segunda-feira, julho 14, 2014

O fim de Tóis - JOAQUIM FERREIRA DOS SANTOS

O GLOBO - 14/07

Os guerreiros de Tóis julgavam-se predestinados pelo sangue dos antepassados



É pau, é pedra, é o fim do caminho da Civilização Tóis, aquela que os guerreiros do condado de Comary inventaram para dominar o planeta futebol e para todo o sempre ser invencível. Ela exigia de seus súditos o cumprimento em que a mão direita fazia o poste enquanto o antebraço esquerdo servia de travessão, formando o T da palavra mágica. “Pelos poderes de Tóis”, gritavam no meio das rodinhas antes das batalhas — e se julgavam mais motivados.

Ninguém sabia onde queria chegar aquela confraria de homens adolescentes, sempre caminhando em fila indiana, as mãos nas costas do guerreiro que seguia na frente. O mundo adulto ria, mas eles vinham de uma civilização na floresta onde o importante era ser fofo. Foi assim que se conheceram no pátio escolar, meninos com alegria nas pernas, e assim caminhariam, uma chuteira de cada cor, a barra da cueca à mostra. Diziam-se uma família.

Os guerreiros de Tóis julgavam-se predestinados pelo sangue vitorioso de seus antepassados e com poderes suficientes para viver isolados na nova civilização de orgulho que fundaram. João Gilberto sussurrou e criou a bossa nova. D. Pedro inventou um país com o “Independência ou morte”. Agora, os canarinhos tropicais fundaram Tóis, abaixo da fortaleza do Dedo de Deus. A rocha energizava seus pés, eles acreditavam, ajoelhados contritos no meio do campo.

Durante um mês, estes 23 soldados furaram o nevoeiro da serra onde se aquartelavam e, como se fossem entidades divinas surgindo em meio às brumas de Avalon, desciam à várzea para enfrentar os fariseus que ousavam desafiá-los, eles, os autoproclamados reis eternos do futebol mundial. Sentiam-se semideuses, falavam da magia do bigode grosso e da união do grupo. Eram os valores do mundo Tóis. Zero de conversa sobre futebol, pois já de tudo sabiam.

Os guerreiros de Tóis eram os mais tatuados das guerras, todos rabiscados com a miríade de possibilidades inventadas para se imprimir qualquer maluquice na pele de um ser humano. Julgavam que isso seria tática terrível para assustar outras tribos. Pintavam-se de caveiras, dragões, morcegos e hieróglifos. Um desses guerreiros, além da cabeleira em volutas como a Hidra de Lerna, escreveu no braço “Não sou dono do mundo, mas sou filho do dono” — e supunha agora carregar ali a arma mortal de um para-choque de FNM. Morreria mais adiante, atropelado por um jogador alemão.

Antes das pugnas, os meninos de Tóis faziam questão de cantar inteiro o hino de seu condado, num impressionante festival de cenhos franzidos, gargantas arreganhadas e outros exageros da espécie. Seus antepassados, vencedores em cinco torneios, nunca souberam uma frase do tal hino, complicadíssimo. A encenação do canto a capela não tinha nada a ver com o jogo, não marcava gols e deixava os guerreiros emocionalmente exauridos. De onde estavam, no entanto, podiam ouvir o locutor dizer: “Estamos todos arrepiados”. Achavam por isso que estavam com a mão na taça.

Os guerreiros de Tóis chegaram a levar para o campo de batalha a túnica de um soldado ausente, ferido num combate anterior, numa tentativa mediúnica de incorporar as forças dele aos sobreviventes. Achavam possível utilizar a túnica de pano como arma de guerra. Vertiam lágrimas sob qualquer pretexto. Chorava mãe, chorava pai, chorava todo mundo. O mais velho conversava com uma imagem de Nossa Senhora de Caravaggio.

Definitivamente, o ar rarefeito da montanha onde viviam isolados começava a lhes fazer mal. Gol, só de canela. A qualquer contato com o próximo, caíam ao chão, contorcendo-se em dores invisíveis ao mais detalhista dos raios x.

As ordens com que administravam os combates vinham de um velho pajé, gordo de tanto anunciar lasanha na TV. Sua tática era sempre a mesma: “Atacar com motivação, defender com autoajuda”. Ele agora tinha como truque principal a capacidade de se transformar em sósias e espalhar a confusão. Ninguém sabia afirmar com certeza quem era quem, mas diante de algum comentário mais lúcido costumava-se creditar as palavras ao sósia. Na Civilização Tóis todo mundo achou a multiplicação do técnico como uma versão moderna da multiplicação dos pães, o sinal metafísico de que a guerra, ao findar do sétimo passo, estaria ganha.

Os guerreiros de Tóis se achavam acima do bem, do mal e também por cima da carne-seca, o alimento da infância que agora havia sido trocado pelas marmitas mandadas trazer da Espanha, do novo restaurante do chef Ferran Adrià. Alguns pintavam o cabelo todo dia, mas nunca acertavam o corte. A guerra do futebol passou a ser apenas um detalhe, algo transmitido no telão onde avaliavam como lhes ia a beleza.

Não treinavam. Tinham a força, a espada de Grayskull, o grito de Shazan, o apito do japonês, o licor de jurubeba e o pó de pirlimpimpim. Na hora agá, resolveriam. Tóis era a reunião de todos os poderes mais aqueles que os marmanjos adolescentes tinham visto nos videogames da caserna na serra — e, dedicados a se curtirem e se compartilharem nas redes sociais, nem perceberam o bicho vindo pelo meio de campo desocupado. Foram sete dentadas na vaidade, na preguiça, na ignorância e nos pescoços onde estava tatuado “Tudo passa”.

Nada passa, tudo fica — e fez-se o apagão eterno em Comary.

Nunca mais Tóis.

Amarelou - LUIZ FELIPE PONDÉ

FOLHA DE SP - 14/07


Um dia a seleção brasileira é inspiração para todos, outro dia é alvo de laranja podre; o fã é mesmo infiel


Acho excessiva a ideia de que a derrota (merecida) do Brasil para a Alemanha demande cuidados especiais para com as crianças ou os adultos. Afinal, "é só futebol". Parece-me um tanto ridícula toda essa frescura com o "Mineiraço". Mas vivemos mesmo num mundo meio ridículo em que todo mundo precisa de "cuidados".

A inflação do afeto tornou-se valor. Esses exageros têm um valor evidente: escondem, como todo mundo sabe, o medo. Isso nunca dá certo na vida real. E a seleção amarelou mesmo. Não aguentou a pressão. E o povo esperava apenas uma coisa: sucesso. Não se perdoa o fracasso, ainda que um monte de gente diga o contrário, e diga isso por mau-caratismo ou porque quer vender autoestima.

Por outro lado, sim, precisamos de cuidados psicológicos para viver. A vida moderna nos brinda com incertezas, ambivalências, dúvidas quanto aos afetos, aos valores, aos horizontes, aos comportamentos. Os modos antigos de vida não servem mais porque (supostamente) não dão conta da complexidade da vida. Já disse nesta coluna algumas vezes que duvido dessa história de que o mundo mudou muito. Acho que tem muito papo furado nessa história de "as novas gerações têm uma outra cabeça" (a frase é ridícula por si só). Mudou o cenário, o enredo continua sendo escrito pelo bobo de "Macbeth".

Mas, sem dúvida, "futebol é mais do que apenas futebol". Não, não estou me contradizendo. O esporte é parte da cultura e, portanto, futebol é, num certo sentido, mais do que futebol. Mesmo que não tenha uma relação direta com o resultado das urnas ou com as decisões de consumo, a seleção é parte do universo de representações culturais que os brasileiros têm de si mesmos. E esse 7 X 1 é mais uma crise de representação num mar de crises de representações no Brasil desde o ano passado.

E nesse sentido, o futebol, como o grande Nelson Rodrigues dizia, é uma tragédia grega. Cai bem chamar os estádios de arenas, já que os jogares são um pouco como gladiadores. E o comportamento da torcida é um pouco como o da torcida que assistia aos gladiadores na antiga Roma: o povo podia passar do desprezo à misericórdia, ou o inverso, em segundos, caso julgasse que um gladiador ou outro merecia uma das duas atitudes. Um dia a seleção brasileira é inspiração para os jovens, outro dia é alvo de laranja podre. O fã é um infiel por excelência.

O povo, ao contrário do que a esquerda mentirosa e os marqueteiros dizem (ambos dizem isso por interesses comerciais, só que os marqueteiros são honestos e confessam), nunca foi de confiança.

Quer um exemplo de que, apesar de todo o blablabá emocional e "psi" ao redor do fracasso da seleção, o mundo não mudou? Vejamos:

Nas antigas arenas romanas, o povo podia ser misericordioso ou cruel segundo alguns critérios, um deles se o gladiador resistia ou não à pressão da luta. Uma velha virtude em jogo: a coragem.

Infelizmente, a seleção brasileira não resistiu à pressão. Amarelou. Claro, não jogava bem, bons jogares sem conjunto e tudo aquilo que os especialistas já falaram. Mas, além disso, ficou clara a dificuldade de suportar a enorme pressão de um povo com uma expectativa excessiva em relação à Copa em casa.

Podemos apontar a diferença entre, por exemplo, holandeses e alemães e seu futebol "científico", por oposição ao nosso latino-americano, o futebol-arte. Mas tudo isso é passado. Não existe futebol-arte, assim como não existem mais vovôs e vovós (estão todos na academia querendo se parecer com os netos). Mas temo que o problema foi além disso.

A seleção foi bem representativa da cultura brasileira dos últimos tempos. Chorona, ressentida, delirante, sem resultados.

Com a era Lula, muitos acreditaram mesmo que sairíamos do buraco com a "bolsa-voto", casas de graça, carros sem impostos e outras invenções baratas.

A palavra "autoestima" foi muito ouvida nos últimos tempos, principalmente na Copa. É comum hoje as pessoas acharem que todo mundo (e a mídia também) deve se preocupar antes de tudo com a autoestima das pessoas. Discordo. É este mundo da autoestima que forma os amarelões.

Catarse - MIRANDA SÁ

BLOG DO MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)


Aristóteles, aluno de Platão e responsável pela educação de Alexandre, o Grande, estudou o comportamento do público assistente após as tragédias teatrais, utilizando o termo catarse (do grego “kátharsis”) para o efeito causado na platéia. Para o grande filósofo, havia uma purificação da alma popular com a descarga emocional provocada.

A reação gerada na catarse foi usada por Freud na psicanálise para a cura de problemas emocionais dos seus pacientes usando, no processo, a hipnose pelo método do seu colega Joseph Breuer.

As igrejas cristãs, começando pela anglicana e principalmente pelas evangélicas norte-americanas, usam nos seus rituais métodos catárticos, de hipnose através da música, danças e mesmo procedimentos hipnóticos freudianos.

Nos círculos midiáticos esportivos reclama-se uma purgação no futebol, não como terapia clínica, mas uma intervenção política no futebol diante do trauma provocado pela acachapante derrota da seleção brasileira na Copa que sediou, com gastos exorbitantes, um verdadeiro escarno para uma Nação necessitada de serviços básicos na Educação, Saúde e Segurança.

A “tragédia” no Brasil com a convulsão de paixões, batucadas, gritos e choro, estimulados pela perda futebolística nos jogos mundiais, reclama por uma catarse, no estertor do “patriotismo do chute” e tornou-se um mantra entre os comentaristas esportivos, principalmente no “jornalismo” televisivo.

Fraudulentamente, a exigida depuração do futebol foi proposta pelo PT-governo num oportunismo típico da pelegagem: a sinistra estatização da CBF, arrastando verbas públicas que escorrem nos ralos da corrupção e proporcionando o empreguismo à disposição dos eternos aproveitadores.

Um dos jornalistas de grande audiência na TV, Juca Kfouri, embora colaboracionista do poder lulo-petista, usou sua inegável inteligência, para “queimar” a Futebras – a estatal pensada pelos governistas. Ele propõe uma agência reguladora, mesmo sabendo que essa jamais funcionará nesse governo, como as outras que foram escanteadas pelos atuais dirigentes.

A catarse a ser perseguida por nós é a CPI do Futebol, abrangente, reestruturando federações e confederações do setor, e capaz de alcançar os desmandos que assistimos no País desde o sediar da Copa/14, até a tragédia da derrota da Seleção, passando pela desenfreada roubalheira de governantes, “consultores” e empreiteiras.

A descarga emocional provocada pelo drama da Seleção não é dos fortuitos “patriotas do chute”, nem dos “comentaristas” usufrutuários da safra promovida pela FIFA, mas sofrida pelos autênticos amantes do futebol.

Estes defensores honestos da limpeza e modernização do esporte das multidões repudiam a politização dos jogos por um governo medíocre sedento de se manter no poder a qualquer custo; e não confiam que venha dele nem dos seus arautos a catarse para a purificação do futebol, como de resto da administração pública corrupta…

Coletiva - LÚCIA GUIMARÃES

O ESTADO DE S.PAULO - 14/07


A coletiva da CBF depois do 7 a 1 me proporcionou uma surpresa, num dia em que não esperava me surpreender com mais nada, depois do que aconteceu no campo. O extraordinário espetáculo de evasão de responsabilidade; as platitudes oportunistas sobre a relação entre futebol e a vida; a lamentável leitura da carta da D.Lucia que fez um grupo de marmanjos parecer crianças chorando pela mãe depois de apanhar no recreio da escola; e, afinal, a impressionante deferência demonstrada por parte da imprensa esportiva com o grupo que tinha acabado de comandar o pior vexame do futebol brasileiro de todos os tempos.

Pensei, só falta agora aplaudirem no final. Do chão não passa, me diziam quando criança, depois de um tombo. Passa, sim. Com esta triste cena em mente, ofereço meus préstimos para os escribas que vão a Fortaleza cobrir a reunião dos BRIC's. Pela segunda vez, em uma semana, seremos anfitriões mas não protagonistas. Não com a estreia de Narendra Modi, o nacionalista que cruzou os braços ou instigou um massacre de muçulmanos quando era governador de Gujarat em 2002 e o político com maior número de votos do planeta. Modi foi eleito por 170 milhões dos mais de 500 milhões de indianos que foram às urnas em maio. Ou com a presença de Xi Jinping, cuja importância dispensa argumento.

E teremos Vladimir Putin, que acaba de abocanhar o equivalente a uma Bélgica do território de um país independente e está numa turnê de charme pelo continente que era tão frequentado por sua antiga patroa KGB. Se nossos intrépidos repórteres sobreviverem ao asco da untuosa comitiva da rede RT, Russia Today, a versão pós-soviética e de língua inglesa da propaganda oficial do Kremlin, se conseguirem tomar a palavra desses papagaios stalinistas, aqui vão umas sugestões na contramão do que vimos no trato com a CBF.

1. A que o senhor atribui o extraordinário índice de popularidade de 86%, percentagem que fascistas, homossexuais, ateus e intelectuais russos denunciam como fantasiosa?

2. O senhor considera uma denúncia do sistema de percentagem que os decadentes romanos inventaram antes de Cristo e a transição para um novo sistema matemático que permita às pesquisas exibirem números de sua popularidade superiores a 140?

3. Se o chamado Putinismo é ancorado na mobilização contra inimigos externos ou internos, quais os seus planos para nomear um moinho de vento antes das eleições de setembro? Já que o Canadá tomou a iniciativa de impor mais sanções por causa da Ucrânia, o senhor não acha que o canadense Justin Bieber resume tudo o que a Nova Rússia abomina? E ele tem a vantagem do reconhecimento instantâneo pela juventude russa.

4. Uma vez que o senhor se cansou dos rebeldes que armou no Leste da Ucrânia e o exército de Petro Poroshenko parece que não vai largar o osso, quais os seus planos para absorver de volta ex-agentes da KGB e nacionalistas lunáticos armados com kalashnikovs, furiosos porque o senhor não telefona mais nem deixa recado?

5. O senhor pretende pedir ajuda ao Scolari para explicar aos russos por que gasta US $ 18 bilhões com a Crimeia, enquanto a economia russa cresce 0 por ano?

6. Ao contrário do que sugeriu o governo brasileiro, o combate à exportação de futebolistas russos para o exterior não teria impacto em 2018. O senhor contempla medidas de emergência equivalentes às que tomou em Socchi? Como, por exemplo, enviar a spetsnaz para sequestrar em Londres os bens, quer dizer, jogadores, de seu amigo oligarca Roman Abramovich, dono do Chelsea F.C.? Como vimos na invasão da Crimeia, a cidadania russa pode ser obtida com enorme velocidade e todo homem tem seu preço.

7. O senhor pretende tirar a camisa e cavalgar numa praia de Fortaleza? Como somos bons anfitriões, Vladimir Vladimirovich, precisamos explicar a diferença do impacto causado por seus rígidos peitorais desnudos no puritano mundo anglo saxão e nas nossas praias. Aqui, gesto semelhante só surtiria efeito se partisse da Angela Merkel.

Spasibo pela atenção.

Erro de diagnóstico - FABIO GIAMBIAGI

O GLOBO - 14/07

Brasil vive hoje um problema clássico identificado no capítulo 1 de qualquer manual de macroeconomia



O Brasil padece as consequências de um erro de diagnóstico. Em discurso no Senado, pronunciado em 3 de setembro de 1891, Rui Barbosa, com sua verve inconfundível, exclamava: “Eu quisera, nos meus antagonistas, senão justiça para comigo, ao menos lógica na ligação entre as suas premissas e as suas conclusões.” O velho Rui, se vivo fosse hoje e se encontrasse entre os críticos do governo, teria dificuldades em identificar tal “ligação entre as premissas e as conclusões” analisando a retórica que marca a defesa da política oficial.

José Dirceu, em seu esforço de fazer o contraponto ideológico com as teses da oposição e em tentativa de contestar os argumentos de um — na época — muito comentado texto de Fernando Henrique Cardoso, escreveu em julho de 2013, em artigo publicado na revista “Interesse nacional”, que “ao apostar na formação de um mercado interno robusto, o governo Lula mirou a colheita de frutos para todos, consubstanciados no chamado ciclo virtuoso de crescimento” (página 11). Ele dava eco assim às teses que, em plena fase de “tocar bumbo”, o Partido dos Trabalhadores tinha começado a propagar desde o começo do ano passado, teses essas que foram consagradas no documento partidário produzido pelo Instituto Lula denominado “O decênio que mudou o Brasil”, de fevereiro de 2013, com texto digno dos documentos da época do “realismo socialista” da União Soviética e desenho na capa onde Luiz Inácio Lula da Silva aparece com ares de líder visionário, ao lado da presidente Dilma Rousseff e sob uma bandeira brasileira. Na típica linguagem épica daqueles documentos, cujo clímax retórico foi a seção com título “O decênio glorioso”, o PT destacava que o “jeito petista de governar” tinha permitido ao país “enfrentar a crise global buscando fortalecer o seu modelo interno” (pág. 24) seguindo “um caminho próprio, distinto do observado atualmente em outras economias, que permite ao país sair da crise global muito mais pujante”.

Na origem dos problemas que o Brasil vive hoje, mais do que o divórcio entre a retórica e a realidade, mais do que a contradição entre as premissas e as conclusões de que falava Rui Barbosa, encontra-se um erro de diagnóstico. O que o Brasil vive hoje é um problema clássico identificado no capítulo 1 de qualquer manual de macroeconomia.

Para que o leitor entenda melhor isso, vamos expor alguns números. Em 2007, o Brasil tinha a) superávit primário de 3,3% do PIB; b) superávit nas suas transações correntes com o exterior; c) um custo da sua mão de obra que tornava a economia brasileira competitiva; d) inflação rigorosamente na meta (4,5 %); e e) poupança doméstica de 18% do PIB e consumo de 80% do PIB. A economia ainda não se ressentia muito do desmonte sistemático das bases para o crescimento duramente construídas no período FH e reforçadas nos primeiros anos do governo Lula, quando a economia estava sob a direção do ministro Palocci. Sete anos depois, em 2014, após a vigência intensa da política de “pau na máquina”, com doses reforçadas de injeções de demanda e estímulos ao consumo, qual é o quadro? Vejamos o contraste: a) superávit primário de 1,5 % do PIB, com viés de baixa; b) déficit externo da ordem de US$ 80 bilhões; c) custo unitário da mão de obra na indústria 17% superior ao de 2007; d) inflação no teto de 6,5%; e e) poupança doméstica de 14% do PIB e consumo de 85% do PIB. O Brasil financiou uma festa — com poupança externa. Espantosamente, naquele mesmo documento antes citado, o PT afirmava que “o salário médio real dos trabalhadores cresceu acima dos ganhos de produtividade. Entre 2003 e 2010, por exemplo, o aumento acumulado da produtividade foi de 13,2% ante a expansão de 20,8% do salário médio real. Para cada aumento de 1% na produtividade, o salário médio real aumentava 1,6%” (página 13). A razão do espanto não é que os números sejam falsos, mas o contrário: que se utilize como exemplo um argumento que, se é compreensível do ponto de vista político, é lapidário em termos econômicos.

De fato, se quisermos entender por que o Brasil está flertando com uma crise, basta reler o parágrafo anterior: crescimento dos salários acima da produtividade é garantia de inflação e problemas de balanço de pagamentos. Exatamente o que estamos vendo.

Fim de papo no Maraca - ELENA LANDAU

FOLHA DE SP - 14/07


O assunto agora é eleição. A campanha começa para valer. Temo que seja dominada por uma inútil guerra de estatísticas sobre o passado. O desejo de mudança captado pelas pesquisas pede programa de governo no centro das discussões, candidatos dialogando com o eleitor, e não uma campanha dominada pelo marketing.

O Plano Real foi um divisor de águas. A estabilização permitiu que os governos seguintes consolidassem e ampliassem programas de inclusão social. Os ganhos dos últimos 20 anos já foram incorporados. Talvez mais importante ainda que um desejo genérico de mudar, seja a garantia de que não haverá retrocesso. Ninguém quer perder o que ganhou, por isso a deterioração evidente da economia causa preocupação. Heranças já não me parecem tão relevantes. O futuro, sim.

Felipão em suas entrevistas após o vexame contra Alemanha minimizou o desastre. Foi apenas um dia atípico do futebol, disse. Com sua fala, confirmou o que o todo mundo já sabia: um técnico teimoso que insistiu em repetir erros evidentes desde o primeiro jogo. A apresentação de feitos passados de nada adiantou.

Nesse momento, é inevitável lembrar uma frase da presidente Dilma: "Meu governo é padrão Felipão". De fato. Em tudo se assemelha a ele. Diante de todas as evidências de que o modelo econômico não está funcionando, o governo insiste na mesma trajetória e aprofunda os erros. De forma arrogante, a presidente chama os que dela discordam de pessimistas --"eles"--, enquanto "nós" sabemos o que é bom para a sociedade. Seu distanciamento da realidade e do eleitor também lembra a CBF. Isolada em seu castelo, diz que vai tudo muito bem e nada precisa ser revisto.

A derrota humilhante mexeu com o torcedor que parecia até então conformado com a péssima administração do futebol feita pela CBF. A resposta imediata do governo foi propor mais intervenção no direito de ir e vir dos jogadores, reproduzindo os erros do modelo econômico. Já mudaram de ideia, não há pensamento organizado. Após o desastre aparecem soluções dispersas para salvar nosso futebol. Sete anos não foram suficientes para planejar a participação do Brasil na sua própria Copa.

Como a derrota da seleção, o fracasso da política econômica é previsível. O governo luta para manter uma inflação reprimida no teto da meta que teima em subir mesmo com a grande defasagem nos preços públicos. O crescimento econômico do ano será pífio, apesar dos incentivos concedidos e dos bilionários desembolsos dos bancos públicos. A produtividade da nossa economia é baixa, a competitividade idem. As contas públicas não têm a menor credibilidade. Qual será a resposta dos candidatos para esses problemas? O país não aguenta outra goleada.

Oportunismo e bomba energética - RAUL VELLOSO

O GLOBO - 14/07


Sem o devido equacionamento financeiro, o problema cai hoje no colo das empresas que atuam nesse setor



Nas concessões de transportes, as empresas se debatem hoje com a postura oportunista do governo, que tenta reduzir a rentabilidade original dos projetos à medida que avança a implementação dos badalados contratos que foram assinados recentemente. Aproveita, assim, a redução gradativa do poder de barganha dos concessionários que ocorre ao longo de sua execução (veja artigo na primeira página de www.raulvelloso.com.br).

Há evidências de comportamento semelhante no setor elétrico, especialmente no ramo da distribuição, onde os investimentos pós-leilão são inadiáveis, mas difíceis de prever no início do processo. A fim de agradar aos eleitores no curto prazo, o governo aproveita o alto custo que o empreendedor privado teria de assumir para desistir da concessão, e impõe a redução das taxas de desconto nos cálculos de reequilíbrio dos contratos. É o mesmo que impedir que as tarifas aumentem para fazer face a gastos adicionais com investimentos ou outras despesas não previstas originalmente, como novos impostos, por exemplo. Esse tipo de comportamento é danoso à evolução futura da combalida infraestrutura brasileira, pois aumenta o risco regulatório e induz o capital privado a desistir da atividade ou a exigir maiores tarifas no futuro a fim de compensar o aumento de risco.

No setor de energia elétrica, a grande bomba que paira no ar é o custo do acionamento continuado, desde 18/10/12, das caríssimas termelétricas de reserva, cerca de 12,5% da carga total, que só vale a pena pagar quando ocorre em períodos curtos e eventuais. Segundo estimativa do Instituto Ilumina, até agora essa brincadeira custou cerca de R$ 50 bilhões (R$ 2,3 bilhões mensais), a incidir à frente e basicamente no bolso dos consumidores de energia, dado que o governo, grande responsável pelo problema, não fará nada impopular antes das eleições e o orçamento não tem fundos. O cálculo considerou um custo médio, talvez subestimado, de R$ 420/MWh. Se o problema persistir por mais 12 meses, a conta aumentará para R$ 78 bilhões!

Sem o devido equacionamento financeiro, o problema cai hoje no colo das empresas que atuam nesse setor. Enquanto isso, em entrevista à “Conjuntura Econômica”, o secretário do Tesouro disse que vai assumir apenas uma parcela de R$ 4 bilhões dessa conta, e uma associação privada que atua na área já intermediou um empréstimo bancário de R$ 11,8 bilhões, discutindo-se hoje um aditivo de R$ 3 a 4 bilhões.

Quanto às causas, a desculpa oficial é a seca, especialmente na região Sudeste/Centro-Oeste, mas muito disso se deve à prática de preços artificialmente baixos e à consequente evolução desfavorável da oferta de energia elétrica no país, em grande medida pelas políticas de cunho populista que têm prevalecido na fixação de tarifas públicas, desde o primeiro governo do PT. Para piorar, após o acionamento das usinas de reserva, vieram a polêmica Medida Provisória 579 e a redução de 20% nas tarifas ao consumidor que ela pretendeu viabilizar.

O problema, contudo, não se manifesta apenas no custo brutal acima indicado. Em que pese o acionamento de todas as térmicas de reserva, além de caras elas se mostram insuficientes. Tanto assim que as da região Sudeste/Centro-Oeste, que respondem por 70% da capacidade total de armazenamento, estavam com apenas 36,3% de sua capacidade no fim de junho. A continuar nesse ritmo, os percentuais estarão bem mais baixos no reinício das chuvas, de forma que, sem contenção do consumo, as térmicas que custam “ouro” terão de permanecer acionadas enquanto os níveis dos reservatórios não voltarem à normalidade, em data difícil de prever. A título de comparação, esses mesmos reservatórios tinham 28,5% no fim de junho de 2001, ano em que o governo da época decidiu economizar energia por meios não convencionais, e em que havia umas poucas termelétricas de backup no País. Esses números dão uma dimensão do aperto em que nos encontramos, apesar das declarações tranquilizadoras das autoridades, assegurando que não haverá racionamento. Em resumo, há uma conta gigantesca para ser paga, ainda sem fechamento, e, mesmo assim, um alto risco de se ter de adotar uma solução heterodoxa, complexa e indesejável, de redução forçada do consumo.

Indo mais fundo, percebe-se uma combinação de graves erros de planejamento. Dadas as atuais termelétricas de reserva, há grande carência de novos projetos de hidrelétricas com reservatórios, que são as menos custosas. Nessa área, pressionado pelo lobby ambientalista, o governo simplesmente desistiu de construir esse tipo de usina, agravando a carência de energia mais barata. Do outro lado, na hipótese de uma expansão mais limitada de hidrelétricas, é preciso combiná-las com um maior contingente de termelétricas de reserva, mas estas precisam ser bem mais baratas que as atuais. Nesse contexto, falta esclarecer por que não decolaram as termelétricas a gás, nem aquelas cujo combustível é o bagaço de cana, tão abundante num país que tem a expressiva produção de açúcar e álcool que nós temos.

Monoglotas de espírito - VINICIUS MOTA

FOLHA DE SP - 14/07


SÃO PAULO - A exportação de talentos faz mal ao futebol brasileiro. Os craques têm de ficar perto da torcida e dos treinadores locais. Essa tem sido a solução decantada no interminável debate sobre como revigorar o esporte nacional após a coça da coças, os 7 a 1 do Mineirão.

Giramos, giramos e voltamos ao mesmo lugar. A conclusão de que a exportação de jogadores é problema a ser combatido reincide no atavismo autárquico que impregna a cultura política brasileira e atrasa o país.

Quem deseja usufruir das vantagens do mundo moderno, ser produtivo como os povos mais prósperos, adquirir os saberes mais atualizados, no futebol e fora dele, precisa se abrir, viajar e receber estrangeiros em profusão, exportar e importar em cópia, falar a língua global.

Monoglota de fato, a população brasileira teve a felicidade, durante a Copa, de lidar com turistas de várias nacionalidades nas cidades-sede. A hospitalidade e a cordialidade equilibraram a falta de hábito e de recursos comunicativos. Que tal se tornássemos a experiência mais frequente e menos chocante?

Monoglotas de espírito, dirigentes no futebol e fora dele empastelam a abertura e a modernização. Alguns iludem-se e iludem-nos com ideologias nacionalistas ultrapassadas, como se as dimensões continentais do território e da população transformassem o Brasil, automaticamente, num país que se basta a si mesmo.

A nação que se fecha, evita acordos comerciais, manda poucos trabalhadores e estudantes para fora e pouco recebe os de outros países está condenada à mediocridade. Passará ao largo das rotas de prosperidade na economia, na cultura, na ciência e também no futebol.

Jogadores que foram atuar fora do país experimentam o que há de mais avançado nas práticas futebolísticas. São hoje melhores profissionais do que jamais poderiam tornar-se na triste realidade dos clubes brasileiros. Viva a exportação de craques!

Liberdade e tutela - DENIS LERRER ROSENFIELD

O ESTADÃO - 14/07


A grande expectativa de conquista da Copa do Mundo e o seu fiasco, assim como outro campeonato, o das pesquisas de intenção de voto, terminaram por ofuscar outros problemas que continuam atormentando a sociedade brasileira. A liberdade de escolha, um dos pilares de Estados democráticos, continua, cada vez mais, submetida à tutela estatal. Os cidadãos são tratados como se fossem menores de idade, incapazes de decidirem o que é melhor para si.

Claro que tudo isto não é feito em nome do autoritarismo, mas, supostamente, em nome do bem da cada um, como se fosse missão do Estado exercer uma espécie de monopólio da virtude. Contudo, a associação entre o anticapitalismo e o autoritarismo do bem (pró-saúde, geralmente) não é nada saudável.

Em São Paulo, a marcha autoritária avançou ainda mais na limitação das liberdades, visando a diminuir a influência dos pais sobre seus filhos. A Câmara de Vereadores dessa cidade aprovou recentemente em segunda discussão o projeto de lei que proíbe a venda casada de alimentos, lanches e ovos de Páscoa acompanhados por brinquedos, pelas redes de fast-food, lanchonetes ou qualquer estabelecimento comercial.

O projeto aprovado ainda depende da sanção do prefeito Fernando Haddad. Até o momento, a prefeitura não indicou qual será o desfecho. Vale lembrar que o autor do projeto, Arselino Tatto, é petista e líder do governo na Câmara de Vereadores.

O vereador disse em entrevista que se baseou em uma reportagem de TV para propor a proibição. Segundo ele, “eles incentivam o consumo quando colocam brinquedos dentro dos alimentos. É um pouco para trazer esse debate à tona para que os pais tenham essa preocupação. Se transformar em lei, eles podem vender esses produtos, mas sem os brinquedos dentro porque isso não atrairia muito as crianças”.

Soa leviano propor (e aprovar) uma lei com base em um programa de televisão. Entretanto, para os defensores da tutela, esta também poderia ser aplicada a eles. Talvez fosse prudente a população, como ato de defesa, propor uma lei para limitar as horas a que os parlamentares têm direito em frente aos televisores. Programas sem a supervisão de pessoas responsáveis podem incentivar a proliferação de leis descabidas.

Ademais, justificou o projeto apelando para a existência de “estudos”. Disse ele: “Mas há estudos que mostram que o consumo é incentivado quando brinquedos são colocados dentro de alimentos. Tem a ver com a obesidade e acaba sendo um alerta para os pais.”

Note-se que são sempre “estudos”, normalmente meras hipóteses de trabalho, que são considerados como se fossem “verdades”. Embora possam mesmo ser verdadeiros, não caberia, de modo algum, ao Estado tomar o lugar dos pais na educação de seus filhos. Ao Estado caberia, isto sim, informar os cidadãos sobre os malefícios de determinados produtos, deixando às pessoas a decisão de seguirem ou não essas orientações.

Trata-se, mais uma vez, da tentativa de restringir a liberdade de escolha das pessoas. O exemplo mais paradigmático diz respeito às restrições cada vez mais abusivas em relação ao fumo, seja com limitações à opção individual, seja em relação ao aumento de impostos favorecendo o contrabando. Processo semelhante está também em franca expansão no que concerne às bebidas alcoólicas.

Nada disto é muito novo, senão a arbitrariedade de cunho autoritário que o orienta. As justificativas para esse tipo de legislação apelam para um cidadão incapaz, isto é, um sujeito anódino que precisa ser tutelado. Uma sociedade que renuncia à liberdade perde o seu bem mais precioso: a liberdade de escolha.

O senso crítico ainda em formação nas crianças entra no debate como argumento de ocasião. Não é o senso crítico das crianças que está em disputa, mas o dos pais. São os pais que perdem a autonomia ante a benevolência estatal. São os pais que, segundo a ótica do legislador, não possuem senso crítico para decidir o que é melhor para seus filhos e nem são capazes de estimular em seus filhos o senso crítico. O significado é óbvio: os pais não possuem autonomia, autoridade ou capacidade para educar seus filhos.

Nesta toada, sempre haverá algum legislador ou governante que não queira, amanhã, proibir a propaganda de brinquedos ou diminuir o seu estímulo de compra como se isto fosse um malefício da sociedade capitalista. O politicamente correto pode ser aqui o seu instrumento.

Nessa toada, o certo seria proibir algumas personagens do mundo infantil bem como proibir alguns tipos de brinquedos. A Barbie, segundo inúmeros movimentos feministas, representa um ideal feminino exagerado que impõe às meninas um padrão de beleza inalcançável. Para o suposto universo infantil masculino, há armas e outros brinquedos que estimulam a agressividade. Os projetos de proibição são o que menos falta.

Afinal, se é permitido proibir um produto por seu suposto alto teor de sal ou de gordura, o que impede a proibição dos doces, que causam cáries? Nada. Pois o projeto de lei 5043/13, do deputado Alexandre Roso, do PSB do Rio Grande do Sul, proíbe a propaganda de refrigerantes e alimentos de baixo teor nutritivo nas escolas de ensinos fundamental e médio, sejam públicas ou privadas. Já o projeto 6.283, de 2013, do deputado federal Luiz Gonzaga Patriota, do PSB de Pernambuco, proíbe a venda de refrigerantes a menor de 18 anos e de alimentos com alto teor calórico e níveis reduzidos de nutrientes em estabelecimentos de ensino, e dá outras providências. Entre as outras providências está a proibição de venda desses alimentos em um raio de duzentos metros em torno das escolas. Por enquanto, evidentemente.

O tipo de lei relativo às crianças não difere das que limitam a liberdade de escolha dos adultos. O ímpeto é o mesmo. A suposta fragilidade das crianças é apenas o subterfúgio palatável do autoritarismo. O recado é claro: você não tem o direito de viver conforme suas convicções, você deve viver conforme o plano que o Estado desenha para você.

A força do empreendedorismo - CARLOS PONTES

CORREIO BRAZILIENSE - 14/07


Ser empreendedor no Brasil é iniciar e continuar o próprio negócio, demonstrando autoconfiança, capacidade de inovação, ousadia e persistência, o que revela grande autoestima e fé na vida. O empreendedorismo é a capacidade da pessoa de lançar-se no mundo dos negócios, enfrentando todo tipo de dificuldades, com uma força que o torna vencedor, principalmente se respeitar a ética e praticar o marketing verdadeiro, o que atende à demanda dos consumidores.

De fato, o caminho mais simples e talvez mais fácil é a pessoa se dedicar a vencer no serviço público, seja por concurso, forma mais usual, seja por indicação política para cargo comissionado. Milhares de brasileiros se dedicam a essa opção, estudando nos cursinhos preparatórios para concursos públicos, ou se engajando em campanhas políticas na esperança de, eleito, o candidato indicá-los para cargo público. E assim vai a roda da política. Enquanto na Inglaterra, nos Estados Unidos e em outros países o número de cargos comissionados por indicação política é diminuto, só no governo federal temos cerca de 22 mil cargos indicados, sem contar os milhares dos governos estaduais e municipais.

São milhares de estudantes brasileiros, cujos pais se sacrificam para pagar-lhes os cursos preparatórios para concursos, que se multiplicam também às centenas, principalmente nas capitais. E se preparam com afinco e sacrifício. Mas existe também os de mentalidade medíocre, que só pensam em se locupletar nas tetas da República.

De qualquer modo, num país em que o slogan parece ser "podendo complicar, por que facilitar?", o empreendedor merece respeito, pois não é fácil enfrentar a burocracia que tanto atrasos e prejuízos causa à nossa gente. Caio Prado Júnior (1907-1990) escreveu que o legado de uma "monstruosa, emperrada e ineficiente máquina burocrática" nos foi deixado pelo colonizador português, mas Portugal agora se atualizou. Para fechar uma empresa em Portugal, leva-se dois dias, enquanto no Brasil são mais de 100 dias.

O Estado deveria ser parceiro do empreendedor, incentivar os negócios que geram renda e riqueza para o Brasil. Mas não parece ser essa a mentalidade dominante. Os entraves burocráticos, as exigências desnecessárias, a demora na aprovação das demandas criam o já famoso custo Brasil. Segundo estudo da consultoria Booz & Company, a pedido da Câmara Brasileira da Indústria da Construção, o prazo médio de entrega de unidades habitacionais nas cinco regiões do país aumenta de 32 para 60 meses por conta da pouca celeridade das prefeituras. O estudo, realizado em mais de 50 empresas de perfis diferentes em todo o país, concluiu que cerca de R$ 18 bilhões anuais são pagos por conta da burocracia, o que corresponde a 12% do valor médio dos imóveis.

Em Brasília, por exemplo, 4,2 milhões de m² de obras estão à espera de aprovação pelo GDF. A demora no licenciamento dos projetos ou na concessão do habite-se acarreta aumento no custo dos imóveis. E isso em todo o Brasil.

Vamos lutar para simplificar, reduzir a burocracia, mas a luta continua. E o empreendedor pode contar com a ajuda do Sebrae nos estados para orientá-lo, frequentando cursos presenciais ou a distância, a fim de se tornar um microempreendedor individual ou ter uma microempresa ou uma empresa de pequeno porte. O microempreendedor individual (MEI) tem acesso a vários benefícios, inclusive a cobertura previdenciária, acesso a linhas de crédito e está isento dos impostos federais e a sua formalização é feita pela própria internet.

Os interessados em iniciar um negócio que queiram adquirir noções básicas de como gerir um empreendimento e os proprietários de pequenos negócios que almejam capacitação em empreendedorismo e precisam repensar o empreendimento podem fazer o curso a distância no Sebrae denominado aprender a empreender. E assim aprender a fazer um plano de negócios e a gerir o próprio empreendimento.

Os empreendedores são ousados, causam impacto na economia, acreditam na livre iniciativa, recolhem impostos, sustentam a máquina pública. E essa, que patina em gestão burocrática, só poderá ser mudada por meio de legislação e de uma nova cultura. E é no voto que essa mudança poderá ser feita.


Em benefício da vida - PAULO GADELHA E WILSON SAVINO

O GLOBO - 14/07

É mito a ideia de que todas as pesquisas poderiam abrir mão do uso de animais

Apercepção pública sobre as ciências e a capacidade de influenciar as políticas para seu desenvolvimento são condições essenciais da cidadania. Em especial, é no campo das implicações éticas que esse desafio é imperativo. A experimentação animal é, nesse sentido, um caso exemplar.

Temos convivido com rejeição de algumas parcelas da sociedade ao uso de animais na ciência. Muitas vezes, estes movimentos encontram ressonância também no ambiente jurídico. Há grandes expectativas por um mundo em que o uso de animais para a experimentação científica não seja necessário. A comunidade científica também compartilha deste desejo. Mas muita desinformação ainda vigora.

Em particular no campo da saúde humana, o uso de animais permanece imprescindível para a elucidação de processos biológicos, a descoberta de novos medicamentos, vacinas e tratamentos. O aumento na expectativa e a melhoria na qualidade de vida que vemos na população se devem, em muito, às inovações médicas que dependeram e ainda dependem, em grande parte, do uso de animais.

Para o futuro, é impossível elucidar o funcionamento do cérebro, os mecanismos das doenças neurodegenerativas, a exemplo do Alzheimer, e garantir a eficácia de novos tratamentos para essas doenças que estarão cada vez mais presentes com o envelhecimento da população, sem o uso de animais.

É mito a ideia de que todas as pesquisas poderiam abrir mão do uso de animais. A ciência tem investido no desenvolvimento de métodos alternativos, como o cultivo de células e tecidos e os modelos virtuais que recorrem à bioinformática para prever as reações dos organismos.

Mas estamos longe de uma solução que reproduza de forma precisa as complexas interações do organismo: estes métodos são aplicáveis só em determinadas etapas e em situações específicas. A ciência brasileira também integra este empenho. Um exemplo disso é a criação do Centro Brasileiro de Validação de Métodos Alternativos, que a Fiocruz lidera em parceria com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

Outro mito é a ideia de que os cientistas utilizam animais de forma indiscriminada. Além do imperativo ético, o uso responsável e o foco no bem-estar dos animais são exigências legais. A ciência está submetida a diversas instâncias de regulamentação e a rigoroso controle das atividades de pesquisa. A redução do sofrimento por meio do uso de anestésicos e analgésicos, a escolha de técnicas adequadas e a necessidade de acompanhamento por veterinários são protocolos obrigatórios. Com foco na tríade substituição-redução-refinamento, o uso só é permitido quando não há alternativa conhecida, autorizando-se o menor número de animais necessário para resultados válidos e buscando-se, sempre que possível, o refinamento de técnicas e procedimentos para resultados mais precisos.

Parar a experimentação animal em pesquisas significaria um retrocesso para a ciência e uma perda para a saúde da população e para o próprio campo da veterinária. Cabe aos pesquisadores e às instituições manterem o compromisso de responsabilidade e ética com os animais, firmes no propósito de beneficiar a sociedade.


Volta às aulas - JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO

O ESTADO DE S.PAULO - 14/07


A Copa acabou e, com ela, o recreio dos candidatos. Hora de separar quem fez a lição de casa de quem, como o time de Felipão, quer ganhar no grito, no choro ou na improvisação.

Não adianta ter sido o melhor do jogo de queimada, ou ter marcado todos os gols na pelada do intervalo das aulas. Quem não estudou para a prova vai repetir de ano - ao menos dois, até a próxima eleição. O que acontece no pátio fica no pátio. E o que acontece no estádio fica no estádio.

A Copa nunca influenciou uma eleição presidencial brasileira. Nem ajudou nem atrapalhou. Mas agora é diferente, dizem uns. "Foi 7 a 1 em casa". "Dilma foi vaiada sei lá quantas vezes". "Suprema humilhação, entregou a taça para o Messi." Ops! Essa parte não houve. Como não houve a catástrofe anunciada.

Primeiro, a desorganização da Copa iria mostrar ao mundo toda a incompetência dos brasileiros. Depois, multidões iriam queimar o País por causa dos 7 a 1 para a Alemanha. Nada disso. O mundo veio, viu e se convenceu de que, além da fazenda, o Brasil pode ser também seu salão de festas.

O discurso de que um evento extraurna como a Copa é determinante para o voto supõe que o eleitor seja suscetível ao mesmo grau de infantilização com que os pretensos professores de vestiário tratam os seus jogadores. Como se nem jogador nem eleitor fossem capazes de discernir, por si próprios, o que deve ser feito em campo ou na urna.

Àqueles que torcem, em público ou em privado, pelo impacto da Copa na eleição vale lembrar que o Brasil foi campeão do mundo cinco vezes apesar dos seus técnicos, não por causa deles. Ou alguém acredita que Felipão foi mais importante que Ronaldo/Rivaldo, que Feola foi mais determinante do que Pelé/Garrincha, que Parreira fez mais do que Romário/Bebeto?

O eleitor é pragmático, egoísta e cada vez mais maduro. Por isso, assim como Copa se ganha em campo, com jogadores suando e craques brilhando, eleição se ganha com estratégia, discurso afinado com a vontade do eleitorado e candidato amassando barro, beijando criancinha - além de muito dinheiro e algum tempo de propaganda na TV.

A Copa foi um intervalo. Mudou o humor do País? Sim, para melhor, enquanto durou. Foi um carnaval de um mês. Mas todo folião sabe: a vida é o que volta na Quarta-feira de Cinzas. No Brasil, todo torcedor soube, sabe e saberá diferenciar futebol de política - com exceção de quem torce por partido.

Acabou a Copa, começa a eleição.

O campo é favorável à oposição. O desejo de mudar predomina em pelo menos dois terços da arquibancada. É tão insuperável que até a campanha da situação incluiu a palavra "mudança" no slogan de Dilma. O "Mais Mudança" é uma espécie de gerúndio político-marqueteiro. Sugere que mudança já há. E joga na confusão com os motes adversários. O de Aécio Neves é "Muda Brasil". O de Eduardo Campos, "Coragem para Mudar".

A combinação aleatória do verbo mudar nos cartazes das campanhas de situação e oposição mostra que discurso, sem prática, é vazio. Por isso o desafio dos candidatos e seus marqueteiros nesta eleição será mais difícil do que em eleições anteriores. Não basta conhecer, é preciso convencer.

Em 2010, bastou Lula mostrar que Dilma era sua candidata para elegê-la. Desta vez isso não será suficiente - nem para ela, nem para Aécio, nem para Eduardo. Não basta aparecer e se tornar conhecido da grande maioria. O vencedor será aquele que conseguir convencer o eleitor de que ele ou ela é o mais apto a promover as mudanças que o País precisa e deseja.

Isso pressupõe interpretar o que é esse desejo de mudança. Não é mais emprego, apenas. É emprego de qualidade. Não são mais médicos, apenas. É atendimento eficiente em hospitais e postos de saúde. Não é mais educação, apenas. É um ensino que qualifique e dê vantagens competitivas para quem aprende. Ou seja, não basta trocar Daniel Alves por Maicon.

Padrão Copa - VALDO CRUZ

FOLHA DE SP - 14/07


BRASÍLIA - A Copa acabou e com ela o sonho de sermos hexa dentro de casa. Ganhou a Alemanha, prêmio ao planejamento, ao melhor time. Agora, como dizem dez entre dez brasileiros, tudo volta ao normal.

Gostaria que acontecesse exatamente o contrário. Prefiro a anormalidade da Copa do Mundo, que deveria ser nosso estado natural e, para alguns setores e pessoas, é.

Durante 32 dias, o Brasil encantou estrangeiros e brasileiros. Tudo funcionou bem melhor do que antes. Aeroportos, segurança, estádios, recepção, tudo num ritmo que não deixou nada a desejar.

Claro que houve incidentes, um viaduto caiu, a segurança falhou em alguns jogos, filas em estádios, mas, no balanço geral, o país ganhou com estilo o jogo fora das arenas.

Ou seja, quando queremos e precisamos, sabemos fazer bem. Agimos como um bom anfitrião. Que pinta a casa, reforma o quarto de hóspede, reforça a geladeira e melhora o astral para receber aquela visita tão esperada, que vem de longe e que queremos tanto que volte.

Aí, fica a pergunta. Por que não deixar a casa arrumada para seus habitantes diários e não só para visitantes ocasionais? Que tal tratar o vizinho da mesma forma que encantou os turistas estrangeiros?

Que tal nossos governantes dedicarem, todo santo dia, o mesmo zelo pelos serviços públicos demonstrado durante a Copa para dizer ao mundo que, sim, somos capazes?

Esse é o desafio. Tornar o "padrão Copa" vivido nas últimas semanas em algo normal, símbolo brasileiro para todos brasileiros. Acabar com os soluços de excelência provocados por eventos extraordinários.

Para isso, temos de aprender com nossos erros e não ficarmos embriagados com o sucesso momentâneo. No final, tudo funcionou bem, mas no sufoco, aos trancos e barrancos.

Aí está a queda do viaduto de Belo Horizonte como exemplo negativo da correria. Na Olimpíada do Rio, tudo pode ser melhor. Sem sofrimento.

Dilma deixou de ganhar - RICARDO NOBLAT

O GLOBO - 14/07

"Meu govêrno é padrão Felipão"
Dilma, no último dia 1º

Juscelino Kubistchek foi um presidente da República "pé-quente". No seu período de governo entre 1956 e 1961, o saltador Adhemar Ferreira da Silva sagrou-se bicampeão olímpico, a tenista Maria Esther Bueno celebrou o seu primeiro título no Torneio de Wimbledon, o Brasil foi campeão mundial de basquete, Éder Jofre conquistou o título de campeão mundial de boxe e a Seleção ganhou a Copa do Mundo.

O QUE QUERO dizer com isso? Nada. Lembrei-me de Juscelino ao ver uma fotografia em que ele acompanha pelo rádio a Copa do Mundo de 1958. A televisão ainda não transmitia os jogos. Getúlio Vargas, a quem Juscelino sucedera no cargo, costumava fazer comícios em estádios de futebol no Rio. Foi o primeiro presidente a aproximar a política dos esportes na tentativa de obter maior apoio popular.

COUBE A JUSCELINO inaugurar o hábito de presidentes receberem em palácios a Seleção que voltasse vitoriosa de uma Copa do Mundo. Além de condecorar os jogadores, Juscelino posou para fotografias ao lado da taça batizada de Jules Rimet em homenagem a um antigo presidente da Fifa. A Seleção que fosse tricampeã ficaria com a taça em definitivo. Isso levou 41 anos para acontecer.

O BRASIL FOI BI em 1962, durante o governo do presidente João Goulart. E tri em 1970, quando o país atravessava a fase mais violenta da ditadura militar iniciada em 1964. O então presidente, general Garrastazu Médici, frequentava o Maracanã em dias de clássicos. O Brasil crescia a taxas elevadas. A Seleção visitou Médici em Brasília. A taça Jules Rimet acabou roubada da sede da CBF em 1983. Nunca mais apareceu.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO tirou casquinha duas vezes de vitórias da Seleção. A primeira em 1994, quando se elegeu presidente e a Seleção foi tetra-campeã. A segunda em 2002, quando recepcionou a Seleção pentacampeã no último ano do seu segundo governo. O atacante Vampeta deu uma cambalhota na rampa do Palácio do Planalto. Fernando Henrique levantou a atual taça ao lado de Cafu e Felipão.

SELEÇÃO DERROTADA jamais foi admitida no endereço mais importante da República. Nem sequer para ser consolada. É possível que uma mulher presidente tenha a sensibilidade que faltou aos seus antecessores. Quando nada porque se orgulha, e com razão, de ter ganhado a Copa travada fora dos campos. Tudo funcionou a contento. A Copa está sendo reconhecida como a melhor da História. E Dilma não joga futebol.

LOGO, NÃO PODE SER culpada pelo mais vergonhoso desempenho da Seleção desde que o Brasil virou uma pátria de chuteiras. É verdade que lhe faltou a prudência demonstrada por Lula. Alguém por aí viu Lula em algum estádio? Oito novos estádios bastavam. Atraído pela ideia de dividir a taça com Dilma, Lula bancou a construção de 12. Alguém por aí viu alguma foto de Lula torcendo em casa pela Seleção? Nem isso.

DILMA FOI OBRIGADA a se expor. Poderia ter feito isso somente duas vezes - na abertura da Copa e na entrega da taça ao novo campeão. Mas caiu na tentação de tirar proveito político de uma Seleção que capengou feio desde o seu primeiro jogo. Agora, acende velas para que as próximas pesquisas de intenção de voto não lhe tragam más notícias. Aposta na capacidade do brasileiro de separar o que ela ensaiou juntar.

A VERDADE É QUE o destino foi ingrato com Dilma. Mesmo que nada perca com a Copa, alguma coisa ela deixa seguramente de ganhar. Abrem-se as cortinas e começa um novo espetáculo - dessa vez, o das eleições gerais.

Sem alternativa - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 14/07


É visível a intenção do PT de usar o instrumento para ampliar controle sobre burocracia estatal


O necessário debate sobre o Decreto-Lei 8.243, o da criação de comissões, fóruns, “mesas” — jargão bolivariano — junto a ministérios, órgãos em geral da administração direta e até estatais, não pode ser travado fora do contexto político em que se encontra o país.

O discurso oficial da defesa do decreto costuma destacar, entre outros pontos, a necessidade de se abrir novos canais de participação política. O assunto é mesmo pertinente, pois tem a ver com a revitalização da democracia representativa.

Os Estados Unidos, por exemplo, uma das mais sólidas democracias do mundo, há tempos se valem de plebiscitos para, em estados e municípios (counties), decidir questões locais. A liberalização da maconha tem sido feita por meio dessas consultas.

O desenvolvimento e o aperfeiçoamento de ferramentas digitais facilitam o futuro uso da internet para consultas objetivas sobre temas de interesse direto da população.

O decreto-lei assinado na surdina pela presidente Dilma Rousseff formalmente trata de ampliar a rede de comissões e similares já existente, para aproximar os centros de decisão do governo da vida real da população. Bom propósito.

Mas a real finalidade política é bem outra — daí a edição silenciosa do decreto. É translúcida a intenção do PT de, por meio de novas comissões, fóruns, etc. ampliar o aparelhamento do Estado, característica conhecida da atuação do partido. O momento do Decreto 8.243 é estratégico: caso a presidente Dilma se reeleja, o processo de aparelhamento da máquina pública, em curso desde 2003, quanto começou o primeiro mandato de Lula, se aprofundará. Na hipótese de derrota, o partido, mesmo com um presidente de oposição no Planalto, continuará com as rédeas de áreas da estrutura burocrática. Afinal, comissões e similares — está demonstrado — serão ocupadas por militantes dos ditos movimentos sociais e simpatizantes. Como já são os organismos semelhantes e mesmo ministérios.

As raízes ideológicas do decreto são chavistas, derivam da obsessão nacional-populista com a democracia direta, em que o caudilho, o líder das massas, manipula de forma direta o povo e, assim, se legitima por meio de constantes consultas populares. A Venezuela foi ao ponto que chegou, de debacle, por esta via.

A reação do Congresso ao 8.243 tem sido acertada, mesmo entre partidos da base do governo, PMDB à frente. Os presidentes da Câmara e Senado, Henrique Alves (RN) e Renan Calheiros (AL), da legenda, discordam, com razão, por ser inconstitucional, do uso do instrumento do decreto-lei para se criar estruturas paralelas de poder, à moda da democracia direta. Se o Planalto tem este objetivo, que envie projeto de lei ao Legislativo, onde assunto tão grave precisa ser discutido com o devido cuidado.

Não há mesmo outra alternativa a não ser aprovar o decreto legislativo que revoga o ato de Dilma e PT.

O paraquedas da economia - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S.PAULO - 14/07


O Brasil continua salvo de um desastre cambial e de uma crise econômica muito mais séria graças ao agronegócio, o setor produtivo mais eficiente do País, capaz de garantir um superávit comercial de US$ 40,77 bilhões no primeiro semestre, enquanto se acumulava um déficit global de US$ 2,36 bilhões no comércio exterior. O campo e as fábricas diretamente ligadas à agropecuária continuam proporcionando a maior parte das poucas notícias positivas da economia, enquanto a maior parte da indústria permanece atolada em problemas de competitividade, agravados pela sucessão de erros da política econômica. De janeiro a junho o agronegócio exportou produtos no valor de US$ 49,11 bilhões, ou 44,4% do total faturado por todos os setores com as vendas ao exterior. A contribuição do setor de commodities para as contas externas foi completada com os embarques de minérios, principalmente de ferro.

No campo, a perspectiva é de mais um recorde na produção de grãos e oleaginosas - formada principalmente por algodão, arroz, feijão, milho, soja e trigo. A safra desses produtos deve alcançar 193,87 milhões de toneladas. Confirmado esse número, terá havido aumento de 2,8% em relação à colheita da temporada anterior, segundo a última estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), vinculada ao Ministério da Agricultura. A irregularidade das chuvas tem prejudicado o rendimento das lavouras e por isso o aumento da produção deve ser menor que o da área plantada (6,1%). Esse tem sido um evento raro. Nos últimos 20 anos as safras têm crescido muito mais que o espaço ocupado pelas culturas. A produtividade tem sido há muito tempo uma das principais vantagens da agricultura brasileira e, mais recentemente, o seu sinal distintivo na economia nacional.

São estimadas colheitas maiores para algodão, amendoim, arroz, feijão, soja e trigo. A produção de milho deve ser 4,1% menor que a da safra anterior, mas, ainda assim, o abastecimento será tranquilo e o estoque final deverá aumentar. O aumento mais notável de produção deverá ser o do trigo, principal cultura de inverno. A última estimativa indica uma área plantada 18,9% maior que a da safra anterior - consequência de preços favorecidos por uma forte demanda internacional, com influência evidente da crise na Ucrânia, importante país produtor e exportador. Se nenhuma surpresa ocorrer, a produção poderá crescer 33% e chegar a 7,39 milhões de toneladas. Nesse caso, a importação no ano-safra poderá ficar em 5,5 milhões de toneladas, 14% abaixo da estimada para o ano anterior.

Boa produção no campo contribui para a demanda de bens industriais no interior, para o reforço das exportações e para a contenção do custo de vida. Os preços internos são em boa parte determinados pelas condições do mercado internacional e isso se reflete, ocasionalmente, em pressões de alta no comércio de alimentos.

Mas as pressões seriam certamente maiores, e até muito maiores, se a produção interna fosse menor. Além disso, cotações em alta nas bolsas internacionais afetam muitos países e poucos têm inflação tão alta quanto a brasileira. A alta geral de preços é determinada por vários fatores, além das condições do mercado agrícola, e o desarranjo das contas públicas é um dos mais importantes. Nesse quesito, poucos emergentes vão mal como o Brasil.

As exportações do agronegócio renderam US$ 99,451 bilhões nos 12 meses até junho, com superávit comercial de US$ 82,43 bilhões. A receita foi 1,1% menor que a dos 12 meses até junho de 2013 e o gasto com a importação, 2,2% maior. Isso se explica principalmente pela evolução dos preços dos produtos vendidos e comprados. Ainda assim, o saldo foi elevado, embora insuficiente para compensar o déficit no comércio de outros tipos de bens e nas contas de serviços e rendas.

Nos 12 meses até maio, último período com informação disponível, chegou a US$ 81,85 bilhões o déficit em transações correntes - o mais amplo indicador das transações com o exterior. Esse déficit equivaleu a 3,61% do Produto Interno Bruto (PIB). Como estariam as contas externas sem a competência do agronegócio?

Ainda o fantasma - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 14/07


Combinação de inflação alta e crescimento econômico pífio é anomalia que só será superada com mudança na conduta do governo


A combinação adversa de inflação elevada e crescimento econômico pífio deixa o Brasil em posição singular entre os principais países do mundo. Na maioria deles, quando o PIB fraqueja e a demanda escasseia, os preços não tardam a desacelerar.

Aqui, a inflação mostra resistência maior. Enquanto o Brasil parece se aproximar de uma recessão, a julgar pela queda dos índices de confiança, produção e, aos poucos, também emprego, a alta dos preços continua oscilando ao redor do teto do regime de metas (6,5%).

Em junho, o IPCA acumulado em 12 meses chegou a 6,52%. O vilão do momento é a Copa do Mundo, que propiciou a escalada das tarifas de hotéis e passagens aéreas. A inflação de serviços voltou a subir para 9% no mesmo período, mais do que compensando a redução dos preços dos alimentos.

O quadro provavelmente não será muito diferente nos próximos meses. Dissipado o efeito do turismo, outros fatores prevalecerão. Haverá, por exemplo, repasses de custos de energia, que cresceram entre 15% e 20% em vários Estados. Não se espera, assim, uma redução relevante no ritmo da inflação até o final do ano.

Quanto a 2015, a incerteza é grande. De um lado, os juros altos e a estagnação da economia devem ajudar a conter preços dos serviços. De outro, a provável correção de tarifas hoje represadas (energia, gasolina e transportes urbanos) mantém elevadas as expectativas de carestia do setor privado.

Seja como for, permanece a questão: por que a inflação no Brasil é tão alta em relação à média internacional? A resposta provavelmente está na combinação de erros de gestão econômica nos últimos anos com a persistência dos históricos mecanismos de indexação.

Além da administração perdulária e pouco transparente do Orçamento e do crédito público, talvez o principal erro do governo federal tenha sido mostrar descompromisso com as metas. Ao enfraquecer a confiança da sociedade de que o poder de compra da moeda seria preservado, jogou lenha na fogueira da cultura inflacionária.

As pessoas passam, assim, a se defender, tomando tendências passadas --e cada vez menos a meta de 4,5%-- como referência para pedir aumentos salariais, corrigir o aluguel etc. Quando isso ocorre, a inflação persiste, tornado maior o custo social (em termos de PIB perdido) para reduzi-la.

Sem uma mudança profunda na conduta do governo federal para convencer a sociedade de que haverá aderência a metas e compromissos, até mesmo um arrocho --via juros ainda mais estratosféricos ou tarifaços à moda brasileira-- será um sacrifício em vão.

Liberdade para empreender - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR

GAZETA DO POVO - PR - 14/07


Pesquisas relacionam desenvolvimento socioeconômico a empreendedorismo, mas o Brasil ainda oferece inúmeros obstáculos aos empresários



Quanto mais incentivos ao empreendedorismo em determinado lugar ou região, melhores serão seus índices socioeconômicos. Esta correlação ficou clara mediante o cruzamento de duas pesquisas independentes – uma aferiu o grau de desenvolvimento dos municípios paranaenses, outra mediu o seu índice de empreendedorismo. Quando os dados de ambas foram sobrepostos, ficou evidente a coincidência na classificação: das 25 cidades mais desenvolvidas do estado, 21 delas se destacavam pelo avanço no empreendedorismo.

Esta realidade foi mostrada em reportagem da Gazeta do Povo publicada na quinta-feira. Uma das sondagens provém do Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM), um dos mais respeitados indicadores usados na aferição do desenvolvimento econômico e social no país; a outra é resultado da pesquisa do Índice de Desenvolvimento Municipal para a Micro e Pequena Empresa (IDMPE), elaborado pelo Sebrae. A reportagem foi procurar as razões da coincidência e verificou que há algo em comum entre os municípios melhor avaliados: eles dispõem e se utilizam de instrumentos variados para estimular os investimentos em seus territórios e incentivar os empreendedores locais.

Políticas fiscais e até mesmo a cessão de áreas para a instalação de indústrias figuram entre as medidas de apoio, mas muitos dos municípios não se descuram também de criar facilidades para a qualificação de mão de obra local. Outros oferecem escritórios especiais para atrair e orientar profissionais e empresários dispostos a explorar o mercado de serviços, comércio ou indústrias. O fruto da atenção que o poder público dispensa ao empreendedorismo frutifica tanto na criação de empregos quanto no aumento da renda da população e na arrecadação tributária – um círculo virtuoso que favorece o crescimento da qualidade geral de vida e que se reflete na conquista de boa posição no mais importante e universal indicador – o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

Não é, portanto, por acaso que os países mais desenvolvidos do planeta são exatamente aqueles que mais facilidades criam aos empreendedores. No caminho inverso, as nações que impõem mais dificuldades e mais regulamentos cerceadores à livre iniciativa são as que costumam ocupar a rabeira dos rankings de desenvolvimento econômico e social. Infelizmente, este é o caso do Brasil.

O fato é demonstrado por outras pesquisas recentes. Uma delas é patrocinada pela instituição Heritage Foundation, centro de pesquisa americano que há 20 anos faz levantamentos sobre a liberdade econômica existente em 178 países de todos os continentes. Em 2014, o Brasil caiu 14 posições em relação ao ranking divulgado em 2013. Há um ano, ocupávamos já um modesto 100.º lugar; agora figuramos na 114.ª posição – abaixo de vizinhos latino-americanos como o Chile, a Colômbia e o México. O Brasil é, na classificação do Heritage, um país “mostly unfree”, expressão que nos qualifica como quase limitados em relação à liberdade econômica.

Já o Banco Mundial, em seu relatório Doing Business, coloca o Brasil na 116.ª posição. O único quesito em que o país se destaca é a facilidade para obter eletricidade (14.º lugar). Em todos os demais itens a classificação é desanimadora, com destaque para um 160.º lugar em “pagamento de impostos”, que inclui carga tributária e burocracia fiscal.

Os levantamentos não têm nada de aleatórios. São resultado de medições técnicas de fatores de qualidade e quantidade que avaliam a eficiência regulatória, a abertura comercial e financeira, o tamanho do Estado na relação entre arrecadação e gastos, e legislação, especialmente a atinente ao combate à corrupção e ao direito de propriedade. Não precisaríamos recorrer aos números fornecidos pelo Heritage ou pelo Banco Mundial para perceber que o Brasil, historicamente, não vai bem em quaisquer destes fatores.

Uma conclusão que facilmente se tira tanto do cruzamento das duas primeiras pesquisas citadas quanto de tantas outras que possam ser relacionadas é que desenvolvimento não combina com intervencionismo do Estado. O Estado pode (e deve) cumprir papéis indelegáveis, mas, se estiver realmente interessado em promover o bem-estar social e o progresso econômico, basta-lhe atrapalhar menos o empreendedorismo.

Tuberculose sem trégua - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 14/07
O Brasil tem merecido referências elogiosas em tratamentos que desafiam o mundo. É o caso da aids, da poliomelite e da tuberculose. As campanhas de vacinação, que chegam aos rincões mais remotos do território nacional, tornaram o país referência da Organização Mundial da Saúde (OMS). O coquetel anti-HIV, além de salvar vidas, apontou caminhos para enfrentar epidemia que desafiava nações ricas e pobres dos cinco continentes.
Outro exemplo de sucesso é o da tuberculose. A enfermidade, chamada o mal do século no período romântico, matou brasileiros de todas as regiões e privou a literatura de grandes talentos. Tal pânico a doença despertava na sociedade que muitos temiam até chamá-la pelo nome. Para escapar do poder mágico da palavra, reduziram a denominação a duas letras - tb. Hoje o enredo da história é outro. Centralizado no Ministério da Saúde, em seis meses o tratamento cura a maior parte dos pacientes.

Causa apreensão, por isso, a notícia da falta de medicamento necessário ao combate à moléstia. Segundo Carlos Brasília, coordenador do Observatório Tuberculose Brasil, vinculado à Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), três unidades da Federação registraram desabastecimento da droga e de um dos testes usados para o diagnóstico - São Paulo, Rio de Janeiro e Petrolina.

O Brasil, vale lembrar, ocupa o 17º lugar no ranking dos 22 países que concentram 80% dos casos de tuberculose. Não pode se descuidar de batalhas que determinam o resultado da guerra. Os números obrigam a manter o foco. Em 2012, a moléstia matou 4.600 pessoas. É a 4ª causa de morte por doenças infecciosas e a 1ª em pacientes com aids. Setenta mil novos casos foram registrados em 2013.

Interromper o tratamento por falta de remédio é inaceitável. Um dos grandes desafios dos profissionais dos centros de saúde é evitar a evasão de pacientes. Com menos de um mês de cuidados, o enfermo se sente tão bem que não retorna. Resultado: o bacilo cria resistência e dificulta a ação da droga. Ora, o Estado banca a terapia integralmente. Oferece os remédios sem custos e tem técnicos qualificados para acompanhar os doentes com eficiência. Permitir o desabastecimento é tiro no pé.

Há projetos de produzir no Brasil o composto usado contra a tuberculose. O país tem insumos e tecnologia para fazê-lo. Mas, enquanto não concretiza o plano, é importante manter os centros de saúde equipados e abastecidos. Voltar atrás em iniciativa reconhecidamente exitosa é condenar o país ao atraso e o povo a enfermidade evitável.

Licitações e corrupção - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S.PAULO - 14/07

A possibilidade da contratação integrada em licitações, prevista no Projeto de Lei 559 que tramita no Senado, está gerando polêmica. Considerada por alguns como mais uma porta que se abre para a corrupção, ela pode trazer maior dinamismo ao setor público brasileiro. E não necessariamente pior uso do dinheiro público.

Na contratação integrada, é o vencedor da licitação quem deve elaborar e desenvolver os projetos completo e executivo, ficando responsável "pela execução de obras e serviço de engenharia, montagem e realização de testes, pré-operação e por todas as demais operações necessárias e suficientes para a entrega final do objeto, com remuneração por preço global". A empresa privada assume os riscos associados à execução da obra ou do serviço, não podendo alegar qualquer problema nos projetos ou na execução, na tentativa de modificar o contrato. Fica vedado assim, na contratação integrada, qualquer aditivo ao contrato, com exceção daqueles que sejam oriundos de caso fortuito, força maior ou de determinação do próprio poder público.

Não prevista na atual Lei de Licitações (Lei 8.666/93), a contratação integrada foi sendo autorizada em determinados casos. Integra, por exemplo, o chamado Regime Diferenciado de Contratação (RDC), aprovado para as obras de infraestrutura da Copa e dos Jogos Olímpicos, bem como para licitações relacionadas ao PAC, SUS, educação pública, dragagem portuária, etc.

Os opositores da contratação integrada alegam que o tema já foi rejeitado quando o Congresso analisou a Medida Provisória (MP) 630, convertida posteriormente na Lei 12.980/14. A MP ampliava o Regime Diferenciado de Contratação para "obras e serviços de engenharia para construção, ampliação e reforma de estabelecimentos penais e unidades de atendimento socioeducativo". À época, a senadora Gleisi Hoffmann apresentou emenda que pretendia estender o RDC - e por ele, a contratação integrada - a todas as licitações. O Congresso rejeitou a emenda, permitindo apenas para o caso previsto originalmente na MP.

Por si só, a contratação integrada não tem em seu bojo nada de imoral. Exige, como ocorre em qualquer outro tipo de licitação, a fiscalização do poder público. A grande porta para a corrupção nas licitações são os sucessivos aditivos - acréscimos de valores solicitados depois de a empresa ganhar a concorrência -, responsáveis em boa medida pelo aumento dos custos das obras públicas.

É de esperar - e exigir - que a contratação integrada seja bem acompanhada, no sentido de que o proponente faça um projeto consistente, e se respeite a lógica implícita nessa modalidade: os riscos são do particular, não da administração pública.

Engessar o Estado brasileiro não é solução para o combate à corrupção, desvio possível em qualquer contrato. Legislar travando ainda mais o Estado pode, portanto, ser uma inútil e contraproducente tentativa de blindá-lo contra a corrupção.

Isso não significa fechar os olhos à realidade. O exame da realidade leva ao reconhecimento da existência de ampla corrupção mesmo sem a existência da contratação integrada. O combate à corrupção, que é grave e exige atuação severa, deve estar ancorado numa atitude inteligente. Não há sistema perfeito, que permita o poder público descuidar do seu dever em qualquer tipo de licitação: um estrito, próximo e constante acompanhamento.

A proposta que está agora no Senado traz modificações pontuais ao atual regime de licitações. Por exemplo, possibilita maior controle e institui novas sanções administrativas, além da contratação integrada. O seu maior efeito positivo pode ser, no entanto, conferir uniformidade à legislação. A atual lei de licitações, de 1993, já estava amplamente modificada pelas legislações posteriores. Tendo em vista que a complexidade do nosso Direito é um dos grandes entraves para a realização de negócios, simplificar o ordenamento jurídico é sempre um passo para a frente.

Os erros do passado - e a conivência com a corrupção certamente é um deles - não podem levar a um temor legislativo. É preciso acertar o local exato do combate à corrupção, sem criar fantasmas imaginários.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

CANDIDATOS DO PT SÓ FALTAM FAZER VOTO DE POBREZA

Quatro dos quinze candidatos do PT a governadores não registram, nas declarações de bens à Justiça Eleitoral, nem sequer a propriedade de um único carro. São os casos dos candidatos Alexandre Padilha, em São Paulo, Lindbergh Farias, no Rio de Janeiro, Rui Costa, na Bahia, e Camilo Santana, candidato ao governo do Ceará. Só faltam fazer voto de pobreza. Mas jamais foram vistos indo ao trabalho de ônibus.


PINÓQUIO

Candidato do PT ao governo baiano, Rui Costa deve estar no Bolsa-Família: declarou inicialmente à Justiça patrimônio de míseros R$ 88.


MENTIR É PECADO

Ciente de que mentir é pecado, o candidato do PT ao governo de Rondônia, Padre Ton, declarou ser proprietário de três automóveis.


UM POBRETÃO

O gaúcho Tarso Genro (PT) é outro sem-carro. Declarou patrimônio de R$ 2,7 milhões, e apenas “um doze avos” de um automóvel.


IMPRESSIONOU

Servidores do TSE que recebem as declarações de bens dos candidatos não escondem a indignação com essas obras de ficção.


BANCO ESPÍRITO SANTO PODE TER ‘AQUISIÇÃO HOSTIL’

Esta segunda (14) será decisiva para o futuro do Banco Espírito Santo, principal banco privado de Portugal. Ações do BES caíram 17% só na quinta-feira (10), obrigando a Bolsa a congelar o pregão. Atento à situação frágil do banco, o grupo de investimento americano Baupost comprou 48 milhões de ações do BES fora da Bolsa, e aumentou sua participação acionária para 2,27%, ideal para uma “aquisição hostil”.


BABANDO

Apesar de controlado pela família Espírito Santo, o banco é uma empresa de capital aberto e está sujeito à aquisição hostil externa.


UMA SAÍDA

Um “pacote” de bancos de Portugal, entre os quais o Espírito Santo, foi oferecido a grandes bancos privados brasileiros para aquisição.


NÃO ACABA BEM

Na sexta-feira, notícias de possível “insolvência” do BES causaram uma corrida de correntistas para sacar seus depósitos.


MÁGOAS LULISTAS

A nomeação de Ricardo Berzoini para a articulação política do governo teve aval de Lula, mas agora é acusado no PT de fazer dobradinha com Aloizio Mercadante (Casa Civil) na tropa de choque do time de Dilma que dificultaria os interesses do ex-presidente no governo.


GUERRA ELEITORAL

Responsável pela coordenação jurídica da campanha de Aécio Neves (PSDB-MG), o deputado Carlos Sampaio (SP) contabiliza oito ações em uma semana contra supostos abusos do PT.


O RENUNCIADOR

Diante da ameaça oportunista do governo de “intervir” na CBF, teve gente em Brasília sugerindo o nome de Joaquim Barbosa para chefiar a entidade. Só se for para vê-lo renunciar logo em seguida.


CARA BOQUINHA


O nº 2 do Ministério da Previdência, Carlos Gabas, já recebeu R$ 13.376,07 de auxílio moradia este ano. A lei só permite a regalia quando não há imóvel funcional disponível, e no INSS há centenas.


SONHADOR

Ex-papagaio de pirata nomeado ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante tem dito a aliados que amarrou seu futuro ao de Dilma, e que a ela deve lealdade (e não a Lula, faltou dizer). Seu projeto é ambicioso: disputar a presidência ou o governo paulista, em 2018.


‘NERSO’, O RETORNO

O governador Marconi Perillo (PSDB) chamou de volta, para sua reeleição, o humorista Pedro Bismark, que encarna “Nerso da Capitinga”. Ele empolgou o povão e o ajudou a derrotar Iris Rezende (PMDB) em 1998. Mas agora a disputa está bem mais acirrada.


PÉ NA CAMPANHA

Após deixar a chefia da sucursal da revista IstoÉ em Brasília, o jornalista e escritor Paulo Moreira Leite tem o passe pretendido pela campanha da presidenta Dilma Rousseff (PT) à reeleição.


‘HOTEL’ A CÉU ABERTO

A calçada do Cine Leblon, no bairro carioca onde se paga um dos impostos mais caros do país, virou “hotel” de mendigos e ponto de venda do jogo do bicho. A prefeitura não toma qualquer providência.


GATO ESCALDADO

O presidente da Câmara, Henrique Alves, foi ao Brasil x Alemanha no Mineirão, mas, desta vez, o contribuinte não lhe pagou jatinho da FAB.