quinta-feira, julho 03, 2014

Dependência de primários é a maior em três décadas - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S.PAULO - 03/07

A balança comercial registrou um superávit de US$ 2,36 bilhões em junho e um déficit de US$ 2,49 bilhões no primeiro semestre. Pela primeira vez em mais de três décadas, as exportações de produtos básicos representaram mais da metade das vendas (50,8%) no semestre, cabendo apenas 34,4% aos manufaturados.

Nem a queda do déficit comercial no mês indica mudança de tendência nem uma avaliação mais ampla do comércio exterior, em 2014, dá alento ao balanço de pagamentos - o déficit na conta corrente está em US$ 81,9 bilhões, em 12 meses.

As exportações caíram 3,2%, entre junho de 2013 e junho de 2014, e as importações caíram mais: 3,8%. A dependência da exportação de produtos primários acentuou-se, pois enquanto estas cresceram 9,5%, pelo critério de média diária, as de manufaturados diminuíram 19,3% - um desastre, ainda que influenciado por um fator principal: o estreitamento do mercado argentino.

O Brasil foi salvo, do lado das exportações, pelo aumento de 11,4% das vendas para os Estados Unidos. A retomada da economia americana, ainda que lenta, favorece o País, segundo o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. As exportações de petróleo em bruto também ajudaram no semestre.

Mas a queda das importações foi o fator decisivo do resultado do mês passado: diminuíram as compras de veículos automotores e partes (19,6%), de equipamentos mecânicos (19,2%), de equipamentos eletroeletrônicos (18,7%), de itens siderúrgicos (12%) e de adubos e fertilizantes (31,5%). Isso significa queda da demanda da indústria - e, portanto, do investimento. Houve "moderação atípica na atividade econômica" no período de jogos da Copa do Mundo, avaliou o boletim do Departamento Econômico do Bradesco. O banco prevê um pequeno déficit na balança comercial em 2014, pouco superior a US$ 1,5 bilhão, enquanto o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior ainda espera um superávit de US$ 3 bilhões a US$ 4 bilhões.

Tão ou mais grave que o encolhimento do saldo comercial no primeiro semestre foi a queda de 2,8% na corrente de comércio (soma de importações e de exportações), de US$ 231,9 bilhões para US$ 223,6 bilhões. O comércio exterior fornece, assim, um duplo sinal negativo: não gera saldo comercial suficiente para atenuar o déficit externo e a corrente de comércio confirma a desaceleração em curso.

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