quarta-feira, maio 17, 2017

Progresso comum nas Novas Rotas da Seda - LI JINZHANG

O GLOBO - 17/05

China assinou acordos com mais de 40 países e organizações internacionais e está implementando mecanismos de cooperação industrial com 30 nações


Teve lugar nos últimos dias 14 e 15, em Pequim, o Fórum Cinturão e Rota para a Cooperação Internacional (BRF, na sigla em inglês). O evento, centrado na iniciativa proposta pelo presidente chinês Xi Jinping em 2013, reuniu mais de 1.500 representantes de uma centena de países e organizações internacionais, entre eles mais de 30 chefes de Estado ou de governo e dignatários da ONU, do FMI e do Banco Mundial. Sob o tema “Fortalecer a cooperação internacional, construir juntos o ‘Cinturão e Rota’ e alcançar um desenvolvimento de benefício mútuo”, os participantes trocaram opiniões, chegaram a amplos consensos e obtiveram resultados frutíferos.

O primeiro desses resultados é a concertação das políticas e estratégias de crescimento para formar a sinergia de desenvolvimento coordenado. Nos últimos quatro anos, no quadro da iniciativa, a China assinou acordos com mais de 40 países e organizações internacionais e está implementando mecanismos de cooperação industrial com três dezenas de nações. Entre 2014 e 2016, a China movimentou US$ 3 trilhões de comércio com os países ao longo das novas rotas da seda e fez um investimento acumulado superior a US$ 50 bilhões. Empresas chinesas estabeleceram 56 zonas de cooperação econômica e comercial com mais de 20 países, onde se criaram cerca de US$ 1,1 bilhão em receita tributária e 180 mil postos de trabalho. O Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura ofereceu um crédito de US$ 1,7 bilhão para a iniciativa, enquanto o Fundo Rota da Seda fez um aporte na ordem de US$ 4 bilhões. Durante o fórum, mais acordos foram firmados, e mais de 60 países e organizações internacionais manifestaram o interesse de fomentar a facilitação do comércio entre os envolvidos na iniciativa.

O segundo resultado foi a elaboração do mapa de rota, definindo as áreas prioritárias e a trajetória das ações. A iniciativa “Cinturão e Rota” abrange a conexão de políticas, infraestrutura, comércio e financiamento, bem como o entendimento entre os povos. Os participantes escolheram a conectividade como a principal área de cooperação, ligando as passagens terrestres e os portos marítimos, construindo uma rede de infraestrutura baseada em ferrovias, portos e dutos. A proposta também prevê fortalecer a cooperação entre autoridades aduaneiras e de inspeção de qualidade e impulsionar a compatibilidade entre os sistemas de regulamentação e padronização; acelerar a construção de corredores econômicos para alavancar a cooperação industrial por meio da criação de parques de comércio e indústria e zonas de cooperação econômica transfronteiriça; expandir os canais de financiamento para reduzir os custos e estabelecer um sistema de salvaguarda financeira de maneira estável, sustentável e com os riscos sob controle; apoiar as cooperações nos âmbitos de educação, ciência e tecnologia, cultura e saúde; e estreitar os intercâmbios de turismo, think tanks e veículos de imprensa, promovendo a facilitação do fluxo de pessoas.

O terceiro foi o lançamento de novas medidas para aprofundar as cooperações pragmáticas. Durante o evento, o presidente Xi Jinping anunciou que a China fará um aporte adicional de 100 bilhões de yuans no Fundo Rota da Seda e encorajará as instituições financeiras a investir 300 bilhões de yuans no exterior. Além disso, o China Development Bank e o China Eximbank oferecerão linhas de crédito de 250 bilhões de yuans e 130 bilhões de yuans respectivamente, destinadas especificamente a projetos de infraestrutura, indústria e cooperação financeira. Ao mesmo tempo, a China vai elaborar diretrizes de financiamento com o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura, o Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS, o Banco Mundial e outras instituições multilaterais para apoiar os projetos. Nos próximos três anos, o governo chinês vai proporcionar 60 bilhões de yuans em ajuda a países em desenvolvimento e a organizações internacionais que participem da iniciativa, sobretudo em programas sociais. Fornecerá também uma ajuda alimentar de emergência estimada em 2 bilhões de yuans a países em desenvolvimento ao longo das rotas. Fará um novo aporte de US$ 1 bilhão para o Fundo de Assistência à Cooperação Sul-Sul e outro US$ 1 bilhão a organizações internacionais para implementar uma série de projetos que beneficiam os povos. Nos próximos cinco anos, a China oferecerá 2.500 vagas a jovens cientistas para fazer pesquisas de curto prazo, treinará 5 mil técnicos e administradores na área de ciência e tecnologia, assim como colocará em operação 50 laboratórios conjuntos.

A iniciativa “Cinturão e Rota” é, até o momento, o mais importante produto de política pública que a China disponibiliza para o mundo. A participação de representantes do Brasil e de outros países latino-americanos demonstra que a iniciativa, embora inicialmente proposta pela China, é compartilhada pela comunidade internacional em vez de ser o monólogo chinês. Cobrindo diferentes regiões, distintos estágios de desenvolvimento e várias civilizações, essa inciativa é uma plataforma aberta e inclusiva que cria um bem público global. Tendo como centro o continente eurasiano, a iniciativa acolhe todos os amigos que se identifiquem com o espírito da Rota da Seda e persistam nos princípios de consulta conjunta, construção conjunta e desenvolvimento conjunto, sem excluir ou se opor a nenhuma parte. Todos serão parceiros equitativos e poderão fazer parte da inciativa da maneira que julgarem adequada. Com isso, vamos criar novas oportunidades de crescimento, buscar novas forças motrizes, expandir novos espaços para alcançar vantagens complementares e benefício mútuo, fazendo avanços em direção a uma comunidade de destino compartilhado.

Nos últimos anos, com o espírito de igualdade, benefício mútuo, cooperação e ganhos recíprocos, China e Brasil conquistaram avanços positivos na concertação de políticas, conexão de infraestrutura, fluidez do comércio, circulação de moedas e entendimento mútuo. Em um futuro próximo, os dois países devem fortalecer ainda mais a coordenação de suas estratégias de desenvolvimento, ampliar a cooperação em investimento, capacidade industrial e infraestrutura, promover a facilitação de comércio e investimento e estreitar intercâmbios humanísticos. Tenho a convicção de que as novas iniciativas e medidas lançadas no BRF contribuirão não só para aperfeiçoar a governança global e promover a criação de uma comunidade de destino compartilhado, como também oferecer novas ideias e novo impulso às nossas relações bilaterais.

Li Jinzhang é embaixador chinês no Brasil

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