sexta-feira, outubro 09, 2009

AUGUSTO NUNES

VEJA ON-LINE

Só dá no Brasil o ladrão que rouba com o patrocínio do governo e acusa o assaltado

9 de outubro de 2009

O primeiro texto publicado nesta coluna, em 22 de abril, tratou de mais uma abjeção produzida pelo MST ─ a única organização fora-da-lei da história do Brasil patrocinada pelo Executivo, protegida pelo Legislativo e estimulada pela leniência do Judiciário. Dias antes, invasores de uma fazenda no Pará haviam acrescentado ao repertório de práticas bandidas o uso de escudos humanos. De novo, fizeram o que quiseram e saíram quando quiseram, com a insolência dos contemplados com a cumplicidade, por ação ou omissão, dos três Poderes. Em vez da voz de prisão, em vez da voz enérgica dos encarregados de defender o Estado de Direito, em vez da voz do juiz anunciando a sentença, ouviram a voz companheira do chefe de governo.

Por tratar como caso de polícia o que era uma questão social, lembrou o parágrafo de abertura, o presidente Washington Luis antecipou a chegada à senilidade precoce da República Velha, enterrada sem honras pela Revolução de 1930. Por tratar como questão social o que é um caso de polícia, o presidente Lula continua a retardar a chegada à maioridade da democracia brasileira. Os líderes do incipiente movimento operário do século passado, que apresentavam reivindicações elementares, não mereciam cadeia. Mereciam de Washington Luiz mais atenção. Chefões de velharias ideológicas como o MST, que berram exigências de napoleão-de-hospício enquanto aumentam a gigantesca coleção de crimes contra o patrimônio, não merecem as atenções que vivem recebendo de Lula. Merecem cadeia.

Sete meses depois das delinquências no Pará, o MST continua estuprando o direito de propriedade, o governo continua financiando os conglomerados de barracas de lona preta, o Congresso continua assassinando no útero CPIs concebidas para apurar ligações financeiras de alta periculosidade entre o Planalto e os chefes da sigla, a população carcerária continua sem representantes do MST . Vida que segue. As imagens da invasão da exemplarmente produtiva Fazenda Santo Henrique, no interior de São Paulo, avisam que o bando está cada vez mais ousado. Mas também informam que a Justiça tem uma chance das boas de revogar a suspeita de que o MST foi condenado à impunidade.

“Vamos dar uma resposta à sociedade”, prometeu o delegado de Borebi, Jader Biazon. ”Alguns dos responsáveis pelo que aconteceu vão responder criminalmente”. O que aconteceu foi mais que uma invasão ilegal consumada por 240 famílias. Foi um assalto praticado por centenas de ladrões sem medo. As cenas exibidas pela TV não mostram lavradores em busca de terra para plantar. Mostram homens e mulheres destruindo laranjais, depredando equipamentos agrícolas, roubando móveis, furtando aparelhos domésticos. “O que eles não puderam furtar eles destruíram”, resumiu o delegado de polícia, que já identificou sete criminosos. O produto do assalto passou de R$ 3 milhões. “Levaram DVD, TV, rádio, roupas, sapatos, ferro de passar, o chuveiro, até lâmpadas e torneiras”, conta Silvana Fontes, 37 anos, cozinheira e faxineira da sede da fazenda. Casada há três meses com um vigilante da empresa, ela ficou sem muitos presentes quem nem havia desembrulhado.

Os meliantes culpam a vítima. “Querem criminalizar o movimento”, repete sem ficar ruborizado Paulo Albuquerque, comandante do ataque. “Se destruíram alguma coisa, foi a Cutrale”. Pero Vaz de Caminha tinha razão: no Brasil, em se plantando, tudo dá. Até ladrão que rouba com o patrocínio do governo e acusa o assaltado.

SERAFIM CORRÊA

ARTIGO

Melou!!!

BLOG DO RICARDO NOBLAT - 09/10/09

A Folha de São Paulo trouxe, ontem, de manchete: "Governo segura restituição".

A matéria explicava que, por conta da queda da arrecadação, o Governo Federal resolvera segurar a restituição de imposto de renda, transferindo boa parte dela para o primeiro trimestre do próximo ano.

Mais tarde, quando a notícia já estava em todos os blogs do país, o ministro Guido Mantega deu a explicação: “Não haverá prejuízo para ninguém já que a restituição é corrigida pela taxa Selic”.

A explicação não resiste a uma pergunta de um aluno do primeiro ano de Economia ou de Ciência Política. Isto porque a Selic, que corrige a restituição, é exatamente a mesma que remunera a Dívida Pública.

O aluno de Economia deve perguntar:

“Ministro, mas se a taxa de juros é a mesma, qual é a diferença entre dever para o contribuinte que pagou a maior e dever para os bancos que compram os títulos da Dívida Pública?”

E o de Ciência Política:

“Ministro, mas se o custo é o mesmo, por que impor a milhares de pessoas que tem dívidas com taxas de juros maiores um enorme custo financeiro, beneficiando os bancos e desgastando o governo junto à classe média?

O Ministro não vai responder. Sabem por que?

A razão é outra.

A arrecadação de Imposto de Renda é um dos componentes da base de cálculo dos repasses do Governo Federal para Estados e Municípios através do Fundo de Participação dos Estados e dos Municípios.

A cada dez dias o Governo apura o arrecadado e diminui o que é restituído.

Imaginemos que a arrecadação foi de 100 unidades e a restituição teria que ser de 20 unidades. A base será de 80 e com isso cairiam mais ainda os repasses em favor de Estados e Municípios com a inevitável gritaria produzida por governadores e prefeitos.

Se, no entanto, a restituição é adiada, a base é 100 e os repasses não diminuem, nem provoca alarido de governadores e principalmente de prefeitos.

É por essa razão, e só por essa, que o Governo Federal está empurrando com a barriga a restituição de Imposto de Renda.

O que não estava nos planos era um repórter sagaz descobrir e a Folha de São Paulo publicar de manchete.

E aí, como diz a garotada, “melou”.

Serafim Corrêa é funcionário aposentado da Receita Federal e ex-prefeito de Manaus

PAULO BORNHAUSEN

Ao povo o que é do povo

Folha de S. Paulo - 09/10/2009


O povo paga impostos para que os governos possam ter os recursos necessários para propiciar uma vida com um mínimo de dignidade

O GOVERNO federal acaba de pregar mais uma triste e perversa peça no contribuinte brasileiro. Durante a crise, Lula foi à TV incentivar o povo a gastar: com o consumo, o Brasil sairia da crise. E o povo, magnetizado pelo mito, atendeu seu pedido. Gastou o que tinha e por conta do que viria a ter.
Agora, boa parte dos seguidores de Lula recebeu de presente, de recompensa, uma conta salgada. A restituição do Imposto de Renda de trabalhadores de classe média não sairá neste ano. A justificativa dada é que, por causa da crise, a arrecadação caiu, e o governo não vai pagar o que deve ao contribuinte.
É mais uma perversidade da administração da brutal carga tributária que sufoca o brasileiro. E o ministro da Fazenda disse que ninguém será prejudicado, já que o governo paga juros da Selic para a restituição.
O ministro não disse o que vai ser do trabalhador que pegou adiantado a sua restituição para gastar -como Lula lhe pediu. Esse adiantamento é cobrado automaticamente pelo Banco do Brasil em janeiro, tenha ou não o trabalhador recebido sua restituição -ele vai contrair uma nova dívida para pagar, a juros mais altos do que os que o governo usa para remunerar a "poupança" que está forçando o contribuinte a fazer.
O povo está cansado de ser penalizado por este governo federal. O povo quer ter um atendimento nas unidades de saúde pública que lhe resolva os problemas, que lhe tire as aflições, que lhe acuda na doença.
Mas não tem, e isso ficou evidenciado na forma caótica com que o governo federal, por meio do Ministério da Saúde, encaminhou o enfrentamento à gripe A. Não é por acaso que o Brasil é o campeão de mortes causadas por essa pandemia.
O povo quer poder sair nas ruas e voltar para casa em segurança. Quer ter a certeza de que quem estuda de noite vai voltar para casa em segurança. Quer ter a garantia de que quem está nas ruas não será atingido por uma bala perdida.
Podem mostrar números, estatísticas, pesquisas: o povo quer mais da escola do que a merenda escolar e uma certa tranquilidade de que as crianças estão seguras pelo menos enquanto estão nos prédios escolares. Ele não tem um mínimo de qualidade na educação, e a violência já está atingindo drasticamente o interior das escolas.
O povo tem consciência de que a grande maioria está predestinada a ser pobre. Mas quer, com todo o direito, mesmo que em casebres e no chão batido, morar em um local limpo, sem a sujeira, que deveria estar sendo tratada nos esgotos, correr ao céu aberto, provocando doenças por causa das quais filas se formarão nas unidades de saúde pública -e sem a garantia de uma solução.
Para tudo isso o povo paga impostos, para que os governos possam ter os recursos necessários para propiciar uma vida com um mínimo de dignidade. Mas o povo paga, no Brasil, muito imposto, muito imposto. E não recebe nada em troca. Não é dado ao povo o que de direito lhe devem.
E agora o povo tem confiscada sua restituição. É imposto para a saúde, imposto da poupança, imposto para livros. Impostos que, ao contrário de contribuir para melhorar a sua vida, penalizam justamente o povo, penalizam justamente aqueles que mais precisam se valer dos serviços públicos -serviços que não funcionam.
O imposto da saúde, a CSS, apelido envergonhado da CPMF, atinge a todos, sem exceção e várias vezes, por causa de seu efeito em cascata.
O imposto da poupança, segundo o governo, só atingirá os grandes poupadores, aqueles que têm conta acima de R$ 50 mil. Ora, qualquer um do povo que passou a vida pingando depósitos em sua caderneta de poupança tem hoje mais de R$ 50 mil no Banco do Brasil ou na Caixa Econômica Federal. Um dinheiro que lhe fez falta no dia a dia, mas que promete um futuro melhor para suas próximas gerações.
O imposto do livro, certamente ideia de quem não esconde sua falta de apreço pela leitura, vai afastar ainda mais o povo da possibilidade de adquirir mais cultura e, quem sabe assim, melhorar de vida, já que nem todos têm a sorte de se tornarem presidente da República. É uma questão programática: os Democratas são contra a criação de novos impostos e defendem um choque de gestão para diminuir a atual carga tributária.
E há o compromisso mais radical: no poder, vamos administrar os recursos públicos de forma a dar ao povo o que hoje lhe falta: serviços públicos de qualidade e realmente universalizados.

PANORAMA POLÍTICO

Corda no pescoço

ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 09/10/09

O estoque de emendas parlamentares autorizadas e não empenhadas é de R$ 2 bilhões. Efeito da crise. A base governista não quer nem saber, e pressiona pela liberação. O ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) está diante de seu primeiro pepino. Os ministérios estão sob pressão para resolver. Se as emendas não saírem, o governo terá dificuldade para aprovar os projetos remanejando créditos, que serão enviados até dia 15.

O que está em jogo

O impasse quanto a mudanças no Código Florestal, cristalizado em comissão da Câmara dos Deputados, está nos seguintes pontos: estender para grandes agricultores as mesmas flexibilizações na legislação ambiental concedidas à agricultura familiar, como a incorporação das Áreas de Proteção Permanente (topos de morro e margens de rio) no cálculo da reserva legal, e anistia das multas emitidas até 2009, sem adesão a programas de recuperação ambiental. Em minoria, os verdes vão pressionar o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), e tentar constranger o PT e o PSDB, que terão candidatos a presidente.

“O MST precisa colaborar, e não criar dificuldades adicionais” — Luiz Dulci, ministro da Secretaria Geral da Presidência, em almoço com deputados do PCdoB

ESTAMPA. Pelo menos uma dúzia de repórteres de publicações impressas e emissoras de televisão já pediram à ministra Dilma Rousseff a primazia de divulgar, com exclusividade, sua primeira aparição sem a peruca que adotou por causa do tratamento contra o câncer. Sua intenção é assumir o novo visual quando seu cabelo tiver crescido ao estilo “Joãozinho”. Aquele corte de cabelo curto que era usado pela cantora Elis Regina.

O pai da criança

Os tucanos não querem nem ouvir falar na possibilidade de o ex-presidente Itamar Franco ser o vice, representando Minas Gerais, na chapa do PSDB para presidente.
Dizem que Itamar é uma invenção do presidente do PPS, Roberto Freire.

Quem fez mais?

Usando dados oficiais sobre investimentos federais, o líder do DEM no Senado, José Agripino (RN), garante que FH investiu mais que Lula.
Nos anos FH, o investimento médio/ano foi de R$ 20,3 bilhões. Nos de Lula, foi de R$ 18,4 bilhões.

Voou pena tucana para todo lado

Deputados estaduais do PSDB do Pará baixaram, sem avisar, no gabinete do presidente do partido, Sérgio Guerra (PE), em Brasília. Queriam definir já quem será o candidato ao governo estadual. Eles apoiam Simão Jatene. Alertado, o senador Mário Couto (PSDB-PA), que também é pré-candidato, dirigiu-se ao gabinete e, aos berros, os acusou de golpistas. O senador Flexa Ribeiro e o deputado Zenaldo Coutinho também estão brigando, mas pela presidência do diretório regional.

Zoellick: quem te viu quem te vê

Às vésperas da posse do presidente Lula, em outubro de 2002, o então secretário de Comércio Exterior americano Robert Zoellick, foi duro ao afirmar: ou o Brasil aceita a Alca ou vai ter que vender seus produtos para os pinguins na Antártida.

Escândalo. Esta semana, na condição de presidente do Banco Mundial, um novo Zoellick recomendou: “Os emergentes devem recorrer mais ao mercado interno e ao comércio sulsul para garantir crescimento na saída da crise”.

O PRESIDENTE Lula e o presidente do PMDB, Michel Temer, acertaram ontem que, no dia 21, será assinado o pré-compromisso entre PT e PMDB para 2010.

ACABOU A SOPA. A TV Senado não vai mais transmitir as sessões solenes realizadas em plenário. Sem holofote, deve haver redução dessas homenagens.

CANDIDATO ao governo da Bahia, o ministro Geddel Vieira Lima (Integração) quer manter na família sua cadeira na Câmara. O irmão, Lúcio, presidente regional do PMDB, vai concorrer à vaga.

VINÍCIUS TORRES FREIRE

Recordar é viver: a pendura do IR

FOLHA DE SÃO PAULO - 09/10/09


GOVERNO IMPREVIDENTE FAZ GAMBIARRA FISCAL, CATA MOEDAS E ADOTA MEDIDA QUE CRITICARA QUANDO SUGERIDA POR TUCANOS

"A ISTO chegamos", para dizê-lo como o velho comuna José Saramago. O governo cata moedas caídas sob o criado-mudo (os contribuintes) a fim de cobrir o cofre nu devido à queda da arrecadação e ao gasto excessivo.
Chegamos à gambiarra de atrasar a restituição do Imposto de Renda. A mutreta foi revelada ontem por Leonardo Souza, nesta Folha. O governo federal reconheceu que tem retido a restituição, outra atitude que o PT tripudiara com gosto quando sugerida pelos tucanos, em 2001.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que a restituição parada no governo é uma espécie de "poupança", pois o dinheiro é corrigido pela Selic. Pode ser, mas: 1) trata-se de poupança e empréstimo compulsórios; 2) perde dinheiro quem está pendurado em dívidas mais caras que a Selic (todas, basicamente) e pretendia ou poderia abatê-las com o dinheiro da restituição; 3) trata-se de endividamento disfarçado do governo.
Qualquer governo pode, na surdina, inventar expedientes a fim de protelar o pagamento do que deve.
No caso do IR, fazer malha fina na malha fina, a "nanomalha", digamos, é um modo de fazê-lo.
Porém, mesmo um governo muito mais alquebrado que o de Lula, em termos fiscais, o de FHC, evitou recorrer assumidamente à gambiarra do IR. No final do terrível ano de 2001 de apagão, de crise argentina, nos EUA etc., deputados tucanos sugeriam a pendura do IR como forma de compensar a queda de arrecadação, que então estava para ser agravada por mais um reajuste demagógico da tabela do IR.
Pedro Malan, então ministro da Fazenda, convenceu FHC a derrubar a ideia. "O governo estaria dizendo àqueles que têm direito a restituição de IR no ano que vem que a devolução seria postergada por um ano, o que pode ser questionado juridicamente, na medida em que pode ser interpretado como uma espécie de empréstimo compulsório", dizia Malan. Os deputados governistas queriam empurrar a devolução do IR para 2002 e 2003. Isto é, para o primeiro ano do que seria o governo Lula.
O que diziam então os petistas?
"O governo FHC está fazendo generosidade com o chapéu alheio.
Assim é muito fácil. Além de não corrigir integralmente a tabela, o governo vai deixar a dívida para o próximo", dizia Aloizio Mercadante (PT-SP). O Mercadante não vale, pois é "revogável"? Então relembre-se o então líder do PT na Câmara, Walter Pinheiro (BA): "Isso é irresponsabilidade. Prometem pagar no futuro uma restituição que já é do contribuinte." O PFL, hoje DEM, defendia a pendura. "Isso não deixa de ser retenção da restituição de quem recebe mais, mas não pode ser chamado de confisco porque tem prazo de devolução e correção", dizia o então líder do PFL na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE). Ontem, o deputado federal Ronaldo Caiado, do DEM, chamava a pendura petista de confisco.
O governo recorre à pendura devido a descarada imprevidência. O governo sabia que a receita de impostos cairia e que teria de gastar a fim de atenuar a crise. Mas gastou por conta e risco em despesas que poderiam, ao menos, ter sido adiadas para anos melhores.

BRASÍLIA - DF

O preferido da FAB


Correio Braziliense - 09/10/2009


Até o fim de outubro, depois de sucessivos adiamentos, a Comissão Gerencial do Projeto F-X2 deverá concluir os trabalhos de avaliação das propostas enviadas pelas empresas concorrentes à venda dos caças para a Força Aérea Brasileira (FAB). Não será nenhuma surpresa se os brigadeiros derem o troco no anúncio precipitado de compra dos caças Rafale pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante a visita do presidente da França, Nicolas Sarkozy, e descartarem o modelo francês como primeira opção de compra. Nada impedirá que o presidente Lula compre os Rafale assim mesmo, mas será uma tremenda saia justa explicar o porquê da preferência por um avião muito mais caro que os demais.

O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, que chegou a pensar em pegar o bibico e ir pra casa quando Lula atropelou a comissão, não esconde de seus interlocutores que prefere o Gripen NG, da Saab, um caça sueco. Seria mais barato e possibilitaria aos oficiais engenheiros da FAB participar não só da construção, mas também do desenvolvimento do projeto. Os “caçadores” preferem pilotar o F-18 Super Hornet, da Boeing.


Candidato// Fora da corrida pelo Palácio do Buriti, o senador Cristovam Buarque (PDT) almoçou com o petista Agnelo Queiroz na quarta-feira. A iniciativa partiu do presidente do PT-DF, Chico Vigilante, interessado em encorpar a aliança de 2010. O distrital José Antônio Reguffe (PDT) estava presente, mas defende candidatura própria.

Pacto

Formada por mais de 60 especialistas em diversas áreas, sob comando do brigadeiro Dirceu Nôro, a comissão especial da FAB tende a fazer uma avaliação rigorosamente técnica, apesar das pressões do ministro da Defesa, Nelson Jobim, para que não crie problemas para o presidente Lula. As três empresas que disputam a bilionária concorrência da FAB melhoraram suas propostas para atender às exigências de preço e transferência de tecnologia, mas o pacto de cooperação militar entre Lula e Sarkozy está fechado, principalmente por causa do submarino nuclear que a Marinha pretende construir. O fato é que a França se tornou a principal parceira estratégica do Brasil na política mundial, em detrimento dos Estados Unidos.

Suburbano

Uma das prioridades do governo federal para a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016 é a construção do trem-bala, ligando as cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Campinas. O morador de Mesquita, aquele eterno sofredor que balança mas não cai dos trens da antiga Central do Brasil, não gostou nem um pouco da notícia. Já estava na bronca com a construção do metrô para a Barra da Tijuca, prioridade do governo estadual, enquanto há décadas os trens dos subúrbios estão abaixo da crítica.

Ofensiva



A intensificação da agenda da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, tem como objetivo desestabilizar a candidatura à Presidência da República do deputado Ciro Gomes (foto), do PSB-CE, e forçá-lo a concorrer ao Palácio dos Bandeirantes. A tese da candidatura única que a ministra defende, porém, não terá eficácia enquanto ela estiver atrás de Ciro nas pesquisas de opinião.

Empregos


O Sistema Nacional do Emprego (Sine) completou 34 anos de atuação com o saldo de 13 milhões de trabalhadores empregados desde o início do seu funcionamento, dos quais 1,06 milhão conseguiram ingressar no mercado apenas no ano passado. Este ano, apesar da crise, o órgão do Ministério do Trabalho já levou emprego a
754.593 trabalhadores

Recepção



Uma ala do PMDB de Goiás, liderada por vereadores de Goiânia, levanta resistência contra a indicação do neopeemedebista e presidente do Banco Central, Henrique Meirelles (foto), para disputar o Senado. Os descontentes prometem lançar um candidato próprio para disputar a vaga nas convenções partidárias do ano que vem.

Pressa/ Para evitar atrasos, as comissões especiais que analisam o marco regulatório do pré-sal, na Câmara dos Deputados, não abrirão novo prazo para emendas depois da leitura dos relatórios. Parecer da Mesa Diretora da Casa, consultada pelo presidente da comissão que analisa a capitalização da Petrobras, deputado Arnaldo Jardim (PPS-SP), garante que novas emendas terão de ser analisadas em plenário.


Gravado/ O PDT incluirá vídeos nas ações para retomar na Justiça Eleitoral os mandatos dos três deputados federais — Severiano Alves (PMDB-BA), Sérgio Brito (PSC-BA) e Davi Alves Júnior (PR-MA) — que deixaram a legenda no recente troca-troca partidário. Os pedetistas deixaram gravado, na época em que foi instituída a cláusula de fidelidade, o compromisso de permanecerem na legenda até 2010.

Precaução/ O ex-ministro José Dirceu tem estimulado o PT do Ceará a lançar candidato próprio contra o governador Cid Gomes (PSB), que tentará a reeleição. Caso prospere a candidatura de Ciro Gomes (PSB-CE) à Presidência da República, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, precisará de um palanque petista no estado.

WASHINGTON NOVAES

Lixo na rua, lixo na mente


O Estado de S. Paulo - 09/10/2009

Desde o último domingo a cidade de São Paulo está mandando para aterros em outros municípios as 13 mil toneladas diárias de lixo domiciliar e comercial que produz, pois se esgotou a capacidade de seu último aterro em funcionamento e ainda não está licenciada a área adicional de 435 mil metros quadrados para onde se pretende expandir o São João (Estado, 2/10).

Mais de uma vez já foram mencionados neste espaço maus exemplos que o autor destas linhas documentou em Nova York (EUA) e Toronto (Canadá). Na primeira, deixou-se esgotar o aterro para onde iam 12 mil toneladas diárias de resíduos. E a solução foi transportá-las diariamente em caminhões para mais de 500 quilômetros de distância, no Estado da Virginia, e depositá-las num aterro privado, ao custo de US$ 720 mil por dia (US$ 30 por tonelada para o transporte, outro tanto para pagar o aterro). Em Toronto também se esgotou o aterro para onde iam 3 mil toneladas diárias. E se teve de implantar um comboio ferroviário para levá-las a 800 quilômetros de distância. São apenas dois de muitos exemplos. No Brasil mesmo, Belo Horizonte já está mandando lixo para dezenas de quilômetros de distância. O Rio de Janeiro tem de exportá-lo para a Baixada Fluminense. Curitiba esgotou o seu aterro, como muitas outras capitais.

Mas há boas notícias também. Uma delas foi anunciada pelo próprio ministro do Meio Ambiente: vai criar um programa de remuneração para os catadores de lixo no Brasil, que já são cerca de 1 milhão. É graças aos catadores que não temos uma situação ainda mais grave no País, já que são eles que encaminham para a reciclagem em empresas (em usinas públicas a porcentagem é insignificante) cerca de um terço do papel e papelão descartado, uns 20% do vidro, talvez outro tanto de plásticos e a quase totalidade das latas de bebidas.

Mas é preciso avançar mais: implantar coleta seletiva em toda parte, encarregar cooperativas de reciclagem de recolher os resíduos já separados, construir usinas de triagem operadas e administradas por elas, onde se pode reciclar cerca de 80% do lixo recolhido - transformando todo o lixo orgânico em composto para uso na jardinagem, contenção de encostas, etc.; todo o papel e papelão, em telhas revestidas de betume, capazes de substituir as de amianto com muitas vantagens; transformando todo o plástico PVC em pellets (para serem utilizados como matéria-prima) ou em mangueiras pretas; moendo o vidro e vendendo-o a recicladoras, assim como latas de alumínio e outros metais. Por esses caminhos se consegue reduzir para 20% o lixo destinado ao aterro. Gerando trabalho e renda para um contingente hoje sem nenhuma proteção.

Outra boa notícia (Estado, 2/10) é a de que a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo e a Cetesb concluíram a vistoria dos últimos 48 lixões em território paulista. Para 18 deles já há soluções apresentadas pelas prefeituras. Outros 22 apresentarão suas soluções ainda este mês e 7 já estão em processo de interdição; 13 lixões foram fechados nos últimos dois anos. É uma contribuição importante, já que quase metade do lixo domiciliar e comercial no País continua indo para lixões a céu aberto.

Não será fácil equacionar a questão. Segundo estudo da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), implantar um aterro capaz de receber 2 mil toneladas diárias de resíduos custa em média R$ 525,8 milhões; de médio porte, para 800 toneladas/dia, R$ 236,5 milhões; e de pequeno porte, para 100 toneladas/dia, R$ 52,4 milhões (Estado, 7/9). Quantas prefeituras têm capacidade financeira para esse investimento, lembrando que a produção média de lixo por pessoa no País já está acima de um quilo por dia? Não por acaso, o mercado da limpeza urbana, segundo estudo da Unesp, está em R$ 17 bilhões anuais. Mas não bastasse tanto lixo, ainda importamos desde janeiro de 2008 mais de 220 mil toneladas de lixo, pagando R$ 257,9 milhões, para ser reciclado e reutilizado em vários setores industriais (Estado, 26/7).

E há outros problemas. Diz, por exemplo, o noticiário deste jornal (16/8) que a Cetesb identificou 19 áreas contaminadas por lixo tóxico só no Bairro da Mooca, que ocupam 300 mil metros quadrados - herança de seu passado industrial. Será preciso descontaminar essas áreas, com altos custos. E encontrar depósitos para o lixo perigoso.

Talvez num deles se possa depositar também o altamente perigoso lixo político que está invadindo nossa vida pública e poderá ter consequências funestas. Pode-se começar lembrando as declarações do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, segundo quem "forças demoníacas" têm criado obstáculos ao licenciamento ambiental da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (Estado, 30/9). A referência era a ONGs, como o Conselho Indigenista Missionário, e vários outros movimentos sociais, além do Ministério Público Federal, que criticam o projeto. Mas atinge também estudos de universidades que têm demonstrado a precariedade das avaliações sobre consequências ambientais, sociais, políticas e econômicas daquela usina e pedido novos estudos, inclusive sobre o custo da implantação, ora estimado em R$ 9 bilhões, ora em R$ 30 bilhões. Sem argumentos, o ministro prefere demonizar os críticos - um caminho perigoso, porque o passo seguinte seria exorcizá-los, talvez bani-los da vida pública - ou coisa pior.

Na mesma linha, as afirmações do governador de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli, de que o ministro do Meio Ambiente é "maconheiro" e "homossexual" e que gostaria de "estuprá-lo em praça pública"(!). E, para completar, o presidente do PSC, Vitor Nósseis (O Popular, 3/10), que, para explicar a migração de políticos para outros partidos, comparou-a a "uma relação entre marido e mulher": "Se o dinheiro sai pela porta, a mulher sai pela janela."

Como se pode avançar na política com tanto lixo?

CELSO MING

Câmbio, ação e reação


O Estado de S. Paulo - 09/10/2009

A gente já sabe, por declarações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e do secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, que o governo está preocupado com o rali do real e com os altamente prováveis efeitos da valorização da moeda brasileira sobre a competitividade do setor produtivo - e não apenas da indústria.

Em vez de se preocupar, o governo deveria se ocupar em arranjar uma saída para o problema, que jamais será fácil.

Para começar, é preciso descartar falsas soluções. A enorme entrada de dólares nada tem a ver com especulação (arbitragem) com juros nem com o grande salto na exportação de produtos primários (commodities). Por isso, não seria a eventual derrubada unilateral dos juros pelo Banco Central, que de resto levaria o risco de destruir o sistema de metas de inflação, que reverteria o tombo do dólar no câmbio interno. Tampouco faria sentido impor confisco às exportações de commodities, como vêm defendendo os economistas Luiz Carlos Bresser-Pereira e João Sicsú. Se é para proteger o exportador, não cabe prejudicá-lo.

Além disso, seria um tiro no pé impor taxação ou quarentena à entrada de capitais de longo prazo. As subscrições de ações por investidores estrangeiros vêm para fortalecer empresas que atuam no Brasil ou para financiar projetos de longo prazo.

A rigor, o problema não está na fragilidade do dólar. Está na baixa competitividade do setor produtivo do Brasil e na baixa taxa de poupança do brasileiro.

Também não se pode insistir em que o Banco Central siga amontoando reservas indefinidamente. Não foi a exibição de reservas de US$ 205 bilhões que permitiu que o País surfasse na onda da crise? E não foi esse um dos fatores que estão atraindo capitais? Imagine-se então o volume de moeda estrangeira que chegaria se as reservas saltassem para US$ 300 bilhões.

Qualquer solução responsável passa pela redução do custo Brasil, que é a verdadeira bola de ferro presa aos pés do setor produtivo e o impede de deslanchar, e não o câmbio.

E derrubar o custo Brasil significa baixar a carga tributária; diminuir os encargos sociais que pesam sobre a folha de pagamentos das empresas; afundar os juros na ponta do crédito, que é o que realmente conta na produção; investir na infraestrutura para que a produção possa contar com estradas, portos, armazenagem, comunicações modernas e baratas; agilizar a Justiça para garantir soluções rápidas para os conflitos; e, obviamente, eliminar o excesso de burocracia.

Qualquer principiante em Economia sabe que atacar esses gargalos implica fazer reformas, as mesmas que vêm sendo propostas há 20 anos e que não saem da gaveta (reforma tributária, reforma trabalhista, reforma sindical, etc.). E implica racionalizar as atividades do Estado, ou seja, baixar corajosamente as despesas correntes do setor público.

Um punhado de empresários e economistas insiste em dizer que o Brasil tem de agir como a China. Mas a China é o que é porque tem um Estado centralizador e autoritário, um setor financeiro inteiramente submisso e poupa 44% da renda (e não apenas 17%, como o Brasil).

E aí estamos apontando também para as limitações e consequências do baixo nível de poupança existente no Brasil.
Confira
Dólar forte? Ontem o presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, avisou que é de interesse do mundo o fortalecimento do dólar.
Disse mais: que os grandes bancos centrais ajudarão nisso. Todos entenderam que Trichet está preocupado com a excessiva valorização do euro.
A ideia do superdólar ninguém mais engole. O governo dos Estados Unidos faz de tudo para que haja recuperação das exportações americanas.
Não se consegue esse objetivo com o dólar forte. Ao contrário, só se o viabiliza com o dólar desvalorizado.

TODA MÍDIA

Depois do golpe, o lobby

NELSON DE SÁ

FOLHA DE SÃO PAULO - 09/10/09


Na Folha Online, a OEA foi embora "sem avanço". Ao fundo, o "New York Times" deu ontem o relato "Líder derrubado, Honduras contrata lobistas", com a ação que se seguiu ao "golpe de 28 de junho".
Não por acaso, também o "Washington Post" deu reportagem com os mesmos lobistas detalhando seus êxitos.
Abrindo o texto do "NYT", "Primeiro, deponha o presidente. Depois, contrate um lobista". No caso, "escritórios de advocacia e relações públicas dos EUA com laços estreitos com a secretária Hillary Clinton e John McCain, principal voz republicana em relações exteriores". Espalhou-se de tais escritórios a "lista de argumentos minando o novo embaixador no Brasil", por exemplo, entre outras listas ecoadas por aqui.


AJUSTES ESTRATÉGICOS
Sun Hongbo, da Academia de Ciências Sociais da China, publicou longa análise no "China Daily" sobre a "série de ajustes estratégicos e iniciativas militares do Brasil, que devem acelerar a mudança na paisagem de segurança da América Latina". Avalia que "os sinais de mudança são evidentes no Hemisfério Ocidental, conforme o mundo sai da ordem estabelecida, por causa da crise global".
Destaca a cooperação militar com a França, contrasta com a volta da 4ª Frota e o pacto EUA-Colômbia e cita "o golpe em Honduras", para concluir que "o maior desafio do Brasil é promover confiança estratégica", estabelecendo "unidade regional e um novo sistema coletivo de segurança".

VENCER FOI A PARTE FÁCIL
A "Economist" retrata a má fase de Obama e toma por símbolo sua viagem a Copenhague. Em suma, "ele pode ser alto e atlético, mas não venceu nada e o ouro olímpico foi para o mais encorpado Luiz Inácio Lula da Silva".
Em reportagem sobre a escolha do Rio, diz que "vencer a disputa para encenar os Jogos foi a parte fácil". Realizar "requer esforço e gasto em escala que a cidade nunca viu". E "não faltam céticos, como em São Paulo, onde o Rio é descartado como cidade de festa". Porém "há razões para ter esperança de sucesso do Rio", citando a economia em recuperação no país, o pré-sal e até a estrutura do Pan.

"ACORDE A EUROPA!"
Na capa com Tony Blair e Europa, a revista diz que "é hora de a maior economia do mundo se levantar e interpretar um papel global", com um líder forte. "No momento, a Europa é um ator fraco num palco dominado pelos EUA e pela China; Índia e Brasil estão nas coxias".

O ELO PERDIDO
Ontem no "Wall Street Journal", de Hong Kong, "Dados apontam para a retomada no comércio global". Abre dizendo que foi encontrado o "elo perdido" da recuperação econômica em alguns países exportadores: "Coreia do Sul, Taiwan e Brasil já relataram dados comerciais de setembro e mostram crescimento sobre o mês anterior". Diz que a tendência corre risco "conforme o dólar se enfraquece" e as moedas se tornam fortes para competir na China, que "manteve a taxa do yuan".

DOS JUROS AO PALANQUE
Sob o título "Banqueiro brasileiro joga dinheiro na política", o "WSJ" diz que "o poderoso presidente do Banco Central do Brasil, Henrique Meirelles, tem algo além de taxas de juros na sua cabeça, nos dias que correm: lançar uma carreira política". Relata sua origem no banco FleetBoston e o currículo no BC, com o "popular" recorde de juros baixos.
E sublinha que a ideia de um "banqueiro central" se preparando para uma campanha criaria "enorme controvérsia nos EUA", mas não aqui. O jornal fecha com os nomes que "já estão circulando" para a vaga, Alexandre Tombini e Luciano Coutinho, "do imenso banco de desenvolvimento".

FORA DO "TOP 200"
O "Times Higher Education" deu a lista das 200 melhores universidades do mundo, ressaltando que "o status de superpotência dos EUA está se perdendo" com o "avanço da Ásia".
Já "o Brasil, que tinha uma no ranking de 2008, caiu inteiramente". Por aqui, nos sites e portais, "USP sai do ranking das melhores".

NELSON MOTTA

Resenha portenha


O ESTADO DE SÃO PAULO - 09/10/09

Mais gostoso do que ganhar a sede da Olimpíada, só mesmo assistir pela televisão, num bar de Buenos Aires, cercado de amigos argentinos. E depois, em todos os lugares, receber cumprimentos, que retribuo com sinceros "bienvenidos". A coisa está preta no Rio da Prata, coitados, e resisto a qualquer gozação.

Com sua seleção com um pé no abismo, adorariam trocar Maradona por Dunga, assim como cambiam dois pesos por um real. E ainda dariam Messi de troco. Embora em corrupção e políticos safados estejamos empatados, eles trocariam de bom grado dez Cristinas por um Lula. O casal Kirchner está cada vez mais para Rosinha e Garotinho do que para Perón e Evita.

Além da gastança populista e do autoritarismo, a intimidade com Chávez e suas malas de dinheiro foi um fator decisivo para a fragorosa derrota do casal K nas últimas eleições parlamentares. Abriram guerra contra os meios de comunicação, estatizaram os direitos das transmissões de futebol na televisão, brigaram com os produtores rurais, a maior fonte de riqueza do país, chafurdaram na crise econômica, estão com o FMI bufando no seu cangote, a inflação, a pobreza e a criminalidade crescem, as estatísticas não são confiáveis, a Argentina parece o Brasil, ontem. Seria um efeito Orloff Revertido?

É a paixão nacional pelo confronto, que já fez a Argentina chorar tanto, a opção kirchnerista pela "democracia plebiscitária" do quem-não-está-conosco-está-contra-nós. Uma medonha cruza de Bush com Chávez. Não por acaso, mas por paixão, eles são os criadores do tango. E foram à guerra contra a Inglaterra. Ou será porque são o maiores consumidores de carne vermelha ? mejor del mundo, por supuesto ? do planeta? Neste caso, a Índia vegetariana deveria ser de uma harmonia e um pacifismo entediantes. O Paquistão que o diga.

Por essas e outras, a Argentina tem o maior número de psicanalistas per capita do mundo, e não lhes faltam clientes. Afinal, uma das melhores definições de "ego" que conheço é: um argentino pequenininho que vive dentro de cada um de nós. Mas apesar de tudo, assim como o Rio de Janeiro, Buenos Aires continua linda.

CONFIDENCIAL

Amadorismo no ar

AZIZ AHMED

JORNAL DO COMMÉRCIO - 09/10/09

Quem não tem competência não se estabeleça. Nesta quinta-feira, o voo 6.792 da Webjet, marcado para sair do Santos Dumont às 7h17min para Brasília (somente essa empresa e a OceanAir operam esse trecho no aeroporto do Centro do Rio), sofreu um apagão. No painel, nada aparecia, até que surgiu, em cima da hora, aviso de atraso de 40 minutos. Pouco antes das 8h, os passageiros foram chamados para o portão 5, mas - pasmem! - não havia avião na pista. Aos berros, um funcionário avisou que o comandante não havia conseguido pousar naquele terminal, embora vários aparelhos da TAM e da Gol pousassem e decolassem normalmente. Os passageiros foram orientados a retirar suas bagagens da esteira e aguardar, no lado de fora do aeroporto. Seriam acomodados em táxis e conduzidos ao Galeão, de onde partiria o voo. Com o trânsito caótico em razão da chuva que desabou sobre a cidade, quem tinha compromisso pela manhã na capital da República teve de abortar a partida. A aviação comercial no Brasil começa a ser administrada por gente estranha ao setor. Já dizia o saudoso Roberto Campos, numa referência ao não menos saudoso fundador do Bradesco: "Amador, só o Aguiar".

A propósito da nota acima

Um amigo que comprou uma passagem na Webjet por R$ 100 e quis reembolso, porque não pode viajar, foi informado no Santos Dumont de que teria de pagar multa de R$ 100. Algo está errado. Aliás, as voadoras estão abusando nas multas e trocas, enquanto o serviço é campeão do mundo em baixíssima qualidade. As barrinhas foram substituídas por bolachinhas e o pão dormido está nas voadoras do País como refeição.

Blue chip

Com os estúdios contando dinheiro, a Forbes.com compilou uma lista das dez atrizes que garantem os melhores resultados sobre os investimentos. A australiana Naomi Watts, de 41 anos, estrela de "O Chamado", "King Kong" e "Senhores do Crime", é a campeã do ranking: a cada US$ 1 milhão que recebeu por seus três últimos filmes, Naomi deu um retorno de US$ 44 milhões nas bilheterias, conforme constatou o levantamento.

Contra e a favor do Rio 2016

Pesquisa feita em 14 bairros do Rio pela Planet Work/Cesgranrio, coordenada pelos professores Bayard Boiteux e Mauricio Werner, da UniverCidade, aferiu a opinião dos cariocas sobre os impactos da captação da Olimpíada 2016: 60% avaliaram a vinda do evento como positiva e 40% como negativa.

Os positivos e os negativos

Entre os otimistas com os impactos da Olimpíada, 40% acreditam que vai melhorar a segurança; 25%, que haverá mais investimento no esporte; 20%, na melhoria do transporte; e 15%, na geração de emprego. Entre os pessimistas, 40% acreditam que haverá redução de investimentos na educação e saúde; 30%, caos no trânsito, 20%, obras superfaturadas; e 10%, maquiagem da cidade.

Gafisa em observação negativa

A Fitch Ratings colocou, nesta quinta-feira, em observação negativa, o rating nacional de longo prazo da primeira emissão de cotas seniores do Gafisa Fundo de Investimento em Direitos Creditórios - Crédito Imobiliário (Gafisa FIDC).

O abominável MST

O MST desocupou a fazenda da Cutrale, onde arrasou mais de sete mil pés de laranja. Deixou um rastro de casas depredadas, objetos furtados, tratores danificados, pichações, lixo jogado pelo chão. A "Farc brasileira" não poupou sequer as moradias dos funcionários da fazenda, saqueando até mesmo lâmpadas. Impunemente.

O clube das bolinhas

O Clube do Bolinha está com os dias contados. A ministra e presidenciável Dilma Rousseff está marcando um jantar com a bancada feminina do Congresso. A deputada Fátima Bezerra (PT-RN) cuida da lista de convidadas.

BABADO. Os fofoqueiros de plantão andam invadindo a privacidade do sociólogo Fernando Henrique Cardoso. Espalham que o ex-presidente, de 78 anos, está mantendo um romance, na maior discrição, com uma moça 30 anos mais nova.

MADE IN BRASIL. O Café do Centro - maior torrefadora de grãos gourmet e especiais do País - acaba de inaugurar a terceira loja da marca no Japão. Fica no bairro de Shinagawa, em frente à baía de Tóquio.

JOÃO MELLÃO NETO

Ninguém é louco

O ESTADO DE SÃO PAULO - 09/10/09


Quando a crise começou em Honduras, ninguém se recordava sequer do nome de sua capital. Hoje, apesar de impronunciável, ela se tornou famosa. É Tegucigalpa. O que existe para se ver em Honduras? Que eu saiba, nada. Algumas plantações de bananas, um ou outro coqueiro, e só. Seus vizinhos, por motivos diversos, são mais conhecidos. A Nicarágua, porque esteve durante anos sob o jugo da Frente Sandinista de Libertação Nacional, um grupo de esquerda mais radical do que a família Castro de Cuba. El Salvador, outro país das imediações, destacou-se por razões semelhantes: é de lá a também radical Frente Farabundo Martí de Liberación Nacional. A Costa Rica, por sua vez, embora menos afamada, é uma nação que goza de excelente reputação internacional. A democracia, por lá, vem-se sustentando há várias décadas, o país é turisticamente atraente e sua economia é a mais desenvolvida da região. De Honduras ninguém sabia nada até recentemente. Agora a situação mudou. Houve por lá um golpe de Estado. E este não se teria mantido no noticiário se o Brasil - que se orgulha atualmente de ser uma das maiores potências econômicas do mundo - não se tivesse, desastradamente, envolvido na história. Nossa diplomacia, na era Lula, não é lá nenhum César Cielo. Mas também não precisava mergulhar de cabeça nessa piscina. Até porque ela estava vazia.

Qual é o nome do presidente da Guatemala? Ninguém sabe. Escolhamos, então, um pais maior: como se chama o governante do Panamá? Trata-se também de um desconhecido. Ora, Honduras é uma nação com muito menor significância do que as duas acima citadas. E, graças às iniciativas desastradas do Itamaraty, de lá conhecemos muito bem o presidente deposto, Manuel Zelaya, e também o que o derrubou, Roberto Micheletti. Zelaya, já há algumas semanas, é hospede de nossa embaixada por lá. E Micheletti é o responsável por numerosas e merecidas declarações malcriadas sobre o Brasil.

A gente bem que poderia passar sem essa. Poderia. O nosso presidente Lula não pensa assim e o nosso chanceler, o impagável celso amorim, também não.

Quando o presidente Zelaya decidiu forçar a barra e se aventurar num arrojado retorno a Honduras, sabia exatamente o que estava fazendo. Juntamente com dezenas de simpatizantes, tratou, de imediato, de se abrigar no prédio de nossa representação diplomática. Todo mundo se lembra de que, num primeiro momento, o loquaz amorim se regozijou. O fato de o presidente caído, entre tantas outras embaixadas, ter escolhido espontaneamente a do Brasil demonstrava cabalmente - segundo ele - o prestígio e a crescente influência do nosso país na região.

Não era bem assim. E nós só nos inteiramos da embaraçosa realidade alguns dias depois. Zelaya é um acólito do ditador da Venezuela, Hugo Chávez, e foi por orientação dele que se hospedou na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa. O Itamaraty jura que não, mas transparece cada dia mais que, previamente consultado, o indômito amorim concordou com a situação.

É óbvio. Ninguém se abriga numa embaixada estrangeira - ainda mais na companhia de uma turba - sem o prévio consentimento desta.

E há, ainda, agravantes. O status político de Zelaya, enquanto nosso hóspede, ainda não foi definido. Ele não é um abrigado, nem um asilado, nem um refugiado. Em qualquer situação ele teria de ser remetido imediatamente para o Brasil. Zelaya não dá o menor sinal de pretender fazer isso.

Pior: contrariando todas as normas diplomáticas internacionais, ele está se valendo da situação para tentar insuflar a população para exigir a sua volta ao poder. Trata-se de um claro abuso de nossa hospitalidade. O Brasil está violando todas as convenções internacionais por causa de Zelaya. E este, por sua vez, não tem a menor relevância internacional.

Manuel Zelaya não é nada. Nem ao menos na realidade institucional da região centro-americana. Ele somente se tornou importante graças ao grotesco status que o Brasil lhe vem concedendo.

Não perguntem ao patriota ministro amorim o que está acontecendo. Com certeza ele se exacerbará e dirá que o Brasil está, nada menos, do que reafirmando a sua soberania.

Duvido, sinceramente, que ele e o presidente Lula estejam pensando assim. Pode ser que no início alguns "terceiro-mundistas" na Chancelaria acreditassem nessa tese. Agora, não.

Manuel Zelaya é um cadáver político. E como tal já se encontra em estado avançado de putrefação. E o Brasil não tem a menor ideia de como se livrar de seus restos mortais. Asilo diplomático ele não quer. Porque, como já foi ressaltado, ao aceitá-lo teria de ser enviado ao Brasil. Por outro lado, ele não faz o menor esforço para tornar leve a sua hospedagem na nossa embaixada. Ocupou todo o casarão com os seus asseclas e dispara exaltadas declarações de "patria o muerte" para quem quiser ouvi-lo.

O problema é que sua plateia vem diminuindo a cada dia que passa. Segundo já nos foi demonstrado, Manuel Zelaya não é popular em Honduras. Não há sinais de que o povo o queira de volta. Ao contrário. Micheletti, respaldado nos militares e em grande parte da população, convocou eleições diretas para presidente em novembro.

Há nessa história um personagem oculto que tem sido subavaliado pela mídia brasileira. Trata-se do coronel Hugo Chávez, ditador da Venezuela. Se ele for realmente o idealizador de tudo isso, bobo não é. Tachá-lo assim significa condenar toda a cúpula decisória do governo brasileira, uma vez que foi plenamente convencida a agir da forma como agiu nessa crise.

Ora, Chávez, pelo visto, não é louco. Tem sido, isso sim, um habilidoso psiquiatra de alguns milhões de latino-americanos loucos.
João Mellão Neto, jornalista,deputado estadual,foi deputado federal, secretário e ministro de Estado

MÍRIAM LEITÃO

Sinal vermelho

O GLOBO - 09/10/09


Em Londres há um crescente pessimismo em relação a Copenhague. E quando falo Londres, estou falando de governo, empresários, mercado, ONGs, professores, cientistas. Tenho conversado com todos os setores envolvidos em mudanças climáticas.

Eles discordam sobre várias coisas, mas todos respondem com um longo silêncio quando pergunto sobre a chance de um acordo global do clima.

Faltam seis semanas para o começo da reunião, que foi considerada por um empresário que ouvi a mais importante da nossa era. As indicações de fracasso em Bangcoc, esta semana, foram captadas como um sinal vermelho.

— Nosso pessoal em Bangcoc nos conta que tudo que há sobre a mesa é um documento de 200 páginas, cheio de redundância e cheio de espaço em branco — disse Robert Bailey, diretor da Oxfam no Reino Unido.

As pessoas com quem conversei no governo tentam manter a esperança. No Ministério da Energia e Mudança Climática continua animada a sala que eles montaram para acompanhar o assunto, toda decorada com cartazes e palavras de motivação. Eles chamam de “sala de campanha”.

Vários funcionários, no telefone, falam com sociedade civil, governos, embaixadas, empresas, perguntando o que eles estão fazendo a respeito da reunião na Dinamarca. Numa reunião com empresários sobre a preparação do setor privado inglês — que assisti — o relatório apresentado por Chris Dodwell, do Ministério da Energia, tentou ressaltar os pontos mais animadores para a negociação. Mas acabou admitindo que o tempo corre contra a aprovação de uma proposta no Senado americano que permita ao presidente Obama ter alguma coisa para pôr na mesa em Copenhague.

David Hill, um dos negociadores do ministério, me disse que, apesar de tudo, o Reino Unido está mais esperançoso em relação à reunião do que outros países.

Formou-se grande expectativa sobre a Cop 15, Conferência das Partes, número 15, em Copenhague. Primeiro, porque as evidências científicas nunca foram tão sólidas de que os riscos para a Humanidade são cada vez maiores. Segundo, porque os cenários estão piorando. Ontem escrevi aqui sobre a minha ida ao MetOffice, onde os cientistas britânicos falaram do risco de que o pior cenário feito pelo Painel de Mudanças Climáticas da ONU seja superado.

É o estudo “Quatro graus e além”, que eles lançaram recentemente, e sobre o qual me fizeram uma apresentação de duas horas.

Falei aqui com professores como Paul Ekins, autor de vários livros sobre o assunto e especialista em energia. Suas análises não deixaram dúvidas sobre o risco que corremos de não chegar a um acordo o mais rapidamente possível. Almocei com o professor Anthony Giddens que também tratou o assunto com o mesmo grau de urgência. Falarei sobre a entrevista com ambos em outras colunas.

Eric Beinhocker, sócio da McKinsey, admite que o tempo está ficando escasso para se chegar a um acordo, mas se consola afirmando que há avanços agora nas negociações para combater os efeitos das mudanças climáticas que não pareciam possíveis há dois anos: — A China admitiu cortar suas emissões por unidade de produto, o Japão aumentou sua meta, nos Estados Unidos há uma legislação aprovada na Câmara e tramitando no Congresso. Ninguém mais discute “se”, mas sim “quando” adotar cada medida. O grande problema é se esses avanços chegarão a tempo em Copenhague.

O que eu ouvi no governo, nas empresas, na Bolsa de Carbono, na McKinsey, dos professores e até na conversa com as ONGs é que o Brasil está em boa situação. Aliás é um caso meio diferente de todos. Tem uma matriz energética mais renovável que todos os outros, pode se beneficiar de vários mecanismos de financiamentos que estão sendo desenvolvidos, tem uma posição de liderança nas negociações, mas poderia ter mais se superasse certas hesitações. O advogado James Cameron, que é presidente de uma empresa de investimento no setor de carbono, a Climate Change Capital — que ele definiu como pequena, apesar de ter US$ 1,7 bilhão de ativos —, acompanha a negociação desde o começo e reafirmou que o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, que gerou o mercado de carbono, nasceu de ideias brasileiras às quais os EUA se opuseram.

Quando me perguntaram sobre a posição brasileira e por que o Brasil não avança mais na negociação, expliquei que há muita divisão dentro do próprio governo.

Isso é para dizer o mínimo.

John Sauven, diretor executivo do Greenpeace no Reino Unido, não precisou de explicações. Acompanha cada passo do debate interno brasileiro. Ele disse que o Brasil tem grandes oportunidades, mas também inúmeros riscos. Os cenários de mudanças climáticas mostra o Brasil muito afetado. A mesma coisa eu ouvi no MetOffice: a elevação da temperatura da terra põe em risco a Amazônia, que hoje é fundamental para todo o ciclo de chuvas no Brasil.

Quase todos com os quais eu falei estão de malas prontas para ir a Copenhague.

O aumento do medo de que a reunião fracasse não está desmobilizando o país. O Reino Unido tem metas de redução das emissões maiores do que as da Europa e um nível de preocupação com o tema sensivelmente maior do que é possível captar no debate brasileiro.