terça-feira, abril 16, 2013

O Papa e os judeus - OSIAS WURMAN

O GLOBO - 16/04
O relacionamento judaico-cristão passou por momentos de amplo diálogo fraterno e entendimento nas últimas seis décadas. Desde outubro de 1978, quando João Paulo II foi aclamado, até os dias atuais com o Papa Francisco, foi construído um sólido alicerce de respeito mútuo e críticas ao passado de dois mil anos de desavenças e destruição. Em abril de 2005, João Paulo faleceu, e a manifestação da instituição judaica de maior representação mundial resume bem o que representou para os judeus o papado de 27 anos.

O presidente do Congresso Judaico Mundial (CJM) da época, Edgar M. Bronfman, disse que "o Papa João Paulo II mudou fundamentalmente dois mil anos de relações entre a Igreja e o povo judeu. Superou diferenças milenares para promover compreensão e respeito mútuos. Suas lições e realizações constituem um legado tanto para os católicos como para os judeus e a humanidade toda. Temos confiança de que todos nós honraremos este legado construindo mais sobre o mesmo para as gerações futuras".

Vale lembrar que João Paulo II foi o primeiro Papa a visitar uma sinagoga em dois mil anos. Também sua visita ao Muro das Lamentações em Jerusalém, local mais sagrado do judaísmo, onde, seguindo a tradição judaica, colocou uma carta endereçada a Deus na fresta das pedras, ficou gravada nos corações do judaísmo mundial.

A luta de João Paulo II contra o antissemitismo, definindo esta prática "como um pecado contra Deus e o homem", foi implacável e refletiu sua luta, quando ainda jovem, para salvar judeus dos nazistas na sua terra natal, a Polônia. Seu sucessor, Bento XVI, incrementou ainda mais as relações entre judeus e cristãos, além de aproximar o Vaticano do Estado de Israel.

O Papa escreveu no livro "Jesus de Nazaré - Da entrada em Jerusalém até a Ressurreição", publicado em 2011, que "a aristocracia do Templo" em Jerusalém e "as massas", e não "o povo judeu em seu conjunto", eram responsáveis pela crucificação de Jesus. Nessa ocasião, o governo de Israel comemorou o "valor" do Papa, enquanto outros líderes religiosos judeus consideraram se tratar de uma etapa essencial na luta contra o antissemitismo na Igreja.

Nestes dias que se seguem à inauguração do pontificado do sucessor de Bento XVI, o Papa Francisco, foram muitas as manifestações de júbilo da comunidade judaica pela escolha de um velho amigo e parceiro dos judeus argentinos. Diferentemente dos seus antecessores, o Papa atual já tinha frequentes contatos com a comunidade judaica de seu país.

Quando ainda cardeal, Jorge Bergoglio escreveu o livro "Sobre o céu e a terra", (2010), em parceria com o rabino argentino Abraham Skorka, onde dialogam sobre o divino e o humano. As primeiros iniciativas do Papa Francisco com relação aos judeus foram de absoluta cordialidade e fraternidade, no espírito de seus antecessores que qualificaram os judeus como "irmãos na fé".

Na primeira audiência que o Papa Francisco teve com representantes das mais diversas religiões, na Sala Clementina do Palácio Apostólico, em Roma, os judeus estiveram representados por uma delegação de 16 pessoas, a quem o Papa dirigiu palavras calorosas. "Aprecio vossa presença e a vontade de cooperar para o bem da humanidade", disse, ressaltando a importância de uma "coexistência pacífica entre as religiões".

À véspera do Pessach, a festa judaica que lembra a libertação dos judeus do Egito, há cerca de 3.300 anos, o Papa Francisco enviou uma mensagem de felicitação a Riccardo Di Segri, rabino chefe de Roma, em que diz: "Que o Todo Poderoso, que libertou seu povo da escravidão no Egito para guiá-lo à Terra Prometida, siga para libertá-los de todo mal e acompanhá-los com sua bênção. Peço que rezem por mim, que rezarei pelos senhores, esperando poder aprofundar as relações de estima e amizade recíproca"

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