domingo, outubro 04, 2015

Os brasileiros não merecem - SUELY CALDAS

O Estado de S. Paulo - 04/10

É o ministério da mediocridade, zero de coerência com um projeto para o Brasil, zero de competência específica para os cargos, abaixo de zero em credibilidade. É coisa do passado escolher ministros com critérios de conhecimento específico, liderança em gestão e programa de ação para a pasta. Com a reforma ministerial, o governo virou um "salve Dilma", porque o único propósito é impedir o impeachment no Congresso - embora o PT saiba que só vai conseguir alongar a trágica agonia da presidente. Até quando? O PT, ela e Lula (este como interventor) mediocrizaram e reduziram o País à Praça dos Três Poderes, em Brasília, deixando 200 milhões de brasileiros ao relento, desabrigados, sem horizonte, sem esperança, vivendo as situações do desemprego, que dispara, dos salários que encurtam e da inflação, que confisca o dinheiro das famílias. Demitir da Educação o professor Renato Janine Ribeiro, único ministro com planos para melhorar a sua área, deixa vazio, sem sentido e desmoralizado o slogan Pátria Educadora. Melhor tirá-lo do ar.

Tudo isso por causa de governos desastrados do PT, que brincaram de governar, exorbitaram em gastos públicos e foram desmoralizados com a corrupção. Seu único projeto para o País foi tão somente se perpetuar no poder. E para quê? Eles também não sabem. Até na área social o populismo desarvorado, combinado com a gestão autocrática e incompetente do dinheiro público, minou os feitos de Lula e Dilma e tornou muito breve a alegria dos brasileiros que ascenderam à classe média, passaram a consumir bens, acreditaram que teriam emprego garantido no futuro e, agora, veem desaparecer tudo o que conquistaram.

Pesquisa recente do Ibope confirma o divórcio entre a presidente e a população. Com menos de um ano de reeleita, Dilma hoje é reprovada por 82% dos brasileiros e sua popularidade está em 10%, a mais baixa da história republicana. Em ritmo tão acelerado, essa distância foi se alongando à medida que os eleitores que nela votaram (de todas as faixas sociais) descobriram suas mentiras, que os iludiram na campanha eleitoral, e hoje se sentem traídos.

Não prospera e nada constrói um governo sem credibilidade. E Dilma, PT e Lula perderam a confiança dos brasileiros - ricos e pobres, empresários e trabalhadores, investidores e operários, jovens e idosos. A reforma ministerial, por sua vez, foi um golpe mortal naqueles que ainda acreditavam, sem nenhum interesse. Restaram a ela as lideranças (sem apoio dos representados) de movimentos sociais comprados com generosas verbas do governo nos últimos anos. Só que, agora, o dinheiro sumiu, a fonte secou e eles começam a abandonar o barco, como os sem-teto acabam de anunciar. O mais triste e lamentável desses movimentos é a União Nacional dos Estudantes, a famosa UNE, com uma memorável história de lutas e liderança, hoje rebaixada ao clube dos pelegos e rejeitada pela grande maioria de jovens estudantes.

Neste movimento de desconstrução, a crise política segue piorando e devorando qualquer esperança de recuperar a economia. Nos últimos dias, o governo divulgou uma coleção de más notícias, que espicham o túnel escuro sem fim e sem luz: o ajuste fiscal fracassa e o governo central acumulou déficit de R$ 14 bilhões até agosto; a taxa de desemprego bate recorde, saltando para 8,6% até julho e elevando para 8,6 milhões a população desempregada no País; com 27 empresas na fila, governo só libera verba do Programa de Proteção ao Emprego para 6 empresas; entre 140 países pesquisados, em um ano o Brasil perdeu 18 posições no ranking mundial de competitividade, recuando para o 75.º lugar; e, sem subsídios tributários, a venda de carros novos vai cair 24% este ano. De positivo, só os números do setor externo, alimentados pela desvalorização do real, que incentiva a entrada e inibe a saída de dólares, mas causa enorme estrago para a inflação e a alta dos preços.

Francamente, não será com ministros que só querem extrair vantagens para seus partidos ou redução de 10% em seus salários que Dilma vai recuperar a economia e a confiança do Brasil.


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