A derrota da zebra africana
JORNAL DO BRASIL - 29/06/09
Às vezes prevalece a lógica. Ainda que a zebra estivesse solta nos campos sul-africanos e disposta a se consagrar na final da Copa das Confederações, acabou vencida pelo talento brasileiro. Bem que ela tentou empurrar os americanos, que, com menos de 10 minutos de jogo, faziam seu primeiro gol. Aos 27, a zebra ainda corria feito uma gazela pelos gramados e armou um contra-ataque ao estilo brasileiro que terminou dentro das redes de Julio César. Nossa Seleção não vinha bem, parecia assustada diante de um time que atuava com 11 jogadores e mais um mamífero ungulado. O comentarista da Sportv dizia que "Robinho não consegue se encontrar no jogo". No jogo? Para mim Robinho não conseguiu se encontrar na África do Sul!!
Ao final do primeiro tempo, com 2 a 0 para os Estados Unidos, todos os muitos frequentadores da casa de apostas clandestina se acercaram da mesa do Evilásio, aquele que não entende nada de futebol e estava ficando rico investindo nos americanos. Evilásio foi o único apostador que botou suas fichas nos Estados Unidos e, àquela altura, era olhado com expressões de assombro e perplexidade. Muita gente se aproximava perguntando o bicho que daria amanhã ou pedindo palpites para a Mega-Sena. Evilásio não tinha dúvidas de que iria "estourar a banca" e se exibia com o olhar superior do rei da cocada preta. Recebeu uma ligação de Mara, sua mulher:
– Evilásio querido, como está o coração?
– Batendo ao som de Deus Salve a América! Estou começando a gostar de futebol!
- Não, Evilásio! Não faça isso! Mantenha sua santa ignorância!
Evilásio começou a me fazer perguntas sobre futebol. O que é impedimento? Para que serve o cartão amarelo? O que significa aquele chute lá do cantinho do campo? Começou o segundo tempo, Luiz Fabiano empatou com menos de um minuto e Evilásio rosnou para mim:
– Não quero saber de mais nada. Esquece!
O Brasil foi tomando conta do jogo. Até os 17, havia chutado 20 vezes ao gol, contra cinco dos americanos, que viram a zebra perguntando ao bandeirinha onde ficava o brejo mais próximo. Aos 20 minutos, Deus voltou a soprar no ouvido de Dunga: "bota em campo aquele que bate escanteios com precisão cirúrgica". Dunga chamou Elano e perguntou a Deus: "e quanto àquele que tem nome de profeta?"
– Pode botar também – respondeu a voz divina. – Mas já vou avisando que não vai haver nenhuma falta próxima a área americana.
Aos 28, Luis Fabiano empatou numa jogada em que Kaká mostrou que vale o quanto joga. O Brasil já dominava o jogo, que virou um ataque contra defesa, enquanto o mamífero ungulado se retirava acabrunhado do estádio, convencido de que para derrotar o Brasil seria preciso uma manada de zebras. Evilásio, por sua vez, tentava entender as razões daquela virada. Até que aos 38 Elano botou a bola na cabeça de Lucio - como já fizera outras vezes com Juan - Deus piscou o olho para Dunga e os apostadores começaram a rasgar os palpites da Mega-Sena sugeridos por Evilásio, que perdeu tudo o que ganhara anteriormente com os Estados Unidos. Zonzo, sem encontrar as razões do prejuízo, Evilásio ligou para a mulher e esbravejou:
– Você não tinha nada que me telefonar no intervalo. Viu no que deu?