quarta-feira, junho 05, 2013

O alívio na indústria - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 05/06

A economia brasileira está produzindo uma surpresa a cada número. Desta vez, felizmente, foi a boa surpresa: a produção industrial cresceu mais do que o teto das previsões para abril. O máximo estava em 1,7% e a mediana estava em 1%: o que quer dizer que metade dos economistas ouvidos achava que seria menor que isso. Foi puxada por investimentos.

A categoria que mais cresceu, a de bens de capital, está fortemente impactada pela compra de caminhões com o novo motor menos poluente, o Euro 5. No ano passado, houve uma postergação de compra de caminhões, pelos problemas da transição de motores e a demora na montagem da rede de distribuição do novo combustível.

Este ano, no entanto, houve um forte aumento de compras de veículos automotores. Isso afetou tanto investimento, como bens de consumo duráveis. Mas houve também muita compra de máquinas agrícolas, pelo crescimento da agricultura. E isso tudo está no item bens de capital, que subiu 3,2% em relação a março e 24,4% em relação a abril do ano passado.

Ilan Goldfajn, economista-chefe do banco Itaú Unibanco, destacou que aumentou muito o índice de difusão, para 63%. O índice de difusão mostra quanto dos setores ouvidos registraram crescimento: 17 dos 27 setores ouvidos registraram crescimento; em nove, houve queda; e um ficou estagnado:

- A produção industrial está muito errática, na verdade é um índice que oscila bastante, mas, com o resultado divulgado agora, de 1,8% em abril, aumenta a confiança de que o segundo trimestre pode registrar um crescimento melhor. É apenas um indicador e é o começo do trimestre (estamos em junho, mas o dado é de abril). Mesmo assim, aumentou a possibilidade de um PIB maior, de uns 0,8% no segundo trimestre. Quando há muita notícia negativa, como agora, nem sempre se nota a notícia positiva, como a que está nesse índice.

Isso não muda o quadro de baixo crescimento este ano, menor do que o projetado pelos economistas no primeiro trimestre. Mesmo o índice de difusão sendo alto, o economista Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, explica que é preciso notar um fato.

- Há um número maior de setores reportando crescimento, mas há poucos setores registrando uma alta mais expressiva, então está sim havendo uma concentração em algumas áreas, como a venda de caminhões e a de máquinas agrícolas. É bom lembrar que no ano passado a indústria caiu 2,6%, o investimento encolheu 4%. E se olharmos a média trimestral, foi de apenas 0,1% - pondera Luiz Roberto.

Ainda há muita incerteza, e esse número bom não apaga a decepção com o PIB, a inflação persistentemente alta e a estagnação do ano passado. Mas, de qualquer maneira, é bom ressaltar que na maioria dos setores o mês de abril foi melhor do que o de março na indústria.

O número é um alento, mas não é a reversão de tendência, por enquanto, e a indústria continua produzindo 1,8% a menos que o recorde atingido em maio de 2011, segundo o IBGE. Por isso, a melhor atitude é a de continuar prestando atenção nos alertas de problemas: a perda de competitividade brasileira, a excessiva dependência de alguns setores em relação ao que acontece na China, a balança comercial negativa e os sucessivos problemas na Argentina.

Para a indústria, não basta vender bem no mercado interno, ela tem que estar integrada às cadeias mundiais. Os próprios empresários que antes defendiam barreiras ao comércio querem mais acordos bilaterais, segundo mostrou ontem o "Estado de S.Paulo". Se a Argentina, além de barrar alguns dos nossos produtos, ameaçar os investimentos brasileiros lá, está mais do que na hora de rever a estratégia do comércio exterior.

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