terça-feira, abril 28, 2009

SOGRA


 28 DE ABRIL DIA DA SOGRA

Essa é a explicação para o meu excelente relacionamento com minha sogrinha.

VINICIUS TORRES FREIRE

Porcos com asas

FOLHA DE S. PAULO - 28/04/09

Vírus dito "suíno" contagia mais a imaginação, ainda mais no Brasil de endemias como a dengue e das mortes por tiros

O QUE SE FAZ quando vírus da gripe dos porcos com asas viajam do México para os territórios assépticos dos Estados Unidos e da Europa? Compram-se ações de laboratórios que produzem antivirais, vendem-se ações de companhias aéreas, hoteleiras e de cartão de crédito (com o "choque de confiança viral", as pessoas ficariam mais em casa, comprando e viajando menos).

Liquidam-se posições no mercado futuro de pernas e toucinho de porco em Chicago (sic).

Por fim, roda-se um modelo matemático a fim de medir o impacto do vírus "suíno" nos mercados, baseado no efeito passado do vírus da Sars na Ásia, em 2003, como certos bancos já faziam ontem (sic). Sim, isso apesar de vírus derivativos como CDS, CDOs, ABMS e outros ainda contaminarem a banca mundial.

Estamos doentes de hipocondria? Há risco de comer porco? Sim, claro: se o animal estiver vivo, falar e tossir no nosso rosto enquanto tentamos comê-lo em um eventual trem contaminado da Cidade do México.

Decerto, vírus agora têm asas e viajam continentes em horas; as pestes do passado levavam meses para ir de Istambul a Veneza. Cientistas dizem que, se brincarem em serviço, as pestes gripais podem se tornar assassinas rapidamente.

Mas, por ora, mais evidente e curiosa é a rapidez do contágio midiático, em especial no Brasil, em que a Bolsa caiu mais porque produzimos commodities (nossos "infecciosos" minérios, grãos e carnes). Há brasileiros preocupados com o risco de viajar para os viróticos Canadá e EUA. O que é uma dengue hemorrágica tipo "n" perto de um vírus "suíno", certo? Malária deve ser fichinha; morrer de tiro em São Paulo, Rio ou Recife, também. O medo talvez venha do fato de que as pessoas temerosas pensem viver em mundos murados da quarentena social.

Mas o contágio é, por ora, informacional, digamos. Os mundos assépticos e de sabonetes antissépticos (péssima mania americana), em que as pessoas se desacostumaram a morrer feito moscas, entram em pânico rapidamente. Por tabela, contaminados pela predominante massa de informação que vem de EUA e Europa, também ficamos "doentes" pela informação viral, apesar do Aedes zanzando nas cercanias.

O contágio midiático funciona um tanto como no caso de genocídios ou atentados terroristas: um morto "branco e de olhos azuis", para citar Lula, repercute muito mais que os de Ruanda, Congo, Bangladesh, Bósnia. Sim, não vamos muito a Bangladesh. Mas quantas pessoas pegaram dengue em Nova York?

Em 2003, houve o medo da Sars ("síndrome respiratória aguda grave"), que explodiu entre novembro de 2002 e julho de 2003, em particular na Ásia, infectando pouco mais de 8.000 pessoas e matando 774 nesse período -balançou um tico a economia de Hong Kong, apesar do alerta global. Pouco depois, surgiu a gripe aviária, de 421 infectados e 257 mortos pelo mundo até agora, segundo a OMS -não foi para a frente.

Tomara que o vírus dito "suíno" nem chegue a fazer parte desse número de vítimas. E, dadas as más notícias dos vírus demasiado humanos, os financeiros, não precisamos de mais epidemias.

Mas, por ora, talvez estejamos apenas doentes de tédio e excesso de informação ruim.

MERVAL PEREIRA

Imagem arranhada


O Globo - 28/04/2009
 

Ao pedir ao povo que reze pela ministra Dilma Rousseff em um comício ontem à noite em Manaus, o presidente Lula deu início ao que pode vir a ser uma vergonhosa exploração da doença na campanha eleitoral.

 

Como era inevitável, a doença da ministra passou a ser o principal tema político do país, e partiu dos próprios petistas o sinal para que o tratamento do câncer entrasse para o rol dos fatores políticos ponderáveis na sucessão do presidente Lula. A própria ministra já colocara o tema na ordem do dia ao dar uma entrevista coletiva no Hospital Sírio-Libanês, no sábado, afirmando que, como todo brasileiro, está acostumada a enfrentar e superar desafios.

 

Foi uma sutil, mas eficaz, utilização da própria doença para ressaltar a figura pública que cultiva nos últimos meses, a de uma mulher lutadora, acostumada a vencer obstáculos pela vida.

 

Aliada à imagem de eficiente gestora pública à frente do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), está criada a figura pública que pretende se apresentar ao eleitorado como a candidata oficial do presidente Lula.

 

A doença, segundo os próprios petistas, só turbinará essa imagem. Duas figuras importantes do governo, o ministro da Educação, Fernando Haddad, e o assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia deram declarações coincidentes.

 

Os dois disseram que a doença poderá ajudar na imagem da candidata Dilma Rousseff, sendo que Garcia chegou a aventar a hipótese de que a maneira como ela enfrentou o anúncio oficial da doença deve ter uma repercussão boa nas próximas pesquisas de opinião.

 

Ela, de fato, portou-se muito bem no anúncio da doença, com altivez e coragem, dando toda transparência sobre o caso e o tratamento. Não ficou claro em que momento ela anunciaria oficialmente a doença, se é que o faria, se o jornal “Folha de S. Paulo” não tivesse publicado a notícia na sua edição de sábado.

 

Também o presidente Lula, o criador da figura da ministra Dilma como “mãe do PAC”, disse que ela terá duas prioridades, aparentemente conflitantes entre si: cuidar da saúde e se dedicar mais ainda à execução do PAC, trabalhando até 24 horas.

 

Ora, com o consentimento da própria, tudo indica que está sendo armado um esquema em torno da doença da ministra Dilma Rousseff, provavelmente para controlar a tendência inevitável de setores políticos já começarem a especular sobre um eventual Plano B caso ela não possa prosseguir no papel de candidata oficial. Ou talvez para turbinar mesmo uma candidatura que ainda não decolou.

 

O fato é que a candidatura Dilma só se sustentava, mesmo antes da doença, no apoio incondicional do presidente Lula, que tirou do bolso do seu colete uma alternativa para o PT, que não tinha nenhum nome forte que se impusesse naturalmente.

 

Lula, com a perspicácia política que Deus e a vida lhe deram, jogou alto ao escolher um “poste” que tinha qualidades iniciais para serem exploradas: uma mulher, e ainda por cima gerente eficiente, o que se contrapunha de frente com uma das principais armas oposicionistas, a eficiência da gestão pública das administrações de São Paulo e Minas, governados pelos potenciais candidatos tucanos José Serra e Aécio Neves.

 

Não importa se por enquanto o PAC não deslanchou, o que vale é o imaginário que está sendo criado há mais de um ano pelo presidente Lula.

 

Em política diz-se que só existem dois fatos importantes: o fato novo e o fato consumado.

 

O fato novo é que a doença da ministra impedirá que sua candidatura se transforme, pelo menos nos próximos meses, em um fato consumado.

 

Durante o tratamento, a não ser que acelere esse processo só vislumbrado no momento de levar a doença para os palanques eleitorais, as negociações políticas ficarão congeladas oficialmente, mas nos bastidores começarão a surgir novas hipóteses.

 

O PMDB já começa a querer ter a cabeça de chapa caso a ministra não possa se candidatar, na presunção de que se todos no PT são “japoneses”, na definição do ministro José Múcio, e, se a “japonesa” do Lula não puder concorrer, não há por que improvisar outro “japonês”, seja ele Patrus Ananias (o pai da Bolsa Família?), Fernando Haddad ou Tarso Genro.

 

O PMDB se arvora em dar a cabeça da chapa mesmo sem ter um japonês melhor do que os do PT. Talvez sonhando novamente com o governador de Minas, Aécio Neves. Mas essa seria uma manobra política tão radical que é difícil se concretizar.

 

Precisaria que Aécio se desligasse do PSDB, que o PT aceitasse ser vice na chapa, e que o presidente Lula apoiasse formalmente um candidato do PMDB oriundo do PSDB e que nada tem a ver com o PT.

 

Os partidos aliados do governo, em sua imensa heterogeneidade, já começam a se dispersar devido à incerteza do futuro. Uma coisa é seguir na canoa de Lula, outra bem diferente é ter que mudar de canoa no meio da travessia, mesmo que Lula continue à frente do projeto.

 

Muito tempo já se investiu na criação da candidata Dilma, e o tempo se reduziu para que uma nova tentativa saída do zero eleitoral seja feita.

 

Se é alentadora a lembrança de vários políticos que venceram o câncer e continuaram com sucesso na política — Ronald Reagan e John McCain, nos Estados Unidos, François Mitterand na França, o ex-governador Orestes Quércia, em São Paulo —, é preciso lembrar também que todos eles tinham uma história política consolidada, o que não é o caso da ministra Dilma Rousseff, que, com a ajuda do presidente Lula, está tentando montar uma figura política que nunca foi testada nas urnas e nem se submeteu ao estresse de uma campanha presidencial.

 

E que pode ter sua imagem arranhada se se concretizar estratégia de exploração eleitoral da doença que a acomete.

PANORAMA POLÍTICO

SOS desemprego

Ilimar Franco
O Globo - 28/04/2009
 

O Ministério do Trabalho vai estender a outros setores da economia, entre eles a indústria de implementos agrícolas e os frigoríficos, a ampliação do pagamento do seguro-desemprego de cinco para sete meses. O governo está sendo pressionado pelas centrais sindicais para flexibilizar as regras atuais. Mas o ministro Carlos Lupi diz que foram feitos estudos e que nada será feito sem critérios: “Isso aqui não é um topa tudo por dinheiro”.

 

ACM ainda dá voto na Bahia

 

O Ipespe, do cientista politico Antônio Lavareda, fez uma pesquisa para o Democratas sobre as eleições na Bahia. Entre 20 e 25 de março foram ouvidas 2.000 pessoas. O ex-governador Paulo Souto (DEM) lidera com 43%, seguido pelo governador Jaques Wagner (PT), com 34%. O ministro Geddel Vieira Lima (PMDB) tem 14% e o prefeito de Salvador, João Henrique (PMDB), 12%. Mas o que mais chama a atenção são as respostas à pergunta: “Qual foi o melhor governador da Bahia?” Antonio Carlos Magalhães aparece na frente com 46%, seguido de Paulo Souto com 21%; só depois vem Jaques Wagner, com 15%.

 

"Um soco no estômago. Foi essa a sensação que senti ao saber que a ministra Dilma Rousseff estava com câncer” — José Dirceu, ex-ministro do governo Lula

 

NADA MUDOU. O presidente Lula ganhou do prefeito de Itumbiara, José Gomes da Rocha, na última sexta-feira, a camisa do time da cidade. Gomes da Rocha foi condenado por improbidade administrativa por ter empregado sete jogadores do Itumbiara Esporte Clube em seu gabinete na Câmara dos Deputados, em 1996. Na época, ele era presidente do clube e os jogadores foram lotados como secretários parlamentares.

 

Um factoide tucano

 

A página do PSDB na internet publicou nota dizendo que o governador de São Paulo, José Serra, anunciou a realização de vacinação contra o vírus influenza, causador da gripe suína. Só há um problema: ainda não há vacina para essa gripe.

 

Parado no tempo

 

O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, da Frente Sandinista, é um velho conhecido do presidente Lula. Depois de ouvi-lo na recente reunião da Cúpula das Américas, o presidente Lula comentou: “Ele não aprendeu nada”.

 

Chávez fará aceno para o Senado

 

Atendendo a recomendação do ministro Celso Amorim (Relações Exteriores), o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, fará uma declaração simpática ao Senado brasileiro nos próximos dias. Os senadores ainda votarão a entrada da Venezuela no Mercosul. Amorim foi recebido por Chávez na noite de sábado, das 23 h à uma da manhã. Em maio, na Bahia, Chávez e o presidente Lula anunciam o cronograma da adequação da Venezuela às regras aduaneiras do Mercosul.

 

Dilma: governo diz que nada muda

 

Os assessores próximos do presidente Lula não estão abalados com o câncer da ministra Dilma Rousseff.

 

Eles dizem que os próximos quatro meses, quando ela se submeterá à quimioterapia, poderão criar a empatia que falta entre a candidata e os eleitores. Como Dilma estará em evidência, com a opinião pública acompanhando a sua luta contra a doença e seu trabalho como ministra, acreditam que há uma chance razoável de que sua imagem saia fortalecida.

 

O CONSELHO de Imigração do Ministério do Trabalho aprovou, ontem, o envio de protesto contra o governo do Japão, que está oferecendo passagem de volta para os trabalhadores brasileiros que perderam seus empregos, desde que não voltem para lá.

 

O MINISTRO Nelson Jobim (Defesa) vai sábado ao Haiti visitar o novo comando da Força de Paz da ONU, integrada por soldados do Exército brasileiro.

 

O GRANDE debate eleitoral na Alemanha é sobre o que fazer com a Opel, subsidiária da GM. Os democratas-cristãos querem uma saída de mercado. Os sociais-democratas a estatização.

INFORME JB

Câmara tem seu dia de ‘no show’

Leandro Mazzini

JORNAL DO BRASIL - 28/04/09

Não deu outra. Depois que foram para suas bases no fim de semana e perceberam como os eleitores receberam mal a notícia de que a Câmara é a mais generosa das agências de viagens, os parlamentares decidiram apoiar as novas resoluções sobre passagens aéreas. Avisaram o presidente da Casa, Michel Temer (PMDB-SP), que topam votar logo as novas regras e enterrar a história. Ou seja, eles saíram do mundo da lua e aterrissaram de vez na realidade. Temer acredita que, apesar de pressões nos bastidores, o plenário, em voto aberto, vai aprovar hoje sem problemas as restrições. "Com votação em plenário, ou resolução da Mesa Diretora, o regramento rígido está resolvido", diz José Aníbal, líder do PSDB.

Tristeza pra quê? Solidária

Num voo com um aliado semana passada, já ciente da doença, mas discretíssima, a ministra Dilma Rousseff reforçou que completará toda a agenda de visita aos 26 estados e ao Distrito Federal para vistoriar o PAC.

Assim que soube da doença de Dilma, no sábado, a governadora do Maranhão, Roseana Sarney, que já passou por 20 cirurgias, ligou e se solidarizou.

Rádio Poder

Mas o pai de Roseana, senador José Sarney, aliás, havia ligado na véspera para Dilma. A notícia já circulava no alto escalão.

Tô na área

Cresce no PMDB a ideia de que Michel Temer é o vice ideal para Dilma Rousseff.

Profeta

O ministro das Relações Institucionais, José Múcio, em comentário informal ontem, durante evento no Rio: "Ninguém vai mudar de partido mais".

Aécio é tucano

E Múcio emendou, em mesa de almoço: "Não tem mais perigo de o Aécio sair do PSDB".

Pró-Legislativo

Múcio, defensor do Legislativo, anda preocupado com a ascensão da internet nos municípios. "Que democracia é essa que nós construímos?". Explica: tem medo de que, com o canal direto entre o Executivo e o cidadão, o papel do Legislativo se enfraqueça.

Ecologista

O ministro Mangabeira Unger está propondo um fundo latino-americano para a Amazônia, via Organização do Tratado de Cooperação Amazônica.

Dá um xodó...

Na marcha de protesto de centenas de prefeitos, hoje, em Salvador, os alcaides – maioria do DEM e PMDB – reivindicam do governador Jaques Wagner (PT) melhor tratamento.

... e um money

Os prefeitos querem o pagamento de 50% do transporte escolar para bancar os alunos do ensino médio (hoje o governo só repassa algo em torno de 15% no máximo) e mais recursos para a saúde.

Prova de fogo

Marcio Fortes, ministro das Cidades, terá encontro amanhã com o presidente Lula para apresentar as ações da pasta no PAC sobre saneamento, habitação e metrô. Lula está preocupado com obras para a Copa de 2014.

No páreo

Do cientista Eurico Figueiredo, sobre um cenário para o PT sem Dilma para 2010: "Palocci não é mais um nome, Dirceu não é mais. Acredito que Lula optaria por um que se destaque no seu governo. Poderiam ser os ministros Patrus Ananias e Fernando Haddad.

Crise no livro

A crise na economia atingiu em cheio as prateleiras de livros jurídicos no Brasil. A queda de faturamento no primeiro trimestre chegou a 40% em algumas delas.

Crise no livro 2

A situação no mercado editorial jurídico é tão séria que editoras tradicionais como a Saraiva apelaram e diminuíram o tamanho das edições e até de fontes de letras de muitos livros didáticos.

Eu sou o cara

Delúbio Soares lançou um blog, cheio de autoelogios, para tentar voltar ao PT.

COISAS DA POLÍTICA

Consequências do câncer nas urnas

Tales Faria

JORNAL DO BRASIL - 28/04/09

Esse negócio de futurologia é muito difícil. Assim como saber o que o eleitor vai pensar a respeito deste ou daquele assunto. Mas o anúncio do câncer na chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, candidata predileta do presidente Lula à sua sucessão em 2010, inevitavelmente levantou especulações a respeito da influência que a doença teria sobre o eleitorado. Há quem aposte todas as fichas que a história foi muito boa para a ministra. Que o eleitorado a verá como uma guerreira em luta contra uma doença injusta. Outros, no entanto, acham que o eleitor acredita que, para governar um país, é preciso até mesmo força física. Nesse sentido, a doença contaria pontos contra a candidatura de Dilma para presidente da República.

Repito o que disse lá em cima: esse negócio de futurologia é muito complicado. O ideal, nesses casos, é ouvir a opinião ou, melhor, o parecer de especialistas. Por isso a coluna procurou dois dos mais prestigiados analistas de pesquisas eleitorais do país: Marcos Coimbra, presidente do Instituto Vox Populi, e Carlos Augusto Montenegro, do Ibope. Nenhum deles é ligado ao PT, e ambos concordam num ponto: a doença, provavelmente, não terá influências sobre os eleitores.

Marcos Coimbra:

"É claro que tudo depende da evolução clínica. Mas, se for como os médicos estão dizendo – e eu acredito – as consequências serão pequenas, mínimas mesmo. Falta um ano e meio para as eleições. Não creio que, até lá, este assunto permanecerá presente na opinião pública. Dilma Rousseff era uma forte candidata antes do anúncio e continuará sendo agora. Pelo que os médicos disseram, a ministra estará tendo um comportamento normal na campanha, a caminho da cura completa. E ninguém vai querer trazer o tema à tona. Muito provavelmente o eleitor, então, não pensará nesse problema.

Digamos que a equipe da ministra viesse com a questão para a campanha: seria muito ruim para ela. O eleitorado veria como uma apelação, uma tentativa dela própria de se vitimizar. Agora, pensemos no contrário: que os seus adversários trouxessem a história novamente. Seriam vistos como cruéis, explorando a fragilidade momentânea de uma mulher. Aí, sim, ela sairia ganhando, até porque já tem, na sua biografia, a imagem da mulher que enfrentou enormes dificuldades para chegar aonde chegou.

Em resumo. Com o andamento normal do tratamento, vejo três cenários, sendo dois absolutamente improváveis. Primeiro: a equipe da ministra querer usar a doença na campanha. Cenário número 2: seus adversários levantarem o assunto. E o cenário número 3, este sim que considero mais provável: a doença cair no esquecimento".

Carlos Augusto Montenegro:

"Olha, não creio que esta questão da doença da ministra tenha grandes influências eleitorais. Nem contra, nem a favor. Não vai interessar a ela nem à oposição levantar o assunto na campanha. Acho que, no final das contas, ela receberá a mesma quantidade de votos transferidos do presidente Lula que ia receber antes do anúncio da doença. E não é pouca coisa, não: são cerca de 13 milhões de votos.

Continuo com a mesma avaliação que tinha antes: tudo indica que Dilma Rousseff chegará ao final da campanha com cerca de 15% a 17% dos votos. O favorito continua sendo o governador de São Paulo, José Serra (PSDB). E, se ninguém mais se projetar, é grande o risco de a eleição ser decidida no primeiro turno. O Ciro Gomes (PSB), por exemplo, sai com 14%, mas pode acabar com 6%, 5%, 4%.

Muito provavelmente, Luiz Inácio Lula da Silva deixará o governo com a imagem de um dos maiores presidentes da História. Do tamanho de Getúlio Vargas e de Juscelino Kubitschek. Daí por que ele consegue transferir tantos votos. Mas essa transferência não é suficiente para eleger qualquer um. E a verdade é que não apareceram novas lideranças no país nos últimos anos. Dilma, os ministros Tarso Genro e Patrus Ananias e o governador da Bahia, Jaques Wagner, nenhum deles se estabeleceu como liderança independentemente do Lula. O ex-ministro Antonio Palocci até poderia vir a ser um bom candidato, mas aquela história do caseiro atrapalhou. Não dá para voltarmos atrás. E também não dá tempo para se criar um nome novo. Depois do Fernando Collor de Mello, o eleitor não está mais interessado em aventuras".

DA ARGENTINA ACEITA-SE TUDO

EDITORIAL

O Estado de S. Paulo - 28/04/2009
 
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou mais uma vez a disposição de aceitar toda imposição comercial do governo argentino, de aplaudir a política da Casa Rosada e até de pagar por seus erros econômicos. Na semana passada ele voltou a confundir cooperação e solidariedade com a negação dos interesses comerciais do Brasil. A decisão de elevar de US$ 120 milhões para US$ 1,5 bilhão o limite de operações cobertas pelo Convênio de Crédito Recíproco (CCR) pode até se enquadrar na rubrica da cooperação. Com muito exagero, pode ser defendida como parte de uma política pragmática de longo prazo - muito exagero, porque a cada dia o Mercosul se afasta mais dos objetivos da integração regional. Mas nenhum esforço de imaginação pode justificar a tolerância do presidente brasileiro ao crescente protecionismo do maior sócio do País no bloco regional. Mais do que tolerante, ele se mostrou quase disposto a aplaudir a multiplicação de barreiras contra produtos brasileiros, só temperando seu aparente entusiasmo com alguns frouxos comentários sobre a inconveniência do protecionismo em geral. 

"Essas medidas não me preocupam", disse o presidente Lula, pondo na mesma categoria as barreiras argentinas e aquelas adotadas por outros países. Essas medidas, segundo ele, são entendidas "com certa normalidade por conta da crise". Há dois erros muito graves nesses comentários. Em primeiro lugar, qualquer governante com alguma percepção dos fatos internacionais e dos interesses de seu país tem de se preocupar, e de fato se preocupa, ao notar a expansão de barreiras prejudiciais ao sistema produtivo e, portanto, ao emprego dos trabalhadores de seu país. Em segundo lugar, não tem sentido a comparação entre a Argentina e outros parceiros do comércio internacional. A Argentina tem mais que um acordo de livre comércio com o Brasil. Tem todos os compromissos inerentes à participação em uma união aduaneira. Tem, portanto, obrigações bem definidas. Algumas dessas obrigações têm sido relevadas por meio de entendimentos oficiais entre os governos da região, mas há um abismo entre entendimentos e imposições unilaterais. 

O governo brasileiro criticou o norte-americano por aceitar a imposição, pelo Congresso, de regras discriminatórias em financiamentos bancados com recursos de um pacote fiscal. Mas a discriminação a favor de produtos americanos ("buy american") não valerá para os signatários de acordos de compras governamentais. O Brasil não é um dos signatários. Também não tem um acordo de livre comércio com os Estados Unidos. O presidente Lula vangloriou-se, há alguns anos, de haver tirado da pauta a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Pode vangloriar-se, mas não pode protestar contra o descumprimento de compromissos que não foram assumidos. Os Estados Unidos têm com o Brasil as obrigações definidas nos acordos multilaterais, no âmbito da Organização Mundial do Comércio. Contra o descumprimento desses acordos o Brasil pode agir - e tem agido. 

O governo argentino tem violado, no comércio com o Brasil, não só as obrigações multilaterais, mas também aquelas típicas de uma zona de livre comércio. Na prática, o Mercosul tem sido um entrave à liberdade de negociação de seus membros. Mas o governo brasileiro, ao contrário do uruguaio, não parece importar-se com isso, como também não se importa com o protecionismo argentino. Age como se apenas o Brasil tivesse obrigações. Tudo aceita sem reagir, até acusações absurdas. Durante a visita do presidente Lula a Buenos Aires, na semana passada, a presidente Cristina Kirchner voltou a acusar o Brasil de protecionismo por meio da depreciação cambial e do estímulo à indústria. O presidente Lula já ouviu isso duas vezes e nunca reagiu, propiciando a interpretação do silêncio como admissão de culpa.Tampouco reage quando o financiamento do BNDES é equiparado às barreiras ostensivamente ilegais impostas pelo governo argentino. Além de se calar nessas ocasiões, dá um estranho apoio ao governo argentino em seus atritos com o Fundo Monetário Internacional e com a comunidade financeira. Buenos Aires escolheu sua política, tratou o mundo com arrogância ao dar o calote e pagou por isso. Por que o governo brasileiro tem de se envolver nessas questões?

BRASIL S.A

Pautado por 2010


Correio Braziliense - 28/04/2009
 

BC vai definir a nova Selic com um olho no binóculo e outro para a caderneta e o giro da dívida

Não se exclui mais nada do radar da economia e da política capaz de influenciar o resultado das eleições gerais de outubro de 2010 — da descoberta de um tumor no sistema linfático da ministra Dilma Rousseff, virtual candidata do PT à sucessão do presidente Lula, à curva descendente dos juros interbancários. 

Tudo o que se fizer daqui em diante traz esta data como objetivo sensível e é por tal perspectiva que a diretoria do Banco Central, sob a capa do Comitê de Política Monetária (Copom), deverá avaliar a situação da taxa Selic na reunião de amanhã. Juros básicos agem sobre a economia com defasagem de três a seis meses. 

A tendência de agora é de relaxamento monetário, que se acumula ao ativismo fiscal do governo e à expectativa de retorno gradual do crescimento econômico no mundo a partir do fim do ano. Já há sinais de arrefecimento da retração na China, EUA e alguns países da zona do euro e da Ásia, como Coréia do Sul e Índia. No Brasil, consolida-se a análise de que o impacto recessivo da crise global tem sido mais brando do que supunha a quebra do padrão do crédito. 

Os números negativos da produção, emprego e consumo observados no último trimestre de 2008 e estimados para o primeiro de 2009, a se aferir no anúncio do IBGE, em 9 de junho, da variação trimestral do PIB, Produto Interno Bruto, surpreendem pela violência da queda a partir de setembro, mas também pela rapidez da recomposição dos indicadores econômicos desde janeiro. 

Essa combinação de resultados sustentaria a moderação do ritmo de corte da Selic, iniciado em 21 de janeiro, com a redução de 13,75% para 12,75%, seguido do tombo para os atuais 11,25% em 11 de março e mais uma fatiada na reunião do Copom desta quarta. Ela vai cair. O que se discute é a dosagem. O consenso, pelas razões expostas, é pelo corte de um ponto de percentagem, trazendo a taxa para 10,25%. 

Uma minoria defende que o BC repita a decisão de março e derrube logo a Selic para menos de dois dígitos, situação inédita ao juro interbancário no país, definindo-a em 9,75%. A argumentação nesta direção é mais forte que a do grupo dos “cautelosos”, com o qual o presidente do BC, Henrique Meirelles, parece concordar — o que faz da decisão desta quarta-feira altamente subjetiva. 

Eleição dita o ritmo 
O senso de Meirelles sugere preocupações técnicas e políticas. As duas estão relacionadas e convergem para um eventual, embora à luz dos dados de hoje muito improvável, repique da inflação em algum momento anterior às eleições de outubro de 2010. O BC, conforme a lógica do regime de meta de inflação (piso de 2,5%, teto de 6,5% e objetivo central de 4,5%), teria de reiniciar a engorda da Selic. 

A forma de evitar tal constrangimento seria submeter a distensão da Selic a uma dieta moderada desde já. Difícil é justificar tal decisão à falta de pressões inflacionárias visíveis. 

Inflação não ameaça 
O boletim Focus desta semana projeta o IPCA de 2009 em 4,3%, um pouco acima da estimava semanal anterior, 4,23% — e em 4,3% em 2010, contra 4,4% na tomada passada. Para doze meses à frente, a variação anual foi reduzida de 4,18% no Focus anterior para 4,13%. 

Pelo metro do IGP, a régua da inflação segundo a FGV, continua a tendência de deflação dos preços no atacado. “Em resumo”, diz uma análise da consultoria MCM, “o problema da economia segue sendo a falta de crescimento e não o risco inflacionário.” 

O que segura a queda 
No frigir dos ovos, o corte de um ou de 1,5 ponto percentual não é relevante. Importa a trajetória de curto prazo da taxa real, que é função da Selic nominal e da inflação. O ciclo de baixa dos atuais 11,25% para 10,25% na quarta-feira até 8,75% — distribuindo-se os novos cortes pelas cinco reuniões seguintes do Copom no ano, e aí ficando até a mudança de governo em 2011 — é viável se o BC julgar factíveis alguns acertos. 1º, o governo voltar a moderar o gasto público, apesar de tê-lo comprometido com salários em 2009, o que implicou a redução do superávit primário. 2º, apertar o rendimento da caderneta de poupança para não ameaçar os fundos de renda fixa da banca — portanto, a colocação de papéis da dívida pública. 

Juro básico de 8,75% com inflação na meta resulta a taxa real de 4%, insustentável sem mudança do Imposto de Renda sobre títulos do Tesouro Nacional e fim da indexação de parte da dívida à variação da Selic. Nada disso virá no governo Lula. Então, o que fará o BC? 

Problema é político 
Crédito curto, caro e seletivo tem sido um problema recorrente na formação da riqueza nacional desde as reformas monetária e fiscal trazidas pelo Plano Real, herança do período de inflação endêmica das décadas anteriores. O que fazer é sabido. Só que o problema é político, implicando tanto maior disciplina e planejamento eficaz do peso do Estado na sociedade, como o financiamento menos forçado da dívida pública mobiliária. Como está, emitida com prazos longos que na verdade são de 24 horas, a banca a absorve e a distribui ao sistema de fundos por ser rentável e conveniente. Sem tais graças, vai preferir emprestar ao consumo e à produção. Esse é o nó.

BENJAMIN STEINBRUCH

Não estamos no mesmo barco


Folha de S. Paulo - 28/04/2009
 

 


O grande diferencial do barco Brasil que tenta atravessar a tormenta é o mercado interno ampliado e ávido por consumir

AO FALAR sobre a crise, na semana passada, o secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, disse que, embora estejamos em meio à mesma tormenta, não estamos todos no mesmo barco. 
Foi um lúcido comentário. Talvez Geithner tenha se inspirado no FMI (Fundo Monetário Internacional) e em suas tradicionais previsões sobre a economia mundial, divulgadas anualmente em abril. Na quarta-feira passada, o Fundo previu que o PIB global vai ter uma contração de 1,3% em 2009. Mas mostrou que existe enorme disparidade nos resultados esperados para os países, desde uma recessão de 6,5% no Japão e de 5,6% na Alemanha até uma expansão de 6,5% na China e de 4,5% na Índia. 
Para o Brasil, a previsão do FMI é de recessão de 1,3%, índice idêntico ao da média mundial. Mas, se isso serve de consolo, o FMI sistematicamente subestimou, nos últimos anos, a taxa de crescimento brasileiro em seus relatórios de abril. Então, se o país conseguir uma taxa próxima de zero para o PIB, a sensação térmica não será tão ruim, como observou o economista Octavio de Barros. 
Seja como for, devemos levar a sério o comentário de Geithner. O Brasil enfrenta a mesma tormenta que assola o mundo, mas viaja em um barco diferente. As próprias previsões do FMI mostram isso, embora não precisemos delas para enxergar a realidade brasileira. 
O barco brasileiro tem grande chance de navegar com mais segurança. O mercado respondeu bem, até agora, às medidas de estímulo ao consumo. As vendas de veículos no primeiro trimestre e também em abril são um atestado disso. Na linha branca, após a redução de IPI, as vendas aumentaram quase 30%. Há sinais também muito positivos na demanda de habitações populares, estimuladas pelo pacote da habitação.
O governo brasileiro vem tomando medidas corretas para enfrentar a crise, embora muitas vezes no tempo errado. A redução dos juros, por exemplo, foi lamentavelmente tardia e lenta. Ainda agora, em meio à maior crise desde a Grande Depressão dos anos 30, o Banco Central mantém a taxa básica em 11,25% ao ano, quando os juros no mundo inteiro se aproximam de zero. 
Antecipar-se a crises é uma receita básica de quem administra qualquer coisa, seja um boteco de esquina, uma grande empresa ou um país. Por isso, estão corretos os anúncios de investimentos em infraestrutura, construção civil e em setores grandes empregadores de mão de obra, assim como as medidas de desoneração tributária. 
Preservar o mercado interno para manter empregos deve ser uma obsessão. Infelizmente, barreiras para importação são necessárias, por mais criticáveis que sejam as atitudes protecionistas. Estoques monstruosos de produtos industrializados estão boiando pelo mundo neste momento, prontos para desembarcar, a preços de banana, no primeiro porto que encontrarem. Só para citar um exemplo, de um setor que conheço de perto, cerca de 30% dos produtos siderúrgicos comercializados no primeiro trimestre no país foram importados. 
O maior mérito do governo Lula foi inserir na sociedade de consumo cerca de 23 milhões de pessoas. Outros 43 milhões de brasileiros passaram a ser assistidos por programas sociais. Não se pode entregar isso tudo -que equivale a três Espanhas ou seis Portugais- de mão beijada a fornecedores (predadores, em muitos casos) internacionais. O grande diferencial do barco Brasil que tenta atravessar a atual tormenta é o mercado interno ampliado e ávido por consumir.