quarta-feira, maio 15, 2013

Indústria - ANTONIO DELFIM NETTO

FOLHA DE SP - 15/05

Infelizmente foi preciso que o crescimento da produção industrial do Brasil em 2012 fosse talvez o menor do mundo, para que se transformasse num "problema" para boa parte da academia, dos analistas financeiros com pouca familiaridade com a economia real e, finalmente, para o próprio governo.

As razões são múltiplas. A principal é que há muito tempo bifurcamos os estímulos internos à nossa indústria, originalmente destinados a transformar o país numa base exportadora, em favor de uma enganosa e míope política de estabilização monetária transformada num fim em si mesmo e, por isso mesmo, nunca alcançado.

É claro que não se discute a extraordinária concepção e execução inicial do chamado Plano Real. Ele, aliás, até hoje não terminou, pela indisposição dos poderes incumbentes de realizarem o ajuste fiscal esperado desde 1995. Nem a imperiosa necessidade de ainda fazê-lo! Não esqueçamos que entre 1996-2002 a taxa média de inflação foi de 7,37% ao ano, a taxa de crescimento do PIB foi medíocre, 2,01%, e registramos uma queda de nossas exportações com relação às mundiais de 25% (de 1,2% para 0,9%).

Visto com a objetividade que só o tempo proporciona e medido com relação a programas similares adotados em outros países, o Plano Real, brilhante na sua concepção, talvez terá sido pela sua incompletude, o socialmente mais custoso.

Alguns poucos economistas teimosos têm discutido a taxa de câmbio desde 1995. Agora que todos parecem fazê-lo, é preciso dizer que ela é muito importante, mas não é tudo.

O Brasil precisa de mudança radical na sua política industrial que leve em conta a revolução tecnológica que o mundo está vivendo e seus efeitos sobre a natureza dos bens comercializáveis e da mudança de estrutura do comércio mundial. A boa notícia é que é isso que tem sido sugerido pelo o ilustre ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel.

A política industrial horizontal exige: 1º) uma revisão imediata, completa e inteligente do sistema de tarifas efetivas que hoje está de pernas para o ar e que permita uma competição livre e honesta com as importações; 2º) uma taxa de câmbio relativamente subvalorizada e 3º) um eficiente sistema de crédito apoiado no desenvolvimento do mercado de capitais e que dispense o apoio universal do BNDES. Como é óbvio, a taxa de câmbio relativamente desvalorizada exigirá, por sua vez, uma coordenação fina e clara entre as políticas fiscal, monetária e cambial.

Agora que se reconhece o problema, podemos, talvez, começar a dar-lhe solução, tarefa que exigirá coragem, paciência e competência.

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