domingo, setembro 27, 2009

DANUZA LEÃO

Com que sonha Eike Batista?

FOLHA DE SÃO PAULO - 27/09/09


Sonha em ser o homem mais rico do mundo, e certamente o será. Agora, a pergunta que não quer calar: e depois?



É CURIOSO observar a vida das pessoas, e quando elas se tornam públicas, temos o direito de falar alguma coisa sobre elas -sem entrar em intimidades demais, claro.
A primeira vez que ouvi falar de Eike Batista foi há muitos anos; faltavam oito ou dez dias para ele se casar com uma bela moça das mais tradicionais famílias cariocas -convites expedidos, presentes recebidos-, quando ele conheceu Luma de Oliveira. A paixão foi fulminante, o casamento desfeito, os presentes devolvidos. Convenhamos: é preciso muita coragem e muita determinação para desmanchar um casamento dias antes de ele acontecer. Algum tempo depois ele se casou com Luma, tiveram dois filhos e viveram uma vida tranquila: não iam a festas, jantares, eram um casal dos mais pacatos. Pacatos, até que se começasse a ouvir o som dos tamborins.
Quando se conheceram, Luma já tinha sido rainha da bateria de mais de uma escola, e depois do casamento estabelecido, os filhos nascidos, ela continuou a fazer o que mais gostava: ser madrinha da bateria, e nunca houve nenhuma igual a ela. Quando Luma despontava, a avenida se levantava, e isso não é maneira de dizer. Ninguém conseguia ficar sentado vendo aquela moça linda, com o sorriso mais lindo, sambando melhor do que qualquer sambista de morro. Um verdadeiro espetáculo.
Enquanto Luma desfilava, nunca se soube do seu marido, Eike; se ele estava em casa vendo pela televisão, se estava viajando, se estava dormindo. A verdade é que nunca houve comportamento mais discreto do que o seu, e sua (pelo menos aparente) falta de ciúmes, de deixar a mulher desfilar praticamente nua na avenida foi, durante um tempo, o assunto da cidade. O tempo passou, o casal se separou, e começou a surgir o personagem Eike Batista.
Não vou falar de suas empresas de mineração, da TVX, que acumula 300 toneladas de ouro (os negócios de Eike têm sempre a letra X, sinal de multiplicação), dos negócios que só os homens de negócios compreendem, mas da diversificação dos novos empreendimentos do empresário. Eike decidiu abrir na Lagoa o restaurante Mr. Lam, e trouxe o cozinheiro do melhor restaurante chinês de Nova York. Foi um acontecimento, e o Rio de Janeiro durante um tempo só falou nisso.
Não contente, ele decidiu entrar no território do turismo e mandou adaptar um grande barco para fazer passeios na baía de Guanabara. Pensa que terminou? Não; Eike comprou o Hotel Glória, um ícone da cidade, tanto quanto o Copacabana Palace, com a vantagem de se situar a cinco minutos do aeroporto Santos Dumont. O hotel está fechado, e é um mistério o que vai acontecer com ele.
Recentemente, Renata Almeida Magalhães, mulher de Cacá Diegues, escreveu um artigo em "O Globo" ressentida com o pouco apoio que recebeu da Finep para terminar o filme do qual é produtora; faltavam R$ 500 mil, que ela não conseguiu obter. Tocado pelo artigo, Eike ligou para ela -não sei nem se se conheciam- e mandou um cheque de R$ 1 milhão.
Rodrigo Santoro também teve uma bela ajuda do empresário para fazer seu filme, sem esquecer que Eike tomou a si a responsabilidade de limpar a lagoa Rodrigo de Freitas e assegurou que em dois anos poderemos todos estar nadando nas suas águas, que estarão cristalinas; ah, e agora quer comprar os 30% do Bradesco na Vale. Eike Batista sonha em ser o homem mais rico do mundo, e certamente o será. Agora, a pergunta que não quer calar: e depois, Eike Batista?

GOSTOSA


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PAINEL DA FOLHA

G.I. Jane

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 27/0/9/09

Estacionada nas pesquisas num patamar inferior ao que o governo projeta como ideal para o início da campanha, Dilma Rousseff iniciará em outubro um treinamento intensivo. De que tipo? ‘De discurso, psicológico, mudança de visual, relacionamento com a imprensa, tudo’, adianta uma pessoa enfronhada na candidatura presidencial da ministra da Casa Civil.
O banho de loja será comandado pela equipe de João Santana. O marqueteiro de Lula usará profissionais que, em 2006, ajudaram a treinar o presidente para a propaganda de TV e para os debates. Quem viu conta que a preparação incluía sessões de gritos do candidato, assistido pela ‘coach’ Olga Curado, para aliviar as tensões e chegar tranquilo ao estúdio.

Dueto - Pesquisa qualitativa realizada pelo PT na periferia de São Paulo detectou abordagem curiosa para a questão de gênero, que a campanha de Dilma tem procurado enfatizar. Participantes dos grupos de discussão dizem que Lula ‘foi traído’ pelos homens à sua volta, e que uma mulher seria ‘mais leal’ e aceitaria os conselhos do presidente.

Ajuda quem... - De passagem por São Paulo, Aécio Neves encontrou João Santana por acaso num saguão de hotel. Todo simpático, o governador de Minas Gerais colocou-se à disposição do marqueteiro: ‘Se eu puder ajudar em alguma coisa...’.

...não atrapalha - Santana agradeceu ao tucano e respondeu com bom humor: ‘Você nos ajuda se não for candidato a presidente’.

Classificados - Nas palavras de um peemedebista envolvido na filiação de Mangabeira Unger, o ex-ministro e professor em Harvard está ‘à espreita de uma oportunidade’. De acordo com o mesmo cacique, a única visível no horizonte é a disputa por uma cadeira na Câmara.

Panelaço - Incansável no esforço para criar embaraços ao governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ), o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias (PT), organiza uma manifestação popular na Baixada Fluminense, no dia 31 de outubro, em defesa de ‘uma candidatura popular’. A dele próprio, bem entendido.

Em campanha 1 - Ao aprovar na surdina o envio de assessores do Senado para trabalharem nos Estados, líderes de bancada e integrantes da Mesa deliberaram em causa própria: dos 26 senadores que ocupam esses postos, apenas três não deverão ir às urnas no ano que vem.

Em campanha 2 - Embora o Senado não informe quantos servidores serão mantidos fora de Brasília no período eleitoral, a estimativa é de 84 enviados, entre secretários e assessores técnicos, ao custo aproximado de R$ 9 milhões por ano. Os funcionários trabalharão nos escritórios políticos, custeados com a verba indenizatória.

Chamuscado - José Eduardo Cardozo caiu na bolsa de cotações para substituir Tarso Genro no Ministério da Justiça. Lula esperava que, ao ser sondado para ocupar a pasta, o deputado imediatamente renunciasse à candidatura ao comando do PT, o que não ocorreu. Além disso, o presidente não gostou do vazamento da informação.

Filho pródigo - Ao herdar a cadeira de Carlos Menezes Direito no Supremo Tribunal Federal, José Antonio Dias Toffoli passa a ser, também, substituto no TSE. Ou seja, na ausência de algum ministro titular, pode ser chamado a julgar causas eleitorais, área na qual atuou como advogado.

YouTube - O hit da campanha do governador Eduardo Campos (PSB-PE) pela repartição geral dos royalties do petróleo do pré-sal é um vídeo sobre a situação de duas cidades vizinhas no interior do Rio Grande do Norte. Uma recebe royalties e é rica. A outra não recebe e é miserável.

Tiroteio

O PMDB chegou ao Banco Central. O partido já tinha metade da máquina de fazer dinheiro. Agora está com a chave do cofre.
Do deputado federal CHICO ALENCAR (PSOL-RJ), sobre a iminente filiação de Henrique Meirelles ao PMDB em Goiás.

Tudo menos isso

A sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos com o ministro José Múcio, indicado por Lula para ocupar uma vaga no Tribunal de Contas da União, já ia longe quando os participantes notaram que a TV Senado não estava transmitindo a sessão. Vários foram reclamar com o diretor de Comunicação, Fernando César Mesquita.
No meio da intervenção de Eduardo Suplicy, que mesmo afônico fez questão de exaltar as qualidades de Múcio, a sabatina finalmente passou a ser televisionada. Aloizio Mercadante resolveu provocar o colega:
- Veja, Suplicy, o Fernando César ficou com tanto medo do seu cartão vermelho que começou a passar a sessão!

CLÓVIS ROSSI

O novo mundo e nós

FOLHA DE SÃO PAULO - 27/09/09



PITTSBURGH - Sou obrigado a voltar ao tema do descaso do Brasil para com assuntos internacionais. Brasil, nesse caso, somos todos, políticos, empresários, sindicalistas, acadêmicos, jornalistas, com as exceções de praxe.
Aliás, o governo é que não entra na lista porque até que faz a sua parte, graças a uma diplomacia qualificada e ao fato de os dois presidentes mais recentes se interessarem bastante pelo assunto. Falta uma estrutura de informação à altura do novo papel que o país vai assumindo, especialmente agora que o G20, de que o Brasil é sócio-fundador, passa a ser a primeira classe no voo da economia mundial para o século 21 (a grandiloquência não é minha, é do comunicado final de Pittsburgh). Vira covardia qualquer comparação entre o volume de informações sobre as posições do governo norte-americano (a respeito, aliás, de qualquer assunto) e o que o Itamaraty pode oferecer.
Haveria ao menos duas maneiras de suprir a carência oficial: que uma universidade brasileira imitasse a Universidade de Toronto, cujo Centro para Estudos Internacionais logo transformou o seu grupo específico para estudar o G8 em um braço mais amplo de modo a abraçar também o G20. Será que não dá para fazer algo parecido no Brasil?
Segundo ponto, o Congresso. Os Estados Unidos têm um excepcional Congressional Research Service, que produz dossiês da melhor qualidade e sem viés partidário sobre todos os temas da agenda norte-americana -e, por extensão, da agenda global, posto que os EUA têm interesses no mundo todo. Com a tonelada de funcionários que tem o Congresso brasileiro, será que suas excelências não poderiam alocar um punhado ao serviço da pátria em vez de usá-los para o serviço político-pessoal? OK, sou ingênuo, mas é sempre melhor do que ser conformista.

DORA KRAMER

Total combate

O ESTADO DE SÃO PAULO - 27/09/09


A poucos dias da sabatina na Comissão de Constituição e Justiça do Senado que aprovará, ou não, o nome do advogado-geral da União, José Antonio Toffoli, para o Supremo Tribunal Federal, uma ofensiva de pressão tem alcançado os senadores de uma forma pesada, nunca vista por eles em se tratando de uma indicação ao STF.

Por telefone, e-mail ou pessoalmente eles têm sido assediados nos últimos dias por empresários amigos e/ou financiadores de campanhas, ministros do governo e do Supremo, juízes de primeira instância, governadores e até um núcleo de "campanha" montado pela Ordem dos Advogados do Brasil.

O volume, a contundência e os personagens mobilizados para o assédio dão a medida do quanto o governo receia a possibilidade de uma recusa e do quanto também é importante para o Planalto e para Toffoli vencer essa batalha.

A sabatina está marcada para a próxima quinta-feira e, na semana passada, foi detectada uma tendência de "racha" na base governista.

Muito em função da quantidade de senões que envolvem essa indicação, na percepção dos senadores: a ausência de reconhecido notório saber em contraposição à notória ligação com o PT, do qual foi advogado em três eleições presidenciais, insuficiência de desempenho no que toca ao currículo acadêmico, reprovação em dois concursos para juiz estadual, duas condenações em primeira instância, acusado por uso indevido de recursos públicos.

Alguns, ou até muitos, ministros do Supremo podem ter algum desses flancos em aberto, mas nenhum deles reúne, ou reuniu à época da indicação, tantos pontos fracos como Toffoli. Nem o atual presidente do STF, Gilmar Mendes, cuja nomeação foi intensamente combatida pelo PT porque ele era advogado-geral da União no governo Fernando Henrique Cardoso, que o indicou para o Supremo.

Os senadores definem o assédio em prol de Toffoli como um "verdadeiro massacre". Pelo menos três senadores de oposição e dois da base de apoio ao governo já comentaram sobre a pressão com colegas.

Tasso Jereissati, que recebeu pedido do governador do Ceará, Cid Gomes (peça importante na renovação do mandato do senador), na condição de emissário do presidente da República; Marconi Perillo, de Goiás, ouviu solicitações de empresários, bem como o senador Álvaro Dias, do Paraná. Os três são do PSDB.

Walter Pereira, do PMDB de Mato Grosso, e Antonio Carlos Valadares, do PSB de Sergipe também foram instados a rever suas restrições a José Antonio Toffoli.

Se o movimento das tropas de choque dará certo ou não é uma questão em aberto. Os otimistas acham que a remoção de obstáculos com tal de participação e assertividade tem tudo para ser bem-sucedida. Os pessimistas consideram que a pressão pode ter efeito contrário e levar os senadores a reagir. Lembram que se estivessem recebendo com naturalidade os pedidos isso não seria objeto de comentário entre eles.

Já os realistas fazem a seguinte ponderação: na Comissão de Constituição de Justiça não há risco de derrota, mas no plenário a situação pode se complicar. Sempre lembrando que o voto é secreto nas duas ocasiões.

Na avaliação dos riscos, é citada como exemplo a recente aprovação do ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, para o Tribunal de Contas da União.

Consagrado na sabatina - na verdade, uma sessão de elogios - na Comissão de Assuntos Econômicos, com apenas um voto contrário, no plenário José Múcio teve 46 votos. Com seis a menos, teria perdido.

E isso com muita gente da oposição votando nele, o que dificilmente se repetirá no caso de Toffoli. Não apenas em virtude das restrições que vêm sendo expostas, mas também por conta de um trabalho de bastidores envolvendo gente do primeiríssimo time da oposição, de fora do Congresso.

Gente, governadores inclusive, que já perdeu causas em que Toffoli advogou, seja no TSE seja na Advocacia-Geral da União, e guarda rancor na geladeira.

Na sabatina, a oposição promete ser rigorosa. Só que o questionamento mais duro não deverá ser o que testará, como numa banca de mestrado ou doutorado, os conhecimentos jurídicos do indicado, pois, com raríssimas exceções, não há senadores com preparo suficiente para tal.

A prometida batalha dar-se-á no campo da exigência de reputação ilibada e nas contestações da militância partidária de Toffoli. Isso se até lá o assédio e a pressão não fizeram os senadores baixarem o tom e recuperarem a velha tendência de transformar as sabatinas em cerimônias de mero beija-mão.

Ainda mais que, aos 41 anos de idade, José Antonio Toffoli, em tese tem quase 30 anos pela frente de assento no Supremo.

ELIANE CANTANHÊDE

Dilminha, Serrinha, Cirinho

FOLHA DE SÃO PAULO - 27/09/09



BRASÍLIA - Quando se olha em volta e vê Honduras, por exemplo, com aquele Zelaya e aquele Micheletti, é preciso concordar com Lula: os pré-candidatos à sua sucessão são muito bons, animadores.
Daí a fazer como Paulo Bernardo (Planejamento) e sair chamando Dilma Rousseff de "Dilminha" já são outros 500. Não há Dilminha, nem Serrinha, nem Cirinho, porque nenhum deles é uma flor. Aliás, Bernardo foi um dos brindados pela chefe da Casa Civil com gritos e adjetivos, digamos, pouco carinhosos, no meio de reuniões de trabalho. A lista é grande. Vai do presidente da Petrobras ao ex-presidente da Infraero, passando pelo o ex-secretário-geral do Ministério da Integração. Dilma só é Dilminha na pele de candidata.
José Serra não fica atrás. Não é de gritos nem de chamar os outros de "burro" e "imbecil" (ao menos cara a cara), mas é egocentrado, dono da verdade, irascível. E se acha no direito de telefonar para as pessoas -e não apenas subordinados- no meio da madrugada. Só é Serrinha em campanha, ou no Twitter.
E Ciro Gomes? Produziu um manancial de impropérios na eleição de 2002 e, depois de aguentar firme alguns anos, lá foi dizer que Fortaleza "é um puteiro", chamar procuradores e deputados de "babacas" e responder a jornalistas aos palavrões em pleno Congresso. Agora diz que Serra "é feio pra caramba, mais na alma do que no rosto".
Aécio Neves é bem mais leve, mas ainda não emplacou, e Marina Silva, ex-católica fervorosa, hoje evangélica convicta, fica meio deslocada nessa turma aí. Heloísa Helena comporia bem melhor o quadro, especialmente depois de processada por, docemente, chamar uma colega de "porca trapaceira". Mas nada disso importa. De antemão, todo mundo já sabe: a culpa é sempre da imprensa!
A ONU acabou, o G20 passou. E a reunião que "o cara" articulava de Obama com a Unasul?

JOÃO UBALDO RIBEIRO

Dialética da banana


O GLOBO - 27-09-09


Enganam-se os apressados ou levianos, se pensarem que em Itaparica nós não acompanhamos de perto os acontecimentos nacionais. Foi-se o tempo em que as notícias chegavam com um certo atraso, como ocorreu, para citar somente um caso, logo depois da Independência. D. Pedro deu o brado retumbante em 1822, mas se esqueceram de avisar à portuguesada do Recôncavo e, em 1823, tivemos de sair no braço para garantir os raios fúlgidos, nunca nos deram moleza. Agora é diferente, agora a gente vai de internet e não é possível mais contar nos dedos o número de estabelecimentos especializados de que já dispomos. Ouço até dizer que o multimilionário Gugu Galo Ruço está à frente de um empreendimento revolucionário, a AxeWeb, mas ele não revela detalhes, apenas ri – o que não quer dizer nada, pois desde tempos imemoriais que se sabe que rico ri à-toa.
Não tenho certeza de que os recursos de hoje nos põem em melhores condições que as de 1822. Esse negócio de estar sempre por dentro dos acontecimentos é, passe o lugar-comum, uma faca de dois legumes. A sucessão dos acontecimentos, cada vez mais veloz, é muito estressante. Além disso, o acúmulo de informações, às vezes conflitantes ou de exegese dificultosa, inevitavelmente gera mal-entendidos, alguns deles de certa monta. É o que eu soube, através de conversa telefônica havida com meu amigo Toinho Sabacu. Ele me falou de problemas na ilha, causados pela entrada em vigor de uma lei paulista muito divulgada nos noticiários de tevê, a já famosa lei segundo a qual não se pode vender nem comprar banana à dúzia, mas a quilo.
Inicialmente, por um erro de interpretação, circulou no bar de Espanha, cenáculo onde se desenrolam alguns dos debates mais momentosos da ilha, a versão segundo a qual, doravante, estava valendo no grande Estado de São Paulo, Deus tivesse piedade de nós, a lei da banana. Ou seja, escreveu não leu, leva uma banana bem dada. Houve quem ponderasse que isso devia ser uma coisa circunscrita a políticos, que doravante passariam a apartear-se ou a debater entre bananas para lá e para cá – olhe aqui pra Vossência, tome aqui, Excelência etc. Coisa seríssima, ainda mais quando se sabe que o paulista não brinca em serviço e é capaz até de entrar num curso para aprender a melhormente dar bananas. As consequências para a nossa vida política seriam incalculáveis. E a discussão já ameaçava atiçar fogo aos ânimos, quando Zecamunista, sempre atualizado e certeiro, chegou de sua turnê de carteado e esclareceu tratar-se somente da fruta mesmo.
– Atenção! – acrescentou ele. – Vou aproveitar para dar uma aula de materialismo dialético!
Houve quem pensasse que ele ia falar no materialismo de Arlete e quisesse logo saber quem era ela e se era dessas comunistas safadas que dormem com todo mundo. Materialista, sabe como é, é mais até do que existencialista e este último tipo, vamos e venhamos, é o da Chiquita Bacana. Xepa, sempre um exemplo de sensibilidade e boa educação, chegou a sugerir que se inquirisse com discrição se não haveria entre os presentes algum parente ou amigo dessa Arlete, que pudesse melindrar-se com um comentário ou outro. Mas logo esse ponto também se elucidou e todos silenciaram, porque se pode discordar das ideias de Zecamunista, mas não se pode negar que é um crânio respeitado.
– O velho Carlos Marques na cabeça mais uma vez! O que os senhores presenciaram é mais um demonstração clara de que a economia é o grande motor da História!
– Motor de popa, Zeca?
– Pode até ser. Eu posso até usar essa imagem. A economia é o motor de popa da História.
– A história da banana, Zeca?
– A história da banana, isso mesmo. Aparentemente, é uma tentativa de proteger o consumidor, não é? A classe dominante se preocupa com consumidor, não é? Nunca, meus caros senhores! Não há caso, é impossível! O que aconteceu foi uma vitória do lobby antibananinha, do agronegócio imperialista! Agora ninguém mais vai vender aquela bananinha pequenininha, aquela mais saborosa, porque é preciso juntar muitas para conseguir um quilo, vai dar prejuízo ao feirante, a começar pelo transporte. Acabaram com a bananinha, acabaram com o pequeno produtor, agora só vai ter daquelas bananonas de americano, a banana má expulsa a boa do mercado. Quem quiser comer bananinha em São Paulo vai ter que sair do Estado, ou então recorrer ao mercado negro de banana proibida. Senhores, o paulista que comprar bananinha em dúzia para comer em casa estará levando a família à ilegalidade! A que ponto chegará a opressão? A que ponto chegará a ousadia dos plutocratas?
A essa altura, o orador foi interrompido, por um quase tumulto. Vindo lá de dentro, Espanha manifestou sua estranheza em relação ao vocabulário empregado, no que foi apoiado pela maioria. Zeca se encontrava arroubado demais, destemperado demais, estava certo que denunciasse quem quisesse, vivemos numa democracia, mas chamar os caras de putocratas já era um pouco demais, tirava a razão do denunciante. Ele fez menção de que ia protestar, mas acabou concordando.
– Tudo bem – disse ele. – De qualquer maneira, não é com essa banana que eu estou preocupado.
– E existe outra banana para causar preocupação?
– Pois é, a gente nem sente mais, não é? É essa a minha preocupação.

LUIS FERNANDO VERISSIMO

Perigo de gol


O GLOBO - 27/09/09


Acho que está na hora de se desagravar a expressão “em cima do muro”. Ficar em cima do muro significa não ter opinião, não querer se comprometer, tentar agradar todo o mundo – enfim, ser uma plasta assumida. Mas o topo do muro também pode ser o lugar ideal para se estar, numa controvérsia. Em cima do muro você e seus argumentos estão sobre uma base sólida (o muro), você pode examinar os dois lados da questão de uma posição privilegiada e ver mais longe do que qualquer um – e ainda ficar a salvo em caso de briga. Ou seja: também existe “em cima do muro” no bom sentido.

Por exemplo: Cuba. Há anos a esquerda brasileira é obrigada a preservar sua admiração pela pequena ilha que se transformou de bordel dos Estados Unidos numa imperfeita mas válida experiência de equalização social, com ênfase em educação e saúde públicas (e de independência, nas barbas dos seus antigos donos) de fatos inegáveis da ilha como a repressão à dissidência, a falta de pluralismo político e o culto à personalidade de um infindável Fidel. E fica fazendo repetidas variações em torno da velha máxima de que fins nobres justificam meios sujos. De cima do muro pode-se admirar o admirável e lamentar o lamentável sem ter que recorrer a máximas. Em cima do muro não há julgamentos absolutos.

A direita brasileira está num dilema parecido em relação a Honduras. Não pode, sem o risco de ser chamada de hipócrita, dizer que o golpe não foi golpe, foi apenas um soluço nas formalidades democráticas. Mas o desrespeito às formalidades democráticas condena qualquer regime, para a direita. Pelo menos da sua boca para fora. Teria sido uma ação preventiva em defesa da democracia ameaçada? Quando um juiz de futebol apita uma falta que ninguém viu dentro da área, diz-se que apitou “perigo de gol”, para evitar problemas. Em Honduras inauguraram uma nova expressão para o léxico político das Américas: perigo de venezuelização. Zelaya estaria se preparando para ser o Chávez de Honduras e as instituições se autogolpearam para impedi-lo. Uma espécie de suicídio profiláctico. Contra uma assombração também vale qualquer meio. E, depois das políticas de segurança nacional dos tempos da Guerra Fria, o conservadorismo latino-americano encontra um novo pretexto para se mobilizar.

Subamos todos no muro. Em cima do muro não é preciso muita ginástica intelectual para explicar tantas contradições – mesmo porque não há muito espaço. E, olha: até o clima é melhor.

JOSÉ SIMÃO

Socuerro! Dia Mundial sem o Galvão!

FOLHA DE SÃO PAULO - 27/09/09


Ele vai pro programa do Raul Gil participar do quadro: pra quem você tira o chapéu!


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
A Múmia voltou! Voltei! Do Egito e Jordânia! Yala Habib! Tradução: Vamo Macacada! E sabe quem mandou um abraço pra vocês? Tutankamon! Rarará!
E o personagem da semana: Zelaya! O clone do Ratinho! Quem tá refugiado na embaixada brasileira não é o Zelaya, é o Ratinho! Só falta ele fazer comercial de carro! E o Zelaya devia ser reempossado como presidente da Festa de Peão de Boiadeiro!
E ele devia ficar gritando pros golpistas da janela da embaixada: aqui tem café no bule! Aqui tem café no bule! E aquele chapelão incrível? Ele vai pro programa do Raul Gil participar do quadro: pra quem você tira o chapéu! E o site Éramos Seis revela a ameaça: se vocês não devolverem o Zelaya a gente vai tocar o hino cantado pela Vanusa. No máximo!
E diz que tem até senha pra usar o banheiro da embaixada! E o ministro Celso Amorim com aquele cabelo e barba espetados? Celso Ouriço! Sabe como ele vai resolver o impasse? Dizendo: "Se vocês não se entenderem, eu espeto todo mundo!".
E tem gente dando ideia para o Brasil anexar Honduras e virar um protetorado como Porto Rico. Puerto Rico. Ops, Puerto Pobre!
E essa semana ainda teve o Dia Mundial sem Carro. Devíamos estender a ideia e criar o Dia Mundial sem o Lula. O Dia Mundial sem o Galvão Urubueno. O Dia Mundial sem a Sonia Abrão. E roubaram o carro do meu vizinho justo no Dia Mundial sem Carro. Aí virou Dia Mundial sem o Meu Carro. Acho que era um ladrão ecológico.
Os bicicleteiros adoraram esse dia. Aliás, fazer sexo com bicicleta se chama PEDALFILIA! Rarará! O primeiro a aderir ao Dia Mundial sem Carro foi o Piquet. Rarará!
E o Kassab, que andou de ônibus? Não sei como ele passou pela catraca. Diz que ele perguntou para um passageiro: "Como você resolveria o problema dos transportes?". "Fazendo o ônibus sumir com você dentro." Rarará!
E adorei o Egito e a Jordânia! Fui até visitar o rio onde Jesus foi batizado. Um córrego. Parecia o córrego Pirajuçara. Jesus foi batizado no córrego Pirajuçara!
E o passaporte brasileiro é o Ronaldo. Se você diz que é do Brasil, eles começam a gritar: "Ronaldo! Ronaldo!". De onde você é? Brasil. "Ronaldo! Ronaldo!"
E o condutor de camelo me gritando: "Raul! Raul!" Pensava que ele tava gritando em árabe com o camelo: "Rahul, rahul". Que nada. Era o Raul que joga na Espanha! Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje, só amanhã! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

CLÁUDIO HUMBERTO

“Ele (Serra) é feio para caramba, mais na alma do que no rosto”
CIRO GOMES (PSB-CE), QUE, SEGUNDO PESQUISAS, SÓ PERDE PARA JOSÉ SERRA NA DISPUTA DE 2010

SERRA PERDE FÔLEGO NA CORRIDA PRESIDENCIAL
As últimas pesquisas para a sucessão presidencial de 2010 abateram os ânimos dos defensores da candidatura da ministra Dilma Rousseff (PT), mas também acenderam o sinal de alerta entre os partidários do tucano José Serra: apesar de liderar a corrida com folga, o governador paulista é o único candidato que perdeu pontos em todas as pesquisas realizadas até agora (Vox Populi, Ibope, Sensus e Datafolha).
LÍDER CADENTE
Entre junho e agosto, segundo o Vox Populi, José Serra despencou 6%. Pelo Ibope, entre junho e setembro a queda foi de 4%.
DINHEIRO NA FRENTE
Na reta final de filiação partidária para 2010, partidos nanicos vendem suas legendas nos Estados. Rolando grana, nem é preciso ter votos.
É FOGO
Só parafraseando o Juca Chaves, diante da galhofa diplomática em Honduras: “O Brasil já vai à guerra, já comprou caça Rafale”.
CAROS AMIGOS
Candidato a uma vaga no Supremo, o ministro José Antonio Tofolli já tem um fã-clube pedindo apoio em http://toffolistf.blogspot.com.
CASAL AMORIM É ESPECIALISTA EM TRAPALHADAS
A jovem deputada Manuela d’Ávila (PCdoB-RS) participava de evento no Serpro, do Ministério da Fazenda, quando foi alvo de grosseria da chefe do cerimonial, Ana Beatriz Amorim, afastando-a de ministros, rispidamente, por confundi-la com jornalista. Manuela e o colega Marco Maia (PT-RS) foram embora inconformados. Depois, ficaram sabendo tratar-se da mulher do chanceler Celso Amorim, rei das trapalhadas.
NA RETRANCA
PSDB e DEM decidiram fechar questão na Câmara contra o projeto de tributação das cadernetas de poupança.
SUGESTIVO
Desde o bafafá pelo lançamento do marco do pré-sal, quando se procura “Brazil” no Google, “brazil oil” é a primeira sugestão de busca.
TAMBÉM QUERO
Tem gaiato na internet pleiteando hospedagem em embaixada brasileira no exterior, junto com 70 amigos. De preferência em Paris.
TAL E QUAL
O presidente do PPS, o pernambucano Roberto Freire (PE), professor de ética na política, e, como José Sarney no Amapá, transferiu seu domicílio para São Paulo. Tentará eleger-se deputado federal.
LUIZIANNE NA REPETÊNCIA
Administrada pela petista Luizianne Lins há anos, Fortaleza aparece em 104º lugar numa lista de 184 municípios, em pesquisa sobre o desempenho de alunos da segunda série do ensino fundamental.
MUY AMIGA
A ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy tem forçado a barra para que o senador Aloizio Mercadante dispute o governo do Estado. Para perder, claro: o tucano Geraldo Alckmin está disparado nas pesquisas.
ELE ACREDITOU
Faz falta a ironia do professor Delfim Netto em Brasilia. Há semanas, ele assinou artigo chamando Lula de “mestre em economia”. Escreveu com tanta dissimulação, que Lula acreditou. Lula não para de elogiá-lo.
EXÉRCITO MUNICIPALISTA
O PT programa para novembro um encontro da ministra Dilma Rousseff com prefeitos do partido. Pretende formar um “exército municipalista” para defender a candidatura dela na campanha presidencial de 2010.
AGORA VAI
Quem sabe agora o Mercosul deslanche? Cinco alunos da UnB foram a Buenos Aires, de sexta (25) e ficam por lá até 3 de outubro, com tudo pago por nós. Vão mostrar teses sobre “a antropologia do Mercosul”.
COM VARA CURTA
O ex-prefeito do Rio Cesar Maia, que se encalacrou com o custo astronômico da Cidade da Música, critica dispensa de licitação de R$ 67 milhões da prefeitura para comprar livros e folhetos da Sangari do Brasil.
OS RECURSOS DA LEI
O secretário-geral da Ordem do Advogados do Brasil, Alberto Toron, não vê “atitude protelatória ilegal da defesa, que age conforme a lei”. Mas critica “a demora na análise dos recursos”, beneficiando Pimenta Neves.
PERGUNTA PARA O LULA
Está chegando a primavera ou a primadilma?

PODER SEM PUDOR
CACIFE DE CACIQUE
No início dos anos 90, a esquerda tentava crescer no Acre. Dirigentes do PT e do PCdoB tentaram filiar lideranças indígenas, numa reunião na cidade de Tarauacá. Nilson Mourão, ex-deputado federal, atacou:
– Venham para o PT, que é um partido democrático e não aceita caciques!
Maior mal-estar na plateia de caciques de verdade. Traído pelo vício de usar o termo “cacique” de forma pejorativa, no sentido de “caudilho”, Mourão não filiou um só índio ao PT. Enquanto isso, os comunistas cochichavam sua adoração por um cacique e filiaram todos no PCdoB.

DOMINGO NOS JORNAIS

- Globo: FGTS: trabalhador perdeu 13% nos últimos 10 anos


- Folha: Contrariando Lula, Zelaya prega revolta


- Estadão: Devastação do Cerrado agora avança para o norte


- JB: Droga rende R$ 30 milhões por mês, apenas na Zona Sul


- Correio: A família encolheu