terça-feira, maio 07, 2013

A incógnita de Dilma - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 07/05
Ao participar ontem da posse de Rogério Amato como presidente da Federação das Associações Comerciais de São Paulo, a presidente Dilma Rousseff atendeu a um pedido do vice-governador de São Paulo,Guilherme Afif Domingos. Logo depois, ao acertar na base aérea de São Paulo a ida de Afif para o Ministério da Pequena e Micro Empresa, Dilma fechou a sua equação ministerial. Ou melhor, quase. Há agora apenas uma variável desconhecida nesse jogo: o PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos.
Na avaliação do Planalto, os socialistas não têm muito mais a dizer à presidente Dilma depois do programa partidário exibido em cadeia nacional de rádio e tevê no mês passado. Ali, se a presidente ainda tinha alguma dúvida sobre as reais intenções de Eduardo Campos em relação ao 2014, a névoa se dissipou. Quando o partido diz que é possível fazer mais, com críticas ao governo a que pertence, a separação no próximo ano fica evidente.

Resta saber, entretanto, quantos meses mais o PSB permanecerá no governo. No Planalto, há quem diga que a presidente Dilma não pretende demitir os ministros do partido, Fernando Bezerra Coelho (Integração Nacional) e Leônidas Cristino (Secretaria de Portos). Tampouco afastará os indicados pelo partido na Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), Departamento Nacional de obras Contra as Secas (Dnocs), Companhia de Desenvolvimento Vale do Rio São Francisco (Codevasf) e, ainda Banco do Nordeste.

Dilma não pretende demitir os socialistas para não ficar com a fama de vilã, que age com base no toma-lá-dá-cá. Mas é fato que, a cada conversa palaciana, ficará um constrangimento maior no sentido de deixar o PSB na posição de quem está usufruindo do governo sem querer apostar nele. A sensação entre assessores e aliados de Dilma é semelhante à daquele sujeito que durante anos a fio usufruiu da companhia do compadre, participando do seu almoço, do seu jantar, da sua hospitalidade. Depois de uma década, o sujeito começa a falar mal do aparentado, dos filhos dele, da comida da casa, e tudo isso enquanto ainda está hospedado ali.

A ideia do governo é tentar deixar esse constrangimento cada vez mais explícito nos bastidores, de forma a obrigar o PSB a antecipar o seu calendário. Os cálculos do governo são os de que Eduardo Campos se prepara para anunciar a candidatura em setembro deste ano, em tempo de levar aliados ao Movimento Democrático (MD), o partido de Roberto Freire, fruto da fusão entre PPS e PMN. Eduardo tem sido cuidadoso no sentido de evitar muita exposição nos últimos dias em eventos promovidos pela oposição, justamente para não dar ao governo mais motivos para promover esse constrangimento. Mas, que ninguém se iluda: daqui até um anuncio oficial por parte dos socialistas em relação ao rumo de 2014, o PSB será tratados como a incógnita da reforma. Tudo para pressionar Eduardo Campos a anunciar logo seus planos. Resta saber quanto tempo ele aguentará.

Enquanto isso, no Congresso.
A presidente já fez chegar aos peemedebistas a seguinte avaliação: quem quer espaço no governo não deve tentar arrancar na marra, derrotando este mesmo governo nos plenários da Câmara e do Senado. Se alguém quiser negociar espaço, leia-se cargos, verbas ou alguma benesse, que faça o pedido ao vice-presidente Michel Temer, cada vez mais imbuído da articulação política do Planalto, em especial, o PMDB. Assessores garantem que o recado está dado: Dilma não negociou o Código Florestal além dos limites do que considerava aceitável. O mesmo valeu para os royalties do petróleo e também para os vetos presidenciais que estão prestes a entrar na pauta do Legislativo. Diante desse quadro, não será agora, na MP 595, o marco regulatório dos Portos, que o Planalto cairá no varejão exigido pelos parlamentares. Em suma, quem quiser derrotar o governo, tem todo o direito. Mas, depois, não reclame.

Por falar em reclamar.
Os petistas condenados na ação penal 470 não têm recebido mais aquela força do PT. Os atos de solidariedade estão cada vez mais escassos, assim como os encontros partidários. Assim a vida segue no mundo petista: como em Murici (AL), cada um por si.

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