segunda-feira, abril 06, 2009

PARA...HIHIHI

APITO DE CHAMAR ANJO

Era sábado, dia do banho do Padre Nelson.
A jovem irmã Taísa já havia preparado a água e as toalhas, exatamente do jeito que o velho padre gostava. Irmã Taísa foi também instruída para não olhar para o corpo nu do padre, e fazer apenas o que ele lhe pedisse. E rezasse… Na manhã seguinte, a madre superiora perguntou � irmã Taísa se o banho de sábado havia transcorrido bem.
- Ah, madre - disse irmã Taísa - eu fui salva!
- Salva? Como assim? - perguntou a madre superiora.
- Bom, quando o padre Nelson estava todo ensaboado, pediu para enxaguá-lo. Enquanto eu estava tirando o sabão, ele guiou minha mão para o meio das suas pernas, onde ele disse que Deus guarda as chaves do paraíso. Então, ele disse que se aquela chave coubesse em minha fechadura, os portões do paraíso se abririam para mim e eu teria a salvação e a paz eterna. Nisso, o padre Nelson colocou a chave do paraíso na minha fechadura. Primeiro foi uma dor horrível, mas o padre disse que o caminho da salvação é mesmo doloroso, e que a glória do senhor iria encher o meu coração de êxtase. Assim, eu fui salva!
- Safado!!! - berrou, furiosa, a madre superiora
- Há mais de trinta anos ele me diz que aquilo é apito de chamar anjo…

MARCELO COUTINHO

Um outro recomeço


Jornal do Brasil - 06/04/2009
 

Dez anos de mudanças políticas históricas na América Latina, e o Brasil apenas arranhou superficialmente nesse período suas estruturas arcaicas. A principio, a eleição de Lula indicou um salto no processo de modernização do País. Ao longo do tempo, certa inclusão social levou à enganosa conclusão de que finalmente havíamos entrado em uma rota de desenvolvimento para todos. No entanto, a crise atual não só evidenciou a fragilidade desses avanços sem bases estruturais, como também demonstra o quanto falta ao governo de Lula uma visão consistente, moderna e ampla sobre o Brasil e os desafios de uma conjuntura internacional cada vez mais complexa. Enquanto tudo corria bem na maior onda de prosperidade econômica do mundo globalizado, o despreparo do governo passou despercebido. Suas eventuais virtudes se sobressaiam aos seus vícios crônicos. Agora fica mais claro que o País é governado por um grupo imprevidente, muito aquém das necessidades do povo brasileiro e que não realizou nem 10% do que poderia, dado o contexto amplamente favorável.

Mais preocupado em se manter no poder, o lulismo não sabe e, na verdade, tem pouco interesse em dar continuidade ao projeto de desenvolvimento nacional. Se um dia representou a modernidade, hoje mais parece com o atraso. Se antes as frases de efeito e metáforas do presente Lula soavam engraçadas ou mesmo oportunas, com a crise elas passaram a ser uma mistura de deboche, alucinação e mediocridade. Uma vez que a situação mudou drasticamente e que não dá mais para viver apenas da inércia e da abundância externa, a impressão é que o governo não sabe o que fazer com o potencial e as vantagens de sermos um dos mais importantes emergentes do planeta, em um horizonte de reestruturação do capitalismo mundial.

O Brasil teve não apenas sua modernização tardia, como agora o atraso ocupou de assalto alguns setores antes considerados progressistas. Além da economia, a política também enfrenta momentos lamentáveis de retrocesso. O governo Lula se acomodou tanto com o estado de coisas tradicionais da vida pública que acabou se confundindo com ele. Basta fechar os olhos, relembrando toda a esperança e magia de 2002, para novamente abri-los e entrar em choque com o que se transformou o "governo dos sonhos" sete anos depois. O PT retira do armário discursos mofados, convenientemente esquecidos, querendo agora mobilizar sua militância e a sociedade brasileira contra o risco que representaria a volta da "direita" ao poder. Porém, na prática, Lula e seus companheiros se parecem mais com o que eles mesmos definem como sendo "tucano" do que o próprio Serra, mais provável e popular candidato da oposição.

Lula empenha todo seu capital político somente no desejo de voltar em 2014 à Presidência da República. Dessa forma, sua estratégia de poder é neste momento o maior obstáculo às transformações estruturais que o País precisa e que a sociedade tanto espera desde a redemocratização. Nesse sentido, Lula é o anti-Getúlio, o anti-JK, o anti-Tancredo, o anti-estadista. Seu lema é "cinco anos em cinqüenta". Sem a força verdadeira da mudança, Lula quer voltar ao poder apenas por vaidade e ambição pessoal. Seu egoísmo político, se combinado a uma grande popularidade construída em cantos da sereia, constitui uma séria ameaça ao desenvolvimento do Brasil. Infelizmente, as ambições de Lula e do PT entraram em forte contradição com os interesses nacionais, isto é, com as chances de nos consolidarmos como nação próspera e democrática. O País precisa seguir seu caminho, avançando sem os entraves psicológicos do lulismo.

O início do fim da era Lula oferece a oportunidade de nos prepararmos para o período pós-crise. Quase duas décadas de estabilidade política e econômica permitirão avançarmos com ousadia em um mundo que será ainda mais competitivo e já requer do Brasil um papel de maior responsabilidade internacional. Mas precisaremos ter a coragem de fazer a renovação, pois o desperdício de tempo não pode vencer novamente a esperança. Lula e o PT já tiveram sua chance extraordinária nesta década. Realizaram muito pouco, e não têm monopólio hereditário sobre a agenda progressista. Outras forças devem, portanto, tomar para si as rédeas do processo político, construindo uma nova maioria; uma nova direção que se alimente das expectativas de mudança social, represadas pelo conservadorismo do atual governo, que ficará marcado por discursos tão eloqüentes quanto dissimulados. O Brasil é um país para estar na vanguarda, sem medo de fantasmas, sem preconceitos e sempre disposto a um outro recomeço.

INFORME JB

 Michel Temer, o todo-poderoso

Leandro Mazzini

JORNAL DO BRASIL - 06/04/09

Comandante máximo do maior partido brasileiro, embora licenciado da presidência, e chefe da Câmara dos Deputados – por onde transitam donos de votos de todos os rincões e projetos importantes que mudam o rumo de um governo – o deputado federal Michel Temer começou discretamente sua campanha para ser o vice na chapa presidencial de Dilma Rousseff (PT) ao Planalto. Incumbiu líderes de seu grupo, principalmente os deputados Henrique Eduardo (RN) e Eduardo Cunha (RJ), de puxarem o clamor pela vez de o PMDB ser o coadjuvante com poder de dar rumo à campanha. Michel, já avalia o PT palaciano, é o único que pode agregar todo o fragmentado partido, para que boa parte não caia nas mãos de José Serra (PSDB). Michel vai a Juazeiro do Norte (CE) comemorar uma nova adesão ao partido. E posar de homem de fé na terra da romaria.

Porta-voz Obstáculo

A campanha pró-Temer ficou escancarada. O líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves, declarou em Natal que o partido não tem mais dúvidas quanto ao melhor nome para vice de Dilma. "Não há nome melhor do que Michel Temer".

O maior adversário de Temer é o próprio PMDB. Na Bahia, terceiro maior colégio eleitoral do país, o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, também aparece cotado para vice.

Troca-troca

Michel Temer assina a filiação hoje no PMDB do Ceará de um político famoso na região de Juazeiro, que deixou o PSDB. É Raimundo Macedo, o Raimundão Gente Fina, candidato a deputado federal em 2010.

Troca-troca 2

José Serra, que não é nada bobo, não chamou para perto dele à toa o ex-governador Geraldo Alckmin. O ex-desafeto é o único nome do PSDB com força para sucedê-lo no Palácio Bandeirantes. Chegou a Temer a notícia de que Serra não vai brigar com as pesquisas para manter no páreo Aloísio Nunes Ferreira, que anda em baixa.

Então tá

O que isso significa? Alckmin é adversário e quase inimigo de Orestes Quércia, o homem que manda no PMDB de São Paulo, e que pode sair ao Senado. No caso de Alckmin se candidatar à sucessão de Serra, Temer estará livre para apoiar Dilma Rousseff.

Rescaldos

Ano passado, antes da campanha municipal, Alckmin foi a Quércia duas vezes pedir apoio e deu com a porta na cara. O peemedebista usou dos piores adjetivos. O tucano espera a hora da vingança.

Ficar ou não ficar?

O consultor jurídico do Ministério da Justiça Rafael Favetti pensa em deixar o cargo e voltar para a advocacia. Suas ligações permanecem estreitas com o ex-ministro do STF Sepúlveda Pertence, que agora mantém um concorrido escritório de advocacia em Brasília. Sua dúvida é se aguarda a desincompatibilização do ministro Tarso Genro, que sairá candidato em 2010 ao governo do Rio Grande do Sul.

Usina do Darcy

O presidente Lula participa hoje da cerimônia de inauguração da terceira usina de biodiesel da Petrobras, em Montes Claros (MG), batizada como Usina de Biodiesel Darcy Ribeiro.

NAS ENTRELINHAS


E o physique du rôle?


Correio Braziliense - 06/04/2009
 

O PT descia o sarrafo nos bancos e hoje anda de mãozinha dada com o cartel. Com tucanos e democratas seria diferente?

Um efeito palpável da crise é a revogação de vetos, a queda de barreiras que impediam o debate de certos assuntos. Um tema que deixou o índex é o spread bancário, a diferença entre o juro que se cobra de quem pega emprestado e o juro pago ao poupador. O spread brasileiro é de longe o campeão mundial da usura. Mas nunca tinha entrado para valer na pauta da opinião pública. Habituamo-nos a achar um escândalo o deputadozinho embolsar alguns trocados com falcatruas na verba indenizatória. E é mesmo. Já o banco cobrar, sei lá, 10% ao mês no cheque especial por um dinheiro que lhe custa 1% sempre nos pareceu normal. Coisas do Brasil. 

Mas nada resiste aos fatos. Após um longo torpor, a megacrise mundial das finanças empurrou o tema dos juros para o primeiro ponto da agenda nacional. O crédito secou e ficou ainda mais caro. O crescimento brasileiro na Era Lula deve-se em boa medida ao crédito abundante. Com mais crédito, o governo criou a demanda e os empresários saíram atrás dos clientes. Empresários munidos daquele “espírito animal” de que costuma falar o ex-ministro Delfim Netto. Mas o fenômeno tem duas mãos. Se as torneiras do crédito estão secas e a confiança do consumidor anda em baixa, é natural que os empresários se retraiam e deem prioridade ao caixa, em vez do market share. 

O debate sobre os juros não é fácil de ser travado. Há todo um aparato ideológico a repetir incansavelmente que o alto spread nacional se deve à inadimplência. Ou seja, os bons pagadores pagam pelos maus. Isso é martelado como verdade absoluta. Falta porém a comprovação científica. Será que somos o povo mais caloteiro do mundo? Que números provam isso? A academia, aliás, começa a ir na contramão da tese. Um estudioso do assunto, o economista e professor da USP Márcio Nakane, após analisar tecnicamente as possíveis relações de causalidade entre spread e inadimplência no Brasil, descobriu que não se pode culpar a inadimplência passada pelo spread. Mas, vejam só!, o professor concluiu também que é possível dizer o inverso: que o spread é causa de inadimplência. 

Mesmo sem ter estudado economia, qualquer cidadão sabe disso. Entrou para valer no cheque especial? Peça a Deus por sua alma. Ou então prepare-se para a quebra. Enrolou-se no empréstimo consignado? Reze, mas reze muito por um milagre. Aliás, o consignado é um exemplo das contradições da política de Lula. É bom que a modalidade tenha se expandido? É ótimo. Mas por que cobrar um spread de, digamos, 20 pontos percentuais num empréstimo praticamente sem risco? Ainda mais se o tomador é um funcionário público? 

Infelizmente, parece faltar ao governo a vontade necessária para atacar o problema de frente. E isso quando temos em palácio gente que passou a vida dizendo que se chegasse ao poder daria um jeito nos bancos. Aliás, é hora de o PT abrir o olho. Num sistema como o nosso, com mandatos de oito anos na prática (com um plebiscito no meio), o nome que representa a tentativa de um terceiro período consecutivo para o mesmo grupo político precisa responder a uma pergunta simples mas potencialmente letal. Se diz que vai fazer tal e qual coisa, por que então não fez nos oito anos em que ocupou a cadeira? O povo é sábio. 

Sempre há porém um jeitinho de construir o discurso para explicar os porquês. O PT pode dizer que o juro alto é herança estrutural, e que lamentavelmente não foi dado ao partido poder suficiente para mexer nesse vespeiro. A solução? Mais quatro anos para o PT. E com mais musculatura. Seria engenhoso. Transformar a fraqueza em força. Resta saber se colaria. Mas o PT tem outra carta na manga. O eleitor olha para a oposição e não vê nela o physique du rôle, para usar a expressão dos franceses quando querem designar alguém adaptado ao papel que desempenha. O PT descia o sarrafo nos bancos e hoje anda de mãozinha dada com o cartel. Com tucanos e democratas seria diferente?

PAINEL


A raposa e as uvas

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 06/04/09

O processo para investigar o ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia, que não declarou à Receita Federal uma casa avaliada em R$ 5 milhões, acaba de ganhar novo relator no Tribunal de Contas da União. Trata-se de ninguém menos que Raimundo Carreiro, também ex-secretário-geral do Senado, que trabalhou com Agaciel por mais de uma década. Mais: a mulher de Carreiro esteve subordinada a Agaciel até o STF editar a súmula antinepotismo. Por sua vez, a mulher de Agaciel foi chefe-de-gabinete de Carreiro. 
A substituição ocorreu no dia 24 passado, depois de o processo permanecer 22 dias no gabinete de Aroldo Cedraz, inicialmente designado para examinar o caso.

Gasparzinho - Um dos passatempos dos funcionários do Senado tem sido observar os ‘fantasmas’ que agora aparecem para bater cartão, com caras para lá de contrariadas.

Escoadouro - O caso Agaciel não será o único referente ao Senado a desaguar na mesa de Raimundo Carreiro. Os ministros do TCU têm uma lista de unidades jurisdicionadas. Ou seja: todos os casos referentes a certos órgãos são destinados à mesma pessoa. Carreiro cuida do Senado.

Ponto final - A primeira análise dos técnicos aponta para a conclusão de que Agaciel tinha dinheiro para comprar a casa. Como o Senado fez só esta pergunta ao TCU, a tendência é arquivar o caso.

No forno - Discute-se em gabinetes da Câmara um projeto de resolução para reverter as perdas de mandato de Roberto Jefferson (PTB-RJ), José Dirceu (PT-SP) e Pedro Corrêa (PP-PE), todas ocorridas na esteira do mensalão. Se a ideia prosperar, precisará de maioria simples para ser aprovada -menos do que os votos necessários para cassar.

Pensando bem - Segundo petistas da corrente comandada por Tarso Genro, o ministro da Justiça teria desistido de disputar o governo gaúcho. Embora bem posto nas pesquisas, estaria convencido de que, pela correlação de forças no Estado, o segundo turno é certo, e a chance de vitória, pequena. Tudo somado, voltou a sonhar com o STF.

Em série - Além de reivindicar compensação para a queda nos repasses do FPM, a Confederação Nacional dos Municípios protesta contra o plano habitacional recém-anunciado pelo governo. Argumenta que os pré-requisitos excluem do pacote 4.737 cidades com menos de 100 mil habitantes. A CNM avalia que isso provocará forte efeito migratório no interior do país.

Em alta - Negociador do Brasil na reunião do G20, o secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Marcos Galvão, arrancou elogios da imprensa internacional e do próprio Lula por seu desempenho em Londres. O diplomata foi objeto de perfis nas publicações econômicas ‘Les Echos’ e ‘Il Sole’. Num dos paineis, Guido Mantega cedeu lugar ao assessor, que acompanhou o presidente para fechar acordos.

Trincheira 1 - Encerrado o julgamento da reserva Raposa/ Serra do Sol no Supremo Tribunal Federal, associações de produtores rurais de Mato Grosso e de Rondônia se uniram para elaborar cartilha sobre demarcação de terras indígenas. A publicação, de sete páginas, intitula-se ‘Sugestão de Conduta para Acompanhar Vistoria da Funai’.

Trincheira 2 - Segundo a cartilha, os fazendeiros devem exigir que os fiscais apresentem ordem judicial antes de realizarem a vistoria. ‘O proprietário deverá estar munido pelo menos de uma máquina fotográfica para registrar as pessoas presentes e imediatamente entrar em contato com seu sindicato rural, chamando força-tarefa para se fazer presente na área como testemunha das ações’, ensina o texto ruralista.

Tiroteio

A gestão Kassab sofre de amnésia. Prometeu R$ 1bi para o metrô e só entregou R$ 270 mi. Criticou os túneis da prefeita Marta, e agora anuncia que vai fazer quatro de uma vez. 
Do deputado federal CARLOS ZARATTINI (PT-SP), comparando o discurso de campanha com notícias recentes sobre a prefeitura paulistana.

Poucos amigos

Mais de duas décadas atrás, quando da criação do PT, Olívio Dutra foi convidado pelo conterrâneo Tarso Genro para uma reunião em que estariam presentes diversos intelectuais, entre eles Fernando Henrique Cardoso. Dutra, à época um cabeludo sindicalista, conta num livro de memórias da militância petista, escrito por Marieta de Moraes Ferreira e Alexandre Fortes, que ficou calado num canto, de cara fechada, durante todo o encontro. 
Meses depois, FHC encontrou Lula e fez uma ‘resenha crítica’ do companheiro gaúcho: 
-Esse teu amigo lá de Porto Alegre é no mínimo do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário...

RUY CASTRO


Legado de Woodstock

FOLHA DE SÃO PAULO - 06/04/09

RIO DE JANEIRO - A garota foi escovar os dentes e deparou com o bichinho estranho, escuro, de perninhas, pouco maior que uma pulga, contra a louça branca da pia do banheiro. Nunca vira aquele inseto antes. Ficou curiosa e chamou a mãe para espiar. Esta ajeitou os óculos, e o que viu a deixou com os cabelos -textualmente- em pé.
"Um piolho!", exclamou. Ponha três pontos de exclamação.
O estupor da mãe era compreensível. A última vez que vira um piolho ao vivo fora no Carnaval de 1938. E agora estávamos em 1970. Segundo estatísticas que os governos não se cansavam de alardear, e as pessoas sabiam ser verdadeiras, o piolho estava erradicado do Brasil havia mais de 30 anos.
O responsável pelo invasor não pagava dez. Era o filho mais velho -20 anos, fã de Janis Joplin, barba e gafurinha nazarenas que passavam dias a léguas do chuveiro e que andava pelo Leblon vestindo ponchos e cobertores estilo Woodstock, mesmo sob 39 graus.
Woodstock ou não, a mãe não perdoou. Levou o filho para a área de serviço e aplicou-lhe detefon suficiente para fazer uma nuvem de fumaça -podiam-se ver os piolhos em desespero, agonizantes. Em seguida, cobriu-lhe o cabelo com uma touca de plástico, para exterminar os recalcitrantes. Horas depois, enfiou o garoto no chuveiro, despejou-lhe dois ou três frascos de xampu nas melenas e quase arrancou-lhe o couro cabeludo com um coça-costas de camelô. Em seguida, um pente-fino encarregou-se do mar de lêndeas que infestavam sua nuca. A primeira fase da operação estava completa. Nos dias seguintes haveria outras.
Em agosto, o mundo comemorará os 40 anos do festival de Woodstock. Outros acharão mais pertinente mencionar os 40 anos da volta de uma praga que já se julgava extinta, e que, como qualquer mãe sabe, voltou para ficar. Haja detefon.

FERNANDO RODRIGUES


Patrimonialismo

FOLHA DE SÃO PAULO - 06/04/09

BRASÍLIA - Chama-se patrimonialismo o fenômeno em curso a céu aberto na Câmara e no Senado. É o fim das barreiras, já frágeis, entre o público e o privado.
Três casos são mais visíveis. O do deputado do castelo, que usou dinheiro público para pagar serviços em suas próprias empresas. Depois teve aquele cuja empregada doméstica recebia salário da Câmara como secretária parlamentar. Por último, o episódio dos "loucos por jatinhos" -os senadores que bateram no peito, com testosterona à flor da pele, bradando para o mundo que não há nada de mais em alugar regularmente esses aviões com o dinheiro de impostos.
Essa desconexão patológica do Congresso com o mundo real chegou ao paroxismo. Os políticos reclamam. Acham o noticiário às vezes parecido com um diário oficial da antiga UDN, clamando por decência. Não há muita saída para jornais e telejornais -exceto os amigos de sempre do poder- a não ser continuar a relatar esse fatos.
Outro dia, na Câmara, Ciro Gomes quis me passar um pito. Ralhou comigo por causa de meu desinteresse pela votação em plenário. Mas como haver interesse por leis cuja tramitação ainda levará dias ou meses quando na mesma semana um amigo de Ciro, o senador Tasso Jereissati, proclama haver justiça no uso de quase meio milhão de reais para fretar jatinhos?
A competição entre a produção legislativa (quase sempre medíocre) e os sucessivos escândalos é desleal. O espírito de corpo dos congressistas também não ajuda. É raro ver um clube tão unido como esse, sobretudo nas más horas.
No meio de uma sessão de descarrego a favor de Tasso, o presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, lembrou o fato de que seu colega cearense é rico. E disse: "O senhor paga para ser senador". OK. Mas quem paga para Tasso fretar jatinhos é o contribuinte brasileiro.

SEGUNDA NOS JORNAIS

Globo: Coreia do Norte desafia o mundo ao lançar foguete

 

Folha: Foguete da Coreia do Norte divide ONU

 

Estadão: ONU evita punição à Coreia do Norte

 

JB: Foguete coreano põe ONU em alerta

 

Correio: 170 mil aprovados na fila para o serviço público

 

Valor: Múltis se preparam para a megalicitação do trem-bala

 

Gazeta Mercantil: Executivos recorrem à Justiça do Trabalho

 

Estado de Minas: Betim usou ONGs para desviar verbas

TERREMOTO NA ITÁLIA

06/04/2009 - 05h30

Terremoto na Itália deixa ao menos 27 mortos; Berlusconi declara estado de emergência



da Folha Online

Um terremoto de 6,3 graus na escala Richter atingiu a Itália na madrugada deste domingo, deixando ao menos 27 mortos --entre eles cinco crianças--, 30 desaparecidos e centenas de feridos.

Alessandro Bianchi/Reuters
Pessoas desabrigadas andam pelas ruas de l'Aquila
Pessoas desabrigadas andam pelas ruas de l'Aquila

O primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, declarou estado de emergência no país. Ele cancelou viagem que faria a Moscou e se dirige a l'Aquila. Além do primeiro-ministro, membros da Defesa Civil de toda a Itália se dirigem a Abruzzo para prestar socorro aos atingidos pelo terremoto. Um pelotão do Exército também se dirige ao local do terremoto --procedimento possível graças à declaração do estado de emergência.

Segundo a Defesa Civil, mais de cem mil pessoas pessoas estão desabrigadas. Centenas de edifícios da montanhosa região italiana de Abruzzo, no centro-leste da península, ficaram total ou parcialmente destruídos.

Nas ruas de l'Aquila, centenas de pessoas --algumas ainda de pijama-- estão pelas ruas, acampando em praças e parques. Segundo o jornal italiano "La Repubblica", em alguns lugares há cadáveres que ainda não foram removidos, cobertos apenas por um lençol.

De acordo com o chefe da Defesa Civil italiana, Guido Bertolaso, a situação é "dramática".

Muitas casas e prédios ficaram destruídos no centro de l'Aquilla, entre eles edifícios históricos. Vários prédios foram evacuados.

Um edifício de três andares que serve como residência para estudantes na capital da Província ficou parcialmente destruído e há estudantes desaparecidos. As autoridades escavam os escombros do prédio à procura de sobreviventes.

A estrada que liga Roma à l'Aquila está interditada.

Alessandro Bianchi/Reuters
Bombeiros buscam sobreviventes em escombros de casa
Bombeiros buscam sobreviventes em escombros de casa

Superlotado, o hospital de l'Aquila não consegue atender a todas as pessoas que buscam assistência médica. Uma multidão se aglomera na porta do estabelecimento. O hospital está sem água e começam a faltar suprimentos médicos. Foi este hospital que confirmou a morte de quatro crianças na cidade --elas chegaram a ser socorridas mas não resistiram.

A intensidade de 6,3 graus na escala Richter foi atribuída pelo Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês), que informou ainda que o epicentro do terremoto foi a 85 km a nordeste de Roma, 10 km abaixo da superfície terrestre. Inicialmente, o instituto americano afirmou que o terremoto havia sido de 6,7 graus, mas em seguida, baixou a classificação para 6,3. De acordo com a agência de notícias italiana Ansa e a rede de TV Rai News, que não citam fontes, a intensidade foi de 5,8 graus na escala Richter.

Moradores de Roma, cidade que raramente é atingida por atividade sísmica, foram acordados pelo terremoto. Móveis tremeram e alarmes de carros dispararam na capital italiana.

O terremoto de 6,3 graus foi precedido por vários outros pequenos tremores.