quinta-feira, maio 30, 2013

BC enfrenta a inflação - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 30/05
O Banco Central escolheu combater a inflação a tentar preservar o crescimento que, durante o dia, teve um número decepcionante. Foi uma atitude corajosa que provocará muitas críticas dos empresários e dentro do governo, mas o que está derrubando o PIB é a inflação. Esse foi o entendimento. O PIB começou o ano crescendo, mas num ritmo abaixo do previsto. Apesar disso, a inflação tem estado alta, resistente e espalhada.

Há fatores que vão derrubar a inflação nos próximos meses, mas há pontos que podem complicar, como, por exemplo, o dólar, que ontem subiu bastante. A economia americana em recuperação, com redução dos estímulos monetários, pode mesmo produzir mais inflação. De qualquer maneira, o que o BC quis deixar claro é que tem autonomia para lutar contra a alta de preços e quer que a queda de preços no atacado seja repassada ao varejo. A decisão unânime fortalece ainda mais a instituição.

A decisão acontece num dia difícil. O PIB divulgado pelo IBGE ficou abaixo do que o governo gostaria, o mercado previa, e o BC tinha calculado. A economia brasileira parece um carro sem potência tentando subir uma ladeira. Os dados dos trimestres anteriores mostram isso.

O PIB do primeiro trimestre repetiu a taxa de 0,6% do trimestre anterior e há boas e más notícias: o consumo das famílias caiu fortemente, a indústria encolheu, os setores de mineração e petróleo despencaram, o setor de serviços cresceu pouco, o investimento subiu, a agricultura teve um desempenho exuberante.

A maioria dos economistas e dos departamentos econômicos dos bancos errou. Poucos acertaram o PIB do primeiro trimestre. A Gradual Investimento e a MB Associados acertaram. No começo do trimestre, quando a maioria dos grandes bancos e consultorias previa um ano começando forte, o economista José Roberto Mendonça de Barros tinha outra visão. A recuperação começaria mais lenta e pegaria mais ritmo ao longo dos trimestres, mas, de qualquer maneira, não seria um ano brilhante. Suas previsões eram de 0,6% no primeiro trimestre; 0,7%, no segundo; e ainda precisaria de dois trimestres de 1% para se chegar ao crescimento de 2,5%. Ontem, a equipe da MB Associados informou que as previsões devem ser revistas para baixo. Pode ser menor que 2,5%.

Aliás, ontem começou uma onda de revisão das previsões de crescimento nos bancos que apostavam em 0,9% ou até 1,1% para o primeiro trimestre. O ano será melhor do que 2012, mas de novo será de baixo crescimento.

A produção industrial ficou no negativo. Caiu a produção de petróleo e a mineração. O setor de serviços, de um trimestre para o outro, desacelerou de 0,7% para 0,5%. É bom lembrar que a inflação do setor está em 8%. O consumo das famílias se mantém em terreno positivo, mas o ritmo desabou: de 1% no quarto trimestre para 0,1%. De novo, a culpada é a inflação, que no fim do trimestre estava em 6,59% no acumulado de 12 meses. A agricultura teve um crescimento de 9,7% em relação ao último trimestre. A melhor notícia depois da agricultura foi o investimento, que teve uma alta forte de 4,6%. A maior parte desse número é explicada pela compra de caminhões.

A taxa de investimento, como proporção do PIB, foi a mais baixa para um primeiro trimestre desde 2009, em 18,4%. A taxa de poupança é a menor desde 2003, em 14,1%. Esse é o resultado de anos de política econômica que deu prioridade ao consumo e criou instabilidade regulatória para as empresas. Mas a maior das incertezas é a inflação. Ela reduz o consumo e dificulta o planejamento das empresas. Foi isso que levou o BC a acelerar a alta de juros para 8%.

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