sexta-feira, maio 22, 2009

AUGUSTO NUNES

VEJA ON-LINE

A menina presa numa cela com 20 homens virou testemunha e sumiu

22 de maio de 2009

Na primavera de 2007, quando o monumento ao absurdo foi erguido, o policial Wallace ainda não trabalhava na delegacia de Abaetetuba. Mas ele sabe da história da menina que ficou presa durante 26 dias numa cela com mais de 20 homens. “Ela deixou a cidade, acho que está protegida pelo governo”, disse por telefone à jornalista Branca Nunes, que recorreu em seguida ao Conselho Tutelar de Belém. A funcionária Tatiane também conhece o caso, mas ignora o paradeiro da garota que tinha 15 anos, media 1m50 e pesava 38 quilos quando o pesadelo aconteceu. Aconselhada por Tatiane a procurar  o Conselho Tutelar de Barcarena, a repórter ali ouviu do funcionário Juarez a recomendação para que tentasse o Conselho Tutelar de Abaetetuba. “Ela entrou no programa de proteção a testemunhas”,  enfim ofereceu uma pista o funcionário Francisco. Como ensinam os filmes policiais americanos, quem entra num programa do gênero desaparece sem deixar rastros. 

Essa é a única semelhança entre os programas de proteção a testemunhas brasileiros e o que o cinema mostra ─ e efetivamente acontece em países sérios. Não é o caso do Brasil. Se o administrado pelo governo federal é uma caricatura bisonha do modelo adotado nos Estados Unidos, os similares estaduais são uma piada cruel. O caso da menina que há um ano e meio frequentou o noticiário com as iniciais L.A.B. é dramaticamente exemplar.  A Justiça e a polícia do Pará não conseguiram impedir que ficasse quatro semanas submetida à rotina de estupros e torturas. É improvável que consigam garantir-lhe proteção agora. L. decerto entrou na relação de testemunhas para ficar calada: o único crime que testemunhou foi o que fez dela a vítima. E nenhuma autoridade paraense aprecia a idéia de ouvi-la contando, com a própria voz, como foi a temporada no coração das trevas.

O horror começou em 31 de outubro de 2007, quando foi presa por tentativa de furto numa casa de Abaetetuba, cidade com mais de 130 mil habitantes a quase 100 quilômetros da capital.  Durante o interrogatório, declarou a idade à delegada de plantão Flávia Verônica Monteiro Teixeira. Por achar o detalhe irrelevante, a doutora determinou que fosse trancafiada na única cela do lugar, ocupada por homens. Já naquela noite, e pelas 25 seguintes, o bando de machos se serviu da fêmea disponível.

As tímidas tentativas de resistência foram dobradas pelo confisco da comida, por queimaduras com cigarros e cinzeiros e por outras brutalidades. As cinco ou seis relações sexuais diárias só foram suspensas nos três domingos reservados a visitas conjugais. Espantados com o que viam, alguns presos alertaram os carcereiros para a presença na cela de uma menor de idade. Os policiais cortaram rente à cabeça os cabelos longos e lisos e gostaram do resultado: como faltavam curvas acentuadas ao corpo mirrado, L. ficara parecida com um menino.

Depois de 10 dias de cativeiro, a garota foi levada à sala da juíza Clarice de Andrade. Também informada de que a prisioneira tinha 15 anos, a segunda doutora da história resolveu devolvê-la à cela. E ali ficaria muito mais tempo se um dos detidos não saísse da cadeia disposto a relatar o que ocorria ao Conselho Tutelar. Confirmada a veracidade da denúncia,  uma funcionária da entidade procurou o promotor Lauro Freitas, que foi à delegacia no dia seguinte. Os policiais haviam pressentido o perigo a tempo. A menina não estava mais na cadeia. “Fugiu”, disse ao promotor um delegado. 

Quando Freitas a encontrou, os carcereiros providenciaram documentos falsos para transformar a adolescente numa mulher de 20 anos, e obrigaram os pais da vítima a assinar uma certidão de nascimento fraudada. A farsa foi implodida quando a história ultrapassou as divisas do Pará e pousou nos jornais e revistas da parte menos primitiva do país  (leia a reportagem de VEJA).  E então vieram as providências de praxe. O Ministério Público do Pará denunciou por lesão corporal, ameaça, estupro e tortura cinco delegados, dois investigadores, três carcereiros e dois presos. A denúncia deu em nada. O Tribunal de Justiça do Pará decidiu que o comportamento da juíza Clarice não merecia qualquer reparo. A governadora Ana Júlia Carepa anunciou o afastamento das autoridades diretamente envolvidas.  Todas voltaram ao local do emprego quando a poeira baixou. Depois de admitir que outras cadeias do Pará serviam de cenário para o mesmo espetáculo da promiscuidade, Ana Júlia baixou um decreto proibindo que homens e mulheres dividam a mesma cela. Alguém deveria ter-lhe dito que isso é proibido há muito tempo. E sugerido que garantisse o cumprimento dos códigos em vigor no Estado que governa.

Durante um mês, valeu para uma menina de 15 anos apenas lei da selva. As leis destinadas à proteção de crianças e adolescentes só voltaram a valer depois de consumada a violência inverossímil. O corpo foi violado impunemente. A identidade não seria: o Brasil não pôde conhecer-lhe o nome nem o rosto.  Só as iniciais : L.A.B.  Ninguém soube como se chamava nem que aparência tinha a menina paraense que agora ninguém sabe onde está.

FIM DE SEMANA EM NATAL

ROTEIRO

Fim-de-semana para todos os gostos e bolsos. Livros, filmes, artes plásticas, dança, concursos culturais e muita música. O destaque vai para os 30 anos do Núcleo de Arte e Cultura da UFRN, com programação durante todo o dia de hoje, seguido do evento promovido pelo Núcleo de Permacultura, que ocorre também no Circo Tropa Trupe a partir das 22h. Amanhã, vá ao centro da cidade e confira a segunda eliminatória do MPBeco, com shows de Simona Talma e Sueldo Soares e mais 14 apresentações de músicos potiguares e suas canções inéditas. Agora é com você. Confira as demais sugestões e faça a sua escolha!

Sexta

Lançamento - O professor e escritor Gabriel Chalita lança o livro Cartas entre Amigos, obra escrita em parceria com o padre Fábio de Melo, às 19h, no auditório do Natal Shopping. Entrada franca.

Artes plásticas - O artista plástico Marcelo Fernandes continua com sua exposição "Cores", no Espaço Cultural Calígula (Largo da Rua Chile, Ribeira). A mostra ficar aberta até o dia 28. Entrada franca.

Cinema - O Projeto Ninho Alimentando a Cultura, da Nestlé, leva cinema itinerante a Currais Novos. Serão seis filmes exibidos em praça pública de sexta a domingo, a partir das 18h. Entrada franca.

Fotografia - 1º Concurso Fotográfico "MPBeco em Foco". Entrega das fotos até dia 3 de junho.

30 anos do NAC - Ainda em comemoração aos 30 anos do Núcleo de Arte e Cultura da UFRN, a programação de hoje contempla, das 8h às 18h, arte, dança, exposições e shows, no Circo Tropa Trupe (ao lado do campo de futebol da Universidade).

NUPE - O Núcleo de Permacultura da UFRN promove sua grande festa hoje, ao lado do Circo Tropa Trupe, a partir das 22h. Além do brechó com produtos produzidos a partir do 'lixo', haverá shows com as bandas Coros, Cordas e Diafragma, Gondwana, DuSolto, Pedro Breu e Coronel Drake. Entrada franca.

Mercado - Toda sexta-feira o Mercado de Petrópolis oferece o melhor do forró-pé-serra com Raimundo Flor e Forró Legal. Das 18h às 22h. Entrada franca.

Buraco da Catita - Toda sexta tem roda de choro e muita animação a partir das 20h. R. Câmara Cascudo, Ribeira - próximo à Praça Augusto Severo. Tel. 8802 1812. Entrada franca.

Ritmos latinos - A banda Camba, sob o comando dos músicos Sergio Groove e Gilberto Cabral, leva seu repertório de salsa, merengue, rumba e outros ritmos latinos para o Bar das Bandeiras (rua Chile, Ribeira), a partir das 22h. Entrada: R$ 8 (grátis drink cubano Mojito). Tel. 8705 4583 / 8878 3530.

Clássicos internacionais - Culinária sofisticada ao som da banda Café no La Cachette (Avenida Engenheiro Roberto Freire, 3218, Ponta Negra). Couvert: R$ 4. Tel. 3219 3068. 

Jovem Guarda - O roqueiro Leno (da dupla Leno e Lilian) toca velhos sucessos da Jovem Guarda na AABB (Av. Hermes da Fonseca), a partir das 22h. 

Rock - A banda MobyDick levará seu rock nesta sexta-feira ao Dennis Sushi Bar (Av. Jaguarari, ao lado da Faculdade Câmara Cascudo). A partir das 21h. Entrada gratuita. Contato: 3222-8737. 

Shopping - A Ilha Chopp (Natal Shopping) promove hoje a apresentação de Radamés e Banda. Amanhã quem toca é Alessandro Saldanha, a partir das 22h.

Medievo - Djs Leo B, Rapha Correia, Di Rocha e Dj Maria Helena animam a noite de hoje da Medievo (Largo do Atheneu, em Petrópolis). Tel. 8711-7777.

Sábado

Memorial - A partir das 8 horas, no Memorial Câmara Cascudo (Cidade Alta) acontece o Seminário "Diálogos sobre Museus, Patrimônio e Turismo" e o coquetel de lançamento da exposição "Roteiro de um Turista Aprendiz". A programação faz parte das comemorações da 7° Semana de Museus. Entrada franca.

MPBeco - Segundo eliminatória da quarta edição do Festival de Música do Beco da Lama (Cidade Alta) com Simona Talma, às 18h, seguida da apresentação das 14 músicas concorrentes, encerrando com Sueldo Soaress. Entrada franca.

Wando - No Kintal II (Av. Dr João Medeiros Filho, Zona Norte), às 21h.
Budda - Mobydick e Legers Budda Pub se apresentam a partir das 22h. R$ 12.

Espaço do Samba - Grupos locais apresentam, com início às 17h, o melhor do samba - de Cartola a Paulinho da Viola, passado por Noel Rosa, Roberto Ribeiro e João Nogueira. Subida da av. Rio Branco, Cidade Alta. Tel. 9133 8582 / 8723 8582.

Dança - A Domínio Companhia de Dança apresenta novas coreografias com o espetáculo Além do que se vê. Começa às 20h, no Teatro Alberto Maranhão. Inteira R$ 20,00 e promocional R$ 10,00. Tel. 3211-6121

Bandas novas - A banda MobyDick dá continuidade ao projeto onde bandas novas poderão mostrar seu valor. Desta vez será a Legers, com influência do rock californiano. Às 22h, no Budda Pub (av. Engenheiro Roberto Freire, 9102, Ponta Negra). R$ 12. Tel. 3219 2328.

ArraiAsa - A Chácara, em Macaíba, será inaugurada com a festa junina do Asa de Águia. R$ 40 (pista / Loja Rabello do Midway) e R$ 80 (camarote / Loja Vivo do Midway). Tel. 3217-4352.

Vaquejada I - Em Extremoz, no Parque Araçá, shows das bandas Forró Real, Grafith e Brasas do Forró, a partir das 21h. 

Vaquejada II - Em Angicos, Parque São José, acontece hoje as apresentações de Ferro na Boneca, Cláudio Rios e Forró Pegado. Amanhã é a vez de Garota Safada, Saia Rodada e Pode Balançar, a partir das 21h.

Domingo

Domingo na Fazendinha - Leve as crianças para a Fazenda Recanto da Natureza, na estrada de Macaíba. R$ 10 (criança) e R$ 15 (adulto). 

A CPI E OS APETITES SEVERINOS

EDITORIAL

O Estado de S. Paulo - 22/05/2009
 
Quatro anos atrás este mês, o governo decidiu não entregar ao então presidente da Câmara dos Deputados, o inesquecível Severino Cavalcanti, a estratégica diretoria da Petrobrás que ele reivindicava para um afilhado, como compensação por não ter conseguido emplacar um parlamentar amigo na reforma ministerial que o presidente Lula pretendia fazer - e da qual, por isso mesmo, desistiu. Era, na sintaxe severina, "aquela diretoria que fura poço e acha petróleo", a de Exploração e Produção. Severino, como se recorda, teve de renunciar ao cargo e ao mandato para não ser cassado por uma daquelas maracutaias que fazem a opinião pública perder o respeito pelo Congresso. Mas nem por isso perdeu a solidariedade do presidente.

Outro que a conserva intacta é o ainda mais notório senador Renan Calheiros. Em dezembro de 2007, ele abriu mão da presidência da Casa para preservar o mandato, ameaçado pela revelação de que recorrera ao lobista de uma empreiteira para pagar despesas relacionadas com um affair sentimental. Atualmente, ele lidera a bancada peemedebista e contabiliza entre os seus feitos a eleição do correligionário José Sarney para a presidência do Senado. Atualmente, também, os políticos usam uma terminologia mais precisa - e significativa - para se referir à diretoria de Exploração e Produção da Petrobrás. É a "diretoria do pré-sal". E aqui o círculo se fecha. Calheiros é um dos cobiçosos caciques da sua agremiação que espera a volta do presidente do exterior para, como se diz, dar uma de Severino.

Ele e a sua gente querem persuadir Lula a nomear para essa diretoria, ocupada pelo petista Guilherme Estrella, o atual diretor de Abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa. É assim que funcionam as coisas na República do Quem Indica: Costa chegou ao posto na cota do PP, que por sua vez opera em dobradinha com o PMDB no Congresso; se for nomeado para a "diretoria do pré-sal", assumirá uma dívida de gratidão que o partido de Renan decerto saberá cobrar. Mas tamanha é a voracidade peemedebista que essa é apenas a metade da missa: para o lugar de Costa, a sigla indicaria outro apadrinhado, com o que ela passaria a desfrutar de 3 das 6 diretorias da empresa. (A agremiação já controla a da Área Internacional e a subsidiária Transpetro.) A ocasião, é o caso de parafrasear, faz o glutão. E a ocasião da hora, sabem todos, é a CPI da Petrobrás.

Quando o PSDB, com o apoio um tanto a contragosto do DEM, conseguiu criá-la na semana passada no Senado, mesmo o imaginário brasileiro recém-chegado de Marte saberia que o alcance da iniciativa dependeria antes de mais de nada dos humores peemedebistas. É como se, ao fazer o que compete às oposições em qualquer democracia, o PSDB criasse uma dificuldade para que o PMDB pudesse vender ao governo uma facilidade. De fato, dos 11 membros titulares da comissão, 8 sairão das bancadas da base governista e, destes, 3 serão correligionários de Calheiros. "Tenho uma bancada de 20 senadores e todos querem participar da CPI", lembra ele singelamente. Para bom entendedor, isso significa o seguinte: de um lado, o critério para a escolha dos representantes da sigla levará em conta o grau de simpatia de Lula pelos pleitos do partido; de outro lado, vai sem dizer, o PMDB terá de ficar ou com a presidência ou com a relatoria da comissão.

Enquanto predominava a ideia de blindar a CPI contra alguma ousadia oposicionista, ficando o seu controle compartilhado com o PT, o partido do presidente estava confortável com o arranjo. Talvez tivesse subestimado a salinidade, digamos, da fatura por serviços futuros que o PMDB se prepara para levar desde já ao Planalto. Além disso, diante da ameaça da oposição de paralisar os trabalhos no Senado, obstruindo a votação das medidas provisórias em pauta, Calheiros e outros líderes governistas indicaram que estão dispostos a entregar a presidência do inquérito a um membro do DEM, talvez o discreto Antonio Carlos Magalhães Junior, que assumiu a cadeira do pai, de quem era suplente, quando ele faleceu em 2007. Mas esses são problemas do PT.

O problema, para o País, é a forte possibilidade de que a legítima investigação parlamentar sobre as caixas-pretas da Petrobrás seja sacrificada no consórcio entre um governo alarmado e o seu aliado Severino.

CELSO MING

Não há o que segure


O Estado de S. Paulo - 22/05/2009
 
A valorização do real é inevitável. O Banco Central (BC) seguirá na sua política de compra de dólares, como continuará negando que a intervenção tenha por objetivo segurar as cotações no câmbio.

O Banco Central amontoará ainda mais reservas e não conseguirá reverter a tendência, porque ela é firme. Os dólares chegarão ao País, como já vem acontecendo, de muitas formas: Investimentos Estrangeiros Diretos (IED); aplicações no mercado de ações; inversões no mercado de renda fixa; financiamentos a empresas brasileiras. Ou, em vez de entrar, não irão embora como ocorreu nas crises do passado.

Chegará o dia (e o volume) em que não valerá a pena seguir estocando reservas, especialmente na paisagem de incerteza sobre o futuro do dólar. E bem antes será preciso saber lidar com a abundância de moeda estrangeira.

Há as propostas simplesmente reativas e as que sugerem forte mudança na política econômica adotada. Entre as reativas estão as de sempre: controlar a entrada de capitais; limitar aplicações de estrangeiros em Bolsa; derrubar fortemente os juros.

Barrar a entrada de capitais em pleno processo de globalização não parece fazer sentido. O governo precisa de recursos para o PAC; a Petrobrás necessita de centenas de bilhões de dólares para o pré-sal; as empresas brasileiras terão de abastecer-se de crédito externo. Aplicações de estrangeiros em ações de empresas brasileiras podem ser feitas na Bolsa de Nova York e cerceá-las por aqui não tem cabimento num momento em que as empresas brasileiras se preparam para fazer lançamentos públicos de ações para se capitalizar. 

A ideia de flexibilizar, digamos assim, as regras do sistema de metas de inflação e derrubar impiedosamente os juros faria parte de uma proposta de nova política econômica, que lembra o atual modelo argentino. Trata-se de uma espécie de movimento de desvalorização forçada do real.

Consiste em levar o BC a comprar dólares com reais e, em vez de retirá-los por meio de emissão de títulos, deixá-los no mercado. Os juros cairiam em consequência da abundância de recursos na economia. Quem defende essa posição - e entre estes parece estar o governador paulista, José Serra - dá um salto no escuro quando chega a esse ponto. Reais em excesso que proviessem do pagamento pela compra de dólares produziriam inflação.

O que fazer com ela? Defensores da posição de um câmbio desvalorizado, como o ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser-Pereira, não aceitam a conclusão. Dizem que não haverá inflação e, se houver, será preferível à forte valorização do real.

Na Argentina, onde esse modelo está em vigor, as estatísticas são descaradamente manipuladas para esconder a inflação. É uma situação que parece insustentável. Investimentos estão sumindo, há desabastecimento, a população compra dólares, a economia está malparada e o produtor argentino vai perdendo competitividade do mesmo jeito. 

Se não é por aí, também não está claro por onde será. Não há resposta pronta para a tendência de forte valorização do real.

Um ajuste terá de vir. Se a carga tributária paga pelo produtor caísse na mesma proporção em que cai o dólar, a capacidade de resistência do produtor seria muito melhor. Mas o governo só pensa naquilo... 

Confira

Mal das pernas - Ontem, a Standard & Poor?s, uma das mais importantes agências de classificação de risco, avisou que os títulos de dívida da Inglaterra podem ser rebaixados.

Isso significa que o rombo fiscal da Inglaterra ameaça sua capacidade de pagar dívidas. O problema é que a maioria dos países ricos está na mesma situação: Estados Unidos, Japão, Espanha, Itália...

Boa parte da baixa do dólar no câmbio internacional aconteceu porque crescem as dúvidas sobre a capacidade de a economia americana honrar seus compromissos. Essas dúvidas tendem a aumentar mais.

MÓNICA BÉRGAMO

PERTO DO FIM


Folha de S. Paulo - 22/05/2009
 

A Justiça deve decidir nos próximos dias o destino do garoto de oito anos cuja guarda é disputada pelo pai americano, David Goldman, e pelo padrasto brasileiro, João Paulo Lins e Silva. A família brasileira colecionou, nas últimas semanas, uma série de derrotas. O juiz da 16ª Vara Federal do RJ não acolheu pedido de impugnação contra o laudo da perícia que, entre outras coisas, afirmou que o garoto se adaptaria facilmente nos EUA, não considerou necessário ouvir o menino uma vez mais e negou pedido de investigação sobre a situação financeira do americano.

PASSAPORTE
Um dos temores dos que cercam a família brasileira é o de que a Justiça, caso julgue em favor do pai americano, diga que a decisão tem aplicação imediata e permita que o garoto saia no mesmo dia do Brasil.

HORA DIFÍCIL
A tensão é tamanha que, anteontem, José Antonio Toffoli, advogado-geral da União, que defende que o garoto seja devolvido ao pai americano por conta de tratados internacionais assinados pelo Brasil, encerrou subitamente audiência com o advogado Sergio Tostes, da família Lins e Silva. O profissional acusou a AGU de agir ilegalmente ao defender que um brasileiro (no caso, o garoto) deixe o país; Toffoli respondeu que "o senhor cuida do seu cliente que eu cuido do meu. A audiência está encerrada".

MESMA COISA
O PT alardeia a pesquisa que mostra Dilma Rousseff com intenção de votos de 22% para reafirmar que ela é a candidata do governo e ponto final. Especialistas em pesquisa, no entanto, dizem que qualquer candidato com o apoio do presidente Lula chegaria a esse patamar. É o que acha, por exemplo, o presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, que coloca em campo pesquisa nos próximos dias testando vários nomes do partido à sucessão.

JAIR DYLAN 
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) "invadiu" o palco de Jair Rodrigues na inauguração do Bar Brahma de Brasília, anteontem. Pediu o microfone e desviou totalmente do repertório de MPB do músico. Cantou a boa e velha "Blowin" in the Wind", de Bob Dylan, clássico de seus discursos e palestras.

LUIZ GARCIA

Famílias nas calçadas


O Globo - 22/05/2009
 

O mais bem-sucedido programa social do governo federal, o Bolsa Família, atende hoje 20.400 moradores de rua no país inteiro. Provavelmente, não é grande fatia do total. Na verdade, não se tem a menor ideia de quantos brasileiros vivem nas calçadas. 

Um levantamento realizado no ano passado indicou a existência de 31.992 brasileiros nessa situação. Mas foi pesquisa parcial, excluindo diversas grandes cidades, como São Paulo e Belo Horizonte. 

No Rio, um estudo recente da prefeitura registrou pouco mais de dois mil cidadãos sem teto, a maioria no Centro. E 70% disseram aceitar ir para um abrigo municipal. O que é pelo menos curioso, já que o número de moradores nas calçadas não parece ter diminuído. 

E há tipos diferentes de moradores de rua. Muitos dos meninos que vendem balas e biscoitos nos sinais de trânsito não são tecnicamente sem teto. Mas vivem em subúrbios distantes e não têm recursos para voltar para casa todos os dias. Dormem onde podem durante cinco ou seis dias por semana. E passam sábado e domingo com a família. 

Principalmente, não são mendigos. Nem se drogam ou assaltam. Esses podem ser beneficiados pelo Bolsa Família, mas só em tese: é difícil imaginar como conseguiriam frequentar escolas regularmente. E nem vamos falar dos jovens marginais que dormem nas praias e nas calçadas a qualquer hora do dia. Para esses, e para os adultos alcoólatras e doentes mentais, a assistência do Estado parece inexistente, ou pelo menos impotente. 

Esta semana, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome anunciou que até o fim de 2010 os moradores de rua farão parte de um grupo de 600 mil novos beneficiários do Bolsa Família. Só há um problema: uma das regras do programa é que os filhos das famílias beneficiadas frequentem escola até os 17 anos. Não parece muito sensata a ideia de que crianças que dormem sob marquises, com um pedaço de papelão como colchão e cobertor, têm condições de ir à escola diariamente. 

O ministério informou que a grande maioria dos 20.400 moradores de rua já beneficiados são adultos sem filhos. Ou seja, o problema das crianças está resolvido em todos os casos em que ele não existe. Uma lógica impecável: o Bolsa Família só vale integralmente para famílias sem teto e sem filhos. 

E a tragédia diária dos meninos de rua do Rio e de outras grandes cidades - que, por infeliz coincidência, não votam - continua, portanto, à margem das benesses do principal programa social do governo federal.

GOSTOSAS


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BRASÍLIA - DF

O discurso da oposição

 Denise Rothemburg

Correio Braziliense - 22/05/2009
 

Emparedados esta semana pelo governo com a versão de que a CPI da Petrobras foi pedida para facilitar uma futura privatização da estatal, os oposicionistas acreditam ter encontrado um antídoto para neutralizar um pouco o discurso governista perante a população. O senador Heráclito Fortes (DEM-PI) vai começar a bater, por exemplo, no preço da gasolina no Brasil, que não cai mesmo quando o valor do barril de petróleo despenca no mundo. Assim, o DEM espera criar manifestações pró-CPI com apelos ao bolso do brasileiro, uma espécie de contraponto à passeata anti-CPI dos petroleiros ontem no Rio de Janeiro. 

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Em tempo: os oposicionistas pretendem ainda jogar luz sobre a medida provisória que tramita no Senado e permite à Eletrobras fechar contratos sem levar em conta os preceitos da Lei de Licitações, a 8.666/93, nos mesmos moldes do que vale hoje para a Petrobras. Há um sentimento geral de que, se mais uma exceção for aberta, daqui a pouco nenhuma empresa estatal vai querer seguir a legislação. E hoje, o Tribunal de Contas da União (TCU) julga irregular todo e qualquer contrato da Petrobras que não siga a Lei de Licitações.


As cartas de Aécio

Pré-candidato a presidente da República, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), continua firme no propósito de colecionar apoios dentro e fora do PSDB. De passagem por Brasília ontem, ele contabilizou o PP e o PTB, que já acenaram com a perspectiva de apoio, e agregou 30 deputados do PR. Aos poucos, vai conquistando peemedebistas. Se continuar nesse ritmo, avaliam alguns tucanos extra-Minas, fará um estrago na candidatura petista à Presidência da República. É tudo o que o PT não quer. 

Causa própria

Quem fez as contas não duvida. O maior beneficiado com a proposta do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) de reduzir o prazo de filiação partidária para concorrer à eleição de 2010 é o próprio autor do projeto. Com deputados aliados espalhados em três partidos, Cunha pode deslocar o grupo para onde for melhor na hora em que o quadro eleitoral estiver mais claro. 

Remendo

PMDB, DEM, PCdoB, PT e PPS entregam terça-feira à Câmara uma proposta alternativa ao sistema de lista fechada. Apresentado como mais “digerível”, o projeto tem travas para evitar a chamada ditadura da cúpula partidária. A proposta é levar os filiados de cada legenda a uma eleição interna para escolher o lugar de cada candidato na lista. Há quem diga que, se aqueles que apoiam a lista fechada estão cedendo, é porque a aprovação não é favas contadas como se dizia há alguns dias. 

Briga antiga

Deputados da Frente Parlamentar da Saúde querem reacender a polêmica em torno da revalidação dos diplomas de médicos brasileiros formados no exterior. Uma portaria conjunta dos ministérios da Educação e da Saúde, publicada na segunda-feira, estabelece como projeto piloto dessa portaria a realização de uma prova para reconhecimento da graduação daqueles que se formaram em Cuba. A frente acusa favorecimento. “Defendemos uma prova única, para todos os formados, não só aqueles que vieram de Cuba”, afirma o deputado Rafael Guerra (PSDB-MG). 

No cafezinho

 
 

Cinderela desencantada/ Sempre festejada pelos colegas de Senado, Patrícia Saboya (foto) tem afirmado que não disputará eleição em 2010. Ao comentar a decisão, justifica que falta apoio, legenda e dinheiro para tentar concorrer nas urnas. Afinal, a vida lá está difícil: o PMDB vem com o deputado Eunício Oliveira, com dinheiro e base política. Para completar, o tucano Tasso Jereissati deve concorrer à reeleição. 

Sujou/ Ao receber o governador Aécio Neves em seu gabinete, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) tinha em mãos um recorte do Correio de ontem, com a notícia sobre a discussão do terceiro mandato do presidente Lula em letras garrafais. No instante em que o senador abriu o jornal para dizer que era contra essa proposta, os fotógrafos dispararam os flashes. Aécio, na hora, emendou: “Deixa eu sair dessa foto. Nessa história de terceiro mandato, tô fora!” Sabe como é, Aécio e Simon do lado de uma notícia sobre terceiro mandato, até explicar que o contexto era outro, tipo assim… focinho de porco não é tomada, lá se vai uma candidatura. 

Parceiros/ Na liderança do DEM na Câmara, Aécio fez questão de citar o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, com um exemplo de administração moderna. Deixou no partido a impressão de que o toque de bola entre os dois está muito além do acordo entre a Cemig e a CEB firmado na quarta-feira. 

Nem ali/ O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) colocou no seu blog uma enquete para que os internautas votem em quem consideram o melhor presidente do Brasil, Lula ou Fernando Henrique Cardoso. Ontem, por volta das 20h, o placar era o seguinte: FHC, 41%. Lula, 59%.

FERNANDO GABEIRA

Trágicos vales do mundo


Folha de S. Paulo - 22/05/2009
 

Meu objetivo é estar no Nordeste. Perdi uma viagem neste fim de semana, porque a agenda era difícil. Não vou desistir. Vamos discutir em breve a situação do vale do Mearim, no Maranhão. Quero alcançá-lo na semana que vem. Outros vales do mundo são atingidos por tragédias. O do Swat, onde lutam exército paquistanês e talebans, produziu mais de um milhão de refugiados. A ONU já alertou para algo pior que Ruanda.
O slide-show de Trizidela do Vale, pequena cidade do Maranhão, no "New York Times", estava lá entre os grandes temas da semana. As fotos transmitiam mais do que sofrimento; havia também alguma diversão e uma ponta de humor no comportamento dos moradores.
A reunião vai esperar que as águas baixem. Aí é que vamos enfrentar um novo problema. Muita gente vive de pequenas lavouras e não terá como comer. As condições higiênicas já eram precárias e tornam-se perigosas no momento posterior às chuvas.
O Maranhão não foi o único Estado atingido. Tenho falado com prefeitos do Piauí e do Ceará que passam por aqui, muitos à espera de ajuda. Ministros da Integração quase sempre saem do Nordeste. E quase sempre miram as secas. A possibilidade de enchentes na região parece surpreendente, como foi, em 2005, a seca na Amazônia.
Nossos velhos problemas se agravaram. E os novos surgem de todos os lados. O propósito é deixar no Nordeste um projeto de adaptação como o formulado em Santa Catarina. No Sul, há até um atlas dos desastres naturais. Há muito a fazer, antes até que as águas baixem.
Alguns jornais estrangeiros acham que houve desequilíbrio no tratamento ao Nordeste. Mobilizou-se mais pelo Sul. Prefiro chegar perto para avaliar melhor. De mochila nas costas, percorrendo os vales, podemos preparar o caminho da adaptação.

ARI CUNHA

A depreciação do dólar


Correio Braziliense - 22/05/2009
 


O dólar segue trajetória de queda. O fenômeno atinge o Brasil na medida em que há apreciação do real ante a moeda norte-americana. E causa turbulências ao comércio exterior brasileiro. O Banco Central tem investido fortunas para adquirir a moeda a fim de evitar maiores quedas em sua cotação. Real mais valorizado prejudica as exportações, por elevar o preço dos produtos destinados ao mercado internacional. Além disso, não temos mão de obra barata nem tecnologia para compensar os custos mais altos. Com isso, as matérias-primas são refugadas em outros países de maneira perversa. O presidente Lula da Silva, em viagem à China e outros países, pouco tem conseguido. E tem encontrado dificuldade para parcerias comerciais. Os preços da China são baixos. Os nossos produtos, mesmo fortes na criação e execução, perdem competitividade. Da viagem do presidente Lula restou alternativa. Exportadores de lá mandarão produtos garantidos e a preços menores do que os brasileiros. Ocorre que os chineses são duros na troca de materiais. Não temos condições de produzir no mesmo custo. A exportação de material ferroso para ser purificado no exterior não é de apaixonar antigos compradores. As reservas no estrangeiro cresceram e o material está sem procura. A crise continua implacável. Todos os países sofrem com ela.


A frase que não foi pronunciada

“A terra não foi doada a você pelos seus pais. Foi emprestada pelos seus filhos.”
Lição de sobrevivência.


Continua 
Exames para motoristas continuam na mesma gaiatice. Difícil se entender o fato de pegadinhas para confundir os candidatos. É desprezo por quem deve dirigir com atenção. O trabalho deve ser sério, como são as punições em caso de erro. 

Supremo 
O Supremo Tribunal Federal está funcionando para as migalhas. O deputado Sérgio Morais, que desejava readmissão no Conselho de Ética, impugnou a constitucionalidade do seu afastamento. O deputado disse que se lixava para a imprensa. Foi lixado também pelo Supremo. Pior é que o processo dele deve ter sido decidido deixando para trás muitos outros que esperam julgamento sério, há muitos anos. 

Trânsito 
Em pleno dia de movimento, as vias novas que levam carros a caminho de Belo Horizonte sempre emperravam perto da Ceasa. Com outras vias, a fluência do trânsito surpreendeu os motoristas. Funcionou que foi uma beleza. 

Advogado bem-humorado 
O caso estava no Supremo. A vítima disse que acompanhou o cidadão ao seu apartamento. Em lá chegando, ele não chegou a se despir. Pulou sobre a vítima deitada na cama. O advogado ladino concluiu: o cliente pesava acima de 140kg. Se fizesse isso, nem a cama nem a senhora suportariam a força do impacto do gordo. 

Crise 
Foi dado a conhecer em Tóquio o prejuízo verificado este ano na Sony eletrônicos. Supera a US$ 1 bilhão. Isso ocorre exatamente quando a televisão oferece o novo modelo HDTV. 

Tempo 
Se o leitor for observador, procure ver fotos do início do governo Lula da Silva. Ele tinha barba quase preta e cabelos também. Tudo virou capucho de algodão. Os ministros mais ligados à economia estão ficando cada dia mais carecas. Dos outros, que são muitos, pouco se sabe, a não ser José Múcio Monteiro, que está com cabelos brancos, e o que tem de esperto tem de correto. 

Google 
Notícia da revista Fortune diz que o Google deseja entrar no mercado de jornais nos Estados Unidos. Está tentando acordo para obter participação no The New York Times e no Washington Post. O acordo trata de divulgar noticiário desses jornais na internet.

MERVAL PEREIRA

Em busca do Plano B


O Globo - 22/05/2009
 

Como, em política, ninguém prega prego sem estopa, a série de movimentos aparentemente desconexos dos últimos dias mostra que a doença da ministra Dilma Rousseff está colocando a classe política em polvorosa, em busca de uma porta de saída para o impasse da sucessão presidencial. A solução mais óbvia, nem por isso mais fácil, é a possibilidade de Lula vir a disputar um terceiro mandato consecutivo. 

Mesmo sem a certeza de sucesso, essa é a única solução que contaria com o apoio maciço da base governista e dos chamados "movimentos sociais", o que daria ao nosso país um ar, digamos assim, "bolivariano", que pode atender aos interesses imediatos desse grupelho político que vive à custa do poder, mas certamente fará muito mal à biografia do líder operário que tem ânsias de se transformar em líder internacional. 

Lula já revelou a mais de um interlocutor que pretende criar uma ONG quando deixar a Presidência para levar pelo mundo sua luta contra a miséria, com foco especial na África. 

Aceitando a manobra de mudar a Constituição para disputar um terceiro mandato consecutivo, estará abrindo mão dessa atuação nos centros decisórios do mundo para se transformar em mais um dos muitos políticos bananeiros que dominam a cena latino-americana. 

Há movimentos mais sofisticados, como a tentativa de reduzir para seis meses o prazo de filiação partidária, o que daria mais tempo para que a real situação física da ministra Dilma fosse avaliada.

E, evidentemente, mais tempo também para que políticos rearranjem o tabuleiro eleitoral. O objetivo mais evidente dessa manobra, capitaneada pelo PMDB, é dar ao governador de Minas, Aécio Neves, mais prazo para pensar na possibilidade de trocar de legenda e disputar a Presidência da República fora do PSDB. 

Um corolário dessa medida seria outra, que já foi tentada uma vez sem sucesso: reduzir também para seis meses antes da eleição o prazo para alterações no sistema eleitoral. Os "neoqueremistas" ganhariam mais tempo para suas manobras continuístas. 

Da mesma maneira que Lula já não descarta tão peremptoriamente a possibilidade de vir a disputar um terceiro mandato consecutivo, também o governador de Minas Gerais já não nega de bate-pronto a possibilidade de mudar de partido. 

Dias atrás, foi convidado pelo PR para se filiar à legenda para disputar a Presidência e não negou essa possibilidade. O PR, aliás, é um bom exemplo de como se encontram perdidos os partidos da base aliada. 

Ao mesmo tempo em que oferecem a legenda para Aécio disputar a Presidência, propõem, através do líder mensaleiro Sandro Mabel, a prorrogação de todos os mandatos eletivos, permitindo que Lula permaneça no cargo por mais dois anos. 

Ontem, Aécio propôs ao DEM comemorar os 25 anos da Aliança Democrática, criada em 7 de agosto de 1984, que reuniu os dissidentes do PDS ao PMDB para eleger seu avô, Tancredo Neves, presidente da República. 

O DEM, como herdeiro da Frente Liberal que deu José Sarney como vice de Tancredo, já aceitou. E é natural que o PMDB também participe dessa que seria uma celebração à arte da conciliação política, que Aécio quer encarnar na sua campanha para disputar a Presidência da República. 

É quase nula a chance de o governador de Minas mudar de partido e partir para uma aventura, mas ele está convencido de que tem mais condições do que Serra de unir em torno de seu nome a maior parte dos partidos hoje sob a aliança governista. 

Também é bastante reduzida a chance de Lula querer disputar um terceiro mandato consecutivo, mas as pressões de seu grupo político, amplíssimo em múltiplos interesses, pode mudar esse quadro. 

Com o julgamento do caso do ex-ministro Antonio Palocci pelo Supremo marcado para o dia 4 de junho, a base governista pode ganhar um alento se ele for absolvido. 

Não lavará de sua biografia a suspeita, quase convicção, generalizada, de que ele foi o responsável pela quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa na Caixa Econômica Federal, mas terá uma decisão do Supremo a seu favor para rebater as acusações de campanha. 

O que seria um plano B para o caso de a candidatura de Dilma Rousseff não decolar pode perfeitamente se transformar na solução para o impasse em que a base partidária do governo se encontra. 

A mais recente pesquisa do Vox Populi que a direção do PT está divulgando em Brasília, que mostra Dilma chegando à casa dos 20% das intenções de voto, é uma tentativa de frear as especulações sobre o plano B. 

Seria uma boa notícia, se não houvesse dúvidas não mais sobre a viabilidade eleitoral da ministra, mas sobre sua capacidade física de aguentar uma campanha tão desgastante quanto a de presidente da República, ainda mais por uma não política, que não tem introjetadas no corpo e na mente as vicissitudes desse tipo de campanha. 

E é uma péssima sinalização para um plano B. Se a "mãe do PAC", depois de mais de dois anos sendo incensada pelo presidente Lula, não consegue nem mesmo atingir os 30% do eleitorado petista tradicional, é sinal que talvez não haja mais tempo para um novo candidato surgir do bolso do colete. 

A não ser que o plano B seja Lula.

GOSTOSA


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PANORAMA POLÍTICO

Minas Gerais

Ilimar Franco
O Globo - 22/05/2009
 

O ministro Hélio Costa (Comunicações) apresentou proposta ao presidente Lula para garantir a aliança entre PMDB e PT em Minas. Ele quer que seja realizada uma pesquisa. A cédula teria um nome de cada partido, e quem se sair melhor seria o candidato. O líder na Câmara, Henrique Alves (RN), alerta: "O PT não pode querer ter a Presidência e disputar nos estados com o PMDB". 

O embaixador, a Bolívia e a Venezuela 

Diplomata de carreira, o futuro embaixador americano no Brasil, Thomas Shannon, tem maior afinidade com os republicanos. O governo brasileiro está radiante com sua nomeação, entre outras razões, porque ele simpatiza com a postura do Brasil diante da Bolívia e da Venezuela. Numa conversa com parlamentares brasileiros, em passado recente, Shannon defendeu que "o Brasil deveria ter uma posição generosa com a Bolívia". Sobre a Venezuela, explicou que era preciso relativizar a retórica, para efeitos de política interna, de Hugo Chávez e Condoleezza Rice, e que o Brasil deveria manter seus esforços pelo diálogo. 

Vamos investigar com tranquilidade. Não queremos dar um tiro no pé" - Sérgio Guerra, senador e presidente do PSDB (PE), sobre a CPI da Petrobras 

DESPERDÍCIO. Instalada pelos ruralistas para discutir a "crise na agricultura", a comissão especial está às moscas. Não apareceu um deputado sequer ontem para discutir o assunto, e os três convidados discursaram ao vento, para um plenário vazio. Ao lado dos palestrantes, na mesa, estavam só os deputados Abelardo Lupion (DEM-PR) e Zonta (PP-SC). Passagens e estadia dos oradores foram pagas pela Câmara. 

Heterodoxo 

Ao descrever as alianças em Roraima, em 2010, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB), diz que por lá está tudo acertado: "Vamos apoiar o PT para a Presidência. Para o governo estadual, temos aliança com o PSDB e o PT".

Na telinha 

Os ministros Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) e Dilma Rousseff (Casa Civil) foram as estrelas das inserções levadas ao ar pelo PT ontem. O tema era o Bolsa Família. A escalação dos personagens sugere que Patrus é o plano B. 


Bafômetros retidos, e bêbados à solta 

Desde abril, o Ministério da Justiça oferece bafômetros aos estados para aplicar a Lei Seca. Os aparelhos estão no depósito da Força Nacional de Segurança, em Brasília. Os governos que ainda não buscaram os seus são: Bahia (75), Minas Gerais (75), São Paulo (80), Santa Catarina (100) e Paraná (25). O ministro Tarso Genro anda elogiando o governador Sérgio Cabral por causa da redução dos acidentes de trânsito no Rio. Eles caíram 23,6% em abril. 

Copa do Mundo, Jaques e Ivete Sangalo 

Salvador está com a bola toda. O presidente da CBF, Ricardo Teixeira, garantiu ao deputado José Rocha (PR-BA), dirigente do Vitória, que Salvador será uma das 12 cidades escolhidas como sede da Copa do Mundo de 2014. O anúncio será feito pela Fifa, nas Bahamas, no dia 31. Nesse mesmo dia, para comemorar o feito, o jogo entre Vitória e Grêmio, pelo Brasileiro, será uma grande festa. O governador Jaques Wagner e a cantora Ivete Sangalo vão estar lá. 

UM GRUPO de 30 deputados do PMDB reuniu-se na noite de quarta-feira para debater alianças em 2010. Deu 17 estados negociando aliança com o PT e cinco estados se articulando com o PSDB. 

OS PRESIDENTES da Confederação dos Vigilantes, José Boaventura, e da Federação do Rio, Fernando Bandeira, reclamaram junto ao ministro Tarso Genro (Justiça) que não foram ouvidos na formulação do Estatuto da Segurança Privada. 

DOIS ANOS e cinco meses depois da posse, o TRE do Rio ainda não concluiu o processo de cassação do prefeito de Angra dos Reis, Marquinho Mendes. 

JOÃO MELLÃO NETO

Tribunal não é tribuna


O Estado de S. Paulo - 22/05/2009
 
Alemanha Ocidental, final da década de 1960: detido pela polícia - após participar de um ato público contra a instalação de uma usina nuclear -, um notável professor alemão foi levado a julgamento na cidade mais próxima. Alegou em sua defesa que seus motivos eram justos e que até mesmo o magistrado haveria de concordar com eles.

O juiz não se comoveu com o argumento e o condenou a pagar uma pesada multa, por ter bloqueado o tráfego numa rodovia. Ao prolatar a sentença, afirmou: "O senhor pode mesmo ter motivações nobres, mas isso não o autoriza a infringir as leis. Caso contrário, estaríamos nos remetendo a uma concepção de Direito e a um estado de coisas que tanto eu quanto o senhor não achamos conveniente reviver."

O acadêmico em questão era o filósofo e sociólogo Ralf Dahrendorf e foi ele mesmo que tratou de relembrar o fato num de seus livros.

Aqui, no Brasil, talvez pelo fato de não termos vivenciado tragédias totalitárias, há muita gente que entende que o Direito - e seus Princípios Fundamentais - devem sujeitar-se à moral da ocasião.

Recentemente - fato lembrado em meu último artigo - um ministro do Supremo Tribunal Federal conclamou publicamente um colega a ir às ruas. O que pretendeu dizer é que os magistrados não devem julgar apenas em função das leis, dos autos e das jurisprudências, mas também do alarido emanado das multidões.

À primeira vista, parece fazer sentido. A ninguém ocorre defender juízes herméticos, formalistas e indiferentes às dinâmicas da sociedade. Mas devem existir limites a essa permeabilidade. O juízo das massas é instável, passional e volúvel. O povo, não raro, erra. Não porque não tenha senso de justiça, mas porque quase nunca detém um volume de informações suficiente para poder formar juízos corretos e inapeláveis sobre cada assunto. É justamente por isso que existem leis e tribunais.

Eu me recordo de uma cena antológica, numa novela de TV, em que uma professora, ministrando a aula inaugural de um curso de Direito, afirmava, sob aplauso dos alunos: "Devemos lutar pelo Direito, mas, quando este não coincide com a justiça, devemos ficar do lado da justiça."

Esse pensamento, exaustivamente repetido, provoca uma adesão quase que imediata. Todos nós, em princípio, concordamos com ele. Mas estará certo? Nem sempre. Depende do que se entende por justiça.

Há princípios de justiça que são permanentes e emanam de preceitos morais universais, como também há outros - menores - que se lastreiam na justiça da ocasião. Além disso, a verdade é que o conceito de justiça vem sendo desgastado pelo fato de que todas as correntes políticas e ideológicas pretextam sempre agir em seu nome.

O Direito, por sua vez, procura fundamentar-se em preceitos mais duradouros. Os chamados Princípios Fundamentais do Direito são normas de valor consensual e atemporal, que não se lastreiam em doutrinas efêmeras, modismos jurídicos ou sensos de justiça conjunturais.

O fato é que, se os argumentos lastreados unicamente no Direito claudicam, as argumentações lastreadas exclusivamente na justiça claudicam muito mais...

Os juízes não podem decidir contra legem - contra o enunciado da lei. Mas no passado recente já houve quem defendesse que fosse de outra forma.

Os adeptos do "Direito livre", através do mundo, e do "Direito alternativo", no Brasil, defendiam a tese de que, em nome da justiça, os magistrados deveriam julgar de acordo com as "demandas reais da sociedade", e não com base nas leis.

Parece fazer sentido, mas ao agir dessa maneira os juízes enveredariam por um terreno movediço e quase sempre minado. O que seriam as tais "demandas reais da sociedade"? Quem teria legitimidade suficiente para enunciá-las?

De mais a mais, sempre haverá quem, à direita e à esquerda, esgrima argumentos contra o império das leis.

Meu filho, futuro advogado, apresentou-me a tese de um professor, marxista, para quem o Estado de Direito não passa de um "artifício criado para legitimar a dominação da burguesia sobre a sociedade". Em troca apresentei-lhe o programa do Partido Nazista alemão, que propunha eliminar o Direito Romano, pelo fato de este ter um caráter "individualista e antissocial" e servir a uma "ordenação materialista do mundo". O que vale para Lenin vale também para Hitler... 

O fato é que ao arrepio das leis não há salvação.

Pior: uma vez aberto o precedente, quem garante que aventureiros não viriam a se apossar de tal bandeira?

O tal juiz alemão citado por Dahrendorf estava coberto de razão. Nenhum magistrado se pode arriscar a interpretar livremente as leis. Ele até poderia fazê-lo dentro de uma postura ética e escrupulosa. Mas os seguintes agiriam da mesma forma?

Quanto à vocação justiceira de alguns magistrados, vale lembrar o desabafo de um ex-ministro dos governos militares. Ele fora um entusiasta dos métodos "revolucionários" de busca de provas, na calada da noite, em residências de suspeitos. Até que, certo dia, foi arrombado o cofre doméstico de um empresário. Nada se encontrou de errado, mas veio a público um documento - para ser aberto após a morte do cidadão - no qual ele reconhecia a existência de um filho bastardo. Isso bastou para destruir a família do dito cujo e levá-lo à morte, de ataque cardíaco. Depois desse episódio, o ex-ministro nunca mais ousou repetir o seu bordão favorito: "Quem não deve não teme..."

A sociedade não carece de magistrados messiânicos. O que ela precisa é de juízes compenetrados que, no dia adia, façam cumprir as leis.

LUTO

22/05/2009 - 07h52

Morre o músico Zé Rodrix, aos 61 anos, em São Paulo

da Folha Online

O cantor e compositor Zé Rodrix, 61, morreu na madrugada desta sexta-feira (22), em São Paulo. O músico deixa mulher, seis filhos e dois netos.

Veja imagens da carreira de Zé Rodrix

Drika Bourquim/Divulgação
Zé Rodrix ganhou destaque na música durante a década de 70, ao lado de Sá e Guarabyra
Zé Rodrix ganhou destaque na música durante a década de 70, ao lado de Sá e Guarabyra

De acordo com informações do "Bom Dia São Paulo", o músico se sentiu mal e foi levado às pressas ao Hospital das Clínicas, onde morreu.

A assessoria de imprensa do hospital afirma que o músico deu entrada às 0h30 e morreu às 0h45. A causa da morte ainda não foi informada.

Rodrix, cujo nome de batismo é José Rodrigues Trindade, apareceu para o grande público em 1967, em um festival da Record.

Sua carreira ganhou destaque nos anos 70, quando trabalhou com o grupo Som Imaginário --banda criada para acompanhar uma turnê de Milton Nascimento-- e ao lado dos músicos Sá e Guarabyra. Entre suas canções mais famosas estão "Casa no Campo", famosa na voz de Elis Regina, "Mestre Jonas" e "Soy Latino Americano".

Nas décadas de 80 e 90, Rodrix abandonou a carreira musical para se dedicar à publicidade.

Em 2001, voltou a se reunir com os companheiros Sá e Guarabira para uma apresentação do "Rock in Rio". No mesmo ano, o trio lançou um DVD ao vivo, reunindo seus maiores sucessos: "Sá, Rodrix & Guarabyra: Outra Vez Na Estrada - Ao Vivo"

CLÓVIS ROSSI

O embaixador já não é "o cara"

FOLHA DE SÃO PAULO - 22/05/09

SÃO PAULO - O que há de mais interessante na informação de que Thomas Shannon será o novo embaixador norte-americano no Brasil é o fato de que não provoca a menor emoção. Sinal de que as relações Brasil/ Estados Unidos amadureceram o suficiente para reduzir o peso do embaixador para aperfeiçoá-las (ou danificá-las, o que ocorria bem mais raramente).
Na verdade, o amadurecimento vem de algum tempo e apoia-se também (ou principalmente, não sei) na chamada diplomacia presidencial, ou seja, na ligação direta entre os presidentes.
Ligação que foi ótima com Fernando Henrique Cardoso e Bill Clinton, azedou algo com FHC/ George W. Bush, voltou a aprumar com Bush e Luiz Inácio Lula da Silva e tende a ser ainda melhor com Lula e Barack Obama.
Feita essa ressalva fundamental, Shannon é uma indicação feliz. Tem no currículo o mérito nada trivial de ter amortecido os ímpetos belicistas da administração Bush em relação a líderes latino-americanos da estirpe de Hugo Chávez. Antes dele, cheguei a ouvir queixas de Otto Reich, um dos neocons que assolou o governo Bush, sérias restrições ao chanceler brasileiro Celso Amorim por um suposto esquerdismo exagerado. Tudo bem que os neocons brasileiros parecem achar a mesma coisa, mas não é sério, certo?
Se foi assim com um radical como Bush, é razoável supor que Shannon seja o homem certo no lugar certo para uma administração como a de Barack Obama, que troca o confronto pelo diálogo até com os antes inimigos e que se diz disposto a aprender sobre uma região marginal nas prioridades dos EUA. O Brasil é, hoje, o lugar certo para esse aprendizado pelo papel de liderança que lhe é natural, mas que hesitava antes em exercer mais abertamente.