sexta-feira, junho 20, 2014

Não podemos ser reféns do extremismo - EDSON JOSÉ RAMON

GAZETA DO POVO - 20/06

A pergunta que não quer calar é: quem irá se responsabilizar pelas consequências da paralisação de uma cidade da relevância econômica de São Paulo, por exemplo, em função da greve promovida por uma categoria de trabalhadores, no caso os metroviários, em detrimento de milhões de outros, que, privados do transporte público para chegar a seus locais de trabalho, foram afrontosamente esbulhados em seu direito fundamental de ir e vir?

Diante do anárquico cenário dos últimos meses em várias cidades brasileiras, há quem busque na agricultura um velho símile para a melhor compreensão do que ocorre, lembrando que se colhe aquilo que foi plantado, e quase sempre em quantidades muito maiores do que foi semeado.

O pior dos desdobramentos recentes é que a colheita semeada nos últimos anos demonstra de forma indubitável a péssima qualidade dos frutos, em sua maioria degenerados pela ausência, especialmente da parte do governo da União, de autoridade e responsabilidade no combate e gerenciamento das crises instaladas aqui e ali.

Ainda está na memória a ameaça feita pelo MST de invadir dependências do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF), a fim de protestar contra o que classifica como leniência governamental na condução da reforma agrária. Diante da estupefação da cidadania tão vilipendiada na véspera, no dia seguinte um grupo de integrantes do MST liderados por João Pedro Stedile, peça-chave da coordenação nacional do movimento, cujos métodos não raro confundem liberdade de expressão com balbúrdia e agressão ao patrimônio físico, foi recebido em palácio por ninguém menos que a presidente Dilma Rousseff, para uma conversa em que não faltaram largos sorrisos e descontração, como se todos estivessem participando de fagueira roda de chimarrão. Em outro momento, o ex-presidente Lula chegou a vestir o boné do MST.

O cidadão honesto que empreende com o objetivo de contribuir com a geração de empregos e renda, além de arcar com sufocante carga tributária, indaga a seus próprios botões, sem obter a resposta, até onde irão os limites da insensatez e da frouxidão com que os transgressores são tratados, instigando categorias profissionais manipuladas por líderes impostos por vergonhosas chicanas, ou pela força bruta, a paralisarem serviços essenciais à população, como transporte, saúde, educação e segurança.

Dado emblemático da desfaçatez que se apodera das instituições foi registrado também em São Paulo, a dois dias do jogo de abertura da Copa do Mundo, quando dirigentes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) anunciaram o fim das manifestações que infernizaram a cidade nos últimos três meses. Para isso, bastou a presidente Dilma anunciar a mudança do Minha Casa, Minha Vida para viabilizar a construção de 2 mil casas no terreno onde está a Ocupação Copa do Mundo, em Itaquera.

A sensação é de que o país está sob risco de tornar-se refém de grupos com interesses escusos, estimulados não se sabe ao certo por quem a dar curso à tese do quanto pior melhor, ou seja, a desordem que penaliza a coletividade. Obviamente, isso reflete a exagerada complacência com que o governo trata os movimentos de minorias, desestabilizadores da ordem.

No clima de insolência aos postulados morais, decisões da Justiça são válidas e aplicáveis apenas sobre cidadãos comuns, e só em situações irreversíveis de transgressão à lei alcançam os espertalhões abrigados em instituições instrumentalizadas por partidos que parasitam o poder.

Por que essas coisas ainda acontecem em um país que está entre as principais economias do mundo? Somos uma democracia ou uma anarquia? Sem ordem não vamos a lugar algum. Não podemos permitir que a nação se submeta ao extremismo.

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