segunda-feira, junho 08, 2009

DENIS LERRER ROSENFIELD

Santo Agostinho e a liberdade


O Estado de S. Paulo - 08/06/2009
O Santo Agostinho das Confissões é o filósofo que se debruça sobre a busca da verdade, tendo como testemunho o seu "errar" anterior ao da descoberta de Deus, os seus caminhos numa vida de libertinagem, caracterizada pela pergunta sobre o sentido da existência humana, sobre o verdadeiro bem. Isso significa que a descoberta de Deus é posterior à livre investigação interior. A primeira das liberdades é a de "procurar".

O livre-arbítrio está voltado para o bem e para o justo, embora aquele que age se possa equivocar sobre o seu sentido, tomando um falso bem por um verdadeiro, um bem mutável por um imutável. Isso significa que a busca do bem é algo intrínseco ao ato de sua procura, de tal maneira que não pode, moralmente falando, intervir aqui um poder superior que imponha objetivamente, por um ato de Estado, o que deve ser o bem. O cerceamento do livre-arbítrio é o caminho mais curto para que o bem desapareça.

A livre escolha faz parte da condição humana e, nesse sentido, pode-se dizer que ela é algo querido por Deus, mesmo que o erro e o engano, em suas consequências, sejam tidos por implícitos em sua realização. A liberdade de escolha consiste num ato de abertura para as mais distintas formas de bem (ou de sua ausência como mal), desdobrando-se das mais diferentes maneiras, numa busca incessante que atormenta a subjetividade humana, sobretudo a mais consciente. Em sua forma mais simples, ela se constitui numa alternativa entre duas possibilidades que se apresentam como excludentes. A satisfação de uma exclui a da outra.

A liberdade interior, segundo Santo Agostinho, é um bem muito maior do que todos os bens exteriores, os que podem ser ganhos por intermédio de coisas externas, como o são os bens da riqueza, da concupiscência e do poder. Ou seja, trata-se de um bem que poderia ser dito imaterial e que aparece ao espírito em sua relação consigo. Enquanto bem maior, ele é superior a todos esses outros bens do mundo a que estamos acostumados em nossa vida cotidiana e que almejamos na maior parte das vezes. Acontece que esse bem, que se encontra mais distante dos poderes do mundo, pode ser por estes alcançado, como quando uma pessoa se volta para o que é estimado e valorizado externamente como um bem. Assim, se uma pessoa segue a opinião corrente, sem se indagar por sua validade, se ela segue os ditames do Estado no que diz respeito ao que este estima correto ou elogiável, ela pode, progressivamente, tornar-se uma "alma escrava", incapaz de decidir por si mesma.

Os bens do mundo são, por sua própria natureza, bens mutáveis, submetidos às mais diferentes transformações e mesmo acepções. São bens cuja natureza consiste em poderem ser separáveis das pessoas que os detêm. Os prazeres da carne, da mesa, do poder e da riqueza podem ser separados das pessoas que naquele momento os usufruem. Assim, um devasso pode perder o objeto de seu prazer, um glutão pode não ter mais o que comer, um político pode perder o seu poder e um homem rico pode perder a sua fortuna. Todos estavam apegados a formas de bens relativas, submetidas às condições mutáveis da existência humana.

Decorre daí o valor da liberdade subjetiva como um bem maior, que não pode ser objeto de coerção exterior, pois é nela que se estabelecem as condições de adesão a um bem maior, objeto da liberdade de escolha. Filosoficamente, isso significa que a liberdade de escolha, entendida como esse ato subjetivo da liberdade, não deveria ser cerceada por uma força exterior, pois a própria busca do bem estaria prejudicada e, com ela, a própria opção pelo bem maior. Quando o Estado impõe o bem, ele retira do livre-arbítrio essa opção e, ao fazê-lo, torna o homem servo de um poder superior que o ultrapassa. O bem não escolhido, na verdade, cessa de ser um bem, pois não é mais o resultado do livre-arbítrio.

O Estado moderno, em suas vertentes autoritárias e, extremas, como totalitárias, tende a impor o que entende como sendo o bem, o bem tal como ele o concebe. O Estado coloca-se na posição daquele que sabe o que é o bem maior, numa espécie de sucedâneo do absoluto, desconhecendo que o verdadeiro bem é o que nasce da liberdade de escolha e, em particular, da liberdade subjetiva e religiosa. É como se a condição humana devesse não ser reconhecida na diversidade de noções de bem que a ela se oferecem, diversidade tanto maior quanto maior for a liberdade de escolha, mas devesse ser tida por objeto de uma espécie de moldagem estatal. O bem imposto pelo Estado é aquele que parte do cerceamento da liberdade de escolha.

Tomemos dois exemplos do Brasil atual: o do uso obrigatório do GPS e o da proibição do fumo, em lei aprovada pela Assembleia Legislativa paulista e objeto de uma lei que tramita no Senado Federal. Em ambos os casos observamos o Estado impondo aos cidadãos o que entende como sendo a sua noção do bem - no primeiro, o da segurança e, no segundo, o da saúde. Os indivíduos são considerados incapazes racionalmente de escolher o que é melhor para si, como se fossem menores que deveriam ser guiados por um pai que tudo sabe.

Note-se que o objeto a ser atingido é a própria liberdade de escolha, não podendo o indivíduo escolher colocar ou não o GPS em seu carro ou fumar num lugar exclusivamente reservado, com exaustores apropriados, de tal modo que o bem e o direito alheio não sejam atingidos. O bem imposto do exterior não é objeto de uma deliberação subjetiva, da liberdade do homem que busca a si mesmo nas distintas opções de sua vida. Ele não é valorizado como homem stricto sensu, enquanto livre, na procura incessante do bem, mas como ser objeto de imposição. Por que não, amanhã, proibições relativas ao consumo de bebidas alcoólicas, alimentos com gorduras e/ou colesterol ou ao uso de celulares, por causa das radiações que incidem sobre o aparelho auditivo? Onde está o limite, quando o Estado age sem limites?

INFORME JB

Sarney chega e entra na briga


Jornal do Brasil - 08/06/2009

É hora do jogo. Depois de passar aliviado pela cirurgia da filha, a governadora Roseana Sarney (MA), o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP) (E), chega hoje a Brasília para contornar o imbróglio em torno da CPI da Petrobras, e evitar que o assunto chegue às mãos do presidente Lula. Foi um apelo do presidente da República, que não quer interferir no impasse. Sarney vai chamar ao gabinete hoje os senadores mais próximos, entre eles Renan Calheiros (AL), e criar uma estratégia para afundar a comissão. É acordo com o Planalto. A ideia é postergar o assunto até ser esquecido. PT e PMDB já sabem que o PSDB topa também parar por aqui. Falta só convencer o DEM. Sarney vai chamar o líder do partido, José Agripino Maia (RN) (D), para negociar.

Barril parado

"A Petrobras está parada", diz um senador da base. E explica a posição dos tucanos: "Na campanha, eles podem ser apontados os culpados disso, por isso já pensam em recuar na CPI".

Debandada

O Informe antecipou que o PSDB dá passos para trás: já fala em preservar Guilherme Estrella.

Angra I

A Usina Angra I foi conectada ao Operador Nacional do Sistema Elétrico, na quinta. Estava desligada desde o dia 24 de janeiro, para troca dos geradores de vapor. Até dia 21, atinge 100% da capacidade.

Só festa

A reunião de Lindberg Farias (PT) com 800 portuários no Rio, no sábado, e o apoio de Wagner Montes (PDT), é só barulho para pressionar o governador Sérgio Cabral, com quem o petista tem trato, a não abandoná-lo.

Carta de Beth

A cantora Beth Carvalho, que recebeu Medalha da Ordem do Mérito do Trabalho, escreveu uma carta ao presidente Lula, agradecendo, e anexou cópia do bilhete que enviou à ministra Dilma Roussef, dando apoio à candidata do PT na campanha presidencial.

Baeta

Hermann Baeta, presidente nacional da OAB de 85 a 87, recebe hoje a medalha Raymundo Faoro em evento na seccional do Rio.

Resgate...

A governadora do Pará, Ana Carepa, assinou em Brasília o Programa de Reestruturação Fiscal, que permitiu ampliar em mais de R$ 570 milhões a capacidade de endividamento do estado. Vai investir em infraestrutura nas cidades atingidas pelas chuvas.

...e promissória

Dos R$ 570 milhões, R$ 244 milhões são destinados a compensar o Pará pela perda do Fundo de Participação dos Estados.

O ‘francês’

O TCU condenou Gerson Luiz Koch a pagar ao CNPq R$ 726.442,43 por não ter apresentado sua tese de doutorado em curso na França.

Terra da soja

Pressionado pelos agricultores que querem acompanhar avanços tecnológicos, o governador Jaques Wagner (BA) inaugurou em Luiz Eduardo Magalhães, terra da soja baiana, o Centro de Pesquisa e Tecnologia da Bahia.

Decola, Jobim

O ministro Nelson Jobim faz palestra hoje em almoço do Lide, em São Paulo, sobre modernização aeroportuária.

Evolução do Peru

A Fundação Alexandre de Gusmão e a Unilegis, do Senado Federal, vão lançar o concurso de monografias Prêmio América do Sul 2009 com o tema Peru - Evolução recente e futura.

ADRIANO PIRES

A verdadeira história do pré-sal


O Estado de S. Paulo - 08/06/2009

"Os esquerdistas, contumazes idólatras do fracasso, recusam-se a admitir que as riquezas são criadas pela diligência dos indivíduos, e não pela clarividência do Estado" Roberto Campos


A história do setor de petróleo no Brasil apresenta duas grandes fases. A primeira foi iniciada quando o monopólio foi concedido à Petrobrás, no início dos anos 1950, após o sucesso da campanha "O Petróleo é Nosso", uma rara situação em que as Forças Armadas brasileiras e os partidos de esquerda ficaram de um mesmo lado. Essa campanha culminou na aprovação da Lei nº 2.004, em 1952, que concedeu à Petrobrás o exercício do monopólio, exceto na distribuição de derivados. Mais tarde, o monopólio da Petrobrás foi incorporado à Constituição.

Durante essa fase a Petrobrás não cumpriu a missão, para a qual foi criada, de tornar o País autossuficiente, ou até exportador de petróleo. Esse fato colocou o Brasil no Guinness Book como o único país no mundo a possuir uma empresa monopolista estatal de um produto importado. Não conseguindo ser um produtor relevante de petróleo, a estratégia foi a de transformar a empresa numa monopolista na produção de derivados de petróleo para o mercado interno. Durante essa primeira fase, foi construído praticamente todo o parque de refino da Petrobrás. Ainda nessa fase, em razão do primeiro choque do petróleo, em 1973, o governo tornou mais flexível a legislação do setor e criou os contratos de risco, que não obtiveram resultados positivos no tocante ao aumento da produção de petróleo. Somente com o segundo choque do petróleo, em 1979, foi possível viabilizar a exploração offshore na Bacia de Campos. Entretanto, a missão principal da empresa de transformar o Brasil num país autossuficiente em petróleo não foi alcançada nessa primeira fase.

A segunda fase foi iniciada com a sanção do presidente da República Fernando Henrique Cardoso da Lei nº 9.478. Para quem não se lembra, sua aprovação resultou de uma batalha ferrenha, e até emocional, entre a base de apoio ao governo Fernando Henrique e a oposição, liderada pelo PT. Essa lei deu fim ao então intocável e sagrado monopólio da Petrobrás.

Durante todo o debate que precedeu a mudança da Constituição e a posterior aprovação da Lei nº 9.478, a oposição afirmava que por trás da proposta do governo estava um plano maquiavélico de enfraquecimento da Petrobrás. Diziam os críticos da lei que, com o fim do exercício do monopólio, as grandes multinacionais do petróleo tomariam conta do setor e a Petrobrás seria sucateada e privatizada.

Nada disso aconteceu. Ao contrário do que afirmavam as pitonisas pseudonacionalistas, a Lei do Petróleo inaugurou uma fase gloriosa da Petrobrás e do setor de petróleo brasileiro. Na realidade, foi o fim da "Petrossauro", termo cunhado pelo saudoso Roberto Campos para descrever a Petrobrás daquela época. Nessa fase foi criada a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), pela mesma Lei nº 9.478, que de forma independente regulamentou a legislação e promoveu leilões de áreas que permitiram a entrada no setor de empresas privadas, no segmento de exploração e produção. Com a nova legislação, a Petrobrás ficou mais blindada contra intervenções políticas, fez parcerias com empresas que entraram no mercado brasileiro e finalmente cumpriu a sua missão de tornar o Brasil autossuficiente em petróleo.

É sempre bom lembrar que foi graças à independência dada pelo governo federal que a ANP pôde realizar os leilões, a partir de 1998, e uma das consequências foi a descoberta do pré-sal. As áreas do pré-sal pertenciam aos chamados blocos azuis que foram devolvidos pela Petrobrás antes de se iniciarem os leilões e o regime de concessões previsto na Lei nº 9.478. No leilão de 2000, a Petrobrás, em parceria com a BG e a Petrogal, adquiriu o que é conhecido hoje como Campo de Tupi. É interessante observar que todos os campos já descobertos no pré-sal integraram os leilões da ANP e em todos a Petrobrás tem parceiros e é a operadora. À exceção do Campo de Azulão, que é operado por uma empresa privada, no caso, a Exxon-Mobil. Portanto, sem os leilões promovidos pela ANP, a descoberta da camada pré-sal, com certeza, levaria mais tempo para ser anunciada ao mundo.

Portanto, não foram o governo do PT nem a atual direção da Petrobrás que descobriram o pré-sal. A história dessa descoberta, bem como da autossuficiência, começou a se concretizar a partir do momento em que o governo brasileiro entendeu que não fazia nenhum sentido econômico deixar que uma empresa estatal assumisse o monopólio do risco de explorar petróleo. Para dar fim a essa anomalia o governo da época abriu o mercado de petróleo no Brasil, permitindo a entrada de novos investimentos beneficiando a Petrobrás, que passou a ter maior liberdade de atuação e, com o seu quadro de funcionários altamente competentes, levou a empresa a bater todos os recordes de lucro e produção de petróleo.

É uma pena que o governo insista em nos colocar no túnel do tempo e nos levar de volta aos anos 50. Vamos resistir.

GOSTOSA


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PAINEL DA FOLHA

Limite ao contrabando

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 08/06/09

Depois de reinterpretar a Constituição para impedir que a pauta da Câmara seja completamente travada pelas medidas provisórias, o presidente Michel Temer (PMDB-SP) estuda um meio de restringir os "contrabandos" nos textos, truque usado à exaustão pelo Executivo e pelo próprio Congresso. Busca-se brecha jurídica que limite os enxertos a temas de alguma maneira relacionados ao objeto central da MP.
Na terça-feira passada, durante a votação da 460, Temer chegou a se dizer "embaraçado". Originalmente editada para reduzir tributos de construtoras do programa "Minha Casa, Minha Vida", a MP incluiu, em seu texto final, até a criação de 284 cargos na Susep (Superintendência de Seguros Privados).



Pós-Lula. O Planalto estuda enviar ao Congresso projetos de lei que garantam a continuidade de programas sociais como o Bolsa Família e o Prouni, independentemente de quem for o vencedor da eleição presidencial de 2010.

Padrão. A possibilidade de veto de Lula a artigos da MP 458, editada para regularizar terras griladas na Amazônia, estabeleceu uma divisão curiosa que vem se repetindo no Senado: de um lado, PT e PSDB (a favor dos vetos); de outro, DEM e PMDB.

Fantasma. Na CPI que não começa nunca, o PSDB pretende martelar o bordão de que a Petrobras não pode ser transformada numa "nova PDVSA", referência ao controle que o governo de Hugo Chávez exerce sobre a estatal.

Cosme... Valendo-se da proximidade com Renan Calheiros (PMDB-AL), Aldo Rebelo (PC do B-SP) tem ajudado a costurar o nome do correligionário Inácio Arruda (CE) para um dos postos de comando da CPI da Petrobras. A ANP é o objeto da preocupação dos comunistas do Brasil.

...e Damião. Graças à antiga amizade Renan-Aldo, Arruda atuou contra a cassação do peemedebista em 2007.

Força-tarefa. Há no PT quem sonhe com uma cédula em São Paulo que tenha um candidato do partido, Ciro Gomes (PSB) e outro aliado, como o prefeito de Campinas, Doutor Hélio (PDT). Tudo para tentar forçar segundo turno contra o nome do PSDB.

Nem pensar. Em resposta, o PSB avisa que a candidatura de Ciro a governador só existirá se apoiada pelo PT desde o início, para que ele tenha estrutura partidária e tempo de TV competitivo.

Help. Tão logo encerrado o encontro que o lançou candidato à presidência do PT pela maior corrente do partido, a "Construindo um Novo Brasil", José Eduardo Dutra telefonou para o governador de Sergipe, Marcelo Déda. Pediu ajuda para se aproximar da "Mensagem", a ala comandada pelo ministro Tarso Genro.

Na vitrine. O governador de Santa Catarina, Luiz Henrique (PMDB), vai se licenciar logo no início de 2010 para que seu vice, Leonel Pavan (PSDB), assuma e tenha um tempo maior de exposição. Se o tucano decolar nas pesquisas, deve ser candidato com o apoio do PMDB e do DEM. Do contrário, os três partidos buscarão alternativa.

Mundo ideal. O PSDB gostaria que Yeda Crusius anunciasse o quanto antes a decisão de abdicar da reeleição, fazendo apelo pela governabilidade. Isso permitiria ao partido se aproximar de José Fogaça (PMDB), segundo colocado no Datafolha e ameaça real a uma vitória do PT no Rio Grande do Sul. Norte a Sul. Os tucanos acham que terão bons palanques com Beto Richa no Paraná, Marconi Perillo em Goiás e Simão Jatene no Pará. Os maiores problemas, hoje, seriam a fragilidade no Ceará e os desentendimentos com o DEM na Bahia. Fui.O ex-deputado e várias vezes candidato a governador Moroni Torgan avisou à cúpula do DEM que está fora do páreo em 2010. Vai se mudar para Portugal, onde presidirá a igreja Mormon. Tucanos e "demos" seguem à procura de candidato competitivo no Ceará. O governador Cid Gomes (PSB) estará com Dilma.

Com VERA MAGALHÃES e LETÍCIA SANDER

Tiroteio

"Se na oposição Kátia Abreu já tenta aparelhar, imagine como seria se estivesse no poder."


Do deputado FERNANDO FERRO (PT-PE), sobre o apoio da senadora do DEM-TO a Pedro Arraes Pereira, primo do governador Eduardo Campos (PSB-PE) cotado para presidir a Embrapa; os petistas são contra.

Contraponto

Day spa Com pendências a resolver, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, telefonou dias atrás para o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli. Só conseguiu encontrá-lo depois de várias horas e seguidas tentativas.
-Por onde você andou?- indagou Mantega entre curioso e impaciente.
Gabrielli estava na cadeira do dentista, o que para muitos significa sofrimento, mas para quem anda perseguido pelos senadores da oposição pode ser um refúgio:
-Estou aqui fazendo um relaxamento...

FERNANDO RODRIGUES

Internet nas campanhas

FOLHA DE SÃO PAULO - 08/06/09

BRASÍLIA - Depois de tantos fracassos e imposturas neste ano, o Congresso pode se redimir em parte levando adiante a ideia de liberar o uso da rede mundial de computadores na política. A proposta começa a ser debatida amanhã por uma comissão de deputados.
Hoje, os políticos brasileiros em campanha estão confinados a apenas um endereço na internet, regulado pelo TSE. Nada de blogs, twitters ou canais de vídeo no YouTube durante o processo eleitoral. É tudo ilegal, como se estivéssemos em Cuba ou na Coreia do Norte.
O Congresso e a Justiça Eleitoral no Brasil ainda não compreenderam exatamente o significado da internet. Agem como se fosse possível impor procedimentos regulatórios para o planeta inteiro.
O debate na Câmara, com o deputado Flávio Dino (PC do B-MA) à frente, é sobre a liberação completa da internet. As resistências persistem sobre o período de vigência dessa liberdade. Alguns consideram necessário estipular um prazo para campanhas eleitorais também no reino da internet.
As regras atuais são uma espécie de oficialização do cinismo. Candidatos a cargos públicos só podem se assumir como tal depois de formalmente nomeados por seus partidos, na metade do ano eleitoral. É um fingimento generalizado. Os políticos dizem em privado o que pretendem fazer e mentem em público para respeitar (sic) a lei.
A anomalia funcionava de maneira epidérmica na era pré-internet. Agora, nada impede a existência de sites no exterior expondo os pontos de vista de um determinado candidato, a qualquer tempo e época -e acessível aos milhões de brasileiros conectados.
Derrubar as barreiras legais -já inexistentes na prática- é uma providência positiva. Daria ao Congresso algum crédito neste período em que o Legislativo se especializou em produzir notícias ruins.

DORA KRAMER

Fantasmas ao meio-dia

O ESTADO DE SÃO PAULO - 08/06/09

Perfeitamente incorporado à paisagem praiana do Rio, o ministro Carlos Minc causa espécie no ambiente do planalto. Não é o primeiro nem será o último personagem que aparece na capital da República imbuído da convicção de que, sendo peculiar, fará a diferença.
De vez em quando aparece um. Chama atenção, prende todos os interesses, divide opiniões, junta sempre muita gente, é assunto por um tempo, até que começa a pecar pelo exagero e entra na mira da máquina de moer boas imagens.
Carlos Minc está nesse ponto, pronto para a inflexão.No momento, o menor dos problemas do ministro do Meio Ambiente é a possibilidade de uma demissão. Desse mal não morre enquanto atender à necessidade do governo no tocante à concessão de licenças ambientais para as obras do PAC.
Esse risco também não corre enquanto mantiver acesa a chama da briga com os grandes produtores rurais. Coisa recente, segundo parlamentares na bancada que tiveram com Minc conversas “normais e cordiais” no ano passado.
Ao construir essa dicotomia o ministro dificultou qualquer ação contra ele, pois o menor gesto seria visto como vitória dos “latifundiários”. Fica o presidente Luiz Inácio da Silva de mãos amarradas. Daí a segurança de Minc ao informar sua permanência “até o fim do governo”, antes mesmo da conversa formal marcada com o presidente para tratar da “algazarra” durante a ausência dele.
Daí a retomada do ataque, em tom de deboche, sobre o desejo da bancada ruralista de cortar o “pescocinho do Carlinhos”.
Quanto mais tensão se mantiver entre ele e um grupo que não priva mesmo de boa fama, mais seguro fica no cargo, mais constrangimento as ONGs que reclamam da política ambiental do governo têm de ligar a queixa à pessoa de Carlos Minc, mais heroica parecerá sua posição, com mais consagração poderá sonhar na próxima eleição.
Enquanto se assiste ao conflito vazio, não se questiona a eficácia do ministro na administração das questões substantivas relativas ao ministério nem se contesta sua capacidade de acomodar interesses e avançar naquilo que lhe concerne: o manejo racional dos recursos do meio ambiente.
Mas, pelo jeito, Minc já percebeu que essa briga sempre esteve perdida. Ao governo importa pouquíssimo o destino do ambiente. Não é um tema que sensibilize a massa do eleitorado nem é algo que possa fazer frente a um robusto calendário de obras em cima de um palanque.
Se não quiser macular sua bem-sucedida trajetória de político e ambientalista, se não quiser sair por aí com a pecha de carimbador de licenças ambientais, Minc parece convencido de que terá de combater algum dragão da maldade para, no contraponto, ficar no papel de santo guerreiro.
Nada contra, é do jogo atuar para deleite da arquibancada. Apenas é preciso levar em conta aquele velho lema segundo o qual a esperteza, quando é muita, vira bicho e engole o dono. Até agora, a estratégica de Carlos Minc tem dado certo. Mas a falta de sutileza, o imperativo de marcar com tintas muito fortes sua posição, pode levar ao efeito contrário.
Tudo o que é demais, até o factoide, enjoa. E o ministro não tem sido muito hábil na calibragem do estilo carnavalesco, seu maior e mais poderoso inimigo. Muito mais que qualquer integrante da bancada ruralista.
Por ora, ainda há ali alguma intimidação, uma vez que no terreno dos simbolismos Minc é do “bem” e os produtores rurais são do “mal”. Ninguém em sã consciência quer briga com quem, em tese, é soldado do bom combate.
Mas, quando a insistência é muita, o público desconfia. Ele teria se saído razoavelmente bem da mais recente ofensiva - ou “algazarra” no dizer do presidente Lula - se tivesse parado no pedido de desculpas aos ruralistas por tê-los chamado de “vigaristas”.
Mas, não, resolveu insistir. Jactou-se da sustentação recebida para permanecer no cargo e, contrariando a promessa de ser mais cauteloso com as palavras, deu-se à imprudência de recrudescer. E aí já em termos de pura provocação, o que levanta nos eleitos como inimigos a forte suspeita de que ao reagir apenas batem palmas para o ministro dançar.
Minc sabe perfeitamente bem que o objetivo da “turminha” não é exibir como troféu o “pescocinho” nem a “picanha do Carlinhos”. Sabe que a agricultura no Brasil não é um valhacouto de vândalos interessados em transformar “nossos biomas em latifúndios, em monocultura”.
Sabe que o choque real de concepções se dá no governo. As derrotas de que reclama foram todas impostas dentro e não fora do governo. Portanto, Minc está fazendo, e de maneira consciente, uma guerra com fantasmas sob o sol do meio-dia, na impossibilidade de lutar contra os reais adversários, pelos motivos e com as armas certas.
Tenta ganhar a chamada guerra da comunicação, área de sua notória especialidade. Esquecido, porém, de que só existe um personagem na posse do salvo-conduto para exorbitar do verbo impunemente e o nome dele não é Carlos Minc.

RUY CASTRO

A década que não existiu

FOLHA DE SÃO PAULO - 08/06/09

RIO DE JANEIRO - Tenho uma tese de difícil defesa e baixa possibilidade de aceitação, que só revelo aos mais chegados quando eles prometem não rir: a de que os míticos anos 60, que apaixonam todo mundo- tanto os que os viveram como os que só os conheceram de livro, disco ou filme-, não existiram.
Com isso quero dizer que, até 1965, ainda não tínhamos saído completamente dos anos 50. E, a partir de 1966, já estávamos nos anos 70 e não sabíamos. Donde os anos 60 não existiram. Tudo bem, é um enunciado ousado, talvez antipático. Mas, somente para argumentar, eis alguns dos motivos que me levaram a tal conclusão.
Até 1965, os homens ainda usavam terno e gravata. Cuidavam para não desfazer o vinco da calça e aplicavam Glostora ao topete. Os rapazes dobravam as manguinhas da camisa-esporte ao estilo James Dean. As mulheres usavam anáguas, armavam o cabelo com Bombril e só saíam à rua de frasqueira. Ainda não havia a pílula, donde os casais tinham de se virar para fazer amor. Fumava-se Hollywood e se tomava Old Parr. Tudo como nos anos 50. E, como nestes, lia-se Sartre, Faulkner e Giselle Monfort.
A partir de 1966, tudo acima foi abandonado, exceto Sartre, premiado com alguma sobrevida. Os homens aderiram aos jeans, às camisas coloridas e às calças justas e sem bolso. Muitos nunca mais foram ao barbeiro. As mulheres converteram-se à minissaia, passaram para a maxissaia e acabaram na midissaia. Veio a pílula e nos locupletamos todos. Fumava-se maconha e se tomava LSD. Como nos anos 70. E, como nestes, já se lia Marcuse, McLuhan e Mao Tse-tung.
Ou seja, sobrou pouco que se pudesse considerar exclusivo dos anos 60. Godard. Barbarella. Twiggy. Ravi Shankar. Geraldo Vandré. Leno & Lílian. Vladimir Palmeira. Ted Boy Marino. Topo Gigio.

SEGUNDA NOS JORNAIS

- Globo: FAB já resgatou 17 corpos; buscas são intensificadas


- Estadão: Bolsa recupera R$ 460 bi e volta ao nível pré-crise


- JB: Tecnologia ajuda ação da PM do Rio


- Correio: Professor só receberá 14º se nota de aluno melhorar


- Valor: Distribuidoras de energia divergem sobre concessões


- Estado de Minas: Cidades contra o crime