domingo, setembro 22, 2013

Um longo caminho - EDUARDO CRUZ

O GLOBO - 22/09

Todos os dias surgem notícias de novas pesquisas de células de interesse terapêutico: a gordura localizada, o dente de leite, cartilagem, ossos, o tecido do cordão, entre outros. Essas notícias resultam do trabalho de um grande número de cientistas, em centenas de laboratórios de pesquisa, que estão diariamente estudando as células-tronco.

Mas, de cada 5 mil novas pesquisas que surgem no setor da biotecnologia, somente uma se torna um produto ou procedimento que será disponibilizado para uso pelos pacientes. As pesquisas começam com uma ideia, muitas vezes sem preocupação com a legislação. Estes testes podem se prolongar por anos.

Se os testes científicos derem bons resultados e houver real interesse em lançar um produto biológico, o próximo passo serão os testes feitos em animais, os pré-clínicos. Esta nova etapa deve seguir as regras de uma agência de vigilância sanitária. Os testes são, normalmente, feitos por empresas privadas, pois há o interesse comercial envolvido. Então, dependendo dos resultados dos testes em animais, a nova droga ou produto biológico - células, por exemplo - poderá ser testado em seres humanos. E, posteriormente, se aprovada, a novidade se tornará um produto comercial.

A medula óssea e o sangue de cordão umbilical contêm principalmente células-tronco formadoras do sangue, as hematopoéticas e células-tronco mesenquimais (CTM). As células-tronco hematopoéticas já são usadas terapeuticamente há décadas, na reconstituição da medula óssea por transplante de medula.

Recentemente o National Institute of Health liberou recursos para testes pré-clínicos de uma formulação de células obtidas do sangue de cordão umbilical no tratamento da doença de Alzheimer. Outro estudo aprovado para pesquisa com seres humanos é na Esclerose Lateral Amiotrófica.

Células extraídas do sangue de cordão já trataram centenas de crianças, inclusive no Brasil, com quadro de anóxia perinatal e de degeneração neurológica. O sangue de cordão contém uma população de mesenquimais muito interessante, porque são células muito jovens. O tecido do cordão também contém, mas estas já mais comprometidas (ou seja, menos capazes de exercer outras funções).

As células mesenquimais são potencialmente interessantes para, por exemplo, preenchimento cutâneo (estético), recuperação de cartilagem, regeneração óssea e como auxiliar nos transplantes de medula para combater a doença do Enxerto Contra o Hospedeiro. Os trabalhos relacionados ao uso das mesenquimais no tratamento das doenças cardíacas estão em fase inicial. Existem muitos trabalhos em modelo experimental que mostram melhora da função do órgão.

Essas células emergem como candidatas ao tratamento das doenças cardíacas, mas ainda é necessário desvendar mecanismos básicos de ação dessa célula no local de injúria, além de acompanhar os benefícios do tratamento em longo prazo.

O caminho de uma pesquisa até o leito de um paciente é longo. Às vezes leva mais de 15 anos. E os desafios regulatórios são muito grandes - e devem ser assim, para garantir a segurança daqueles que fizerem uso de um novo produto para o tratamento de uma doença.

De cada 5 mil pesquisas com células-tronco, só uma se torna produto

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