quinta-feira, outubro 24, 2013

O banquinho de Raúl - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 24/10

Cuba anunciou a unificação das duas moedas usadas pelo país desde 1994. A medida, ainda sem prazo para viger, será o passo mais ambicioso do processo de reformas que o ditador Raúl Castro tem implementado para evitar o colapso econômico da ilha e prolongar o regime autoritário de partido único.

Nenhuma das atuais moedas de Cuba é válida no exterior. O peso cubano (CUP), utilizado para pagar a maior parte dos salários, além de produtos e serviços básicos, vale US$ 0,04 (R$ 0,086); e o peso conversível (CUC), equiparado ao dólar, é corrente na indústria do turismo, em estabelecimentos mais luxuosos e no comércio exterior.

Adotado por Fidel Castro, o modelo pretendia regular o câmbio do peso com o dólar, na época negociado ilegalmente. Quase 20 anos depois, aprofunda a desigualdade social na ilha, ao contrário do que estatui a cartilha dos defensores do regime. Os privilegiados com acesso ao CUC desfrutam de poder econômico várias vezes superior ao da maioria.

A julgar pelo ritmo das reformas concebidas até aqui por Raúl Castro, a unificação da moeda deverá demorar, até porque se justifica certa cautela. Dada a imensa disparidade entre as duas moedas, é grande o risco de disparada na inflação, já que muitos produtos básicos são importados e vendidos a preços subsidiados.

Por outro lado, Cuba não pode demorar demais. A Venezuela, principal parceira do regime, enfrenta dificuldades crescentes.

Há também insatisfação interna. O crescimento do PIB, de 3% em 2012, não chega a amainar os problemas gerados pela hegemonia do Estado na economia. Reformas na agricultura, com um pouco mais de iniciativa privada, tiveram pequeno impacto na produção.

Dotado do mesmo instinto de sobrevivência do seu irmão, Raúl, 82, já anunciou que deixará o governo em 2018. Até lá, quer concretizar uma transição parecida com a chinesa, sem alterar o monopólio do Partido Comunista. Mas Cuba não dispõe das vantagens geoeconômicas da China. Em Havana, a conciliação entre sistema autoritário e prosperidade econômica parece bem mais improvável.

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