CLÓVIS ROSSI

Madoff e a inveja


Folha de S. Paulo - 30/06/2009

A condenação do megavigarista Bernard Madoff a 150 anos de prisão é o tipo de acontecimento que dá uma baita inveja do funcionamento do sistema legal norte-americano. Madoff é claramente o "branco de olhos azuis" que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva culpou pela crise.
Com uma agravante: ele deu um golpe, ao passo que os outros "brancos-de-olhos-azuis" se mexeram nos estritos limites da legalidade de um capitalismo desregulado e, por isso mesmo, selvagem. Madoff não é nem pobre nem negro -e, não obstante, vai para a cadeia perpétua.
Perpétua porque -e aqui há outro elemento a invejar- a legislação norte-americana determina que liberdade condicional só mesmo após cumprir 80% da pena. Significa que Madoff só ficará livre se sobreviver 120 anos.
Terceiro elemento para inveja: até aqui, as autoridades recuperaram US$ 1,2 bilhão do total de US$ 13,2 bilhões de seus golpes. No Brasil, desnecessário lembrar, nunca ninguém recupera nada de golpes dados contra o erário -e Madoff fez os seus trambiques contra particulares, não contra os cofres da nação.
Note bem, caro leitor, que eu não tenho na boca o gosto de sangue.
Nem acho que criminosos dessa estirpe devam ser necessariamente condenados à prisão. Prisão é para quem representa risco de vida para os demais. Pode-se alegar que, com seus golpes, Madoff pôs em risco a vida de quem a ele confiou seu dinheiro. OK, mas a punição mais adequada é obrigá-lo a devolver tudo o que roubou. Enquanto não o faz, aí, sim, que fique na cadeia.
Note também, leitor, a rapidez com que o caso se resolveu. No Brasil, qualquer rolo envolvendo gente de olhos azuis e colarinho branco leva séculos para ir a julgamento -quando vai. E nenhum Madoff tapuia jamais foi preso.

PAINEL DA FOLHA

Não aos executivos

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 30/06/09

A ideia, várias vezes manifestada por Lula, de adotar soluções caseiras na substituição dos ministros que serão candidatos em 2010 esbarra na resistência dos partidos, preocupados com sua representatividade na Esplanada durante o ano eleitoral.
Pilar de sustentação do governo e parceiro preferencial da candidatura de Dilma Rousseff, o PMDB tem duas preocupações principais: as substituições dos ministros Geddel Vieira Lima (Integração Nacional) e Reinhold Stephanes (Agricultura). São pastas com visibilidade e verbas, mas com secretários-executivos de perfil pouco atrelado ao partido. O PMDB quer uma saída diferenciada pelo menos nesses casos.

Mãos atadas - Aloizio Mercadante convocou a bancada do PT para uma reunião hoje sobre a situação política do Senado. A todos o líder tem pedido calma e ‘ação conjunta’. Atado a Lula, o partido não dará nenhum passo contra José Sarney (PMDB-AP), por mais frágil que esteja o presidente da Casa.

Real e virtual - A página de José Agripino no Twitter dá ideia da pressão que o líder do DEM vem sofrendo por sua histórica ligação com Sarney. ‘Em Mossoró e nas demais cidades, muita indignação com a situação de Sarney perante o Senado’, postou o ‘demo’, que no início do ano costurou o apoio do partido à eleição do peemedebista.

Lembra? - Carlos Homero Vieira Nina, subchefe de gabinete de Arthur Virgílio que disse ter feito uma ‘vaquinha’ para pagar o dinheiro emprestado pelo então diretor-geral Agaciel Maia ao líder tucano, foi apelidado no Senado de ‘Paulo Okamoto do Arthur’. O presidente do Sebrae declarou ter pago dívida de R$ 29 mil de Lula com o PT.

Outro lado - Sílvia Lígia Suassuna não é sobrinha de Ney Suassuna (PMDB-PB), e sim sua prima distante. O ex-senador nega ter intercedido por sua contratação na Casa.

Ufa! - Desde sempre incomodado com as ideias e as andanças de Mangabeira Unger, o Itamaraty festejou discretamente a saída do ministro.

Vara curta - O ministro José Múcio (Relações Institucionais) está particularmente preocupado com a revolta na base aliada diante da escassez na liberação das emendas. Sua indicação para o TCU terá de passar pelo Congresso.

Deixa pra lá - Líder do governo na Câmara, Henrique Fontana (PT-RS) tentará convencer os aliados a retirar da pauta a extensão do projeto de valorização do mínimo para todas as aposentadorias, pesadelo do Planalto.

Balanço - Lula convocou reunião ministerial em julho.

PSDB de massas - Geraldo Alckmin prestigiou evento do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Construção Civil de SP no qual o presidente, Antonio de Sousa Ramalho, ingressou no PSDB.

Seus problemas... - Na reunião de coordenação política, da qual participou para dar informe sobre a gripe H1N1, José Temporão pediu encontro com a equipe econômica para tratar do financiamento à saúde. As verbas da área são atreladas à variação do PIB, daí sua preocupação.

...acabaram - Bem-humorado, Lula sugeriu que o ministro procurasse José Múcio e os líderes partidários. ‘É um bom momento para aprovar a regulamentação da emenda 29’, disse Lula sobre o texto que destina mais recursos à saúde, parado na Câmara.

Tiroteio

No final das contas, o ministro do longo prazo teve curtíssima duração.
Do deputado RAUL JUNGMANN (PPS-PE), sobre a saída de Mangabeira Unger, secretário de Assuntos Estratégicos, após dois anos no cargo.

Veja bem - Dirigentes da Força, que tem o Sintracon sob seu guarda-chuva, consideram a filiação ‘movimento individual’ de Ramalho, pré-candidato a deputado federal. O sindicato e a central continuam na órbita do lulismo.

Contraponto

Culto ecumênico

Em recente sessão da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, discutia-se a proposta de um tratado de cooperação entre o governo brasileiro e a Santa Sé.
Vários deputados presentes, em especial os integrantes da bancada evangélica, rebelaram-se contra o que consideraram privilégio à Igreja Católica e propuseram a realização de uma série de audiências públicas com representantes de outras religiões antes de votar a matéria.
Marcondes Gadelha (PSB-PB), vice-presidente da comissão, interveio para tentar evitar tal encaminhamento:
- São tantas as versões para a palavra de Deus que isso aqui vai acabar se transformando num inferno!

GOSTOSA


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ARNALDO JABOR

A cinefilia era quase um vicio sexual

O GLOBO - 30/06/09

Agora, filmando de novo depois de 18 anos entre jornais, radio e TV, a magia do cinema me voltou. Não falo do moderno e frenético show de cortes sem fim, de efeitos especiais em filmes sem roteiro, em manifestos de sangue e porrada. Tenho lembrado muito da utopia fílmica dos anos 50 e 60, alimentada pelos "Cahiers du Cinema" e pelos círculos de fumaça dos cigarros "Gitanes" sem filtro.

O cinema era nossa grande esperança dentro da industria cultural que ganhava o mundo. Achávamos que a arte poderia ser salva dentro da fabrica de biscoitos baratos que começava. Éramos religiosos da imagem. Tenho saudades da sala escura que tanto amávamos: do cinema-segredo, o cinema como punheta dos rapazes feios (o grande critico Paulo Emílio escrevera: "Ia-se ao cinema como ao bordel em busca de ilusão") . Saudades deste mundo preto-e-branco, entre fios de fumaça de cigarros franceses.

Ahhh... como era bom esperar um filme do Fellini, a cada ano, e o novo Antonioni, e o novo Godard...Atualmente, a cinefilia soa quase como um vício sexual. Talvez tenha sido. Há um mundo secreto, próprio do cinema, que só alguns ainda conhecem. Hoje o cinema é nu. Está exposto nas lojas, feiras e bancas de jornais em forma de vídeo, está nos hotéis, está rodando bolsinha nas ruas. Cinema perdeu muito a "aura" culta. Alem disso, o ritmo incessante que o clip e a fome de mercado trouxeram nos privaram da contemplação reflexiva das imagens.

Não sou um cinéfilo puro. Falta-me o gosto arquivista, o detalhe das fichas técnicas remotas, as fofocas de Hollywood. Mas tenho amigos que me humilham sobre cultura cinematográfica. Gente como Walter Lima Jr, Nildo Parente, Cacá Diegues, Francisco Ramalho. Às vezes, tento folgar com eles mas, em geral, danço...

Cinéfilo mesmo era o escritor Manuel Puig. Li, outro dia, que Puig estava morrendo em Cuernavaca, assistido por uma de suas "filhas" -Yasmim. Explico: Puig tinha duas "filhas" -uma bichinha era "filha" dele com Ali Khan,(pois Puig se imaginava a Rita Rayworth) e a outra "filha" dele com Orson Welles. Yasmim chorava na beira do leito, achando que Puig já entrara em coma. Mas, com esperança, testou os sinais vitais de sua "mãe".

Falou-lhe, baixinho no leito : "Mãe..., ontem eu vi "Stella Dallas" do King Vidor de novo... Chorei tanto..." Foi aí que a "mãe" Puig balbuciou do leito: "É... a Barbara Stanwick está bem, mas o John Boles nunca me emocionou"... Yasmim, a biba cinéfila, caiu em prantos de felicidade e ligou para a "irmã": "Mamãe está viva!".

Eis que, em busca desta saudade, entrei num videoclube moderno. Nas estantes, carregadas de Mel Gibson, Van Dammes e Tom Cruise, brilhava num canto o "Johnny Guitar" do grande Nicholas Ray. "Está sendo alugado como água", me diz o videolocador, com uma cara que (oh, alegria!) me pareceu da "confraria secreta". Magro, fumando muito, barba por fazer e um olhar meio desesperado, tinha toda a pinta de cinéfilo.

"Esse Johnny Guitar é o filme que mais revela a estrutura intima da grande narrativa americana", arrisquei, na busca de um confrade. O rapaz me olhou meio perplexo e botou o vídeo no saquinho de plástico. Eu continuei, doido por um papo: "Há filmes geniais que você não tem aí. Manda vir: "Kiss me deadly", do Aldrich, "Naked Kiss", do Fuller, conhece? Não? É genial a abertura do filme, a mulher matando o cara com o salto do sapato, é do cacete!..."

O rapaz me ouvia, com olhar triste, pálido. Animado, continuei: "Estes filmes mostram que só a ignorância total dos produtores americanos, sem nenhuma tradição teatral européia "culta", podia criar uma linguagem nova, sem metáforas babacas. Enquanto a Europa fazia o cubismo, Hollywood inventava o cinema de ação... É por isso que acho que o cinema já nasceu pós-moderno...ah...ah...".

O cara me olhava numa boa, assentindo com a cabeça... Fumava muito. Continuei: " O cineasta Sganzerla disse uma vez que, enquanto na literatura as personagens fugiam de um problema, no cinema elas fogem do décor. É isso aí. Cinema é o que se passa dentro do plano, a ação entre as pessoas e as coisas. Há uma "fisicalidade" no cinema em que as coisas brilham antes do enredo. Há uma superficialidade "profunda" no cinema básico que os grandes mestres sacaram. Nicholas Ray, neste filme, eleva a velha dualidade de bandidos e mocinhos a uma oposição quase shakespeareana. E sempre trabalhando com o óbvio. No cinema, o "tipo" é mais profundo que a "personagem". Há filmes em que quanto mais óbvia a interpretação dos atores, mais funda vai sua significação."

Notei que a palidez do videolocador aumentara mas, como não havia outros clientes, ele teve de me encarar, impávido. Não tive pena, continuei a alugar o alugador de abacaxis. "É interessante ver que no cinema europeu o "sentido" da cena nunca está na cena mesma, mas em "algo" que ela sugere, que estaria "fora", "longe", mais além. É a velha tradição metafórica. Só Godard, ensinado pelos americanos, acabou com esta frescura, se bem que fazendo uma paródia do óbvio, criando um metacinema. Nos grandes "físicos" do cinema como Nick Ray ou Fritz Lang ou na "Caixa de Pandora" do grande Pabst, a imagem não sugere nada "fora". Está tudo "dentro" como nas pedras". Você viu "Spies", do Lang, de 1919? É um exemplo desta verdade.

O rapaz olhava ansioso para a porta, em busca de salvação. "No grande cinema não há lugar para alusão do sentido.. Não há símbolos, há ícones. Não há ideal a atingir; há um ensinamento da nossa finitude. No verdadeiro cinema, meu companheiro, uma coisa não se soma à outra para formar uma terceira. Não há todo; só partes".

Foi aí que me calei. O videolocador me olhou então com uma certa malignidade. Com um sorriso cruel, puxou dois vídeos novos. "Leva estes aqui: "Comando Delta 3" e "Robocop 7 -A vingança" algo assim. Ele tambem estava vingado. Saí com meu "Johnny Guitar" no saquinho, mas com a fome de cinéfilo saciada.

ANCELMO GÓIS

Troca no BB

O GLOBO - 30/06/09

A BB DTVM, que tem sob sua gestão mais de R$ 200 bilhões, vai trocar de comando. Sai Alberto Monteiro Netto, entra João Ayres Rabello Filho.
João presidia o Banco Concórdia S.A., braço financeiro do antigo grupo Sadia.
LAVAGEM NA ABL
Um grupo de moradores da Vila Kennedy, Zona Oeste do Rio, promete fazer amanhã um ato na porta da ABL contra o acadêmico José Sarney.
Levarão creolina e vassoura para lavar as escadarias.
BANCO, ETERNO VILÃO
Depois da queda de 6,06% na arrecadação, em maio, cresceu a articulação para tirar Lina Maria Vieira do comando da Receita.
Mas, a leoa tem recebido apoio de sindicatos de auditores. É gente que atribui as pressões ao aperto da fiscalização aos bancos. É. Pode ser.
FÉ OU MARKETING?
Está na hora de a CBF proibir jogadores da seleção de festejarem gols e títulos com essas camisas de propaganda religiosa.
Virou puro marketing de algumas igrejas com muitos interesses comerciais em jogo.
NO MAIS
Não se pode apoiar golpe contra a democracia. A única saída em Honduras é devolver imediatamente Manuel Zelaya ao cargo. Mas a situação no país deixa o alerta no ar.
É que a crise toda começou quando Zelaya, inspirado em Hugo Chávez, quis prorrogar seu mandato contra todas as instituições legislativas e judiciárias. Ditadura nunca mais.
AU, AU, AU, ECA
Um cãozinho yorkshire deu entrada num veterinário de São Conrado, no Rio, engasgado com uma camisinha. O totó achou a peça perto da cama do filho da dona da casa, na Gávea. O animal passa bem e já expeliu parte da camisinha.
REI DO POP NO RIO
Michael Jackson veio pela primeira vez ao Brasil em 1974, com os irmãos, no Jacksons Five, o grupo dirigido com mão de ferro pelo pai, Joe. Só comia filé acompanhado de camarão.
– Nem era muito, mas sempre a mesma coisa – relembra George Ellis, o empresário responsável pelos shows que, no Rio, foram no Maracanãzinho.
SEGUE...
Ellis conta que Joe complicou bastante a negociação.
– Em São Paulo, ele cismou que as suítes teriam de ser todas no mesmo andar. Mas não havia em número suficiente. Só desistiu quando eu disse que teria de demolir o hotel e fazer outro.
MAS...
Os garotos fizeram shows inesquecíveis. Ellis não tem imagens das apresentações.
– Quem filmou foi a TV Manchete. Tomara que as imagens ainda existam.
LUZ VAI BAIXAR
A partir de julho, 3,2 milhões dos 3,9 milhões de clientes da Light pagarão menos pela luz. É que acaba o prazo de cobrança da Recomposição Tarifária Extraordinária, cujo objetivo era compensar perdas das elétricas e dos geradores de energia na época do apagão, em 2001.
SEGUE...
Os clientes residenciais, rurais e de iluminação pública pagarão menos 2,82% na conta. A redução dos demais clientes (comércio, indústria, poder público) será de 7,32%. A conta dos consumidores de baixa renda não mudará, pois o encargo não foi cobrado deles.

DORA KRAMER

Socialização do prejuízo

O ESTADO DE SÃO PAULO - 30/06/09

Uma análise da professora de literatura argentina da Universidade de Buenos Aires, Beatriz Sarlo, sobre o comportamento do eleitorado e dos políticos argentinos durante a campanha para as eleições parlamentares do último domingo, guarda traços de perfeita semelhança com o cenário político brasileiro.
Ao analisar as razões da apatia de uma população habitualmente ativa em questões políticas, a professora acaba (involuntariamente, pois não é esse o propósito dela) trocando em miúdos o ambiente político-eleitoral no Brasil, onde a sociedade é por tradição quase indolente.
A leitura do artigo, reproduzido pelo jornal “O Estado de S Paulo” na edição de domingo no caderno “Aliás”, leva à suspeição de que a simplificação das abordagens, o nivelamento por baixo da qualidade das demandas, a mistificação, a celebração do demérito, a sagração da ignorância e a despolitização das relações entre representantes e representados não tem fronteiras e já não respeita diferenças culturais.
Ainda antes do resultado e sem o dado da abstenção altíssima, Beatriz Sarlo constata que a campanha eleitoral deu ganho de causa à falta de substância nas propostas dos candidatos e à baixa exigência por parte dos eleitores. Um acordo tácito em prol da desqualificação.”Dominou o covarde paradoxo de que os políticos, ao almejarem cargos representativos, não devem jamais dar a impressão de estar mais bem qualificados do que seus eleitores, porque, se algum deles se mostrar muito capacitado, correrá o risco de perder o elo com a massa de potenciais eleitores, que não deseja votar nos melhores entre os pares, mas nos seus idênticos.”
Segundo ela, entre os políticos e os eleitores houve uma espécie de pacto perverso pautado pelo seguinte entendimento: “O chamado ‘povo’ não estaria disposto a se envolver com raciocínios que não possam ser traduzidos na linguagem simples do mais simplório senso comum.” A simplificação.
Um contrassenso, na realidade, pois, como aponta Sarlo, “ninguém escolhe um médico, um arquiteto ou músico” de sua preferência pela lógica contrária ao mérito. Mas, no caso da política, na Argentina (a professora refere-se apenas ao seu país) “os políticos fizeram dela a base de sua elegibilidade”. A mistificação.
Abraçam causas populistas não para subverter as hierarquias socioculturais, mas para atender aos ditames da “vulgaridade midiática que fareja tendências do mercado audiovisual”. Na campanha argentina, prossegue a professora da Universidade de Buenos Aires, “prevaleceu a ideia de que o político não deve oferecer seu diferencial intelectual e profissional como qualidade de uma boa representação, mas dissimulá-la como se fosse um defeito”. A celebração do demérito.
A maioria dos políticos argentinos, diz Beatriz Sarlo, adotou a premissa da baixa capacidade de compreensão dos cidadãos. “Resignados de antemão a não se interessar pela política institucional, convencidos de que todas as pessoas vivem afundadas na rotina cotidiana sem possibilidade de levantar a cabeça e carecendo de instrumentos intelectuais para acompanhar uma exposição de complexidade média, armou-se um esquema que não visava a superar uma situação, mas fortalecê-la em nome de um realismo oportunista”.
Familiar. E, portanto, didático.

ARRASA QUARTEIRÃO
Em resumo, o líder do PSDB no Senado, Artur Virgílio, disse o seguinte ontem da tribuna: que senadores foram coniventes com os atos do ex-diretor Agaciel Maia; que parlamentares manipulam medidas provisórias para obter vantagens financeiras; que há senadores calados com medo de ser denunciados; que Agaciel Maia guardava montanhas de dinheiro vivo em armário no gabinete de trabalho; que o presidente do Senado fez tráfico de influência, usou indevidamente o patrimônio público em benefício privado e afrontou a Constituição e o Supremo Tribunal Federal ao praticar o nepotismo.
Não obstante, ninguém no colegiado deu sinal de ter se espantado.

BRECHA
O governador de São Paulo, José Serra, já há algum tempo introduziu em suas conversas a possibilidade de não se candidatar à Presidência, optando pela reeleição.Pura marola, ao molde exato dos interesses de Serra: aliviar a pressão dos aliados pelo lançamento da candidatura agora, cumprir o ritual da composição interna com simpatizantes de Aécio Neves e deixar consignada como de iniciativa própria a hipótese - hoje completamente inexistente - do recuo, caso a necessidade um dia se apresente.

PANE GEOGRÁFICA
Provável futuro presidente do PT, o ex-senador por Sergipe José Eduardo Dutra foi identificado aqui, no sábado, como ex-presidente do PT do Acre.
Por primário, o erro é inexplicável.

CLÁUDIO HUMBERTO

“Quero investigação dura e transparente”
SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO SOBRE OS SENADORES QUE OCUPARAM A PRIMEIRA SECRETARIA DA CASA

Lobby sueco promove passeio de senadores
Os senadores tucanos Eduardo Azeredo (MG), Flexa Ribeiro (PA) e Sérgio Guerra (PE) e Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) flanam em Estocolmo, segundo eles “a convite do governo sueco”, para visitar a Saab, fabricante de aviões-caça, que o país tenta vender ao Brasil. A viagem surpreendeu até mesmos os diplomatas brasileiros na Suécia. As assessorias de Azeredo e Ribeiro confirmam que tudo foi pago pela Suécia.
Os convidados
Os tucanos Eduardo Azeredo e Flexa Ribeiro integram a Comissão de Relações Exteriores. Já Sérgio Guerra e Jarbas Vasconcelos foram “convidados”.
BALANÇA EM ALTA
As projeções para a receita com exportações, este ano, subiram US$ 10 bilhões, pela melhora nos preços da soja, da carne e do suco de laranja.
PERGUNTA COM SOTAQUE
E agora, com a saída do ministro-qualquer-coisa Mangabeira Unger, quem vai falar português corretamente no Planalto?
MARMELADA CARA
O novo corte de impostos do governo garantiu ontem o preço baixo do pão nosso de todo dia. Já o do circo subiu horrores...
BRASILEIROS SALVAM AVIAÇÃO DA ÁFRICA
A falência da Varig fez a Linhas Aéreas de Angola decolar: a empresa sairá em breve da “lista negra” daquelas impedidas de voar à Europa, graças aos pilotos e checadores de voos desempregados da ex-maior empresa aérea do Brasil. O trabalho durou dois meses e, a partir de julho, a Taag começará a voar para Rio e São Paulo com modernos Boeings 777, todos eles comandados por sotaque brasileiro.
‘EXPERTISE’ EXPORTADA
Funcionários do antigo Departamento de Aviação Civil também deverão integrar o Instituto de Aviação Civil, a Anac de Angola.
SEUS PROBLEMAS ACABARAM
A presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Graziela Baggio, “decolou” uma anistia política do Ministério da Justiça.
PERGUNTAR NÃO ENDIVIDA
O senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), que pediu ajuda para pagar o hotel em Paris, já ouviu falar em empréstimo no cartão de crédito?
JANELA DA TRAIÇÃO
Entra na pauta de votação da Câmara amanhã o projeto que autoriza a troca de partido até 30 dias antes da eleição, fazendo de setembro a janela da infidelidade. São muitos os políticos doidos para pular a cerca.
O NÃO DE COVAS
O grupo do PT que empina a candidatura do deputado Ciro Gomes ao governo de São Paulo, com incentivo de Lula, tentou o apoio da família do ex-governador Mário Covas à empreitada. Recebeu um sonoro “não”.
FESTA BRASILEIRA
O brasileiro Erick Rosa, diretor de criação da agência Leo Burnett em Lisboa, virou um Michael Phelps da propaganda: ganhou o Clio de Ouro e seis Leões (dois de ouro, quatro de prata) no Festival de Cannes.
ATAQUE DE RAIVA MORTAL
O ministério da Agricultura ainda não se manifestou sobre um surto de raiva animal, transmitida pelo morcego hematófogo, que matou 20 animais e ameaça virar epidemia em Xerém, Baixada Fluminense.
ENCRENCADA
Condenada a pagar multa de mais de R$ 1 milhão por sonegar impostos, a ex-senadora Heloísa Helena enfrenta um novo processo, desta vez na Câmara Municipal de Maceió, após insultar uma colega vereadora.
UM CRAQUE TRISTE
Um amigo ligou para o eterno craque Gerson, no intervalo da final da Copa das Confederações, domingo. Ele dormia desde o término do almoço. Acordou, foi gentil com o amigo, mas, desinteressado no jogo, voltou a dormir. O “canhotinha de ouro” anda triste com o futebol brasileiro.
NET DE GRAÇA
Os deputados, que já moram, comem e viajam de graça, terão TV a cabo também. A Câmara pagará R$ 131 mil ao mês à Net pelos 620 pontos de tevê por assinatura para as residências de suas excelências.
CHANCES REDUZIDAS
É improvável que a Câmara aprove o projeto de Michel Temer (PMDB-SP) transformando em majoritários os votos para deputados e vereadores. Seriam eleitos os mais votados, independente de partido.
UM DIA A CASA CAI
Nada Honduras para sempre na América Latina.

PODER SEM PUDOR
JÂNIO, O ET
Certa vez, o presidente Jânio Quadros foi convidado por um inventor, José Le Senechal, a integrar a tripulação do primeiro disco voador brasileiro. Jânio enviou-lhe um bilhetinho, agradecendo e declinando do convite, mas reconheceu, irônico:
– A viagem daria prazer não só a mim, como a muitos políticos...

TERÇA NOS JORNAIS

- Globo: Revés histórico enfraquece os Kirchner para eleição de 2011

- Folha: Governo reduz juros para empresa e amplia isenções

- Estadão: Obama lidera reação a golpe em Honduras

- JB: Corte do IPI contra a falta de crédito

- Correio: Congresso esbanja com planos de saúde e nossos filhos ficam sem atendimento

- Valor: Bancos podem frustrar leilão de folha do INSS

- Estado de Minas: Medo no ar

- Jornal do Commercio: Tragédia no Agreste