quinta-feira, julho 02, 2009

MERVAL PEREIRA

Em busca de um nome

Merval Pereira - Merval Pereira
O Globo - 02/07/2009

Nunca foi tão verdadeiro o axioma da política brasileira pós-democratização de que não é possível governar sem o apoio do PMDB, embora o partido não tenha capacidade de eleger o presidente. Um outro PMDB, o de Ulysses Guimarães e Tancredo Neves, chegou ao poder através de uma eleição indireta, mas acabou entregando o governo a um recémchegado, o senador José Sarney, que rompeu com o PDS do qual era presidente para liderar a Frente Liberal, uma dissidência fundamental para levar Tancredo à Presidência. Pela legislação da época, o vice tinha que ser do mesmo partido do candidato a presidente, e Sarney filiou-se ao PMDB, de onde nunca mais saiu e onde fincou raízes como um de seus principais líderes, se não o principal.

Hoje, a relação de dependência do presidente Lula com o PMDB do senador José Sarney cada vez mais se parece com a que o então presidente Sarney teve com o PMDB de Ulysses Guimarães.

Naquela ocasião, Ulysses Guimarães, que presidia a Câmara e poderia ter ficado no lugar de Tancredo, aceitou a interpretação do que chamou de “jurista do Sarney”, o ministro do Exército, general Leônidas Pires Gonçalves, e deixou que o maranhense assumisse provisoriamente a Presidência na ausência de Tancredo, situação que se tornou definitiva com a morte dele. Mas Ulysses manteve seu poder de veto no governo.

Diante da crise em que se vê envolvido, Sarney aguarda a chegada do presidente Lula da África para bater o martelo com ele sobre a melhor saída para preservar essa aliança política que tem um objetivo maior, o de garantir o apoio do PMDB à candidatura de Dilma Rousseff em 20
10.

Parece praticamente impossível que a simples presença de Lula em Brasília debele a crise política que só fez crescer nos últimos dias, embora a simples proximidade já tenha feito o PT mudar de tom.

Pela manhã, uma comissão do PT comunicou a Sarney que a maioria da bancada do partido no Senado gostaria que ele se afastasse da presidência para que uma comissão suprapartidária comandasse ampla reforma administrativa na Casa.

Lá da Líbia, o presidente Lula deu o recado: a saída de Sarney só beneficiaria o PSDB, que tem no senador Marconi Perillo o vice-presidente da Mesa Diretora do Senado.

Os petistas, receosos do contágio de Sarney na eleição de 20
10 — a campanha “Fora, Sarney” já virou moda no Twitter —, mais receosos ficaram ainda da reação do presidente Lula e recuaram da proposta.

Aguardam a chegada do “nosso guia” para resolver a questão, que tem que ter uma solução que não magoe Sarney nem deixe o PMDB com disposição de trair, que é seu esporte favorito, com ou sem motivo.

A saída de Sarney parece inevitável, mesmo porque, se ele teimar em permanecer no cargo, tudo indica que o bombardeio continuará pesado. Até mesmo o DEM, simpatizante da candidatura Sarney, agora não apenas retirou o apoio como ameaça levar o caso ao Conselho de Ética do Senado se sua premissa de uma investigação isenta não for aceita.

A questão agora é como encontrar uma saída honrosa para Sarney, que leve a uma nova eleição, e garantir que o próximo presidente do Senado seja um aliado do governo, de preferência do PMDB ou com seu apoio irrestrito.

O PT, no afã de enviar para seu eleitorado um sinal de que não estava comprometido com a administração Sarney, esqueceu-se do “dia seguinte”, isto é, de que quem assumiria a presidência do Senado durante a licença dele seria o representante do PSDB, coisa que Lula não quer.

Especialmente por se tratar do ex-governador de Goiás Marconi Perillo, que lhe causou grandes problemas na época do mensalão, quando revelou que o havia alertado sobre a existência do esquema de compra de votos na Câmara.

Lula teria respondido que esse esquema era atribuído ao ex-ministro tucano Sérgio Motta.

Foi também no mensalão que se cristalizou a amizade entre Sarney e o presidente Lula, quando este estava pressionado pelos fatos, e pelos seus próprios correligionários, a fazer acordo para não ser impedido na Presidência.

Os então ministros Antonio Palocci e Márcio Thomaz Bastos chegaram a sugerir que ele se comprometesse a não se candidatar a reeleição para poder terminar seu mandato.

Lula recebeu a solidariedade irrestrita de Sarney, que era o presidente do Senado na ocasião e disse que renunciaria ao cargo junto com ele se fosse preciso.

O prestígio de Sarney ficou explícito quando conseguiu nomear o senador Edison Lobão para o Ministério das Minas e Energia num momento delicado da energia no país. E foi o de Lobão o primeiro nome a ser pensado pelos correligionários do governo para ser lançado como candidato do PMDB à sucessão de Sarney no Senado, hipótese improvável já que seria como mantê-lo no lugar.

A questão agora parece ser encontrar um nome que possa resistir à ofensiva da oposição, aglutinar a base aliada e manter a aliança PT-PMDB intacta.

O DEM, que fez um acordo heterodoxo com o PT para eleger Sarney, já está descomprometido com sua presença na presidência do Senado e articula uma candidatura alternativa.

Qualquer dos lados, na definição do líder do DEM, senador Agripino Maia, terá que escolher um nome que seja “muito parecido com Jesus Cristo”, e, se for mulher, com “Nossa Senhora”, porque, se não, será triturado pelas denúncias. E está difícil achar esse exemplar entre os 8
1 senadores de Brasília.

ARI CUNHA

Progresso do espírito humano


Correio Braziliense - 02/07/2009


Pedi a Octaciano Nogueira, estudioso da vida política e administrativa do Brasil, informações sobre a história da imprensa e da política. A explicação do historiador: Justiniano José da Rocha, que para o Barão do Rio Branco foi “o primeiro dos jornalistas de seu tempo”, escreveu em seu mais conhecido texto que, “na eterna luta da autoridade com a liberdade há períodos de ação, períodos de reação, por fim períodos de transação em que se realiza o progresso do espírito humano e se firma a conquista da civilização”. Assim foi ao longo de nossa historia. À escravidão sucedeu a abolição. Às ditaduras seguiram-se sempre as aberturas. Assim são as crises, tempestades da história, depois das quais vem sempre a bonança. O que vale para as instituições, porém, não vale para os homens. Elas não afetam o destino e o caráter dos que as integram. Mas defeitos e virtudes dos seus responsáveis podem decidir sua boa ou má sina. Podem, inclusive, selar seu destino. Os parlamentares não estão isentos desse fato. Quaisquer que sejam seus defeitos, eles sempre sobreviverão às vicissitudes que podem levá-los do domínio da aristocracia, à servidão da burocracia.

A frase que não foi pronunciada


“O beijo da morte, o canto da sereia, o ovo da serpente.”
Professor Cassiano Nunes, de onde estiver, analisando as notícias do mês.


Sobre revolta médica
Leia no blog do Ari Cunha mais informações sobre a irregularidade das entidades médicas propondo cobrança de atendimento
diretamente do doente.

Rolando
Se depender do ministro Orlando Silva, do Esporte, Brasília não terá metrô de superfície. Ele deu a entender que o GDF está se aproveitando da Copa para financiar projetos muito caros. Se o ministério não vai desembolsar um tostão para o projeto, o governador Arruda buscará apoio no exterior. Mesmo que depois a glória fique com o governo federal.

Lero
Por falar nisso, há uma proposta do senador Expedito Junior que determina, além de outras iniciativas, medidas de compensação para a emissão de gás carbônico durante a Copa de 2014.

Olhos abertos
Enquanto as bolsas asiáticas fechavam em baixa, a de Hong Kong não abriu. A estratégia começa a chamar a atenção do mercado.

Olho grande
Em São Paulo já é fato. Hospitais particulares vão atender pacientes com a gripe suína. Em Brasília, a voracidade na hora de faturar é tanta que não vale a pena o governo se arriscar a dividir responsabilidade.

Absurdo
Continua a liberdade sem freios na cobrança de taxas em estacionamentos. Não faz sentido hospitais e escolas cobrarem dos carros que utilizam os estabelecimentos. É o dinheiro mais fácil que existe. Sem contar áreas públicas invadidas que, cercadas, se valem da falta de regras.

Novidade
Ministro Haddad, da Educação, anuncia novidades no ensino médio. O Conselho Nacional de Educação aprovou a proposta do MEC de reformulação da grade curricular. Além de aumentar o número de horas de aula por ano, os jovens vão poder escolher 20% das disciplinas em que quiserem se aprofundar.

2010
Em 4 de julho de 1994 o dólar custava R$ 0,94. Ainda assim, há muito que comemorar nesses 15 anos de Plano Real. Mesmo que a colheita seja feita por quem não plantou. Permanece a atenção no ajuste fiscal. Não há garantia de que o Estado gastará menos do que arrecada.

Estranhos
Manuel Zelaya escapou ileso de dois incidentes. Um quando estava dentro do carro saindo da base da Força Aérea hondurenha. Seu veículo foi atingido por objetos estranhos. Venceu também o incidente confuso ao desobedecer a Suprema Corte, demitindo o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, general Romeo Vasque. Deposto por um golpe, tem a ONU, a OEA, os EUA e o resto do mundo a seu favor.

História de Brasília


A posse mais original de ministro que houve até agora foi a do sr. João Agripino no Ministério de Minas e Energia. Ele não tem gabinete, não tem funcionários, não tem móveis, não tem nada, enfim. Foi uma posse simbólica. (Publicado em 3/2/1961)

GOSTOSA


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CARLOS ALBERTO SARDENBERG

FHC e Lula


O Globo - 02/07/2009

O presidente Lula patrocinou dois aperfeiçoamentos importantes no conjunto do Real. Primeiro, o programa de compra de reservas, iniciado em 2003, quando começaram a sobrar dólares nas contas brasileiras. O segundo foi elevar o presidente do Banco Central ao nível de ministro de estado, o que conferiu mais autonomia e poder ao condutor da política monetária. Outro avanço paralelo foi o conjunto de reformas microeconômicas, como as novas regras do crédito imobiliário, que melhoraram o ambiente de negócios.

O resto é FHC. A responsabilidade fiscal, primeira perna do tripé, começou a ser construída em 1995, com a reestruturação da dívida de estados e municípios, encorpou com as metas de superávit primário (iniciadas em 1998) e completou-se com a crucial Lei de Responsabilidade Fiscal, de 2000.

O câmbio flutuante começou torto, em meio à crise de 1999, mas acabou emplacando. E o regime de metas de inflação, a terceira perna, começou a funcionar há dez anos. Os instrumentos paralelos foram as reformas, inclusive da Previdência, as privatizações, o saneamento do sistema financeiro (1995) e a renegociação da dívida externa pública.

Compreende-se que o governo Lula se tenha fingido de morto diante dos 15 anos da introdução da nova moeda, comemorados ontem. Sobretudo porque as próximas eleições presidenciais colocarão de novo PSDB e PT frente a frente.

Foi a mesma história no início de 1994, quando o então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, expos os detalhes do Plano Real ao então presidente do PT, José Dirceu.

FHC buscava apoio para o que considerava um programa nacional. Dirceu queria saber se o PSDB teria candidato à presidência.

Na ocasião, os tucanos nem tinham candidato. Mas o PT calculou que um sucesso econômico, ainda que provisório, daria forte sustentação ao PSDB, assim como o efêmero Cruzado dera uma ampla vitória eleitoral ao PMDB, em 1986. Acrescente-se que os economistas do PT não eram preparados para esse tipo de teoria (a que sustentou o Real) e Lula acabou sendo levado a um brutal erro de avaliação. Disse que o Real era um pesadelo para os trabalhadores, isso quando os mais pobres se beneficiavam de um enorme ganho de renda com a súbita estabilização da moeda.

O cálculo político do PT estava certo. O Real deu duas vitórias a FHC (94 e 98). Mas a análise econômica estava completamente equivocada, um erro no qual o PT perseverou ao longo do tempo. Criticou e combateu no Congresso e nos tribunais praticamente todas as medidas do Plano Real. Para esquecer tudo quando Lula chegou à presidência.

Como foi possível fazer dessa transição um movimento crível para a sociedade? Primeiro, Lula foi ajudado pelo enorme desgaste que sucessivas crises, locais e internacionais, impuseram ao governo FHC. Inclusive a última, de 2002, quando o mercado se deteriorou pelo medo das políticas econômicas até então pregadas pelo PT, isto gerando inflação e crise externa, que, ironicamente, acabaram ajudando o próprio Lula.

Sua trajetória foi aberta, ainda, pela dificuldade do candidato tucano, José Serra, de lidar com o desgaste de um governo do qual participara e do qual tentou se distanciar.

Mas como os eleitores aprovaram um governo Lula que, eleito em nome da mudança, manteve intactas as bases da política econômica? Dois fatores essenciais: a fantástica onda de crescimento mundial que carregou um Brasil já normalizado com a estabilidade macroeconômica; e a enorme distribuição de renda promovida por Lula com a ampliação do Bolsa Família e, sobretudo, com os aumentos reais do salário mínimo (o governo paga o mínimo para quase 20 milhões de aposentados, pensionistas e outros beneficiários). E mais, paralelamente, as contratações e aumentos para o funcionalismo público.

Mas o fato de Lula ter aderido aos pressupostos do Real — primeiro, por medo e, depois, porque estavam funcionando, e nunca por convicção — trouxe um preço para o país. Lula simplesmente não avançou além daqueles dois aperfeiçoamentos na área do BC. Nenhuma reforma importante, nenhuma providência para continuar a desindexação da economia, nenhum progresso na qualidade dos gastos públicos, nada de reforma tributária. Tudo por fazer.

BRASÍLIA - DF

Nervos à flor da pele
LUIZ AZEDO
Correio Braziliense - 02/07/2009


À beira de um ataque de nervos, o líder do governo na Câmara, deputado Henrique Fontana (PT-RS), pediu ontem ao senador Paulo Paim (PT-RS), a representantes dos pensionistas do INSS e a líderes da base e da oposição, um novo prazo para levar à votação o reajuste dos aposentados e a extinção do fator previdenciário.

O governo não tem dinheiro em caixa para bancar uma previsível derrota no plenário. Fontana propôs que essas matérias sejam votadas apenas em agosto — o acordo era fazê-lo em 8 de julho. E argumenta que a prioridade é a recuperação do salário mínimo até 2023, além de um reajuste vitaminado para as aposentadorias acima de um salário mínimo.

Uma derrota no plenário, avalia, pode desestabilizar a política de investimentos do governo, abrir um flanco na base eleitoral petista e prejudicar a candidatura a presidente da República da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT).

Centrais

Fracassou a negociação do secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci, com a CUT e a Força Sindical para chegar a um acordo sobre os aposentados. A conversa será retomada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que retornou ontem da Líbia.

Motim

Os líderes do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), do PR, Sandro Mabel (GO), do PTB, Jovair Arantes (GO), e do PP, Mário Negromonte (BA), resolveram infernizar os ministros da área econômica. Vão convocá-los a todas as comissões da Câmara, até que liberem as verbas das emendas parlamentares.

Chegaram

O grupo chinês Wuhan Iron & Steel (Wisco), gigante da siderurgia, decidiu instalar no Porto do Açu, em São João da Barra, no norte do Rio de Janeiro, sua mais nova siderúrgica. O negócio, em parceria com o grupo EBX, de Eike Batista, prevê investimentos de US$ 4 bilhões. O governador Sérgio Cabral (PMDB), na China, comemora: serão criados 20 mil empregos na região, base do ex-governador Anthony Garotinho (PSC), seu desafeto.

Eleições

Duas divergências atrapalham a reforma eleitoral formulada pelo deputado Flávio Dino (PCdoB-MA). Uma trata da proibição à veiculação de propaganda eleitoral paga na internet. A outra é punir ou não o partido que não atender cota de 30% das candidaturas de mulheres.

Custo

A derrota do governo na questão dos aposentados tem custo estimado de R$ 35 bilhões
A aprovação do PL 58 de 2003, que atualiza o valor das aposentadorias e pensões do INSS,
R$ 76 bilhões

Abriu


Marco Maciel (foto) resolveu sintonizar a voz rouca das ruas do Recife. Apesar de ausente, deu ao líder do DEM, José Agripino (RN), seu voto a favor do afastamento do senador José Sarney (PMDB-RN) da presidência do Senado.

Brasília, 50 anos


As comemorações de meio século de fundação de Brasília ganharam reforço de peso: o ministro da Cultura, Juca Ferreira (foto), agora preside o Comitê do Patrimônio Cultural Mundial, da Unesco. O comitê, que acaba de se reunir em Sevilha, Espanha, é responsável pelo acompanhamento dos sítios históricos em todo o mundo.

Clima

Agitação no Largo da Carioca, ontem, na esquina da rua do mesmo nome. Nada de “Fora Sarney”, a galera canta e dança curtindo os clipes Bad e Thriller de Michael Jackson numa banca de jornal, cujo dono faz a festa vendendo DVDs “originais” a R$ 12,90.

Sabadão

O Palácio do Planalto quer capitalizar o acordo da redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais em São Paulo. A avaliação do PT é de que a aprovação da proposta servirá de bandeira para Dilma perante o eleitorado de São Paulo.

Sem papo

O presidente da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), Clésio Andrade, pediu à senadora Kátia Abreu (DEM-GO), sua colega de sindicalismo patronal, que preside a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), que retirasse sua assinatura da CPI do Dnit. A senadora negou.

5.000


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CLÓVIS ROSSI

O PT na vanguarda. Do atraso


Folha de S. Paulo - 02/07/2009

Indecente. Pusilânime. Vergonhoso. Que mais se pode acrescentar a respeito do comportamento do PT no episódio José Sarney? Xingar a mãe, não posso. É proibido pela etiqueta desta página.
Mas seria o correto.
Não vou nem lembrar o passado combativo do partido e de seu líder, Aloizio Mercadante, em episódios anteriores à chegada ao governo federal. Esse passado já foi sepultado faz tempo.
Ajuda-memória: pelo episódio do mensalão, o procurador-geral da República, nomeado pelo presidente de honra do PT, um certo Luiz Inácio Lula da Silva, acusou a cúpula petista de formar uma "quadrilha". O Supremo Tribunal Federal, com o voto de ministros também indicados por Lula, decidiu haver indícios suficientes para aceitar a acusação e proceder ao julgamento, aliás em curso.
Fica claro que o passado de supostos campeões da moralidade pública está morto e bem enterrado. Mas o presente podia ao menos guardar um mínimo de coragem, de vergonha na cara. Podia, por exemplo, defender Sarney pura e simplesmente, fosse qual fosse o argumento ou pretexto a utilizar: necessidade de não tumultuar o cenário político, falta de elementos concretos para afastar o presidente do Senado -enfim, qualquer dessas desculpas que os políticos se habituaram a usar para serem coniventes com trambiques.
O que não cabia é deixar de apoiar Sarney mas apenas por 30 dias, que foi o prazo dado pelo partido para o afastamento do presidente do Senado. Tampouco cabia sugerir uma comissão para uma reforma administrativa da Casa, sem menção a punições pelas irregularidades já descobertas e já confessadas.
Se algumas são legais, nem por isso deixam de ser todas vergonhosas, muito vergonhosas. O PT fechou enfim um círculo: passa de suposta vanguarda das massas à cúmplice do atraso.

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PAINEL DA FOLHA

Santinho!!!

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 02/07/09

Destratado por Dilma Rousseff em reunião sobre a Transnordestina, o secretário-executivo da Integração Nacional, Luiz Antonio Eira, pediu demissão em caráter irrevogável. A cena, presenciada por empresários e pelo governador Eduardo Campos (PSB-PE), se deu quando Eira ponderou que, diante do novo cronograma ali acertado (a ferrovia não ficará mais pronta em 2010), seria necessário ajustar também os desembolsos do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste, hoje todo comprometido com a obra.
‘Se o Ministério da Integração acha que vai dispor desses recursos, nem por cima do meu cadáver’, gritou Dilma. Eira tentou se explicar. Os gritos aumentaram, e os termos, pioraram. Quem viu descreve a atitude da ministra como ‘grosseira’ e ‘desrespeitosa’.

Assim não dá - ‘Ou respondia a ela na hora, ou deixava o cargo’, disse Eira a um colega da Casa Civil. Consultor legislativo, ele retornará à Câmara. O episódio criou mal-estar com o PMDB, partido do ministro da Integração, Geddel Vieira Lima, e objeto do desejo de Lula para formar chapa com Dilma em 2010.

Padrão - O desfecho é inédito, mas as cenas de Dilma, não. Recentemente, a ministra falou cobras e lagartos para o presidente da Funasa, Danilo Forte. Em público.

Por aparelhos 1 - Agora cem por cento Lula-dependente, José Sarney (PMDB-AP) ainda não caiu porque o governo não sabe como resolver a sucessão. Sarney percebe isso, daí ter vazado ontem a iminência de sua renúncia.

Por aparelhos 2 - O Planalto está decidido a impedir que a oposição herde a presidência do Senado. Quanto aos nomes do PMDB, dividem-se entre os que não têm a confiança de Lula e os que não aguentariam o escrutínio do noticiário. Há quem se encaixe nas duas categorias.

Veja bem - Nas conversas com DEM e PSDB, os operadores de Sarney ameaçam investigar o passado da primeira-secretaria, feudo ‘demo’, e levar ao Conselho de Ética o líder tucano, Arthur Virgílio.

Nós? Imagina... - O PSDB decidiu não levar adiante a ideia de representar contra Sarney no Conselho de Ética.

Modo de usar - O artigo ‘A faxina ideal’, no ‘Jornal do Senado’, ensina que, para manter a casa limpa, o ideal é ‘começar a limpar de cima para baixo, para não sujar de novo o que acabou de ser limpo’.

Prioridades - Como a chegada de Lula estava prevista para cerca de 21h de ontem, auxiliares apostavam que a anunciada conversa com José Sarney não poderia ser muito longa. Afinal, teria de acabar antes do decisivo jogo do Corinthians na Copa do Brasil, logo depois da novela.

Cartão postal - Lula antecipou de domingo para sexta sua ida a Paris. Quer aproveitar o fim de semana na capital francesa ao lado da primeira-dama, Marisa Letícia.

De véspera - Tucanos tinham escolhido Tasso Jereissati (PSDB), Eliseu Resende (DEM), Aloizio Mercadante (PT), Francisco Dornelles (PP) e Garibaldi Alves (PMDB) para formar o ‘grupo suprapartidário’ que reformularia o Senado. O PT tentou ontem ressuscitar a ideia, bombardeada no nascedouro.

Força maior - A morte do médico e deputado José Aristodemo Pinotti (DEM-SP) ofereceu não apenas um assunto para evitar a discussão do Senado em plenário como um motivo para postergar votações que o governo receia na Câmara, em tempos de insatisfação com o atraso nos repasses das emendas.

Vitrine - O deputado João Maia (RN), em cujo nome foi registrada a mansão do irmão Agaciel, está no ar em inserções televisivas do PR.

Tiroteio

Lula tem todo o direito de demitir ministro por telefone, mas não pode manter o presidente do Senado no cargo por telefone.
Do senador CRISTOVAM BUARQUE (PDT-DF), demitido do Ministério da Educação com um telefonema de Lula, sobre a pressão do presidente, durante viagem à Líbia, para que a bancada do PT não retirasse o apoio a Sarney.

Contraponto

As belas e a fera

Durante recente visita de um grupo de senadores a Estocolmo, Flexa Ribeiro (PSDB-PA) surpreendeu os colegas, que elogiavam a capital sueca, ao comentar:
-É, mas as mulheres daqui não são nada belas...
Inconformado com a opinião, contrária a tudo o que se diz das suecas, Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) protestou:
-Você não entende nada disso!- zombou o ex-governador de Pernambuco, conhecido admirador de misses.
Sérgio Guerra (PSDB-PE) interveio com ironia:
-Deixa ele falar, Jarbas. Ele tem o direito. Afinal, é o ‘sex simbol’ da bancada tucana!

LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO

Além do nariz

O GLOBO - 02/07/09

Certa vez fizeram uma homenagem ao boxeador Joe Louis, na época o negro mais famoso do mundo, e alguém terminou um discurso dizendo que ele era um orgulho para sua raça – a raça humana. Muitos anos depois um cômico diria a mesma coisa de Michael Jackson, mas com uma maldade final. Ele era um orgulho para sua raça – fosse ela qual fosse!
Michael apagara todos os traços da sua raça original do rosto e o resultado não se parecia com nenhum grupo étnico conhecido. Nunca ficou muito claro, sem trocadilho, que rosto ele queria ter. Diziam que seu ideal de beleza era a Diana Ross, uma prototípica negra com feições brancas, mas ele não se contentou em ter seu nariz afilado e seus lábios finos. Continuou branqueando e esculpindo o próprio rosto até transformá-lo na máscara grotesca de um ser indefinível. Talvez procurasse ser de uma raça além da humana.
O dinheiro não traz a felicidade (manda buscar, disse um cínico). Mas há séculos se usa a riqueza para tentar vencer tudo que traz a infelicidade: a feiura, a raça indesejada e outras consequências da fatalidade genética, e o maior inimigo da nossa vaidade, a passagem do tempo. As múmias e todos os elaborados arranjos fúnebres para garantir a eternidade dos faraós existiam para combater esta grande injustiça: de nada adiantavam seu poder e sua fortuna se os faraós se degradavam e acabavam como qualquer servo. Não houve rei ou rico da Idade Média que não investisse na alquimia, que era a ciência de alterar a Natureza das pedras e dos homens, ou pelo menos dos homens que podiam pagar. Hoje existe uma indústria de cosméticos e mágicas rejuvenescedoras que movimenta bilhões e cujo objetivo final é o mesmo dos sacerdotes do Antigo Egito, nos embalsamar contra os estragos do tempo e nos garantir a vida eterna – enquanto dure. Michael Jackson também não achou justo ser rico e poderoso como um faraó e não poder alterar não apenas seu nariz como seu destino.
Martin Luther King resgatou a autoestima dos negros americanos com uma frase, mas Michael Jackson não concordou que black era beautiful. No fim nem se contentou em ser branco, como não se conformou em envelhecer como qualquer um. Foi um grande artista e a comoção causada pela sua morte prematura é compreensível. Mas Michael Jackson foi, antes de mais nada, um trágico herói da insubmissão à vida.

CLÁUDIO HUMBERTO

“[O PSDB] quer ganhar o Senado no tapetão”
PRESIDENTE LULA, AO CRITICAR A OPOSIÇÃO NO SENADO, APÓS OS ESCÂNDALOS MAIS RECENTES

PLANALTO ADMITE MACIEL PRESIDINDO O SENADO
A prioridade de Lula é “salvar” a presidência de José Sarney do Senado, mas já admite a articulação de um acordo político como há muito não se vê no País, elegendo um senador de oposição “confiável e não-golpista”. O substituto de Sarney seria Marco Maciel (DEM-PE), a quem caberia ocupar a vaga de Eros Grau no Supremo Tribunal Federal, em agosto de 2010. Maciel é professor titular da Faculdade de Direito da UFPE.
RENÚNCIA NO STF
O Planalto dá como certa a renúncia do ministro Menezes Direito do STF já em agosto, no máximo em dezembro, para cuidar da saúde.
ANTECIPAÇÃO
O ministro José Antonio Toffoli (AGU), que sonha com a vaga de Eros Grau, seria nomeado para o STF antes, no lugar de Menezes
Direito.
CIRURGIA COMPLICADA
Carlos Alberto Menezes Direito, 67, a mais recente nomeação para o STF, submeteu-se a uma complicada cirurgia no pâncreas, em maio.
OPOSIÇÃO FELIZ
Pelo acordo, Marco Maciel não tentaria a difícil reeleição para o Senado, facilitando a reeleição de outro “confiável”, o tucano Sérgio Guerra (PE).
SARNEY SABE O CAMINHO DAS PEDRAS
A crise do Senado não é o primeiro trauma na vida do ex-presidente José Sarney: o ônibus em que visitava o Centro do Rio, em 1987 foi apedrejado pela multidão aos gritos de “salafrário, está roubando o meu salário”. Na manifestação, organizada pelo PT, CUT e PDT, que agora o defendem, ele feriu levemente a mão. Meses antes, um “badernaço” contra o Plano Cruzado 2 paralisou Brasília, com saques e depredações.
LA VIE EM ROSE
Além do chanceler, Lula levará ao passeio a Paris, dias 6 e 7, Tarso Genro (Justiça), Franklin Martins (Propaganda) e Juca Ferreira (Cultura).
DESNECESSÁRIO
Seguranças do Congresso se dedicaram ontem ao seu esporte favorito: dar sopapos em jornalistas. Agrediram Danilo Gentili, do CQC, da Band.
ESPÉCIE EM EXTINÇÃO
Lula escapou de um grande mico no encontro da União Africana, na Líbia de Muamar Kadafi: o porralouca Mahmoud Ahmadinejad não apareceu.
GESTO SIGNIFICATIVO
O presidente Lula viajou, mas fez um gesto importante: mandou que seu secretário particular, Gilberto Carvalho, acompanhasse a ministra Dilma Rousseff na conversa solidária com José Sarney, presidente do Senado.
HÉLIO NA FRENTE
O ministro petista Patrus Ananias (Fome Zero) começa a tirar o cavalinho da chuva: Lula avisou que a prioridade é garantir palanque para Dilma Rousseff no Estado, apoiando Hélio Costa (PMDB) para governador.
O NUNCA É AQUI
Michel Jackson morreu sem saber: a Terra do Nunca existe, e é no País onde 11 milhões recebem Bolsa Família sem trabalhar. E os que ainda trabalham podem ter a jornada reduzida de 44 para 40 horas semanais.
OLHA QUEM FALA...
Pegou mal Lula dizer no jornal Zero Hora que a ministra do Supremo, Ellen Gracie, perdeu a vaga na Organização Mundial do Comércio por “falta de estudo”. Mas ele se elegeu presidente...
NA SANTA PAZ
O Vaticano aposentou por idade o bispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, 76, que excomungou mãe e médicos pelo aborto de uma menina de 9 anos, estuprada pelo pai. Vai excomungar o gato.
UM BIG BANDIDO
O secretário de Justiça britânico, Jack Straw, negou liberdade condicional ao mentor do “roubo do século”, o inglês Ronald Biggs, 79, e muito doente. Se continuasse no Brasil, acabaria “refugiado político”.
APOSENTADORIA DE MÉDICOS
O Sindicato dos Médicos de Santa Catarina obteve decisão favorável do Supremo Tribunal Federal para aposentadoria especial da categoria no serviço público, criando importante precedente para todos os servidores.
SÓ FICOU ELE
A droga de ministro Carlos Minc (Meio Ambiente) comemorou a saída do colega Mangabeira Unger, que estaria interferindo em assuntos da Amazônia. E era seu concorrente no quesito “o mais exótico” do governo.
BESTIÁRIO BRASILEIRO
Roseana Sarney, acha que o pai é “bode expiatório”. Seria o primeiro exemplar com bigode da espécie.

PODER SEM PUDOR
SARGENTO ELEITORAL
Candidato ao governo do Tocantins em 1994, Siqueira Campos chegou à cidade de Combinado para um comício, mas um sargento da Polícia Militar vetou o ato público: alegou que àquela hora, fim da manhã, o ato era proibido. Não adiantaram as alegações, o homem estava irredutível.
– O senhor é um péssimo cabo... – murmurou Siqueira.
– Não sou cabo, sou sargento! – queimou-se o homem.
– Sargento nada, é cabo. Cabo eleitoral dos meus adversários!, encerrou o candidato.

MÍRIAM LEITÃO

Os neogolpes

O GLOBO - 02/07/09

As Américas fizeram tudo certo no caso de Honduras. Isolaram o governo golpista e exigiram a volta do presidente Zelaya ao poder. Inclusive os Estados Unidos. É fundamental derrotar o golpe, mas a crise de Honduras ilumina outros dilemas da democracia na América Latina. Há dificuldade em aceitar a alternância no poder; o caudilhismo tenta sobreviver; não há renovação da política.

O mais importante no caso de Honduras foi que, numa região assolada pelo golpismo, a resposta dos países e das instituições foi firme, granítica. Os Estados Unidos, que apoiaram os golpes na década de 70, e o governo Bush, que apoiou a tentativa de golpe contra Hugo Chávez, em 2002, ficaram no passado. Barack Obama alterou a rota da política externa e mudou o pêndulo. Em Tegucigalpa, os jornais admitiam já na segunda-feira que o autoproclamado governo de Honduras estava isolado.

O adiamento da volta de Zelaya abre espaço para uma solução negociada. O jornal hondurenho “El Heraldo” divulgou ontem nota das Forças Armadas dizendo que apenas cumpriram ordens judiciais. A operação desmonte do golpe incluiu a interrupção das atividades militares americanas na base que têm no país e a suspensão de empréstimos de organismos multilaterais a Honduras. Foi geral a reação aos golpistas.

Um final feliz para esse tumulto só será completo se incluir um recuo de Manuel Zelaya da sua intenção de não cumprir o determinado pela Suprema Corte.

Há duas formas de conspirar contra a democracia.

Uma é a tosca quartelada, própria dos anos 60, e que voltou a acontecer. A outra é fingir jogar o jogo democrático e ir dilapidando seus fundamentos como a independência dos poderes, a liberdade de imprensa, a alternância no poder. Mesmo que isso seja feito com plebiscitos, é conspiração contra a ordem democrática.

Hugo Chávez representa esse segundo tipo de risco.

Evo Morales, Hugo Chávez, Rafael Correa, Álvaro Uribe, Fernando Lugo são atores novos da política latinoamericana e chegaram ao poder pelo voto. Morales representa grupos que sempre estiveram marginalizados e precisam estar representados; Uribe enfrentou o problema da violência e do terrorismo e teve um desempenho inegável. Lugo representou uma força partidária nova no Paraguai.

Chávez tentou entrar na política invadindo com um tanque o Palácio Miraflores, em 1991. Nunca foi um democrata.

Depois de eleito conspira diariamente contra a democracia.

Os cinco poderiam representar uma renovação do poder, mas em menor ou maior grau caíram em tentação. Ou de mudar as regras para ficar no poder, ou de reproduzir os padrões viciados da velha política. O Brasil está fugindo do primeiro risco, mas não do segundo. Aqui, velhos políticos têm uma indesejável sobrevida, e o governo do PT, que prometeu ser uma renovação ética, aprofundou os vícios dos velhos métodos de fazer política e financiar campanhas. O PT levou ao paroxismo o aparelhamento da máquina pública.

Os jovens que chegam na política não representam necessariamente renovação.

Alguns jovens que conquistam mandatos o fazem escalando ou manipulando movimentos sociais. Vejase o caso do PCdoB que produziu caras novas para a política brasileira. Todos escalaram a UNE onde não há transparência na forma de escolha das lideranças, representatividade do movimento estudantil, nem pluralismo. Em vez de representar os estudantes, passou a ser centro de formação de candidatos do partido. Pela direita, jovens na idade conquistaram mandatos como se fossem capitanias hereditárias. São os filhos da oligarquia.

O derretimento da reputação dos políticos no Brasil é uma sombra que ameaça o futuro da democracia no país. O sistema político não tem sido capaz de dar uma resposta à altura do desafio.

Reformas políticas são apresentadas como maravilhas curativas quando não passam de fórmulas para garantir o poder a quem já o tem. O país está precisando de mais do que a queda do presidente do Senado. Ela é bem-vinda, mas a conciliação com a opinião pública exige algo mais sólido.

A América Latina viu nos últimos anos uma forma insidiosa de ameaçar a democracia: as decisões autoritárias tomadas supostamente em nome do povo.

Foi assim que Evo Morales fez uma constituinte a portas fechadas; que Chávez fecha emissoras de TV, estatiza empresas, arma milícias e se eterniza no poder.

Zelaya seguia o mesmo modelo de fazer na marra o que a Suprema Corte rejeitara.

Errou e foi redimido pelo golpe que, de tão obsoleto e absurdo, fez com que governos diferentes montassem um cerco de proteção ao mandato dele. Zelaya errará de novo se achar que foi respaldado na sua intenção de desrespeitar a Suprema Corte.

A melhor solução para Honduras será os dois lados se submeterem à Constituição do país. Isso criará anticorpos contra as velhas quarteladas e as novas manipulações institucionais. O desfecho do caso de Tegucigalpa vai além de Honduras.

Ele pode mandar um recado aos velhos golpistas de que não tentem de novo, em país algum, algo parecido; e aos seguidores de Chávez de que a neoditadura também não é aceitável na região.

GOSTOSAS


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DORA KRAMER

Sabe com quem fala


O Estado de S. Paulo - 02/07/2009

Ontem fez uma semana que o líder do PSDB diz todos os dias da tribuna do Senado que, descontadas as exceções de praxe, quem não é corrupto ou conivente entre seus pares é covarde.

No primeiro grupo estariam os participantes "ativos" da rede de ilicitudes e favorecimentos chefiada por Agaciel Maia, a quem o senador José Sarney abriu as portas do poder, ao nomeá-lo diretor-geral 14 anos atrás, quando assumiu pela primeira vez a presidência do Senado.

Do segundo, fariam parte os "passivos". Potenciais vítimas da munição de chantagem armazenada por Agaciel na forma de favores prestados - muitos constrangedores, alguns francamente ilegais - ao longo desse período, esses senadores estariam intimidados pelo receio de ter seus pecados revelados.

Basicamente é isso o que tem dito o senador Arthur Virgílio sem que ninguém o conteste. No máximo, um ou outro faz reparos à "agressividade" do tucano, mas de nenhum deles se ouviu até agora um "alto lá, nobre colega, veja como fala", a fim de se excluir daquelas categorias de parlamentar por ele aludidas.

É atitude semelhante à adotada pela direção do PMDB, quando o senador Jarbas Vasconcelos referiu-se ao partido como um centro de interesses ilícitos e/ou ilegítimos. Ali, a opção por não confrontar tinha a finalidade de deixar o dissidente falando sozinho até o efeito da denúncia se dissipar ou, quem sabe, aparecer algum fato capaz de desacreditar o senador.

Tentou-se dar dois ou três passos nesta trilha do descrédito, mas Jarbas Vasconcelos denunciou a manobra e acabou prevalecendo a tese do silêncio como o melhor remédio. Em boa medida sustentada pela ideia de que, sem a apresentação de provas, o testemunho do pemedebista não passava de difamação.

Isso, não obstante as evidências em contrário.

Muito bem. No caso agora dos desafios diários de Arthur Virgílio no plenário do Senado, a situação é bem mais complicada. Impossível de ser ignorada.

Para início de conversa, as acusações são lançadas sobre uma Casa cuja lisura está sob suspeição em virtude de fatos divulgados, sendo vários deles comprovados e a maioria incontestáveis.

O movimento dos partidos em prol do afastamento de Sarney da presidência é a prova material.

Por essa e muitas outras evidências será uma temeridade o Senado fingir que não está ouvindo nada. Todos estão vendo e ouvindo perfeitamente bem. Diante disso, urge alguma atitude.

Se os senadores pretendem continuar simulando indiferença, terão de deixar claro que o fazem com base em um de dois pressupostos: ou o senador Arthur Virgílio enlouqueceu ou tenta se defender do abrigo que deu a um funcionário fantasma difamando o restante da Casa.

Em nenhuma das duas hipóteses ele serviria para ser senador, muito menos líder de um partido que tem chance de ganhar a presidência da República no ano que vem.

Se está louco e delira, deve ser interditado. Se mente e avilta a instituição, merece abertura de processo no Conselho de Ética por quebra de decoro parlamentar.

Agora, se continua na liderança é porque priva da confiança de sua bancada. Se não é alvo de processo, é porque a Casa recebe seus desafios como adequados e concorda com a divisão do Senado em duas categorias de parlamentares: os que se calam por covardia e os que silenciam por assumida vilania.

Este último grupo não tem jeito. Só sobrevive se jogar na linha do menor prejuízo possível. A indispensável virada estaria, portanto, nas mãos daquela outra ala. Mas, para isso, ela precisaria sair da toca e se dispor a enfrentar as dores de uma ruptura mais profunda.

Desse modo é inusitado que um senador suba diariamente à tribuna para apontar a existência de corruptos e covardes no colegiado sem que se sinta ofendido o suficiente para contestá-lo nem indignado o bastante para apoiá-lo.

À MODA DA CASA

A absolvição do deputado Edmar Moreira no Conselho de Ética corrobora a tese do "vício insanável" da amizade por ele defendida quando no posto de corregedor da Câmara e reforça a proposta de que os julgamentos por quebra de decoro sejam feitos na Justiça e não mais no Parlamento.

Pelo pior dos motivos: a perda da legitimidade e de autoridade do Legislativo para julgar a conduta dos parlamentares.

O relator Nazareno Fonteles pediu a condenação do deputado por uso indevido da verba indenizatória com base na quebra dos princípios constitucionais da probidade e impessoalidade.

A maioria do conselho o absolveu tomando como referência o regimento interno, que à época não explicitava o que era proibido ou permitido fazer com aquele dinheiro.

Entre a Constituição e o regimento interno, a Câmara dos Deputados manda às favas o artigo primeiro da Carta: "Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição."

ANCELMO GÓIS

VOOU AQUI

O GLOBO - 02/07/09

Esse Airbus A310 da Yemenia Air que caiu no Oceano Índico voou no Brasil, acredite, de junho de 1998 e setembro de 1999, pela companhia miúda Passaredo, de Ribeiro Preto.
ALIÁS...
Os cariocas, que, muitas vezes, para viajar ao exterior, têm de ir a São Paulo embarcar em Guarulhos, curtem a forra.
Passageiros paulistas da TAM para Miami, com medo do Airbus, têm preferido, segundo agências, embarcar do Rio. É que, nesta rota, em Guarulhos, a voadora usa Airbus. Já no Galeão, Boeing. Calma, gente.
CAIXA FORTE
A BRMalls, fundo que já comprou dezenas de shoppings no País, levantou ontem R$ 500 milhões numa emissão de ações.
Com R$ 800 milhões que já tem em caixa, o fundo chega a R$ 1,3 bi, que deve usar também em aquisições de shoppings.
SEGUE...
O que se diz é que é a própria BRMalls deve comprar os 49% do americano GGP na Aliansce Shopping Centers (Via Parque, Shopping Leblon, entre outros).
SARNEYLÂNDIA
O PSOL leva às ruas a partir de amanhã uma maquete de uma cidade fictícia chamada... “Sarneylândia, distrito Renânia”.
NO MAIS
O Plano Real fez 15 anos e o governo Lula não patrocinou nenhuma homenagem, mesmo sabendo que debelar a inflação significou melhorar a vida de todos, principalmente dos pobres.
NO RINGUE DO SENADO
Do senador Wellington Cabelo Salgado ao colega tucano Arthur Virgílio, que atacava Sarney:
– Meu caro líder Arthur, tenho muito respeito por V. Exª, e não é porque V. Exª luta jiu-jítsu, mas por suas... ideias.
Ah, bom!
GOIS NA FLIP 1
A portuguesa Leya desistiu da proposta de compra de 50% da Nova Fronteira.
GOIS NA FLIP 2
Lygia Fagundes Telles anda chateada com Maitê Proença. É que a atriz estreia sexta peça no Rio chamada As meninas.
Embora sejam histórias diferentes, é o mesmo nome do famoso romance de Lygia, que, aliás, terá adaptação para teatro em outubro, em São Paulo.
GOIS NA FLIP 3
Gay Talese, o supercoleguinha americano, estrela da Flip, chegou a Paraty cheio de amor para dar, disposto a assistir às 19 mesas de debates.
Mas um flipeiro da antiga deu um bom conselho: “Rapaz, faz isso não...”.
GOIS NA FLIP 4
Este ano, o Oi Futuro patrocina a Flipinha e a FlipZona, que atraem cada vez mais público.
SAARA E A GRIPE
O Saara, shopping popular a céu aberto no Rio, resolveu fazer do limão da gripe suína a sua limonada.
Iniciou ontem em sua rádio uma campanha que diz: “Por causa da gripe, é perigoso ficar em local fechado. Por isso, aproveite o maior shopping... arejado da América Latina”. É. Pode ser.

QUINTA NOS JORNAIS

- Globo: Sarney já admite sair e Lula acusa oposição de golpismo

- Folha: Sarney ameaça governo com renúncia

- Estadão: Sarney espera Lula para definir renúncia

- JB: Classe média para de crescer

- Correio: Boicote a planos de saúde ganha força

- Valor: Acordos poupam milhares de empregos na indústria

- Estado de Minas: Era uma vez... a ética

- Jornal do Commercio: Dom Fernando chega para vaga de Dom José