quinta-feira, março 06, 2014

O exemplo do Paraguai - EDSON CAMPAGNOLO

GAZETA DO POVO - PR - 06/03

A cada dia, temos mais provas de que o Brasil precisa buscar, de uma vez por todas, soluções para os inúmeros entraves que tiram a competitividade do setor produtivo e comprometem nosso desenvolvimento. Recentemente, representando o presidente da Confederação Nacional da Indústria, Robson Braga de Andrade, tive a honra de liderar uma missão empresarial brasileira que visitou o Paraguai. Durante a missão, um grupo de 178 empresários e representantes de entidades nacionais se reuniu com autoridades paraguaias e visitou empresas instaladas na região de Assunção para conhecer de perto a política de atração de investimentos ao país. O que se viu é que nossos vizinhos estão fazendo o dever se casa melhor do que nós.

Hoje, o ambiente de negócios no Paraguai é muito mais atrativo aos investidores que o do Brasil. A começar pela carga e pelo sistema tributários, infinitamente mais leves e simples. Vantagem especialmente para empresas que utilizam o território paraguaio como base exportadora. Pelo Regime de Maquila, é possível uma empresa produzir e exportar a partir do Paraguai com imposto único de 1% sobre o valor agregado dos produtos. As vantagens se estendem para o custo da energia elétrica. Apesar de a maior fonte de energia paraguaia ser a usina de Itaipu – a mesma que é a maior geradora de energia para o Brasil –, as tarifas do país vizinho correspondem a um terço das praticadas por aqui. E eventuais riscos no abastecimento foram praticamente eliminados no fim de 2013, quando foi inaugurada uma nova linha de transmissão que leva a energia de Itaipu até os arredores de Assunção.

Como se não bastasse, no Paraguai os custos com a mão de obra são aproximadamente 35% menores que os do Brasil. E isso vem acompanhado de uma força de trabalho jovem e abundante e de uma legislação trabalhista mais racional que a nossa. Sem eliminar direitos dos trabalhadores e deveres dos empregadores, ela reduz significativamente os conflitos e passivos judiciais – hoje um problema crônico para quem produz no Brasil. A tudo isso se soma uma economia estável, com inflação controlada e índices de crescimento de causar inveja – em 2013, o PIB paraguaio cresceu 14,1%. Soma-se, principalmente, um poder público que vê o empresário como propulsor do desenvolvimento do país e que busca facilitar a geração de emprego e renda. Não é de hoje que isso acontece, mas na atual gestão, do presidente Horacio Cartes, esse incentivo se intensificou.

Ao levar empresários para conhecer in loco esse ambiente de negócios altamente favorável, não queremos incentivar uma debandada de empresas brasileiras. É claro que indústrias de alguns setores que, pelos altos custos de produção, já não são mais viáveis no Brasil podem buscar alternativas e, eventualmente, instalar sucursais em um país que ofereça vantagens competitivas. É uma questão de sobrevivência.

Mas, acima de tudo, missões como essa servem como alerta para o fato de o Brasil estar ficando para trás. Definitivamente, é preciso que o país busque soluções concretas para que também aqui tenhamos condições favoráveis para o setor produtivo. A sociedade, com governo federal e congressistas à frente, assumindo as responsabilidades para as quais foram eleitos, precisa encarar com seriedade as reformas trabalhista, previdenciária, tributária e fiscal, entre outras, que nos coloquem novamente em igualdade de condições com nossos concorrentes. Se não o fizermos, muito em breve veremos, efetivamente, empregos e riquezas migrando para o outro lado da fronteira.

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