quarta-feira, janeiro 15, 2014

Efeitos especiais - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 15/01

Faz parte da filosofia voluntarista deste governo o entendimento de que, na falta de soluções, se deve chamar o marqueteiro.

Durante meses, a presidente Dilma se encarregou de tentar virar o jogo com discursos repetitivos e de mobilizar seus ministros a fazer a mesma coisa: o IBGE soltou números decepcionantes? Mobilize-se o Guido Mantega e o Alexandre Tombini. O mercado foi tomado por certa apatia em relação aos leilões de concessão? Acione-se a ministra Gleisi Hoffmann.

Agora, uma alentada comitiva oficial, com a presidente Dilma na comissão de frente, foi escalada para comparecer à conferência anual do Fórum Econômico Internacional de Davos, na Suíça, agendada para os dias 22 a 25. Sua missão é fazer a cabeça das autoridades e dos analistas internacionais a respeito das excelências da economia brasileira.

A presidente Dilma está completando seu quarto ano de governo e, até o momento, julgou ser dispensável sua presença no encontro anual de Davos, que reúne durante quase uma semana as mais renomadas autoridades de governo e os capitães globais de negócios.

No ano passado, o então chanceler do Brasil Antonio Patriota tentou justificar a ausência da presidente com a afirmação de que "a Davos só vai quem procura promoção pessoal". Agora vão ela mais a equipe econômica inteira. O embaixador Patriota não terá de dar explicações adicionais porque foi removido para outro posto.

O risco que corre o governo brasileiro é de vender fumaça com acompanhamento de orquestra. Se a suposta ofensiva internacional de marketing for feita sem substância a oferecer, o resultado pode ser um desastre, como aconteceu em 1994, semanas antes do estouro do Efeito Tequila que prostrou a economia do México. A iniciativa marqueteira das autoridades mexicanas ficou então imediatamente desmoralizada por falta de respostas convincentes aos maus resultados da economia.

Desta vez, a presidente Dilma talvez pretenda aproveitar a oportunidade para pregar um choque de capitalismo e, nessas condições, resgatar seu governo e sua política econômica do atual déficit de confiança.

O problema é que essas ofensivas precisam ser acompanhadas de ação. Meras exibições de planilhas animadas e coloridas em Power Point, sem indicação de mudanças radicais na administração das despesas públicas e sem correção das atuais distorções, tendem a ampliar a frustração e a aumentar a propensão das agências de classificação de risco a rebaixar a qualidade dos títulos de dívida do Brasil. Se isso de fato acontecer, tudo tenderá a piorar.

Em 2002, o então candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, não precisou de efeitos especiais para virar a onda de pessimismo que tomara conta da opinião pública. Simplesmente, mandou divulgar a Carta ao Povo Brasileiro, em que se comprometeu, sem margem a dúvidas, a cumprir um programa confiável de administração das contas públicas e a puxar os juros básicos até onde fosse necessário para controlar a inflação.

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