quarta-feira, fevereiro 12, 2014

Ficamos mais ricos. E agora? - DANIEL WEIGERT CAVAGNARI

GAZETA DO POVO - 12/02

O sistema de estratificação social mudou em virtude do aumento da renda da população e da ascensão da chamada “nova classe média”, refletindo, desta forma, no perfil socioeconômico da população brasileira atual.

O novo modelo, muito mais refinado e que começou a ser utilizado neste ano, foi desenvolvido pelos professores Wagner Kamakura (Rice University) e José Afonso Mazzon (FEA-USP), cujo conceito foi apresentado no livro Estratificação Socioeconômica e Consumo no Brasil. O livro considera 35 variáveis que vão desde a natureza geográfica, demográfica e cultural, além da aquisição de bens, itens e acesso a serviços essenciais de conforto doméstico e da rede pública.

Feito em colaboração com a Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep), este novo critério adota uma base de dados nacional – a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE, de 2009 –, o que mostra certos aspectos com mais nitidez. Para desenvolver o novo modelo de estratificação, os autores utilizaram o conceito teórico da renda permanente, que indica a capacidade do domicílio de ter e manter certo padrão de vida. Esse conceito, de acordo com os estudiosos, é mais válido que o de renda corrente, que é flutuante, principalmente em termos práticos, porque “os consumidores tentam manter o seu padrão de vida ao longo do tempo, mesmo quando sua renda corrente sofre mudanças dramáticas, utilizando para isso a poupança, o investimento ou o crédito”. Mas como manter essa ascensão da classe média?

Por diversas medições oficiais e extraoficiais, percebemos um aumento significativo na distribuição de renda nos últimos 30 anos no Brasil. Mas o que mais mudou na economia, principalmente nesses últimos cinco anos, foi o consumo. Mais famílias passaram a ter mais poder de compra. Mais pessoas querendo comprar, maior a necessidade de produção, hoje suprida principalmente pela importação de bens de consumo, mais precisamente itens de tecnologia.

Por um lado, isso é bom, pois vai gerar muitos empregos diretos e indiretos em vários níveis, desde que a infraestrutura acompanhe essas novas necessidades e desejos. Caso contrário, vamos chegar a um limite e, consequentemente, haverá um aumento generalizado de preços de bens. Estamos falando de inflação.

Outra questão importante é a continuidade desta situação de poder de compra. A educação tem uma parcela definitiva nesse contexto, uma vez que mais pessoas estão estudando e se formando, e isso as qualifica para efetivar as condições de nova classe média. Porém, como tudo, há uma limitação. O que faz as pessoas serem classe média ou alta (A, B, C e D) é justamente a tendência de vislumbrar um progresso constante. Se as pessoas que melhoraram de vida nos últimos anos não continuarem a se qualificar, menor será a capacidade de assumir vagas no mercado. Ainda menor será a capacidade de compreensão desta sociedade tão qualificada.

Por isso, uma coisa precisa ficar clara: sem educação, não há progresso na sociedade. E é este o caminho a ser seguido.

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