terça-feira, agosto 06, 2019

Uma trama no Paraguai - JOSÉ CASADO

O GLOBO - 06/08

O caso ameaça a sobrevivência do governo de Mario Abdo Benítez


Suspeitas de interferências privadas —indevidas — e a precipitação de Jair Bolsonaro em baratear o custo doméstico da energia comprada de Itaipu arrastaram o Brasil para o centro de uma crise no Paraguai.

Na noite de sexta-feira o advogado José Rodríguez González, assessor do vice-presidente Hugo Velázquez, confessou à Procuradoria Anticorrupção paraguaia ter atuado nas negociações entre os dois países para beneficiar a empresa paulista Leros, comercializadora de energia.

Essa manobra ampliou a comoção local com descoberta de que o governo do Paraguai aceitara um aumento de US$ 50 milhões por ano, até 2023, no custo da energia adquirida de Itaipu para o consumo próprio. Revelado pela repórter Mabel Rehnfeldt, o acordo foi cancelado por ser considerado lesivo aos paraguaios e benéfico ao Brasil. O caso ameaça a sobrevivência do governo de Mario Abdo Benítez.

A obscura transação com a Léros ocorreu quando Paraguai e Brasil discutiam as bases dos contratos da energia de Itaipu. O vice-presidente Hugo Velázquez mandou a cúpula da estatal paraguaia Ande, símile da Eletrobras, negociar com a Léros a garantia de monopólio na revenda no Brasil de uma cota de 300 Megawatts de potência de Itaipu. Negócio milionário sobre volume de energia suficiente para abastecer cidades como Volta Redonda, um polo siderúrgico. Entre os brasileiros estava Alexandre Giordano, apresentado como vinculado à “familia del mandatario brasileño”. Ele é suplente do senador Major Olímpio (PSL-SP), líder de Bolsonaro no Senado.

O assessor do vice Velázquez orientou negociadores de seu país a omitir do acordo com o Brasil — e manter em segredo— o monopólio da Léros.

Velázquez agora está no centro da trama ajudou a abalar as relações do Brasil com o Paraguai. A crise do acordo de Itaipu ocorre em plena celebração do “Sesquicentenário da Epopeia Nacional: 1864-1870”, a guerra perdida para o Brasil, Argentina e Uruguai. Esse tratado prevaleceu por 46 anos como um símbolo moderno da pacificação na fronteira. Sob Bolsonaro, virou fonte de convulsão na outra margem do Rio Paraná.

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