domingo, maio 05, 2013

O fantasma da indexação - EDITORIAL ZERO HORA

ZERO HORA - 05/05

Conquista histórica dos brasileiros, a estabilidade dos preços enfrenta um período particularmente delicado, agravado a partir do momento em que a inflação começou a se distanciar cada vez mais do centro da meta acordada pelo governo _ de 4,5% anual, com uma margem de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Uma taxa anualizada de 6,59% como a registrada até março preocupa e exige menos discurseira política e uma atuação mais firme por parte do Banco Central, encarregado de zelar pela política monetária. Percentuais nesse nível são de alto risco, pois dão margem a propostas estapafúrdias como a defesa da reindexação pelo deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da Força Sindical, que tende a gerar ainda mais inflação. Só as novas gerações, por desconhecerem o que é uma hiperinflação, ou quem não hesita em recorrer à demagogia para defender interesses próprios podem supor ou tentar passar a ideia de que reajustes automáticos de salários seriam capazes de preservar os ganhos dos trabalhadores.

O passado recente não deixa dúvida de que, quando os salários tentam se recuperar das perdas da inflação, os preços de produtos e serviços também iniciam uma corrida, numa tentativa de quem tem o poder de fixá-los de preservar as margens de lucro. Alguém tem dúvida de quem sai ganhando? Criada há quase meio século, em 1964, com o objetivo de restabelecer a confiança nos títulos públicos, a indexação, que em diferentes áreas se mantém até hoje, está na origem da resistência da inflação e da consequente perda do poder aquisitivo dos brasileiros. Foi esse instrumento que contribuiu em grande parte para elevar a variação de preços a 1.764% em 1989, obrigando os brasileiros a correrem para o supermercado assim que recebiam seu salário, pois as remarcações eram constantes. O resultado é uma inflação ainda maior, quando não em descontrole, e cada vez mais difícil de retornar aos patamares anteriores.

Infelizmente, quase duas décadas depois da estabilização da economia, a imensa maioria dos tributos _ e a Receita Federal se constitui num triste símbolo dessa prática _, tarifas públicas, contratos com o setor financeiro e outros de prazo mais longo se mantêm indexados, contribuindo para reavivar a memória da inflação. Ainda assim, se isso ocorre, o que os brasileiros precisam fazer é lutar contra essa deformação _ que não condiz com um país interessado em perseverar na estabilidade _, e não procurar seguir pelo mesmo caminho.

Quem era adulto no recente período hiperinflacionário no país não poderia sugerir a indexação contra a inflação, por meio de mecanismos como o chamado gatilho salarial, pois deveria no mínimo lembrar as consequências danosas da experiência anterior. Melhor fariam essas pessoas, sejam elas sindicalistas ou quem tem poder de definir preços, se canalizassem sua energia para exigir ações firmes por parte da equipe econômica oficial contra as ameaças ao poder aquisitivo dos brasileiros.

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