quinta-feira, abril 03, 2014

Bom Senso F.C. - SÍLVIO RIBAS

CORREIO BRAZILIENSE - 03/04
No meio de várias insanidades econômicas e políticas que dominam o atual momento do país, emerge um fato tão inusitado quanto inspirador. O contundente apelo por racionalidade feito por um grupo de profissionais da maior paixão nacional, o futebol, bem que serviria de exemplo para outras áreas da vida brasileira. Cansados de conviver com os abusos praticados dentro e fora do campo pelos clubes e dirigentes, com prejuízos a profissionais e torcedores, os craques que lideram o Bom Senso F.C. deixaram a omissão de lado e partiram para o ataque, listando propostas concretas. Seu movimento pede calendário decente de jogos, equilíbrio financeiro do sistema e respeito ao público pagante. Simples assim.
Quem nos dera que políticos, gestores públicos, juízes e líderes empresariais repetissem a iniciativa dos jogadores e se mobilizassem em favor de bandeiras óbvias, agitadas por milhões de compatriotas há décadas. Se a democracia nos dá liberdade de expressão e de organização, por que não pleitear a correção de rumos em coisas evidentemente erradas? As manifestações que tomaram as ruas em 2013 foram catarse de demandas reprimidas, difusas e misturadas. Ela foi válida para mostrar que a sociedade não é complacente com os malfeitos e com a letargia do Estado em dar respostas às carências mais imediatas do cidadão. Mas chegou a hora de esse brado retumbante se focar na razoabilidade.

Vamos logo aos exemplos. Seria razoável libertar criminosos de baixíssima periculosidade, dando a eles penas alternativas, e manter por mais tempo na cadeia assassinos e corruptos irrecuperáveis. Seria gesto minimamente responsável o governo pedir à população que economize água e energia elétrica para atravessar o período de estresse hidrológico, o maior em 80 anos, deixando de gastar dezenas de bilhões de reais em termelétricas de geração poluente. Seria redentor se caciques partidários defendessem profundo corte de gastos parlamentares, incluindo o número de deputados e senadores.

Embora seja tarde, o bom senso ainda nos manda perguntar quais as justificativas para autorizar 12 cidades sedes da Copa do Mundo, que começa em pouco mais de dois meses e com estádios ainda hoje em obras. Seria o ideal cerca da metade. Marcaria gol de placa a presidente Dilma Rousseff se reconhecesse que decisões equivocadas podem ocorrer quando se abandonam a serenidade e os critérios justos e racionais.

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