ELIANE CANTANHÊDE

Como em Gaza, mas resistindo


Folha de S. Paulo - 16/01/2009
 

A guerrinha PT versus PSDB corre solta, mas onde ela é mais escancarada é na política externa, onde ex-chanceleres e embaixadores tucanos arrancam as penas criticando o atual ministro, Celso Amorim -que nunca teve nada de petista, diga-se de passagem, mas é acusado de transformar o Itamaraty numa espécie de bunker dos resquícios esquerdistas do PT.
Luiz Felipe Lampreia já tinha dito que as gestões de Amorim no Oriente Médio "beiravam o ridículo". Celso Lafer acrescentou que são "uma forçação de barra que não faz nenhum sentido". Estava faltando o ex-embaixador em Londres e em Washington Rubens Barbosa.
Não falta mais.
Ao saber que Amorim iria visitar Síria, Israel e cia. -de onde voltou na madrugada de ontem-, Barbosa ironizou na base do "agora vai": "Fiquei animado, porque até aqui nem o Sarkozy, nem o presidente da União Europeia, nem a ONU tinham conseguido demover Israel e os palestinos".
Para Barbosa, as ações e declarações do PT e do governo, e não só de Amorim, são o que vem chamando de "ideologização e partidarização da política externa". E provoca: "Só falta agora, para complementar os esforços da política externa, a ação do MST em manifestações pró-Hamas... (a exemplo do que dizem que vão fazer no Paraguai)".
Ao se desabalar para a região em guerra, Amorim fez apenas uma coisa, na opinião de Barbosa: "Cumpriu sua parte na política externa do PT". E lá vem mais ironia: "O Brasil do PT não consegue neutralidade e liderança nem para resolver a questão das "papeleras" entre Argentina e Uruguai...".
Coitado do Amorim, que parece a faixa de Gaza de tão cercado por todos os lados: atacado pelos inimigos e sujeito ao fogo amigo do PT e do próprio governo -um agride Israel com referências ao nazismo, o outro, numa canetada, concede asilo a condenado italiano exigido pelo governo Berlusconi. Tarso Genro cria a crise, o Itamaraty que se vire.

COLUNA PAINEL

Ideologia italiana


Folha de S. Paulo - 16/01/2009
 

Acusado pelo governo da Itália de ter apelado ao ideário de esquerda na negativa à extradição de Cesare Battisti, o Brasil ressalta em relatório de 56 páginas encaminhado ao Senado, em novembro, "que os dados evidenciam com clareza o fortalecimento da ideologia de direita junto à sociedade italiana".
O documento, assinado pelo Ministério das Relações Exteriores, traça um panorama político e econômico da Itália e diz que o discurso de direita busca hoje todo o país, o que se evidenciaria pela votação que elegeu em abril Silvio Berlusconi. O texto embasa a indicação do ex-ministro José Viegas para a embaixada brasileira em Roma, ainda pendente de votação.

Meio a meio
Na sua última reunião, em dezembro, a Executiva Nacional do PT discutiu brevemente o caso do italiano Cesare Battisti, mas evitou tirar uma posição. Os membros se dividiram entre os favoráveis ao asilo político e os que argumentaram que não tinham opinião formada. Parte do PT avalia que não é assunto no qual o partido deva se intrometer. 

A favorita
O ministro Marcio Fortes (Cidades) foi escalado para ser estrela do aniversário de 176 anos de Nova Iguaçu (RJ), inaugurando obras do PAC destinadas a urbanização de favelas, cujo investimento da União é de R$ 326 milhões. Em 2008, só a pasta das Cidades desembolsou R$ 29,6 milhões para obras no município de Lindberg Farias (PT). 

Terceiro turno
Neoaliados em Salvador, ACM Neto (DEM) e Geddel Vieira Lima (PMDB) travam uma disputa para controlar a Câmara Municipal. Os "demos" querem emplacar Paulo Magalhães Jr. na presidência da Casa em troca de apoio a Geddel para indicar a chefia da União dos Municípios da Bahia. O PMDB do ministro, entretanto, quer as duas cadeiras. 

Warm-up
A tradicional lavagem do Bonfim, ontem, foi marcada pela corrida para ver quem chegava primeiro entre as comitivas do governador Jaques Wagner (PT) e a dos "demos" ACM Neto e José Carlos Aleluia, deputados, e Paulo Souto, ex-governador.

Acelerador
A pedido do Palácio do Planalto, o Ministério da Previdência corre contra o tempo para antecipar de março para fevereiro a concessão em 30 minutos do salário-maternidade e da aposentadoria por tempo de contribuição -hoje o benefício em meia hora é possível para a aposentadoria por idade. 

Palanque
A antecipação daria a Lula a oportunidade de anunciar as medidas em em São Paulo, no dia 27, quando haverá comemoração dos 86 anos da Previdência Social. 

Boquinha
Um dos personagens centrais do escândalo do Detran gaúcho, Cezar Busatto (PPS) ganhou emprego no primeiro escalão da Prefeitura de Canoas, comandada por Jairo Jorge (PT), afilhado do ministro Tarso Genro. O PT divulgou nota atacando Busatto, que integrava a equipe da tucana Yeda Crusius. 

Infiéis
Pesquisa elaborada pelo Cepam (Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal), ligado à Secretaria de Planejamento do governo paulista, aponta que 69,3% dos prefeitos eleitos no Estado disseram já ter migrado de partido. 

Bolsa
Saiu ontem no "Diário Oficial" nova fornada de anistiados políticos do regime militar. Entre os 52 agraciados, está o ex-prefeito de Porto Alegre Raul Pont (PT), que receberá R$ 267 mil, mais pensão mensal de R$ 2.000. 

Visita à Folha
Solange Paiva Vieira, diretora-presidente da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil), visitou ontem a Folha. Estava acompanhada de Paulo Henrique de Noronha, chefe de Comunicação Social.

Tiroteio

"O senador Mario Couto não vê as obras porque prefere os ambientes chiques de Brasília à periferia de Belém"


Da governadora 
ANA JÚLIA CAREPA (PT-PA), em resposta às críticas do senador Mario Couto (PSDB), para quem, apesar do repasse de verbas da União, "não há obras de infraestrutura" executadas pelo governo paraense para abrigar o Fórum Social Mundial.

Contraponto

Replay

Momentos antes de começar anteontem uma entrevista ao locutor Luciano do Valle, da Band, o presidente Lula apontou para a funcionária da Presidência Sandra Dorman, que trabalha na área administrativa do Palácio do Planalto e ajudava nos preparativos para a gravação.
-Luciano, ela é tia do Kaká!-, disse, sobre o jogador da seleção brasileira.
O locutor espantou-se e perguntou se era verdade. O presidente respondeu que sim:
-Inclusive várias daquelas coisas incríveis que você vê o Kaká fazendo com a bola, na TV, fui eu que mostrei para a Sandra, que depois explicou para ele...

DORA KRAMER

Na presença da adversidade


O Estado de S. Paulo - 16/01/2009
 

Dora Kramer, dora.kramer@grupoestado.com.br

Enquanto o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, com seu linguajar pitoresco e raciocínio manhoso, estiver na linha de frente da “defesa do trabalhador” e do ataque aos “patrões”, a cena fica entendida como simples performance sindicaliza.

Ruim, mas sem maior consequência. Demagógica, oca, mas em conformidade com o perfil do personagem escalado, na condição de presidente do PDT, para representar o partido na coalizão de apoio ao presidente Luiz Inácio da Silva.

Partido fundado por Leonel Brizola, o PDT é também a legenda de origem do senador Cristovam Buarque, que retornou a ela depois de anos no PT, de onde saiu por divergência de procedimentos e depois de uma passagem pelo Ministério da Educação.

O que faz Cristovam Buarque nessa história que começa com as bravatas de Carlos Lupi e logo concluirá pela inadequação de o presidente da República abrir espaço ao sindicalista nele mais ou menos adormecido?

Nos idos dos 90, ainda governador petista do Distrito Federal, Cristovam era das poucas vozes do PT a alertar para a necessidade de o partido abandonar a lógica da reivindicação, deixar de lado a defesa corporativista impressa em seu DNA sindicalista e abraçar causas que dissessem respeito à sociedade inteira.

Só dessa forma, argumentava Cristovam, o partido poderia se preparar para um dia realmente disputar a sério o poder e, no caso de vitória, administrar o País com todos os seus desafios.

Enquanto olhasse apenas para a “mesa de negociações” entre patrões e empregados onde Lula forjara suas habilidades políticas, seria parte sem a indispensável noção do todo.

Carlos Lupi, presidente licenciado do PDT, não ouviria as ponderações do filiado. A prepotência adquirida no cargo não lhe permitiria enxergar que não é ministro dos sindicatos.

É ministro do País que não precisa de ameaças vãs de punição ao setor produtivo, mas daquela visão ampla que desde há muito prega o hoje senador Cristovam Buarque, para enfrentar a crise, encarar as agruras da impossibilidade de atender a todos os interesses quando o cobertor encurta e a situação requer espírito público. No sentido coletivo do termo. 

Querer e poder

No caso das disputas dentro do Congresso, as querências dos presidentes da República não necessariamente correspondem às poderências.

Lula “tranquilizou” Michel Temer dizendo que o melhor cenário para ele é o PMDB na presidência da Câmara e o PT, com Tião Viana, na do Senado.

Nessa altura do segundo mandato de Fernando Henrique ele também tranquilizava sua base dizendo que o quadro mais confortável para o Planalto seria Jader Barbalho na presidência do Senado e Inocêncio Oliveira na da Câmara.

Jader foi eleito, renunciou em meio a denúncias. Inocêncio foi abalroado pela candidatura (vitoriosa) do tucano Aécio Neves.

A partir daí, as relações entre os três principais partidos da aliança - PSDB, PFL e PMDB - nunca mais foram as mesmas, com consequência direta sobre a eleição presidencial de 2002. 

Mal comparado

O ministro da Justiça, Tarso Genro, não enxerga por que não quer a diferença entre asilos políticos concedidos pelo Brasil a chefes de Estado apeados do poder e a recusa de extradição ao italiano Cesare Battisti.

Battisti foi condenado por homicídio pela Justiça de um País cujas instituições funcionam à normalidade. O ministro tem a prerrogativa de tomar a decisão que tomou, mas não dispõe de salvo-conduto para distorcer os fatos sem contestação.

Os atletas cubanos entregues a Havana quando tentaram refúgio no Brasil logo após os jogos panamericanos para atender ao governo de Cuba também foram, ao inverso, objeto dessa adaptação autocrática da realidade à posição ideológica de determinado grupo.

Naquele caso a conta foi paga pelos atletas, banidos do esporte, pois o Estado atendido deu-se por satisfeito e a reação no Brasil diluiu-se na geleia da benevolência geral para com a ditadura de Fidel Castro.

Nesse episódio de Battisti, ao se imiscuir em decisão do Judiciário italiano, o Brasil pode ter contratado um grave atrito diplomático sem dispor da estatura política e da sustentação legal suficientes para enfrentar. 

Tratou uma ditadura como democracia, agora atuou no modo vice-versa e terá necessariamente de se valer do nem sempre prestigiado Itamaraty para desatar o poderoso nó.

Os pedidos de recuo, feitos diretamente ao presidente Lula, tendem a ser inúteis, pois Tarso Genro submeteu a decisão a ele antes de divulgá-la certamente garantindo que não haveria obstáculos. Ou Lula teria medido as consequências.

É um bom exemplo de como nem sempre é bom o governante agir na confiança da avaliação alheia e formar juízo a partir do próprio discernimento. Obtido mediante o conhecimento dos fatos por meio, entre outros meios, da leitura dos dados em jogo.

SEXTA NOS JORNAIS


Globo: Israel faz 110 ataques e atinge ONU, jornalistas e um hospital

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Correio: Como é caro manter os filhos na escola

Valor: Citi é pressionado a vender ativos e encolhe no Brasil

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Estado de Minas: A BH que abre vagas, investe e desafia a crise

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