Quase um ano depois da quebra do banco de investimentos Lehman Brothers — considerada um marco do agravamento da crise global —, especialistas concordam que a economia mundial já tocou o fundo o poço e há sinais claros de recuperação. A velocidade da retomada e o risco de um novo mergulho, porém, dividem opiniões. As dúvidas são se o sistema bancário dos Estados Unidos superou sua vulnerabilidade e como ficará o consumo dos americanos — dois fatores que, para analistas, ditarão o ritmo da recuperação.
Os otimistas citam as vendas de casas novas e automóveis nos EUA. As primeiras subiram 9,6% em julho ante junho, o quinto mês consecutivo de alta. Já as vendas de veículos vêm crescendo desde maio.
— O pior já passou — diz Cristiano Souza, economista do Santander Brasil, para quem os países ricos devem voltar a crescer ou reduzir sua contração este trimestre, com expansão sustentável a partir de 2010 ou 2011.
Na sopa de letrinhas dos economistas, a recuperação viria em formato de “U”. Ou seja, após forte retração, tendência de crescimento, ainda que em índices baixos.
França, Alemanha e Japão, que saíram da recessão no trimestre passado, estariam nesse caminho.
No outro extremo, estão economistas como Nouriel Roubini, da Universidade de Nova York, que previu a atual crise. Em artigo publicado há duas semanas no “Financial Times”, ele alertou para o risco de uma recuperação em “W”, ou seja, com um novo período recessivo antes da retomada sustentável. Um fator de risco, alertou, é o déficit fiscal americano, que passará de US$ 1 trilhão este ano. Já William Handorf, ex-diretor do Federal Reserve (o banco central americano) de Richmond, alerta ainda para a fragilidade do sistema bancário. Ele estima que mais de cem bancos quebrarão este ano. O professor do Departamento de Economia da PUC-SP Antonio Corrêa de Lacerda ressalta que, se os bancos não estiverem saneados, pode haver nova retração.
Já a recuperação do consumo doméstico nos EUA será vital para a retomada da economia mundial, dizem especialistas. Dela depende a volta do equilíbrio entre exportações chinesas e importações americanas, que sustentou o crescimento mundial entre 2002 e 2007. Só que a taxa de poupança americana continua alta: 4,2% da renda disponível das famílias em junho, frente a 0,8% em abril de 2008. E não há sinais de que vá ceder significativamente nos próximos meses.