quarta-feira, fevereiro 17, 2010

MULHER DO MENGÃO

Ela comanda o maior clube esportivo do Brasil, é uma mãezona e usa o “olho no olho” em suas decisões


O ESTADO DE SÃO PAULO - 17/02/10

Cristiana Vieira

Mãe de quatro filhos homens, Patricia conta com uma estrutura super organizada

Fabio Motta/AE

Mãe de quatro filhos homens, Patricia conta com uma estrutura super organizada

Bonita, bem preparada e, acima de tudo, competente. Aos 40 anos, Patricia Amorim enfrentou cinco concorrentes - todos homens - para chegar à cadeira da presidência do maior clube esportivo do Brasil, o Flamengo, com seus 35 milhões de torcedores fanáticos. E venceu. Foram 792 votos contra 699 - de Delair Dumbrosck, o segundo colocado. Não foi fácil. Além da disputa, teve de lidar com o mundinho machista. Afinal, tornou-se a primeira mulher a chegar à presidência do clube. "Foi difícil, trabalhei duro e me dediquei muito", diz a poderosa, que não deixa de exaltar sua experiente equipe.

Durante a campanha, emagreceu seis quilos. "Não queria perder tempo fazendo uma refeição. Mas já recuperei uns dois", conta. Pior foi ter de ouvir que deveria se candidatar à vaga de vice-presidente, já que o cargo máximo não seria lugar para mulher. "Puro pré-conceito. Subestimaram minha capacidade. Mas o que me sustenta não é papel, é trabalho", responde. Seu grande desafio no clube é baixar a dívida de R$ 300 milhões, já que o orçamento para 2010 é de R$ 148 milhões. "Temos compromissos e não vamos fugir disso."

Sua rotina não sofreu grandes mudanças, pois sempre trabalhou muito e teve uma vida regrada, como todo atleta dedicado. Mas para dar conta de um clube dessa dimensão e de cinco homens dentro de casa - além do marido, ela é mãe de quatro meninos -, Patrícia conta com uma boa estrutura doméstica, além de ser uma pessoa superorganizada. Conta que não perde o foco, tem apoio do marido e procura sempre conversar e esclarecer as coisas com os filhos. "Trabalho muito, mas gosto do que faço."

Desafio é dar conta dos compromissos pessoais. Claro que, em algumas situações, ela não consegue estar presente. Só tem uma coisa da qual não abre mão: participar das reuniões escolares dos filhos. "Todos praticam esporte no clube. Foi a maneira que encontrei para conseguir encontrar com eles em algum momento do dia."

E o estresse ? Para conciliar o trabalho no clube com a família e a casa, Patricia tem uma receita que sempre deu certo. "O segredo é não se culpar nem sofrer. Se por acaso chego a uma situação extrema que beira o insuportável, me reprogramo", diz com simplicidade.

DOIS GUMES

Imaginar que há tantos milhões de fanáticos pelo time que passou a presidir desde o início do ano, pode assustar. Mas Patricia não tem medo do tamanho do clube e garante que sua relação com a torcida é saudável. "O que for melhor para o Flamengo vai ser feito. E o que depender de mim, também", assume.

O que ela quer é mudar a história do clube em relação à administração. "Nada melhor do que uma mulher para arrumar a casa", brinca. Para isso, dedica-se integralmente. Sua filosofia é não ser linha dura e confiar no "olho no olho". Como foi atleta e esteve do outro lado, tem facilidade de compreender, usando armas como a sensibilidade e bom senso, peculiaridades feminina. "Temos de lidar com a complexidade do ser humano, tentando convergir interesses e objetivos."

O fato de ter uma mulher à frente do clube trouxe um furor que ela realmente não esperava. Bom é ver a repercussão e o apoio da mulherada nas ruas, o que a deixa muito orgulhosa. Tanto que já pensa em alguma estratégia de marketing especialmente para o público feminino. "Temos de aproveitar a euforia." A única coisa que a deixa incomodada dentro do clube é algo que acompanha desde criança: a falta manutenção das instalações, que estão muito degradadas.

CARREIRA

Patricia foi atleta de 1977 a 1994. Aliás, a primeira da natação brasileira a conquistar um patrocínio individual (da Kibon). O Brasil completava dez anos sem ter um nome nas Olimpíadas quando ela representou o País, em Seul, no ano de 1988. Aos 25 anos, carregava em seu currículo 28 títulos nacionais e 29 recordes sulamericanos.

Grande nome da natação feminina nos anos 1980, ela formou-se em Educação Física e mergulhou no comando dos esportes olímpicos do Flamengo, quando encerrou a carreira de atleta, em 1991. E passou por diversos departamentos no clube. Foi esportista, estagiária, professora, comandou equipes de polo aquático, basquete, ginástica e natação, diretora, vice-presidente... "Fui tudo o que poderia ser", orgulha-se.

E ainda tem a verve política. Patricia é vereadora do Rio pelo PSDB, no terceiro mandato. E sempre lutou pelo incentivo ao esporte.

O preconceito não pauta suas ações. "Quando sou espetada, transformo isso em motivação". E tem mais: "Quero falar pouco e fazer muito". Será que algum machão duvida?

ROBERTO DaMATTA

A sina da coluna: fim de festa

O Globo, 17/02/10

Às vezes a publicação da coluna coincide com alguma data ou assunto de interesse que perdura na mídia.

Nesse caso, ela assume o papel de quem faz e não de quem escreve no jornal e, assim atualizada, entra em sintonia com o espírito do jornal na busca de esclarecimento ou interpretação.

E, como não vemos o mundo de Marte, sabemos que informar é interpretar.

Normalmente escrita nos fins de semana e trocada com gosto pela praia, mas sempre compartilhada com meus amigos Richard Moneygrand e Johnnie Walker, a coluna não tem o dom de adivinhar os “fatos” e, em geral, tende a passar ao largo das novidades que, afinal de contas, não são tão novas assim. Senão vejamos: o mundo redescobre a contragosto, mas de forma paulatina e irreversível, limites para o consumismo; os bandidos continuam dominando as favelas cariocas que são centenas; os mais novos não cedem ou sequer enxergam os idosos nas conduções públicas; os garis, em entrevista na TV Globo, dizem que são “invisíveis” e um deles afirma que as pessoas jogam lixo no chão para que trabalhem! Um caso flagrante de como o sistema escravista (que não pode contemplar folga e encurtar a jornada de trabalho) continua operando entre nós, como percebeu Joaquim Nabuco. Ademais, em todas as entrevistas, os subalternos são sempre referidos pelo primeiro nome ou apelido, ao passo que os iguais e “superiores” são mencionados pelo nome completo. Mais adiante, uma outra matéria sugere fantasias para o carnaval e surge (grande novidade!) um bloco de homens que se fantasiam de bailarinas, parodiando um papel feminino crucial e modelar; enquanto se sugere que as mulheres se vistam de “nega maluca” (a escrava gostosa) e de presidiárias (de bandidas ou putas).

Pelo lado mais perigoso da política, há a flagrante tentativa de retomar um obsoleto “estado forte” com seu fascismo disfarçado de pai dos pobres (e mãe dos ricos), sua absurda ineficiência e sua centralização que, governo após governo, inventa esses ladrões do nosso dinheiro que ficam — apesar do protesto hiperelegante da OAB — no comando da máquina que eles mostram não ter honra para gerenciar! A própria lei impede sua punição! Tudo isso para dizer do cansaço de testemunhar todas essas inversões da moralidade democrática e liberal que exige limites e transparência, mas que, no carnaval, fica de ponta-cabeça, como eu sugeri faz tempo. E, como sou um cronista da quarta- feira, assumo a sina de escrever sobre o fim da festa: a famosa Quarta-Feira de Cinzas, que é um marco importante, pois é quem põe fim à temporada de lazer, praia e rejeição aberta do trabalho como castigo que começa no Natal.

Terminando: uma vez sugeri um elo entre carnaval e revolução. Lá, eles tentaram botar o mundo de cabeça pra baixo permanentemente, igualando ricos e pobres e transferindo da aristocracia de sangue azul o poder que foi compartilhado também pela burguesia lida como povo porque sua riqueza vinha de uma novidade: o desempenho dos seus membros; a sua aplicação ou trabalho em alguma atividade humana. Foi isso que inventou o dinheiro e o mercado.

Era preciso traduzir esse desempenho em algo mais do que impostos que apenas confirmavam o poder de gastança dos aristocratas que faziam guerras, viviam em palácios, vestiam seda e plumas e

poder de gastança dos aristocratas que faziam guerras, viviam em palácios, vestiam seda e plumas e — exatamente como ocorre em Brasília — viviam em festas. Aqui, transitamos de uma monarquia para a república sem nenhuma preocupação com a igualdade que a elite não via como problema ou como algo possível numa sociedade de maioria mestiça e ex-escrava. Um sistema de doações face a face, como estamos vendo no vergonhoso caso Arruda, veio preencher o vazio entre os governantes e governados, apesar dos postulados igualitários.

Sem revolução, mas revoltados e sempre ressentidos, cometemos um ato falho: inventamos o carnaval! Nessa festa revelamos, com prazo para começar e terminar, que a ordem social pode ser desconstruída e posta de cabeça pra baixo. Os poderosos são englobados pela massa de pobres, marginais e supermulheres (pombas-gira) que simbolizam o poder dos fracos. O poder político machista e hierarquizado: fálico, marcado por canetadas e cetros, torna-se feminino e substantivamente igualitário.

O cassetete é substituído pelo manto de Eva, que tudo engloba e aceita. Agora, a mulher é superior ao homem; e a malandragem reina sem as hipocrisias da lei. Há, como mostraram alguns historiadores, um elo entre revolta e carnaval e há, como sugerem algumas pinturas, um vínculo entre carnaval e revolução. Em todos os casos, o mundo é sempre comandado por uma mulher dona de si mesma, imagem em contraste com a virgem e a mãe — para não falar na paradoxal virgem- mãe — que controla o nosso cotidiano. À falta de uma mudança política que nos faça menos elitistas, personalistas e hierárquicos, brincamos e pulamos carnaval.

Só que o carnaval acaba em cinzas, esse símbolo do limite de tudo que é regrado e humano, ao passo que nossa malandragem política, com seus planos B e seu desabrido populismo personalista, não parece ter fim.

ROBERTO DaMATTA é antropólogo.

ANDRÉ MELONI NASSAR

Álcool 61%

O ESTADO DE SÃO PAULO - 17/02/10


A Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos EUA finalizou a regulamentação para o programa de utilização de combustíveis renováveis em misturas na gasolina e no diesel. A publicação da legislação era esperada ansiosamente aqui, no Brasil, porque um dos biocombustíveis em análise pela EPA é o etanol de cana-de-açúcar. A regulamentação concluiu que o etanol de cana é um "bom biocombustível", ou seja, um combustível renovável que reduz substancialmente as emissões de gases de efeito estufa (GEEs) em relação à gasolina.

Considerar o etanol um bom combustível traz alguma surpresa para nós, brasileiros? Não. Por que, então, o resultado foi recebido com satisfação no Brasil? Esse resultado, embora pareça óbvio, esconde um longo processo de negociação e de reavaliação das posições da EPA. A versão inicial da lei, publicada em maio de 2009, havia considerado o etanol de cana-de-açúcar exatamente o oposto, ou seja, um "combustível ruim" quanto às emissões de GEEs. Especialmente para nós, do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), que estivemos umbilicalmente envolvidos na parte técnica, causou positiva surpresa a atitude da EPA de reconhecer a ajuda dada pelos especialistas brasileiros consultados no decorrer da revisão da legislação.

Diferentemente do Brasil, a regulamentação que determina a utilização de biocombustíveis nos EUA requer que as emissões de GEEs sejam quantificadas para garantir que os combustíveis renováveis contribuam para as metas globais de redução de emissões. A lógica do legislador norte-americano é que só faria sentido misturar etanol à gasolina se o combustível renovável reduzisse substancialmente as emissões de GEEs. Esse "substancialmente" foi definido como 20% de redução no caso do etanol renovável - classificação criada para enquadrar o etanol de milho, 50% de redução no caso do etanol avançado (categoria para o etanol de cana-de-açúcar) e 60% no caso do etanol celulósico. Isso significa o seguinte: considerando que a gasolina emite 98 kg de CO2 equivalente por milhão de BTUs de energia gerada, o etanol de cana, para ser considerado avançado, deveria emitir, no máximo, 50% desse valor (49 kg de CO2e/mmBTU). As emissões calculadas pela EPA apontam para emissões médias de 38 kg de CO2e/mmBTU, 61% menos que as emissões da gasolina. Nem sempre os resultados foram estes. Na primeira versão da regulamentação o cálculo da EPA apontava para emissões do etanol de cana de 72,3 kg de CO2e/mmBTU, ou seja, 26% menos que a gasolina.

O reconhecimento pela EPA da eficiência do etanol de cana-de-açúcar quanto às emissões de GEEs tem duas implicações. A primeira é que a lei norte-americana de segurança energética garante um mercado de, pelo menos, 15 bilhões de litros em 2022 para os biocombustíveis avançados. A segunda é que a EPA deu o primeiro passo para colocar uma pá de cal na discussão sobre as emissões indiretas do etanol de cana.

Combustíveis renováveis de base agrícola, como o etanol e o biodiesel, têm como principal insumo produtivo a terra. À medida que a demanda pelo biocombustível aumenta, ainda que menos do que proporcionalmente, em decorrência dos ganhos de produtividade, a demanda por terra também aumenta. Assim, para um cenário de aumento de demanda pelo etanol brasileiro no mercado norte-americano, que deverá ocorrer por conta da lei de segurança energética, espera-se aumento da área plantada com cana. Se, simultaneamente à expansão da cana, ocorrer aumento da área agrícola total, aumento esse que não estaria ocorrendo se a cana não se tivesse expandido, cria-se uma relação de causa e efeito entre o avanço da cana e a conversão de vegetações naturais. As emissões da conversão da vegetação natural, na presença dessa relação de causa e efeito, passam a ser atribuídas à cana, elevando as emissões de GEEs do etanol. Esse simples e óbvio raciocínio econômico se transformou num dos testes de fogo para o etanol, teste que o brasileiro vai deixando para trás com os novos resultados da EPA. Da versão preliminar para a versão final da regulamentação, as emissões associadas à mudança no uso da terra foram reduzidas em dez vezes.

Dentre as diversas razões que explicam essa guinada de avaliação da EPA, além do impecável trabalho desenvolvido pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) e pelo governo brasileiro, está um trabalho técnico de alimentação da EPA com informações e análises que permitissem ao órgão do governo norte-americano entender a dinâmica da expansão da produção agropecuária no Brasil e seus efeitos na conversão de vegetação natural em atividades produtivas.

Essas informações chegaram ao EPA por meio de uma ferramenta que, no Icone, batizamos de Blum (Brazilian Land Use Model, em português, Modelo Brasileiro de Uso da Terra) e, na EPA, ficou conhecida como Módulo Brasileiro. Desenvolvido pelo Icone, em conjunto com um grupo da Universidade de Iowa, nos EUA, o Módulo Brasileiro foi usado como ferramenta pela EPA para quantificar os efeitos da expansão da cana na fronteira do cerrado e da Amazônia brasileiros e, consequentemente, calcular as emissões de GEEs. Antes de usar o Módulo Brasileiro, na publicação da primeira versão da regulamentação, a EPA chegou à conclusão de que, para cada hectare de expansão de cana, ocorria a conversão de 1,4 hectare na fronteira, sobretudo na Amazônia. Com o Módulo Brasileiro, o mesmo hectare de cana provocaria 0,6 hectare de conversão na fronteira - quase nada na Amazônia -, já que parte da expansão da cana seria absorvida pela intensificação de pastagens, sem prejuízo da produção de carne e leite.

Ao reconhecer que havia a necessidade de revisar os números das emissões do etanol de cana, e ao decidir fazer isso a partir de contribuições de especialistas brasileiros, a EPA mostrou que nem sempre a política está à frente da ciência.

André Meloni Nassar é diretor-geral do Icone. E-mail: amnassar@iconebrasil.org.br

CARTA AO LEITOR - REVISTA VEJA

REVISTA VEJA
Carta ao Leitor

Mal de Parkinson

Uma reportagem desta edição de VEJA mostra que nada se expandiu tanto nos sete anos de governo Lula quanto a máquina estatal federal e seus privilégios. Com a economia crescendo zero em 2009 e estimando-se que a riqueza nacional suba 5% em 2010, Lula entregará a faixa ao sucessor com aumento médio anual do PIB de 3,7%. Em contraste, nos sete anos de seu governo até agora foram criados mais 150 000 cargos federais, uma elevação de quase 20%. Para efeito de comparação: o crescimento populacional do Brasil entre 2002 e 2009 foi de 12%. Um servidor do estado brasileiro ganha hoje, em média, o dobro de um trabalhador com cargo equivalente na iniciativa privada.

Topfoto/Grupo Keystone
Cyril Parkinson
dissecou as razões da burocracia: conquistar, manter e aumentar os próprios privilégios


Não existe um parâmetro universal para determinar, em qualquer momento histórico, se um país tem mais funcionários públicos do que efetivamente precisa. Isso depende de diversas circunstâncias. Mas uma burocracia que cresce e enriquece mais do que o país que a sustenta, como é o caso da brasileira, já constitui evidência bastante convincente de desequilíbrio.

Se antes o gordo estado brasileiro teimava em não caber no figurino do PIB, a situação agora se tornou um caso de obesidade mórbida. Ou talvez o diagnóstico mais correto seja um ataque agudo do mal de Parkinson. Não a notória doença cerebral degenerativa diagnosticada pelo médico James Parkinson em 1817, mas a moléstia do crescimento incontrolável das burocracias estatais descrita admiravelmente por outro inglês, Cyril Northcote Parkinson, em 1955. Seus principais sinais:

1) O número de funcionários deve crescer sempre, ainda que o trabalho seja o mesmo ou até diminua.

2) Qualquer tarefa deve ser expandida até ocupar todo o tempo destinado a ela.

3) Todo funcionário precisa de mais subordinados e menos rivais.

4) É dever de um funcionário criar problemas que só outro funcionário pode resolver.

5) O imposto cria a despesa, e não o contrário.

Que a campanha eleitoral de 2010 escape da maldição do debate falso sobre "estado mínimo" versus "estado máximo", para se concentrar na erradicação do mal de Parkinson da burocracia oficial e, assim, dar aos brasileiros que pagam toda essa farra a chance de ser servidos por um "estado eficiente". É pedir muito?

NELSON DE SÁ - TODA MÍDIA

IRÃ & BRASIL

FOLHA DE SÃO PAULO - 17/02/10


Rússia cede e se une à pressão sobre o Irã, noticia a Reuters -e o israelense "Haaretz" acrescenta que Moscou adiou a entrega de um sistema antiaéreo a Teerã. E a secretária Hillary Clinton já estava ontem na Arábia Saudita, para o país pressionar a China a fazer o mesmo. Falou em "corrida armamentista", no destaque do "New York Times".

Enquanto isso, manchete na Folha Online, o presidente Mahmoud Ahmadinejadi defendeu em coletiva a "mediação do Brasil". Segundo a Efe, ele citou "o povo e o governo do Brasil" entre os "muitos amigos interessados em ajudar e que buscam a paz". A agência espanhola registrou que o chanceler Celso Amorim confirmou a viagem de Lula, em maio.
No dia anterior, a chanceler da União Europeia, Catherine Ashton, em agências como a alemã DPA, já havia declarado que o Brasil pode representar "papel chave" na solução da disputa.


VOLCKER E A DEMOCRACIA

Em entrevista a Fareed Zakaria, autor de "O Mundo Pós Americano", o economista Paul Volcker, assessor de Obama, pouco falou de seu projeto de maior controle do sistema financeiro. "A crise que mais me preocupa é a crise de governança. Nós temos a capacidade de desenvolver e implantar programas? Isso vai determinar a confiança nos EUA e na liderança americana". Questionado se ele se referia à incapacidade do próprio "sistema democrático", respondeu: "Sim. Mas, você sabe, não tem outro país que vá liderar. Não vejo ninguém".
Na alemã "Der Spiegel", por outro lado, longo artigo confrontou as duas potências econômicas, sob o título "China tem um plano. América, não".

cnn.com/video

O ex-presidente do Fed fala ao programa "GPS"


BRASIL VS. CHINA
O "Wall Street Journal", em coluna, fez uma comparação entre Brasil e China, a partir de uma declaração do investidor Mark Mobius -de que a economia do "gigante latino-americano" seria "mais sustentável" do que a chinesa, pela autossuficiência em commodities como o petróleo. Acrescentando até dados demográficos, o "WSJ" concordou que as perspectivas são melhores para o Brasil.

CONFIANÇA
A Reuters, em sites como "NYT", divulgou pesquisa em 23 países que realizou com o Ipsos, sobre a confiança pós-crise financeira. Índia e China lideram, com 79% e 78% de confiantes, respectivamente. O Brasil aparece em sexto, com a Alemanha: 52% confiantes e 46% preocupados. Em último, o Japão.

A QUALQUER HORA
Jim O'Neill, que vislumbrou os Brics, declarou em entrevista à Bloomberg, sobre a China: "Tenho a opinião muito forte de que eles estão próximos de mudar sua taxa de câmbio. Algo está fermentando. Pode acontecer a qualquer momento". Ecoou por "Financial Times" etc.
Acrescenta O'Neill: "Eles precisam fazer algo para conter a economia e lidar com as consequências inflacionárias. Quanto mais fizerem -e mais rapidamente- melhor".

CÚPULA BRIC
A agência chinesa Xinhua entrevistou o embaixador Roberto Jaguaribe, que prepara a cúpula dos Brics para abril, no Brasil. Segundo ele, que passou nas últimas semanas por Rússia, Índia e China, o encontro priorizará, de novo, os temas financeiros.

ANTONIO DELFIM NETTO

2010?


FOLHA DE SÃO PAULO - 17/02/2010


TEMOS INSISTIDO nestes "sueltos" semanais que, em matéria de crescimento econômico, 2010 está dado. Por uma fatalidade estatística, registraremos um crescimento da ordem de 5% ou 6%. O que se discute é a "qualidade" desse crescimento e a herança que o governo Lula deixará. Será um ano em que as incertezas continuarão:
1) estimativas quase consensuais são de que a economia mundial crescerá em torno de 3% a 3,5% (os EUA próximos de 3,5%, a Eurolândia menos de 2% e os emergentes de 5% a 5,5%). A Comissão Europeia decidiu suportar a Grécia, mas há ainda a possibilidade de um desarranjo no sistema financeiro americano;
2) crescem as preocupações com a bolha imobiliária chinesa e a aceleração da sua taxa de inflação. A irritação causada pela política cambial na China vai acabar impondo a cada país uma política defensiva.
Isso poderá ampliar o protecionismo, com graves consequências para o desenvolvimento mundial. A paciência e a leniência do mundo em relação às "artes" chinesas estão se esgotando;
3) os sinais de uma deterioração das contas externas brasileiras são cada vez mais visíveis, mas ela não coloca em risco a nossa solvência.
O problema é que, cada vez que se tentou sustentar o crescimento (do consumo, principalmente) à custa da acumulação de deficits em conta corrente, o final não foi feliz;
4) a "filosofia" do presidente Lula -mesmo dando ênfase ao combate à fome e à melhoria dos menos favorecidos pela sorte- sempre foi a do respeito aos pilares da política econômica canônica: metas de inflação executada por um Banco Central operacionalmente autônomo; construção de superavits primários capazes de reduzir monotonicamente a relação dívida pública/PIB; câmbio flutuante com liberdade de movimento de capitais.
Foi isso o que permitiu ao país aproveitar-se da expansão do crescimento mundial de 2003 a 2008.
Diante da crise mundial, alguns desses cânones foram, justificadamente, quebrados. Parece claro que teria sido preferível dizer isso claramente em relação ao superavit primário de 2009 do que construí-lo com uma contabilidade imaginativa. O resultado final, entretanto, foi bastante razoável: saímos da crise à frente da maioria dos países, mas restou uma dúvida sobre a política fiscal de 2010.
O dilema de Lula em 2010 é que o desejo de eleger o seu sucessor não pode ignorar a saída correta que é a redução dos gastos correntes. Precisa fazer o prometido superavit primário de 3,3%. Sem isso, poderemos ter séria volatilidade no câmbio e aumento da inflação no segundo semestre.


ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.

ALEXANDRE SCHWARTSMAN

Os 12% de Héracles


FOLHA DE SÃO PAULO - 17/02/2010


A Grécia tem necessidade de apertar a política fiscal em meio a forte recessão, desafio digno do 13º trabalho de Héracles


D IZIA ARISTÓTELES que a tragédia se caracteriza, entre outras coisas, pela mudança da fortuna do herói, consequência de erro (intencional ou não) cometido no passado, por meio da qual o herói trágico e a audiência obtêm uma revelação acerca da natureza humana (ou da vontade dos deuses). Não me escapa a ironia (outra palavra grega) de essa definição encampar de forma tão completa os desenvolvimentos recentes na eurolândia. A Grécia passa por uma mudança de fortuna, resultado de erros passados, e, como na tragédia, a queda traz uma revelação sobre a natureza da crise.
O problema se manifesta como um aumento considerável dos prêmios de risco associados à dívida helênica. Enquanto escrevo este artigo, o custo de proteção contra um possível calote grego gira em torno de 350 pontos-base (3,5% ao ano para o prazo de cinco anos), vindo de valores ao redor de 100-150 pontos na segunda metade de 2009. Em comparação, o prêmio de risco no caso do Brasil para o mesmo prazo é próximo a 140 pontos, enquanto o argentino é de 1.100 pontos. Esses preços sugerem que mercados consideram haver uma probabilidade razoável de um default grego nos próximos cinco anos.
A razão para tal desempenho parece clara. Enquanto outros países da eurolândia fizeram um esforço para reduzir o endividamento do setor público (a dívida média da região atingiu 66% do PIB no final de 2007), a Grécia entrou na crise com uma dívida próxima a 100% do PIB, ou seja, praticamente sem espaço fiscal para incorrer em novos deficit. Apesar disso, em 2009 o deficit público alcançou 12% do PIB, valor não apenas elevado mas, principalmente, muito superior ao divulgado originalmente pelas autoridades gregas (3,7% do PIB), levando o próprio governo a admitir que, em primeiro lugar, o país sofre de um "deficit de credibilidade".
Em razão do descaso fiscal anterior, a Grécia enfrenta agora a necessidade de apertar sua política fiscal em meio a forte recessão, sofrendo ainda com o aumento do custo de capital associado à elevação do risco-país no contexto de uma taxa fixa de câmbio. Em outras palavras, o país está condenado a uma política fiscal pró-cíclica, por conta da falta de cuidado anterior. Nem no Hades, onde Tântalo passa fome e sede em meio à água e iguarias e Sísifo empurra continuamente sua pedra morro acima, seria possível imaginar punição mais rigorosa. Reduzir o deficit nessas condições seria um desafio digno do 13º trabalho de Héracles.
Que o diga a Argentina, que, sob circunstâncias semelhantes, em 2001, tentou heroicamente ajustar suas contas, embora sua dívida fosse, a bem da verdade, consideravelmente menor do que a grega. Por outro lado, nossos vizinhos não faziam parte de um clube exclusivo, disposto, aparentemente, a financiar o país nesse período delicado, desde que os gregos se comprometam com um pacote duríssimo de austeridade fiscal.
E, após a catarse, o que se revela para a audiência? Acima de tudo que países ganham e perdem facilmente os favores do mercado. Quando a fortuna muda, não falta quem aponte os diversos erros cometidos nos anos de felicidade como motivo para a tragédia recente. Descuidos fiscais e truques contábeis, que parecem modestos nos anos de felicidade, têm o mau hábito de voltar para nos assombrar quando a maré vira, fato que não deveria ser esquecido em nenhum momento por nenhum gestor de política econômica, mas frequentemente é.
À luz disso, só nos resta concluir, como Ésquilo: "Não considere um homem feliz até que morra". Os antigos helenos sabiam das coisas.

ALEXANDRE SCHWARTSMAN, 47, é economista-chefe do Grupo Santander Brasil, doutor em economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley) e ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central.

FERNANDA KRAKOVICS

Engessamento

O GLOBO - 17/02/10


Ministérios da área social estão fazendo carga contra projetos em tramitação no Congresso propondo novas vinculações orçamentárias. Vão além: defendem a flexibilização das já existentes. Assim, se um município atingiu indicadores básicos, o dinheiro poderia ser remanejado entre saúde, educação e assistência social, ou ser aplicado em outras áreas, como saneamento básico.

Orçamento participativo
O assunto é polêmico e não há consenso no governo. Pela proposta, a definição sobre o remanejamento dos recursos seria feita por meio do orçamento participativo. Um dos alvos do bombardeio é a proposta de emenda constitucional, pronta para ser votada pelo plenário da Câmara, destinando 5% dos recursos dos orçamentos da União, estados e municípios para custeio da assistência social. Entre as vinculações em vigor hoje está a que determina que os estados apliquem 12% de seus orçamentos na saúde, e os municípios, 15%. Já a União tem que gastar o mesmo do ano anterior, corrigido pela variação do PIB.

O futuro chegou. E o pós-Lula é Dilma" - trecho do documento "A Grande Transformação", a ser votado no Congresso do PT que começa amanhã

ATENTADO. No fim do ano, o senador Heráclito Fortes (DEM-PI) enviou uma peça do artista plástico Francisco Brennand, na foto, de presente para o embaixador britânico Alan Charlton. No mesmo dia, o ministro da Defesa daquele país estava no Brasil, e a embaixada recebeu uma ameaça de bomba. Como o nome do senador estava em letras miúdas, a segurança da representação britânica não titubeou e explodiu o pacote enviado por ele.

Campanha 1
O prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, deve ser o coordenador-executivo da campanha presidencial de Ciro Gomes (PSB). Já o presidente do PSB, Eduardo Campos, deve ficar com a coordenação do conselho político.

PT e governo: descompasso
A defesa da redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais pelo PT, no programa de governo de Dilma Rousseff, contraria o Palácio do Planalto, que não encaminhou essa proposta ao Congresso. Em conversa com as centrais sindicais, o presidente Lula disse que essa era uma bandeira dos trabalhadores não só no Brasil, mas que eles tinham que procurar os empresários e tentar um acordo.

Mais um pepino
Depois que um galho provocou o apagão, semana passada, que afetou parte das regiões Norte e Nordeste, o setor elétrico quer diminuir de seis para três meses o intervalo entre a poda das árvores que ficam em reservas florestais abaixo de linhas de transmissão. Será mais uma negociação entre os ministérios de Minas e Energia e o de Meio Ambiente. O Ibama não deixa cortar muito essas árvores, que estão em área de proteção. O clima entre as duas pastas azedou durante o processo de licenciamento de Belo Monte.

RESOLUÇÃO da Secretaria de Combate ao Racismo do PT, a ser votada no Congresso do partido, propõe transformar a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, da Presidência da República, em ministério, com ampliação da estrutura e do orçamento.

O MINISTRO Luiz Barretto vai para a reunião dos ministros do Turismo do G-20, dia 23, na África do Sul. Participará do painel "Viagem e turismo: estímulo para a economia global".

ANIMAÇÃO
. O Congresso do PT contará com a participação dos palhaços Charles e Tchuchuco.

Campanha 2
Aloysio Nunes Ferreira é o mais cotado para ser o coordenador da campanha presidencial de José Serra. Além de homem de confiança, seria uma compensação, caso Geraldo Alckmin seja o candidato ao governo, como tudo indica.

O pequeno Delúbio e os grandes empresários

Dono de empresa de anúncios, ele discursou sobre comércio Brasil-China

Rodrigo Rangel

O ESTADO DE SÃO PAULO - 17/02/10

Primeiro ele submergiu. Falava com poucos e não era visto em público.
Depois, discretamente, começou a costurar seu retorno aos bastidores da política. Agora, Delúbio Soares, o tesoureiro do mensalão do PT, volta a dar as caras também no meio empresarial, onde fez sucesso como arrecadador da campanha vitoriosa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002.
Na última quinta-feira, o Delúbio pós-mensalão deixou de lado seu figurino predileto - camisa Lacoste, calça jeans, tênis e bolsa de couro a tiracolo - e reincorporou o Delúbio de oito anos atrás. Metido num terno cinza escuro bem cortado, credencial pendurada no pescoço, ele era estrela numa reunião de empresários de sucesso em Goiás, sua terra natal.
O encontro, organizado pela Câmara de Comércio Americana (Amcham), se deu num hotel de luxo de Goiânia. Destinava-se a ouvir o presidente da Câmara de Comércio Brasil-China, Charles Tang, que foi falar de oportunidades de negócio entre os dois países.
Delúbio ouvia tudo atentamente. Entre observações sobre exportação da soja goiana e importação de tratores chineses, o ex-tesoureiro petista até pediu a palavra. Enalteceu os esforços do governo Lula para ampliar o comércio com os chineses e lembrou que em 2004 - antes de ganhar a ribalta como personagem do maior escândalo da história do PT - esteve na China integrando missão oficial do governo brasileiro.
Mas o que, afinal, estaria fazendo Delúbio num encontro de homens de negócio? "Ele foi convidado, como empresário goiano", responde de pronto uma das organizadoras. Empresário? "A empresa dele é a Geral Imóveis." A Geral, fundada em 2007, funciona numa galeria comercial de Goiânia e seu principal negócio - bem mais acanhado que os negócios dos demais convidados - é publicar anúncios imobiliários na internet.
A amigos mais próximos, o ex-tesoureiro do PT tem dito que está pronto para ajudar na campanha de Dilma Rousseff à Presidência. Cada vez mais ativo na política goiana, onde é um dos artífices da aliança do PT com o PMDB local, ele quer recuperar espaço também na cena nacional. Mesmo fora do partido, se diz petista de coração. E, por onde anda, não perde a oportunidade de exaltar o governo do PT - e de defender a continuidade do que chama de "nosso projeto".

MERVAL PEREIRA

Folia eleitoral

O GLOBO - 17/02/10


Depois do périplo carnavalesco pelo Nordeste, não há mais dúvidas de que o governador paulista José Serra será o candidato tucano à sucessão de Lula. Sua decisão pessoal já foi tomada; ele não colocaria aquele chapéu no Galo da Madrugada em Recife se não fosse por uma causa extrema. Resta agora superar obstáculos internos ainda resistentes. Nos últimos dias surgiram boatos de que haveria uma pesquisa feita pelo instituto do cientista político Antonio Lavareda, ligado historicamente aos tucanos e ao DEM, que mostraria um cenário futuro desanimador para a candidatura Serra.
Embora não seja totalmente verdade, o fato é que ainda alguns setores do partido consideram que somente uma candidatura nova, como a do governador mineiro Aécio Neves, seria capaz de conter o ímpeto da candidatura oficial.
Esse retorno de uma disputa que parecia estar decidida começou a surgir depois da pesquisa CNT/Sensus, que mostrou uma redução da diferença entre Serra e Dilma.
O interessante é que, para esse grupo minoritário dentro do PSDB, não é suficiente o governador paulista continuar à frente de todas as pesquisas eleitorais.
O que eles compram é a mesma interpretação que anima os petistas, a de que Serra estaria em trajetória decadente, ou estagnada na melhor das hipóteses, e que Dilma teria uma trajetória ascendente que a levará à vitória inexorável.
Na pesquisa de Lavareda, Serra está dez pontos percentuais à frente de Dilma (38% a 28%) com o cenário de quatro candidatos. A saída de Ciro Gomes de campo, hipótese cada vez mais provável, leva essa diferença a aumentar para doze pontos (43% Serra e 31% Dilma).
O fato, porém, é que Dilma tem apoios organizados, já definidos, em todos os estados, e dificilmente essa aliança política que está sendo armada, com base no PMDB, será quebrada no início da corrida sucessória. E ela se saiu muito bem do teste do carnaval.
O mais provável é que a aliança com o PMDB se mantenha, e os demais partidos da base aliada continuem apostando na popularidade de Lula. Com isso, a candidata petista terá quase o dobro de tempo de televisão de Serra - 11 minutos e pouco contra 6 minutos.
Por isso, o PSDB tenta fechar acordo nacional com o PSC, para aumentar alguns segundos de televisão. Mas nesse pacote virá o provável candidato ao governo do Distrito Federal Joaquim Roriz, a matriz de todos os escândalos que está surgindo na capital.
O pior cenário para o PSDB é que, no período entre maio e junho, quando serão apresentados os programas de televisão da maioria dos partidos, as pesquisas mostrem uma subida forte de Dilma, abalando a autoconfiança nas possibilidades de vencer a eleição.
Os programas do PSDB e de seus aliados DEM e PPS serão os últimos a serem transmitidos, próximo das convenções partidárias no fim de junho. Esse timing permitirá que o PT e seus aliados façam propaganda maciça, chegando às convenções animados com os resultados das pesquisas.
Em contrapartida, o candidato do PSDB chegará à convenção logo depois do programa, o que provavelmente lhe dará uma turbinada na candidatura.
Será preciso ter "nervos de aço" para superar as crises e pressões que separarão esses dois momentos na campanha sucessória.
Além disso, o PSDB tem situações instáveis em dois estados importantíssimos, em que não sabe o que vai acontecer. No Ceará, dada a peculiaridade da aliança entre o senador Tasso Jereissatti, uma das principais lideranças do partido, e o deputado Ciro Gomes, há uma dificuldade política que deverá ser simplificada com a desistência de Ciro à disputa presidencial.
Mas Tasso será candidato ao Senado na chapa do governador Cid Gomes, que apoiará Dilma. Para resolver seu caso específico, o melhor para Tasso seria que Aécio fosse o candidato tucano, pois ele teria o apoio de Ciro Gomes.
Além disso, o senador Tasso Jereissatti teme que Serra tenha chegado ao seu teto, e disse isso recentemente, em um encontro em Minas, para o presidente do partido, Sérgio Guerra, na presença do governador de Alagoas Teotonio Vilela.
Tasso acha que Dilma cresceu muito e que é perigoso fazer uma campanha que favorece o plebiscito que Lula tanto quer.
A conversa de Sérgio Guerra e Teotonio Vilela em Minas, que seria para tentar convencer o governador mineiro a ser vice na chapa de Serra, virou uma conversa sobre a possibilidade de a candidatura Aécio ser retomada.
Aí entra a outra grande incógnita dos tucanos: como se comportará o eleitor mineiro diante do fato de Aécio não ser candidato e não querer ser vice de Serra?
É fato que o governador de Minas, Aécio Neves, prefere ser candidato a presidente, mesmo tendo menos chance que Serra, a ser seu vice.
Mas não há nenhum indício de que preferirá perder a eleição nacional a ver Serra eleito. Mesmo porque sua liderança em Minas está sob fogo cerrado do governo, que já mostrou todo o apetite para derrotá-lo quando aventou a possibilidade de lançar a candidatura do vice-presidente José Alencar a governador, com o apoio do PT e do PMDB.
Assim também o senador Tasso Jereissatti, mesmo sendo favorável à candidatura de Aécio, deve fazer campanha para Serra, que passou no teste carnavalesco no Nordeste, na região onde Lula é mais forte eleitoralmente.
Dilma, por sua vez, tem problemas com o PMDB no Rio, em Minas Gerais e na Bahia. E, se vingar mesmo a tentativa de Lula de se livrar de Michel Temer como vice, pode haver uma dissidência no partido que impediria a formalização da aliança, tirando do PT os preciosos minutos de propaganda política na televisão.
Os dias que faltam até o prazo final de desincompatibilização, no início de abril, e os que levam até as convenções partidárias em final de junho, reservam grandes surpresas, numa eleição que ameaça ser das mais disputadas dos últimos tempos.

ANCELMO GÓIS

Dupla do barulho

O GLOBO - 17/02/10


A brincadeira não é nova. Mas foi repetida por Sérgio Cabral ao vice Pezão Cabral ao vice Pezão assim que Madonna e Dilma Rousseff deixaram o camarote do governador na Sapucaí, domingo:
-- Ufa! Agora dá para descansar. Saíram a Madonna e a "Mandona"

Miss Venezuela
Gafe de Cabral so ser apresentado na Sapucaí a mulher de Luiz Alberto Moreno, presidente do BID:
- Você é a Miss Venezuela...
Ela e o maridoo são colombianos, um país (que vive às turras com a terra de Chávez.

E...
Ainda no camarote de Cabral. Uma senhorinha foi abrir uma champanhe e, sem querer, deu um banho em Madonna. A diva, claro, não gostou.

WC: tem gente
O carnaval de Jesus Luz foi memorável graças, naturalmente, ao prestigio de Madonna.
Veja só. Para ir ao banheiro no camarote da Brahma, o namorado da cantora tinha a companhia de quatro seguranças.

Apaga isso, Jesus
Aliás, mais de uma vez, Madonna reclamou com o namorado porque ele estava fumando.

Genérico do Brasil
O "New York Times'' fez matéria sobre remédios genéricos, com destaque para o modelo brasileiro implantado por Serra quando era ministro da Saúde. O jornal cita a gigante Sanofi Aventis, que comprou a Medley, líder no setor de genéricos.

Mora na filosofia
Depois de desfilar ao lado do pai, Martinho da Vila, a felicidade de Mart'nália, no fim do desfile da Vila Isabel, era de sambista genuína:
- Vitória é o de menos, envolve muita coisa, não estou preocupada. O negócio é a festa!

Rio x São Paulo
Pedro Ladira, um folião gaiato vestido de político, distribuia ontem santinhos pelos blocos do Rio com seus projetos, caso fosse eleito. Um deles seria a independência (exclusão) de São Paulo do território nacional. Maldade

Rei na Beija-Flor
É muito provpavel que o Rei Roberto Carlos seja enredo da Beija-Flor em 2001

Primeiro a cair
Max Lopes não é mais o carnavalesco da Imperatriz

Bilau júnior
Ontem, no baile infantil do Clube Naval, na Lagoa, no Rio, três foliões mirins puseram os seus bilauzinhos para fora e chuááá... regaram o gramado do canteiro, incentivados por dois adultos que os acompanhavam. Isto ao lado dos banheiros

Há testemunhas

Quando a Mangueira fez, pela primeira vez, o genial movimento de "prender" a bateria com grades de alumínio e de "bater" nos componentes, segredo guardado a sete chaves pela escola, um segurança da Liesa ameaçou puxar sua pistola para conter o "conflito".
Um diretor da verde e rosa correu para pedir calma e explicar que era encenação.

Malandro carioca
No bloco Sassaricando, na Glória, no Rio, um Ambulante espertinho gritava?
- Promoção! Uma água por R$ 2! Duas por R$ 5!

O milagre ocorreu
A prisão de Arruda fez, na última hora, o Bloco Vem Cá Me Dá, que saiu ontem na Barra, no Rio, mudar a letra do samba. No lugar do trecho "Arruda na cadeia. só milagre meu irmão" entrou "Arruda na cadeia foi milagre do povão".

MELCHIADES FILHO

Janela indiscreta


FOLHA DE SÃO PAULO - 17/02/10


BRASÍLIA - "É necessário radicalizar o debate público e fazer disso um método de ação política." A convocação, feita na virada do ano, não partiu de Franklin Martins, Paulo de Tarso Vannuchi ou outro ministro incendiário do governo Lula, mas de uma das vozes conservadoras mais populares dos EUA.

Âncora de rádio e TV, empresário de comunicações e guru do Partido Republicano, Glenn Beck é adepto da teoria da "Janela de Overton", elaborada na década passada por um cientista político de Michigan.

Cada assunto de interesse público, segundo essa teoria, tem um espectro de várias políticas possíveis. A "Janela" corresponde às opções que a opinião pública (ou o eleitorado) aceita num dado momento.

Não adianta o político pinçar uma ideia que esteja fora desse leque e, por exemplo, tentar transformá-la em lei. Fatalmente será derrotado. Em vez disso, defende Joseph Overton, esse político tem que trabalhar para mudar o cenário, ampliando a "Janela" de propostas politicamente viáveis ou deslocando-a para o seu lado do espectro ideológico. Como? Martelando em público (e na imprensa) ideias cada vez mais radicais -suavizando, por contraste e com o tempo, o conteúdo que o eleitor médio descartava.

O Planalto não busca a imediata implementação das propostas "radicais" que tem lançado ou ajudado a divulgar -tribunal para jornalistas, punição a militares da ditadura, legalização do aborto, retirada de crucifixos das repartições públicas, partilha obrigatória dos lucros, combate à TV paga, jornada de trabalho de 40 horas etc. Lula sabe que são ideias hoje "inaceitáveis".

Esse barulho todo tem pouco a ver com esta Presidência -e muito com a próxima. É, de certo modo, a tentativa de alas do governo e do PT de deslocar para a esquerda a "Janela de Overton". Mantém-se tensionada a campanha eleitoral, que inercialmente tenderá a um continuísmo de centro, e prepara-se o enfrentamento político de 2011.

STEFAN SCHULTZ

As cinco ameaças ao futuro do euro


O ESTADO DE SÃO PAULO - 17/02/2010



Líderes da União Europeia (UE) reuniram-se em Bruxelas, na quinta-feira, para uma cúpula cujo principal objetivo era como tratar das pesadas dificuldades financeiras da Grécia. Alguns deram a anuência a um pacote de ajuda. A assistência financeira está em marcha, ao que parece.

"Estamos falando de linhas de crédito", disse o chanceler austríaco, Werner Faymann, pouco depois da reunião. Ele disse que o dinheiro poderia ser disponibilizado com a ajuda do Fundo Monetário Internacional (FMI). O primeiro-ministro espanhol, José Luis Zapatero, que exerce a presidência rotativa da UE, também prometeu a solidariedade da UE.

Essas demonstrações de solidariedade são uma boa nova para o euro. Por enquanto, a maioria dos investidores não parece acreditar que o pior cenário ocorrerá: uma bancarrota grega, que poderia se espalhar para outros países da UE e desencadear um colapso do mercado, como o que se seguiu à desintegração do banco americano Lehman Brothers em setembro de 2008.

A Grécia não é o único problema da zona do euro. A dívida pública disparou por todo o continente por causa da crise financeira. Arrecadações fiscais despencando combinadas com dispendiosos programas de estímulo econômico pressionaram severamente os orçamentos.

Portugal também enfrenta sérias dificuldades e a Espanha está sob observação. Medidas duras de economia e cortes profundos nos gastos públicos parecem a única saída. O mesmo vale, em parte, para a Irlanda. O país também enfrenta um grande déficit público.

A Itália também tem preocupado os especialistas. Sua situação não é tão grave quanto a da Grécia, mas há anos que a dívida pública está acima de 100% do PIB.

Com isso, 5 dos 16 países da zona do euro estão com as finanças públicas em frangalhos, o suficiente para deixar todo o continente apreensivo.

A ameaça ao euro não é só de curto prazo. Mesmo que Itália e Espanha evitem a bancarrota, por enquanto, o que acontecerá se os governos desses países forem fracos demais para fazer as reformas necessárias? Tanto Grécia como Portugal já foram atingidos por sérios protestos em razão dos cortes orçamentários. Mas, sem as muito necessárias reformas, a distância entre os membros fortes e fracos da zona do euro corre o risco de se ampliar ainda mais.

O economista Nouriel Roubini, professor da Stern School of Business em Nova York, expressou temores no Fórum Econômico Mundial em Davos de que a zona do euro poderia se desintegrar. Não necessariamente neste ano ou no próximo. Mas, se o Continente for incapaz de controlar seus déficits, a ameaça permanece.

GRÉCIA: A CRIANÇA PROBLEMA

A Grécia é o maior problema da Europa. A dívida do país já está bem acima de 100% do PIB e continua crescendo. Segundo as regras do euro, a dívida pública total não deveria exceder 60% do PIB. O déficit orçamentário do país em 2009 foi de quase 13% do PIB, mais de três vezes o limite de 3% permitido na zona do euro.

O principal problema da Grécia é que as enormes dívidas terão de ser refinanciadas em breve. A agência de classificação de crédito Moody"s calcula que o governo terá de captar cerca de 40 bilhões em dívidas novas no primeiro semestre de 2010 só para pagar o serviço das obrigações existentes e para financiar novos gastos. O próprio governo afirma que precisará refinanciar cerca de 10% de sua dívida pública em 2010, a maior parte em abril e maio.

Essa será uma tarefa difícil para um país cuja tétrica situação financeira tem sido motivo de crescentes preocupações nas últimas semanas.

O governo grego entregou seu plano de recuperação à UE, mas eles parecem excessivamente otimistas. Segundo o plano, o governo pretende deixar seu déficit orçamentário abaixo do limite de 3% até 2012 - uma redução de quase 10 pontos porcentuais em apenas três anos. Afora os membros da Organização para a Cooperação Econômica e o Desenvolvimento (OCDE) no período desde o início dos anos 90, somente a Suécia conseguiu realizar semelhante proeza - e foi ajudada pelo boom da Nova Economia, que deu um impulso providencial à economia global. Agora, ao contrário, a economia global terá um período provavelmente longo de estagnação, na opinião de muitos economistas.

O programa de austeridade do governo inclui várias medidas que afetam trabalhadores do setor público, como reduções salariais, congelamento das contratações e corte de benefícios suplementares, além de medidas de combate à evasão fiscal. Mas não explica como o setor público pode ser modernizado e a corrupção, combatida. Daí o alto grau de incerteza que continua reinando nos mercados de capitais.

PORTUGAL: GOVERNO FRACO

As preocupações com Portugal também provocaram tremores nos mercados nos últimos dias, o comissário para assuntos monetários da UE, Joaquin Almunia, é parcialmente responsável por isso. "Grécia, Portugal, Espanha (...) e outros na zona do euro compartilham algumas características", disse ele, numa coletiva de imprensa. "Nesses países, podemos observar uma perda permanente de competitividade desde que (se tornaram) membros da União Econômica e Monetária." A comparação indireta com a Grécia não fez nenhum favor a Portugal.

Portugal está, de fato, enfrentando desafios enormes. O déficit orçamentário disparou para 9,3% do PIB em 2009. E, embora o índice de endividamento em 77,4% do PIB ainda esteja próximo da média europeia, o país corre o risco de subir para 85% em 2010. Se o governo não tomar medidas resolutas, em breve mais investidores poderão começar a duvidar da credibilidade do país.

Resta saber se o governo conseguirá agir com firmeza. O primeiro-ministro José Sócrates está à frente de um governo minoritário, o que significa que a oposição pode aprovar leis no Parlamento contra a vontade do governo. Recentemente, ela conseguiu torpedear medidas de austeridade planejadas por Sócrates.

Sócrates precisa colocar o déficit orçamentário do país abaixo do limite de 3% do PIB até 2013. O governo anunciou cortes e reduções de salários no funcionalismo. No entanto, há poucas perspectivas de medidas de austeridade de longo alcance ou reformas estruturais. O setor agrícola de Portugal é ineficiente e ultrapassado, e o setor de turismo ainda está sendo desenvolvido. O país não conseguiu aumentar sua competitividade em relação a membros setentrionais da UE desde que ingressou na zona do euro. Com um governo fraco, será difícil reverter as coisas.

ESPANHA: A MAIOR AMEAÇA?

A Espanha está a caminho de se tornar a próxima criança problema da UE. Aliás, especialistas temem que o país possa ser uma ameaça ainda maior para a estabilidade do euro que a Grécia. "O ponto mais problemático não é a Grécia, é a Espanha", escreveu o ganhador do Nobel de economia, Paul Krugman, em seu blog, recentemente.

Ele também expressou preocupação com o estouro da bolha imobiliária no país. O professor Nouriel Roubini também vê a Espanha como a maior ameaça. A dívida pública do país é relativamente baixa, 54,3% do PIB. Mas os perigos potenciais para a Europa são maiores porque a economia espanhola é quatro vezes maior que a grega. E há temores de que a dívida de Madri possa disparar nos próximos 12 meses. O déficit orçamentário em 2009 subiu para 11,2% do PIB. Ademais, a economia do país não acompanhou a tendência ascendente da maioria dos países industriais. Segundo projeções do FMI, a Espanha será o único grande país da UE a não apresentar crescimento econômico em 2010.

O motor que fez a economia espanhola prosperar na metade dos anos 2000, o setor imobiliário, foi demolido pela crise financeira. Durante anos, o país se beneficiou de um boom sem precedente da construção, alimentado por uma especulação desenfreada. Agora, conjuntos semiacabados de casas novas se tornaram cidades fantasmas. Quatro milhões de espanhóis estão sem trabalho, uma taxa de mais de 20%.

A Espanha precisa reestruturar sua economia num grau maior que os outros países da zona monetária comum. Ao mesmo tempo, porém, Madri precisa adotar um regime de economia duro para pagar sua dívida. Para satisfazer céticos da UE e iniciar o processo de reformas, o governo Zapatero apresentou um plano de reformas e contenção de gastos. Até 2013, quer cortar 50 bilhões em gastos e reduzir o déficit público para 3%. Mas, poucas hora depois de apresentar o plano aos contadores da UE em Bruxelas, Madri precisou fazer correções. O documento prometia cortes profundos nas aposentadorias, o que provocou uma tempestade de protestos em Madri. O trecho foi retirado.

IRLANDA: PLANO EM MARCHA

A Irlanda continua combatendo os efeitos da recessão global. Seu déficit orçamentário, em 12,5% do PIB, é quase tão alto quanto o da Grécia. Em 2009, a economia irlandesa foi atingida mais gravemente ainda que a economia alemã - a Comissão Europeia estimou que a economia da Irlanda encolheu 7,5%.

Mas economistas como Krugman e Roubini tiraram a Irlanda da lista de países em crise. No início de fevereiro, o presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, rotulou o exemplo da Irlanda de "impressionante".

O governo em Dublin já começou as reformas. Cortou os salários do funcionalismo e busca o corte de gastos de 4 bilhões.Também conseguiu estabilizar o setor bancário, por enquanto, ao menos. Cerca de 77 bilhões em empréstimos podres foram baixados dos livros. Mas a Standard & Poor"s assinalou que essa dívida só saiu dos orçamentos oficiais, pois continua proporcionando grande elemento de incerteza sobre o país.

ITÁLIA: IGNORANDO A DÍVIDA

O prêmio de risco sobre bônus do governo italiano aumentou significativamente nas últimas semanas. Seu bônus para 10 anos está um bom ponto porcentual acima de seu equivalente alemão - e, à primeira vista, isso não é surpreendente. Afinal, a dívida pública total da Itália é imensa: segundo estimativas do governo, ela representa mais de 100% do PIB.

Isso, porém, tem sido assim desde 2006, muito antes da eclosão da crise. Economistas estão dando sinal verde para a Itália, por enquanto, dizendo que ela não enfrenta o mesmo risco de curto prazo que a Grécia e outros. A Itália não apresenta tampouco os mesmos sintomas de crise que os países europeus economicamente mais frágeis.

Diferentemente da Espanha, a economia italiana não teve as fundações abaladas pelo estouro de uma bolha imobiliária. Diferentemente da Grécia, seu governo não manipula os números de seu déficit orçamentário. Diferentemente da Irlanda, seu setor financeiro não foi duramente atingido pela crise: o sistema italiano de fiscalização da atividade bancária há muito se revelou relativamente duro, antes mesmo da quebra do Lehman Brothers.

Ademais, parece improvável que os gastos públicos italianos aumentem significativamente no futuro. Ao contrário, o governo empurrou um pacote de austeridade ao Parlamento em julho de 2008. No entanto, uma dívida nacional de mais de 100% do PIB continua sendo um enorme fator de risco.