sábado, maio 30, 2009
GOSTOSA: PELO SISTEMA DE COTAS DO BLOG
MERVAL PEREIRA
A crise entre o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, os produtores rurais, a quem chamou de “vigaristas”, e os ministros “desenvolvimentistas” chega em um momento delicado, em que o Brasil é chamado a ter um papel relevante na política internacional de preservação do meio ambiente. O governo do presidente Lula parece preso a um paradoxo: gosta da parte ambiental que favorece o Brasil, como os combustíveis alternativos. Mas não se conforma com as normas ambientais que atrasam as obras do PAC.
O filósofo e historiador americano Jim Garrison, presidente do State of the World, uma ONG criada por Mikhail Gorbachev dedicada à preservação do meio ambiente, está no Brasil desde o início do ano tentando obter o apoio do governo brasileiro para um plano ambicioso de antecipar de 2050 para 2020 as metas de redução de emissão de gases de efeito estufa que devem ser definidas em uma reunião da ONU em Copenhagen no final do ano, em substituição ao Protocolo de Kyoto.
A ideia de Garrison é fazer uma conferência em uma cidade diferente nos próximos dez anos, “para chamar a atenção para esse enorme desafio”, e o Brasil seria a sede de 2010.
Para ele, o Brasil deve ser um dos líderes desse movimento, levando em conta justamente a política de combustíveis alternativos como o biodiesel e as condições climáticas favoráveis também à energia solar e de ventos.
Jim Garrison acha que o Brasil, por ser um dos maiores países do mundo, ter recursos naturais, viver em paz com os vizinhos e ser grande produtor de energia de fonte limpa (hidrelétricas), pode assumir a liderança desse movimento.
Garrison cita como bom exemplo a Cemig, companhia de energia de Minas, que tem 82% de sua geração de fonte limpa. Segundo ele, a Cemig, cujas ações são cotadas em Nova York, é considerada pela Dow Jones um destaque entre empresas do mundo que atuam na economia sustentável.
Diz Garrison que, segundo estudo do MIT (Massachusetts Institute of Tecnology), mesmo que fosse alcançada uma redução de 80% nas emissões até 2050, a temperatura subiria 4 graus. Por isso a necessidade de antecipar a meta para 2020.
Outra consequência preocupante do aquecimento global seria a subida do nível dos oceanos. Com o derretimento do Ártico e Groenlândia, o nível dos oceanos subirá, no mínimo, 25 metros, adverte Garrison, o que atingiria todos os países que têm grandes costas marítimas, como o Brasil.
A elevação do nível dos oceanos forçará a migração das populações litorâneas para o interior, em meio à falta de alimentos.
O derretimento de geleiras afetará cerca de 2,5 bilhões de pessoas, especialmente na China e na Índia.
A ocorrência de secas também na América Central levará a que haja migrações para os Estados Unidos, e destes para o Canadá.
Será um “cataclismo”, segundo Garrison, que não acredita que os Estados Unidos possam liderar uma mudança nos hábitos da humanidade por estarem envolvidos com uma crise econômica de graves proporções, embora acredite que o governo de Barack Obama estará comprometido, na reunião do fim do ano, com um programa de redução do efeito estufa.
Garrison levará o resultado das discussões no Brasil para uma reunião em Washington, em novembro, quando será debatido o que levar para Copenhagen onde, defende, deve-se lutar para fixar para 2020 a meta de corte de 80% das emissões.
Jim Garrison volta a alertar: “Se as emissões parassem amanhã, seriam necessários milhares de anos para o ambiente se recuperar”.
Segundo ele, “o momentum (das emissões) é tão forte que já não se pode mais evitar que a temperatura suba de 4 a 5 graus até 2050”.
Garrison alerta sobre as emissões naturais do metano para a atmosfera, causadas pelo degelo, segundo ele, em quantidade seis vezes maior que tudo que a Humanidade produziu desse gás até hoje.
Ele conta que um comandante russo de navio, ao navegar pelo Ártico, testemunhou que a água borbulhava. Era o escapamento de metano. Sobre o que fazer, ele afirma que não podemos mais evitar o aquecimento, mas podemos evitar “o pior”.
“Se temos dez anos para nos preparar, temos que fazêlo decididamente”.
Há dias, encerrou-se em Copenhagen um encontro empresarial internacional de preparação à reunião do fim do ano, e seis medidas foram decididas, algumas delas já para 2020.
O pressuposto de Jim Garrison de que é inevitável o aquecimento de 4 a 5 graus até 2050 não é aceito pelo fórum, que está propondo medidas para limitar esse aquecimento a 2 graus. São as seguintes as medidas: — Acordo para o estabelecimento de metas de redução do efeito estufa que sejam atingidas em 2020 e 2050, de forma a limitar a média do crescimento da temperatura a 2 graus. Medidas de curto prazo devem ser tomadas, e as de longo prazo devem focar o objetivo de fazer com que as emissões globais caiam pelo menos à metade dos níveis de 1990.
— Medição das emissões por atividade de negócios para que as metas possam ser verificadas.
— Incentivos para um aumento dramático nos financiamentos de tecnologia de baixas emissões.
— Desenvolvimento de novas tecnologias de baixas emissões.
— Fundos para tornar as comunidades mais capazes de se adaptar aos efeitos da mudança climática.
— Meios para financiamento da proteção das florestas.
A grande surpresa do encontro empresarial em Copenhagen foi a posição dos empresários chineses , comprometidos com metas de redução dos gases de efeito estufa e com energias alternativas. (Continua amanhã)
MÍRIAM LEITÃO
O ex-ministro das Relações Exteriores Luiz Felipe Lampreia disse que nunca viu “tamanha série de enganos e equívocos” no Itamaraty. O cientista político Amaury de Souza acha que o governo não atingiu suas metas na política externa. Uma pesquisa feita por Amaury mostra que os brasileiros querem maior presença no exterior e só 1% quer que o país “cuide apenas dos seus próprios problemas”.
Entrevistei os dois na GloboNews sobre os desafios da política externa. Ambos listam erros e fracassos da atual política do governo Lula.
— Entrei no Itamaraty em 1963. Antes disso, meu pai era diplomata, de maneira que estou no Itamaraty desde que nasci. Confesso a você que nunca vi tamanha série de enganos e equívocos, que derivam em parte de falta de profissionalismo, em parte de perspectiva equivocada, de falta de planejamento e um certo ’juvenilismo’, um entusiasmo ideológico — disse o embaixador.
Nessa lista de equívocos, Lampreia inclui a ideia de mandar um embaixador para a Coreia do Norte — que teve de ser abortada — e a decisão de apoiar a candidatura do egípcio Farouk Hosny para a direção-geral da Unesco: — Eu creio, sinceramente, que a explicação básica está no fato de que o dr.
Márcio Barbosa, um homem de extrema competência e grande posição na Unesco, padece de um vício enorme: o de ter servido ao governo Fernando Henrique Cardoso. O Itamaraty tem longa tradição de respeitar posições diferentes e não ter facciosismo.
Ele acha que os árabes merecem um gesto nosso, mas esse foi o sinal errado.
— Primeiro, há um candidato brasileiro. Segundo, o egípcio é uma pessoa inaceitável.
Uma organização que se propõe a defender a educação e a cultura não pode ter como diretor um homem que diz que vai queimar livros. É uma contradição — afirmou.
Amaury, que está lançando o livro “A Agenda Internacional do Brasil”, disse que o Itamaraty está reagindo aos insucessos dos últimos anos: — Até fizemos alguns movimentos certos. Apostamos em Doha, mas não prosperou; derrubamos a Alca, mas nada foi colocado no lugar; não conseguimos reorientar o Mercosul e inventamos ao mesmo tempo uma Unasul, que não tem futuro brilhante. Nenhuma das metas do governo Lula foi alcançada: não conseguimos assento permanente no Conselho de Segurança da ONU; a aproximação Sul-Sul ficou difícil porque a China se considera do mundo desenvolvido; a integração da América do Sul avançou apenas retoricamente.
Continuamos precisando de uma infra-estrutura que ligue as costas do Atlântico e do Pacífico, de união energética e mais comércio. O nosso comércio é feito 96% por via marítima. Ou seja, não conseguimos atravessar nossas fronteiras terrestres comuns. Essa não é uma história de sucesso — afirmou Amaury.
No caso do Paraguai, Lampreia conta que o conflito em Itaipu é a bandeira que resta ao presidente Lugo, que não consegue vencer as máquinas dos partidos tradicionais, entrincheirados no governo, e que resistem à agenda dele.
Sobre Hugo Chávez, ele diz que definitivamente não se trata de um democrata: — É uma falácia dizer que a Venezuela é uma democracia só porque faz eleições plebiscitárias. A democracia não se compõe só de eleições. É independência de poderes, liberdade de imprensa, segurança jurídica, Estado de Direito. Nenhuma delas existe na Venezuela.
O livro de Amaury traz o resultado de pesquisas feitas com líderes de várias áreas sobre a política externa brasileira.
— Entrevistamos diplomatas, congressistas, senadores e deputados na Comissão de Relações Exteriores das duas Casas, empresários, empresas que estão voltadas para o comércio internacional, jornalistas, órgãos de representação de classe, Fiesp, CUT, MST. Há uma concordância enorme em relação à importância da ação internacional do Brasil. Só 1% dos entrevistados acredita que o Brasil deveria cuidar dos seus próprios problemas e esquecer o mundo. Todos querem ser parte da cena internacional. Não há consenso no que se tornou a linha mestra do governo Lula, como a de que o Brasil deveria priorizar o eixo das nações em desenvolvimento e baixar a prioridade da relação com Estados Unidos, Japão e Europa. Isso racha essa comunidade no meio — disse Amaury.
Na visão dele, a concepção original do Mercosul acabou. Agora, há uma grande incógnita.
— Se a Venezuela passa a integrar o Mercosul, qual é o modelo de futuro? Hugo Chávez não aceita as regras básicas de conformação do bloco, quais sejam: economia de mercado, uma área comercial para negociar com o mundo e democracia — diz Amaury Sobre a Coreia do Norte, Lampreia é direto: — O governo da Coreia do Norte é louco, louco de hospício.
Mas tem mísseis e bombas atômicas, o que é altamente perigoso. A comunidade internacional pode fazer muito pouco. O Conselho de Segurança pode aprovar quantas resoluções quiser, que eles não vão dar a menor bola. A única solução real é a China deixar de proteger discreta ou abertamente a Coreia do Norte.
O Brasil terá que lidar cada vez mais com questões globais, por isso, é melhor não cometer tantos erros.
BRASÍLIA - DF
Padrinho forte
O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, terá muito o que comemorar amanhã, quando a Fifa anuncia as 12 cidades brasileiras que vão sediar a Copa do Mundo de 2014. Ele foi o maior defensor da candidatura de Cuiabá (MT). Quem conhece desse traçado garante que a torcida do magistrado foi maior do que a do governador do estado, Blairo Maggi.
Porta fechada
Incomodado com os crescentes boatos de uma possível candidatura do presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, ao Senado, o PT baiano tem disseminado entre aliados que sua prioridade absoluta é a reeleição do governador Jaques Wagner. As duas cadeiras para a Casa, portanto, devem ser negociadas para forjar a aliança de 2010. "Está dito em resolução aprovada pelo PT, em 7 de março. O PT não vai voluntariamente indicar nenhum candidato a senador", diz o presidente do PT no estado, Jonas Paulo.
No vídeo
A oposição vai coletar as imagens de Lula no palanque (ops! numa solenidade) ontem no Rio ao lado da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Ele falou que não diria nada sobre eleição, mas soltou o verbo ao garantir que iria vencer o pleito de 2010, indicar Dilma com uma flor e arrematou falando da turma que só se aproxima de pobre no dia da eleição. "É o que a gente chama de político Xuxa: antes da eleição é beijinho, beijinho e, depois, é tchau, tchau".
No cafezinho
Sereia/ Ao justificar no PPS seu apoio à PEC do terceiro mandato, o deputado Nelson Proença (RS) fez um breve, mas ilustrativo, relato sobre a moça escolhida por Jackson Barreto (PMDB-SE) para coletar as assinaturas dos colegas. A desculpa não colou.
Prata da casa I/ O programa do Democratas do Distrito Federal, produzido pela GW, dispensou os narradores profissionais. Quem fará esse papel é o governador do DF, José Roberto Arruda, em três episódios que vão tratar de temas como governar perto da população, qualidade de vida e como resolver os problemas da cidade moderna.
Prata da casa II/ Artistas do Distrito Federal participarão do concurso para a escolha do samba enredo da Beija-Flor, escola eleita para homenagear o cinquentenário de Brasília no carnaval de 2010. O acerto foi selado ontem pelo vice-governador Paulo Octávio e pelo presidente da agremiação, Farid Abrão David. Trata-se de um agrado à categoria, que chiou por ter sido preterida no último aniversário da capital, em abril.
Silêncio forçado/A mudança de temperatura em Brasília deixou quatro senadores afônicos: Paulo Paim, Eduardo Azeredo, Fernando Collor e Mão Santa. Estão todos mastigando raiz de gengibre, in natura, receitadas por Heráclito Fortes. "É um santo remédio", diz ele. Heráclito não se conteve ao ver a sessão matutina de ontem encerrada às 10h25 quando normalmente prolonga-se com o Mão Santa falando até 13h. "As taquígrafas estão vibrando com a rouquidão do Mão Santa", comentou.
CELSO MING
O governo da França apresentou quinta-feira, em Paris, durante um evento realizado na sede da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a proposta de taxação das operações financeiras internacionais.
A ideia é instituir uma espécie de CPMF cuja criação foi defendida pela primeira vez em 1972 pelo economista James Tobin, Prêmio Nobel de 1982, que na ocasião se preocupava com o aumento do risco de crise internacional, uma vez que o presidente Nixon havia acabado com o padrão-ouro. Funcionaria como um pedágio que desestimularia operações especulativas.
A proposta ficou conhecida como Taxa Tobin e nunca teve boa acolhida. Em 2001, poucos meses antes de morrer, o próprio Tobin desistiu da sugestão, alegando que fora desvirtuada.
Ela havia sido incorporada pela Internacional Socialista como fonte de recursos para combater a pobreza. Mais interessados na arrecadação do que na sua função regulatória, também os movimentos antiglobalização liderados pela ONG francesa Attac se encarregaram de manter a peteca no ar.
Tal como apresentada agora pela França, essa taxa corresponderia a 0,005% (cinco milésimos) do valor das operações financeiras, o suficiente para proporcionar uma arrecadação anual de US$ 60 bilhões.
Em 1998, o então presidente brasileiro Fernando Henrique pediu, em carta enviada aos chefes de Estado do Grupo dos Sete (G-7), a instituição dessa taxa. Quatro anos mais tarde, o presidente Lula fez a mesma colocação no Fórum Econômico Mundial de Davos, repetida em 2005 pelo então presidente conservador da França, Jacques Chirac.
Os obstáculos políticos para a implantação da taxa são enormes. Os Estados Unidos e a Inglaterra nunca a aceitaram, um pouco por motivos ideológicos e outro pouco por razões práticas. Além disso, um imposto desse tipo exigiria cobranças e controles globais, mais a criação de uma instituição supranacional com poderes para cobrar, transferir recursos e punir sonegadores.
Os obstáculos técnicos também são relevantes. Não há, por exemplo, como distinguir rapidamente uma operação financeira de outra comercial, já que o comércio mundial (de mercadorias e serviços) é largamente financiado. Uma análise sobre a natureza de uma operação dessas levaria dias e, no entanto, as transações são feitas à velocidade da luz, 24 horas por dia.
Numa União Monetária, como a que prevalece na Europa, onde as operações de câmbio entre países foi eliminada, boa parte do fato gerador do imposto desapareceu. Além disso, uma taxa assim criaria mecanismos de compensação que evitariam transferências entre países. Se o Itaú, por exemplo, devesse US$ 1 milhão para o Deutsche Bank e este devesse US$ 1 milhão para o Bradesco, ficaria tudo resolvido se o Itaú passasse US$ 1 milhão para o Bradesco. Não existiria transferência, o imposto estaria sendo driblado e não haveria como impedir esse jogo.
O próprio Partido Socialista Francês uma vez no governo, sob o primeiro-ministro Lionel Jospin, havia desistido da proposta por considerá-la impraticável. Mas, como ocorreu com a ideia do idioma único (o esperanto), sempre aparece alguém que desenterra a Taxa Tobin e proclama que ela tem de ser adotada.
ROBERTO POMPEU DE TOLEDO
Roberto Pompeu de Toledo
Notícias na TV
"Ô produtor de telejornal, meu semelhante, meu
irmão: de tanto caprichar na reconstituição da
realidade, não estarias criando uma obra de ficção?"
Em Roma como os romanos, na enchente como os molhados. O repórter nunca se contentaria em apenas mostrar as ruas transformadas em rios, os automóveis em jangadas, as casas em aquários. Precipita-se, intrépido, no aguaceiro e, molhado até o joelho, ei-lo, de microfone na mão, a desempenhar sua tarefa não apenas in loco, ao vivo e em cores, mas com os efeitos do dilúvio a castigá-lo na pele. É o jornalismo de imersão na notícia em uma de suas mais completas versões. Melhor, só se o repórter transmitisse do fundo da água. Se se tratasse de um vendaval, o ideal seria que pudesse se mostrar fustigado com tal ferocidade que tivesse de se abraçar a um poste para não alçar voo como uma pipa, o corpo já despregado do solo, os pés flutuando no espaço. À falta disso, pelo menos que se mostrasse com os cabelos ao vento. Sem cabelos ao vento, não há cobertura digna de vendaval. É imperioso escolher para a missão repórteres cujos cabelos sejam passíveis de esvoaçar ao vento. Na enchente como os molhados, na ventania como os ventados.
Agora a notícia é sobre a prisão dos implicados no último escândalo de caixa dois/suborno/desvio de verbas/lavagem de dinheiro/formação de quadrilha e, tanto quanto a polícia, é a TV que vai prender o suspeito. A TV madruga à porta do suspeito. O suspeito abre a porta, sonolento. A TV pespega-lhe as algemas. Ouve-se o clec das algemas se fechando. A TV encaminha o suspeito ao camburão. Força-o à laboriosa empreitada de entrar no carro manobrando o traseiro, dada a impossibilidade de contar com as mãos. O carro parte em disparada. Não basta reportar a realidade. Realidade é para os reality shows. A ordem é radicalizar o real. No próximo bloco: disparam os preços dos legumes – e o que fazer para proteger seu dinheiro em tempos de crise.
Se o réu agora são as leguminosas, vai-se flagrá-las igualmente em seu habitat. A repórter percorre o supermercado, empurrando um carrinho. Pepino – cinquenta por cento de aumento. Ela pega os pepinos da prateleira, põe no carrinho. Abobrinha – setenta por cento; berinjela – cem por cento; rabanete – cento e cinquenta por cento. Nesse momento uma freguesa, com seu carrinho, aproxima-se da repórter. Que freguesa distraída. Não viu que estavam gravando? Não viu as câmeras, não atentou para as luzes? Enquanto a repórter continua a elencar os pepinos e respectivos índices de aumento, a freguesa segue impassível, a escarafunchar as prateleiras, bem ali ao lado, e levar um ou outro produto ao carrinho. A repórter enfim lhe interrompe a rotina. O que a senhora achou dos preços dos legumes? Um escândalo! Estão muito mais altos do que na semana passada. Que sorte a freguesa ter aparecido bem nessa hora. Faltava à notícia o toque de drama doméstico que só a voz do consumidor é capaz de conferir.
Volta para o estúdio. Os âncoras fecham a cara. Estão bravos com o aumento de preços. E o que fazer para proteger o seu dinheiro? A reportagem é agora com um economista, que, compenetrado, surge fazendo cálculos na calculadora. A regra é clara: se a entrevista é com um escritor, tem de ter no fundo uma estante de livros; se com um biólogo, tem de mostrá-lo com um olho pregado no microscópio; se com economista, tem de ter calculadora. E o que fazer, em tempo de crise? Agora sim, ele levanta os olhos da calculadora e dá seu recado. Prudência nos investimentos. Não gastar mais do que se tem. Calcular os juros antes de comprar a prazo. Não comprar a prazo se se pode pagar à vista. (Ô economista! Precisava de tanto cálculo, para chegar a essas conclusões?) No próximo bloco: futebol. E o âncora sorri. É preciso sorrir quando a notícia é de futebol. Assim o público fica avisado de que esse é um assunto ameno.
São mostrados os gols da rodada. Segue-se reportagem sobre os nordestinos que se revelaram exímios fazedores de sushi nos restaurantes japoneses de São Paulo. Começa com a repórter passeando entre as mesas do restaurante. De forma mais espantosa ainda do que a freguesa do supermercado, ninguém parece se dar conta da presença da câmera. Continuam os clientes todos a conversar uns com os outros, entre uma manobra e outra com os hashis. (Ô produtor de telejornal, meu semelhante, meu irmão: de tanto caprichar na realidade, não estarias criando uma obra de ficção?) A repórter chega ao balcão, mostra o moço franzino cortando o salmão com perícia de esgrimista. O moço diz que veio do Piauí e que nunca antes tinha ouvido falar de sushi. Esplêndido: ele diz tudo o que se espera de um piauiense que vira fazedor de sushi. Volta ao estúdio. Os âncoras sorriem. O jornal termina com uma nota alegre e uma história de sucesso, como deve. Boa noite.
BETTY MILAN
Betty Milan
O poder da palavra
"Não somos educados para escutar o que dizemos.
Como se essa educação devesse ser privilégio do
psicanalista, e não um recurso ao alcance de todos.
O fato é que poucos são capazes de escutar-se,
e essa incapacidade é a maior razão do conflito
entre as pessoas e os povos"
A vida não é fácil e se torna impossível quando dizemos o que não deve ser dito. Com essa frase, eu poderia ter concluído a resposta dada a uma leitora da minha coluna eletrônica em VEJA.com, que corre o risco de prejudicar gravemente a própria filha por ser incapaz de se conter.
Ela deu à luz aos 16 anos por causa de um escorregão "daqueles que muita gente dá" e assumiu a responsabilidade materna, lutando para sustentar a filha e se ocupando de todos os detalhes da sua vida. Foi pai e mãe, durante mais de uma década. Só que agora, cansada de dar conta sozinha, perdeu a paciência e diz para a menina que ela não faz nada direito e não será nada na vida. Como se não bastasse, nos momentos de raiva, culpa-a pelo fato de ela própria não ter um emprego melhor, acrescentando que abriu mão de tudo para ser mãe. De tanto se sentir culpada, a menina responde que não devia ter nascido.
Não é preciso muito para perceber que essas falas – mortíferas – são uma condenação à infelicidade mútua. A mãe expõe a filha ao desejo do suicídio e a si mesma a uma perda irreparável. Mais comuns do que imaginamos, dão o que pensar sobre o poder da palavra.
Com ela, nasce o amor que move o sol e as estrelas, o doente pode curar-se e o morto segue para outro mundo sem deixar de existir no mundo dos vivos. Com ela, o consolo se torna possível e a dor da perda pode ser superada. A palavra serve para unir, curar, consolar... Mas também para desunir, prejudicar, desesperar... Em Grande Sertão:Veredas, Guimarães Rosa escreveu que viver é perigoso. Se substituirmos "viver" por "falar", teremos uma máxima igualmente verdadeira, pois falar também implica cuidado. Daí a razão pela qual se diz que o silêncio é de ouro.
Mas quem não fala não se liga realmente aos outros. Para encantar, é preciso correr o risco de decepcionar. Para ser aprovado, é preciso expor-se à desaprovação. Portanto, é imperativo falar. Isso significa que só nos resta saber falar, ou seja, não dizer o que não deve ser dito. Só resta a prudência, que, além de necessária, é possível, embora suponha vigilância contínua.
Nós nos fazemos por meio da palavra, e, no entanto, a consciência disso é insuficiente. Porque não somos educados para escutar o que dizemos. Como se essa educação devesse ser privilégio do psicanalista, e não um recurso ao alcance de todos. O fato é que poucos são capazes de escutar-se, e essa incapacidade é a maior razão do conflito entre as pessoas e os povos.
Quem se escuta está mais preparado para fazer bom uso da palavra. Para usá-la como um fio que conecta ao outro, e não como uma espada que separa e mata. A sorte depende menos do que nós possuímos do que do nosso controle, o de que nos tornamos capazes por termos aprendido a escutar o outro e nos escutar.
RUTH DE AQUINO
Uma coisa é um senador receber por mês R$ 3.800 como auxílio-moradia – mesmo morando em apartamento funcional, residência oficial ou imóvel próprio. É ilegal. Outra coisa é não pedir o auxílio-moradia, mas ganhar assim mesmo, por um “equívoco”. E a terceira coisa é não saber – não ter ideia – que há um ano esse valor é depositado em sua conta corrente. Dá um total de R$ 45 mil. Não sei o que é mais embaraçoso, mais difícil de explicar ao brasileiro comum.
O erro não aconteceu apenas com o presidente do Senado, José Sarney, como foi revelado pelo jornal Folha de S.Paulo. Os senadores João Pedro (PT-AM), Cícero Lucena (PSDB-PB) e Gilberto Gollner (DEM-MT) também recebiam o auxílio-moradia, apesar de viver em apartamentos funcionais cedidos pelo Senado. Todos prometeram cancelar. Sarney, que vive em imóvel próprio, mas tem direito a residência oficial, prometeu devolver.
Seria interessante que essa quantia pudesse ser doada a dezenas de milhares de brasileiros que perderam suas casas devido às chuvas e enchentes. Não seria um uso nobre e adequado para algo que se chama auxílio-moradia?
Dois casos revelam enorme cara de pau. Os senadores Gerson Camata (PMDB-ES) e Valdir Raupp (PMDB-RO) recebem auxílio-moradia do Senado de R$ 3.800, mesmo tendo casa própria. O.k. Só que suas mulheres, deputadas, também recebem auxílio-moradia de R$ 3 mil da Câmara. Não é sensacional? Vamos todos fazer uma vaquinha para ajudar deputados e senadores a morar com estilo em Brasília.
Sarney pediu desculpas na quinta-feira por ter “passado informação errada” aos jornalistas. Ele tinha garantido dois dias antes que jamais recebera o auxílio-moradia. Depois admitiu que estava enganado. Ele afirmou que não teria sido adequadamente informado por sua equipe de assessores.
em sua conta. Melhor que pedir desculpas depois
“Eu nunca pedi auxílio. Por um equívoco, a partir do meio de 2008, verificaram que realmente estavam depositando na minha conta. Mas eu já mandei dizer que retirassem, porque nunca requeri e tinha a impressão que não estava recebendo. Eu dei uma informação errada e peço desculpas”, disse.
Aos 79 anos, Sarney é um dos políticos mais experientes, hábeis e poderosos do Brasil, muito admirado pelos pares por suas qualidades de articulador. Foi aliado de FHC, hoje é aliado de Lula. Raramente se altera. Ex-presidente da República, é imortal da Academia Brasileira de Letras pelos poemas e livros que cometeu. Também foi imortalizado em seu Estado.
Para nascer, no Maranhão, há a maternidade-referência Marly Sarney. Sarney dá nome a vilas, escolas. Os maranhenses pesquisam na Biblioteca José Sarney. O Tribunal de Contas foi batizado de Palácio Roseana Sarney. Existe a Ponte José Sarney. Avenida, rodoviária, fórum levam o sobrenome da família. Tamanha homenagem em vida reflete a popularidade do senador em seu Estado e no país.
Quem o senador punirá por ter enfiado em sua conta-corrente – e, segundo ele, a sua revelia – um dinheiro a que não tinha direito? As desculpas de Sarney não apontam autor, o sujeito é indeterminado. Quem “estavam depositando”, quem “verificaram”, quem “vão retirar” o benefício irregular? Ficamos sem saber de quem partiu o equívoco. Quem, afinal, teria sido mais realista que o rei?
Estamos, felizmente, no Brasil, onde a imprensa pode se manifestar com liberdade – e não na Venezuela censora de Chávez, onde jornalistas que criticam o regime são perseguidos e onde o escritor peruano Vargas Llosa é retido por uma hora no aeroporto. Por isso, aí vai uma sugestão aos políticos: verifiquem suas contas-correntes. Conversem com seus assessores para entender quanto os senhores estão ganhando por mês e a troco de quê. Essa barafunda de verbas indenizatórias e auxílios e benefícios não ajuda a polir a imagem do Congresso.
A transparência – um esforço louvável – fará vir à tona mais e mais casos. Não tem jeito. Melhor mesmo é não ter de pedir desculpas.
CRISTIANE SEGATTO
cristianes@edglobo.com.br
Repórter especial, faz parte da equipe de ÉPOCA desde o lançamento da revista, em 1998. Escreve sobre medicina há 14 anos e ganhou mais de 10 prêmios nacionais de jornalismo
Por onde andam os mais badalados oncologistas do país, aqueles que atendem os políticos, as celebridades, os ricos? Até o início da semana estarão todos no mesmo lugar: em Orlando, na Flórida. É lá que acontece a reunião anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO). Esse é o mais importante congresso mundial sobre câncer. Trinta mil especialistas se reúnem para acompanhar os resultados das mais recentes pesquisas no tratamento da doença.
O tema deste ano é a personalização do tratamento. Várias sessões vão tratar dos avanços na busca de testes que permitam identificar qual paciente vai se beneficiar de qual remédio. A evolução do conhecimento sobre a genética dos tumores tem levado ao surgimento de testes capazes de indicar se os medicamentos trarão ou não algum benefício ao paciente com determinado perfil genético.
É uma boa forma de evitar que o doente faça um tratamento, enfrente os tantos efeitos colaterais e, no final, não tenha nenhum benefício. Esses testes evitam também gastos desnecessários com remédios caríssimos. Imagine o que é ter de se desfazer dos bens conquistados numa vida inteira para pagar remédios que custam mais de R$ 10 mil por mês e depois descobrir que eles não fizerem efeito nenhum. Atualmente, estão disponíveis poucos testes desse tipo. Mas essa é uma área que deve crescer muito e trazer grandes vantagens.
Serão divulgados também estudos que confirmam o benefício da incorporação de remédios da classe chamada de terapia-alvo (aqueles que atacam as células do câncer e poupam a maioria das células sadias) ao tratamento tradicional.
Um deles demonstra que as mulheres com um tipo de câncer de mama conhecido como HER2 negativo, já em estado de metástase, vivem mais tempo se forem tratadas com a droga Avastin (bevacizumabe), além da quimioterapia convencional.
Outro estudo que será apresentado durante a reunião confirma o benefício do Tarceva (erlotinibe) após a realização de quimioterapia em pacientes com câncer de pulmão metastático.
Esses benefícios, porém, não representam a cura nem o ganho de anos de vida. Em geral, o benefício verificado nesses estudos significa dois ou três meses de vida a mais - ao custo de milhares de reais.
A reunião da ASCO é uma grande vitrine do câncer. Um lugar onde estudos iniciais com drogas experimentais são apresentados, uma janela para o futuro. É um congresso considerado imperdível pela maioria dos oncologistas. É também uma arena de frustração.
Muitos dos médicos brasileiros que comparecem a esse congresso têm uma dupla militância: atendem a classe média e os ricos nos consultórios particulares e os pobres nos bons centros universitários que aceitam pacientes do SUS. Diante dos avanços apresentados a cada ano, a angústia se repete: "Fico feliz por saber que há avanços e frustrado por perceber que não poderei oferecê-los aos meus pacientes, principalmente os do serviço público", diz o oncologista André Murad, da Universidade Federal de Minas Gerais. "A distância que separa nossa oncologia real da oncologia "virtual" apresentada nesses congressos internacionais se agiganta a cada ano", afirma.
Segundo Murad, os medicamentos empregados no tratamento do câncer há 20 anos eram os mesmos tanto na clínica privada quanto no serviço público. A chegada das novas drogas e o aumento dos custos criaram um abismo. "As restrições de gastos com combinações modernas de medicamentos aumentaram radicalmente as diferenças entre a terapêutica pública e privada", diz.
Estive várias vezes nesse congresso e sempre tive a mesma sensação de Murad. De certa maneira, a reunião da ASCO é uma espécie de Disneylândia, um reino da fantasia onde se admiram as maravilhas da inovação e do avanço científico. Mas o encantamento acaba no aeroporto, antes das doze badaladas da meia-noite.
Em 2009, devem surgir no Brasil 466 mil novos casos de câncer. E 141 mil famílias perderão um parente para a doença. A multiplicação de descobertas sobre a doença enche a sociedade de esperanças. Mas o combate ao câncer exige persistência, disposição e recursos.
Poucos brasileiros podem bancar as mais variadas tentativas de prolongar a vida. Um deles é o vice-presidente José Alencar, que nasceu pobre e tornou-se milionário às custas de muito trabalho. Ele está em Houston, no Texas, para o início de um novo tratamento experimental. Vai encarar, com a objetividade de sempre, mais uma tentativa de controlar o sarcoma (câncer que ocorre em tecidos como músculo, gordura, nervos) que teima em ressurgir a cada vez em que é removido.
Torço por ele e por todos os brasileiros que vivem a experiência do câncer. No início desta semana, pensei muito em Alencar e nos enormes desafios que o Brasil enfrenta no combate à doença. Tive a honra de vencer pelo segundo ano consecutivo o Prêmio de Jornalismo do Instituto Nacional de Câncer (INCA). A matéria Câncer: por que a luta ainda é tão difícil foi considerada a melhor reportagem sobre a doença publicada em todas as revistas brasileiras em 2008. Ela traz revelações sobre o convívio de José Alencar com o câncer e um balanço das vitórias e dos desafios da ciência na luta contra a doença. Agradeço, de coração, aos leitores que se interessam pelo que escrevo e que me incentivam a seguir em frente. Agradeço, imensamente, a Alencar pelas lições de vida que não vou esquecer.
DIOGO MAINARDI
Diogo Mainardi
Ética em transe
"Depois de suprimir os valores éticos da política interna, o PT suprimiu os valores morais da política externa. Kim Jong-Il, para o petismo, é uma espécie de Banco Rural – uma simples fonte de receita"
Kim Jong-Il liga o DVD:
Porfirio Diaz e Paulo lutam na escadaria. Porfirio Diaz está armado. Paulo o esbofeteia e se afasta. Em off, rajadas de metralhadora. Ópera. Porfirio Diaz grita, em lágrimas: "Sozinho! Paulo! Sozinho! Paulo! Sozinho!".
Kim Jong-Il, irritado, desliga o DVD. Dá uma olhada na capa: Terra em Transe. Dá uma olhada no comentário do diretor: "Terra em Transe é um documentário sobre a metáfora. Crítico, e mais do que isso, dialética da metáfora X realidade. Uma chave: ópera e metralhadora". Kim Jong-Il é tomado pelo desejo de exterminar aquela gente insensata, e manda direcionar um de seus foguetes dotados de ogiva nuclear contra o país que originou o filme – o Brasil. Quem pode recriminá-lo?
É isso que acontecerá quando pudermos mandar nosso homem para a Coreia do Norte. Seu nome é Arnaldo Carrilho. Nesta semana, ele iria abrir a embaixada brasileira em Pyongyang. Os planos tiveram de ser adiados porque na mesma data, desafortunadamente, Kim Jong-Il decidiu detonar uma bomba nuclear. E disparar meia dúzia de Taepodong-2, seu míssil balístico. E desencadear uma guerra contra o resto do mundo. Arnaldo Carrilho declarou que, chegando à Coreia do Norte, presentearia os DVDs de Glauber Rocha a Kim Jong-Il. Que é um "cinéfilo", segundo nosso diplomata. Chamar um sociopata como Kim Jong-Il de cinéfilo equivale a chamar Hitler de vegetariano.
A abertura de uma embaixada brasileira na Coreia do Norte, na mesma semana em que Kim Jong-Il detonou uma bomba nuclear, é só a última de uma série de desfeitas do Itamaraty. Lula e Celso Amorim defendem as escolhas ultrajantes de nossa diplomacia com o argumento de que o Brasil topa fazer negócios com qualquer um. Depois de suprimir os valores éticos da política interna, o PT suprimiu igualmente os valores morais da política externa. Kim Jong-Il, para o petismo, é uma espécie de Banco Rural – uma simples fonte de receita. O resultado de tanto despudor é que passamos até a abrigar terroristas da Al Qaeda no território nacional.
Mas há também um parentesco ideológico entre o PT e a Coreia do Norte. No ano passado, na festa do partido, o representante norte-coreano disse o seguinte: "O PT está construindo um socialismo de tipo brasileiro. Nós, do Partido do Trabalho da Coreia, temos a mesma finalidade". É isso: Kim Jong-Il quer construir um socialismo de tipo brasileiro. Sozinho! Kim! Sozinho! Kim! Sozinho!
Nelson Rodrigues só gostou de uma cena de Terra em Transe. É aquela na qual Glauber Rocha esfrega na cara da plateia que "o povo é débil mental". O cinéfilo Lula e o cinéfilo Celso Amorim entenderam perfeitamente a mensagem do filme.
PANORAMA
REVISTA VEJA
Panorama
Holofote
Felipe Patury
A batalha por Minas
Ed Ferreira/AE |
Uma das mais decisivas batalhas pela Presidência da República será travada neste ano em Minas Gerais. Lá, o PT e o PSDB disputam o apoio do diretório estadual do PMDB. Aquele que o conquistar angariará votos preciosos para firmar uma aliança nacional com o partido e aumentar, assim, o tempo de propaganda eleitoral na TV. O PT saiu favorito, porque o cacique do PMDB local, Hélio Costa, é ministro das Comunicações de Lula. Em 2008, a relação entre ambos azedou, porque Costa decidiu concorrer ao governo mineiro contra um petista. Agora, descambou. Rápido na arte de aproveitar brechas, o governador tucano Aécio Neves já disse aos peemedebistas mineiros que fará de tudo para tê-los como aliados em 2010.
A ex-mulher se livrou
Lailson Santos |
Como bem sabe o financista Daniel Dantas, o empresário Luiz Roberto Demarco é daqueles que afundam com o inimigo só para vê-lo se afogar. Com essa disposição, ele entrou, em 2002, com uma ação judicial contra Regina Yazbek, sua ex-mulher, acusando-a de roubar seus e-mails. A Justiça arquivou o caso há dez dias, por recomendação da promotoria, que escreveu que Demarco fez uma denúncia que não passava de "diz que me diz" e, ainda por cima, tumultuou o processo.
O futuro de Blairo
Paulo Vitale |
O governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, está com um pé fora da política. Decidiu não concorrer ao Senado e, a interlocutores próximos, confidenciou que cogita deixar o posto no primeiro semestre do próximo ano. Daria tempo, assim, a seu vice, Silval Barbosa, para assumir o governo do estado e concorrer à sua sucessão. Blairo explicou a alguns amigos que poderia dedicar-se mais a projetos de preservação da Amazônia. Pensa também em reassumir suas empresas e montar uma divisão de criação e abate de aves. Seus aliados trabalham para que ele assuma o Ministério dos Transportes ou o da Agricultura, cujos titulares disputarão a eleição.
Está escrito nas estrelas
Wilson Dias/ABR |
O ex-ministro do Tribunal de Contas da União Marcos Vinicios Vilaça deve concorrer em setembro à sucessão do atual presidente da Academia Brasileira de Letras, Cícero Sandroni. Vilaça, que presidiu a casa em 2006 e 2007, fazia campanha para que José Sarney sucedesse a Sandroni. Depois que optou pela insalubre presidência do Senado, Sarney passou a incentivar a recondução de Vilaça ao posto que, um dia, foi de Machado de Assis.
A ligação da Copa
Sergio Zacchi |
A Fifa e o governo se esqueceram de contabilizar em sua planilha de investimentos uma enorme despesa a ser feita para a Copa de 2014: a ampliação da rede de telefonia celular. O setor tem investido quase 10 bilhões de reais por ano. Alguns analistas estimam que esse valor precisará dobrar para atender à demanda dos turistas estrangeiros. Roberto Lima, presidente da Vivo, companhia que patrocina a seleção, iniciou uma campanha para convencer Brasília a editar medidas que facilitem os investimentos na área. Entre elas, a criação de linhas de crédito especiais para as empresas de celular.
O Instituto de Pesquisa sobre Câncer do Aparelho Digestivo, uma organização francesa, abrirá um centro de treinamento na América Latina. Ficará em Barretos, no interior paulista. Lá, treinará 720 médicos por ano em uma técnica de cirurgia por meio de robôs. O Brasil disputou esse centro com a Argentina. Venceu graças ao trabalho de persuasão do diretor do Hospital de Câncer de Barretos, Henrique Prata. Ele também convenceu o governador José Serra a lhe dar 12 milhões de reais para o projeto. |
PAINEL
Maré cheia
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 30/05/09
Levada ao noticiário após organizar o encontro de prefeitos no início do ano em Brasília, a Dialog Comunicações acaba de vencer licitação de R$ 94,5 milhões para preparar eventos da Secretaria de Pesca. A contratação para montar feiras de pescados pelo país foi feita por meio de ‘registro de preços’, um dispositivo para permitir que diversos órgãos do governo utilizem os serviços da empresa sem precisar promover novas licitações. Ou seja, concede à vencedora preferência em futuras empreitadas.
Há apenas cinco anos em atividade, a Dialog, que disputa pregões na categoria de microempresas ou de pequeno porte, já faturou R$ 39 milhões da União.
Para todos - No ‘chat’ que determinou a vitória da Dialog, o pregoeiro afirmou: ‘a empresa ganhadora do certame poderá firmar contratos com diversos órgãos da administração pública federal’. E a Secretaria de Pesca, apesar do valor bem superior do contrato, diz no edital que a vencedora ‘dispõe de R$ 12 milhões’ para os eventos.
Detalhes - Cinco agências que concorreram na licitação da Pesca apresentaram recursos contra o resultado. Uma das queixas é contra o rigor do pregoeiro para desclassificar 15 empresas que estavam à frente da Dialog.
Finanças - Alvo de operação do Ministério Público sobre superfaturamento de obras em Guarulhos, a construtora OAS declarou em 2008 doação de R$ 100 mil ao comitê eleitoral do PT na cidade. Em 2006, destinou o mesmo valor para a campanha da deputada Janete Pietá (PT), mulher do então prefeito.
Antes e depois - No PT, há quem defenda a ideia de encomendar pesquisas regionais para aferir se a presença de Dilma Rousseff nos Estados, apresentando as obras do PAC, tem efeito sobre a intenção de votos da ministra.
Ladies... - Adiado devido ao repouso exigido pela segunda sessão de quimioterapia de Dilma, o almoço da ministra com um grupo de mulheres na casa de Marta Suplicy foi remarcado para sábado, dia 6.
...who lunch - Já confirmaram presença as empresárias Luiza Trajano, dona do Magazine Luiza, e Viviane Senna, as apresentadoras Ana Maria Braga e Adriane Galisteu, a escritora Leilah Assumpção, a filósofa Marilena Chauí e a historiadora Maria Victoria Benevides.
Aula - Ao ouvir Lula dizer que, graças ao novo programa federal de formação de professores, nunca mais haverá ‘um mapa do Brasil com dois Paraguais’, o deputado Jutahy Júnior (PSDB-BA) descascou: ‘Espero que nunca haja mapa do Brasil com nenhum Paraguai. O professor Raimundo foi corrigir e ficou pior’. O comentário de Lula se referia a erro identificado em livro distribuído em São Paulo pelo governo Serra.
Transgênico - Em plena crise do ministro Carlos Minc, um ingrediente irritou os petistas ligados à agricultura familiar e ao meio ambiente: ofício em que a presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, senadora Kátia Abreu (DEM-TO), indica dois nomes para presidir a Embrapa. Segundo ela, ‘em articulação com o ministro Reinhold Stephanes’.
Passe livre - O ministro Luiz Barretto (Turismo) anuncia na próxima terça, em Bogotá, o fim da exigência de passaporte para a entrada de colombianos no Brasil e de brasileiros na Colômbia. A exemplo do que já acontece com os países do Mercosul, será preciso portar apenas a carteira de identidade.
Tiroteio
É a prova de que, quando foi ministro, Márcio Thomaz Bastos atuou na verdade como advogado dos envolvidos no mensalão, urdindo a tese do caixa dois.
Do senador DEMÓSTENES TORRES (DEM-GO), sobre depoimento no qual o ex-ministro da Justiça diz que o mensalão ‘não existiu’.
Contraponto
Sem legendas
Quando queria se esquivar de alguma pergunta, Miguel Arraes (1916-2005) costumava distorcer e baixar o tom da voz, já naturalmente rouca. Certa vez, usou o artifício durante entrevista a um jornalista de São Paulo no Palácio das Princesas, sede do governo de Pernambuco.
Ao perceber que sairia do encontro sem material suficiente para publicação, o repórter começou a anotar freneticamente em seu bloco tudo o que Arraes ‘dizia’.
-Mas o que você está escrevendo aí? Eu não estou dizendo nada...- perguntou, intrigado.
-Eu sei, governador. Depois invento alguma coisa...
Surpreendido com a resposta, Arraes se rendeu e concordou em dar uma entrevista de verdade.
CLÓVIS ROSSI
SÃO PAULO - O cientista político espanhol Antonio Elorza resgatou ontem, em coluna para "El País", editorial de quase 50 anos atrás do jornal cubano "Prensa Libre".
Para protestar contra o fechamento, pelo recém-inaugurado regime castrista, do "Diario de la Marina", aliás adversário ideológico de "Prensa Libre", o editorial dizia: "Se se começa perseguindo um jornal por manter uma ideia, se acabará perseguindo todas as ideias". Vale, até certo ponto, para a Venezuela de Hugo Chávez, se seu socialismo do século 21 se mantiver na recaída cada vez mais intensa em uma das mais abomináveis características do socialismo do século 20, a perseguição a ideias.
O mais recente exemplo foi o constrangimento imposto ao escritor peruano Mário Vargas Llosa, instado a não emitir ideias sobre política venezuelana. Antes, Álvaro, o filho de Mário, sofrera idênticos constrangimentos. Diga-se que Álvaro Vargas Llosa é coautor do "Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano", no qual se busca desclassificar todos os que têm ideias diferentes das dos autores, chegadinhos ao mais puro e duro liberalismo.
Em vez de proibir o livro, a melhor reação seria escrever um texto tipo "O Manual do Perfeito Idiota Neoliberal" -livro, aliás, que a presente crise mais que justificaria. Louve-se, aliás, Chávez por ter seguido essa linha ao propor um debate entre intelectuais de direita e de esquerda. Ideias se combatem com ideias, não com a censura, a prisão ou o banimento de quem as difunde.
Aplicada a proposta ao Brasil, os intelectuais chapa branca repetiriam a safada teoria da conspiração que inventaram quando as notícias não eram agradáveis ao chefe? Nem ele acreditou, tanto que pediu desculpas publicamente pelos deslizes do PT. Mas foi a única ideia que essa gente produziu.
ANCELMO GÓIS
Os presidentes da Fampec, Cícero Berto, Sindcont, Luiz César Teixeira e Ascontal, Jordão Vieira, informaram, ontem, que a decisão da Sefaz em prorrogar o prazo de envio dos arquivos da Nota Fiscal Alagoana (NFA) não resolve os problemas enfrentados pelos contabilistas e empresários.
EMBARRIGAMENTO
Luiz César Teixeira pôs o dedo na ferida, mais uma vez: “Prorrogar a NFA é empurrar com a barriga o problema. Não queremos prorrogação por prorrogação, mas sim que se resolva o problema. É preciso que o governador sente à mesa, com as entidades e a Sefaz para buscar uma solução”.
GIZ NO TROMBONE
Há quase um mês em greve, os professores da rede municipal de Delmiro Gouveia mandam uma caravana a Maceió na próxima segunda-feira. Eles querem conquistar espaço nos meios de comunicação para fortalecer o movimento.
CORPO-A-CORPO
Enquanto crescem boatos acerca de pesquisas sobre popularidade de possíveis candidatos ao Palácio República dos Palmares, o atual “morador” da casa está suando a camisa mais do que nunca. Depois de rodar o interior nos últimos dois dias, Téo Vilela visita hoje São Miguel dos Milagres e Flexeiras.
SUANDO A CAMISA
O governador não diz a ninguém, mas age para compensar dificuldades que enfrenta nas áreas de comunicação e articulação política do governo.
NOVO FRONT
O governo deve enfrentar, a partir dessa semana, artilharia pesada de pequenos agricultores. Fetag-AL, Capial e várias outras entidades estão organizando protestos a favor da criação da Emater.
SEM EFEITO
A estratégia da Seagri, de contratar Oscips ou bolsistas para prestar o serviço de assistência técnica é considerada inócua. “Não resolve”, reclama Francisco Irmão, o Chico da Capial. “O governador prometeu criar a Emater e nós vamos cobrar”, completa.
CAFÉ
O Sebrae realiza nos próximo dia 5, a partir das 8h, no auditório da instituição, em Maceió, “O Cenário dos Pequenos Negócios Brasileiros em 2015”, com Marco Aurélio Bedê, do Sebrae-SP. Além de ouvir palestrante, o participante ainda tem direito ao café da manhã.
CAFEZINHO
A inscrição pode ser feita no Sebrae (4009-1725) e custa R$ 40. Quem é associado da AC Maceió só paga metade, R$ 20, se fizer a inscrição até a próxima segunda.
VOA ALAGOAS
A Setur divulga dados da Infraero sobre a movimentação no terminal de Maceió: de janeiro a abril, foram registrados 360.926 passageiros em voos nacionais e internacionais. O aumento é de 1,5% em relação a igual período do ano anterior (355.465 passageiros).
BRASIL
O fluxo nacional aumentou 3,1% no primeiro quadrimestre do ano de 2009, com o desembaque de 351.670 passageiros, contra 341.163 passageiros registrados durante o mesmo período do ano anterior.
RUY CASTRO
RIO DE JANEIRO - Às vezes, me perguntam por que não escrevo biografias de gente viva. Respondo que o biografado vivo não é confiável -porque ele terá de ser ouvido e, ao ser entrevistado sobre si mesmo, mentirá para o biógrafo. Pior ainda, obrigará seus amigos a mentir sobre ele. Uma pessoa importante o suficiente para ser biografada em vida terá poder suficiente para fazer isso.
O biografado vivo é também impraticável, porque sua história ainda não terminou. Digamos que o ilustre já tenha para lá de 80 e sua vida pública esteja, para todos os efeitos, encerrada. Nem assim o biógrafo estará a salvo. De repente, com o oba-oba provocado pela biografia, o herói resolve voltar à ativa e, até por estar fora de forma, revela-se um tardio Drácula ou Jack, o Estripador. Pronto, lá se foi o livro para o vinagre.
Com o biografado morto e com a conta fechada, não há esse risco. Sabendo-se que uma boa biografia exige pelo menos dois ou três anos de trabalho, há poucas chances de qualquer coisa na vida do fulano, por mais grave, não vir à tona -nesse espaço de tempo, alguém deixará escapar até o segredo mais bem guardado. Não quer dizer que, quanto mais tempo leve o biógrafo, melhor ficará a biografia. Ao contrário: se levar tempo demais, o livro pode azedar.
Todas essas convicções perigam caducar com o lançamento em Nova York de uma biografia de Gabriel García Márquez pelo americano Gerald Martin. É um livro de 600 páginas, que o autor levou incríveis 18 anos para fazer e dos quais, segundo ele, só falou com García Márquez durante um mês. Não é uma biografia autorizada, diz Martin. No máximo, "tolerada".
A ver. O "New York Times" gostou, o que é bom sinal. Mas parece que García Márquez, vivo, aos 82 anos, também gostou. O que não é bom sinal.
INFORME JB
E a transparência acabou na boate
Leandro Mazzini
JORNAL DO BRASIL - 30/05/09
Passou praticamente despercebido um bom anúncio feito pela Controladoria Geral da União para mil vereadores, quarta-feira, num encontro nacional em Brasília. A CGU vai oferecer às prefeituras e câmaras do país o programa com os mesmos recursos de pesquisa e armazenamento de dados usados no Portal Transparência do governo federal. Pelo portal o cidadão terá acesso aos gastos das administrações, de seus gestores em todos os escalões, e saberá como e em que está sendo gasto o dinheiro público, inclusive diárias de hotéis e passagens aéreas. A ideia é que os municípios adotem o sistema. Os vereadores podem começar, por exemplo, a revelar como gastaram uma verba – pessoal ou pública – em Brasília, numa boate no Setor de Indústrias Gráficas (foto), para onde metade dos edis foi antes mesmo que o evento acabasse, denunciaram taxistas e uma fonte da coluna presente ao encontro.
R$ 900 ... ... seu, meu, nosso
O encontro dos eleitos, que ocorreu no Hotel Nacional, organizado pela União de Vereadores do Brasil, custou a cada participante R$ 900.
Participaram cerca de mil vereadores de 18 estados. As inscrições foram bancadas pelas câmaras.
Bolo
Os vereadores estavam ansiosos para ver a ministra Dilma Rousseff, anunciada como estrela do evento, e o ministro-chefe da CGU, Jorge Hage. Nenhum compareceu. Ela, por motivos de agenda apertada. Ele mandou representante.
O astro
O grande astro foi o líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante (SP). Mas, mal o senador deixou o local, mais da metade foi atrás. À mesa, ficaram não mais que quatro constrangidos deputados.
O investimento
E, depois de fotos com Mercadante, a turma foi lotando táxis, que rumaram para a conhecida casa de saliências no SIA – enquanto faltavam horas para o término do evento.
Cobra, Maciel
Por essas e outras é que o senador Marco Maciel (DEM-PE) prega a reforma política além da eleitoral: "Ela deve buscar o aperfeiçoamento das instituições e das relações entre os poderes", disse, em encontro com mestres e alunos na Universidade de Brasília.
Hein?
Começou um movimento para segurar o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, no PT do Rio. Ele estaria propenso a pular para o PDT. Balela pura.
Cada um por si
O governador do Ceará, Cid Gomes, avisou a Ciro, deputado federal, que não tem como apoiar a reeleição do senador Tasso Jereissati (PSDB), como quer o irmão. Os manos andam estremecidos. Politicamente.
Cabra macho
Cobrado pelo PT do estado, Cid Gomes preferiu dar o apoio aos petistas e ao PMDB. Vai peitar Tasso. O governador quer eleger para o Senado o deputado Eunício Oliveira (PMDB).
Agora pode
O Superior Tribunal de Justiça pôs fim a um problema antigo no mercado do país. As empresas que têm marcas semelhantes "podem coexistir de forma harmônica no mercado, desde que não causem confusão ao consumidor".
Decolando
A conclusão é da Quarta Turma do STJ ao julgar questão em que a paulista Decolar Viagens e Turismo Ltda., que vende passagens, pretendia inviabilizar a marca Decolar.com Ltda., do mesmo ramo.
Orgânicos
O OrganicsNet, da Sociedade Nacional de Agricultura, é destaque hoje na edição do Rio Orgânico. Levará 25 empresas da rede para o evento no Centro de Gastronomia do Senac-Rio, na Barra da Tijuca.
Horta do bilhão
Só para constar: o mercado mundial de alimentos orgânicos movimenta, hoje, mais de US$ 46 bilhões.