domingo, setembro 06, 2009

DANUZA LEÃO

O gigolô leve

FOLHA DE S PAULO - 06/09/09


Ele se aproxima das que têm um bom emprego, moram sozinhas e sofrem -claro- de uma certa solidão

O GIGOLÔ clássico todo mundo conhece: ele só se interessa por mulheres ricas. Mas existe um tipo novo de homem ao qual as mulheres devem ficar bem atentas: o gigolô tipo leve.
Ele se aproxima das que têm um bom emprego, moram sozinhas e sofrem -claro- de uma certa solidão. Ele tem uma profissão meio vaga, ligada a cinema, o que significa, em outras palavras, que não tem emprego fixo -nem salário, claro.
E nem domicílio; está sempre procurando um apartamento para se mudar. Enquanto não encontra, um dia está na casa de um amigo que viajou, no outro com a mãe, no outro hospedado na casa da ex-mulher, com quem tem, aliás, uma excelente relação. Resumindo: é um eterno hóspede.
Ele vai chegando devagarzinho e, aos poucos, se instalando. E como você batalha para pagar suas contas e mora num sala e dois quartos, nem passa pela cabeça que está, de repente, sustentando mais um; muito pelo contrário, fica é bem feliz de ter um companheiro que sabe fazer uma massa e até desce para comprar cigarros, se for preciso.
Dormir é sempre na sua casa, o que já significa que o sabonete, o xampu, a gilete, o desodorante e a água de colônia estão garantidos. E o café da manhã, com o queijo e a geleia que ele gosta e que você compra, encantada. Uma garrafa de uísque sempre se tem, e um vinho branco na geladeira também -metade do caminho andado.
Eles são prestativos, habilidosos e conhecem um pouco de eletrônica, o que significa que qualquer pequeno problema na televisão, no vídeo ou no telefone é com eles mesmos. E se você tiver um filho pequeno, aí é a felicidade total. São capazes de ficar horas juntos, jogando videogame ou discutindo futebol, o que garante a você tempo para fazer uma bainha ou ler um livro -e isso não é bom?
As pequenas despesas ele banca: cinema, pipoca, um chope; tudo baratinho, mas quanto carinho. E quando traz um boné para seu filho, não é a felicidade total?
Ele começa chegando à noite (para o jantar), mas um dia você se distrai, dá a chave da casa, e ele, que também é distraído, começa a chegar mais cedo e vai ficando. O tintureiro passa a ser por sua conta, o supermercado fica duas vezes mais caro, e um dia ele pede o carro emprestado; tem um negócio para ver na Barra, e afinal, o carro não ia ficar mesmo parado o dia inteiro? E custa?
Custar não custa, mas é bom não ter ilusões: o tanque vai voltar vazio. No primeiro dia, quando você sai do trabalho, ele já está parado na porta, esperando com um sorriso. No 20º, você é quem está parada na porta, esperando que ele chegue. Ele começa a atrasar -mas tem mais é que se sentir feliz de não ter que dirigir cansada, depois de um dia de trabalho.
Mas um dia você resolve ir jantar na casa de sua mãe e, quando diz que não vai dar para emprestar o carro, sente um certo mau humor no ar; chegou a hora de pensar na vida.
Hora de pensar na vida e saber que mesmo não sendo rica, está sustentando um marmanjo que fica vendo filme na TV enquanto você pega às 10h e larga às 6h -o que não tem a menor graça.
Como não quer ficar sozinha, tem que ir com jeito; pode inventar uma viagem, que vai pintar o apartamento, que o ex-marido está implicando, qualquer coisa, mas cuidado. Ele pode perceber que é hora de arranjar um canto para morar e pedir para você ser fiadora do apartamento que ele, enfim, encontrou.

BRASIL 3 x 1 ARGENTINA


VOCÊ NÃO VALE NADA, MAS EU GOSTO DE VOCÊ

SUELY CALDAS

A decisão não, mas a conta é nossa

O ESTA DO DE SÃO PAULO - 06/09/09



Na última semana o governo Lula fez duas divulgações importantes para o futuro dos brasileiros: as regras da exploração do petróleo do pré-sal, junto com a capitalização da Petrobrás, e o Orçamento da União para 2010, que prevê aumento de gastos de 12,9% em relação a 2009. Como de hábito, o presidente Lula tratou de usar o pré-sal como palanque eleitoral, mesmo sabendo que a riqueza do óleo só começará a surgir a partir de 2019. Mas a população vê o futuro com entusiasmo, espera usufruir dessa riqueza, canalizando-a para o progresso do País e como antídoto contra a pobreza. O Orçamento é igualmente importante, porque é ele que determina se a renda dos brasileiros será maior ou menor, se pagarão mais ou menos impostos para sustentar a máquina pública - cada vez mais cara.

Longe de serem ideológicas, são questões objetivas para as quais qualquer governo ético, honesto e bem-intencionado faz seus planos centrando sua meta em melhorar a vida dos brasileiros. Mas este governo tem duas ideias fixas: ganhar a eleição e dar viés ideológico no que ele é descabido. No caso do pré-sal, pode até ser bem-sucedido na eleição, mas adaptar as regras de regulação do negócio a caprichos ideológicos pode custar caro ao País e para os objetivos sociais pretendidos.

Com o rancor populista de sempre, quando está no palanque, o presidente Lula aproveitou a festa do pré-sal para atacar o governo FHC: "Diziam que a Petrobrás era o último dinossauro a ser desmantelado no País. Foram tempos de pensamentos subalternos." Ou para chamar os que privatizaram estatais de "exterminadores do futuro".

A Lei do Petróleo, de 1997, flexibilizou o monopólio (retirou da Petrobrás e concentrou na União) e implantou um modelo bem-sucedido, com benefícios que Lula conhece bem, mas ignora por oportunismo eleitoral: em apenas 12 anos vieram para o Brasil uma centena de novas empresas; o peso do petróleo no PIB saltou de 2% para 10%; a produção cresceu de 869 mil para 1,937 milhão de barris/dia; as reservas de óleo quase duplicaram; milhares de empregos foram gerados e com salários elevados; as universidades criaram cursos de especialização; etc., etc. E a Petrobrás, que segundo o PT murcharia na concorrência com outras empresas, multiplicou 13 vezes seu valor, modernizou a gestão, expandiu seus negócios no exterior e atualmente é uma empresa respeitada no seleto clube das grandes petrolíferas. E Lula chama tudo isso de "pensamentos subalternos" e "exterminadores do futuro".

E por que a lei anterior abriu a exploração para outras empresas? Simplesmente porque sozinha a Petrobrás não teria condições operacionais nem financeiras para pesquisar áreas e duplicar a produção de óleo, como ocorreu.

Agora, com o pré-sal, a história se repete, mas com uma diferença fundamental: trata-se de uma extensa área com volumes expressivos de óleo, baixo risco de fracasso e custo de exploração altíssimo, exigindo muito capital de investimento. Se antes a Petrobrás não dava conta do recado sozinha, muito menos agora.

O governo podia manter o regime de concessão da lei de 1997 e triplicar, quadruplicar as taxas que cobra das empresas exploradoras. Seria mais simples e o resultado financeiro para a União, igual ou até melhor. Mas escolheu o caminho ideológico, substituindo o regime pelo sistema de partilha e injetando US$ 50 bilhões no capital da Petrobrás - o que amplia seu poder sobre o controle acionário da estatal.

Sem nenhum centavo de aporte de capital, mas com trabalho, planejamento e ações modernas e criativas de gestão, a Petrobrás multiplicou seu valor de US$ 22 bilhões para US$ 287 bilhões e hoje é a terceira maior companhia das Américas. Não precisou de dinheiro público. Afinal, os brasileiros pagam impostos para dispor de serviços públicos eficientes, não para capitalizar estatais. Mas por capricho ideológico o governo Lula quer despejar US$ 50 bilhões na Petrobrás, enquanto a saúde continua um caos, rareiam investimentos em saneamento e a educação precisa de professores bem pagos e qualificados.

E, como caprichos ideológicos custam caro, o governo acaba de enviar ao Congresso o Orçamento de 2010, com aumento de 12,9% de gastos - portanto 8,4% acima da inflação, e num momento de queda na arrecadação de impostos. Mais 40 mil cargos serão criados e custarão R$ 1,338 bilhão. Segundo levantamento da oposição, só de funções comissionadas o governo Lula criou 212.586 cargos. E os brasileiros - pobres e ricos - são obrigados a pagar a conta.

*Suely Caldas, jornalista, é professora de Comunicação da PUC-Rio (sucaldas@terra.com.br)

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PANORAMA POLÍTICO

Xô, CSS!

ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 06/09/09

O presidente da Câmara, Michel Temer (PMDBSP), é contra a criação da Contribuição Social para a Saúde, que o ministro José Temporão (Saúde) inventou para substituir a extinta CPMF. “Não vai dar. Não vejo condições de aprovar”, diz Temer. O DEM, como fez na CPMF, deflagrou mobilização para impedir a aprovação. Em pesquisa do Instituto Análise, para o PSDB, 63% dos ouvidos (1.200) defendem que o governo reduza os impostos

O fator José Alencar

Idealizador das campanhas“ Xô, CPMF” e “Xô, CSS”, o deputado Paulo Bornhausen (DEM-SC) avalia que o governo Lula foi muito ardiloso ao fazer o vice José Alencar garoto-propaganda da CSS. “Sua presença é um complicador.

Acrescenta emoção”, diz, referindo-se à simpatia que Alencar conquistou por sua luta contra o câncer. Bornhausen não crê que seja indiferente para o presidente Lula a aprovação ou não da CSS. “Ele não engole a derrota na CPMF. Ele não quer é perder de novo. O Fernando Henrique não dizia que a CPMF era coisa do Adib Jatene? O José Temporão é o Jatene do presidente Lula”, diz Bornhausen.

Eles têm uma cabeça antiga, uma visão atrasada” — Rodrigo Maia, presidente do DEM, sobre o apoio de tucanos à proposta do governo para o pré-sal

LINHA DE FRENTE. A bancada do Rio ficou surpresa com a agressividade do governador Eduardo Campos (PE) no debate sobre a distribuição dos royalties do pré-sal. Ele é citado por nove entre dez deputados cariocas para ilustrar como a briga no Congresso não será fácil. Como os estados produtores não têm maioria na Câmara nem no Senado, chegaram à conclusão de que bater de frente não vai adiantar. O Rio terá de negociar

Bêaacute;-bá

Os parlamentares vão receber na próxima semana uma cartilha, que já tem 148 perguntas e respostas, com todas as informações sobre o pré-sal, o novo modelo de exploração do petróleo e o funcionamento do Fundo Social

42 horas

Representantes de empresários e trabalhadores estão articulando uma redução negociada da jornada semanal de trabalho. Os envolvidos nas conversas trabalham com uma transição, levando a redução imediata da jornada para 42 horas.

Sem diplomacia

A mulher de um ministro, que trabalha no cerimonial do Serpro, deu show há dez dias. O ministro Fernando Haddad (Educação) e a deputada Manuela d’Ávila (PCdoB-RS) conversavam. Ela chega e pergunta: “Quem é você?”. Resposta: “Eu sou a Manuela”. Nova pergunta: “Você é uma jornalistazinha!”. Haddad intervém: “Não, é deputada pelo PCdoB”. Sua vítima seguinte foi o vicepresidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS). Ela barrou sua entrada no reservado do presidente Lula.

Saúde também quer o fundo do petróleo

A Frente Parlamentar da Saúde já tem sua próxima batalha, depois de aprovar a Emenda 29 e tentar votar a criação da Contribuição Social para a Saúde (CSS). A frente quer abocanhar parte da renda do petróleo do pré-sal. Uma emenda já está sendo redigida para incluir a saúde entre os beneficiários do Fundo Social. “Não adianta pré-sal e ponte se não tiver saúde, educação e pesquisa”, disse o presidente da frente, deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS).

Essa bancada tem fome.

O GOVERNADOR Sérgio Cabral quer a cabeça de Bismark Alcântara, assessor do Palácio do Planalto e candidato a presidente do PT do Rio. Atribui a seu grupo político organizar as claques para vaiá-lo.

O PRESIDENTE da
OAB, Cezar Britto, está só esperando a aprovação da Lei Eleitoral pelo Congresso para entrar com uma Ação de Inconstitucionalidade no STF.

O PPS é contra a proposta do governo para o présal.

O deputado Arnaldo Jardim (PPS-SP) diz: “Temo a volta ao passado pela ampliação da presença estatal”.

ILIMAR FRANCO com Fernanda Krakovics, sucursais e correspondentes

JORGE J. OKUBARO

O perigoso triunfalismo do governo

O ESTADO DE SÃO PAULO - 06/09/09



Vão surgindo, aqui e lá fora, e em ritmo cada vez mais intenso, os sinais de que a crise está indo embora. Um resumo dos últimos dados animadores incluiria, por exemplo, o surpreendente resultado da produção industrial anunciado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em julho, a indústria produziu 2,2% mais do que em junho, aumento bem maior do que o esperado.

O crescimento da produção de bens de consumo duráveis, de 2,7%, era até certo ponto previsível, por causa dos fortes estímulos tributários oferecidos pelo governo para a compra de automóveis e de produtos eletrodomésticos da linha branca. Mas cresceu também a produção de bens de capital, numa indicação de que os investimentos produtivos estão começando a voltar. É um sinal de confiança do empresariado no futuro e de crescimento ainda mais intenso quando os investimentos estiverem maduros.

No plano internacional, uma boa notícia vem dos Estados Unidos, onde a crise vinha se armando desde 2006 e de onde ela se espalhou para o resto do mundo depois da quebra do Lehmann Brothers, em 16 de setembro do ano passado. "Os indicadores e as evidências fortaleceram a confiança de que o declínio da atividade econômica está acabando e que o crescimento provavelmente será retomado no segundo semestre", afirmou, em sua linguagem cautelosa, a ata da reunião de agosto da Comissão Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).

Estudo da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne algumas dezenas das principais economias do mundo, por sua vez, concluiu que a economia mundial está saindo de sua pior crise desde o fim da 2ª Guerra Mundial mais depressa do que se previa. "O pior já passou", disse o economista-chefe da OCDE, Jorgen Elmeskov.

Hora de estourar o champanhe? O governo acha que sim. Entre os parâmetros que utilizou para montar o Orçamento de 2010, cuja proposta o presidente Lula enviou ao Congresso na segunda-feira, está a previsão de aumento de 1% do PIB neste ano e de nada menos do que 4,5% no ano que vem. Crise? Que crise?

Inquestionavelmente, esse comportamento triunfalista do governo, que não viu nada de preocupante nos últimos meses nem vê riscos no futuro próximo, é determinado por seu interesse político-eleitoral. O governo só vê e só fala de dias cada vez melhores daqui para a frente porque, quanto melhor estiver o País, mais fácil será conquistar votos para seus candidatos - e, em particular, para sua candidata.

O triunfalismo oficial terá consequências práticas, que poderão ser custosas para os brasileiros. Com base nesses parâmetros, o governo programou gastos recordes em 2010, sobretudo com o custeio da máquina administrativa. Programou também o aumento recorde dos investimentos. Na outra parte do Orçamento, previu o recorde de arrecadação - isto é, da parte da renda que o contribuinte terá de recolher aos cofres públicos. Quanto pior o desempenho da economia em relação ao projetado pelo governo, tanto maior será, proporcionalmente, a conta do contribuinte. É ele que pagará a conta.

Governos costumam errar com frequência em suas previsões, lembrou o professor de economia da Universidade Harvard e ex-economista-chefe do FMI Kenneth Rogoff, em artigo publicado quinta-feira pelo Estado. "Como podem os governantes estar tão certos de que a catástrofe financeira não se repetirá num futuro próximo quando eles pareciam nem sequer fazer ideia de que uma crise como essa aconteceria em primeiro lugar?", perguntou. Em seguida, advertiu: ainda há o risco de que a crise esteja simplesmente hibernando.

Menosprezar os riscos, para desse modo poder justificar o aumento dos gastos públicos que ajudam a compor uma imagem favorável do governo e, sobretudo, a de sua candidata à sucessão presidencial, é uma atitude perigosa, que pode resultar em custos pesados para os contribuintes.

*Jorge J. Okubaro, jornalista, é autor de O Súdito - Banzai, Massateru! (Editora Terceiro Nome) e coautor de Desvirando a Página - A Vida de Olavo Setubal (Global Editora). E-mail: jorge.okubaro@grupoestado.com.br

O colunista Celso Ming está em férias.

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ARI CUNHA

Um à frente, dois para trás

CORREIO BRAZILIENSE - 06/09/09


Lula da Silva sustenta sua intenção de manter o pré-sal com a urgência que ele mandou ao Congresso. Tudo foi confirmado pelo presidente da Câmara, Michel Temer, de forma enfática. Parlamentares tentaram não votar nada da pauta se não fosse dilatado o prazo pedido por Lula. Quem manda disse enfático: “Queremos a urgência. É obedecer ao que foi mandado”. O presidente Lula, para falar assim, deve determinar a todos que punirá aquele que não obedecer. Quem tem feito oposição forte e marcado com discursos veementes a questão é o deputado Ronaldo Caiado. Chegou a afirmar que o “único objetivo do presidente é o de calar o debate e impor goela abaixo o que deseja”. Foi rebatido pelo líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza, que destacou o ambiente nacional, que tem se firmado como democracia. Vale lembrar a Venezuela. Já foi muito mais democracia do que é hoje.


A frase que não foi pronunciada

“Procura-se uma broca com urgência.”
» Anúncio imaginário, concorrendo com a urgência dos projetos do pré-sal.



Eleições

» Com a Igreja Universal do Reino de Deus adquirindo órgãos de comunicação, políticos interpretaram o fato como oportunidade para formar a bancada da Universal. Muitos estão apoiando e já se preparam para receber Edir Macedo.

Beleza do Rio

» Escritório americano desenhou o conjunto arquitetônico que abrigará o Museu da Imagem e do Som. A concepção é avançada e é projeto da Diller-Scofidio Remfro. A foto da maquete mostra a beleza de Copacabana. É a maior atração cultural que se destaca na mais bela praia do mundo.

Presos

» Há muita gente habitando cadeia pública, embora já tenha vencido o prazo da pena. Falta energia humana para a chegada do alvará de soltura. No Ceará, o fato é corriqueiro.

Mudança de destino

» Vicente Pires foi criado para a produção agrícola. Lotes grandes se transformaram em exploração imobiliária. O governo cobra a diferença de R$ 70 por metro quadrado usado indevidamente. Há revolta, mas a medida é justa pela má-fé de técnicos, proprietários ou políticos que modificaram a destinação do terreno agrícola sem conhecimento das autoridades. José Roberto Arruda comanda a situação contra essas invasões.

Publicidade

» “Você não vale nada, mas eu gosto de você.” Assim começa publicidade da Caixa Econômica oferecendo vantagens de financiamento. O anúncio está sendo gravado na mente dos ouvintes e leitores de jornais.

Quituarte

» Esta coluna propôs ao GDF fechar o buraco do projeto da Quituarte. Vencendo os interessados, o governo entrega o buraco aberto. Foi o suficiente para que aparecesse placa “propriedade privada”. E acrescenta que o terreno está sub-judice. Como vai durar muito a solução, ali poderiam ser instalados jardins e bancos para receber os moradores.

Judiciário

» O
Supremo Tribunal Federal pede aumento de vencimentos. Proporção será aplicada em qualquer município onde houver repartição da Justiça. O assunto não está amparado pelo Tesouro. A despesa será multiplicada muitas vezes na conta do contribuinte. O aumento passa os subsídios de R$ 24.500 para R$ 27.952 mil.

Terceirizados

» Enquanto isso, terceirizados do Senado pedem apoio ao senador Suplicy. Muitos terão o salário reduzido se forem mantidos mediante contrato com novas empresas. Uma injustiça que pode ser evitada.

Paulo Mello

» Orgulho para Brasília. Recebe importante condecoração pelo valioso trabalho prestado ao Brasil e à América Latina em neurocirurgia. Com 50 anos de profissão, o doutor Paulo Mello foi homenageado em Boston, Massachusetts, pela Sociedade Mundial de Neurocirurgiões.


História de Brasília

Ministro Barros Barreto: há um homem preso no depósito da GEB há mais de 60 dias à disposição da Justiça. É José Augusto de Sousa, cuja família está passando necessidade pela falta do seu chefe. (Publicado em 8/2/1961)

MIGUEL SROUGI

Pátria amada, mãe gentil?

FOLHA DE SÃO PAULO - 06/09/09



Frequentemente nosso presidente manifesta sua revolta diante da tragédia social que nos assola. Pode ser um começo. Mas é pouco


A MINHA infância, povoada por soldadinhos de chumbo e outras fantasias, continha momentos inebriantes. Era quando os soldados, evoluindo nas paradas do Sete de Setembro, desviavam o seu olhar e miravam, respeitosamente, os senhores da nação. Hoje não quero mais assistir aos desfiles. Com medo de não encontrar os mesmos olhares, de não vislumbrar a mesma nação.
Exagero meu ou aflições verdadeiras, produzidas por uma realidade desconcertante? Ouço que o Brasil tornou-se uma nação soberana, que nunca antes neste país materializaram-se tantas aspirações do seu povo, que as potências estrangeiras dobram-se à grandeza da nacionalidade.
Nos jornais encontro números tão expressivos quanto misteriosos. O PIB brasileiro em 2008 foi de US$ 1,94 trilhão, o nono na escala planetária. O Brasil tornou-se credor do FMI. As exportações brasileiras atingiram, em 2008, o valor de US$ 197,94 bilhões. O índice Bovespa registra em 2009 valorização que supera 50%.
Diante dessas notícias, por que tanto desconsolo da minha parte? Talvez por ser médico e por compreender que a saúde de uma nação tem de ser pautada não apenas pelo seu PIB, mas, principalmente, pelo respeito à condição humana e pela luta sem tréguas contra a desigualdade social.
Como ser feliz se estamos no 70º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano, conceito mais justo que incorpora o dogma da existência usufruída com dignidade? Como permanecer calado quando descubro que cerca de 22%, ou 40 milhões de brasileiros, vivem abaixo da linha de pobreza, incapazes de sequer obter alimentos para subsistir?
Como ficar indiferente quando leio que mais de 25% dos membros da nação são analfabetos ou não conseguem compreender o que estão lendo? Desconforto que fica quase insuportável quando descubro que Cuba, Venezuela, Chile, Equador e Bolívia declararam-se recentemente territórios livres do analfabetismo. Como não ficar indignado quando estatísticas da ONU mostram que, para cada 1.000 crianças pobres que nascem no Brasil, 83 morrem antes de completar seu primeiro ano de vida, um número que contrasta com 5 mortes no Canadá, 8 no Chile e 15 na Argentina?
Mesmo ciente das minhas limitações, desconfio que a desgraça que nos assola resulte de uma coreografia insana que mistura uma histórica desigualdade social, governos descomprometidos com a condição humana e ações nefastas de um sem-número de oportunistas que tomaram de assalto, espraiaram-se e passaram a consumir o Estado.
Dados que ilustram a injustiça são abundantes. No Brasil, ainda de acordo com a ONU, 1% dos cidadãos mais ricos têm a mesma renda que a soma dos 50% mais pobres. Estes que perambulam pelas ruas da nação, oprimidos pela fome, pelas pragas e pela violência, incapazes de esboçar reação e controlar seus destinos. Subjugados por um sistema dirigente insensível, que foi capaz de pagar, em 2008, R$ 120 bilhões de juros da dívida nacional e destinar apenas R$ 48 bilhões e R$ 29 bilhões, respectivamente, para financiar toda a saúde e toda a educação superior do povo brasileiro. Governantes incapazes de compreender que sem saúde e sem educação não existem seres livres.
Frequentemente nosso presidente manifesta sua revolta diante da tragédia social que nos assola. Talvez seja um começo. Mas é pouco, sr. presidente. Pouco para alguém que, em período recente menos glorioso da história, conviveu com a injustiça e com autoridades que não eram coisa boa. Agora que o senhor é autoridade e a sociedade brasileira continua açodada por outras formas de truculência, imagine se a tua complacência for mal interpretada, confundida com aquiescência.
Como lembrava o arcebispo Desmond Tutu, incansável na luta pelos direitos civis: "Se ficarmos neutros numa situação de injustiça, teremos escolhido o lado do opressor". Presidente, principalmente você, que tem história para ser o exemplo, pode atender ao grito ensurdecedor de tantos filhos da nação.
Assumindo o combate sem limites ao grupo de predadores assentados no poder. Exigindo que a Justiça faça das leis instrumentos verdadeiros de defesa dos direitos, e não objetos de proteção aos ímprobos e poderosos.
E, tomado por compaixão, adotando ações genuínas para reduzir os efeitos da desigualdade e para resgatar a condição humana desses brasileiros. Só assim, perfilado no dia da pátria, você conseguirá, marejado, declamar com a multidão: "Dos filhos deste solo és mãe gentil, pátria amada, Brasil".

MIGUEL SROUGI , 62, médico, pós-graduado em urologia pela Havard Medical School (EUA), é professor titular de urologia da Faculdade de Medicina da USP e presidente do Conselho do Instituto Criança é Vida.

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LUIS ALBERTO MORENO

Revolução educacional para a América Latina

FOLHA DE SÃO PAULO - 06/09/09



A recomendação é simples: ações que assegurem que as crianças estejam prontas para aprender antes de iniciar o ensino fundamental


OS ESTUDANTES da América Latina e do Caribe podem alcançar seus colegas de países desenvolvidos? As notícias mais recentes não são animadoras. Embora o acesso à educação pública na região tenha se expandido, testes de avaliação de estudantes mostram que sua qualidade permanece no extremo inferior da escala internacional.
Um em cada três alunos de terceiro ano não compreende orações iniciadas por "era uma vez" e quase metade dos alunos de sexto ano não consegue resolver um problema matemático que envolva frações.
Até pouco tempo atrás, os esforços para melhorar o desempenho educacional na região centraram-se quase exclusivamente na educação para crianças a partir de seis anos de idade. Mas as evidências há muito sugeriram que isso pode ser tarde demais. Um mundo de aprendizagem ocorre antes que a criança vá para a escola.
Para eliminar a defasagem, governos -e sociedades em geral- precisam assegurar que todas as crianças recebam estímulos, educação, atendimento de saúde e nutrição adequados antes do primeiro ano escolar. Pesquisas mostram que o período entre zero e seis anos é crítico -80% do desenvolvimento cerebral ocorre até os três anos de idade. Sem estímulos e nutrientes adequados durante esse período crucial, a criança pode enfrentar atrasos de aprendizagem ao longo dos anos escolares.
Essas descobertas têm implicações enormes para a América Latina e o Caribe, onde estima-se que 46 milhões de crianças com menos de seis anos -a maioria de famílias de baixa renda- não estão matriculadas em programas de estimulação precoce.
Crianças pobres que frequentam bons programas de desenvolvimento pré-escolar têm probabilidade 40% menor de precisar de reforços educacionais ou de ter notas baixas em comparação com as que não frequentam esses programas. Além disso, essas mesmas crianças têm probabilidade 30% maior de completar o ensino médio e duas vezes mais chances de ingressar em uma universidade. A educação infantil pré-escolar é também investimento extremamente atraente sob a ótica econômica.
Dados de um programa de pré-escola norte-americano chamado High/ Scope Perry sugeriram que cada dólar investido produziu retornos reais de cerca de US$ 17 em benefícios para a sociedade. Os retornos vêm para a criança, que, quando adulta, ganha salários melhores, e para a sociedade em geral, que se beneficia com reduções da dependência de ajuda estatal e das taxas de criminalidade, bem como da necessidade de oferecer aulas especiais de reforço escolar. A economia associada apenas à prevenção da criminalidade foi equivalente a 11 vezes o custo do programa.
Hoje, muitos governos da América Latina e do Caribe estão começando a enfatizar a educação pré-escolar. Vários países vêm preparando planos nacionais para a pré-escola e ampliando iniciativas promissoras, muitas das quais surgiram de programas municipais ou de organizações não governamentais.
Considere-se o exemplo de Trinidad e Tobago. Como parte de uma estratégia de longo prazo que recebeu o nome de Vision 2020, Trinidad investiu parte significativa de suas receitas com petróleo e gás em um plano educacional amplo voltado para famílias de baixa renda que começa com acesso expandido a pré-escolas de boa qualidade e inclui a criação de parcerias público-privadas.
O Banco Interamericano de Desenvolvimento está ajudando a financiar o programa de Trinidad e Tobago, além de iniciativas semelhantes nas Bahamas, no Paraguai e no Peru. Em vista do que sabemos sobre os benefícios e as vantagens desses programas, nossa recomendação é simples: todos os países da região devem investir em uma ampla variedade de ações que assegurem que as crianças estejam prontas para aprender antes de iniciar o ensino fundamental.
De acordo com nossas estimativas, os países da região precisariam gastar coletivamente cerca de US$ 14 bilhões por ano para reduzir a defasagem educacional das crianças pobres. Isso pode parecer muito nestes tempos de dificuldades econômicas. Mas se leve em conta que, no último ano, a região gastou mais de três vezes esse valor com suas forças armadas e em subsídios para reduzir o preço da gasolina e do óleo diesel.
Embora defesa e transporte tenham seu lugar nos orçamentos públicos, dar a 46 milhões de crianças as oportunidades que elas merecem será um grande passo para resolver a longa batalha da América Latina contra a desigualdade. Quanto isso vale?

LUIS ALBERTO MORENO é presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Foi embaixador da Colômbia nos Estados Unidos e ministro do Desenvolvimento.

BRASÍLIA - DF

Pré-sal, poder e voto

Luiz Carlos Azedo

CORREIO BRAZILIENSE - 06/09/09




Sobrevivente da Guerrilha do Araguaia e da crise do mensalão, das quais foi protagonista, numa como militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), na outra como presidente do PT, o deputado José Genoino (PT-SP) é uma espécie de oráculo da bancada petista na Câmara. “Cinco governadores, 10 governadores são fichinha, diante da possibilidade de permanecer no poder central, no comando do país”, repete toda vez que o assunto é uma disputa entre quadros do PT e aliados do PMDB.

***

Para Genoino, o PT e os partidos de esquerda estão viabilizando um projeto nacional, popular e democrático que subordina as carreiras políticas e as lógicas regionais ao problema eleitoral central: amarrar os votos para a candidata petista Dilma Rousseff. “O PT, o movimento social, o governo e o presidente Lula são sujeitos que se articulam nesse projeto. Nosso problema agora é consolidar as alianças, principalmente com o PMDB, para permanecer no poder”, afirma.



Lucro

A participação de São Paulo na distribuição atual dos royalties do petróleo justifica o tom cauteloso do governador José Serra (PSDB). Ele sabe que, seja qual for o resultado do debate sobre a partilha, São Paulo sairá ganhando com o pré-sal. Em 2008, o estado recebeu apenas R$ 4,1 milhões, a menor quantia entre os estados beneficiados com royalties.


Cururu



Genoino condena projetos como o do prefeito de Nova Iguaçu, o petista Lindberg Faria (foto), que ameaça disputar o Palácio Guanabara com o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB). “Ele deveria estar mais preocupado com a eleição de Dilma e se candidatar ao Senado, que é muito importante para viabilizar nosso projeto.”


Copa

Ministro do Turismo, Luiz Barreto foi escalado para baixar a bola de governadores e prefeitos que querem pegar carona na Copa de 2014 para resolver todos os problemas de infraestrutura. “Precisamos resolver o básico e deixar a megalomania de lado.” Só em transportes, o orçamento da Copa cairá de R$ 30 bilhões para R$ 10 bilhões.


Merci



O governador José Roberto Arruda (foto), do DEM, aproveitará a visita do presidente da França, Nicolas Sarkozy, amanhã, para conversar sobre o empréstimo da Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) para a implantação do veículo leve sobre trilhos (VLT) na W3 Sul. Os dois estarão juntos no desfile da Independência e na cerimônia de lançamento do projeto.



Julgamento/ O processo de extradição do ex-terrorista Cesare Battisti será julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na próxima quarta-feira. É mais um caso polêmico. O italiano jura inocência nos quatro homicídios de que é acusado e alega que nunca foi ouvido por um juiz italiano, pois foi condenado à revelia. A Itália pede a sua extradição. Battisti recebeu status de refugiado político do Ministério da Justiça.

Alerta/ Presidente do PDT paulista, o deputado Paulo Pereira da Silva entregará ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na terça-feira, uma pesquisa encomendada pelo partido acompanhada de uma recomendação: a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, precisa pôr o pé na estrada em São Paulo.

Decolagem/ O governo quer retomar o debate em torno da proposta que eleva de 20% para 49% a participação de capital estrangeiro nas companhias aéreas brasileiras. A mobilização no Congresso Nacional será acompanhada do envio de um plano de aviação regional, pelo Ministério da Defesa, para turbinar o setor para a Copa do Mundo de 2014.

MERVAL PEREIRA

Primeiro Mundo

O GLOBO - 06/06/09

Um estudo que a consultoria Macroplan Prospectiva, Estratégia & Gestão está preparando, coordenado pelos economistas Claudio Porto e Rodrigo Ventura, traça os cenários para o Brasil nos próximos 20 anos e mostra o que deveria ser feito para que atinjamos um nível de Primeiro Mundo nesse período de tempo. E também o que pode acontecer de retrocesso para o país se os problemas hoje existentes não forem enfrentados.

O cenário que mostra o Brasil dando “um salto para o Primeiro Mundo” depende de que sejam enfrentados os gargalos estruturais que emperram nosso desenvolvimento, especialmente nos setores de educação e de inovação tecnológica, em um contexto mundial que seria de “variadas oportunidades” para os países emergentes.

A premissa deste cenário otimista é que o Estado, a sociedade e o setor privado passem a ter como objetivo estratégico a eliminação de tais entraves, possibilitando à economia brasileira entrar, definitivamente, em uma trajetória de crescimento sustentado, mantendo taxa de expansão média do PIB entre 4% e 6% ao ano.

Isso acontecendo, na década 2011-2020 o Brasil se tornaria “um imenso e variado canteiro de obras”.

Um ambiente próspero e favorável ao desenvolvimento dos negócios e à atração de investimentos estrangeiros seria viabilizado, com a participação brasileira no fluxo global de capitais passando a ser de 7,5% em 2030, contra apenas 1,9% em 2008.

O revigoramento das instituições e a adoção de novas formas de gestão pública tornariam possível uma contínua melhora da qualidade do gasto e dos serviços públicos, em especial nas áreas de saúde, educação e segurança, preveem os economistas autores do trabalho prospectivo.

O parque produtivo brasileiro passaria por um intenso processo de inovação tecnológica, o que permitiria ao Brasil “inserir-se de forma competitiva na economia global”.

Na esfera ambiental, os avanços no campo da gestão e novos estímulos econômicos alavancariam negócios relacionados à “economia limpa”, de modo que a questão ambiental deixaria de ser vista como entrave ao desenvolvimento econômico.

Neste cenário, o estudo prevê que, em 2030, o PIB per capita do país alcançaria os US$ 25 mil em poder de paridade de compra (PPC), equivalente ao da Itália em 2008.

Um cenário menos otimista, mas ainda positivo, foi chamado de “Um emergente retardatário”. O Brasil continuaria correndo atrás de suas possibilidades, embora desperdiçando a maior parte das oportunidades que o contexto mundial voltaria a oferecer, após a recuperação da grave crise econômica que marcou a virada da primeira década do século XXI.

As análises indicam que, à exceção da educação, que experimentaria saltos de qualidade, a ausência de um amplo pacto em favor de reformas estruturais modernizadoras da economia contribuiria para a manutenção de graves entraves ao desenvolvimento nacional.

A economia brasileira perderia competitividade frente a outros grandes emergentes, em especial China e Índia, que trilham trajetória semelhante à empreendida pela Coreia do Sul nos últimos 30 anos do século XX.

O Brasil, em 2030, seria um país dual, tendo de um lado um setor privado dinâmico, inovador e empreendedor, e regiões altamente competitivas, que contribuiriam para que o crescimento econômico do país se estabilizasse em patamar mediano, entre 3% e 4% ao ano até 2030.

Em contrapartida, um setor público pesado e ineficiente e regiões mais atrasadas impediriam ou dificultariam melhorias substanciais no ambiente de negócios e nos indicadores sociais, que experimentariam evolução apenas moderada.

Neste cenário, em 2030 as grandes regiões metropolitanas continuariam a conviver com graves problemas, sobretudo nas áreas de infraestrutura, segurança e emprego, e o Brasil ainda acumularia passivos ambientais de peso. O PIB per capita do país alcançaria os US$ 17 mil (em PPC), próximo ao de Porto Rico em 2008.

Entre os dois cenários, o estudo da Macroplan vê a possibilidade de acontecer uma “mudança de patamar”, que nos colocaria “bem perto do Primeiro Mundo” Neste cenário, enfrentaríamos um “moderado dinamismo” mundial e crises cíclicas, mas no plano interno o enfrentamento continuado dos principais gargalos estruturais do desenvolvimento possibilitaria à economia brasileira experimentar uma mudança de patamar.

Após registrar taxa média de variação do PIB moderada nos primeiros dez anos, de 2010 a 2020, entre 2,5% e 4% ao ano, o Brasil consolidaria a trajetória de crescimento sustentado após 2020, com crescimento acima de 5% ao ano.

A educação daria saltos de qualidade, e haveria uma contínua melhora da qualidade do gasto e dos serviços públicos, impactando positivamente os índices de qualidade de vida e de desenvolvimento regional.

O parque produtivo brasileiro passaria por um processo de inovação tecnológica, e os avanços no campo da gestão ambiental fariam progredir a “economia limpa” que multiplicaria oportunidades de negócios e de geração de renda e trabalho.

Neste cenário, em 2030 o PIB per capita do país alcança os US$ 18,5 mil (em PPC), equivalente ao da Coreia do Sul em 2008.

O cenário mais pessimista é o do “crescimento inercial”, no qual a persistência de graves entraves ao desenvolvimento nacional abortaria a trajetória de aceleração do crescimento econômico registrada nos primeiros anos do século XXI, até a eclosão da crise mundial.

Como resultado, o crescimento econômico brasileiro até 2030 voltaria a cair, situandose entre 1% e 3% anuais. O Brasil voltaria a ser percebido como uma “baleia encalhada”, e repetiria o mesmo padrão de crescimento do PIB observado nas décadas de 1980 e 1990.

Neste cenário, em 2030, o PIB per capita do país alcançaria apenas US$ 13 mil (em PPC), equivalente ao do Chile em 2008.

JOSÉ SIMÃO

Semana da Pátria! Só dá canhão!

FOLHA DE SÃO PAULO - 06/0909


Sabe como se chama o hino da Vanusa? O VÍRUS DO IPIRANGA! Adorei! O hino Gardenal!


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta!
Semanas da pátria! Só dá canhão! Brasileiro gosta tanto de feriadão que grita: feriadão ou morte! Ou melhor: sexo ou morte! Rarará! Festival de Piada Pronta! Igreja no Rio Grande do Sul pega fogo. O nome da igreja? CHAMA MISSIONÁRIA! Consórcio parcela casamento em 48 vezes. O nome da empresa? RODABENS! Tá certo, a primeira coisa que roda no casamento são os bens. Quero ver o casamento durar mais que as parcelas. As melhores tenistas do Open de Tênis: Bundareka e Pirokova! E adorei o motel em Conselheiro Lafaiete em Minas: Motel Scala!
"Em breve, entrada e saída pelos fundos." Quando vai ser esse breve?
E eu já tô em férias no Egito. Cansei das múmias brasileiras. Vou ver múmia nova. Chega de Hebe, Nelson Rubens e Marta. Vou ver se a esfiha lá é mais barata que a do Habib's!
Twitter Urgente! A Xuxa quer processar o Twitter! Ela e a Xaxa escrevem errado e o povo fica debochando. Então ela não devia processar o Twitter. Devia processar o Twico e o Tweco. Os neurônios dela! Rarará.
Pior, a Ana Maria Brega entrou no Twitter e escreveu: "UZAR"! Ela "uza" tudo com "z". TÔ UZANDO o Twitter! E o site Sensacionalista revela: "Twiter vai lançar corretor ortográfico para celebridades". E um novo tipo de serviço: personal Twitter. Pra revisar. Personal Twitter pra ensinar o Twico e o Tweco a twittar.
E a Xuxa disse que a Xaxa escreve errado porque foi alfabetizada em inglês. Pelo Joel Santana! Rarará! E o babado da semana: ver a Vanusa executando (literalmente) o hino nacional no YouTube. Ela foi convidada para cantar o hino na Assembleia. E cantou tudo errado e toda atrapaiada! Baixou o espírito do Antônio Marcos nela! Ela disse que não foi bebida, mas remédio pra labirintite. Então vou começar a tomar esse remédio. E acordar com bafo de labirintite. E sabe como se chama o hino da Vanusa? O VÍRUS DO IPIRANGA! O hino Gardenal. Adorei. Agora só canto o hino vanuso brasileiro!
E o Lula lança o pré-sal. Mas eu acho que o Brasil precisa de um pré-sal grosso. E pra aguentar o Lula, um pré-sal de frutas. E o site Comentando diz que depois do pré-sal, o Lula vai lançar um monte de prés. O pré-primário: alfabetização para todos, coordenado pessoalmente por ele.
Rarará. Pré-tendente: dentadura para todos. Pré-claro: celular para todos. Pré-juízo: para todo brasileiro.
E pré-sepada! Avisa o Lula que eu prefiro uma pré-rereca! E um outro disse que o Lula tá um pré-no-salco.
Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza.
Hoje só amanhã! Que eu vou pingar meu colírio alucinógeno!

GOSTOSA


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ANCELMO GÓIS

Eurotúnel brasileiro

O GLOBO - 06/09/09

Há quem veja semelhanças entre o projeto do trem-bala brasileiro e o Eurotúnel, passagem por baixo do Canal da Mancha que liga a França à Inglaterra.

A construção europeia consumiu C 15 bi — mais do que o dobro do previsto. A concessionária que opera o túnel quase faliu e só em 2007 (13 anos depois de inaugurado) deu modesto lucro de C 1 milhão.

Segue...
A modelagem do BNDES divulgada na quinta diz que o trem-bala custará US$ 18,8 bi, dos quais 70% vindos de um financiamento do banco.

O primeiro orçamento feito pelo governo foi de US$ 9 bi

Só para comparar
Este vagão de dinheiro daria, segundo Fernando Mac Dowell, especialista em transportes, para mais de 400 quilômetros de rede completa de metrô.

Festa do cabide
Acredite. Corre na 70ª Vara do Trabalho do Rio, sob os cuidados do juiz Leonardo Borges, uma ação na qual o patrão se queixa porque foi embora mais cedo e alguns funcionários fizeram...

uma festa do cabide.

Isso mesmo: todo mundo nu! Só esqueceram das câmeras de segurança que filmaram suas saliências.

Último capítulo?
Terça agora, sai no DO edital da Susep, agência que regula o mercado de seguros, convocando para 4 de novembro o leilão do prédio onde foi, um dia, o Hotel Nacional, em São Conrado, no Rio.

Será que desta vez sai?

Barroco tropical
Sai em novembro, pela Companhia das Letras,“Barroco tropical”, o novo livro do português José Eduardo Agualusa.

A editora de Luiz Schwarz suou a camisa para contratar o escritor. Quem leu a obra diz que valeu a pena.

O DOMINGO
É de Letícia Birkheuer, 31 anos, a supermodelo que virou atriz e agora vai relembrar os tempos de passarela em “Cama de gato”, a próxima novela das seis da TV Globo.

Ela será Natasha, ambiciosa estrela da campanha publicitária de um perfume criado pelo protagonista, Gustavo, vivido por Marcos Palmeira.

Letícia avisa que vai aproveitar o papel para mostrar um pouco dos bastidores das passarelas, assunto que, afinal, ela conhece bastante.

Que seja feliz!

Em nome da razão
De Milton Gonçalves, que foi candidato ao governo do Rio pelo PMDB, em 1994, declinando do convite para entrar no plenário da Câmara dos Deputados: — Prefiro não invadir o espaço para não perder a razão.

O ator foi a Brasília para apoiar o movimento Ficha Limpa, pela ética na política.

Avisou os russos? Os autores do projeto do présal esqueceram de combinar com a geologia. O modelo só vale para novas descobertas.

A norma atual continua em vigor para o pós-sal e mesmo para o pré-sal já descoberto.

Só que as novas regras deixam dúvidas.

Por exemplo:
1) Que modelo, antigo ou novo, adota a empresa cuja sonda, perfurando no pré-sal, esbarra no meio com óleo no pós-sal? 2) A empresa que descobrir óleo no pré-sal do mesmo lençol de outro campo antigo, também seu, pode sugar o óleo pelo lado mais barato

ZONA FRANCA

Dia 16 a Orquestra Petrobras Sinfônica se apresenta em prol da Pro Matre, na Sala Cecília Meirelles.

O professor Paulo Andrade de Mello será homenageado no XIV Congresso Mundial de Cirurgia Neurológica.

Regiane Jesus lança “Eles também são fãs”, terça, na DaConde.

Foi inaugurado o restaurante Demi-Glace, no Centro da Cidade.

Abre quinta, no Hospital das Clínicas, em Niterói, a exposição fotográfica “Atividades palhaçais”.

A Fábula apresenta nova linha de estampas inspiradas no Nordeste.

O desembargador Cláudio de Mello Tavares recebe a Medalha Albert Sabin, dia 14, na Alerj.

Dalva e Herivelto

Sérgio Cabral e João Máximo, dois estudiosos da nossa MPB, fizeram palestra quinta para o elenco e a equipe técnica da minissérie “Dalva e Herivelto”, que estreia em janeiro na Globo, com direção de Dennis Carvalho.

Fábio Assunção e Adriana Esteves serão Herivelto Martins e Dalva de Oliveira (fotos

Noites Cariocas
A Oi não vai mais patrocinar o Noites Cariocas, megaevento de Alexandre Accioly e Luiz Calainho que revitalizou o Píer Mauá.

Inverno do medo
As TVs mandaram equipes reduzidas para cobrir o Brasil x Argentina de ontem à noite.

Praticamente só foram repórteres de campo e o mínimo de técnicos. O motivo pode ser a gripe suína.

Na volta, muita gente vai ficar de quarentena.

Fator Vanusa
De Jane Di Castro, a transexual que vai cantar o hino nacional na abertura da Parada Gay, em Copacabana, no dia 1ode novembro: — Tô ensaiando dobrado porque a última coisa que eu quero no mundo é bancar a Vanusa! Para quem não sabe, é febre do YouTube um vídeo em que Vanusa canta errado o hino, numa cerimônia na Assembleia de São Paulo.

Pátria dos contrastes: do Renan ao Twi (não necessariamente nesta ordem)

Como diria o Zózimo: e a internet, hein?, já tem 40 anos. Não é mais uma mocinha.

Em que pesem os muitos atrasos nacionais — é difícil andar para a frente com certos políticos, por exemplo —, a quarentona faz tremendo sucesso por aqui. O país do futebol também virou campeão nas redes sociais.

Nada menos do que 80% dos internautas daqui visitaram alguma comunidade do gênero ao longo de 2008, atesta a consultoria Nielsen Online. O número, o maior do planeta, é 13% superior à média mundial e está 5% à frente da Espanha, a segunda colocada.

Temos até um site de relacionamento quase exclusivo, o Orkut, mantido pelo Google para uso praticamente só do Brasil (pergunte no exterior: ninguém sequer sabe o que é). Agora, desembarcamos com força e vontade no Twitter. A comunidade dos microblogs virou mania entre os internautas brazucas que, em junho passado, somaram 5 milhões de participantes nela — ou 15% das mais de 36 milhões de pessoas conectadas no país. Um crescimento, aliás, de impressionantes 71% em relação a maio, o mês anterior.

O Twitter virou um zoológico virtual que mistura anônimos e famosos, homens públicos e empresas privadas, num incessante blá-blá-blá de 140 caracteres.

De Ivete Sangalo a José Serra, de Marcelo Tas a Leci Brandão, de Mano Menezes a Eduardo Paes, está todo mundo lá — inclusive a chefia aqui, o Ancelmo, de Frei Paulo para a cibernética, e, provavelmente, você também.

Porque brasileiro adora uma amizade on-line.

Periga virarmos a pátria não só de chuteiras, mas de mouse e teclado também

Aydano André Motta

Imagem suja

Político no Brasil anda com a imagem mais suja do que pau de galinheiro. Pesquisa DataRio/DataGois pediu à população sugestões para que um político entendesse melhor os problemas do povo. As três mais citadas: “Político tinha que ser atendido em hospital público” (47%).

“Viver um mês com meu salário” (24%).

“Andar de ônibus por um mês” (11%).

COM ANA CLÁUDIA GUIMARÃES, MARCEU VIEIRA, AYDANO ANDRÉ MOTTA E BERNARDO DE LA PEÑA

CLÓVIS ROSSI

A jovem diáspora da bola

FOLHA DE SÃO PAULO - 06/09/09


LONDRES - Mesmo nestes tempos em que Barack Obama acha Luiz Inácio Lula da Silva "o cara", não é fácil encontrar nomes de brasileiros nos grandes jornais internacionais. Menos ainda em uma publicação de elite como o "Financial Times".
Mas ontem, na página 3 do "FT", lá estavam Pedro Botelho, Rafael da Silva, Fábio da Silva, todos de 19 anos, e Rodrigo Possebon, 20. Só sabe quem são o PVC, que tem a ficha de jogadores até do Santa Cruz, da quarta divisão.
Sim, são todos jogadores brasileiros de futebol, contratados no berço ainda por clubes ingleses (o Manchester United, no caso dos três últimos, e o Arsenal no caso de Pedro Botelho).
Foram parar no "FT" porque o Chelsea acaba de ser proibido de fazer compras no mercado internacional até 2011, por ter supostamente induzido o garoto francês Gaël Kakuta, então com 16 anos, a romper seu contrato com o Lens e atravessar o canal da Mancha.
Sem reforços internacionais, o clube fica prejudicado ante seus grandes rivais.
Mas há um outro lado: a montagem do que o jornal chama de "Brigada Juvenil" com estrangeiros bloqueia o acesso dos meninos britânicos ao objeto de consumo de todos, britânicos ou estrangeiros, que é a Premier League -o multimilionário campeonato inglês. Do lado de cá, aparece o problema inverso, apontado em artigo para "El País" por José Pekerman, que foi técnico da seleção argentina em todas as categorias: a caça aos jovens pelo futebol europeu esvazia o futebol argentino.
"Futebolistas de todo tipo se vão, sem cumprir os requisitos que antes demandava o mercado" (estabilizar-se em um clube grande ou chegar à seleção), escreve Pekerman. É lógico supor que nomes como Pedro, Rafael, Fábio e Rodrigo indicam que o raciocínio vale também para o futebol brasileiro.

ELIANE CANTANHÊDE

Mar adentro

FOLHA DE SÃO PAULO - 06/09/09



BRASÍLIA - O Brasil se habilita amanhã, quando os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Nicolas Sarkozy ratificarem a aliança Brasil-França em Brasília, a ser o sétimo país do seleto time com condições hoje de projetar, construir e operar tanto submarinos convencionais quanto de propulsão nuclear. Um projeto para 2021.
Os outros são os gigantes EUA, França, Reino Unido, Rússia, China e, mais recentemente, a Índia. Mas há uma diferença. Eles operam com submarinos "estratégicos", pesadíssimos, que são de guerra, para ataque de longo alcance. Já o Brasil optou por um submarino classificado "de ataque", mas bem menor, mais leve, que pode operar torpedos e mísseis de alcance restrito, contra outros submarinos ou navios. Ou seja, apesar da designação, trata-se na verdade de um equipamento de defesa.
A pergunta que não quer calar é por que raios o Brasil, país que convive com milhões de miseráveis, com educação precária e saúde lamentável, vai se meter num negócio desses? A resposta é razoavelmente simples: porque o mar jurisdicional brasileiro deve chegar a 4,5 milhões de Km2. E não é de um governo, é de todos.
É metade de todo o território nacional, com fronteiras virtuais e de difícil controle, com petróleo jorrando. A gente bem sabe como ele é gerador de guerras e invasões. O petróleo é nosso. A Amazônia e a chamada Amazônia Azul também. É preciso ficar alerta contra a cobiça alheia, desde já.
Sem contar o efeito econômico, técnico, científico, comercial e político que irradia de um empreendimento desse porte, ao custo de uma bolada de 6,7 bilhões, diluídos na base de R$ 1 milhão por ano. Um preço justo. Que vale ser pago.
A aliança com a França é estratégica para o país de hoje e do futuro. Lula sai, o mar e as riquezas brasileiras ficam. Ele acerta ao pensar grande, deixando o pacote, o lega- do para o Brasil e o sinal para o mundo.

JOÃO UBALDO RIBEIRO


Servindo à pátria

O GLOBO - 06/09/09

Sei que pensarão que é mentira minha, mas não é. Aconteceu aqui perto de casa mesmo, numa farmácia onde perguntei ao balconista a que feriadão um outro freguês tinha se referido.

– É o 7 de setembro, que vai cair na segunda-feira – informou ele.

– Ah, é verdade, tinha me esquecido.

– Eu também esqueço, mas esse é fácil de lembrar, é o descobrimento do Brasil.

– É o quê?

– Descobrimento do Brasil, Pedro Álvares Cabral.

– Vivendo e aprendendo – disse eu.

– Pois é – disse ele.

E “pois é” repito eu agora, caminhando pela rua abaixo, envolto em pensamentos melancólicos. A semana do 7 de setembro ainda será conhecida como a Semana da Pátria? Não creio, está muito fora de moda falar em pátria. E fica difícil mesmo explicar o que é, ou era, pátria, agora que as lealdades são divididas e a pátria pode ser algo complicado de identificar. Não adianta tentar explicar o que é pátria, tarefa ingrata e de resultados duvidosos. Mas, ao mesmo tempo, é impossível, para o coroa nascido e criado no século XX, deixar de lembrar o tempo, não tão remoto assim, em que todo mundo sabia, ou achava que sabia, o que era pátria.

Na escola, a gente aprendia o Hino Nacional, que vinha impresso em praticamente todos os cadernos. Era como missa em latim. Ninguém entendia nada, mas respeitava do mesmo jeito, eram terrenos sagrados, que mereciam uma linguagem especial. Nas aulas de canto orfeônico, obrigatórias durante os quatro anos de ginásio, diversos hinos patrióticos, juntamente com peças de Villa-Lobos, faziam parte do repertório. E, finalmente, a Semana da Pátria atingia seu ponto culminante com a parada escolar a que todos eram obrigados a comparecer, sob pena de não sei quantas faltas em Educação Física e consequente possível reprovação, porque as faltas em Educação Física, não lembro a razão, tinham um peso maior que o das outras disciplinas.

Para tomar parte na parada, era necessário, naturalmente, que se aprendesse a marchar, pois não ficava bem marchar fora do compasso e pegava mal para o colégio, até porque, na falta de ter o que fazer, os locutores e comentaristas de rádio dedicavam extensas palestras à análise dos desfilantes. Receio que não tenho muito boas recordações desse período, porque, apesar de não faltar aos ensaios e desfiles, nunca consegui assimilar bem os rudimentos da marcha. Melhor dizendo, nunca consegui assimilar nada, acho que é complexo demais para meus neurônios. Até hoje não sei se se começa a marcha com o pé esquerdo ou o direito e se é o esquerdo ou o direito que se pisa em sincronia com o bumbo. Dediquei várias esforçadas noites a decorar, mas na hora sempre esquecia – devo ter feito a festa de vários locutores.

Felizmente, o jovem não servia à pátria apenas nos desfiles escolares. Para quem estava em dia com os estudos e chegava aos 18 anos, havia a oportunidade de entrar para o CPOR, o Centro de Preparação de Oficiais da Reserva. Eu entrei, é claro, mas não cheguei a completar o curso e fui afavelmente desligado pelo comando, não me lembro mais com que caridosa explicação. Recordo apenas que eu tinha sido escolhido para compor um grupo de estudantes convidado a uma viagem aos Estados Unidos e que um major, com ar aliviado, me chamou para comunicar que o Exército não iria criar dificuldades. Pelo contrário, esperava ele que eu representasse dignamente o CPOR da Bahia no exterior.

– O senhor quer que eu venha aqui depois, para fazer um relatório?

– Hein? Não! Não, não precisa, meu filho. Você viaja, volta e se apresenta de novo no ano que vem.

– Me apresento aqui?

– Não! Não, aqui não. Se apresente para o exame médico.

Exame médico esse ao qual compareci devidamente e no qual, ao contrário do que ocorreu com o primeiro, fui reprovado. Até hoje não entendi o motivo para essa discriminação, que me impediu de me exibir às contemporâneas em meu vistoso uniforme de aspirante, usando óculos ray-ban e imitando o jeitão com que o General MacArthur aparecia no cinema. Assalta-me sempre a suspeita de que o então capitão Sampaio, um dos meus instrutores, esteve por trás do complô contra a minha volta aos quadros das Forças Armadas. Nós até que nos dávamos bem, mas é possível que ele ficasse um pouco impaciente com o fato de que, apesar de vigorosamente repreendido, eu esquecia e só chamava o fuzil de “espingarda”, o que, para o capitão, era pior do que dizer que Napoleão, seu ídolo, não entendia nada de guerra. Além disso, como se sabe, o bom soldado tem que ter familiaridade com seu armamento, mas eu nunca acertei a desmontar e remontar meu valente mosquetão. Só ia até o percussor. Quanto ao resto, se me forçassem, eu acabava espalhando peças suficientes para fabricar mais dois fuzis.

Lembro que, no segundo exame médico, fui incluído num tal grupo D e que um colega me explicou que era D de Deficiente. Não é, como descobri depois de anos escondendo a humilhante pecha, é de Definitivamente Incapaz, mas não sei qual o pior, para um ego em perene mau estado de conservação. Bem, fiz o que pude para servir à pátria, não dei muita sorte. E até hoje estou pronto para servir da forma que puder, basta me dizerem o que devo fazer. Aliás, pensando melhor, não me digam nada.

GOSTOSA

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PAINEL DA FOLHA

Canais para Dilma

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 06/09/09

Anunciada na quarta pelos ministros Márcio Fortes (Cidades) e Dilma Rousseff (Casa Civil), a lista dos 90 municípios escolhidos para receber R$ 4,5 bilhões do PAC do saneamento inclui 84% de prefeituras controladas por partidos aliados ao governo federal. Dessa fatia majoritária, metade é comandada pela dupla PT (19) e PMDB (20), esteio da candidatura presidencial de Dilma. Em compensação, apenas 14 das cidades beneficiadas (mais o Distrito Federal) são administradas por siglas de oposição (PSDB, DEM e PPS).
As obras, de esgoto e abastecimento de água, serão inauguradas em municípios com densidade eleitoral (mais de 50 mil habitantes) em 19 Estados.

Reduto - Um dos alvos do PAC do saneamento é São Paulo, Estado governado pelo pré-candidato tucano José Serra. Será 1,1 bilhão para 13 municípios, contra R$ 486,5 milhões destinados ao Rio e R$ 437,7 milhões a Minas.

Critério - Segundo o governo, a seleção dos municípios priorizou ‘ações em estágio avançado de planejamento’.

Bolt - Habituado a fazer em ritmo acelerado o percurso entre o gabinete da presidência da Câmara e o plenário, deixando repórteres para trás, Michel Temer (PMDB-SP) levou uma canseira de Dilma em caminhada na orla do lago Paranoá. ‘Se for vice, terá de melhorar o condicionamento’, brinca um aliado.

Vida real - Em privado, líderes do PT e do PMDB abandonam o debate ‘ideológico’ para reconhecer que o regime de urgência imposto à tramitação dos projetos do pré-sal terá a utilidade de apressar a partilha de cargos na nova estatal a ser criada para o setor.

Vem cá - Sérgio Cabral (PMDB) convidou a bancada fluminense do PT para um almoço amanhã. Tenta neutralizar a pré-candidatura ao governo de Lindberg Farias, prefeito de Nova Iguaçu.

Pré-campanha - Prestes a se filiar ao PMDB, legenda pela qual gostaria de concorrer ao governo de São Paulo, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, está no ar como protagonista de comerciais do Sesi (Serviço Social da Indústria).

Sangue nos olhos - Em conversa recente, os irmãos Ciro e Cid Gomes sondaram Lula sobre a possibilidade de a aliança PSB-PT-PMDB lançar apenas o peemedebista Eunício Oliveira ao Senado pelo Ceará, de modo a facilitar a vida de Tasso Jereissati (PSDB). Lula respondeu que, por ele, o ministro petista José Pimentel concorrerá justamente para derrotar o tucano.

Camaleão - A despeito de sua estridência oposicionista no Senado, Demóstenes Torres (DEM) está se aproximando do PP, sigla do governador Alcides Rodrigues pela qual o presidente do BC, Henrique Meirelles, planeja disputar a sucessão em Goiás. Demóstenes até ensaiou se reconciliar com o PSDB de Marconi Perillo, mas o líder do DEM na Câmara, Ronaldo Caiado, é rompido com o senador tucano.

Sinto muito - A direção do PSDB informou a Eduardo Azeredo que precisará de sua vaga para compor a chapa ao Senado em Minas, sugerindo-lhe disputar cadeira na Câmara. O governador Aécio Neves está de acordo, mas não foi o portador da má notícia.

Plantão - Os casos de gripe (não necessariamente suína) registrados pelo serviço médico da Câmara aumentaram 30% em agosto, na comparação com o mesmo mês do ano passado. O Tamiflu foi receitado a 607 pessoas.

Tiroteio

Após desmoralizar o Senado, Lula exagerou ao abençoar os bispos contraventores da Igreja Renascer. Como diz a Bíblia, “a soberba é a véspera da ruína’.
Do deputado federal ROBERTO MAGALHÃES (DEM-PE), sobre o evento em que o presidente e Dilma Rousseff fizeram uma oração com Sônia e Estevam Hernandes pela recuperação da saúde da ministra.

Namoro no palanque

Em discurso feito em Vitória (ES) na terça-feira, no encerramento do fórum Brasil-Alemanha, Lula enumerou o que seriam as paixões do brasileiro:
- Todo mundo quer casar, ter uma casa e um carro. E agora tem a quarta paixão, que é ter um computador.
Segundo o presidente, o governo está ajudando a resolver, por meio de programas oficiais, as questões da casa e do computador. No que diz respeito ao carro, há incentivos à indústria. E até casar já estaria mais fácil:
- O povo, na hora em que vai comendo, vai ficando mais bonito. Então resolvemos esse problema.
Foi então que alguém da plateia emendou:
- É o programa ‘Minha Gata, Minha Vida’.

LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO

Pequenos detalhes

O GLOBO - 06/09/09

Marshall McLuhan (lembra dele?) tinha uma tese sobre a importância do estribo na história do mundo. A invenção do estribo dera, por assim dizer, acesso ao cavalo à aristocracia e inaugurara uma porção de coisas – além, claro, da cavalaria. Era um exemplo do pequeno detalhe que muda tudo, no caso o transporte humano e a maneira de se fazer guerra. Sem o estribo não existiriam nem Napoleão nem Dom Quixote nem estátuas equestres, e de nada adiantaria ao Ricardo III de Shakespeare implorar por um cavalo, pois só um cavalo não o salvaria. Implicitamente, o que ele gritava era “Meu reino por um cavalo – com estribo!”.
Pula daí para o mundo do jazz. Não me peça explicações, o texto é meu e eu pulo para onde quiser. Até hoje se credita a gente como Charlie Parker, Dizzy Gillespie, Bud Powell e Thelonious Monk a invenção do be-bop no fim da década de 40. Mas o que deu, literalmente, impulso à nova maneira de se fazer jazz foi uma revolução na levada da bateria inventada por Kenny Clarke. Um pouco por autopreservação – seria impossível acompanhar o ritmo vertiginoso de algumas das composições do bop com o quatro por quatro tradicional marcado no bumbo –, Clarke mudou a marcação para o címbalo, providenciando uma base mais arejada, variada e propulsiva para o grupo. Todos os bateristas do be-bop seguiram a inovação de Clarke. Sem ele o bop não se criaria, ou não seria o que foi. Outro exemplo do pequeno detalhe que muda tudo. Clarke integrou a formação original do Quarteto de Jazz Moderno mas saiu cedo. Emigrou para a França, onde morreu
em 1985.
De certa maneira, a batida de violão do João Gilberto naquele disco da Elizete Cardoso corresponde à nova levada do Clarke. Também foi um detalhe que causou uma revolução. A bossa nova tem muitos antecedentes e muitos pais mas é, antes de mais nada, filha de uma batida, a do samba depurado do João Gilberto. A base era uma só, e, como a do Kenny Clarke, mudou tudo. E nenhum dos dois sabia que estava inventando o estribo.
O CORRETO
Não quero confundir ainda mais a questão, mas se a perfuração virá de cima para baixo não seria mais correto chamar o pré-sal de pós-sal? Se entendi bem, a sonda primeiro atravessa água, depois o fundo do mar, depois pimenta, cominho, orégano, coentro, rosmarinho, um pouco de sálvia e finalmente sal e só então chega ao óleo. Já que vai ser tão difícil vamos ao menos acertar a semântica, gente.

DORA KRAMER

Até que a urna os separe

O ESTADO DE SÃO PAULO - 06/09/09

Alianças partidárias não são renováveis automaticamente, não têm validade eterna e seus signatários podem perfeitamente desfazer a parceria sem que isso signifique traição ou insidiosa quebra de compromisso. Afinal, união não é fusão. São essas basicamente as linhas gerais do discurso do PMDB para o caso de o partido não poder ou não querer apoiar a candidatura patrocinada pelo presidente Luiz Inácio da Silva à sua sucessão numa coligação formal.

Isso, no entanto, não quer dizer que esteja no horizonte do PMDB – ao menos por enquanto – a possibilidade de a legenda vir a se juntar oficialmente a uma chapa de oposição a Lula. Para isso o partido precisaria tomar essa decisão desde já, saindo do governo, coisa que está fora de cogitação para os peemedebistas.

Há três hipóteses postas na mesa: aliança formal com Lula, candidatura própria e liberação geral, cabendo a cada seção regional decidir o que fazer. A primeira depende primordialmente de Lula dar ao PMDB a vaga de vice na chapa de sua candidata (ou candidato). Sem a vice, a cúpula não vê como convencer o partido a aprovar a aliança que careceria, assim, de justificativa.

Esse é um argumento. Outro, de mais peso, é o seguinte: fora da chapa, o partido ficaria refém das pressões do PT durante a campanha pelo apoio do presidente Lula nos estados. Como parceiro formal, o PMDB teria muito mais força e influência. Inclusive como uma ameaça permanente de se tornar uma fonte de crise na chapa caso o PT lhe crie problemas.

Além disso, a aliança formal daria visibilidade à “marca do partido”. A segunda hipótese é a candidatura própria, cujos obstáculos são os de sempre: falta de nomes e ausência de ousadia partidária para bancar um projeto solo, ainda que para fortalecer a legenda participando no primeiro turno e depois negociando apoio com um dos finalistas.

Ainda assim, o partido contratou uma pesquisa ao Ibope para, entre outras coisas, saber das chances de lideranças como o ministro Hélio Costa; o presidente da Câmara, Michel Temer; e o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. É uma carta, no momento vista como de difícil entrada no jogo.

A terceira possibilidade, a da liberação geral, é tida hoje como a pior. O partido perderia a chance de fazer uso do substancioso tempo de televisão que seria distribuído entre os outros candidatos e reforçaria a imagem de agremiação desfrutável.

Como não faz parte do cardápio a coligação oficial com o PSDB, os pemedebistas estão atentos ao ambiente na seara do presidente Lula. Se a candidatura “pegar” e for oferecida a vaga de vice, embarcam.

Se a situação se complicar, política e eleitoralmente fa lando, e o PT insistir em apresentar candidatos ao governo em todos os estados, o partido decretará findo o compromisso. Mas, de maneira engenhosa, esperando que Lula forneça o pretexto ideal quando, e se, tiver de optar entre os palanques do PT e do PMDB nos estados.

Arrasa-quarteirões

A candidatura do deputado Ciro Gomes à Presidência da República não é vista apenas como prejudicial aos planos do presidente Lula para 2010. É tida como potencialmente devastadora. Porque, em tese, Ciro avançaria sobre o eleitorado do Nordeste, a base de Lula para equilibrar a vantagem da oposição em São Paulo e Minas Gerais.

Em contrapartida, o tucanato recebe dados de pesquisas indicando que a candidatura da senadora Marina Silva pode ter um efeito muito mais danoso para a candidatura do PSDB do que para o PT. A ex-ministra do Meio Ambiente roubaria votos do eleitorado mais informado, que votou e não vota mais no PT, mas tem uma memória de aversão ao governo Fernando Henrique Cardoso. Esse pessoal em princípio ficaria com José Serra, mas boa parte dele por falta de opção, o que a entrada de Marina na disputa poderia vir a resolver.

Nuvem passageira

É meramente cenográfica a “movimentação” do Palácio do Planalto em prol da volta da CPMF, sob nova denominação (CSS). Da mesma forma que entrou em pauta – pelas mãos do ministro da Saúde, José Gomes Temporão –, o tema sairá da agenda. Por inércia.

O governo continuará dizendo que o assunto é da alçada do Congresso e o Congresso simplesmente não fará coisa alguma. Nem passa pela cabeça dos partidos governistas aprovar a volta de um imposto cuja cobrança seria iniciada em ano eleitoral.

A oposição bem que gostaria, mas não ganhará de presente o engajamento do presidente Lula nessa causa (perdida).

Fim da linha

Avaliação corrente na cúpula do PMDB: o caso Sarney morreu. Sob todos os aspectos. Está enterrada a possibilidade de retomada da ofensiva em favor do afastamento do presidente do Senado.

Em compensação, está sepultado também o poder de influência do senador. Dentro e fora do partido.