domingo, maio 12, 2013

Goleada contra - BELMIRO VALVERDE JOBIM CASTOR

GAZETA DO POVO - PR - 12/05

Recém-inaugurado depois de uma reforma de mais de R$ 1 bilhão, o Estádio do Maracanã – sabe-se agora – tem uma cobertura que protegerá 95% dos espectadores da chuva e do sol e deixará 4 mil torcedores expostos às forças da natureza. A não ser que se trate de assentos destinados a radicais ambientalistas que exigem amplo contacto com a natureza (nesse caso uma inovação revolucionária), deve ser erro de projeto, não é mesmo? O da Fonte Nova – demolido inteiramente e reconstruído –, tem milhares de pontos cegos e não tem tomadas na sala de imprensa e três dos estádios recém-inaugurados vão ter de refazer os locais destinados aos reservas dos times que estão jogando porque não cumpriram o tal Caderno de Encargos da Fifa.

Já é incompetência para encher um prato de sopa, mas tem mais. O time do Coritiba teve de enfrentar uma viagem aérea de quatro horas e mais sete de ônibus para jogar contra o poderoso time do Sousa, no interior do Ceará pela Copa do Brasil. Não houve o jogo, suspenso pela Justiça; fez o mesmo percurso de volta e na semana seguinte repetiu o roteiro (avião + ônibus ida e volta) para derrotar o temível rival na presença de mil e poucos torcedores locais. O torneio, aliás, é apontado como altamente democrático, pois congrega 86 clubes Brasil afora para onde seguem “vagando cegos como retirantes” (Chico Buarque) milhares de jogadores, equipes técnicas e médicas, cartolas etc., acumulando um prejuízo colossal. Prato de sopa é pouco. Tragam uma terrina para tanta incompetência.

E daí temos o campeonato da terrinha. A primeira partida das finais do Paranaense foi disputada em um estádio de várzea com pouco mais de 7 mil torcedores porque – deve ser isso – estádios próprios são considerados templos sagrados que não devem ser pisados por infiéis. Atlético e Coritiba juntos têm mais de 50 mil sócios, mas foi impossível chegar a um acordo para usar o – por enquanto – único estádio em condições de abrigar uma final, o Couto Pereira. Neste domingo, o Couto Pereira será utilizado, pois o mando de campo é dos coxas, mas – outra invenção inacreditável do futebol brasileiro – só haverá torcida para um dos times, como no jogo da várzea (oops... na primeira partida das finais) só havia atleticanos.

Depois ficamos lamentando que o futebol brasileiro tenha se transformado em mero berçário de craques para o futebol mundial, que os clubes estão quebrados com o Flamengo devendo quase R$ 800 milhões, meu querido Fluminense mais de R$ 450 milhões e vai por aí até atingir vários bilhões. Isso no país em que o futebol é – supostamente – a paixão nacional.

Tem remédio? Não, não tem, pois a racionalidade não tem um espaço minimamente razoável de sobrevivência nesse caos em que se transformou o futebol brasileiro. Antes ele sempre foi uma bagunça, mas havia, pelo menos, paixão, há muito desaparecida dos campos em que impera uma mistura de amadorismo com esperteza, de improvisação com interesses de marketing e de merchandising, em que a seleção brasileira é uma legião estrangeira, escalada pelos grandes patrocinadores que gastam e arrecadam bilhões de dólares com o esporte.

Dois toques de surrealismo explícito que talvez ajude na explicação: o dirigente máximo do futebol brasileiro foi flagrado surrupiando uma medalha que deveria ser entregue a um atleta campeão. E isso é pouco quando se sabe que Havelange e Ricardo Teixeira, os dois donos do futebol brasileiros durante 50 anos, foram pegos pela Fifa recebendo polpudíssimas comissões de empresas ligadas ao esporte. Levem de volta a terrina, tragam um caldeirão.

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