terça-feira, maio 12, 2009

AUGUSTO NUNES

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A mais valiosa caixa-preta do país

12 de maio de 2009

Delúbio Soares deveria ter furtado também o neologismo criado pelo brilhante Reinaldo Azevedo, meu amigo e agora vizinho de site, para batizar com a merecida pompa o que foi mais que um discurso: foi um Pronunciamento aos Petralhas o que ouviu a platéia da cerimônia em que o ex-tesoureiro do partido desistiu de voltar imediatamente ao aconchego do lar do qual foi despejado há mais de três anos. Sempre a serviço dos interesses maiores e (sobretudo) menores do PT, topou esperar que termine a campanha eleitoral de 2010. Ainda é moço. Pode adiar para 2014 a tentativa de eleger-se deputado e piorar o Congresso.

“Nosso Delúbio”, assim se referia Lula ao amigo de fé, rendeu-se ao argumento da companheirada: a candidata Dilma Rousseff não ficaria bem no retrato se aparecesse num palanque ao lado da figura que mentia na CPI dos Correios com a voz pastosa de quem almoçou arroz com Lexotan. Mas rendição não não é sinônimo de concordância, alertou o Pronunciamento aos Petralhas. Em tom firme, o pecador compulsivo esclareceu que não tem motivos para arrependimento, nem pretende treinar o que dizer nas eliminatórias do Juízo Final: “Começaria tudo outra vez, se preciso fosse”, comunicou. ”De que me acusam?”, fez de conta que não sabe. “Quantos são os políticos brasileiros que realizaram campanhas eleitorais sem que alguma soma, por menor que fosse, não tenha sido contabilizada?”, fez de conta que só fez o que todo mundo faz.

A platéia aplaudiu com entusiasmo de comício o presidente perpétuo do clube dos mensaleiros. Está na hora de tratar com mais carinho o companheiro que, com tanta dedicação e eficácia, extorquiu empresários, financiou com dinheiro sujo dezenas de candidaturas, negociou empréstimos bancários ilegais, estuprou a legislação eleitoral, subornou meio mundo, montou um balcão de compra de votos nas catacumbas do Congresso, movimentou contas suspeitíssimas no Exterior, burlou a Receita Federal e arrombou o templo das vestais de araque para transformá-lo em cabaré especializado em lenocínio político.  Fora o resto.

O mensalão será esquecido e ainda vai virar piada de salão, previu Delúbio meses depois do desbaratamento da quadrilha. Convém ao PT que a profecia seja cumprida o quanto antes, advertiu o trecho mais picante do Pronunciamento aos Petralhas. ”Não fui um alegre, um néscio, um ingênuo”, lembrou aos portadores de amnésia seletiva. ”Aceitei os riscos da luta. Mas não fui senão, em todos os instantes, sem exceção, fiel cumpridor das tarefas que me destinou o PT”. Fez o que mandaram que fizesse, cobrou Delúbio. Limitou-se a cumprir ordens. Se houve crimes, houve mandantes.

Até a senadora Ideli Salvatti, um berreiro à procura de uma idéia, sabe que Delúbio só prestava contas a José Dirceu e ao presidente Lula. Ao ser desalojado da Casa Civil, por sinal, Dirceu também registrou que jamais agiu à revelia do chefe de governo. Lula, portanto, soube de tudo o que fizeram o diretor-presidente e o diretor-financeiro do que o procurador-geral da República qualifica de “organização criminosa sofisticada”.  Dirceu é uma caixa-preta bem comportada. Delúbio parece um tanto inquieto. Se o PT demorar a recebê-lo de volta, pode trocar discursos na Câmara por declarações à imprensa.  

O que houve com o PMDB velho de guerra que resolveu negar abrigo ao sem-teto goiano que mandou e desmandou no PT? Por que não retribuiu os olhares afetuosos do pretendente? Por que não incluiu no bando de candidatos a deputado da facção goiana da sigla? A lista de malfeitorias de Delúbio se sentiria em casa ao lado dos prontuários de gente como Renan Calheiros, Jader Barbalho, Geddel Vieira de Lima, Newton Cardoso, Romero Jucá e outros padrastos da pátria. E o PMDB teria adquirido a preço de custo a mais valiosa caixa-preta do Brasil.

BRASÍLIA - DF

Operação abafa


Correio Braziliense - 12/05/2009
 

Antes de seguir para Arábia Saudita, China e Turquia, o presidente Lula quer deixar resolvidas as questões relativas às Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) que ameaçam a já frágil base de apoio do governo no Senado. O foco principal é a CPI que o senador Álvaro Dias propôs para investigar a Petrobras e a Agência Nacional do Petróleo (ANP) por indícios de fraudes em licitações, como a da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e desvio de royalties do petróleo. O assunto será abordado na quarta-feira em reunião no Planalto para tratar de questões econômicas. O governo dirá que, em tempos de crise, não dá para investigar uma empresa tão atrativa quanto a Petrobras. Por isso, ontem mesmo o Poder Executivo começou um movimento para tentar retirar de duas a três assinaturas dessa CPI. 




Só que há outra engatilhada que não está muito longe da Petrobras: a CPI do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Na oposição, há quem diga que basta mirar no que levou a redução de recursos ao órgão que se chega à Petrobras. E olha que, conforme esta coluna antecipou há mais de um mês, o governo pretendia se livrar da CPI da Petrobras oferecendo aos leões a do Dnit. Agora, não quer mais nenhuma.


Deu água 

Nem autoria, nem origem. A investigação da Polícia Federal sobre o suposto grampo que captou uma conversa telefônica entre o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, e o senador Demostenes Torres (DEM-GO) caminha para o arquivo dos casos sem solução. Tanto é que o delegado responsável, William Mourad, nem deve pedir mais prazo. Fica para a história a dúvida: ou quem captou a conversa cometeu um crime perfeito ou tudo não passou de cortina de fumaça. 

Caixa fechado 

Está explicado por que os deputados estão num mau-humor maior do mundo para com o governo. É que até agora, o 
Ministério do Planejamento ainda não deu sinal verde às liberações das emendas. Em breve, o governo fará uma exposição sobre investimentos para mostrar tudo o que está sendo feito com os recursos disponíveis. Quem sabe, assim, as excelências dão uma acalmada. 


Quem falar primeiro… 

O presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), pediu aos membros da comissão que discute os benefícios pagos aos parlamentares sigilo absoluto sobre as conversas. Aos seis deputados e quatro servidores do grupo, Temer disse que se houver vazamento das discussões a Casa pode ser acusada novamente de “recuar”, como aconteceu no vai-e-vem de decisões tomadas para moralizar o uso das passagens. 

Celeuma

Depois do PMDB, o PR é o foco de nova disputa com o governo na Comissão Mista de Orçamento. O governo ameaça tomar do deputado João Carlos Bacelar (PR-BA) a relatoria do crédito de R$ 492 milhões para a Secretaria Especial de Portos se não apresentar seu parecer até a sessão do Congresso, prevista para amanhã. Pressionado, o parlamentar baiano afirma que não destinará recursos para os portos de Santos (SP) e do Rio Grande (RS), sob investigação da Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça. PT e PR travam, há nove meses, uma disputa pela direção dos portos baianos. 

No cafezinho...

 
 

Reforço 
Se depender de apoios públicos para permanecer no cargo, o ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, está firme como uma rocha. Além dos jantares que vão lhe oferecer esta semana, veja o que o disse o presidente do PP, senador Francisco Dornelles (foto): “Considero esse cargo de coordenador político um dos mais difíceis do governo. Eu tenho acompanhado o trabalho de vários ministros da Coordenação Política, e poucos têm exercido o cargo com tanta competência como o José Múcio, que, aliás, tem o apoio integral do Partido Progressista”. 

Juruna 
Relator do processo disciplinar contra o deputado Edmar Moreira (sem partido-MG) no Conselho de Ética da Câmara, Sérgio Moraes (PTB-RS) prometeu mostrar na sessão de hoje as gravações de conversas que manteve com repórteres nos últimos dias. Quer apontar o que considera distorções entre as declarações que deu e o que foi publicado na imprensa. Não é à toa que a turma de excelências mais antiga na Casa já lhe apelidou de Juruna II, o cacique que, eleito deputado, vivia com um gravador a tiracolo. 

Na telinha... 
O DEM levará ao seu próximo programa partidário na TV imagens colhidas nas três caravanas já promovidas Brasil afora para mostrar atrasos no andamento das obras do PAC. As gravações incluirão de duplicações de rodovias a redes de saneamento básico que não saíram do papel em Pernambuco, Santa Catarina e Sergipe. 

... como MacGyver 
Mentor intelectual da caravana, o líder do DEM na Câmara, Ronaldo Caiado (GO), será uma das estrelas do programa. No papel de repórter, o democrata pôs o pé na lama sob forte chuva para mostrar os problemas decorrentes das enxurradas num subúrbio de Aracaju.

CELSO MING

O risco americano


O Estado de S. Paulo - 12/05/2009
 


Não deixa de ser estranha essa recomendação do Banco de Compensações Internacionais (BIS), que atua como uma espécie de banco central dos bancos centrais, para que os países emergentes sigam empilhando reservas externas.

O argumento é o de que as reservas funcionam como blindagens contra a crise. Mas por que seguir blindando uma economia se a crise está próxima de ser revertida? Ou será que não está?

Há outras perguntas instigantes a fazer. O nível atual das reservas dos países emergentes foi suficiente para defendê-los dos vagalhões mais devastadores da crise. Por que é preciso mais? Será que o BIS está enxergando novo agravamento à frente?

País que fortalece suas reservas reforça-se como credor dos Estados Unidos porque, na prática, fica obrigado a adquirir títulos do Tesouro dos Estados Unidos. Hoje, não há muita aplicação diferente a fazer com as reservas porque faltam aplicações seguras e líquidas em outros ativos.

Basta acompanhar as críticas que os dirigentes da campeã em reservas, a China (que tem pouco menos que US$ 2 trilhões), vêm fazendo à trajetória do dólar para entender que um forte aumento das reservas pode tornar um país excessivamente vulnerável à enorme fragilidade dessa moeda nos mercados que todos os observadores estão apontando.

O déficit orçamentário anual dos Estados Unidos vai ultrapassando o US$ 1 trilhão, as emissões para garantir o financiamento desse rombo não param de crescer, o que alimentou certas desconfianças sobre o valor desses papéis a longo prazo. O súbito desinteresse do resto do mundo pelos T-Bonds de mais de dez anos obrigou o Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos) a sair a mercado para comprar US$ 300 bilhões neste ano.

Não se pode assegurar que a recomendação do BIS para que os países emergentes aumentem as suas reservas se resuma a fazer o jogo do Tesouro americano aparentemente interessado em criar demanda para micos futuros. Mas será esse o resultado final, se o atual esvaziamento do dólar continuar.

O Banco Central do Brasil retomou suas compras de moeda estrangeira, tanto no mercado futuro como no mercado à vista. O argumento é o de sempre: é preciso reduzir a volatilidade do câmbio e recompor reservas. O efeito conhecido é evitar o aprofundamento da valorização do real.

No entanto, mesmo que o Banco Central pretenda aumentar as reservas externas, que hoje são de US$ 202 bilhões, cabe perguntar até que ponto vale a pena seguir nessa política.

Reservas externas custam dinheiro ou aumento da dívida pública. A partir de certo nível, é discutível que melhorem significativamente a capacidade de resistência da economia a crises.

Certos exportadores brasileiros adoram quando o Banco Central se põe a comprar dólares. Eles são os primeiros a se desfazerem de suas posições em moeda estrangeira. Além disso, como já foi apontado nesta coluna, quanto mais impressionante a exibição de musculatura em reservas, mais a economia brasileira atrai dólares cuja entrada, por sua vez, concorre para reforçar a longo prazo a valorização do real (derrubada do dólar no câmbio interno), como acontece agora.

Confira

BC cirandeiro - Antigo crítico da política econômica, o governador José Serra fez ontem acusações graves à atuação do Banco Central (BC). Disse que produz pirâmides financeiras por puro desconhecimento de como funcionam as coisas. "É o efeito Ponzi caboclo", atirou.

Serra não atacou o regime de metas nem o sistema de câmbio flutuante. Apenas avançou que os dirigentes do BC não entendem do assunto e executam mal o que fazem.

São as mesmas críticas que vem fazendo ao BC desde os tempos da administração Armínio Fraga, ainda no governo Fernando Henrique.

JANIO DE FREITAS

O socorro falso

FOLHA DE SÃO PAULO - 12/05/09


Emergência, como a que ocorre no Norte e no Nordeste, não depende de burocracia, e sim de interesse humano



É IMPOSSÍVEL admitir, por muito pouco que seja, a responsabilidade atribuída por Lula e por Geddel Vieira Lima ao excesso de exigências burocráticas, como explicação para o abandono trágico em que estão as populações do Norte e do Nordeste submersos. A explicação é simplesmente inverdadeira. E não por desinformação, equívoco ou outro motivo de boa-fé.
Presidente da República que subverte com uma medida provisória a legislação protetora dos clientes de telefonia e similares, para permitir um negócio que já partiu da certeza de um ato presidencial favorecendo-o contra a legislação, não tem o amparo administrativo nem o direito moral de dizer que o problema das enchentes é por "falta de projetos" dos prefeitos e governadores. Para dizer isso é que Lula foi dar uma olhada, bem por alto, nas enchentes.
Mas se trata de emergência, emergência para a vida já de cerca de 1 milhão de pessoas às quais o bem que as águas ainda lhes deixam é só a vida mesma. E emergência não depende de projeto. Não depende de burocracia. Depende de interesse humano, de responsabilidade administrativa, de capacidade e disposição de agir -e de decência pessoal.
As continhas feitas no atual governo seguem o mesmo princípio e a mesma aplicação prática das feitas no governo anterior, em situações semelhantes à atual. O dinheiro para a emergência é destinado nas formalidades das aparências, mas o repasse é retido sob todos os pretextos possíveis, com preferência pelos mais ordinários. Porque o princípio básico do governo é gerir números elogiáveis na inflação e nos gastos sempre criticados pelo poder econômico. O princípio orientador do governo não são os governados, não são as emergências e urgências do país. Para isso, um Bolsa Família aqui, um Fome Zero de nota zero ali, dão matéria-prima bastante para as metas grandiosas da propaganda.
Em editorial no sábado ("Lentidão e improviso"), a Folha informava que só agora a governadora Wilma Faria, do Rio Grande do Norte, recebeu a verba para os atingidos pelas enchentes de 2008. Wilma Faria tem sorte. De norte a sul, os desgraçados por calamidades no ano passado ainda esperam a maior parte ou todo o repasse que lhes foi então destinado nas aparências governamentais.
Egresso de última hora dos indiciados pela CPI dos Anões do Orçamento, por camaradagem baiana do à época deputado Luiz Eduardo Magalhães, o hoje ministro da Integração (ir)responsável pelo socorro ao Norte e ao Nordeste, Geddel Vieira Lima, lança mão do seu patrimônio moral para identificar os responsáveis parciais pela calamidade: são os que "assumem o risco de viver em áreas impróprias". A este registro do editorial de sábado, acrescento a minha concordância com o ministro. De fato, por que não seguem o exemplo parlamentar ou ministerial de quem multiplica em valor e dimensão, de preferência em fazendas, o seu patrimônio imobiliário? Era só observarem o slogan deixado por Antonio Carlos Magalhães: "Geddel vai às compras". Sempre.

Solução
O assalto ao banco dentro do Quartel-General do Exército em Brasília não é o primeiro no gênero. A famosa Vila Militar, no Rio, há poucos anos passou por isso. O que também tem ocorrido em vários quartéis para roubo de armas.
Tudo indica ser o caso da contratação, pelo Exército, de uma empresa de vigilância para proteger as dependências militares incumbidas da segurança nacional.

PAINEL

Ninguém viu

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 12/05/09

Ao anunciar que possui um recibo de doação de R$ 200 mil à campanha de Yeda Crusius, a empresa de tabaco Alliance complicou muito a já encrencada situação da governadora gaúcha. Esse dinheiro não foi registrado pela tucana na Justiça Eleitoral. Também não aparece no bolo dos R$ 555 mil que a empresa declarava ter injetado na eleição de 2006.
Com nove cadeiras na Assembleia, o PMDB é o fiel da balança para a instalação de uma nova CPI contra Yeda. O PSDB tenta evitar que isso aconteça colocando na mesa a seguinte carta: a governadora assumiria o compromisso de não disputar a reeleição, hipótese em que os tucanos apoiariam a candidatura do prefeito de Porto Alegre, o peemedebista José Fogaça.

Elo. O novo baque no governo gaúcho trouxe de volta ao noticiário o nome de Walna Vilarins Meneses. A secretária particular de Yeda fazia viagens semanais a Brasília, onde se encontrava com o ex-arrecadador de campanha Marcelo Cavalcante.

Fumacê. As empresas de tabaco Alliance One e CTA-Continental, que teriam abastecido caixa dois na campanha de Yeda, são próximas de José Otávio Germano (PP). Em 2006, a maior doação declarada da Alliance foi de R$ 100 mil para o deputado.

Se lixando 1. Em conversa com congressistas de Mato Grosso do Sul durante a primeira viagem do Trem do Pantanal, na semana passada, Lula disse que o senador Eduardo Suplicy errou ao justificar a concessão de passagens aéreas de sua cota à namorada, Mônica Dallari.

Se lixando 2. Para o presidente, os congressistas deveriam "esvaziar" o tema. "É burrice tentar se justificar. Quanto mais se fala no assunto, mais a imprensa inflama."

Telhado de vidro. O presidente do Conselho de Ética, José Carlos Araújo (PR-BA), ouve uma resposta padrão nas consultas para achar um novo relator para o processo contra Edmar Moreira: "Eu dei passagens". Pelo menos 7 dos 14 integrantes já foram identificados como doadores de bilhetes para parentes.

Eu topo. No momento, o único nome disposto a herdar a relatoria, com o compromisso de não pedir a cassação do deputado do castelo, mas apenas suspensão até o final do ano, é Nazareno Fonteles (PT-PI). Recentemente, uma assessora de seu gabinete admitiu ter vendido passagens aéreas da cota do deputado.

Wally. Campeã de faltas no Supremo, Ellen Gracie já avisou que não comparecerá às sessões desta semana nem da próxima. A ministra está em campanha por cargo na corte de apelação da Organização Mundial do Comércio.

Nunca antes 1. A escolha do novo membro do Conselho Nacional de Justiça conseguiu o feito de unir do mesmo lado o ministro da Justiça, Tarso Genro, e o presidente do STF, Gilmar Mendes. Os dois avalizam o nome do jurista Marcelo Neves, da USP e da PUC de São Paulo.

Nunca antes 2. A sabatina para a vaga do CNJ, cuja indicação cabe ao Senado, será amanhã na Comissão de Constituição e Justiça. O mais poderoso lobby, no entanto, é para o advogado Erick Pereira, do Rio Grande do Norte, que também conseguiu uma proeza: unir o senador José Agripino (DEM) e a governadora Wilma Faria (PSB).

Pega geral. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pediu pessoalmente a senadores que aprovassem a emenda 19, embutida na MP 449. Ela anistia agentes públicos de crimes cometidos para assegurar liquidez ao sistema financeiro. Pelo lado governista, o presidente do BC, Henrique Meirelles, empenhou-se igualmente pela aprovação, ocorrida na quinta-feira passada.

Réu. O órgão especial do Tribunal de Justiça de São Paulo instaurou, por unanimidade, processo criminal contra o presidente da Assembleia, Barros Munhoz (PSDB), por calúnia, injúria e difamação contra o prefeito Toninho Bellini (PV), de Itapira, e um vereador da cidade.

Tiroteio

"Não se pode criar um AI-5 digital sob a justificativa de reduzir a incidência de crimes na rede." 


Do deputado estadual SIMÃO PEDRO (PT-SP), sobre o projeto substitutivo do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) que aumenta a fiscalização na internet.

Contraponto

Mr. Magoo

A direção do PSDB selecionou dois textos para homenagear em evento na Paraíba, respectivamente, dom Hélder Câmara (1909-1999) e o pesquisador Josué de Castro (1908-1973). Este último seria lido por Aécio Neves.
Ao receber os papéis, o governador de Minas percebeu que o discurso fora digitado em letra miúda. Aflito, pediu socorro ao presidente do partido, e então começou:
-Quero cumprimentar a todos pela presença, cumprimentar o presidente Fernando Henrique Cardoso e... o senador Sérgio Guerra, que me emprestou os óculos!

GOSTOSA


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VINÍCIUS TORRES FREIRE

A economia de Serra e de Dilma

FOLHA DE SÃO PAULO - 12/05/09


Governador paulista evita falar sobre economia para não arrumar problemas com Lula e o PSDB, mas dá algumas pistas



DILMA ROUSSEFF chega ao segundo turno em 2010 e deixa os "mercados nervosos". Por quê? Porque a candidata de Lula e do PT corre o risco de perder para José Serra (PSDB). Lula e o PT se travestiram de tal modo nos últimos sete anos que a piada faz sentido, embora a banca e grandes empresários prefiram, de coração, Antonio Palocci a Dilma ou a Serra. O primeiro ministro da Fazenda de Lula ninguém esquece, não importam seus rolos. Palocci tirou a economia petista-lulista do armário. Ainda inspira suspiros poéticos e saudades em grandes empresários, que preferem "alguém de conversa mais mansa".
A fama de Dilma e de Serra os precede. Teriam ideias próprias demais, seriam arrogantes e, diz a lenda, tentariam colocar Banco Central, setor privado etc. numa linha dura. Mas o que pensa Serra?
Serra está na "oposição" à política econômica desde quando ministro do Planejamento de FHC (ou melhor, desde sempre), pois crítico da política do real forte "cum" déficits (externo e fiscal) que causou o colapso de 1999. Fala vez e outra sobre economia, "como economista". Instado a falar sobre alternativas, cala-se. Não quer esquentar a disputa no PSDB nem ter problemas com Lula.
Ontem, Serra foi a um encontro de economistas promovido pela revista "Exame". Disse que o BC errou ao elevar os juros quando a crise já corria solta e ao cortá-los tardia e vagarosamente. Não havia risco de inflação, pois mesmo a grande e "positiva" desvalorização do real não afetou preços. No texto de sua exposição, Serra entra em mais detalhes.
Acredita que a política monetária teria o mesmo efeito com juro mais baixo (importantes seriam as variações a partir desse patamar). Mesmo com o zunzum global do "pior já passou", o BC deve cortar juros e comprar dólares. "O ideal" teria sido o BC cortar a Selic de três a quatro pontos percentuais no auge da crise. A queda brusca de juros não teria então causado mais fuga de capital, que "decorria de motivos outros que não o diferencial de juros".
A "timidez" do BC ajuda a provocar nova valorização excessiva do real ("ajuda", pois várias moedas emergentes sobem), dado o "absurdo" diferencial de juros entre Brasil e resto do mundo, o que prejudicará de novo a exportação de manufaturas. Serra acha "absurdo" que o país tenha tido déficit externo mesmo com a grande alta das commodities, quase 60% das nossas exportações.
Serra elogia Lula nas reduções de impostos sobre bens duráveis; elogia o papel do BNDES na reestruturação de grupos industriais afetados pela ciranda cambial. Diz que o BC acertou ao emprestar dólares para empresas, que ficaram sem crédito externo na crise. Mas critica o baixo investimento público e gastos com servidores, que vão ter "impactos substanciais" até os primeiros dois anos do próximo governo federal.
Para o governador, o baixo grau de abertura econômica e a baixa das dívidas externa e pública protegeram o país do tumulto global, assim como o peso dos bancos estatais (um terço do crédito), o baixo endividamento das empresas e as transferências de renda para os mais pobres (Bolsa Família, outros benefícios assistenciais, INSS etc.). Nem de longe é um programa. Mas é uma pista. Parecida com a de Dilma.

ANCELMO GÓIS

FIOCCA NA NOSSA CAIXA

O GLOBO - 12/05/09

O economista Demian Fiocca volta ao governo. A convite de Guido Mantega, vai presidir a Nossa Caixa, banco paulista comprado pelo BB.
Em 2007, Fiocca deixou a presidência do BNDES para ser diretor da Vale. Mas a crise fez a empresa enxugar seus quadros.
POR FALAR EM... 
O Banco do Brasil quer reconquistar até junho o título de maior do País em ativos, perdido com a fusão Itaú-Unibanco.
O banco estatal foi às compras. Incorporou a Nossa Caixa, o Besc (Santa Catarina) e parte do Votorantim.
SABEDORIA 
O Nobel de Economia Robert Mundell, que deu palestra ontem em São Paulo, abriu sua conferência com esta frase:
– Estou feliz por estar no Rio...
Não é uma rima, mas é uma solução. Com todo o respeito.
MAS... 
Se fosse no Rio mesmo, o Nobel na categoria Cara-de-Pau, ex-governador Paulo Maluf, não circularia livremente entre tão ilustres intelectuais.
RESERVA DE ABROLHOS
Lula assina amanhã a criação da Reserva Extrativista de Cassurubá, no Sul da Bahia, perto do arquipélago de Abrolhos.
Dessa vez, deve ser para valer. É que, no fim de 2007, em cerimônia oficial, o presidente já havia criado a reserva. Mas não valeu. O decreto não chegou a sair no DO por causa da oposição do governador Jaques Wagner, que temia pelo turismo na região. As divergências foram superadas.
O GÁS DA VALE 
A Vale negocia com a Petrobras um novo acordo de petróleo e gás.
A mineradora tem 12,5% da reserva de gás anunciada ontem no poço Panoramix, no Campo de Santos, num consórcio liderado pela espanhola Repsol.
VOLTA DA LEI SARNEY
O senador José Sarney não pretende ficar só apagando os incêndios administrativos do Senado ou ouvindo os discursos do colega Mão Santa.
Vai apresentar à Casa um projeto de “consolidação das leis de incentivo à cultura”, para reduzir a burocracia do Estado. Ou seja: o debate sobre a reforma da Lei Rouanet vai esquentar.
HILLARY NO BRASIL 
Hillary Clinton, secretária de Estado de Obama, vem ao Brasil agora em maio.
Provavelmente, dia 26.
SHOPPING GIGANTE
O BarraShopping, templo do consumo no Rio, vai ganhar mais 5.000 m² e 800 novas vagas de estacionamento.
Será a sétima expansão do shopping, prevista para 2011, quando faz 30 anos. 
TERREIRÃO VIP
A prefeitura do Rio vai incrementar o Terreirão do Samba com a construção de estrutura fixa, camarotes etc. Mais: a partir do segundo semestre, vai haver programação ali o ano todo.
Nosso Noca da Portela, convidado, topou ser o “embaixador” do espaço, um tipo de curador.
ALÔ, INFRAERO
Parece que o Aeroporto Santos Dumont não estava preparado para receber novos voos.
Nos horários de pico, há atrasos, confusão para embarcar, fila nos raios X, falta de informação, troca de voos e, pior, muitos embarques e desembarques são feitos de ônibus e não por fingers.
Melhor teria sido economizar os milhões desperdiçados nas obras e deixar o Santos Dumont como era antigamente, charmoso e prático.

ARNALDO JABOR

Ser feliz é parecer feliz

O GLOBO - 12/05/09

Comecei a filmar um filme sobre a "busca da felicidade", essa ideia fixa do Ocidente, transcrita até na Constituição norte-americana. No filme, não trato da "bem-aventurança" atual, mas de uma felicidade "de época", ao final dos anos 50. Não havia ainda a abertura "psicológica" de hoje; a felicidade se encolhia pelos cantos de um cotidiano reprimido, temeroso de grandes alegrias, dentro e fora das famílias. Era quase feio demonstrar muito prazer, como se a risada fosse um luxo. Minha avó aconselhava: "Cachez votre bonheur" (esconda sua felicidade)… Era diferente do narcisismo compulsivo que vemos agora, com ricos, jovens e famosos expondo suas gargalhadas na mídia.

Felicidade muda com a época. Antigamente, a felicidade era uma missão, a conquista de algo maior que nos coroasse de louros; a felicidade demandava o sacrifício. A felicidade se construía. Hoje, felicidade é ser desejado, consumido. Confundimos nosso destino com o destino das coisas. Uma salsicha é feliz? Os peitos de silicone são felizes?

Já escrevi sobre isso e volto agora por causa do filme, ao examinar com fascínio as revistas mundanas. Olho com inveja e rancor as fotos dos afortunados, pois todos são mais felizes do que eu. Ser feliz é parecer feliz.

A dúvida e as dores da vida são ocultadas. Já houve tempo em que era chique não sorrir; já houve os olhos fundos dos existencialistas, a cara abatida dos "beats", fotografias em que o espectador era olhado com desprezo acusatório. Hoje, as celebridades parecem dizer: "Azar o teu por não estares aqui, ‘seu’ anônimo. Aqui, não há fracassos, não há o inconsciente. Ninguém pode deprimir. Tristeza não é comercial. Tudo é claro e óbvio como nossas gargalhadas".

Na felicidade industrializada, só o excesso é valorizado. Não há a contemplação elegante da delicadeza, nem a tradição de uma feliz sabedoria, de uma serenidade discreta. Nossa felicidade não é minimalista; está mais para uma imitação carnavalesca de Luís XIV.

As personagens da mídia feliz vivem como se não houvesse armadilhas na existência; apenas o narcisismo óbvio é cultuado como sendo o ideal a atingir. Esse conceito redobrou em força depois que morreram os antigos agentes da dúvida, os socialismos e desbundes. Assistimos ao triunfo da caretice disfarçada de libertação.

As fotos dos deslumbrados e deslumbrantes não precisam de caricatura; elas se criticam sozinhas, elas são paródias de si mesmas.

"Estaremos aqui para sempre, eternos em nossas baladas e desfiles - parecem dizer -: conquistamos isso tudo, esses cães de luxo, essas sopeiras de porcelana, esse vaso Ming falso".

Muito importante é ver, nas fotos de milionários e colunáveis, a cenografia onde eles pousam como peixes em aquários de luxo, orgulhosos de seus tesouros: as casas e eles mesmos.
Não se veem vestígios "dark". Tudo é novo, tudo brilha, tudo é presente. Contra o decorrer do tempo, existem os "makeovers", jorros de silicone e bochechas de botox. Para essa gente, não houve crises e mudanças no mundo. Não houve anos 60, nem guerras quentes e frias, nem fraturas ideológicas, muros caídos, fim de utopias, nada. Não aprenderam nada e não esqueceram nada, como disseram dos Bourbon.

Nas fotos, só aparecem gestos e coisas que gritam: lustres de cristal, galgos de bronze com olhos de safira, mármores falsos, ouro de tolos, ninfas de marfim, objetos no estilo catete-gótico, "barroco Teodoro Sampaio" ou "Early Lar Center", atacando a arte contemporânea numa blitz feroz.

A decoração dos ambientes é para eles ou eles são para a decoração? As pessoas combinam com a casa. Uma vez, uma perua me perguntou como era o restaurante aonde iríamos para botar uma roupa que combinasse. É extraordinário como para eles tem de haver continuidade no mundo, uma coisa puxando a outra, numa lógica que começa num elefantinho de prata e acaba na ideia de Deus.

Em muitas fotos parece não haver figura e fundo. Há fotos em que os eternos felizes pousam orgulhosos diante de seus retratos, criando um efeito narcísico de espelhos infinitos. Quem está ali? A dona ou o retrato?

Tudo ali é controlado pela ideia de simetria total. O abajur tem seu par, o castiçal tem seu par, o marido abraça a mulher em perfeita perspectiva com as duas colunas romanas que os ladeiam, e todos os pecados se apagam ali no sereno tapete e no brasão do jaquetão de comodoro. Tudo passa a ideia de autossuficiência, de ilha de paz e tranquilidade, realização do ideal de casa, contra a rua do mundo. São abrigos contra o mundo, são abrigos anti-atômicos num estilo rococó que resiste a todos os avanços do bom gosto; ali pode-se viver, andar de cavalinho de plástico na piscina e rolar no veludo durante qualquer catástrofe econômica ou política. Nada os atingirá.

Os "venturosos" contemporâneos não se contentam em mostrar seus bens, caras e bocas; sentem-se tão acima de nós que adoram exibir e justificar qualquer vício, perversão ou vexame que cometam. Não há mais nada a esconder; ao contrário - eles têm o prazer de ostentar uma mentirosa autoconsciência, como se tivessem controle sobre o que são. "Ah, sim, eu já me prostituí muito, sim, eu gosto de transar em mictórios públicos, sim, me excita até ver cenas de crimes ou chacinas - me sinto liberado, sabe? Mas, tudo numa boa, sacou? Sou livre e maduro..."

Mas, afinal, temos liberdade para desejar o quê? Bagatelas, mixarias, uma liberdade vagabunda para nada, para rebolar o rabo em revistas, uma liberdade fetichizada, produto de mercado disfarçado de revolta de festim. Somos livres dentro de um chiqueirinho de irrelevâncias, buscando ideais como a bunda perfeita, recordes sexuais, sucesso sem trabalho, a fama em vez do merecimento. Não precisamos fazer nada ou saber nada. Basta aparecer, pois o pior castigo é o anonimato.

No futuro (se houver algum…), essas colunas e revistas de ricos e famosos serão uma valiosa contribuição para a semiologia da nossa caretice.

GOSTOSA


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COISAS DA POLÍTICA

Tucanos em paz por algum tempo

Tales Faria

JORNAL DO BRASIL - 12/05/09

O ninho tucano é talvez, hoje, o mais curioso ambiente da política no país. É frequentado por alguns dos mais educados e brilhantes políticos da atualidade, como o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso e os governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas Gerais, Aécio Neves, só para citar alguns nomes. Mas é onde se trava, provavelmente, a maior batalha intrapartidária do momento: a disputa entre Serra e Aécio para saber quem será o candidato do PSDB a presidente. E aí – não se iluda o leitor ou eleitor! – a batalha é cruel. Como toda guerra política, com intrigas, ressentimentos, histórias de traições, palavrões de bastidores, alianças difíceis de explicar.

Assim vinha o clima no tucanato, com os aliados de Serra seguros de que Aécio exigia prévias até setembro porque se preparava para deixar o partido, caso fosse derrotado, até outubro, prazo limite de filiação a outra legenda estabelecido pela Justiça Eleitoral para quem quer concorrer às eleições de 2010. O próprio Aécio jogava lenha nessa fogueira, flertando ora com o PMDB, ora com o PSB. Seus aliados diziam cobras e lagartos de Serra e, mais tarde, até mesmo de Fernando Henrique Cardoso, depois que o presidente começou a dar sinais de preferência pelo governador de São Paulo. Mais: a disputa entre os estados de São Paulo e de Minas entrou como um ingrediente explosivo nessa guerra, com ares até de secessão federativa.

Mas, agora, quem circular pelo tucanato verá que os ânimos estão menos exaltados. Há um certo clima de paz. E o que fez isso? Foi um encontro entre Serra e Aécio, no fim de abril, em que os dois acertaram aquilo que no Congresso se chama acordo de procedimentos: já que não dá para fechar um acordo definitivo, estabelece-se um acordo em torno dos procedimentos a serem adotados por ambas as partes até o momento da disputa. E qual foi o acordo de procedimentos entre Serra e Aécio? Foi o seguinte: Serra aceita, enfim, que as prévias definirão o candidato do PSDB a presidente, não mais as pesquisas eleitorais ou qualquer outro critério. E Aécio aceita que as prévias ocorram depois de outubro, o tal prazo de desfiliação. Ficaram lá para janeiro ou fevereiro do próximo ano.

– Acho que a relação entre os dois está equacionada, e isto tranquilizou muito o partido. Na verdade, o Aécio deu uma demonstração de grande fidelidade ao PSDB, espantando os fantasmas de que poderia deixar o partido – explica o líder dos tucanos no Senado, Arthur Virgílio Netto (AM).

Isso quer dizer que Arthur vai votar em Aécio (afinal, ele e Serra nunca foram muito afinados pessoalmente)? O senador responde:

– Vou votar naquele que mais ajudar o PSDB a vencer as eleições. Hoje, meu voto vai para o Serra, porque ele está na frente nas pesquisas. Mas o Aécio aceitou deixar as prévias para depois porque acredita que, até lá, também estará bem nas pesquisas de opinião. Se ele estiver melhor que o Serra, voto nele. A coisa ficou assim: vamos parar de fofocas e deixar tudo caminhar naturalmente. Quem melhor se estabelecer até o início do ano que vem é quem será ungido candidato.

Nessa hora lembrei que o próprio Arthur Virgílio vinha se dizendo pré-candidato às previas para presidente. Desistiu? Aí o senador gaguejou um pouco, mas respondeu:

– Na verdade, nunca achei que venceria o Serra ou o Aécio. Coloquei meu nome para forçar que o partido não decidisse esse assunto numa reuniãozinha de meia dúzia de membros da cúpula, o que resultou no fracasso das últimas eleições presidenciais para o PSDB. Nesse sentido, já alcancei parte dos meus objetivos com o anúncio das prévias. Agora, para retirar definitivamente meu nome, basta que um dos dois se mostre verdadeiramente interessado e inteirado dos problemas da minha região, a Amazônia. Com profundidade.

E, aí, Virgílio liga a metralhadora:

– A verdade é que nem o Serra, nem o Aécio demonstraram preocupação real com o tema. Nem eles, nem qualquer outro pré-candidato a presidente têm um conhecimento sobre o tema que vá além de uma consulta rápida ao Google. Estão brincando com fogo. O mundo está de olho na Amazônia e, se o Brasil continuar alheio, acaba que a região vai virar um protetorado da Organização das Nações Unidas. E o pior é que nem o meu partido, nem o Serra nem o Aécio despertaram para o tema.

CLÁUDIO HUMBERTO

“A briga vai ser feia. Não me entrego. Não vou deixar barato”
DEPUTADO ‘QUE NÃO SE LIXA’, SÉRGIO MORAES (PTB-RS), QUE DEVE PERDER HOJE O CARGO DE RELATOR...

PMDB SE AFASTA DE ACORDO COM O PT PARA 2010
O presidente Lula recebeu ontem à noite uma notícia para ele preocupante: neste momento, segundo estimativas das principais lideranças do partido, cerca de 60% do PMDB não estão dispostos a formalizar aliança com o PT para 2010. Em todos os Estados PT e PMDB querem disputar os governos locais e reivindicam a marca de “candidato do Lula”. A confusão é grande do Amazonas ao Rio Grande do Sul.
NOVIDADE
Lula desconhecia o problema. No fim de semana chegou a declarar que “estava próximo o acordo entre PT e PMDB para 2010”.
FERIDA FATAL 
O desentendimento PT-PMDB “fere de morte a candidatura de Dilma a presidente”, afirmou a esta coluna um experiente senador do PMDB.
NOSSOS MORTOS 
A gripe suína matou 50 em todo o mundo. Tanto quanto os 45 mortos nas enchentes no Nordeste. Sem contar os 180 mil desabrigados. 
CAMINHADA 
Após uma semana gripada, a ministra Dilma Rousseff retomou as caminhadas matinais. Parece bem disposta, apesar da quimioterapia.
LIVRO DIDÁTICO ENSINA PRECONCEITO AO NORDESTE
Parlamentares e educadores pernambucanos vão denunciar ao Ministério da Educação o “preconceito e os erros primários” do livro didático “Caatinga: a paisagem e o homem sertanejo” (Ed. Moderna), adotado no ensino fundamental. O litoral, dizem eles, “é vivo, alegre e gracioso” e não “seco, pobre, com solo pedregoso” como ensina o livro, que qualifica o sertanejo como “rude, indolente e tostado pelo sol”. 
SEM INTERMEDIÁRIOS 
Foragido após vários anos de cadeia por homicídio, o cirurgião Hosmany Ramos está em campanha, na internet, para suceder Lula em 2010.
PORTA ABERTA
O Eximbank, dos EUA, abriu uma linha de crédito de US$ 2 bilhões para a Petrobras, mas só para importar máquinas e equipamentos.
GESTAÇÃO
Impressionado com seu talento articulador, o presidente Lula quer fazer do senador Gim Agello (PTB-DF), líder do governo no Congresso. 
MARCHA DA VERGONHA
Se o tivéssemos o Ministério Público Federal de antigamente, o ministro Carlos “Holofotes” Minc (Meio Ambiente) não escaparia de processo com base nos artigos 286 e 287 do Código Penal, por apologia ao crime, ao participar da “marcha da maconha”, no Rio de Janeiro. 
EMBROMAÇÃO
A Sudene chegou a 3.740 funcionários, nos tempos áureos. Reaberta pelo presidente Lula, hoje tem apenas 150. Contratará mais 500, em duas etapas. Ações para desenvolver o Nordeste exigem mais que isso.
TRAGÉDIA HUMANA 
Afastado do Superior Tribunal de Justiça por suposto envolvimento na venda de sentenças, o ministro Paulo Medina levou um tombo em casa e fraturou o ombro, em janeiro. Agora, fragilizado, caiu de novo e quebrou o pulso. Agora ele corre o risco de perder o movimento do braço direito.
FIM DO ‘DESACATO’
Está na Comissão de Constituição e Justiça o projeto do deputado Edson Duarte (PV-BA) extinguindo o crime de “desacato” a funcionário público. “O cidadão deve ter o direito de criticar o governo sem ser punido”, diz.
CARA, O FILME
“Lula, o filho do Brasil”, filme de Luiz Carlos Barreto sobre a vida do presidente, estréia em 2 de janeiro em Caetés (PE), sua terra natal. O Cara vai com toda a parentalha, que hoje mora em São Bernardo (SP).
UMA BOA IDEIA
O aeroporto de Houston, Texas, Estado onde morreram duas pessoas com gripe suína – instalou nos três terminais dezenas de máquinas para higienizar mãos e cartazes alertando para a necessidade de prevenção.
CANDIDATO APÁTRIDA
Mesmo sem o governo Lula, que apoia o concorrente egípcio, o brasileiro Márcio Barbosa segue um dos favoritos na eleição para diretor-geral da Unesco, órgão da ONU para educação e cultura. Atual vice-diretor-geral, ele ganhou prestígio convencendo os Estados Unidos a voltar à Unesco.
MALHA AÉREA
O senador Mão Santa (PMDB-PI) defendia uma malha aérea regional, no Nordeste, onde não há voos entre algumas capitais. Lembrou empresas que ligavam a região, como a PTA. Ele mesmo deu o significado da sigla: “Paraense Transportes Aéreos, mais conhecida como Prepara Tua Alma”
TE CUIDA, LULA
A China, aonde Lula chega nos próximos dias, vai continuar impondo quarentena a visitantes da América Latina? 

PODER SEM PUDOR 
GALOS COMBATENTES?
Inconformada com a proibição das rinhas, a Sociedade Criadora de Galos Combatentes de Governador Valadares (MG) endereçou ofício ao presidente Jânio Quadros pedindo a revogação do decreto, destacando que briga de galos seria “esporte dos reis”. Jânio escreveu no alto do ofício:
– “Indeferido. Exatamente o que o governo deseja é que não haja galo combatente. 24.07.61 (a) J. Quadros”.

ELIANE CANTANHÊDE

Quem fala o que quer...

FOLHA DE SÃO PAULO - 12/05/09

BRASÍLIA - Lula nomeou 49 dos 86 ministros de tribunais superiores em seus dois mandatos, aí incluídos 7 dos 11 do Supremo. Mais da metade, portanto. E deve nomear mais um para a vaga de Eros Grau (sua indicação) e outro para a de Ellen Gracie (da leva de FHC), caso ela vá para a OMC.
A culpa não é de Lula, mas é muita coisa para um presidente só e agride o fundamento constitucional da independência entre os Poderes. Ontem era FHC, hoje é Lula, mas e amanhã? Ninguém sabe. Por isso a AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros) promoveu um debate em Brasília sobre o acesso aos tribunais, tendo como pano de fundo a partidarização do Judiciário. Propostas para o STF:
1) O professor Dalmo Dallari defende eleição nacional de advogados, juízes e procuradores. Soa como sindicalização da escolha. O indicado seria o candidato com mais densidade e conhecimento jurídico ou com mais lábia e habilidade política entre os companheiros?
2) Delegar aos próprios ministros do Supremo a elaboração da lista tríplice para o presidente. O risco é cristalizar a composição do tribunal. Se liberal, se eternizaria liberal; se conservador, idem. E deve ser o contrário: quanto mais diversificado melhor. Além disso, seria crise na certa. Imagine os ministros Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa discutindo nomes?!
3) Indicações do Executivo, Legislativo e Judiciário, afunilando até chegar ao nome ou com rodízio das vagas, na base de um terço para cada Poder. Como são 11 cadeiras, o Executivo teria uma a menos. Afinal, ele já tem influência natural na Corte -aliás, em tudo.
4) Deixar como está. E rezar para o presidente da República não ser personalista e autoritário.
Com o Supremo na boca do povo, Gilmar eleito o "comentador-geral da República" e Barbosa jogando insinuações contra o presidente da Corte, é uma boa hora para discutir. O Judiciário fala o que quer, acaba ouvindo o que não quer.

CLÓVIS ROSSI

Sérgio é "o cara" (ou a cara)

FOLHA DE SÃO PAULO - 12/05/09

SÃO PAULO - O deputado Sérgio Moraes (PTB-RS) tem mesmo que recorrer ao Supremo para continuar relator do caso do deputado do castelo.
Não seria justo dispensar o deputado que se lixa para a opinião pública. Por um motivo simples: ele é a cara do Congresso Nacional. Vamos ser francos: todos os congressistas, salvo no máximo meia dúzia, se lixam para a opinião pública -o que, aliás, já foi dito mais de uma vez neste espaço, bem antes da frase de Moraes.
Não dependem dela para se eleger, que é o único "projeto" que têm. Elegem-se, como Moraes, por distritos não necessariamente geográficos. São, em geral, distritos pequenos, como a Santa Cruz do Sul a que Moraes deve seu mandato (115 mil habitantes).
Outros distritos são de, digamos, comunidades (étnicas ou a de ouvintes de uma dada rádio etc.). Para os eleitores desses "distritos" conta pouco ou nada o comportamento ético de seu representante. Vale o que ele traz ou pode trazer de benefícios para o "distrito". Mais do que a cara do Congresso, Moraes é também a cara de uma fatia ponderável do Brasil. Chegou a ser afastado da prefeitura de sua cidade porque fez um "gato" telefônico: instalou um telefone público na casa da família.
Preciso dizer quantos "gatos" existem por aí, nos mais diferentes equipamentos públicos? Não há, por acaso, "gatos" de instalações de TV a cabo em condomínios de classe média?
Não vamos esquecer que, tanto no final do primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso como em idêntico período de Luiz Inácio Lula da Silva, pesquisas Datafolha mostravam que algo em torno de 80% dos eleitores enxergavam corrupção em um e no outro governo. Não obstante, ambos se reelegeram até confortavelmente.
Tradução inevitável: parte do público se lixa para a corrupção.

INFORME JB

Tucanos investem tudo na CPI

Leandro Mazzini

JORNAL DO BRASIL - 12/05/09

O senador tucano Álvaro Dias (PR) (foto) desembarcou ontem em Brasília com três nomes de colegas na lista para completar as 27 assinaturas que permitam protocolar na Mesa do Senado a CPI da Petrobras. Os colegas de legenda Tasso Jereissati (CE) e Marisa Serrano (MS) vão endossar. Depois da retirada da assinatura de Almeida Lima (PMDB-SE), o PMDB não escapa de uma saia justa ao ver outro nome na lista, da turma dos independentes. "Já tenho conversado com o Geraldo Mesquita (AC)", disse Dias à coluna. O PSDB vai unido para cima do governo. Embora tenha mote de uma CPI política, Álvaro quer, se a comissão for aprovada, esmiuçar logo "os inquéritos das duas operações da PF envolvendo a estatal: Castelo de Areia e Águas Profundas".

Quase lá Outros casos

O PSDB está tão animado com a possível abertura da comissão que já não abre mão da relatoria. "É melhor a oposição ficar com a relatoria", diz Álvaro.

Entrarão no rol de investigações, claro, o festival de patrocínios da estatal na Bahia e o suposto esquema fraudulento de negociação para a distribuição de royalties no estado do Rio.

Mas...

Nem tudo é festa na oposição. Até agora, só barulho. PT e a ala governista do PMDB já lutam nos bastidores para derrubar a criação da CPI. E têm força para isso.

Galloti vai

Conforme adiantou ontem o Informe , o ministro Paulo Galloti, do Superior Tribunal de Justiça, vai pedir a aposentadoria. Por problemas de saúde.

Vaivém

Galloti é da vaga dos desembargadores no tribunal. Pelo menos três nomes do Rio Grande do Sul já pleiteiam o lugar.

Vigília

A senadora Ideli Salvatti (PT-SC) concentra toda a agenda, desde semana passada, para a vigília que começa amanhã, com apoio de artistas e intelectuais, em prol do projeto Amazônia para Sempre. Em Brasília.

Suplentes do ar

O Senado guardava a sete chaves documentos que o Ministério Público já conseguiu, por força de ordem judicial. Quem tem o balancete da Casa diz que a farra dos voos dos suplentes é astronomicamente maior que a dos titulares.

A Vila cresce

O Vila Viva, da Prefeitura de Belo Horizonte, que reconstrói moradias e abre ruas, vai se expandir para a Região Metropolitana com programas similares, comemora o prefeito Marcio Lacerda.

E cresce

Em BH, já são R$ 300 milhões em financiamento na gestão atual. A Vila já cobre 27% da área carente da capital.

PAC do cacau

O governo da Bahia conseguiu no Banco do Nordeste aumentar o prazo de carência e pagamento dos empréstimos de produtores de cacau, dentro da renegociação das dívidas com o Fundo de Desenvolvimento do Nordeste Verde

PAC do cacau 2

Agora, o prazo é de até 20 anos para pagamento, com até oito de carência. Antes, era de até 12 anos, com quatro de carência.

Lupa

A Controladoria-Geral da União sorteia hoje mais 60 municípios que serão fiscalizados sobre a aplicação de recursos federais.

Data venia

O Ministério Público de Pernambuco estreou no Twitter.

Eu também

O líder do governo na Câmara, deputado Henrique Fontana (PT-RS), estreou um blog.

Au revoir

O presidente Lula vai passar um terço do mês fora. Fica 16 e 17 na Arábia Saudita; 18 a 20 na China e 21 a 23 na Turquia.

Abra os olhos

O presidente Lula deu a entender para Sérgio Cabral que não poderá segurar o PT do Rio.