sexta-feira, maio 17, 2013

Gradualismo ou tratamento de choque - CLAUDIA SAFATLE

VALOR ECONÔMICO - 17/05

O Brasil está caro. O custo unitário do trabalho em dólar triplicou de 2003 para cá e é, hoje, maior do que no auge do Plano Real, e a produtividade caiu. Tal como está, o país não tem a menor chance de ser competitivo no mercado externo. Esse é o fulcro do debate mais atual na área econômica do governo. Sem competitividade, parte da indústria não vai sobreviver.

Para enfrentar essa disfunção, em outros momentos do passado o país recorreu à maxidesvalorização da taxa de câmbio (nos moldes da desvalorização de 30% nos anos 80). Outra possibilidade, apontada por economistas do setor privado, seria promover uma "desvalorização interna", mediante políticas de contração fiscal e monetária.

Em ambos os casos, a resultante seria uma recessão mais ou menos intensa.

O governo de Dilma Rousseff rejeita fazer o ajuste pelo câmbio ou pelo corte dos salários e quer experimentar uma terceira via: a combinação de doses moderadas de desvalorização cambial (como a que já ocorreu) e de desoneração de tributos com uma maior oferta de crédito pelo sistema estatal (BNDES, Banco do Brasil e Caixa), entre outras providências, como as concessões de serviços públicos, para dar competitividade à economia e, particularmente, à indústria. Para isso, é preciso reduzir as metas de superávit primário das contas públicas por alguns anos.

Uma quarta hipótese seria uma substancial desoneração horizontal para o setor real da economia. Um "c h o q u e" fiscal de algo como R$ 50 bilhões a R$ 60 bilhões em redução de impostos para as empresas. Seria uma forma de reduzir rapidamente o "custo Brasil" que, associada à diminuição do custo financeiro, incentivaria os investimentos sem provocar desemprego ou redução da massa salarial. Essa possibilidade não faz parte da discussão, neste momento, mas já foi pensada no passado. Ela implicaria uma suspensão temporária da política de superávit primário das contas públicas.

O desafio para o governo está colocado: ele quer aumentar a produtividade e, ao mesmo tempo, preservar o emprego.

Acredita que com a desaceleração do crescimento da massa salarial e com o desaquecimento do mercado de trabalho, com menor crescimento da oferta de emprego, será possível atravessar esse rubicão.

Políticas gradualistas de aumento da competitividade devem produzir efeitos e colher resultados também de forma lenta, ao longo do tempo.

Essa estratégia tem risco. O gradualismo só será sustentável, avaliam técnicos oficiais, se houver uma boa recuperação dos investimentos e uma melhora substancial das expectativas. Se o governo for bem sucedido nos leilões das concessões de serviços públicos, ele atrairá capital estrangeiro para os investimentos em infraestrutura num montante suficiente para financiar as contas do balanço de pagamentos sem pressionar a taxa de câmbio.

Parte da área econômica acredita que um novo ciclo de crescimento já se instalou no país, liderado pelo aumento dos investimentos e não mais pela expansão do consumo. Trata-se, portanto, de um ciclo mais saudável, que não levará a surtos de exuberância, mas a uma performance de expansão da atividade normal e sustentável.

Crê, ainda, que a preocupação com o custo unitário do trabalho -que, como mostra o gráfico abaixo, teve uma pequena queda entre 2012 e 2013 por causa da desvalorização cambial - acabará sendo superada pelo aumento da eficiência da indústria local.

Outra parte não menos importante olha a melhora dos indicadores do nível de atividade com certa cautela. Ainda não está claro, para ela, que a retomada do crescimento pelo investimento já teve início, é sustentável e ocorrerá na intensidade necessária para aumentar a produtividade e tornar competitiva sobretudo a indústria de bens de capital e a de bens duráveis.

Se o governo não tiver sucesso na estratégia que quer seguir - é importante notar que não se tem, na história do país, qualquer experimento de aumentar a produtividade preservando a condição de quase pleno emprego - o mercado acabará fazendo um ajuste ao modo dele.

Não se pode desconsiderar por completo o perigo de o país ter, no caso de esse caminho ser mal sucedido, um rebaixamento do grau de investimento pelas agências de rating.

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