quinta-feira, setembro 12, 2013

Bomba de combustível - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 12/09

A presidente da Petrobras, Graça Foster, descartou a alta dos combustíveis, mas ninguém duvida que ela faz isso a contragosto. Graça está preocupada e tem motivo. O governo está numa armadilha: se não aumentar, prejudica a empresa, se subir, eleva a inflação. A relação dívida líquida sobre o patrimônio líquido está em 34%, mesmo nível de antes da capitalização.
E há risco de rebaixamento da empresa.

alta do dólar agravou um problema que já é crônico. A Petrobras é usada pelo governo para conter a alta dos preços, mas a empresa tem perdido recursos e precisa se capitalizar para fazer investimentos que viabilizem a produção em larga escala do pré-sal. Ninguém gosta de aumento, mas o artificialismo de preços é um dos piores peri­gos numa economia.

O fundo de investimentos Antares, acionista mi­noritário da Petrobras, protocolou, mês passado, na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), queixa sobre as perdas impostas à empresa pela União. O documento estima que o prejuízo da Petrobras, desde 2005, com os subsídios da gasolina e do diesel chegará a R$ 87 bilhões em dezembro.

O número gigantesco do fundo é discutível, mas o fato é que os preços estão defasados. Se­gundo o cálculo do Departamento de Pesquisa Macroeconômica do ItaúUnibanco, o atraso está em torno de 30%. Outros especialistas trabalham com números parecidos.

O Antares contabiliza que nos últimos nove anos a Petrobras vendeu gasolina abaixo do preço internacional em 25 trimestres, e, acima do preço externo, em apenas 11 trimestres. A empresa teve prejuízo durante 69% do tempo. Se exportasse o produto, teria preço maior. Então ela deixa de ga­nhar quando abastece o mercado interno. Além disso, como não é aufossuficiente, tem que im­portar por um preço acima do que pode cobrar das distribuidoras, aqui no Brasil.

Claro, que, por outro lado, a Petrobras sem­pre teve a vantagem do monopólio. E, mesmo após o fim do mono­pólio na lei, continuou havendo de fato uma reserva de mercado no Brasil para o seu pro­duto. Isso nunca é considerado no racio­cínio dos economistas.

Mas, de qualquer ma­neira, o dado ajuda a ilustrar a distorção com a qual a econo­mia vive.
O consultor Adriano Pires, do CBIE, explica que a Petrobras vende gasolina no Brasil tendo como referência um dólar de R$ 1,73, enquanto a mo­eda americana está na casa de R$ 2,30. Essa diferença é o subsídio imposto à empresa pelo governo. O pro­blema é que tudo isso está tirando dinheiro do caixa da petrolífera, para o seu pesado programa de investi­mentos. A dívida da Petrobras saltou, segundo Pires, de R$ 94 bilhões, em 2010, para R$ 176 bilhões, agora.

— Para segurar a inflação, primeiro, o governo capitalizou a Petrobras e a obrigou a fazer dívi­das. Isso explica parte desse salto do endivida­mento. Agora, a companhia está vendendo ati­vos que podem ser necessários, como os cam­pos de petróleo na África, a nova fronteira de ex­ploração de petróleo. Já vendeu campos no gol­fo do México e 35% do Parque das Conchas para os chineses. A empresa está na antessala de per­der o grau de investimento — disse.

A política de congelamento de preços tam­bém afetou a indústria do álcool, que tem tido dificuldade de competir. Para os consumidores, o subsídio pode parecer muito bom, mas o go­verno está estimulando o consumo de um com­bustível fóssil, sem explicitar o custo desse sub­sídio para o país. E esse é o pior problema. Sub­sídios existem em qualquer economia. Mas é preciso saber de forma clara quanto custa, a quem beneficia, qual o propósito e até quando a política será usada. O governo não tem resposta para nenhuma dessas perguntas.

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