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GOGOGOOOOOOOSSSSSSSSTOSA
sexta-feira, setembro 12, 2008
FIM DE SEMANA: ESCOLHA
Música e teatro na Ribeira
VIOLETAS E GIRASSÓIS
Será realizada hoje a partir das 22h no galpão 29, na Ribeira , uma festa para celebrar a vida, reencontrar sonhos e a diversidade da cidade do Natal.
A festa Violetas e GirassÓis vai reunir num único show, quatro vertentes da música natalense. Canteiro de Samba, Donizete Lima e Khrystal e a banda Os Grogs estão na programação. Ingressos: No local, ao preço de R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia). Informações: 9177-1713 û 8882.8927
Som da Mata
O grupo Café do vento se apresenta no próximo domingo no projeto Som da Mata, que começa às 16h30, no anfiteatro Pau-brasil, no Parque das Dunas. A formação é composta por Roderick Fonseca (violino, viola, bandolim, marimbal e flautas), Mazinho Viana (violão, gaita e contrabaixo), Sami TariK (percussão, efeitos vocais e eletroacústicos) e Kleber Moreira (percussão, efeitos vocais e bateria). A entrada custa apenas R$ 1. Informações: 3201 4440.
Música no orla
O projeto Orla da Boa Música conta hoje com o show de Tânia Soares e trio, a partir das 19h. Ao meio-dia de amanhã tem show com Edna Gurgel e às 19h o palco será de Giuliane Guanabara. No domingo, Lene Macêdo se apresenta a partir das 12h e às 18h tem o encerramento o I Encontro Multicultural do Orla com um show Khrystal e Banda.
Apresentações no praia
No Praia Shopping, o show de hoje fica por conta de Elis Rosa cantando menino das laranjas, a partir das 20h30. Amanhã, no mesmo horário, tem Alexandre Siqueira interpretando sambas de Djavan. No domingo, às 20h, o público assistirá ao Catita Choro e Gafieira. Na segunda, também às 20h, tem Zé Hilton e trio interpretando clássicos do forró.
Coleta Seletiva
Amanhã tem mais uma edição da Festa Coleta Seletiva, no castelo Pub Bar (Rota do Sol - Ponta Negra). O evento começa às 22h com o DJ TXT, em seguida tem shows com a Orquestra Boca Seca, com o grupo Síntese Modular e Kawanui, além dos DJs Batché e Fa’s Groove. O ingresso custa R$ 5.
Show de Isabella Taviani
Pela primeira vez se apresentando na cidade, hoje é dia de show com Isabella Taviani, a partir das 20h, no pátio da Capitania das Artes. A apresentação, que será de voz e violão, é com base no seu terceiro disco Diga Sim. Entre seus sucesso estão as canções Diga sim pra mim, além de Luxúria e Ternura, ambas temas de novelas globais. Ingressos: La Femme Lingerie, no Midway Mall (3646 3292).
Teatro
Risos no TAM
As solteironas é o espetáculo que está em cartaz hoje e amanhã no Teatro Alberto Maranhão, a partir das 21h. O espetáculo une teatro e show de humor. O intuito deste espetáculo é unicamente fazer com que o seu público tenha bons momentos de diversão e alegria. O texto é de Nilton Rodrigues, direção de João Paulo Costa e realização de Amaury Júnior. Ingressos na Livraria Siciliano (Midway Mall e Natal Shopping). Informações: 3222-3669.
Eventos
Feira Cultural em Patu
A Feira da Cultura de Patu chega ao jubileu de prata e se encerra amanhã, com o Auto de Jesuíno Brilhante. Na programação estão shows musicais, feiras de artesanato, concursos, oficinas, cinema e festivais de música.
Mistura Cultural
Até domingo está sendo promovido, no shopping Orla Sul, o primeiro Encontro Multicultural do Orla, que reúne exposição de sebos, filatelia, antiguidades (antiquários do RN, PB e PE), quadrinhos, CDs, vinil, exposições de artes plásticas, fotografias e palestras proferidas por jornalistas e professores, além de shows. Tudo organizado com o objetivo de divulgar a arte e a cultura
Cinema
Cine Sesi
Hoje, amanhã e domingo a Unidade Móvel do projeto Cine Sesi Cultural está em São Paulo do Potengi. A estrutura para a projeção dos filmes, que começam às 18h30, está montada do Largo da Praça Matriz
Literatura
Livro em Mossoró
Amanhã, a partir das 19h, será lançado na Siciliano, do Mossoró West Shopping, a obra Crônicas da virtualidade, do administrador Julio Rezende.
DOMINGO NO PARQUE
A poesia MPBística do cantor e compositor Geraldinho Carvalho será a atração principal da nova edição do projeto Domingo no Parque, a partir das 16h.
Música e teatro na Ribeira
VIOLETAS E GIRASSÓIS
Será realizada hoje a partir das 22h no galpão 29, na Ribeira , uma festa para celebrar a vida, reencontrar sonhos e a diversidade da cidade do Natal.
A festa Violetas e GirassÓis vai reunir num único show, quatro vertentes da música natalense. Canteiro de Samba, Donizete Lima e Khrystal e a banda Os Grogs estão na programação. Ingressos: No local, ao preço de R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia). Informações: 9177-1713 û 8882.8927
Som da Mata
O grupo Café do vento se apresenta no próximo domingo no projeto Som da Mata, que começa às 16h30, no anfiteatro Pau-brasil, no Parque das Dunas. A formação é composta por Roderick Fonseca (violino, viola, bandolim, marimbal e flautas), Mazinho Viana (violão, gaita e contrabaixo), Sami TariK (percussão, efeitos vocais e eletroacústicos) e Kleber Moreira (percussão, efeitos vocais e bateria). A entrada custa apenas R$ 1. Informações: 3201 4440.
Música no orla
O projeto Orla da Boa Música conta hoje com o show de Tânia Soares e trio, a partir das 19h. Ao meio-dia de amanhã tem show com Edna Gurgel e às 19h o palco será de Giuliane Guanabara. No domingo, Lene Macêdo se apresenta a partir das 12h e às 18h tem o encerramento o I Encontro Multicultural do Orla com um show Khrystal e Banda.
Apresentações no praia
No Praia Shopping, o show de hoje fica por conta de Elis Rosa cantando menino das laranjas, a partir das 20h30. Amanhã, no mesmo horário, tem Alexandre Siqueira interpretando sambas de Djavan. No domingo, às 20h, o público assistirá ao Catita Choro e Gafieira. Na segunda, também às 20h, tem Zé Hilton e trio interpretando clássicos do forró.
Coleta Seletiva
Amanhã tem mais uma edição da Festa Coleta Seletiva, no castelo Pub Bar (Rota do Sol - Ponta Negra). O evento começa às 22h com o DJ TXT, em seguida tem shows com a Orquestra Boca Seca, com o grupo Síntese Modular e Kawanui, além dos DJs Batché e Fa’s Groove. O ingresso custa R$ 5.
Show de Isabella Taviani
Pela primeira vez se apresentando na cidade, hoje é dia de show com Isabella Taviani, a partir das 20h, no pátio da Capitania das Artes. A apresentação, que será de voz e violão, é com base no seu terceiro disco Diga Sim. Entre seus sucesso estão as canções Diga sim pra mim, além de Luxúria e Ternura, ambas temas de novelas globais. Ingressos: La Femme Lingerie, no Midway Mall (3646 3292).
Teatro
Risos no TAM
As solteironas é o espetáculo que está em cartaz hoje e amanhã no Teatro Alberto Maranhão, a partir das 21h. O espetáculo une teatro e show de humor. O intuito deste espetáculo é unicamente fazer com que o seu público tenha bons momentos de diversão e alegria. O texto é de Nilton Rodrigues, direção de João Paulo Costa e realização de Amaury Júnior. Ingressos na Livraria Siciliano (Midway Mall e Natal Shopping). Informações: 3222-3669.
Eventos
Feira Cultural em Patu
A Feira da Cultura de Patu chega ao jubileu de prata e se encerra amanhã, com o Auto de Jesuíno Brilhante. Na programação estão shows musicais, feiras de artesanato, concursos, oficinas, cinema e festivais de música.
Mistura Cultural
Até domingo está sendo promovido, no shopping Orla Sul, o primeiro Encontro Multicultural do Orla, que reúne exposição de sebos, filatelia, antiguidades (antiquários do RN, PB e PE), quadrinhos, CDs, vinil, exposições de artes plásticas, fotografias e palestras proferidas por jornalistas e professores, além de shows. Tudo organizado com o objetivo de divulgar a arte e a cultura
Cinema
Cine Sesi
Hoje, amanhã e domingo a Unidade Móvel do projeto Cine Sesi Cultural está em São Paulo do Potengi. A estrutura para a projeção dos filmes, que começam às 18h30, está montada do Largo da Praça Matriz
Literatura
Livro em Mossoró
Amanhã, a partir das 19h, será lançado na Siciliano, do Mossoró West Shopping, a obra Crônicas da virtualidade, do administrador Julio Rezende.
DOMINGO NO PARQUE
A poesia MPBística do cantor e compositor Geraldinho Carvalho será a atração principal da nova edição do projeto Domingo no Parque, a partir das 16h.
Informe JB
PT trabalha o mandato de 5 anos
Leandro Mazzini
O PT trabalha a proposta de mandato de cinco anos, sem reeleição, para o Executivo – desde o presidente da República, passando por governadores e prefeitos. Esse é o projeto de lei já traçado e detalhado à coluna pelo líder do PT na Câmara, Maurício Rands (PE). A idéia será tratada com o presidente do partido, deputado Ricardo Berzoini (SP), e o relator da reforma política, deputado João Paulo Cunha (SP). No PL, Rands também propõe cinco anos para o Legislativo, e que as eleições sejam coincidentes para todos os cargos majoritários e proporcionais, no mesmo ano. "Mas com intervalos de um mês para cada eleição", justifica Rands. O deputado pretende unificar o discurso do PT. Antes, no entanto, é preciso saber quando o pacote de reforma entra na pauta.
Gabrielli 2010 Puro sangue
Vem da Bahia a idéia de fazer José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras, vice de Dilma Rousseff pelo PT em 2010.
Com o petróleo e a história do pré-sal em alta, a chapa já tem um mote: a boa técnica política com o administrador que sabe vender um barril.
A mala preta
A Abin já teve oferta de compra de malas de rastreamento de celulares anos atrás, mas não adquiriu porque não era prioridade. E se fosse, faltavam recursos.
Mala milionária
Os fabricantes da famosa mala preta, à época, juravam que ela não grampeava. Cada uma saía por R$ 200 mil. Oferecidas por multinacionais especializadas.
Flagra amoroso
Há pouco tempo, um banqueiro acostumado a comprar grampos recebeu material e chamou amigos para ouvir. Descobriu triângulo amoroso entre um casal de funcionários seus e um economista. Saiu divórcio amigável, conta uma testemunha à coluna.
Alô, PF!
O mercado do grampo é antigo e acessível. Só a PF não sabe ainda que duas lojas especializadas em segurança vendem a tal mala – uma na Asa Norte de Brasília e outra no Centro do Rio – para citar dois exemplos, apenas.
Bananas!
O ministro das Relações Institucionais, José Múcio, inquilino do Palácio do Planalto, que deixa a cortina aberta no janelão da sala, soltou para um visitante: "A vista é bonita, mas de vez em quando vejo alguém me dando uma banana". Calma, ministro, talvez não seja para o senhor.
Lulista enquadrado
Romeu Aldigueri, candidato do PPS em Granja (CE), foi enquadrado pelo presidente do partido, Roberto Freire, por ter veiculado no rádio um imitador de Lula pedindo votos para ele.
Fora daqui!
O PPS é oposição ao PT, e Freire, que odeia Lula, determinou à executiva estadual que expulse Aldigueri após as eleições, mesmo que ganhe. O PPS garante que não pedirá o cargo dele, caso se eleja.
Mistério
A Universidade de Brasília, que passa por eleições, pode perder contratos milionários com ministérios porque está adiando entrega de trabalhos.
Arrastão
Salvador amanheceu ontem menos vermelha. Um grupo de vândalos, não se sabe ainda se da oposição, derrubou placas e arrancou cartazes do candidato do PT à prefeitura, Walter Pinheiro.
O Brasil merece
Mais um para a série Candidatos Estranhos. Em Campos (RJ), concorre à Câmara pelo PR o "Pau Velho". Curiosidade: com quase 60 anos, "Velho" é casado com uma mulher com a metade da idade, que está grávida.
PT trabalha o mandato de 5 anos
Leandro Mazzini
O PT trabalha a proposta de mandato de cinco anos, sem reeleição, para o Executivo – desde o presidente da República, passando por governadores e prefeitos. Esse é o projeto de lei já traçado e detalhado à coluna pelo líder do PT na Câmara, Maurício Rands (PE). A idéia será tratada com o presidente do partido, deputado Ricardo Berzoini (SP), e o relator da reforma política, deputado João Paulo Cunha (SP). No PL, Rands também propõe cinco anos para o Legislativo, e que as eleições sejam coincidentes para todos os cargos majoritários e proporcionais, no mesmo ano. "Mas com intervalos de um mês para cada eleição", justifica Rands. O deputado pretende unificar o discurso do PT. Antes, no entanto, é preciso saber quando o pacote de reforma entra na pauta.
Gabrielli 2010 Puro sangue
Vem da Bahia a idéia de fazer José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras, vice de Dilma Rousseff pelo PT em 2010.
Com o petróleo e a história do pré-sal em alta, a chapa já tem um mote: a boa técnica política com o administrador que sabe vender um barril.
A mala preta
A Abin já teve oferta de compra de malas de rastreamento de celulares anos atrás, mas não adquiriu porque não era prioridade. E se fosse, faltavam recursos.
Mala milionária
Os fabricantes da famosa mala preta, à época, juravam que ela não grampeava. Cada uma saía por R$ 200 mil. Oferecidas por multinacionais especializadas.
Flagra amoroso
Há pouco tempo, um banqueiro acostumado a comprar grampos recebeu material e chamou amigos para ouvir. Descobriu triângulo amoroso entre um casal de funcionários seus e um economista. Saiu divórcio amigável, conta uma testemunha à coluna.
Alô, PF!
O mercado do grampo é antigo e acessível. Só a PF não sabe ainda que duas lojas especializadas em segurança vendem a tal mala – uma na Asa Norte de Brasília e outra no Centro do Rio – para citar dois exemplos, apenas.
Bananas!
O ministro das Relações Institucionais, José Múcio, inquilino do Palácio do Planalto, que deixa a cortina aberta no janelão da sala, soltou para um visitante: "A vista é bonita, mas de vez em quando vejo alguém me dando uma banana". Calma, ministro, talvez não seja para o senhor.
Lulista enquadrado
Romeu Aldigueri, candidato do PPS em Granja (CE), foi enquadrado pelo presidente do partido, Roberto Freire, por ter veiculado no rádio um imitador de Lula pedindo votos para ele.
Fora daqui!
O PPS é oposição ao PT, e Freire, que odeia Lula, determinou à executiva estadual que expulse Aldigueri após as eleições, mesmo que ganhe. O PPS garante que não pedirá o cargo dele, caso se eleja.
Mistério
A Universidade de Brasília, que passa por eleições, pode perder contratos milionários com ministérios porque está adiando entrega de trabalhos.
Arrastão
Salvador amanheceu ontem menos vermelha. Um grupo de vândalos, não se sabe ainda se da oposição, derrubou placas e arrancou cartazes do candidato do PT à prefeitura, Walter Pinheiro.
O Brasil merece
Mais um para a série Candidatos Estranhos. Em Campos (RJ), concorre à Câmara pelo PR o "Pau Velho". Curiosidade: com quase 60 anos, "Velho" é casado com uma mulher com a metade da idade, que está grávida.
LEIA UM LIVRO
MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS-CONT.
MACHADO DE ASSIS
CAPÍTULO 7
O delírio
Que me conste, ainda ninguém relatou o seu próprio delírio; faço-o eu, e a ciência mo agradecerá. Se o leitor não é dado à contemplação destes fenômenos mentais, pode saltar o capítulo; vá direito à narração. Mas, por menos curioso que seja, sempre lhe digo que é interessante saber o que se passou na minha cabeça durante uns vinte a trinta minutos.
Primeiramente, tomei a figura de um barbeiro chinês, bojudo, destro, escanhoando um mandarim, que me pagava o trabalho com beliscões e confeitos: caprichos de mandarim.
Logo depois, senti-me transformado na Suma Teologica de São Tomás, impressa num volume, e encadernada em marroquim, com fechos de prata e estampas; idéia esta que me deu ao corpo a mais completa imobilidade; e ainda agora me lembra que, sendo as minhas mãos os fechos do livro, e cruzando-as eu sobre o ventre, alguém as descruzava (Virgília decerto), porque a atitude lhe dava a imagem de um defunto.
Ultimamente, restituído à forma humana, vi chegar um hipopótamo, que me arrebatou. Deixei-me ir, calado, não sei se por medo ou confiança; mas, dentro em pouco, a carreira de tal modo se tornou vertiginosa, que me atrevi a interrogá-lo, e com alguma arte lhe disse que a viagem me parecia sem destino.
— Engana-se, replicou o animal, nós vamos à origem dos séculos.
Insinuei que deveria ser muitíssimo longe; mas o hipopótamo não me entendeu ou não me ouviu, se é que não fingiu uma dessas coisas; e, perguntando-lhe, visto que ele falava, se era descendente do cavalo de Aquiles ou da asna de Balaão, retorquiu-me com um gesto peculiar a estes dois quadrúpedes: abanou as orelhas. Pela minha parte fechei os olhos e deixei-me ir à ventura. Já agora não se me dá de confessar que sentia umas tais ou quais cócegas de curiosidade, por saber onde ficava a origem dos séculos, se era tão misteriosa como a origem do Nilo, e sobretudo se valia alguma coisa mais ou menos do que a consumação dos mesmos séculos: reflexões de cérebro enfermo. Como ia de olhos fechados, não via o caminho; lembra-me só que a sensação de frio aumentava com a jornada, e que chegou uma ocasião em que me pareceu entrar na região dos gelos eternos. Com efeito, abri os olhos e vi que o meu animal galopava numa planície branca de neve, com uma ou outra montanha de neve, vegetação de neve, e vários animais grandes e de neve. Tudo neve; chegava a gelar-nos um sol de neve. Tentei falar, mas apenas pude grunhir esta pergunta ansiosa:
— Onde estamos?
— Já passamos o Éden.
— Bem; paremos na tenda de Abraão.
— Mas se nós caminhamos para trás! redargüiu motejando a minha cavalgadura.
Fiquei vexado e aturdido. A jornada entrou a parecer-me enfadonha e extravagante, o frio incômodo, a condução violenta, e o resultado impalpável. E depois — cogitações de enfermo — dado que chegássemos ao fim indicado, não era impossível que os séculos, irritados com lhes devassarem a origem, me esmagassem entre as unhas que deviam ser tão seculares como eles. Enquanto assim pensava, íamos devorando caminho, e a planície voava debaixo dos nossos pés, até que o animal estacou, e pude olhar mais tranqüilamente em torno de mim. Olhar somente; nada vi, além da imensa brancura da neve, que desta vez invadira o próprio céu, até ali azul. Talvez, a espaços, me aparecia uma ou outra planta, enorme, brutesca, meneando ao vento as suas largas folhas. O silêncio daquela região era igual ao do sepulcro: dissera-se que a vida das coisas ficara estúpida diante do homem.
Caiu do ar? destacou-se da terra? não sei; sei que um vulto imenso, uma figura de mulher me apareceu então, fitando-me uns olhos rutilantes como o sol. Tudo nessa figura tinha a vastidão das formas selváticas, e tudo escapava à compreensão do olhar humano, porque os contornos perdiam-se no ambiente, e o que parecia espesso era muita vez diáfano. Estupefato, não disse nada, não cheguei sequer a soltar um grito; mas, ao cabo de algum tempo, que foi breve, perguntei quem era e como se chamava: curiosidade de delírio.
—Chama-me Natureza ou Pandora; sou tua mãe e tua inimiga.
Ao ouvir esta última palavra, recuei um pouco, tomado de susto. A figura soltou uma gargalhada, que produziu em torno de nós o efeito de um tufão; as plantas torceram-se e um longo gemido quebrou a mudez das coisas externas.
Não te assustes, disse ela, minha inimizade não mata; é sobretudo pela vida que se afirma. Vives: não quero outro flagelo.
— Vivo? perguntei eu, enterrando as unhas nas mãos, como para certificar
me da existência.
— Sim, verme, tu vives. Não receies perder esse andrajo que é teu orgulho; provarás ainda, por algumas horas, o pão da dor e o vinho da miséria. Vives: agora mesmo que ensandeceste, vives; e se a tua consciência reouver um instante de sagacidade, tu dirás que queres viver.
Dizendo isto, a visão estendeu o braço, segurou-me pelos cabelos e levantou-me ao ar, como se fora uma pluma. Só então, pude ver-lhe de perto o rosto, que era enorme. Nada mais quieto; nenhuma contorção violenta, nenhuma expressão de ódio ou ferocidade; a feição única, geral, completa, era a da impassibilidade egoísta, a da eterna surdez, a da vontade imóvel. Raivas, se as tinha, ficavam encerradas no coração. Ao mesmo tempo, nesse rosto de expressão glacial, havia um ar de juventude, mescla de força e viço, diante do qual me sentia eu o mais débil e decrépito dos seres.
— Entendeste-me? disse ela, no fim de algum tempo de mútua contemplação.
— Não, respondi; nem quero entender-te; tu és absurda, tu és uma fábula. Estou sonhando, decerto, ou, se é verdade que enlouqueci, tu não passas de uma concepção de alienado, isto é, uma coisa vã, que a razão ausente não pode reger nem palpar. Natureza, tu? a Natureza que eu conheço é só mãe e não inimiga; não faz da vida um flagelo, nem, como tu, traz esse rosto indiferente, como o sepulcro E por que Pandora?
— Porque levo na minha bolsa os bens e os males, e o maior de todos, a esperança, consolação dos homens. Tremes?
— Sim; o teu olhar fascina-me.
— Creio; eu não sou somente a vida; sou também a morte, e tu estás prestes a devolver
me o que te emprestei. Grande lascivo, espera-te a voluptuosidade do nada.
Quando esta palavra ecoou, como um trovão, naquele imenso vale, afigurou-me que era o último som que chegava a meus ouvidos; pareceu-me sentir a decomposição súbita do mim mesmo. Então, encarei-a com olhos súplices, e pedi mais alguns anos.
— Pobre minuto! exclamou. Para que queres tu mais alguns instantes de vida? Para devorar e seres devorado depois? Não estás farto do espetáculo e da luta? Conheces de sobejo tudo o que eu te deparei menos torpe ou menos aflitivo: o alvor do dia, a melancolia da tarde, a quietação da noite, os aspectos da terra, o sono, enfim, o maior benefício das minhas mãos. Que mais queres tu, sublime idiota?
— Viver somente, não te peço mais nada. Quem me pôs no coração este amor da vida, se não tu? e, se eu amo a vida, por que te hás de golpear a ti mesma, matando-me?
— Porque já não preciso de ti. Não importa ao tempo o minuto que passa, mas o minuto que vem. O minuto que vem é forte, jocundo, supõe trazer em si a eternidade, e traz a morte, e perece como o outro, mas o tempo subsiste. Egoísmo, dizes tu? Sim, egoísmo, não tenho outra lei. Egoísmo, conservação. A onça mata o novilho porque o raciocínio da onça é que ela deve viver, e se o novilho é tenro tanto melhor: eis o estatuto universal. Sobe e olha.
Isto dizendo, arrebatou-me ao alto de uma montanha. Inclinei os olhos a uma das vertentes, e contemplei, durante um tempo largo, ao longe, através de um nevoeiro, uma coisa única. Imagina tu, leitor, uma redução dos séculos, e um desfilar de todos eles, as raças todas, todas as paixões, o tumulto dos impérios, a guerra dos apetites e dos ódios, a destruição recíproca dos seres e das coisas. Tal era o espetáculo, acerbo e curioso espetáculo. A história do homem e da terra tinha assim uma intensidade que lhe não podiam dar nem a imaginação nem a ciência, porque a ciência é mais lenta e a imaginação mais vaga, enquanto que o que eu ali via era a condensação viva de todos os tempos. Para descrevê-la seria preciso fixar o relâmpago. Os séculos desfilavam num turbilhão, e, não obstante, porque os olhos do delírio são outros, eu via tudo o que passava diante de mim, — flagelos e delícias, — desde essa coisa que se chama glória até essa outra que se chama miséria, e via o amor multiplicando a miséria, e via a miséria agravando a debilidade. Aí vinham a cobiça que devora, a cólera que inflama, a inveja que baba, e a enxada e a pena, úmidas de suor, e a ambição, a fome, a vaidade, a melancolia, a riqueza, o amor, e todos agitavam o homem, como um chocalho, até destruí-lo, como um farrapo. Eram as formas várias de um mal, que ora mordia a víscera, ora mordia o pensamento, e passeava eternamente as suas vestes de arlequim, em derredor da espécie humana. A dor cedia alguma vez, mas cedia à indiferença, que era um sono sem sonhos, ou ao prazer, que era uma dor bastarda. Então o homem, flagelado e rebelde, corria diante da fatalidade das coisas, atrás de uma figura nebulosa e esquiva, feita de retalhos, um retalho de impalpável, outro de improvável, outro de invisível, cosidos todos a ponto precário, com a agulha da imaginação; e essa figura, — nada menos que a quimera da felicidade, — ou lhe fugia perpetuamente, ou deixava-se apanhar pela fralda, e o homem a cingia ao peito, e então ela ria, como um escárnio, e sumia-se, como uma ilusão.
Ao contemplar tanta calamidade, não pude reter um grito de angústia, que Natureza ou Pandora escutou sem protestar nem rir; e não sei por que lei de transtorno cerebral, fui eu que me pus a rir, — de um riso descompassado e idiota.
— Tens razão, disse eu, a coisa é divertida e vale a pena, — talvez monótona — mas vale a pena. Quando Job amaldiçoava o dia em que fora concebido, é porque lhe davam ganas de ver cá de cima o espetáculo. Vamos lá, Pandora, abre o ventre, e digere
me; a coisa é divertida, mas digere-me.
A resposta foi compelir-me fortemente a olhar para baixo, e a ver os séculos que continuavam a passar, velozes e turbulentos, as gerações que se superpunham às gerações, umas tristes, como os Hebreus do cativeiro, outras alegres, como os devassos de Cômodo, e todas elas pontuais na sepultura. Quis fugir, mas uma força misteriosa me retinha os pés; então disse comigo: — "Bem, os séculos vão passando, chegará o meu, e passará também, até o último, que me dará a decifração da eternidade." E fixei os olhos, e continuei a ver as idades, que vinham chegando e passando, já então tranqüilo e resoluto, não sei até se alegre. Talvez alegre. Cada século trazia a sua porção de sombra e de luz, de apatia e de combate, de verdade e de erro, e o seu cortejo de sistemas, de idéias novas, de novas ilusões; em cada um deles rebentavam as verduras de uma primavera, e amareleciam depois, para remoçar mais tarde. Ao passo que a vida tinha assim uma regularidade de calendário, fazia-se a história e a civilização, e o homem, nu e desarmado, armava-se e vestia-se, construía o tugúrio e o palácio, a rude aldeia e Tebas de cem portas, criava a ciência, que perscruta, e a arte que enleva, fazia-se orador, mecânico, filósofo, corria a face do globo, descia ao ventre da terra, subia à esfera das nuvens, colaborando assim na obra misteriosa, com que entretinha a necessidade da vida e a melancolia do desamparo. Meu olhar, enfarado e distraído, viu enfim chegar o século presente, e atrás dele os futuros. Aquele vinha ágil, destro, vibrante, cheio de si, um pouco difuso, audaz, sabedor, mas ao cabo tão miserável como os primeiros, e assim passou e assim passaram os outros, com a mesma rapidez e igual monotonia. Redobrei de atenção; fitei a vista; ia enfim ver o último, — o último!; mas então já a rapidez da marcha era tal, que escapava a toda a compreensão; ao pé dela o relâmpago seria um século. Talvez por isso entraram os objetos a trocarem-se; uns cresceram, outros minguaram, outros perderam-se no ambiente; um nevoeiro cobriu tudo, — menos o hipopótamo que ali me trouxera, e que aliás começou a diminuir, a diminuir, a diminuir, até ficar do tamanho de um gato. Era efetivamente um gato. Encarei-o bem; era o meu gato Sultão, que brincava à porta da alcova, com uma bola de papel...
CONT. AMANHÃ
MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS-CONT.
MACHADO DE ASSIS
CAPÍTULO 7
O delírio
Que me conste, ainda ninguém relatou o seu próprio delírio; faço-o eu, e a ciência mo agradecerá. Se o leitor não é dado à contemplação destes fenômenos mentais, pode saltar o capítulo; vá direito à narração. Mas, por menos curioso que seja, sempre lhe digo que é interessante saber o que se passou na minha cabeça durante uns vinte a trinta minutos.
Primeiramente, tomei a figura de um barbeiro chinês, bojudo, destro, escanhoando um mandarim, que me pagava o trabalho com beliscões e confeitos: caprichos de mandarim.
Logo depois, senti-me transformado na Suma Teologica de São Tomás, impressa num volume, e encadernada em marroquim, com fechos de prata e estampas; idéia esta que me deu ao corpo a mais completa imobilidade; e ainda agora me lembra que, sendo as minhas mãos os fechos do livro, e cruzando-as eu sobre o ventre, alguém as descruzava (Virgília decerto), porque a atitude lhe dava a imagem de um defunto.
Ultimamente, restituído à forma humana, vi chegar um hipopótamo, que me arrebatou. Deixei-me ir, calado, não sei se por medo ou confiança; mas, dentro em pouco, a carreira de tal modo se tornou vertiginosa, que me atrevi a interrogá-lo, e com alguma arte lhe disse que a viagem me parecia sem destino.
— Engana-se, replicou o animal, nós vamos à origem dos séculos.
Insinuei que deveria ser muitíssimo longe; mas o hipopótamo não me entendeu ou não me ouviu, se é que não fingiu uma dessas coisas; e, perguntando-lhe, visto que ele falava, se era descendente do cavalo de Aquiles ou da asna de Balaão, retorquiu-me com um gesto peculiar a estes dois quadrúpedes: abanou as orelhas. Pela minha parte fechei os olhos e deixei-me ir à ventura. Já agora não se me dá de confessar que sentia umas tais ou quais cócegas de curiosidade, por saber onde ficava a origem dos séculos, se era tão misteriosa como a origem do Nilo, e sobretudo se valia alguma coisa mais ou menos do que a consumação dos mesmos séculos: reflexões de cérebro enfermo. Como ia de olhos fechados, não via o caminho; lembra-me só que a sensação de frio aumentava com a jornada, e que chegou uma ocasião em que me pareceu entrar na região dos gelos eternos. Com efeito, abri os olhos e vi que o meu animal galopava numa planície branca de neve, com uma ou outra montanha de neve, vegetação de neve, e vários animais grandes e de neve. Tudo neve; chegava a gelar-nos um sol de neve. Tentei falar, mas apenas pude grunhir esta pergunta ansiosa:
— Onde estamos?
— Já passamos o Éden.
— Bem; paremos na tenda de Abraão.
— Mas se nós caminhamos para trás! redargüiu motejando a minha cavalgadura.
Fiquei vexado e aturdido. A jornada entrou a parecer-me enfadonha e extravagante, o frio incômodo, a condução violenta, e o resultado impalpável. E depois — cogitações de enfermo — dado que chegássemos ao fim indicado, não era impossível que os séculos, irritados com lhes devassarem a origem, me esmagassem entre as unhas que deviam ser tão seculares como eles. Enquanto assim pensava, íamos devorando caminho, e a planície voava debaixo dos nossos pés, até que o animal estacou, e pude olhar mais tranqüilamente em torno de mim. Olhar somente; nada vi, além da imensa brancura da neve, que desta vez invadira o próprio céu, até ali azul. Talvez, a espaços, me aparecia uma ou outra planta, enorme, brutesca, meneando ao vento as suas largas folhas. O silêncio daquela região era igual ao do sepulcro: dissera-se que a vida das coisas ficara estúpida diante do homem.
Caiu do ar? destacou-se da terra? não sei; sei que um vulto imenso, uma figura de mulher me apareceu então, fitando-me uns olhos rutilantes como o sol. Tudo nessa figura tinha a vastidão das formas selváticas, e tudo escapava à compreensão do olhar humano, porque os contornos perdiam-se no ambiente, e o que parecia espesso era muita vez diáfano. Estupefato, não disse nada, não cheguei sequer a soltar um grito; mas, ao cabo de algum tempo, que foi breve, perguntei quem era e como se chamava: curiosidade de delírio.
—Chama-me Natureza ou Pandora; sou tua mãe e tua inimiga.
Ao ouvir esta última palavra, recuei um pouco, tomado de susto. A figura soltou uma gargalhada, que produziu em torno de nós o efeito de um tufão; as plantas torceram-se e um longo gemido quebrou a mudez das coisas externas.
Não te assustes, disse ela, minha inimizade não mata; é sobretudo pela vida que se afirma. Vives: não quero outro flagelo.
— Vivo? perguntei eu, enterrando as unhas nas mãos, como para certificar
me da existência.
— Sim, verme, tu vives. Não receies perder esse andrajo que é teu orgulho; provarás ainda, por algumas horas, o pão da dor e o vinho da miséria. Vives: agora mesmo que ensandeceste, vives; e se a tua consciência reouver um instante de sagacidade, tu dirás que queres viver.
Dizendo isto, a visão estendeu o braço, segurou-me pelos cabelos e levantou-me ao ar, como se fora uma pluma. Só então, pude ver-lhe de perto o rosto, que era enorme. Nada mais quieto; nenhuma contorção violenta, nenhuma expressão de ódio ou ferocidade; a feição única, geral, completa, era a da impassibilidade egoísta, a da eterna surdez, a da vontade imóvel. Raivas, se as tinha, ficavam encerradas no coração. Ao mesmo tempo, nesse rosto de expressão glacial, havia um ar de juventude, mescla de força e viço, diante do qual me sentia eu o mais débil e decrépito dos seres.
— Entendeste-me? disse ela, no fim de algum tempo de mútua contemplação.
— Não, respondi; nem quero entender-te; tu és absurda, tu és uma fábula. Estou sonhando, decerto, ou, se é verdade que enlouqueci, tu não passas de uma concepção de alienado, isto é, uma coisa vã, que a razão ausente não pode reger nem palpar. Natureza, tu? a Natureza que eu conheço é só mãe e não inimiga; não faz da vida um flagelo, nem, como tu, traz esse rosto indiferente, como o sepulcro E por que Pandora?
— Porque levo na minha bolsa os bens e os males, e o maior de todos, a esperança, consolação dos homens. Tremes?
— Sim; o teu olhar fascina-me.
— Creio; eu não sou somente a vida; sou também a morte, e tu estás prestes a devolver
me o que te emprestei. Grande lascivo, espera-te a voluptuosidade do nada.
Quando esta palavra ecoou, como um trovão, naquele imenso vale, afigurou-me que era o último som que chegava a meus ouvidos; pareceu-me sentir a decomposição súbita do mim mesmo. Então, encarei-a com olhos súplices, e pedi mais alguns anos.
— Pobre minuto! exclamou. Para que queres tu mais alguns instantes de vida? Para devorar e seres devorado depois? Não estás farto do espetáculo e da luta? Conheces de sobejo tudo o que eu te deparei menos torpe ou menos aflitivo: o alvor do dia, a melancolia da tarde, a quietação da noite, os aspectos da terra, o sono, enfim, o maior benefício das minhas mãos. Que mais queres tu, sublime idiota?
— Viver somente, não te peço mais nada. Quem me pôs no coração este amor da vida, se não tu? e, se eu amo a vida, por que te hás de golpear a ti mesma, matando-me?
— Porque já não preciso de ti. Não importa ao tempo o minuto que passa, mas o minuto que vem. O minuto que vem é forte, jocundo, supõe trazer em si a eternidade, e traz a morte, e perece como o outro, mas o tempo subsiste. Egoísmo, dizes tu? Sim, egoísmo, não tenho outra lei. Egoísmo, conservação. A onça mata o novilho porque o raciocínio da onça é que ela deve viver, e se o novilho é tenro tanto melhor: eis o estatuto universal. Sobe e olha.
Isto dizendo, arrebatou-me ao alto de uma montanha. Inclinei os olhos a uma das vertentes, e contemplei, durante um tempo largo, ao longe, através de um nevoeiro, uma coisa única. Imagina tu, leitor, uma redução dos séculos, e um desfilar de todos eles, as raças todas, todas as paixões, o tumulto dos impérios, a guerra dos apetites e dos ódios, a destruição recíproca dos seres e das coisas. Tal era o espetáculo, acerbo e curioso espetáculo. A história do homem e da terra tinha assim uma intensidade que lhe não podiam dar nem a imaginação nem a ciência, porque a ciência é mais lenta e a imaginação mais vaga, enquanto que o que eu ali via era a condensação viva de todos os tempos. Para descrevê-la seria preciso fixar o relâmpago. Os séculos desfilavam num turbilhão, e, não obstante, porque os olhos do delírio são outros, eu via tudo o que passava diante de mim, — flagelos e delícias, — desde essa coisa que se chama glória até essa outra que se chama miséria, e via o amor multiplicando a miséria, e via a miséria agravando a debilidade. Aí vinham a cobiça que devora, a cólera que inflama, a inveja que baba, e a enxada e a pena, úmidas de suor, e a ambição, a fome, a vaidade, a melancolia, a riqueza, o amor, e todos agitavam o homem, como um chocalho, até destruí-lo, como um farrapo. Eram as formas várias de um mal, que ora mordia a víscera, ora mordia o pensamento, e passeava eternamente as suas vestes de arlequim, em derredor da espécie humana. A dor cedia alguma vez, mas cedia à indiferença, que era um sono sem sonhos, ou ao prazer, que era uma dor bastarda. Então o homem, flagelado e rebelde, corria diante da fatalidade das coisas, atrás de uma figura nebulosa e esquiva, feita de retalhos, um retalho de impalpável, outro de improvável, outro de invisível, cosidos todos a ponto precário, com a agulha da imaginação; e essa figura, — nada menos que a quimera da felicidade, — ou lhe fugia perpetuamente, ou deixava-se apanhar pela fralda, e o homem a cingia ao peito, e então ela ria, como um escárnio, e sumia-se, como uma ilusão.
Ao contemplar tanta calamidade, não pude reter um grito de angústia, que Natureza ou Pandora escutou sem protestar nem rir; e não sei por que lei de transtorno cerebral, fui eu que me pus a rir, — de um riso descompassado e idiota.
— Tens razão, disse eu, a coisa é divertida e vale a pena, — talvez monótona — mas vale a pena. Quando Job amaldiçoava o dia em que fora concebido, é porque lhe davam ganas de ver cá de cima o espetáculo. Vamos lá, Pandora, abre o ventre, e digere
me; a coisa é divertida, mas digere-me.
A resposta foi compelir-me fortemente a olhar para baixo, e a ver os séculos que continuavam a passar, velozes e turbulentos, as gerações que se superpunham às gerações, umas tristes, como os Hebreus do cativeiro, outras alegres, como os devassos de Cômodo, e todas elas pontuais na sepultura. Quis fugir, mas uma força misteriosa me retinha os pés; então disse comigo: — "Bem, os séculos vão passando, chegará o meu, e passará também, até o último, que me dará a decifração da eternidade." E fixei os olhos, e continuei a ver as idades, que vinham chegando e passando, já então tranqüilo e resoluto, não sei até se alegre. Talvez alegre. Cada século trazia a sua porção de sombra e de luz, de apatia e de combate, de verdade e de erro, e o seu cortejo de sistemas, de idéias novas, de novas ilusões; em cada um deles rebentavam as verduras de uma primavera, e amareleciam depois, para remoçar mais tarde. Ao passo que a vida tinha assim uma regularidade de calendário, fazia-se a história e a civilização, e o homem, nu e desarmado, armava-se e vestia-se, construía o tugúrio e o palácio, a rude aldeia e Tebas de cem portas, criava a ciência, que perscruta, e a arte que enleva, fazia-se orador, mecânico, filósofo, corria a face do globo, descia ao ventre da terra, subia à esfera das nuvens, colaborando assim na obra misteriosa, com que entretinha a necessidade da vida e a melancolia do desamparo. Meu olhar, enfarado e distraído, viu enfim chegar o século presente, e atrás dele os futuros. Aquele vinha ágil, destro, vibrante, cheio de si, um pouco difuso, audaz, sabedor, mas ao cabo tão miserável como os primeiros, e assim passou e assim passaram os outros, com a mesma rapidez e igual monotonia. Redobrei de atenção; fitei a vista; ia enfim ver o último, — o último!; mas então já a rapidez da marcha era tal, que escapava a toda a compreensão; ao pé dela o relâmpago seria um século. Talvez por isso entraram os objetos a trocarem-se; uns cresceram, outros minguaram, outros perderam-se no ambiente; um nevoeiro cobriu tudo, — menos o hipopótamo que ali me trouxera, e que aliás começou a diminuir, a diminuir, a diminuir, até ficar do tamanho de um gato. Era efetivamente um gato. Encarei-o bem; era o meu gato Sultão, que brincava à porta da alcova, com uma bola de papel...
CONT. AMANHÃ
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