sexta-feira, novembro 07, 2008

DORA KRAMER

Mestre-sala porta a bandeira
O Estado de S. Paulo - 07/11/2008
O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, assustou um bocado de gente em sua última passagem por Brasília. Reuniu-se com a bancada de deputados federais do partido e, na saída, não fez por menos: "Será perverso para o Brasil (agüentar) mais quatro anos disso que está aí".
A saber: "Um governo extremamente perdulário"'', que empurrou "a ética para debaixo do tapete" e cujo presidente não tem condições políticas de manter unida a tropa de aliados na eleição de 2010 nem dispõe de dons eleitorais suficientes para "ungir alguém à cadeira presidencial".
Isso dito na quarta-feira, porque já há algumas semanas o governador vem mostrando os dentes. Entre o primeiro e o segundo turno das eleições municipais ele já defendia a caça aos aliados de Lula, apontava defeitos na conduta do presidente nos seis anos passados - "não arbitra nada, por isso não fez as reformas" - e afirmava que o PSDB poderia se apresentar como um contraponto de eficácia, principalmente "para gerenciar os efeitos da crise mundial".
Terminado o pleito, veio a público defender duas vezes - uma delas ao lado de José Serra - a realização de prévias para a definição do candidato ainda em 2009, a fim de não se repetir o desgaste da escolha de 2006.
Proposital ou involuntário, o uso da expressão "isso que está aí" - o bordão contra tudo e contra todos, consagrado pelo PT oposicionista - na denúncia da "perversidade" de um novo mandato petista não deixa de ser significativo como marco da atuação mais nítida do PSDB na oposição ao governo Luiz Inácio da Silva.
E por que Aécio Neves, o patrocinador da aliança entre os dois partidos que acabou de eleger o prefeito de Belo Horizonte, no papel de portador da voz e da bandeira dos tucanos para a batalha da sucessão presidencial?
Uma rápida consulta ao breviário dos ritos internos do PSDB sugere que justamente por ser conhecido como o mais ameno entre os moderados do partido, o governador de Minas tem o perfil ideal à ocasião.
Do ponto de vista externo sua posição gera impacto e, sob a ótica interna, lhe garante o espaço de pré-candidato à Presidência, evitando ficar numa posição subalterna em relação ao governador de São Paulo, José Serra, hoje em vantagem nas pesquisas, na percepção do mundo político e na estrutura do partido.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso trabalha para junto com a cúpula do tucanato, o comando do DEM, a direção do PPS e os agregados do PMDB em favor de uma chapa puro-sangue com Serra na cabeça e Aécio na vice.
Por isso mesmo, a todos eles interessa acima de tudo que Aécio Neves ocupe lugar de primeira grandeza. Com direito a rechaçar a proposta da chapa São Paulo-Minas até que o cenário se defina por aí ou tome outro rumo.
Quanto mais candidatos competitivos a oposição puder apresentar ao público, mais expectativa de poder criará, já que na seara governista por enquanto só existe uma tênue incerteza na figura da ministra Dilma Rousseff.

Turma do funil

O Supremo Tribunal Federal está preocupado com o que os novos prefeitos e vereadores farão com a Súmula 13, que proíbe o nepotismo no funcionalismo. Há ministros desconfiados de que os vereadores e prefeitos eleitos poderão fazer tábula rasa da regra logo após tomarem posse.
A julgar pela atitude de sete das 26 câmaras municipais das capitais dos Estados, que já aumentaram por conta os salários dos novos vereadores, os magistrados têm razão para desconfiar do espírito público das excelências recém-eleitas.
Mediante muita pressão, Câmara e Senado já demitiram 189 parentes e fizeram a sua parte. Ficam ainda devendo as respectivas listas de demissões as assembléias legislativas, as câmaras municipais e os Poderes Executivo e Judiciário em todos os níveis.

Gato comeu

Nunca mais se ouviu falar dos entendimentos entre o Legislativo e o Judiciário para aprovação de reajuste dos salários dos ministros do Supremo, de R$ 24,5 mil para R$ 25,7 mil.
O projeto dormia na gaveta dos guardados estratégicos, até que no final de agosto último a Câmara acenou ao STF com a possibilidade de pôr a proposta em votação. Isso, logo depois da proibição do nepotismo.
O presidente do STF, Gilmar Mendes, achou ótimo, o presidente da Câmara avisou que o aumento entraria na pauta em breve mas, de repente, o assunto morreu. Resta saber se morto ficará.

Coisa de pele

Pode demorar, mas o arrefecimento da simpatia de Lula pela figura (descontada a mítica) de Barack Obama é uma questão de tempo.
Obama é o tipo do intelectual que importuna o pragmatismo simplificado de Lula. Em termos de personalidade, é muito mais o jeitão de George Bush.

LUIZ GARCIA

Papel de bala

O Globo - 07/11/2008

O que transforma fatos em notícias? Jornalistas sabem que não há uma resposta única - e nem sempre fácil - para a pergunta.
Pode-se dizer que a notícia é o fato inusitado, na contramão do que seria lógico e previsível. Assim, existiria notícia se um homem mordesse um cachorro, por exemplo; ou quando um baixinho botasse um grandalhão para correr.
Mas fatos absolutamente previsíveis e esperados também merecem registro. Como a chegada do Natal e a aproximação do carnaval. Ou o anúncio de que haverá sol no domingo. Naturalmente, a mídia acha que é seu dever registrar crimes e tragédias - mas também abre espaço para o motorista que devolveu a carteira recheada, para o policial que prendeu o bandido ou a mãe que reencontrou o filho perdido.
Há mais notícias sobre bancos assaltados do que sobre bancos que se casam? Com certeza, pela simples razão de que há mais assaltos do que fusões.
Parece simples e óbvio, mas o presidente Lula não concorda com nada disso. Outro dia, reclamou indignado do destaque dado por jornais ao fato de que ele jogara no chão um papel de bombom durante a inauguração de uma usina.
Na sua irritação, Lula extrapolou: "Será que a nossa cabeça está condicionada a achar que o bom é obrigação fazer, e apenas o ruim tem que se mostrar?"
Na verdade, realmente é obrigação do homem público fazer o que é bom, e também nem só o ruim tem de ser mostrado. A mídia, se faz direito o seu trabalho - e costuma fazer, sob pena de perder circulação e audiência -, mostra o papel de bala no chão sem negar aos cidadãos todas as informações que lhes interessam sobre a obra inaugurada. A coexistência com o registro negativo não reduz a importância e a repercussão do fato positivo.
A queixa de Lula - que não é o primeiro a fazê-la, o que não significa que esteja necessariamente em boa companhia - teria procedência se noticiários de TV e rádio e páginas de jornais e revistas fossem dominados por episódios irrelevantes. Mas não são.
Na verdade, aqui como em qualquer outro lugar onde haja liberdade de imprensa, a mídia procura apresentar ao público uma mistura do importante com o interessante. Natural e óbvio: é precisamente isso que os cidadãos gostam de saber e precisam conhecer.
Se os jornalistas são bons no seu ofício - o que não é nenhum bicho-de-sete-cabeças - não há competição entre os dois tipos de informação. Caso não sejam, o cidadão naturalmente procurará um outro veículo, que tenha profissionais competentes. É simples assim.
Era relevante, por exemplo, abrir espaço para as queixas do presidente. Até mesmo para que receba a solidariedade dos cidadãos que concordam com ele. Vai ver, tem muita gente por aí que adora jogar papel de bala no chão.

CLÓVIS ROSSI

Uma semana, passado remoto

Folha de S. Paulo - 07/11/2008

Era uma vez um tempo em que a gente discutia a conjuntura econômica, toda sexta-feira, nesta Folha. Tempos de conjuntura econômica tumultuada, ao contrário dos pacatos cinco ou seis anos que, no Brasil, terminaram agora.Eu ouvia os economistas-editorialistas da casa (nenhum deles continua, o time mudou todo) dizerem, numa semana, que tudo ia no melhor dos mundos, para, na semana seguinte, traçarem um cenário um pouco pior que o inferno.
Um dia, perguntei como era possível haver tamanha mudança em meros sete dias. Um dos professores-doutores, com aquela paciência que os sábios às vezes exibem com os ignorantes, respondeu: "Ah, meu filho, economia é uma coisa muito dinâmica". Pensei, mas calei: "Vai ser dinâmica assim na..., bom deixa pra lá".
Não é que hoje, com uns 15 ou 20 anos de atraso, esse professor-doutor poderia dar a mesma resposta e, desta vez, acertaria em cheio? O mundo, não apenas a economia, ganhou uma aceleração nos tempos que é quase impraticável para o cérebro humano acompanhar.
Dado mais recente: a evolução da produção e vendas da indústria automobilística. Em setembro, o número de licenciamentos havia sido 9,7% superior ao de agosto. Em outubro, foi 15% inferior ao de setembro. Uma brutal inversão em apenas um mês, acompanhada, de resto, por férias coletivas em inúmeras montadoras, o que é a antecipação do que vem por aí.O grave é que a aceleração dos tempos torna arcaicas decisões ou avaliações muito recentes. É o caso da ata do Banco Central sobre a reunião da semana passada, em que o medo da inflação parece ser praticamente igual ao da desaceleração, equilíbrio que os dados do setor de autos desmentem de maneira contundente.
Resumo: hoje é arriscado até prever o passado -ou o presente.

SEXTA NOS JORNAIS

- Folha: Sem ordem judicial, PF quebra sigilo telefônico

- Estadão: Empresas têm mais prazo para pagar impostos

- JB: Mais R$ 19 bi para empresas

- Correio: R$ 40 bilhões para turbinar a economia

- Valor: Balanços mostram lucros históricos e futuro incerto

- Gazeta Mercantil: FMI e governo cortam projeções para o PIB

- Estado de Minas: Lula baixa pacotaço

- Jornal do Commercio: Nova campanha pelo desarmamento