quinta-feira, fevereiro 06, 2014

Cadê a República? - SÍLVIO RIBAS

CORREIO BRAZILIENSE - 06/02
A ampla maioria dos brasileiros foi às urnas, duas décadas atrás, para confirmar de vez a república como a forma de governo deste país. Esperava-se que o expressivo apoio popular manifestado em 1993, com 66% dos votos do plebiscito, daria peso ainda maior aos ideais republicanos escritos logo nas primeiras linhas da Constituição. Em resumo: todos são iguais perante a lei, compartilhando direitos e deveres. Mas o sonho de uma nação sem soberanos e sem donos e sócios do poder não avançou como deveria, sobretudo do ponto de vista cultural.
A palavra república, originada do latim respublica ou coisa pública, evoca naturalmente os princípios de transparência e de respeito à coletividade, aos cidadãos amplamente reconhecidos pelo ordenamento jurídico e representados pelo sistema político. Apesar das garantias sociais inscritas no texto constitucional, sobram exemplos de desrespeito originados, sobretudo, dos que desempenham mandato eleitoral ou exercem função de Estado, concursados ou não.

Interessados apenas na lógica do jogo partidário, os governantes gastam tempo e energia apenas em acomodar interesses difusos dentro da máquina estatal, com evidente desrespeito ao dinheiro do contribuinte. Vulgarizaram-se aqui a tese e o discurso de que administrar republicanamente se restringe somente à prática de transferir recursos de um ente federativo a outro sem levar em conta a sigla do beneficiado, se é aliada ou oposicionista. As promessas da república são bem maiores que isso e nem mesmo os partidos que têm seu nome na legenda parecessem entender tal espírito.

Neste Brasil em que parlamentares debocham da Suprema Corte, autoridades gastam dinheiro público em luxos protegidos por sigilo, servidores sangue azul colocam em riscos a vida de indefesos para pressionar governadores, criminosos são enjaulados como animais e rubricas do Orçamento servem de benesses ao funcionalismo, a República precisa ser proclamada. Seu principal lema em prol da verdadeira igualdade, acima das divisões raciais ou sociais, poderia ser saúde e educação de qualidade para todos. E a maior inspiração viria, pasmem, de países monarquistas como a Noruega.

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