sexta-feira, dezembro 20, 2013

Nova queda no desemprego - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 20/12

Há meses, o IBGE vem anunciando recordes nos níveis de emprego. Já não dá mais para pensar conservadoramente e continuar imaginando que esses números ocultam algum equívoco metodológico.

Em novembro, que repetiu uma temporada fraca da atividade econômica, o desemprego resvalou para apenas 46 pessoas em cada mil dos que compõem a força de trabalho (veja o gráfico). É a marca mais baixa da série histórica, anunciou o IBGE. Nenhum analista esperava desempenho tão expressivo. Em outubro, os desempregados eram 52 em cada grupo de mil.

Igualmente surpreendente é a informação de que o chamado contingente nem-nem, ou seja, o dos jovens que não trabalham nem estudam, aumentou em 16,7 mil pessoas, para um total de 16,851 milhões em novembro. Ou seja, o número de desempregados diminuiu no mês passado não apenas porque mais pessoas tenham encontrado trabalho, mas, também, porque mais deixaram de procurá-lo.

O aumento da faixa dos nem-nem vem levantando perplexidade entre os especialistas em Economia do Trabalho e em Demografia. Na falta de uma explicação convincente, o gerente de Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, atribui a redução de procura de emprego entre os jovens em novembro à melhora da perspectiva de trabalho temporário no comércio, por ocasião das vendas de fim de ano. As informações veiculadas pelos líderes do setor varejista de que, nesse segmento, houve mais oferta do que procura de emprego dão força a esse argumento. Mas não dá para desprezar outra explicação: a de que o crescimento das transferências de recursos do governo federal para as camadas mais pobres da população pode ter espalhado o entendimento de que é melhor trabalhar com bicos ou em atividades temporárias do que com um emprego fixo.

O próprio IBGE apurou que o aumento médio da renda real (descontada a inflação) cresceu 3,0% em comparação às posições de novembro de 2012. Outra estatística oficial é a de que há no Brasil 20,6 milhões de pessoas que recebem um salário mínimo da Previdência, seja a título de aposentadoria, seja como assistência social. Além disso, o programa Bolsa Família beneficia outros 50 milhões. Mesmo num país de 200 milhões de habitantes, esses números parecem dizer mais do que a vã filosofia.

Em todo o caso, é temerário apostar em que a tendência seja de aumento da escassez de mão de obra. A qualquer momento, boa parcela de jovens que hoje estão fora da População Economicamente Ativa (PEA), pode voltar a buscar emprego.

Mas não dá para desdenhar sumariamente dos efeitos dessa situação de pleno-emprego sobre o potencial de crescimento econômico. É o que já vem sendo observado algumas vezes por esta Coluna. Se o nível de desemprego é o mais baixo da série histórica num ano de baixo avanço do PIB, imagine o que não seria se fossem confirmadas as projeções do governo na Lei de Diretrizes Orçamentárias de um crescimento de 3,8% em 2014.

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