sábado, junho 27, 2009

ROBERTO POMPEU DE TOLEDO

REVISTA VEJA

Roberto Pompeu de Toledo
Politicolíngua, série Sarney

"O titular do baronato do Maranhão e Amapá olha-se no espelho e o que vê é o literato sensível, o detentor da sabedoria, o benfeitor das gentes e o salvador da pátria"

Atos aos quais faltou a formalidade da publicação – Expressão preferida pelo presidente do Senado, José Sarney, a "atos secretos", para designar as nomeações, exonerações, promoções, aumentos de salários e outras medidas que seus promotores preferiam manter longe das vistas do público. A intenção de lavar pela linguagem um procedimento delituoso lembra o Delúbio Soares dos "recursos não contabilizados" invocados em lugar de "caixa dois", à época do mensalão. Os atos secretos do Senado equivalem ao caixa dois dos procedimentos administrativos. "Eu não sei o que é ato secreto", disse Sarney. "Ninguém pode tomar posse sem ter sua nomeação publicada." Ele tem razão. Mas, por uma esquisitice brasileira, os atos secretos, tal qual ocorre com o caixa dois, produziram, sim, efeitos; os nomeados tomaram posse, os exonerados se desoneraram e os salários se fizeram presentes nas contas bancárias.

Família bem-composta – A família foi invocada pelo presidente do Senado ao queixar-se da injustiça que estariam praticando contra ele, logo ele… "eu, com tantos anos de vida pública, com a correção que tenho de vida austera, de família bem-composta"… De novo ele tem razão. Prova de quão bem-composta é a família é a atenção que merecem mesmo os ramos mais afastados do núcleo central. Vera Macieira Borges, sobrinha de Marly, mulher de Sarney, descolou um ato secreto que a fez funcionária do Senado mesmo morando em Campo Grande, sem função a exercer por lá. Mais eloquente só o caso de Isabella Murad, sobrinha do genro de Sarney, cujo ato secreto, campeão na modalidade de pagamento de salário a distância, alcançava-a lá em Barcelona, onde mora.

Grande família – Coube ao senador Edison Lobão Filho, o Edinho, numa nova invocação do santo nome da família, produzir a melhor frase da semana. Foi revelado que um funcionário de seu gabinete no Senado, Raimundo Nonato Quintiliano Pereira, o "Raimundinho", na verdade trabalha na Fundação José Sarney, acomodada no histórico Convento das Mercês, em São Luís. Edinho confirmou a notícia com orgulho e altivez: "No Maranhão a gente faz parte de uma grande família política. Liberei para trabalhar no convento porque, trabalhando para o presidente Sarney, ele está trabalhando para nós". O conceito de "grande família" veio a calhar. Conduz à copiosa parentela Sarney pendurada na folha de pagamento do Senado, mas também desperta ecos de família naquela outra acepção, aquela… o leitor sabe… de "famiglia".

Lixeiras e despensas – "Julguei que tivesse sido eleito para presidir politicamente a Casa, e não para cuidar de sua despensa ou para limpar suas lixeiras", disse Sarney. O titular do baronato do Maranhão e Amapá olha-se no espelho do salão e o que vê é o estadista. Que desagradável o barulho que vem da cozinha. Que insuportável o cheiro das estrebarias. O que lá se produz é não apenas necessário, como obedece aos propósitos do grão senhor. Mas por que fazê-lo deixando escapar o som e o cheiro? O Sarney que José Sarney imagina no espelho é o literato sensível, o detentor da sabedoria, o benfeitor das gentes e o salvador da pátria. Acreditaria José Sarney em José Sarney?

Mordomo – A denúncia de que outro frequentador da folha do Senado, Amaury de Jesus Machado, por alcunha o "Secreta", na verdade prestaria serviço de mordomo à governadora Roseana, filha de Sarney, provocou a indignação do patriarca. "O Senado nunca pagou nenhum mordomo", disse. "A senadora Roseana não tem mordomo em casa." A indignação, ainda uma vez, era contra a palavra. Mordomo não, mordomo nunca, mas, a começar da própria Roseana, ninguém da família negou que o "Secreta" (de "secretário", embora pudesse ser também de "secretamente lotado em lugar indevido") seria um faz-tudo a serviço da hoje governadora do Maranhão. "Ele é meu afilhado. E vai lá em casa quando preciso, umas duas ou três vezes por semana."

Pessoa incomum – A frase que vai ficar como emblema do rodamoinho que envolve o presidente do Senado foi produzida pelo presidente Lula: "Sarney não pode ser tratado como se fosse uma pessoa comum". Não é que ele tem razão? Não é em qualquer um que a fantasia do estadista convive com a resistente realidade do oligarca nordestino, cercado de parentes e agregados, quando não são afilhados, ou afilhados da filha, os limites entre os bens públicos e privados embaralhados e manipulados segundo os interesses do clã. Com força incomum, Sarney puxa o Brasil para trás.

CELSO MING

BCs mais poderosos

O ESTADO DE S. PAULO - 27/06/09

Até agora, os bancos centrais estavam encarregados de executar quase tão somente a política monetária (política de juros). Mas cada vez mais se exige deles que formulem e executem a chamada política prudencial, aquela que toma providências para evitar a formação de bolhas de ativos e cuida da saúde dos bancos, objetivos que nem sempre estão diretamente ligados à política monetária.

Essa exigência não é sem consequências. À medida que seja levado a executar e aprofundar políticas prudenciais, um banco central ganha poderes e, como os elefantes, incomoda muita gente.

Um banco central convencional dispõe de apenas um instrumento de trabalho: a política de juros, que é o dispositivo que bombeia dinheiro para dentro e para fora do sistema de modo a definir seu preço: menos dinheiro na economia significa juros mais altos; mais dinheiro, juros em queda. O resultado esperado é o de que, meses depois, a inflação esteja lá onde o banco central quer que esteja, com o impacto conhecido sobre a atividade econômica: juros mais baixos tendem a acelerar a produção e o aumento de renda; juros mais altos, a contê-los.

Mais e mais, os bancos centrais são encarregados também da fiscalização (supervisão) das instituições financeiras, atuando como emprestadores de última instância. Nos Estados Unidos essas funções estão descentralizadas em vários organismos federais e estaduais, e alguns agem em complexa superposição.

O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) é acusado de ter sido omisso quando as bolhas se formaram. Deveria, segundo os críticos, ter feito duas coisas: aumentado os juros para cortar o crédito fácil e, assim, evitar a inflação dos preços dos ativos (imóveis, ações e moedas); e exigido dos bancos mais capital e provisões (reservas) para deixá-los em condições de enfrentar calotes dos seus credores.

Lá por 2003/2004, quando os juros nos Estados Unidos giravam em torno de 1% ao ano, o então presidente do Fed, Alan Greenspan, advertia que não havia critério que definisse um ativo muito caro e, assim, não tinha como agir. E como não existia inflação a atacar nem crescimento econômico a estimular, não havia por que elevar os juros.

Hoje, as críticas estão mais precisas. Apontam problema na medição da inflação pelo Fed. Os critérios adotados para medir o núcleo da inflação (core inflation) não levaram em conta o impacto da deflação importada provocada pela venda no mercado americano de produtos cada vez mais baratos provenientes da China.

Outra crítica aponta para as consequências na cabeça dos agentes econômicos quando ouviram das autoridades monetárias que os juros permaneceriam (como permaneceram) baixos por longo período. Foi um estímulo irresistível à tomada de empréstimos a longo prazo e a juros baixos, o que ajuda a formar bolhas de todo tipo, sobretudo as hipotecárias. Elas, coincidentemente, são de longo prazo. E isso poderia ter sido evitado.

Os novos projetos de regulação estão dotando o Fed (e outros bancos centrais) de mais poderes para exigir dos bancos aumento de capital mínimo para dar cobertura a seus ativos (empréstimos) e mais provisões sempre que se deteriorem as condições econômicas dos tomadores de empréstimo. A contrapartida é ter bancos centrais mais autônomos e poderosos, capazes de decidir e impor exigências a cada vez mais instituições financeiras, bancárias e não bancárias.

RUTH AQUINO

REVISTA ÉPOCA
Casa-grande & cozinha
RUTH DE AQUINO
Revista Época
RUTH DE AQUINO
é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro
raquino@edglobo.com.br

José Sarney está certo. Ninguém é eleito presidente do Senado “para ficar submetido a cuidar da despensa ou limpar as lixeiras da cozinha da Casa”. O problema é que quem cuidou da despensa nos últimos 14 anos foi seu afilhado, Agaciel Maia, nomeado diretor-geral do Senado em 1995. A faxina na cozinha da casa-grande revela ao país o que já se sabia: como a figura do patriarca, que distribui benesses a amigos, serviçais e parentes, se impõe na grande política brasileira.

Casa-grande & senzala, do escritor Gilberto Freyre, foi publicado em 1933, quando José Ribamar Ferreira de Araújo Costa tinha apenas 3 anos. Nascido em Pinheiro, no Maranhão, só em 1965 adotou legalmente o nome de Sarney – primeiro nome de seu pai. Tinha 35 anos e já era deputado federal, conhecido como “Zé do Sarney”, ou José, filho de Sarney.

No clássico de Gilberto Freyre, o patriarcalismo é um dos motes centrais. O patriarca era considerado o dono de tudo o que estivesse em sua terra. Escravos, parentes, filhos, mulher. A casa-grande de Freyre era o cenário arquitetônico que explicaria a organização social e política do Brasil. E o patriarca, o senhor a quem todos deviam favores e cuja mão beijavam.

José Sarney está certo. Existe uma campanha midiática contra ele. Não há dia em que o senador não seja citado na cobertura dos lixos que transbordam no Senado. Mestre em articulação, Sarney sabe que só está na ribalta porque quis presidir a casa-grande pela terceira vez. Jogou nos bastidores para derrotar o candidato do PT. Não queria nem concorrência – achava que tinha de ser eleito por unanimidade. Abriu mão da confortável posição de eminência parda de Lula para, como senador pelo Amapá, se aposentar com chave de ouro. Não se sabe que acrobacias lhe restam para escapar à renúncia, pressionado pelos mesmos senadores que o elegeram. O jogo político é ingrato, e o ex-presidente do Brasil, que um dia apoiou a ditadura militar e noutro dia foi o guardião da transição democrática, está consciente. Assistiu a muitas quedas de amigos.

Sarney não previa que seria crucificado só por fazer tudo o que todo mundo sabe que sempre fez. O Maranhão, que começou a governar em 1966, está em 26º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano. É o segundo pior Estado na tabela do IDH, só perde para Alagoas. Mesmo assim, Sarney acumulou fortuna, poder e influência.

A sujeira da cozinha do Senado invade os salões de estar.
Não se sabe que acrobacias restam a Sarney

O presidente Lula se queimou ao tentar blindar Sarney como um “incomum”, acima do bem e do mal. Mudou o tom na semana passada. A sujeira da cozinha invade os salões de estar e obriga políticos com discursos prontos a tropeçar nas vírgulas. Lula passou a dizer que Sarney lhe prometera investigar as denúncias. “Só espero que haja apuração”, disse Lula.

Sarney não pode chefiar investigações. Porque muitas denúncias são contra ele e seu afilhado alagoano, Renan Calheiros, ressuscitado com honras e o olhar de sonso. Em duas gestões, Sarney e Renan criaram 174 novos cargos no Senado. O maior promotor de atos secretos da casa-grande, Agaciel Maia, foi afastado (por 90 dias), mas contou com Sarney como padrinho de casamento de sua filha há duas semanas.

Sarney tem 120 funcionários a sua disposição no Senado. A viúva de um ex-motorista seu, nomeada por ato secreto, mora há quatro anos em imóvel restrito a senador – para servir café em meio expediente, recebe R$ 2.313 por mês. Um neto opera, com autorização de seis bancos, esquema de empréstimos consignados para servidores do Senado. Outro neto foi nomeado para um gabinete e exonerado por ato secreto. Um empregado doméstico da filha Roseana em Brasília é contratado pelo Senado como chofer e ganha R$ 12 mil. O apelido dele é “Secreta”. Há 23 anos, ato secreto efetivou Roseana como funcionária do Senado.

Não adianta só culpar Sarney. O senador Pedro Simon (PMDB-RS) disse que a renúncia de Sarney seria “um ato de grandeza”. Saciada, a opinião pública faria as pazes com o Senado? Entre os 663 atos secretos, uma cozinha de apartamento funcional foi reformada por R$ 100 mil. A senzala ainda tem muito a revelar sobre a casa-grande.

PANORAMA

REVISTA VEJA

Panorama
Holofote

Felipe Patury

O esquema com a ONU

Joedson Alves/AE


O Tribunal de Contas da União quer coibir um dos expedientes mais corriqueiros usados pelo governo para driblar a Lei das Licitações. Trata-se da contratação de pessoal e da realização de compras por meio de organismos da ONU, como o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Segundo o ministroJosé Jorge, do TCU, o esquema funciona assim: o governo orienta essas instituições sobre quem quer contratar ou o que quer comprar, elas fazem a despesa e devolvem a conta à União. Além da fatura, o governo paga 5% de taxa de administração. O TCU quer restringir esses contratos, hoje no valor de 600 milhões de reais, a situações nas quais há transferência de tecnologia.

O prêmio para o governador

Antonio Cruz/ABR


O caso a seguir é um exemplo da lógica peculiar pela qual os políticos se orientam. O ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, "doou" seu patrimônio eleitoral ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Por doação, entenda-se: o governador distribuirá entre seus aliados os redutos onde Múcio recebeu suas melhores votações. Coisas do Nordeste. O gesto é uma gentileza com a qual Múcio agradece a Campos seu empenho em convencer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a nomeá-lo para o Tribunal de Contas da União.

Caça ao líder

Wilson Dias/ABR


Os deputados do PP não dão sossego ao seu líder,Mário Negromonte, da Bahia. Gerson Peres, do Pará, foi à Justiça para cassar o mandato do chefão. Peres alega que Negromonte violou o estatuto do PP ao concorrer à reeleição, no fim de 2008. O juiz João Fischer Dias, de Brasília, acatou a tese, anulou a eleição de Negromonte e determinou que ele arcasse com 500 reais de custos processuais. O baiano pagou, mas recorreu da decisão.

Efeito Justus

Luciana Prezia


Depois que o apresentador Roberto Justus trocou a Record pelo SBT, circularam boatos de que o principal executivo da rede dos bispos, Walter Zagari, seguiria o mesmo caminho. A Record não poupou esforços para evitar a perda. Deu-lhe 30% de aumento, estendeu o fim de seu contrato de 2012 para 2017 e ainda inseriu nele uma multa rescisória de 53 milhões de reais.

O preço do bife

Divulgação


Os donos dos frigoríficos Bertin e Marfrig condicionam a fusão das duas empresas, segunda e terceira colocadas no ranking do setor, a uma mãozinha oficial. Requerem um empréstimo de 120 milhões de reais de um banco público, de preferência do BNDES, e gostariam de pagar depois de dois anos de carência e com juros de 6% ao ano. Enquanto pressionam o governo a abrir seus cofres, os donos do Bertin e do Marfrig aproveitam para desenhar o organograma do novo conglomerado. Se o acordo for fechado, o grupo será presidido por Marcos Molina, do Marfrig.

Todas as fichas no primeiro turno

Thomas Coex/AFP


O presidente Luiz Inácio Lula da Silvadisse a alguns ministros que sua sucessão será decidida no primeiro turno. Por isso, quer garantir desde já que os partidos que o apoiam hoje endossem formalmente a candidatura da petista Dilma Rousseff. A adesão é fundamental para que a candidata oficial consiga uma parcela maior do tempo de propaganda eleitoral gratuita na TV. Lula se incumbiu pessoalmente das negociações. Repetiu ao presidente da Câmara e do PMDB, Michel Temer, que ele é o favorito a vice de Dilma. Também disse aos presidentes de outros partidos da base que conta com a participação deles na chapa da petista. Só não diz o que dará em troca desse apoio. Quer negociar as compensações em 2010, quando imagina que Dilma aparecerá melhor nas pesquisas.

FERNANDO RODRIGUES

Um copo meio vazio

FOLHA DE S. PAULO - 27/06/09

BRASÍLIA - É tolice acreditar em promessas de políticos sobre transparência. A adoção de práticas mais abertas é algo atípico no âmbito do serviço público. A prestação de contas espontaneamente não existe como um valor estabelecido na cultura brasileira.

Quando eclodiu a onda de escândalos no Congresso neste ano -já são mais de 60 casos-, os presidentes da Câmara, Michel Temer, e do Senado, José Sarney, sacaram rapidamente do coldre o velho discurso de "transparência total".

Seria má vontade só desprezar os resultados apresentados. Alguma coisa foi colocada à disposição na internet. Mas há ainda um caminho longo pela frente.

O caso das verbas indenizatórias é emblemático. Um salário disfarçado, o benefício existe há quase uma década. O valor mensal é de R$ 15 mil (senadores) e varia de R$ 23 mil a R$ 34,2 mil (deputados). Só a partir de abril deste ano o uso do dinheiro passou a ser divulgado em detalhes. O passado foi enterrado.

Foram perdoados, por tabela, os sabe-se lá quantos delitos cometidos no emprego desses recursos. Não se fala mais a respeito.

Agora, o Senado ameaçou divulgar os nomes e os salários de todos os cerca de seus 10 mil funcionários. Outra promessa cumprida pela metade. Só apareceram os nomes. Nada de divulgar o valor dos vencimentos de cada um.

Já é um avanço ter a lista de nomes de quem trabalha no Senado. Na Câmara, esse documento não existe para consulta pública.

Nos próximos dias, o Senado promete também permitir consultas mais avançadas em seu site, com o cruzamento de nomes e de valores de despesas. Será mais um degrau na criação de um mecanismo de cobrança de responsabilidade.

Esses pequenos movimentos ainda representam um copo mais vazio do que cheio. Mas são bons efeitos produzidos pela atual crise.

DIOGO MAINARDI

REVISTA VEJA

Diogo Mainardi
Dois mil anos depois...

"Patrizia D’Addario é uma prostituta. Ela alega ter
participado de duas ceias dionisíacas no palácio
barroco do primeiro-ministro italiano. Na última semana,
relatou os detalhes do Satyricon berlusconiano"

Roma tinha Trimalchio. Agora tem Berlusconi.

Trimalchio é um dos protagonistas de Satyricon. No romance de Petrônio, Trimalchio oferece uma ceia em sua propriedade. Mais do que uma ceia: uma orgia. Assim como Berlusconi, Trimalchio é um homem rico. Assim como Berlusconi, Trimalchio se cerca de parasitas. Quando Trimalchio, num determinado momento da ceia, pega um belo rapaz menor de idade e o beija prolongadamente, sua mulher Fortunata o acusa de ser incapaz de "conter sua libidinosidade". Quando Berlusconi, dois meses atrás, compareceu à festa de 18 anos de uma bela napolitana, sua mulher Veronica acusou-o de "estar doente" e de se relacionar com menores de idade.

Roma tinha Petrônio. Agora tem Patrizia D’Addario.

Patrizia D’Addario é uma prostituta. Ela alega ter participado de duas ceias dionisíacas no palácio barroco do primeiro-ministro italiano. Na última semana, ela relatou os detalhes do Satyricon berlusconiano aos repórteres do jornal La Repubblica e aos procuradores de Bari, que investigam o assunto. A primeira ceia, com cerca de vinte mulheres, teria ocorrido em meados de outubro do ano passado. Duas das mulheres seriam prostitutas lésbicas que trabalhariam em dupla. Se a ceia de Trimalchio tinha iguarias preparadas com carne de porco, a de Berlusconi, de acordo com Patrizia D’Addario, foi bem mais frugal: tagliatelle com cogumelos e carne com batatas. Se Trimalchio demonstrou sua banalidade discorrendo sobre o zodíaco, Berlusconi demonstrou sua banalidade contando uma série de anedotas inocentes. Se Trimalchio, durante a ceia, decidiu encenar seu próprio funeral, fazendo um panegírico de si mesmo, Berlusconi, em sua ceia, mostrou à plateia imagens de seus comícios e de seus encontros internacionais. Em Satyricon, os servos de Trimalchio cantavam como "num coro pantomímico"; no palácio de Berlusconi, as vinte prostitutas, assistindo às suas imagens na TV, festejaram-no com uma "ola".

Patrizia D’Addario declarou ter recebido 1.000 euros para participar das ceias. O dinheiro teria sido pago por um empresário acusado de suborno. Na primeira ceia, Patrizia D’Addario teria permanecido o tempo todo com Frufru, o poodle branco que Laura Bush deu a Berlusconi. Na segunda ceia, em 4 de novembro, data da eleição de Barack Obama, ela teria passado a noite com Berlusconi. Patrizia D’Addario tem uma peculiaridade: ela documenta todos os seus encontros profissionais e grava todos os seus telefonemas. Ela é o cacique Juruna do meretrício. As fotografias tiradas no quarto de Berlusconi e as gravações das conversas com ele já foram entregues aos procuradores de Bari. Numa das conversas, ele diz: "Me espere na cama grande".

Roma tinha Satyricon. Dois mil anos depois, o romance ainda está aí, inteirinho. Uma "ola" para Petrônio.

MAÍLSON DA NÓBREGA

REVISTA VEJA

Maílson da Nóbrega
O incrível Lula e o BC

"É difícil ver um político brasileiro com tão aguda
percepção do tema. O presidente não se abala.
Em vão, assessores vazam informações de que
ele não tolerará esta ou aquela decisão do BC"

Sabia-se que Lula apoiava o trabalho do Banco Central (BC), mas não de forma tão explícita quanto na sua recente entrevista à Reuters. "O Banco Central tem de fazer as coisas que precisam ser feitas, no momento certo. Não tem de ficar atendendo a apelos eminentemente políticos", disse o presidente.

É difícil ver um político brasileiro com tão aguda percepção do tema. Muitos defendem a baixa voluntarista da taxa de juros. Outros afirmam que o BC pune a atividade econômica.

A posição de Lula chama mais atenção quando se considera que ele prometia mudar a política monetária. Eleito, convidou um banqueiro para presidir o BC e afastar temores de que cumpriria a promessa. Henrique Meirelles, o escolhido, formou sua diretoria com pessoas qualificadas, as quais noutros tempos Lula chamaria de neoliberais.

O país muito deve a essa corajosa decisão, que é mantida malgrado as pressões de seu partido, economistas e quejandos. Que o digam as reiteradas resoluções do diretório nacional do PT. O Ministério da Fazenda se juntou aos críticos depois que Antonio Palocci saiu. O presidente não se abala. Em vão, assessores vazam informações de que ele não tolerará esta ou aquela decisão do BC.

No mundo desenvolvido, os bancos centrais cumpriram uma missão que parecia impossível, qual seja a de reduzir indesejáveis variações do PIB. Entre 1982 e a crise atual, os EUA viveram apenas duas recessões. Antes, elas ocorriam a cada três ou quatro anos. Como se viu das recentes propostas de re-regulação nos EUA e na Europa, a autonomia desses bancos será preservada ou reforçada.

Bons resultados aconteceram em outros países ricos. Esses 25 anos de crescimento com inflação baixa ficaram conhecidos como a Grande Moderação. A transparência, a credibilidade e a previsibilidade dos bancos centrais constituíram elementos fundamentais. Nos anos 1990, foi a vez dos países emergentes hoje bem-sucedidos, cujos bancos centrais também se tornaram autônomos.

Na maioria dos países desenvolvidos, a autonomia não vinha da lei, mas de condições políticas – particularmente a intolerância à inflação – que inibiam ingerência do governo na política monetária. Somente nos EUA e na Alemanha a autonomia era formal. Nos países que aderiram ao euro, a lei decorreu do Tratado de Maastricht (1992). Na Inglaterra e no Japão a autonomia legal é mais recente: 1997 e 1998, respectivamente.

Durante muitos anos, pensou-se que o BC brasileiro precisava de uma lei para ser autônomo. A prática veio mostrar que esse status pode ser alcançado mediante adequadas condições ambientais. A realidade se impõe, como no governo Lula. A autonomia formal é inútil sob instituições débeis. O banco central de Zimbábue é autônomo por lei desde 1995, mas isso não impediu o desastre da hiperinflação.

A resistência do Brasil à crise internacional se deve essencialmente às mudanças institucionais e mentais anteriores a Lula, que contribuíram decisivamente para o mais longo período de estabilidade macroeconômica desde o pós-guerra. Se, todavia, o presidente tivesse nomeado uma diretoria do BC submissa às ideias econômicas do PT, estaríamos em situação periclitante neste momento. Ele não teria sido reeleito.

No atual governo, a continuidade da política monetária permitiu que a credibilidade do BC se firmasse internamente e seu prestígio se espalhasse além-fronteiras. Lula chegou ao ponto de atribuir a condição de ministro ao presidente do banco, como forma de desestimular ações inconsequentes do Ministério Público e, assim, evitar danos à confiança de que precisa gozar a instituição.

Na mesma entrevista, Lula deixou claro que o BC tem autonomia. "Na hora em que tomam uma decisão, eles precisam ficar confortáveis e não perder a seriedade junto à opinião pública." Sobre a Selic, declarou: "Não dou palpite e não quero que o número seja político nunca".

Lula merece muitas críticas, mas não na área monetária. Aqui, ao não promover a ruptura que pregava, ele contribuiu decisivamente para a consolidação das nossas instituições econômicas. No futuro, se um governante der uma ordem ao BC para baixar os juros, poderá pagar alto custo político. Daí o forte incentivo para não fazê-lo.

PAINEL DA FOLHA

Boletim médico

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 27/06/09

A senadores com quem conversou ontem José Sarney (PMDB-AP) reconheceu o agravamento de sua situação política ao longo da semana, com o acúmulo de revelações de favorecimento a familiares e apadrinhados no Senado. Manifestou especial preocupação com o DEM, que abriga alguns de seus aliados históricos. Dono da segunda maior bancada da Casa, o partido se reunirá na terça-feira para decidir se adere ao coro que pede o afastamento do presidente.
Sarney sabe que a eventual defecção em bloco dos ‘demos’ seria sua sentença de morte. Ontem, telefonou para vários senadores da sigla. E continuou a dizer que não pretende renunciar.

Questão de fé - O padre carismático Moacir Anastácio, que atrai uma legião de católicos à celebração anual do Pentecostes em Taguatinga, participou de almoço ontem com a família Sarney e aliados. Foi levar uma bênção ao presidente do Senado.

Flashmob 1 - Com mais de 10 mil mensagens em apenas uma hora, a mobilização no Twitter para que fosse postada a expressão ‘fora Sarney’ a partir das 15h de ontem provocou um fluxo na rede de miniblogs que superou, no país, a morte de Michael Jackson.

Flashmob 2 - Os adeptos do protesto virtual definiram a próxima quarta como dia para manifestações ‘físicas’ pela saída do presidente do Senado. Até as 19h, havia atos agendados em seis capitais.

Força aí - Em campanha pelo afastamento de Sarney, Pedro Simon (PMDB-RS) encontrou tempo para telefonar a Beto Richa (PSDB-PR). O senador queria prestar solidariedade ao prefeito de Curitiba, que enfrenta acusação de uso de caixa dois em sua campanha reeleitoral de 2008.

Ação... - Sarney nomeou em 15 de maio deste ano Flávia Coelho Garcia para o cerimonial da presidência do Senado. É filha de Luiz Garcia Coelho, lobista e amigo de Renan Calheiros (PMDB-AL). Ex-assessora de Renan, Flávia foi exonerada em 2007, durante os processos de cassação enfrentados pelo peemedebista.

... entre amigos - Ex-marido de Flávia, o advogado Bruno Lins disse em depoimento à polícia, na época, que o ex-sogro se valeu da proximidade com Renan para intermediar negócios entre o banco BMG e o INSS. Tanto Renan quanto Coelho negaram as denúncias.

Pão e circo - Na avaliação do Planalto, a leitura, na noite de quarta-feira, do requerimento para a criação da CPI do Dnit deve ser creditada não apenas à instabilidade reinante no Senado, mas também à insatisfação dos parlamentares com o atraso na liberação de suas emendas.

Bate-bola - Em conversa com auxiliares logo depois da vitória do Brasil sobre a África do Sul, Lula rasgou elogios a Dunga. Para o presidente, o técnico ‘teve estrela’ e ‘calou a boca de sabichões que acham que entendem tudo de futebol, inclusive eu’. Lula, que não havia aprovado a entrada de Daniel Alves, reconheceu: ‘O menino brilhou e salvou a partida’.

Zona cinzenta - A CCJ do Senado encomendou a Marco Maciel (DEM-PE) uma solução negociada para o projeto de Sérgio Zambiasi (PTB-RS) que obriga os partidos a informar à Justiça Eleitoral, no ato do registro dos candidatos, o respectivo programa de governo. Teme-se que a tramitação abra espaço para ‘contrabandos’ como janela de infidelidade e terceiro mandato.

Tiroteio

É tarefa tão ingrata atacar o governo Lula que sobrou para meus amigos senadores do PSDB. Serra e Aécio fizeram questão de não aparecer.
Do senador ALOIZIO MERCADANTE (PT-SP), sobre o programa tucano levado ao ar na noite de quinta em rede nacional de TV e rádio.

Que fase! - Além de ver uma aliança entre PT e oposição reduzir as chances de instalação da CPI da Conta de Luz, o autor do requerimento, Eduardo da Fonte (PP-PE), amarga outro desconforto: o deputado pegou catapora.

Contraponto

O combate dos chefes

O governador José Roberto Arruda (DEM) esteve ontem em Paris para acertar detalhes da visita do presidente francês a Brasília em setembro, quando assinarão o contrato do veículo leve sobre trilhos que deverá incrementar a infra-estrutura da capital para a Copa de 2014.
-Sarkozy prefere eventos de rua-, disse Jean Michel Severino, presidente da agência de desenvolvimento.
Arruda sugeriu lançarem a pedra fundamental, e Severino disse que será levado um vagão do VLT para o ato.
-O presidente Sarkozy é muito irrequieto- insistiu.
-O governador também!- emendou um assessor.
-Não como o Sarkozy!- insistiu Severino.
-Há controvérsias!- apressou-se o fiel brasileiro.

GOSTOSA


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LYA LUFT

REVISTA VEJA

Lya Luft
Trilha de contradições

"Convencidos de que pensar dói e de que mudar
é negativo, tateamos sozinhos no escuro, manada confusa subindo a escada rolante pelo lado errado"

"Viver é subir uma escada rolante pelo lado que desce." Já escrevi sobre essa frase. Sim, repito alguns temas, que são parte do meu repertório, pois todo escritor, todo pintor, tem seus temas recorrentes. No alto dessa escada nos seduzem novidades e nos angustia o excesso de ofertas. Para baixo nos convocam a futilidade, o desalento ou o esquecimento nas drogas. Na dura obrigação de ser "felizes", embora ninguém saiba o que isso significa, nossos enganos nos dirigem com mão firme numa trilha de contradições.

Ilustração Atômica Studio


Apregoa-se a liberdade, mas somos escravos de mil deveres. Oferecem-nos múltiplos bens, mas queremos mais. Em toda esquina novas atrações, e continuamos insatisfeitos. Desejamos permanência, e nos empenhamos em destruir. Nós nos consideramos modernos, mas sufocamos debaixo dos preconceitos, pois esta nossa sociedade, que se diz libertária, é um corredor com janelinhas de cela onde aprisionamos corpo e alma. A gente se imagina moderno, mas veste a camisa de força da ignorância e da alienação, na obrigação do "ter de": ter de ser bonito, rico, famoso, animadíssimo, ter de aparecer – que canseira.

Como ficcionista, meu trabalho é inventar histórias; como colunista, é observar a realidade, ver o que fazemos e como somos. A maior parte de nós nasce e morre sem pensar em nenhuma das questões de que falei acima, ou sem jamais ouvir falar nelas. Questionar dá trabalho, é sem graça, e não adianta nada, pensamos. Tudo parece se resumir em nascer, trabalhar, arcar com dívidas financeiras e emocionais, lutar para se enquadrar em modelos absurdos que nos são impostos. Às vezes, pode-se produzir algo de positivo, como uma lavoura, uma família, uma refeição, um negócio honesto, uma cura, um bem para a comunidade, um gesto amigo.

Mas cadê tempo e disposição, se o tumulto bate à nossa porta, os desastres se acumulam – a crise e as crises, pouca trégua e nenhuma misericórdia. Angústias da nossa contraditória cultura: nunca cozinhar foi tão chique, nunca houve tantas delícias, mas comer é proibido, pois engorda ou aumenta o colesterol. Nunca se falou tanto em sexo, mas estamos desinteressados, exaustos demais, com medo de doenças. O jeito seria parar e refletir, reformular algumas coisas, deletar outras – criar novas, também. Mas, nessa corrida, parar para pensar é um luxo, um susto, uma excentricidade, quando devia ser coisa cotidiana como o café e o pão. Para alguns, a maioria talvez, refletir dá melancolia, ficar quieto é como estar doente, é incômodo, é chato: "Parar para pensar? Nem pensar! Se fizer isso eu desmorono". Para que questionar a desordem e os males todos, para que sair da rotina e querer descobrir um sentido para a vida, até mesmo curtir o belo e o bom, que talvez existam? Pois, se for ilusão, a gente perdeu um precioso tempo com essa bobajada, e aí o ônibus passou, o bar fechou, a festa acabou, a mulher fugiu, o marido se matou, o filho... nem falar.

Então vamos ao nosso grande recurso: a bolsinha de medicamentos. A pílula para dormir e a outra para acordar, a pílula contra depressão (que nos tira a libido) e a outra para compensar isso (que nos rouba a naturalidade), e aquela que ninguém sabe para que serve, mas que todo mundo toma. Fingindo não estar nem aí, parecemos modernos e espertos, e queremos o máximo: que para alguns é enganar os outros; para estes, é grana e poder, beleza e prestígio; para aqueles, é delírio e esquecimento.

Para uns poucos, é realizar alguma coisa útil, ser honrado, apreciar a natureza, sentir o calor humano e partilhar afeto. Mas, em geral medicados, padronizados, desesperados, medíocres ou heroicos, amorosos ou perversos, nos achando o máximo ou nos sentindo um lixo, carregamos a mala da culpa e a mochila da ansiedade. Refletindo, veríamos que somos apenas humanos, e que nisso existe alguma grandeza. Mas, convencidos de que pensar dói e de que mudar é negativo, tateamos sozinhos no escuro, manada confusa subindo a escada rolante pelo lado errado.

INFORME JB

A licença para o mico federal

Leandro Mazzini

JORNAL DO BRASIL - 27/06/09

Um impasse entre dois órgãos ambientais em Brasília pode deixar sem casa uma família de micos – uns 20 – perto da Praça dos Três Poderes. O governo do Distrito Federal abre uma via perto do Anexo 4 da Câmara e da sede do TCU (foto). Foram derrubadas algumas árvores, e os macaquinhos correram. Andam livres e incomodam – revelou a coluna esta semana. As empreiteiras Seta e JM continuam as obras. Têm até dia 23 de julho para dar uma solução para os animais, por licença ambiental concedida pelo Instituto Brasília de Meio Ambiente (Ibram). Aí vem outro problema: o Ibama questiona o documento do Ibram. Deu prazo até segunda-feira para as empresas apresentarem o estudo ambiental, do contrário serão multadas – de R$ 500 a R$ 10 milhões. E as obras podem ser paradas até os micos serem recolhidos.

Vai que é sua Vaivém

Há dois meses, segundo assessores do Ibram, o presidente Lula sancionou MP que dá poderes ao órgão do Distrito Federal para conceder licenças. Antes, elas cabiam ao Ibama, vinculado ao Ministério do Meio Ambiente.

O embaixador Samuel Guimarães, secretário-geral do Itamaraty, deve sair com a aposentadoria compulsória. Antonio Patriota é cotado para sucessor.

Só festa

O Partido da República ainda comemora de Norte a Sul a filiação de Anthony Garotinho, e sobram convites para visitas a diretórios. Um dos responsáveis pela filiação, o deputado João Carlos Bacelar (BA), acredita que ele ainda pode se candidatar à Presidência em 2010.

Juventude...

Um padre de 31 anos, que acreditava na recuperação de jovens, foi morto com três tiros em Brazlândia, cidade satélite de Brasília. O algoz era conhecido seu, que o atraiu para um carro com os comparsas, atrás de dinheiro.

... transviada

Esta semana, dois deles foram presos. O padre, se os perdoasse em vida, se arrependeria: o detido, furioso com a prisão, ordenou a morte de um comparsa solto – não encontrado pela polícia. Feito. Só acharam o corpo.

Fala, Ciro

O presidenciável Ciro Gomes, deputado pelo PSB do Ceará, aparece amanhã no Jogo do Poder, na CNT, às 23h. Vai abrir o jogo sobre especulações e verdades.

Bola & boletim

Entre os atletas que já passaram pelo Instituto Bola pra Frente, no subúrbio do Rio, 93,5% continuam na escola ou já pegaram diploma – o índice cai para 57,29% entre os que nunca pisaram ali, segundo censo feito pela entidade em parceria com o Sesc.

No alambrado

Entre os educandos do Bola pra Frente, 0,5% parou de estudar; a outra parcela pesquisada teve índice de 41,91% de abandono das escolas. O analfabetismo é outro dado preocupante. Atinge 26,28% dos jovens de 15 a 24 anos e 35,26% dos moradores de 25 a 59 anos.

Arquitetura

Será entregue na quarta o Prêmio CAIXA IAB 2008/2009, que busca ideias inovadoras para habitação social no Brasil. A quarta edição tem 14 premiados entre estudantes e profissionais.

Pelo social

A ArcelorMittal Vega em São Francisco do Sul (SC) comemora em dezembro a formatura de mais 35 técnicos de enfermagem, em parceria com o Senac, com curso bancado pela empresa. Desde 2007, a iniciativa já capacitou 44 pessoas e garantiu entrada de mais de 90% no mercado.

ANCELMO GÓIS

PT DE SARNEY

O GLOBO - 27/06/09

Preocupado com o discurso de Suplicy, quinta, a favor do afastamento de Sarney da presidência do Senado, Zé Dirceu ligou ontem para a bancada do PT na Casa.
Para o ex-ministro, o governo Lula só teria a perder com uma eventual saída de Sarney.
DIA D
Daqui a três semanas, a FGV fará a primeira simulação de seu plano de reestruturação do Senado: aplicará a proposta à folha de pagamentos. Será uma espécie de Dia D dos funcionários.
A fundação propõe reduzir o número de servidores para um terço do atual.
ALIÁS...
A FGV esperou 30 dias para funcionários do Senado apresentarem propostas ao plano de reestruturação. Mas, nesse período, acredite, houve quem sugerisse... contratar mais gente.
Foi o caso da TV Senado, que, em julho, passará a operar em sinal digital e terá mais dois canais, com possibilidade de chegar a quatro. O pessoal alegou que não dará conta com o número atual de servidores.
ELE É BOM
Do senador Mão Santa, esta semana, quando vários senadores pediam o afastamento de Sarney do comando do Senado, para um grupo de funcionários:
– Ninguém nesta Casa é melhor do que Sarney. Só eu.
Há controvérsias.
PENSANDO BEM
Dunga é o Lula da seleção: mesmo quando erra, dá certo.
Em política e no futebol, é preciso ter estrela.
SAI OU NÃO SAI?
Mangabeira Unger, o ministro do Futuro, já andou desmentindo sua saída do governo. Mas, na Esplanada dos Ministérios, há quem garanta que Mangabeira entregou a carta de demissão a Lula.
A conferir.
SOIS REI
O ramo de Petrópolis da família imperial está às turras com Maria da Glória de Orleans e Bragança, que vive na Espanha, casada com o nobre milionário Ignacio de Medina y Fernándes de Córdoba, duque de Sergobe.
Em questão, uma propriedade da família em Sevilha, chamada Villamanrique de la Condessa, do século XVIII.
SEGUE...
O imóvel é tão suntuoso que, anos atrás, o rei Juan Carlos o pediu emprestado para a festa de casamento de uma filha. Maria da Glória evocaria direito sobre a propriedade por arcar, há dois anos, com sua cara manutenção.
VAI DE ÔNIBUS
Na turnê que inicia na próxima semana na Europa, Gilberto Gil, que ontem fez 67 anos, trocou o avião pelo ônibus. Fará até 2 mil km de uma só vez, como a rota Suécia-Itália.
VIAGEM PROIBIDA
Por causa da gripe suína, a Vale, que já tinha proibido viagens de funcionários para o México, incluiu na lista de proibições idas à Argentina e ao Chile. No início da semana, a empresa isolou um andar inteiro de um dos seus prédios no Rio, após a constatação de um caso da doença entre funcionários.
A GUERRA DO RIO
Beatriz Milhazes, a mais badalada artista plástica brasileira do momento, foi assaltada sábado passado, na Lagoa, às 22h, perto da sede do Flamengo.

COISAS DA POLÍTICA

Exemplar secretário- geral da Câmara

Villas-Bôas Corrêa

JORNAL DO BRASIL - 27/06/09

Durante os muitos anos em que frequentei a Câmara e o Senado, de 1948 até a mudança da capital para Brasília, em 21 de abril de 1960, acostumei-me a conferir informações com o secretário-geral da Mesa, sempre um servidor de alto nível, que assessorava o presidente da Casa nas interpretações do Regimento Interno. De pé, ao lado do presidente, atendia a parlamentares, funcionários e jornalistas, e era tratado com estima e respeito.

Muito da minha indignação com a crise ética e moral que degrada o Legislativo pode ser debitado às trapaças de Agaciel Maia, ex-diretor-geral do Senado, e de outros denunciados pela rapinagem do dinheiro público.

E fui lavar as manchas da alma com a releitura de O Congresso em meio século, livro editado pela Câmara dos Deputados, com as memórias de Paulo Affonso de Oliveira, servidor da Câmara de 1946 a 1997, 42 anos na Câmara dos Deputados e 13 no cargo de secretário-geral. Na Introdução, o jornalista, meu amigo de décadas Tarcísio Holanda, conta a saga para convencer o autor a prestar o seu depoimento sobre meio século da história do Congresso. Paulo Affonso começou a contar parte do que sabia em fevereiro de 1999 e terminou em 3 de maio. Na primeira etapa do mutirão, que se prolongaria em cima de um texto de 390 laudas até o segundo semestre de 2004, conta Tarcísio que, com a presença de Paulo Affonso, reescreveu o calhamaço dezenas de vezes, com o acréscimo de novos documentos, até que o livro ganhou forma.

Valeu a pena. Trata-se de um grande livro, de leitura indispensável para quem tenha interesse pela história de meio século de profundas transformações e entender como o Congresso pagou o preço da sua decadência com a mudança precipitada para a nova capital antes de estar pronta, um canteiro de obras em meio ao lamaçal do ermo do cerrado. E de se emocionar lendo afirmações como esta: "Nunca fui filiado a partido político. Entendia que, em razão das funções que exercia, não podia comprometer minha independência e a linha de isenção absoluta no trabalho de assessoria ao presidente em exercício da Câmara dos Deputados. Tinha sempre em vista o prestígio da instituição que me abrigava, assim como seu conceito perante a opinião pública". E adiante: "Congresso e democracia não vivem um sem o outro".

Nos 23 anos como secretário-geral da Mesa, Paulo Affonso assessorou os presidentes Bilac Pinto, Adaucto Lúcio Cardoso, Batista Ramos, José Bonifácio, Geraldo Freire, Pereira Lopes, Flávio Marcílio, Sérgio Borja, Marcos Maciel e Ulysses Guimarães, reeleito em 1987 simultaneamente para a presidência da Constituinte (1097-1988), em que também foi secretário-geral.

Seria exagero afirmar que se trata de uma seleção irretocável. Mas, comparado com o que temos hoje, é de avermelhar o rosto. Até chegar ao alto da escalada, Paulo Affonso lembra que entrou para a Câmara, em março de 1946, com 19 anos de idade, como datilógrafo, lotado no Departamento de Taquigrafia. Desde a modesta função começou a ter contactos com políticos que frequentavam a Taquigrafia para correção dos discursos. Os repórteres que cobriam o plenário, para as seções fixas em todos os matutinos da época, também se valiam da Taquigrafia para conseguir a íntegra de discursos importantes, dos duelos parlamentares do jogo do poder. Os líderes do governo e da oposição falavam em nome dos partidos. E o da maioria, em nome do presidente da República. Poucos parlamentares frequentavam o Palácio do Catete, distante do Centro da cidade.

A fila de senadores e deputados na antessala do gabinete do presidente é uma moda brasiliense, das menos recomendáveis. A decadência da oratória que lotava as galerias do Palácio Tiradentes nas tardes da semana de seis dias úteis, de segunda a sábado, esvaziou as galerias. A mudança de hábitos, costumes, do comportamento dos senadores e deputados passa pelas centenas de páginas na moda lançada pela Plenarium, a Editora do Congresso. E é uma leitura saborosa os retratos traçados com elegância dos presidentes a que o autor prestou assessoramento, de pé, ao lado do presidente, com o regimento sempre ao alcance da mão.

Um grande livro. E que deveria ser distribuído a metade dos 81 senadores e aí por uns 200 deputados recuperáveis. Com o resto, é perder tempo.

DORA KRAMER

Cerimônia do adeus

O ESTADO DE SÃO PAULO - 27/06/09

Na quinta-feira, quando deixou de ir ao Senado para não ser obrigado a ouvir de novo as cobranças da véspera para que se afastasse da presidência da Casa, o senador José Sarney não perdeu apenas a apresentação do colega Pedro Simon outra vez no papel de conselheiro das causas perdidas.

Perdeu a última chance de simular controle da situação e, assim, cumpriu mais um ato do ritual da cerimônia de adeus iniciada por ele quando entregou ao primeiro-secretário, Heráclito Fortes, a prerrogativa de comandar o conserto dos estragos que há cinco meses se acumulam na forma de escândalos no Senado.

Ao tentar “amarrar” o apoio da segunda maior bancada da Casa, transferindo poder ao DEM, José Sarney já revelara o tamanho da sua fragilidade política. Sem a unanimidade no PMDB, tendo contra si o PT, enfrentando o confronto explícito do líder do PSDB, alvo de uma denúncia atrás da outra de favorecimentos pessoais, impossibilitado de jogar ao mar com o vigor exigido o principal acusado e acuado por uma pressão que nem um advogado de defesa do jaez do presidente Luiz Inácio da Silva conseguiu aliviar, Sarney apoiava-se numa escora totalmente instável.

Quando atendia pelo nome de PFL, o DEM foi seu fiel companheiro de Aliança Democrática, compartilhou com ele o governo da Nova República, serviu de legenda à filha Roseana e a inúmeros aliados, agora recentemente deu-lhe votos para se eleger presidente do Senado, mas, no que concerne ao presente e, sobretudo ao futuro, o DEM tem outros planos.

A perspectiva de poder do partido está ligada aos projetos eleitorais do governador de São Paulo, José Serra, a quem Sarney reputa a condição de inimigo porque atribui a ele o desmonte da candidatura presidencial de Roseana, em 2002. Na frieza dos negócios da política, entre um que pode vir a ser e outro que deixa de ser, não há dúvida que se imponha e, portanto, nem decisão a ser tomada.

Muito provavelmente, o senador José Sarney também falava a respeito disso na nota oficial que divulgou naquela quinta-feira imputando suas agruras ao fato de ser um aliado do presidente Lula. Entregou ali todos os pontos. Admitiu ter percebido o crescente isolamento.

Confessava-se desprovido de argumentos para responder às acusações que o envolviam diretamente. Até porque o que pesa contra o presidente do Senado no momento não são denúncias de crimes dos quais possa se defender com documentos.

São velhos vícios, cuja prática dispensa comprovação e fala por si. Não há como Sarney negar os empregos dos parentes, a existência da troca de favores, a cessão de benefícios a afilhados, a proteção de agregados, a inadequação de atitudes, o uso particular do bem público por entendimento equivocado do que seja permitido ao ocupante de um alto cargo na República.

Quanto tempo José Sarney ainda ficará formalmente na presidência do Senado não se sabe. Podem ser dias, semanas ou meses. Já não importa. Na prática, ele já abandonou o comando da Casa. E deixou isso muito claro na semana passada, quando informou que não estava ali para organizar-lhe as despensas, muito menos para remover-lhe os entulhos das lixeiras.

Aviso antecipado

O DEM e o PSDB só oficializam na semana que vem, mas já pediram formalmente o afastamento de José Sarney da presidência. Na sessão de quinta-feira à tarde, o senador Demóstenes Torres informou ter “acabado” de receber do líder Agripino Maia autorização para divulgar a decisão e, em seguida, Marisa Serrano, falando em nome da liderança do PSDB, disse que os tucanos também seguem esse rumo.

Restará ao lado de Sarney a mesma base de sustentação que em 2007 ficou de braço dado com Renan Calheiros: a tropa de choque, a tropa do cheque e a bancada do PT carregando o andor da sua explícita e constrangida dubiedade.

Sexto sentido

José Eduardo Dutra, tudo indica, será o novo presidente do PT. Logo após a eleição de Lula à Presidência da República ele era cotado para o cargo, mas não quis nem pensar na hipótese. “Se o PT já é difícil de administrar no Acre, no Brasil é impossível”, avaliava, na primeira reunião do partido pós-vitória, no Hotel Hilton, em São Paulo.

Dutra pressentia confusão de natureza política, mas se livrou de uma situação muito pior. Ficou com a presidência da Petrobras, José Genoíno foi para o comando do partido e, por isso, acabou entre os réus do processo do mensalão por ter assinado os empréstimos bancários fraudulentos intermediados pelo lobista Marcos Valério.

Ex-senador, ex-presidente do PT no Acre, José Eduardo Dutra, apesar de ter atirado no que viu e acertado no que não viu há seis anos, terá ainda razão se continuar apreensivo. O partido que não quis comandar era muito menos problemático que o PT que está prestes a presidir.