quinta-feira, março 13, 2014

A nada séria investigação sobre a Petrobras - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 13/03

O Congresso deveria averiguar acusação de corrupção. Mas o assunto virou arma na luta entre base e PT, e, ao primeiro sinal de entendimento, encerra-se o assunto



Mesmo que, conhecendo-se o PMDB, seja de elevado risco apostar numa ruptura real do partido com PT e governo, os últimos lances das rusgas entre peemedebistas e o Planalto injetam ao menos alguma emoção no geralmente pouco excitante noticiário político.

Os últimos dois dias confirmaram que a investida da presidente Dilma para isolar a bancada peemedebista rebelde da Câmara, liderada por Eduardo Cunha (RJ), do agrupamento, mais confiável, de senadores do partido não teve êxito. A resposta dos seguidores de Cunha, reforçados de outros partidos da base, reunidos no “blocão”, foi no mínimo barulhenta. Na terça, conseguiram contrariar bastante o governo ao criar comissão externa a fim de averiguar possíveis provas de que a firma holandesa SMB Offshore, de aluguel de plataformas, teria distribuído US$129 milhões em propinas a funcionários da Petrobras e intermediários de negócios com a estatal. E, ontem, aprovaram um punhado de convocações e convites a depoimentos na Câmara. Entre outros, a presidente da Petrobras, Graça Foster, e os ministros da Secretaria Geral da Presidência e da Saúde, Gilberto Carvalho e Arthur Chioro.

Os desdobramentos políticos podem ser diversos. Dilma, aconselhada por marqueteiros, tem a oportunidade de tentar faturar o choque contra o “fisiologismo” do PMDB, postura simpática ao eleitor. Cunha, o “blocão” e o PMDB como um todo, por sua vez, devem aumentar o cacife para negociar em melhores condições, mais à frente, a cessão de seus preciosos minutos no horário dito gratuito no programa eleitoral.

Na verdade, não importam muito as razões do conflito. Não se deve acreditar que a tal comissão instituída para obter na Holanda material sobre a acusação feita por um ex-funcionário da SMB seja para valer. Infelizmente, pois o caso, em investigação na Holanda, pode servir de chave-mestra para abrir a caixa-preta de negócios milionários — como todos, de algum porte, feitos na estatal — fechados num período em que a empresa esteve sob controle de uma facção lulopetista ligada a sindicatos, basicamente na gestão de José Sérgio Gabrielli.

Pena, porque a possibilidade de mais de US$ 100 milhões terem sido distribuídos na estatal, num esquema de corrupção, mereceria uma averiguação séria também pelo Congresso, dado o tamanho da empresa estatal, seu peso na economia brasileira.

No nível do Executivo, tudo está controlado: a Controladoria-Geral da União oficiou à Petrobras, em busca de informações, que pediu para a CGU esperar pela burocrática e pouco crível sindicância interna. Nada a esperar deste lado, como de praxe. Restaria o Congresso. Mas o assunto virou arma no arsenal da luta entre base e PT, e, ao primeiro sinal de entendimento, engaveta-se a comissão.

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