpe de 1964.
Poderia começar, talvez, com medalhas para o jornalista Vladimir Herzog, morto no DOI-Codi, em 1975, e para o deputado Rubens Paiva, cujo corpo jamais se encontrou.
POR QUÉ NO TE CALLAS?
O rei Juan Carlos, da Espanha, aquele que mandou Hugo Chávez calar a boca, lembra?, desembarca quarta em Brasília em visita oficial a Lula.
SUSANA OU MADONNA
Na estreia de Hairspray em São Paulo, Cássio Reis brincou quando o repórter gaiato do Pânico Christian Pior pediu que o ator escolhesse entre Susana Vieira ou Madonna.
“Eu ficaria com Monique Evans”, respondeu Cássio, rindo.
Mas e se fosse para pegar mesmo?, quis saber o repórter de boina: “Eu pegaria Susana Vieira porque ela é gostosa. Nós já trabalhamos juntos”, disse Cássio.